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EXONERAÇÃO DO PASSIVO RESTANTE SUBSÍDIO DE FÉRIAS

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Tribunal da Relação do Porto

Processo nº 3410/20.3T8STS-B.P1 Relator: JOSÉ EUSÉBIO ALMEIDA Sessão: 07 Junho 2021

Número: RP202106073410/20.3T8STS-B.P1 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: CONFIRMADA

EXONERAÇÃO DO PASSIVO RESTANTE SUBSÍDIO DE FÉRIAS

SUBSÍDIO DE NATAL SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL

RENDIMENTO INDISPONÍVEL

Sumário

I – O montante equivalente ao salário mínimo nacional mensal (RMMG) é o adequado como referência a considerar quando indagamos qual o mínimo do montante a excluir do rendimento disponível, e destinado ao sustento

minimamente digno do devedor e do seu agregado familiar.

II – Tal montante tem um sentido quantitativo, independente da natureza dos montantes auferidos pelo devedor e que para aquele quantitativo contribuem.

III – Os subsídios de férias e de natal, tal como outras prestações retributivas auferidas pelo devedor, integram ou não o rendimento indisponível consoante se contenham no ou excedam o valor fixado como indisponível.

Texto Integral

Processo n.º 3410/20.3T8STS-B.P1

Recorrente – B…

Relator: José Eusébio Almeida; Adjuntos: Carlos Gil e Mendes Coelho.

Acordam na Secção Cível do Tribunal da Relação do Porto:

I - Relatório

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1 - No requerimento inicial pelo qual se apresentou à insolvência, a entretanto declarada insolvente, B…, deduziu, em simultâneo, pedido de exoneração do passivo restante, defendendo que preenche todos os requisitos necessários para beneficiar de tal instituto e comprometendo-se a cumprir as necessárias condições.

2 - A Sra. Administradora da Insolvência não se opôs ao deferimento liminar de tal pedido e, dos credores da insolvente, apenas o "C…, SA" se pronunciou contra a admissão liminar do pedido de exoneração do passivo restante, invocando o incumprimento do dever de apresentação à insolvência, nos termos previstos no artigo 238, n.º 1, al. d), do CIRE.

3 – O tribunal recorrido veio a considerar que, “no caso em apreço, não foram invocados factos concretos que pudessem levar à conclusão que estão verificados todos os requisitos necessários ao indeferimento liminar do pedido em apreço” e, em conformidade, “ao abrigo do disposto no artigo 239.º, n.º 1 do CIRE, admito liminarmente o pedido de exoneração do passivo restante formulado pela insolvente”.

4 – No mesmo despacho e “em relação ao valor concreto a salvaguardar”, considerou que, de “acordo com o consagrado no artigo 239.º do CIRE, já citado, "... 2. O despacho inicial determina que, durante os cinco anos subsequentes ao encerramento do processo de insolvência, neste capítulo designado período da cessão, o rendimento disponível que o devedor venha a auferir se considera cedido a entidade, neste capítulo designada fiduciário, escolhida pelo tribunal de entre as inscritas na lista oficial de administradores da insolvência, nos termos e para os efeitos do artigo seguinte. 3 - Integram o rendimento disponível todos os rendimentos que advenham a qualquer título ao devedor, com exclusão: a) Dos créditos a que se refere o artigo 115.º

cedidos a terceiro, pelo período em que a cessão se mantenha eficaz b) Do que seja razoavelmente necessário para: i) O sustento minimamente digno do

devedor e do seu agregado familiar, não devendo exceder, salvo decisão

fundamentada do juiz em contrário, três vezes o salário mínimo nacional; ii) O exercício pelo devedor da sua atividade profissional; iii) Outras despesas ressalvadas pelo juiz no despacho inicial ou em momento posterior, a requerimento do devedor..." e que “a dúvida suscitada relaciona-se com o valor mínimo que deve ser salvaguardado para o sustento minimamente digno do devedor e do seu agregado familiar e que nunca poderá exceder três vezes o salário mínimo nacional, a não ser por decisão fundamentada do juiz. Pelo que, naquele normativo não se ressalva o valor dos três salários mínimos, pois

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este é apenas o valor máximo que em princípio poderá ser ressalvado”.

5 – O tribunal recorrido atendeu aos “elementos que constam dos autos”, ou seja: “a) A insolvente nasceu a 13.11.1941, é casada, pela segunda vez, sob o regime de separação de bens; b) O agregado familiar da insolvente é

composto pela própria e pelo marido; c) A insolvente encontra-se reformada auferindo, a título de reforma, o montante mensal de 651,85€; d) O marido da insolvente, Domingos da Silva de Sousa Mota, tem 75 anos de idade e

encontra-se, também, reformado; e) O marido da insolvente exerceu, desde que se reformou, uma atividade complementar à sua reforma, sendo

encarregado de vendas por negociação particular em vários tribunais, mas tal atividade tem sido reduzida, quer pela intervenção dos agentes de execução quer por motivos de saúde daquele; f) O marido da insolvente foi declarado insolvente no processo 3411/20.1T8STS, a correr termos no J1 do Comércio de Santo Tirso, não tendo ainda ali sido proferido despacho inicial de exoneração do passivo restante; g) A insolvente indica como despesas do casal as

referentes a renda da casa onde habitam, de 126,02€; eletricidade, num valor médio mensal de aproximadamente 70/80,00€; água, num valor médio mensal de aproximadamente 40,00€; gás, de cerca de 33,00€; televisão, net e telefone fixo, no valor mensal 35,00€; comunicações móveis no valor mensal de 25,00€;

a medicamentos para a insolvente, em média, 30,00€ mês; h) A tais despesas acrescem as referentes a alimentação, com cuidados especiais para evitar doenças próprias da idade; i) Não foram apreendidos quaisquer bens à insolvente; j) Foram reconhecidos créditos no valor de 118.552,42€”.

6 – E acrescentou: “Face a tais factos, há que conjugar os mesmos com os restantes elementos já supra aludidos e com as regras de experiência comum e valores gastos no sustento de qualquer pessoa. Assim, e por um lado, há que atender a que todo o cidadão que se apresenta à insolvência e assim é

declarado, tem de adaptar a sua situação económica e despesas a tal situação de carência económica. Por outro, ao facto do agregado familiar da insolvente ser composto pela própria e pelo marido, apresentando aquela o rendimento e despesas supra aludidas. Acresce, no caso em apreço, face à idade da

insolvente, que tem vindo a jurisprudência dos tribunais superiores,

designadamente a Relação do Porto, a entender que o valor correspondente ao salário mínimo nacional, que em princípio assegura o sustento minimamente digno de cada insolvente, já não se adequará no caso de insolventes com idade já considerável e com problemas de saúde (veja-se, nomeadamente, o Ac. da Relação do Porto, processo n.º 3777116.8T8STS, deste juízo de Comércio)”.

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7 – Tendo decidido: “Atendendo a tudo o exposto e conjugando as despesas a ter em conta, o valor do passivo e a ausência de ativo (e o requerido pela própria insolvente), deve considerar-se suficiente e adequado ao sustento condigno da insolvente o valor correspondente a um salário mínimo nacional, acrescido de ¼ de salário mínimo nacional (12 meses no ano). Pelo que,

determino que a insolvente ceda ao fiduciário todos os seus rendimentos que em cada mês ultrapassem tal valor, sempre que reúna condições para tal”.

II – Do Recurso

8 – Inconformada com a parte final do despacho acabado de transcrever, a insolvente apelou e, pretendendo sua revogação, apresentou as seguintes Conclusões:

………

………

………

9 – Não houve resposta ao recurso, que foi recebido nos termos legais e, nesta Relação, nada se alterou ao pertinente despacho de recebimento.

10 – Foram dispensados os Vistos e nada observamos que obste ao

conhecimento do mérito do recurso, cujo objeto, atentas as conclusões da apelante, consiste em saber se o despacho deve ser revogado, passando a considerar-se para cedência, e sob pena de violação dos artigos 239, alínea b) e subalínea i) do Código da Insolvência e de Recuperação de Empresas (CIRE) e 1.º da Constituição da República Portuguesa (CRP), o rendimento anual e não o mensal, auferido pela insolvente.

III – Fundamentação

III.I – Fundamentação de facto

11 – Os factos constantes do relatório revelam-se adequados e suficientes ao conhecimento do mérito do recurso.

III.II – Fundamentação de Direito

12 - Na apreciação do presente recurso seguiremos de perto o acórdão proferido a 23.09.2019 (Processo n.º 324719.3T8AMT.P1, dgsi) em que intervieram o mesmo – e atual – relator e primeiro adjunto, uma vez que o objeto da apelação tem evidente identidade.

13 - Conforme resulta do disposto no artigo 235 do CIRE é possível

conceder-se ao devedor, caso ele seja uma pessoa singular, "a exoneração dos

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créditos sobre a insolvência que não forem integralmente pagos no processo de insolvência ou nos cinco anos posteriores ao encerramento deste".

14 - A exoneração do passivo restante é um instituto que tem origem no Direito inglês e que, fundamentalmente, no dizer de Catarina Serra[1] implica

"que depois do processo de insolvência e durante algum tempo, os

rendimentos do devedor sejam afetados à satisfação dos direitos de crédito remanescentes, produzindo-se, no final, a extinção dos créditos que não tenha sido possível cumprir por essa via, durante tal período". Pretende a lei, deste modo, "libertar o devedor das suas obrigações, realizar uma espécie de azzeramento da sua posição passiva, para que, depois de "aprendida a lição", ele possa retomar a sua vida e, se for caso disso, o exercício da sua atividade económica ou empresarial", ou seja, e dito doutro modo, “dar a oportunidade de (re)começar do zero, de um fresh start”.

15 – A exoneração do passivo restante, de um modo geral, “assenta num regime concreto de tratamento do sobreendividamento em que são liquidados os bens do devedor, pagas as suas dívidas possíveis e perdoadas as restantes.

Posto isto, o devedor poderá recomeçar de novo a sua vida, tendo direito a um verdadeiro fresh start”.[2]

16 – Como é referido por Assunção Cristas[3], uma vez “apurados os

créditos da insolvência e uma vez esgotada a massa insolvente sem que tenha conseguido satisfazer totalmente ou a totalidade dos credores, o devedor pessoa singular fica vinculado ao pagamento aos credores durante cinco anos, findos os quais, cumpridos certos requisitos, pode ser exonerado pelo juiz do cumprimento do remanescente. O objetivo é que o devedor pessoa singular não fique amarrado a essas obrigações”.

17 - A aludida concessão de uma nova oportunidade ao devedor justifica- se – tal como refere Luís Manuel Teles de Menezes Leitão[4] – “porque a insolvência pode ter causas que escapam ao seu controlo, como nas perdas de rendimento resultantes de desemprego, doença, ou divórcio, nos

trabalhadores subordinados, ou o lançamento de um novo negócio, que se revelou não rentável, nos trabalhadores independentes”.

18 - A razão de ser desta inovação – que apareceu pela primeira vez no nosso ordenamento jurídico em 2004[5], quando “o legislador assumiu o problema do sobreendividamento”[6] - "prendeu-se, por um lado, com a adoção de modelos testados em modelos jurídicos diferenciados e, por outro, com a

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possibilidade de se reintegrar na atividade económica os devedores singulares"[7].

19 - Em sede processual, se o pedido de exoneração do passivo restante não for liminarmente indeferido (artigo 238 do CIRE) será então proferido

despacho inicial a determinar “que, durante os cinco anos subsequentes ao encerramento do processo de insolvência” (chamado período de cessão) “o rendimento disponível que o devedor venha a auferir se considera cedido a entidade” (fiduciário) – artigo 239, n.º 2 do CIRE – integrando “o rendimento disponível todos os rendimentos que advenham a qualquer título ao devedor, com exclusão” (no que ora importa) “Do que seja razoavelmente necessário para: O sustento minimamente digno do devedor e do seu agregado familiar, não devendo exceder, salvo decisão fundamentada do juiz em contrário, três vezes o salário mínimo nacional” – artigo 239, n.º 3, alínea b), i), do CIRE.

20 - A interpretação do sentido da exclusão prevista no citado artigo 239, nº 3, alínea b, i) do CIRE tem obtido um entendimento jurisprudencial alargado. Como foi referido no acórdão desta Relação de 24.01.2012[8]

“haverá que atender a um limite mínimo, avaliado por um critério geral e abstrato (o razoavelmente necessário para garantir o sustento minimamente digno do devedor e do seu agregado familiar) e a um limite máximo, obtido de forma objetiva (o valor equivalente a três salários mínimos nacionais). II - Tal exclusão surge como reflexo do princípio da dignidade humana, que exige do ordenamento jurídico o estabelecimento de normas que salvaguardem a todas as pessoas o mínimo julgado indispensável a uma existência condigna. III- Esse limite, que assegura a subsistência com o mínimo de dignidade, corresponde ao salário mínimo nacional”[9].

21 - Feitas as considerações anteriores e regressando ao concreto e relevante objeto desta apelação, podemos constatar que o tribunal recorrido fixou como rendimento a não ser cedido ao fiduciário o valor equivalente a uma RMMG acrescida de ¼ desta, e fez essa referência aos 12 meses anuais, ou seja, entendeu que a cedência ocorreria, no excedente a uma RMMG

acrescida de ¼, nos meses em que a insolvente auferisse rendimentos superiores a este valor, o que se traduz nessa cedência (atento o valor da reforma da insolvente e o RMMG) nos meses em que receberá o acréscimo correspondente aos subsídios de férias e de Natal.

22 - A primeira constatação é a seguinte: dos factos constantes dos autos e do disposto no Decreto-Lei n.º 109-A/2020, de 31.12, que fixa a atual RMMG, a

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insolvente aufere de reforma quantia inferior à RMMG. Esta é no montante mensal de 665,00€ e a reforma da insolvente no valor de 651,85€. Dito de outro modo, foi fixado um montante de rendimento, excluído da cessão, um rendimento indisponível, superior à totalidade do rendimento auferido pela devedora, o que, à partida – e embora conhecendo outras decisões que seguiram esse caminho – não fará sentido[10], pois há que admitir que a decisão correspondente ao despacho liminar não tem de ser imutável, antes podendo acompanhar o que dite uma eventual alteração das circunstâncias que a determinaram[11] e porque significará, quase sempre, aqui em

concreto, e logo no próprio despacho inicial, que nenhum valor irá ser pago aos credores.

23 – Daí que, salvo o devido respeito, não nos parece linear a conclusão 3.ª do recurso: não é o despacho recorrido que acarreta que “durante dez meses no ano a insolvente ficará privada do montante considerado indispensável para viver condignamente”, porquanto a insolvente aufere quantia inferior ao montante que foi considerado indispensável.

24 – E também a conclusão 4.ª (“Quem aufere rendimentos reduzidos (e bem assim, quem tem fluxos incertos de rendimentos passando por meses em que os não aufere), efetua necessariamente um equilíbrio e compensação com os meses em que aufere mais rendimentos”) nos parece mais uma abstrata intenção do que um comportamento concreto, quando perspetivado num processo de insolvência, qualquer que ele seja, e mormente no caso em apreço: os créditos reconhecidos neste processo equivalem a mais de 180 meses de rendimento da recorrente.

25 – Entrando mais detalhadamente no objeto do recurso, entendemos que o valor do salário mínimo nacional/RMMG enquanto equivalente ao sustento minimamente digno é uma referência e é uma referência mensal[12] que, em sede de CIRE, não se confunde com o crédito do trabalhador subordinado. Ou seja, e respeitando outros entendimentos jurisprudenciais[13], que o salário mínimo nacional, enquanto referência ou padrão mínimo para a estipulação – pelo tribunal e olhando às particularidades de cada caso concreto - do

(mínimo) rendimento indisponível do devedor, ou seja, não sujeito a cessão ao fiduciário (artigo 239, n.º 2 e n.º 3, alínea b), ii) do CIRE) é o salário mínimo nacional mensal, legalmente fixado, e não o equivalente a um duodécimo da multiplicação por 14 daquele valor[14].

26 - Sustentar-se o contrário, e sabendo-se que os subsídios de natal e férias

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são pagos apenas, legal e habitualmente, duas vezes em cada ano (desde logo atendendo à finalidade dos mesmos) equivaleria a reconhecer-se, algo contraditoriamente, que o devedor ficaria com um rendimento indisponível abaixo do mínimo (de sustento digno) durante a maioria dos meses.

27 - Em acórdão proferido a 7.05.2018[15] já esta Secção Cível decidiu, conforme sumariado, que “III - Os subsídios de férias e de Natal devem ser adstritos ao pagamento dos credores, através da sua entrega ao fiduciário” e ficou escrito no corpo do acórdão, também além do mais, o seguinte: “Quanto à consideração dos valores recebidos a título de 13º e 14º mês como

rendimento disponível não se vê que belisque o direito às férias ou à

subsistência e dignidade humana. Os subsídios de férias e de Natal, sendo um complemento da retribuição com a finalidade de ajudar ao gozo de férias e auxiliar nas despesas, normalmente acrescidas na quadra natalícia, nem por isso devem ser considerados imprescindíveis à satisfação das necessidades básicas da insolvente e, nesse sentido, como foi decidido, devem ser adstritos ao pagamento dos credores, através da sua entrega ao fiduciário”.

28 - Diríamos até, sem que tal choque com a conclusão avançada no acórdão acabado de citar, que a questão relevante, num caso como o presente e nos semelhantes, não é uma questão de qualidade, mas de quantidade. Ou seja, o salário mínimo nacional, sempre que utilizado como referência e como

equivalente ao mínimo de subsistência é, tão-só mas relevantemente, um valor, um montante, uma quantidade.

29 - Que assim é – ou para que melhor se entenda que é assim -, basta substituir o conceito pela quantidade, pelo valor que em dado momento representa o salário mínimo. Efetivamente, se ficar estabelecido que o

rendimento indisponível mensal é de 665,00€ (em vez de se dizer que é de um salário mínimo nacional) ninguém sustentará que o rendimento indisponível fixado foi de 775,83€ (665 X 14/12). Igualmente, se se fixasse o rendimento indisponível em 831,25€ (salário mínimo/RMMG acrescido de ¼), ninguém leria ali 969,79€ (665 X 14/12 X 1.25)

30 - Em suma, não nos merece qualquer crítica a decisão recorrida na parte em que considera – implícita mas indubitavelmente - que os subsídios de férias e de natal devem ser entregues ao fiduciário, quando ultrapassarem,

acrescidos do restante rendimento desse mês, o valor fixado, ou seja, a RMMG acrescida de ¼ desta.

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31 – E, pelas razões ditas, temos por evidente que a interpretação feita no tribunal recorrido (em síntese: o valor a considerar por referência ao salário mínimo é o mensal) não viola a Constituição, nomeadamente o seu artigo 1.º, ao contrário do sustentado pela apelante.

32 - As custas são a cargo da apelante, atento o decaimento, sem embargo do regime previsto no artigo 248 do CIRE.

IV - Dispositivo

Por todas as razões ditas, acorda-se na Secção Cível do Tribunal da Relação do Porto em julgar improcedente a presente apelação e, em conformidade,

confirma-se integralmente a decisão recorrida.

Custas pela apelante.

Porto, 7.06.2021 José Eusébio Almeida Carlos Gil

Mendes Coelho ____________

[1] O Regime Português da Insolvência, 5.ª edição, Almedina, 2012, págs. 154/155. A mesma autora, em obra mais recente [Lições de Direito da Insolvência, 2.ª Edição, Almedina, 2021, págs. 611/615]

aborda as “vantagens e riscos da exoneração”.

[2] Letícia Marques Costa, A Insolvência de Pessoas Singulares, Almedina, 2021, págs. 85/86.

[3] "Exoneração do devedor pelo passivo restante", in THEMIS –

Revista da Faculdade de Direito da UNL, 2005, Edição Especial, O Novo Direito da Insolvência, Almedina, 2005, págs. 165/182, a pág. 167.

[4] Direito da Insolvência, 8.ª Edição, Almedina, 2018, pág. 364.

[5] Como se enuncia no Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 53/2004, de 18 de março, “O Código conjuga de forma inovadora o princípio

fundamental do ressarcimento dos credores com a atribuição aos devedores singulares insolventes da possibilidade de se libertarem de algumas das suas dívidas, e assim lhes permitir a sua reabilitação económica (...). O princípio geral nesta matéria é o de poder ser

concedida ao devedor pessoa singular a exoneração dos créditos sobre a insolvência que não forem integralmente pagos no processo de

insolvência ou nos cinco anos posteriores ao encerramento deste”.

[6] Luís M. Martins, Recuperação de Pessoas Singulares, Volume I,

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Almedina, 2011, pág. 15.

[7] José Gonçalves Ferreira, A Exoneração do Passivo Restante, Coimbra Editora, 2013, pág. 39.

[8] Relator: Desembargador Rodrigues Pires; Processo n.º 1122/11.8TBGDM-B.P1 (dgsi).

[9] Exatamente no mesmo sentido se decidiu e sumariou no Acórdão de 12.06.2012, relatado pelo mesmo Desembargador no Processo n.º

51/12.2TBESP-E.P1 (dgsi).

[10] Acórdão desta Relação de 11.11.2013 (Relator, Desembargador Augusto de Carvalho, Processo n.º 767/12.3TBMCN-C.P1, dgsi) e da Relação de Coimbra de 12.01.2016 (Relatora, Desembargadora Maria João Areias, Processo n.º 612/15.8T8GRD-C.P1, dgsi), onde se deixou escrito: “(...) as decisões judiciais não são proferidas com base em ficções ou cenários prováveis, mas com base nos dados respeitantes à atual situação económico-social dos insolventes. E, face aos

rendimentos atualmente auferidos pelo agregado (...) deverão ficar dispensados de efetuar qualquer cessão enquanto tal situação se mantiver. Se os seus rendimentos vierem a ser aumentados, os insolventes são obrigados a dar conhecimento imediato de tal alteração (...). Como tal, não se descortina qual o interesse ou utilidade em o juiz fixar hipoteticamente qual o montante que asseguraria o sustento minimamente digno do devedor e do seu

agregado familiar, nomeadamente num valor equivalente ao do salário mínimo nacional para cada um, quando os rendimentos dos insolventes não o atingem”.

[11] Cfr. Acórdãos da Relação do Porto de 27.10.2009 (Relator,

Desembargador Ramos Lopes, Processo n.º 304/09.7TBPVZ-B.P1, dgsi) onde ficou escrito: “Também a situação relativa ao estado de saúde da recorrente foi relevada e atendida, pois que expressamente se fez constar que qualquer agravamento daquele, com direto reflexo nas despesas, poderá vir a ser considerado, mediante requerimento

fundamentado da devedora” e de 2.06.2011 (Relator, Desembargador Teles de Menezes, Processo n.º 347/08.8TBVCD-F.P1, dgsi), onde ficou dito “admitimos que a alteração do circunstancialismo que esteve na origem da fixação do montante necessário para o sustento

minimamente digno do devedor, como o agravamento das despesas por via da doença ora invocada, possa ser aduzida subsequentemente na 1.ª instância, mediante requerimento fundamentado daquele, em moldes de permitir a sua apreciação pelo tribunal competente”.

Também no Acórdão da Relação de Lisboa de 15.12.2011 (Relatora,

(11)

Desembargadora Conceição Saavedra, Processo n.º 350/10.8TJLSB- E.L1-7, dgsi) não deixa de se dizer: “Tal não significa que o montante em questão não possa vir a ser ajustado em momento posterior, a

pedido da devedora, ponderadas que sejam outras despesas relevantes e atendíveis que devam ser excluídas da cessão, nos termos e para os efeitos da subalínea iii) da al. b) do nº 3 do art. 239 do C.I.R.E.

Contudo, de momento, e no quadro fáctico existente acima descrito, razão não se alcança para modificar a decisão proferida quanto ao valor excluído do rendimento disponível da insolvente”.

[12] Acórdão da Relação de Coimbra de 28.03.2017 (Relator,

Desembargador Emídio Santos, Processo n.º 178/10.5TBNZR.C1, dgsi), com o seguinte sumário: Quando o apuramento do rendimento

disponível se fizer por força da combinação do corpo do n.º 3 com a alínea b), i), do artigo 239.º, do CIRE, o período de referência a ter em conta em tal apuramento é o de um mês” e onde se deixou escrito, além do mais: “(...) nos meses em que não advierem rendimentos ao devedor ou advierem rendimentos inferiores ao que foi considerado necessário para o sustento minimamente digno dele e da sua família?

A resposta é a seguinte: Em primeiro lugar, em tais hipóteses, não há rendimento disponível, logo não há cessão de rendimentos. Em

segundo lugar, não nasce, a favor do devedor, o direito de compensar ou de deduzir, nos rendimentos futuros, a ausência de rendimentos ou rendimentos inferiores ao que foi estabelecido como o razoavelmente necessário para o sustento dele e da família (...). Daí que não tenha amparo no artigo 239.º, n.º 2, e no artigo 239.º, n.º 3, alínea b), i), ambos do CIRE, a pretensão dos recorrentes no sentido de que o apuramento do seu rendimento disponível se faça no fim de cada ano do período de cessão”.

[13] Acórdão desta Relação de 22.05.2019 (Relatora, Desembargadora Maria Cecília Agante, dgsi), assim sumariado: “II - Sendo a

remuneração mínima mensal garantida recebida 14 vezes no ano e constituindo a remuneração mínima anual 14 vezes aquele montante, o mínimo necessário ao sustento minimamente digno do insolvente não deverá ser inferior à remuneração mínima anual dividida por doze”.

[14] Acórdão da Relação de Lisboa de 22.03.2018 (Relator,

Desembargador Pedro Martins, Processo n.º 24815/15.6T8LSB-2, dgsi):

onde ficou escrito: “O SMN que tem sido utilizado é o SMN sem mais nada. Os dados invocados pelo insolvente referem-se, no entanto, a SMN mensalizados. Assim, por exemplo, o SMN português de 2017 aparece com o valor de 649,83€ (= 557€ x 14 meses = 7798€: 12

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meses). Mas o SMN é o SMN e a sua atribuição por 14 meses em vez de 12 meses é irrelevante para a questão. Ou seja, o SMN é o valor da retribuição mínima mensal garantida e não o valor desta multiplicado por 14 meses e dividido por doze”. Acórdão da Relação de Coimbra de 16.10.2018 (Relator, Desembargador Emídio Santos, Processo n.º

1282/18.7T8LRA-C.C1, dgsi) com o seguinte sumário: “III - A variação, em cada mês, do montante dos rendimentos do devedor não implica a alteração do âmbito da exclusão ditada pela subalínea i) da alínea b) do n.º 3 do artigo 239.º do CIRE; a modificação do âmbito dessa

exclusão justifica-se quando haja alteração do que é necessário para o sustento minimamente digno do devedor. Assim, não tem amparo no CIRE a pretensão do devedor no sentido de, nos meses em que recebe subsídio de férias e subsídio de Natal, autonomizar estas prestações, em relação à pensão de reforma, para efeitos da aplicação da exclusão prevista na subalínea i) da alínea b) do n.º 3 do artigo 239.º”.

[15] Processo n.º 3728/13.1TBGDM.P1, relatado pelo Desembargador Augusto Carvalho.

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