Porcentagem de germinação de sementes de maracujá amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa) obtidas por fermentação do arilo, acomodadas em substrato
contendo esterco avícola e palha de arroz carbonizada.
Felipe Fontes Chaves1, Ana Maria Gonçalves Ferreira, Josiane Corrêia Leal1, Aline Souza Soares1, Cidileia Firmino de Souza 1, Rosângela Martins de Oliveira2.
1Graduandos do curso de Ciências Biológicas – IFTO. e-mail: phelipe-phontes@hotmail.com; ana.gf@hotmail.com;
josivilasboas@gmail.com; alinnesouzzasoares.18@hotmail.com ; Cidileia2012@gmail.com.
2 Profª. Doutora. – IFTO. E-mail: characid@yahoo.com.br
Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar o uso de diferentes composições de substrato e da retirada do arilo por fermentação, no intuito de buscar um método que favorecesse os índices de porcentagem de germinação de sementes de P. edulis. As sementes foram obtidas de forma artesanal, e a extração do arilo se deu através de fermentação por 3 dias, e permaneceram secando por mais 3 dias em capela, sobre papel toalha. Em seguida foram acondicionadas em sacos plásticos e permaneceram em geladeira comum por sete dias. O solo e o esterco de aves foram coletados no interior do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), Campus Araguatins. Os frutos foram obtidos em supermercados da cidade de Araguatins e a palha de arroz em usinas da região, sendo carbonizada posteriormente. Os substratos para o plantio das semente foram: 100% solo, testemunha; 100% solo + 10% palha de arroz; 25% esterco de aves curtido + 75% solo; 50% esterco de aves curtido + 50% solo; 75% esterco de aves curtido + 25% solo; 25% esterco de aves curtido + 75% solo + 10% palha de arroz torrada;
50% esterco de aves curtido + 50% solo + 10% de palha de arroz torrada; 75% esterco de aves curtido + 25% solo + 10% palha de arroz torrada. O incremento dos resultados para os tratamentos parecem não ter relação com a utilização do esterco ou da palha de arroz. A variabilidade genética das sementes pode ter sido um fator relevante para a impossibilidade de se determinar o melhor tratamento. A porcentagem foi influenciada negativamente pelo substrato elaborado com 75% de esterco + 10% de palha de arroz. Os resultados obtidos não tornam possível a afirmação de que a retirada do arilo por fermentação possa incrementar os resultados de porcentagem de germinação.
Palavras–chave: tegumento, plântulas, propagação
1. INTRODUÇÃO
A propagação das sementes de maracujá-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa Deg.) acontece principalmente por meio da utilização de sementes, considerando que este meio de propagação é menos dispendioso quando comparado a outras formas de obtenção de mudas. A eficiência na obtenção de mudas via sexuada, no caso do maracujá, está intimamente relacionada ao fato das sementes apresentarem baixa porcentagem de germinação e irregularidade na emergência das plantas, devido a presença do arilo (BIASI et al, 1995; LIMA e GERREIRO, 2007).
O arilo (ou tegumento) é uma capa que recobre as sementes e tem a importante função de regulação hídrica, sendo assim é responsável pelo controle da entrada e a saída de água. Este controle serve como proteção à fatores externos, tais como a chuva e o calor excessivo que poderiam degradar as sementes. No entanto, a presença desta estrutura pode trazer problemas quanto aos índices germinativos da planta, devido existência de propriedades químicas que podem retardar sua germinação, sendo este um fator culminante à falta de sincronismo já relatada em literatura para o maracujá-amarelo (MARTINS et al., 2010).
Atualmente, diferentes técnicas para melhorar a germinação do maracujá já foram testadas. A retirada do arilo (LIMA e GUERREIRO, 2007), e a utilização de substratos com compostos naturais simples (como dejetos animais), e o uso de promotores de germinação, foram algumas estratégias usadas para a melhoria na germinação e obtenção de plântulas do maracujá.
ISSN 2179-5649 IV JICE©2013
Diversos procedimentos são descritos para a retirada do arilo, como, por exemplo, o emprego de liquidificador, de areia, de água quente e da fermentação (ROSSETTO et al., 2000). Apesar disso a escolha do método utilizado na retirada desta estrutura pode trazer consigo influências sobre os índices de germinação. Segundo Ossipi et al. (2011), além das propriedades do arilo, o meio em que as sementes são submetidas para a germinação pode influenciar diretamente neste potencial. Condições de laboratório (papel para germinação), por exemplo, podem resultar em índices de germinação diferentes quando comparados aos estudos que utilizam substratos. Estes compostos possuem características como aeração, estrutura, capacidade de retenção de água e grau de infestação de patógenos, que podem influenciar no processo germinativo (WAGNER JÚNIOR et al, 2006).
O esterco avícola e a palha de arroz carbonizada são exemplos de materiais orgânicos muito comuns na formulação de substratos para a produção de mudas (ARAÚJO et al., 2008, STEFFEN et al., 2010). Estes materiais são fáceis de serem obtidos, e diminuem o custo de produção por poderem substituir os adubos comerciais. Além de fornecer nutrientes, Lopes et al. (2005) sugerem que os substratos devem estabelecer um equilíbrio adequado entre os seus constituintes, de forma a prover uma relação positiva entre a macro- e micro-porosidade do substrato.
Com base no exposto, o presente trabalho teve como objetivo testar a influência de diferentes composições de substrato e da retirada do arilo por fermentação, na germinação de sementes de P.
edulis.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi conduzida no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFTO) – campus Araguatins. O campus está localizado na latitude 05º 38’ 35” S e 48º 04’ 14” W, com precipitação média anual na região de 1500 mm, a temperatura média é de 28,5ºC e altitude de 103m.
O solo e o esterco de aves foram coletados no interior do campus. Os frutos e a palha de arroz foram obtidos em supermercados da cidade de Araguatins. O substrato para a germinação foi colocado em saquinhos de polietileno previamente furados, com capacidade de 1L. O experimento foi conduzido sob canteiros cobertos com tela de sombreamento (sombrite) a 50% de luminosidade, e a irrigação diária realizou-se com o auxílio de regadores.
As sementes foram obtidas de forma artesanal, de acordo com Rizzi et al. (1998). Após a extração do arilo, via fermentação por 3 dias, permaneceram secando por 3 dias (LIMA;
GUERREIRO, 2007), em capela, sobre papel toalha. Em seguida foram acondicionadas em sacos plásticos e permaneceram em geladeira comum por sete dias.
Nos saquinhos de polietileno foram colocados os tratamentos (substratos), com quatro sementes de maracujá-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa) em cada saco, a 1cm de profundidade.
O delineamento experimental utilizou um sistema com três blocos (Delineamento com blocos casualizados=DBC) com 5 saquinhos por bloco, onde foram plantadas 4 sementes por recipiente. A contagem da germinação foi observada diariamente, até os 40 dias após o plantio.
Os tratamentos foram distribuídos da seguinte forma:
A- 100% solo, testemunha;
B- 100% solo + 10% palha de arroz torrada;
C- 25% esterco de aves curtido + 75% solo;
D- 50% esterco de aves curtido + 50% solo;
E- 75% esterco de aves curtido + 25% solo;
F- 25% esterco de aves curtido + 75% solo + 10% palha de arroz torrada;
G- 50% esterco de aves curtido + 50% solo + 10% de palha de arroz torrada;
H- 75% esterco de aves curtido + 25% solo + 10% palha de arroz torrada
Foi analisada a porcentagem de germinação para os tratamentos com base no número de sementes plantadas por repetição (20 sementes), e os resultados obtidos foram transformados em arc sen√x%/100, para homogeneização da variância experimental. Os dados coletados foram submetidos à
análise de variância (P = 5% de probabilidade de erro). As médias foram comparadas entre si pelo teste de Tukey (P = 5%) com o auxílio do programa ASSISTAT, versão 7.6 Beta.
2. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1. Resultados para porcentagem de germinação de Passiflora edulis em função dos substratos.
TRATAMENTOS % DE
GERMINAÇÃO
CV%=22,56
100% solo, testemunha; 42.12063 a
B- 100% solo + 10% palha de arroz torrada 34.02253 ab
C- 25% esterco de aves curtido + 75% solo 34.71610 ab
D- 50% esterco de aves curtido + 50% solo 41.12063
E- 75% esterco de aves curtido + 25% solo 43.05663
F- 25% esterco de aves curtido + 75% solo + 10% palha de arroz 37.12063 G- 50% esterco de aves curtido + 50% solo + 10% de palha de arroz 23.36023 H- 75% esterco de aves curtido + 25% solo + 10% palha de arroz 13.74043
Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
*CV%= Coeficiente de Variação.
A análise da tabela 1 mostra que os tratamentos 100% solo (média= 42,12063), 50%
solo+50%esterco (média= 41,12403) e 25%esterco+75% solo+10% palha de arroz (média=43,05663) apresentaram os melhores resultados para a porcentagem de germinação; em contrapartida, o tratamento H (médias=13,74043) obteve os menores percentuais de germinação. O incremento dos resultados para os respectivos tratamentos parecem não ter relação com a utilização do esterco ou da palha de arroz, considerando que o tratamento A (testemunha) usa somente solo em sua composição.
Em contrapartida, o tratamento H (75% esterco de aves + 25% solo +10% palha de arroz), que possui em sua composição uma quantidade de matéria orgânica mais elevada, obteve os resultados menos consideráveis, o que aponta uma possível relação negativa entre grandes quantidades de matéria orgânica e o percentual germinativo da mudas de maracujá.
Porcentagens de germinação acima de 90% foram descritas por Cardoso et al. (2001), em experimentos com P. edulis. Estes autores usaram sementes obtidas artesanalmente, a estratégia de retirada do arilo foi a fermentação, houve pré-seleção de sementes, semeadura em substrato comercial e nenhum promotor de germinação.
O presente trabalho utilizou-se também da técnica da fermentação como método de retirada do arilo. Porém, os resultados obtidos foram muito inferiores aos de Cardoso et al. (2001), uma vez que o maior resultado de porcentagem de germinação foi de apenas 43.05663%,. Neste ponto, é importante ressaltar que os mesmos utilizaram em sua metodologia, uma técnica para a seleção de semente, o que pode ter colaborado com a diferença nos resultados obtidos no presente trabalho.
Martins et al. (2006) avaliou a utilização diferentes métodos de extração do arilo sobre a porcentagem de germinação, e obteve em seus estudos uma porcentagem de 28% para sementes que sofreram o processo de fermentação por seis dias. Entretanto, as sementes estudadas pelos autores germinaram em ambiente laboratorial, fato que pode estar relacionado com o concluído por Ossipi et al. (2011), que afirma que condições de viveiro são mais influentes sobre a porcentagem de germinação do que condições laboratoriais. Além deste fator, o maior tempo de submissão de sementes de maracujá observados no trabalho de Martins et al. (2006) pode estar relacionado a menor porcentagem de germinação obtida pelo autor. Brito et al. (2003), estudou a influência de diferentes períodos de fermentação sobre a porcentagem de germinação de P. cincinata, e observou que que os melhores resultados foram obtidos após 72 horas de fermentação, mas que estes índices decresciam consideravelmente com períodos de tempo superior a 96 horas.
O método de retirada do arilo por fermentação em maracujá doce, apresentou resultados menos promissores (31,2%) nos experimentos realizados por Rosseto et al. (2000), estes autores
utilizaram duas metodologias para a fermentação, uma com o arilo envolvido na semente, e outra com o arilo separado da semente, sendo que ambos não diferiram estatisticamente entre si. Assim como estes autores, outros também obtiveram através do tratamento de sementes de plantas do gênero Passiflora via fermentação, resultados menos consideráveis no parâmetro porcentagem de germinação.
p), no maracujá-amarelo, Pereira et al. (1997) no maracujá-doce e Melo (1997), na P. nítida, verificaram, entre outros, que a remoção por fermentação prejudicou a germinação. No entanto, este método é considerado por muitos autores, como precursores de melhores resultados se comparados, por exemplo, ao método de retirada do arilo com liquidificador, que prejudica as estruturas da semente, e consigo, a germinação (São-José e Nakagawa, 1988, Martins et al, 2006, OSSIPI et al., 2011).
Com base na literatura pesquisada, os resultados obtidos no presente trabalho, não tornam possível a afirmação de que a retirada do arilo por fermentação possa incrementar os resultados de porcentagem de germinação. Segundo Ossipi et al. (2011) a contradição observada em pesquisa pode ser proporcionada pela imensa variabilidade genética das espécies de passifloráceas e as variações dos métodos para germinação utilizados para uma mesma forma de extração do arilo.
6. CONCLUSÕES
A porcentagem foi influenciada negativamente quando os substratos eram elaborados com 75% de esterco + 10% de palha de arroz. Considerando os dados disponíveis em literatura, não se pode afirmar que a fermentação e os substratos influenciaram positivamente sobre a porcentagem de germinação. A alta variabilidade genética, o método para de obtenção, o local de acomodação das sementes para a germinação e o tempo de maturação do fruto, podem ter influenciado nos resultados obtidos.
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