Ilma. Sra. Presidente da Comissão de Licitação do Banco do Brasil S/A.
RICHTER CARON ENGENHARIA LTDA. – ME, pessoa jurídica de direito privado, inscrita n CNPJ sob o no. 81.077.067/000126, comparece respeitosamente perante V. Sa. por seus procuradores legais abaixo firmados, nos autos do RDC PRESENCIAL 2014/4565(4905),
para tempestivamente apresentar CONTRARAZÕES ao recurso interposto por MELLO ARQUITETURA LTDA., nos termos que seguem abaixo.
DAS ALEGAÇÕES DO RECORRENTE
1. Em síntese, a Recorrente afirma que foi inabilitada para o certame por conta de não cumprir com o item 3.1 do Anexo 2 do edital, que exige que:
“O PROPONENTE deverá comprovar Patrimônio Líquido igual ou superior a 10% (dez por cento) do valor da sua proposta de preços apos a fase de lances por meio da apresentação do balanço patrimonial e demonstrações contábeis do último exercício social já exigíveis e apresentados na forma da legislação em vigor.”
Como a proposta da Recorrente, após a fase de lances, foi de R$. 3.002.864,63 (três milhões, dois mil oitocentos e sessenta e quatro reais e sessenta e três centavos), o seu patrimônio líquido deveria ser de R$.300.286,46 (trezentos mil, duzentos e oitenta e seis reais e quarenta e seis centavos). Todavia, o balanço patrimonial do último exercício social dão conta que o patrimônio líquido da Recorrente estava bem abaixo do mínimo exigido, em R$. 220.000,00 (duzentos e vinte mil reais).
Assim, decidiu a Comissão por inabilitar a Recorrente. A Recorrente, inabilitada, alega que a decisão da r. Comissão é incorreta, com base nos seguintes fundamentos:
que aumentou seu capital social para R$.400.000,00 (quatrocentos mil reais) e como a intenção do legislador é avaliar a boa situação financeira da empresa, isso seria o suficiente;
que os outros índices apresentados pela empresa demonstram sua boa situação financeira;
comissão poderia utilizar do valor de Patrimônio Líquido informado atualizado, conforme o art.31, I, in fine e par. 3o. da Lei 8666/93;
que não é razoável e nem respeita o princípio da economicidade tamanho formalismo.
2. Com base nestas alegações, pretende desconstituir a r. decisão da Comissão. Todavia, como se verá abaixo, melhor sorte não lhe assistirá. DA INTENÇÃO DO LEGISLADOR – DAS RAZÕES PARA EXIGÊNCIA DE PATRIMÔNIO LÍQUIDO MÍNIMO e NÃO DO CAPITAL SOCIAL 3. O artigo 31, I da Lei de Licitações dita: “A documentação relativa à qualificação econômicofinanceira limitarseá:
I – balanço patrimonial e demonstrações contábeis do último exercício social, já exigíveis e apresentados na forma da lei, que comprovem a boa situação financeira da empresa,...”
Portanto, a boa situação financeira da empresa é demonstrada pelo balanço do último exercício social. À continuidade, esclarece a lei que é “vedada a sua substituição por balancetes ou balanços provisórios...”.
Há duas diferentes intenções do Recorrente em sua peça. A primeira, é querer demonstrar sua pretensa boa situação financeira por meio do capital social, a segunda, é querer tomar um levantamento parcial, um balancete, no lugar do balanço do último exercício social.
Analisemos ambas.
4. Em primeiro lugar, capital social não é a mesma coisa que patrimônio liquido. O ‘capital social’ é o conjunto dos recursos que os sócios transferem para a sociedade para compor o seu patrimônio. Esse valor é o que os sócios julgam suficiente para o inicio ou continuidade da atividade da empresa, esse valor é o que permite o desenvolvimento da atividade. Se a sociedade vai bem, sua boa situação pode não ser revelada pelo capital social. Por outro lado, ainda que o capital social some grande quantia, a atividade pode ter sido infrutífera, e a empresa estar próxima da falência. Isto explica porque o capital social não pode ser confundido com o patrimônio líquido, e somente este último pode comprovar a idoneidade financeira da empresa. “A disponibilidade de recursos somente é apurável através do exame do passivo e do ativo” (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, p.549), ou seja, do patrimônio líquido.
Fica claro, então, que o capital social não corresponde à qualificação econômicofinanceira da empresa, exigida no caput do artigo. Ele não corresponde à disponibilidade de recursos econômicofinanceiros da empresa! Assim, muito pouco importa se a empresa alterou seu capital social ou não, o que importa é o seu patrimônio líquido, que só pode ser demonstrado com o fechamento anual quando os dados são conciliados e consolidados.
afrontar diretamente a lei quando expressamente proíbe o uso de balancetes ou balanços provisórios porque “esses documentos não gozam da confiabilidade dos balanços de término de exercício.”( JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, p.541).
DA COMPROVAÇÃO DA BOA SITUAÇÃO FINANCEIRA DA EMPRESA RECORRENTE POR OUTROS ÍNDICES
6. Ainda que o edital mencione a exigência de que os índices de Liquidez Geral, Solvência geral e Liquidez corrente não poderiam ser inferiores a 1, essa exigência não exclui a outra, de comprovação de patrimônio líquido por meio de balanços de acordo com o art.31, inc. I da Lei no. 8.666/93! Ora, o que pretende a Recorrente é que lhe seja deferido tratamento especial, em total afronta ao princípio da isonomia! Exigir de todos os licitantes o cumprimento dos itens 1.16 e 1.17 do Edital, e somente da Recorrente exigir tão só o cumprimento do item 1.16 é aplicar critérios diferentes, sem fundamentação, às partes que deveriam estar em pé de igualdade.
Ambas as exigências devem ser obrigatórias para todos os Licitantes e uma não pode substituir a outra. Aliás, é o próprio Recorrente que nos lembra que “não há que se confundir o item Comprovação da Boa Situação Financeira com o item Comprovação de Patrimônio Líquido Mínimo”.
7. Não se olvide, ainda, que o artigo 37 do texto constitucional estabelece que a Administração deve cumprir com o principio da legalidade. Para a Administração, esse princípio significa que sua liberdade de atuação circunscrevese ao que diz a lei. Em outras palavras, a Administração exerce atividade vinculada à lei, por isto, se impõe o estrito cumprimento do Edital não impugnado. Assim, se o Edital constitucional e legalmente exige a comprovação de patrimônio líquido mínimo, não cabe à Comissão aceitar outra comprovação.
No máximo, o que poderia ser feito, é a atualização do valor indicado como patrimônio líquido, conforme permissivo legal do art.31, inc. I, fine da Lei de Licitações. Todavia, o valor do patrimônio líquido da Recorrente está muito aquém do exigido para o presente certame. Por isso, não aproveitaria a Recorrente a atualização de menos de seis meses!
8. POR FIM, pretende ainda a Recorrente que a Comissão não seja ‘tão formal’ e que acate a lição de José Torres Pereira Junior, trazida às p.9 de seu recurso. Ocorre que essa lição implica exatamente no desprovimento de seu pedido. Ora, está o Autor, corretamente, afirmando que não pode haver no Edital requisito que não seja compatível com a finalidade do mesmo Edital. Ora, não se pode argumentar isso em relação ao presente eis que as exigências do Edital estão à altura da obra a ser entregue.
mesmos requisitos. Fazer diferente é ofender o mesmo princípio que quer a Recorrente ver respeitado. Exigir dela qualquer requisito a menos ou menor é, evidentemente, darlhe tratamento privilegiado.
10. Às pp.11 a Recorrente colaciona decisão do Tribunal de Contas da União que não lhe aproveita eis que sequer trata de caso análogo e, mesmo que o fosse, ainda não aproveitaria a Recorrente. Vejamos.
A r. decisão afirma que poderia a Comissão Licitante ir além da solicitação de patrimônio líquido mínimo determinado pelo balanço anterior, solicitando ainda os valores dos compromissos assumidos pela empresa após o fechamento do balanço. A decisão tão somente afirma a legalidade desta exigência, desde que, os novos compromissos assumidos sejam comparados com o patrimônio líquido atualizado!
E ao interpretar a r. decisão, a Recorrente afirma: “....fica evidente que o interesse da Administração Pública é deter a certeza de que a licitante, no momento da apresentação de sua Proposta Comercial ...detém o lastro patrimonial mínimo...” Ora, mas na decisão trazida à colação o TCU considerou possível ir além da exigência do patrimônio líquido. Se nem o patrimônio líquido, conforme estabelecido pela lei – apurado no balanço do exercício anterior – conseguiu a Recorrente demonstrar ter, o que dirá se a Administração exigisse ainda mais requisitos?!
11. Alega ainda a Recorrente que se faz necessário recorrer aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, evitandose o formalismo excessivo. Vejase portanto que quer o Recorrente fazer vistas grossas a uma das exigências do Edital. Mas de que exigência se trata? Algo acessório como uma autenticação? Não! Tratase da exigência legal de comprovação de capacidade de cumprimento do contrato. Ora, é claro que o risco a que se exporia a Administração ao acatar o raciocínio do Recorrente seria muito maior.
12. Prezados Julgadores, se a Recorrente cumprisse com o requisito do edital, como categoricamente afirma às pp. 14: “....a ora Recorrente atende a todos os requisitos editalícios,
inclusive quanto ao patrimônio líquido mínimo exigido...” por que estaria pleiteando a aplicação de menor rigor? Quem cumpre o edital o cumpre sem qualquer flexibilidade!
Não merecem guarida nenhum dos argumentos da Recorrente.
13. Mas, ao final, ainda menciona que a ora Recorrida não pode ser convocada eis que também não tem patrimônio líquido suficiente a apresentar eis que se sagrou vencedora também em relação ao Lote 2. Pretende, com isso, que sejam somados os valores dos lotes para se chegar ao patrimônio líquido exigido. Descabida aqui também a pretensão da Recorrente.
com esse princípio, as exigências devem estar precisamente esclarecidas no ato convocatório. Se a Administração Pública tivesse a intenção de exigir a soma dos valores, esse requisito estaria expressamente ali previsto.
14. Mesmo que assim não fosse, há que se lembrar que o Tribunal de Contas da União já decidiu:
“não cabe condicionar a participação de empresas interessadas em mais de um lote à comprovação de patrimônio liquido de forma cumulativa, ou seja, é indevida a exigência de que as interessadas comprovem possuir patrimônio liquido igual ou superior ao somatório dos patrimônios líquidos mínimos exigidos para cada lote”(Ac. 484/2007 , Plenário, TCU, Réu Min. Raimundo Carreiro)
E nem poderia ser diferente eis que apesar de estarem no mesmo edital, tratamse de propostas diferentes com todos os documentos comprobatórios de preenchimento de requisitos do edital exigidos em envelopes diferentes. São procedimentos diferentes para cada um dos lotes! Assim, não há que se falar em exigência de soma do requisito de patrimônio líquido mínimo.
REQUERIMENTO