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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Évora Processo nº /10.4

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 166.838/10.4 Relator: CANELAS BRÁS Sessão: 13 Setembro 2012 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO

INJUNÇÃO PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

FORNECIMENTOS AGRÍCOLAS

Sumário

Pretendendo a lei – em razão da celeridade – a transformação automática da injunção em acção especial, não poderá, porém, admitir-se nem o recurso ao processo de injunção regulado no Decreto-lei n.º 269/98, de 01 de Setembro, com as alterações introduzidas pelo Decreto-lei n.º 32/2003, de 17 de

Fevereiro, nem a consequente transformação em acção especial, se a causa de pedir não estiver contida na matéria para que a figura da injunção foi criada (o que ocorre, designadamente, com a prestação de serviços e fornecimentos agrícolas).

Sumário do relator

Texto Integral

Acordam os juízes nesta Relação:

A Apelante “B…, CRL”, com sede na Praça…, Benavente, vem interpor recurso do douto despacho que foi proferido a 23 de Maio de 2011 (ora a fls. 51 a 60 dos autos), no Tribunal Judicial da comarca de Coruche, nos presentes que começaram por ser de injunção, e correndo agora termos como acção declarativa, com processo especial, para cumprimento de obrigações

pecuniárias emergentes de contratos, nos termos no Decreto-lei n.º 269/98, de 1 de Setembro, que aí instaurara contra o Apelado A…, residente na Estrada Municipal…, Coruche, em que é peticionada a quantia global de € 122.870,04 (cento e vinte e dois mil, oitocentos e setenta euros, quatro cêntimos) e juros –

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e que, por erro na forma do processo de injunção apresentada, julgou nulo todo o processado e absolveu o Réu da instância (com o fundamento aí invocado de que ocorre que “os fornecimentos de bens e serviços aqui em causa eram destinados à empresa agrícola do réu, a qual, como se expôs, não é comercial”) –, ora intentando ver revogada tal decisão da 1.ª instância, e que se considere, afinal, correcta a forma de processo utilizada, apresentando-se o mesmo, pois, em condições de poder seguir os seus trâmites normais,

alegando, para tanto e em síntese, que discorda da conclusão a que chegou o M.º Juiz a quo no despacho recorrido – de que “as transacções não são

comerciais”, “maxime por o Réu ser agricultor” –, já que, efectivamente, “é patente que a ‘actividade económica ou profissional’ permite abranger não apenas as actividades comerciais, mas também as profissões liberais, o

artesanato e a agricultura”. Pelo que, aduz, a concluir, “por o Réu ser pessoa singular, dotada de organização comercial, que explora uma actividade

económica autónoma, exercida pelo próprio, a forma de processo de injunção é manifestamente adequada à pretensão dos autos, que deveriam ter

prosseguido ulteriores termos após a distribuição”. Razão para que, ao dar-se provimento ao recurso, deve ser agora revogada a douta decisão impugnada, prosseguindo a acção intentada os seus trâmites normais até final.

Não foram apresentadas contra-alegações.

*

Provam-se os seguintes factos com interesse para a decisão:

1) Em 24 de Maio de 2010 a Apelante “B…, CRL” intentou este procedimento de injunção contra o Apelado A…, onde se pedia a condenação deste no

pagamento da importância global de € 122.870,04 (cento e vinte e dois mil, oitocentos e setenta euros e quatro cêntimos) – assim discriminada:

107.889,29 (cento e sete mil, oitocentos e oitenta e nove euros e vinte e nove cêntimos), de capital; € 14.904,25 (catorze mil, novecentos e quatro euros e vinte e cinco cêntimos), de juros de mora, e € 76,50 (setenta e seis euros e cinquenta cêntimos), de taxa de justiça paga –, por alegados fornecimentos de bens e serviços, que vêm assim justificados: “A requerente forneceu ao

requerido e a pedido deste, no exercício da actividade comercial de ambos, mercadorias diversas destinadas essencialmente à actividade agrícola,

devidamente especificadas na sua qualidade, quantidade e preço nas facturas n.os 20080222, 20080231, 20080305, 20080330, 20080335, 20080336,

20080382, 20080513, 20080567, 20080595, 20080613, 20080694, 20080727, 20080728, 20080738, 20080773, 20080815, 20080820, 20080881, 20080882, 20080883, 20080884, 20080885, 20080912, 20080913, 20080964, 20080965, 20081068, 20081069, 20081107, 20081108, 20081141, 20081142, 2008199, 20081200, 20081287, 20081633 e 20081688”, que foram “emitidas,

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respectivamente, em 05-03-2008, 07-03-2008, 20-03-2008, 27-03-2008, 27-03-2008, 27-03-2008, 03-04-2008, 18-04-2008, 24-04-2008, 24-04-2008, 29-04-2008, 30-04-2008, 07-05-2008, 09-05-2008, 09-05-2008, 10-05-2008, 13-05-2008, 17-05-2008, 17-05-2008, 24-05-2008, 24-05-2008, 24-05-2008, 24-05-2008, 24-05-2008, 26-05-2008, 26-05-2008, 29-05-2008, 29-05-2008, 06-06-2008, 06-06-2008, 09-06-2008, 09-06-2008, 11-06-2008, 11-06-2008, 17-06-2008, 17-06-2008, 25-06-2008, 04-08-2008 e 12-08-2008”, para além de lhe ter prestado, a pedido deste, também serviços de assistência técnica, de certificação da produção de arroz e diversos destinados à actividade agrícola, tudo conforme ao douto requerimento que constitui fls. 2 a 3 dos autos, cujo teor aqui se dá por inteiramente reproduzido (vide a indicação da data de entrega aposta a fls. 2).

2) Notificado, veio o Apelado contestar, em 22 de Junho de 2010, nos termos e com os fundamentos que aduz no douto articulado que constitui fls. 5 a 17 dos autos, aqui igualmente dado por reproduzido na íntegra, onde suscita, no mais, a questão de ter havido erro na forma do processo (a aposição da data de entrada está a fls. 19).

3) Pelo que os autos foram remetidos ao Tribunal judicial da comarca de Coruche em 08 de Outubro de 2010 e distribuídos no próprio dia, conforme aos registos de tais actos, apostos a fls. 2 dos autos.

4) Em 4 de Janeiro de 2011 foi então proferido douto despacho a mandar notificar a Autora para se pronunciar sobre a suscitada questão do erro na forma do processo (vide fls. 30 dos autos).

5) Pelo que apresentou a Autora, sobre o tema, em 04 de Março de 2011, o douto articulado de fls. 37 a 47 dos autos, aqui também dado por reproduzido integralmente (a data de entrada está aposta a fls. 50).

6) E em 23 de Maio de 2011 foi proferido o despacho que é objecto desta Apelação – no qual se decidiu pela existência de erro na forma do processo, se anulou todo o processado e se absolveu o Réu da instância (vide o seu

completo e respectivo teor, a fls. 51 a 60 dos autos, aqui dado por reproduzido na íntegra).

*

Ora, a questão que demanda apreciação e decisão da parte deste Tribunal ad quem é a de saber se a matéria alegada pela Recorrente na petição inicial da injunção que apresentou no Tribunal de 1.ª instância consubstancia

verdadeira e adequada matéria a ser apreciada num procedimento de

injunção. Tal colocará, naturalmente, a questão de equacionar se deverá, ou não, manter-se a solução de declarar nulo o processado, por erro na forma do processo, e absolver o Réu da instância, o que impediu o normal

desenvolvimento da lide. É isso que hic et nunc está em causa, como se

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alcança das conclusões do recurso apresentado.

E, adiantando razões, diremos que a resposta terá que ser negativa, isto é, o requerimento inicial de injunção – que, por ter havido oposição e ter obrigado os autos a irem à distribuição, acaba por constituir ele mesmo a própria

petição inicial da acção especial que passa a correr termos, segundo o que estatui o n.º 1 do artigo 16.º do regime anexo ao Decreto-lei n.º 269/98, de 01 de Setembro –, tal requerimento de injunção, dizíamos, não contém matéria adequada a um procedimento/processo especial deste tipo, antes que a um processo de natureza comum, tal como vem decidido, pelo que se apresenta agora correcta a solução achada na 1ª instância – de resto, suscitada pelo Réu na oposição que deduziu.

[É verdade que se intentou, até por razões de celeridade e para se atacar o problema desta litigância contratual em massa (vide o preâmbulo do diploma), criar um expediente simples que, em caso de não funcionar, pudesse ser logo transformado em acção – naturalmente, com aproveitamento do processado. E por isso é que no artigo 10.º, n.º 2, alínea d), desse anexo se vem a estatuir, a propósito da questão da causa de pedir que ora nos ocupa, que no

requerimento da injunção deve o requerente “expor sucintamente os factos que fundamentam a pretensão”. Porém, sempre dentro da matéria para que tal instituto foi criado.]

E, assim, o procedimento de injunção, criado pelo Decreto-lei n.º 404/93, de 10 de Dezembro, consiste precisamente na “providência destinada a conferir força executiva ao requerimento destinado a obter o cumprimento efectivo de obrigações pecuniárias decorrentes de contrato cujo valor não exceda metade do valor da alçada do tribunal de 1.ª instância” (vide o seu artigo 1.º).

Conforme se diz, repetidamente, com a criação de um tal procedimento, caracterizado pelo processado simples e não intervenção do juiz, visou-se permitir ao credor de uma prestação que se consubstancie numa obrigação pecuniária, obter, de forma célere, um título executivo, condição indispensável para exigir por via executiva o cumprimento da obrigação (Acórdão da

Relação do Porto de 03 de Maio de 2004, publicado pelo ITIJ, e referência n.º 0452201).

Aquele diploma veio a ser revogado pelo referido Decreto-lei n.º 269/98 (seu artigo 5.º), que instituiu o regime jurídico dos procedimentos destinados a exigir o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior à alçada do tribunal de 1ª instância, mantendo-se, porém, o procedimento de injunção com a mesma natureza e formalidades do anterior.

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E pelo Decreto-lei n.º 32/2003, de 17 de Fevereiro – que transpôs para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2000/35/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29/6 – possibilitou-se o recurso à injunção,

independentemente do valor da dívida, quando estejam em causa atrasos de pagamento de transacções comerciais (vide o seu artigo 7.º, n.º 1).

Este mesmo diploma, agora no seu artigo 8.º, altera o artigo 7.º do regime jurídico aprovado pelo Decreto-lei 269/98, que passa a preceituar: “considera- se injunção a providência que tem por fim conferir força executiva a

requerimento destinado a exigir o cumprimento das obrigações a que se refere o artigo 1.º do diploma preambular, ou das obrigações emergentes de transacções comerciais abrangidas pelo Decreto-Lei n.º 32/2003, de 17 de Fevereiro”.

Assim, volvendo ao caso sub judicio e atendendo ao quadro jurídico que se deixou explanado, não cremos que se possa afirmar, como o faz a recorrente, que “por o Réu ser pessoa singular, dotada de organização comercial, que explora uma actividade económica autónoma, exercida pelo próprio, a forma de processo de injunção é manifestamente adequada à pretensão dos autos, que deveriam ter prosseguido os ulteriores termos após a distribuição”.

Como bem se explicita no douto despacho apelado, apesar de considerar-se o Réu empresa para efeitos daquele diploma legal (“qualquer organização que desenvolva uma actividade económica ou profissional autónoma, mesmo que exercida por pessoa singular”, segundo a definição constante da alínea b) do artigo 3.º do referido Decreto-lei n.º 32/2003, de 17 Fevereiro, entendendo-se por transacção comercial “qualquer transacção entre empresas”, conforme à definição da sua alínea a)), apesar disso tudo, o que se não pode afirmar é que se trata aqui de transacções comerciais, sendo certo que o diploma em causa se aplica “a todos os pagamentos efectuados como remunerações de

transacções comerciais”, nos termos estabelecidos no n.º 1 do seu artigo 2.º, sob a epígrafe de “âmbito de aplicação”.

É que, como é bem sabido, e de uma forma simples, mas compreensível, a causa de pedir duma acção é constituída pelos factos (materiais, concretos ou jurídicos) que fundamentam o pedido que nela vem formulado (vide, na lei, o artigo 498.º, n.º 4, do Código de Processo Civil, na doutrina, o Prof. Manuel de Andrade, in “Noções Elementares de Processo Civil”, Coimbra Editora, 1976, a páginas 111, e o Professor Antunes Varela, in “Manual de Processo Civil”, da Coimbra Editora, 1985, a páginas 245 e, na jurisprudência, os doutos

Acórdãos do Tribunal da Relação do Porto datados de 23 de Fevereiro de 1995, tirado no processo n.º 9430762 e de 27 de Setembro de 1999, tirado no

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processo n.º 9950851, ambos publicados pelo ITIJ).

Com efeito, estando nos autos todos de acordo que o Réu é agricultor e os fornecimentos de bens e serviços da Autora, aqui em causa, o foram para o desenvolvimento daquela actividade agrícola, a verdade é que os artigos 230.º, § 2º e 464.º, n.º 2, do Código Comercial – que, respectivamente, qualifica as empresas comerciais e estabelece o âmbito dos contratos de compra e venda não comerciais – tais normativos, dizíamos, excluem expressamente do âmbito das actividades comerciais a agricultura.

Consequentemente, para o efeito que ora nos ocupa, as transacções que estão subjacentes ao processo não são comerciais, pelo que se lhes não pode aplicar o regime jurídico da injunção.

Como se afirmou lapidarmente na sentença, a fls. 58 dos autos: “O Réu é agricultor. Logo as transacções não são comerciais”.

Razões pelas quais, neste enquadramento fáctico e jurídico, se não poderá deixar de manter, intacta na ordem jurídica, a douta decisão da 1ª instância que assim considerou, devendo ser a mesma agora confirmada – e

improcedendo, dessa maneira, o recurso apresentado.

Decidindo.

Assim, face ao que se deixa exposto, acordam os juízes nesta Relação em negar provimento ao recurso e confirmar o douto despacho recorrido.

Custas pela Apelante.

Registe e notifique.

Évora, 13 de Setembro de 2012 Mário João Canelas Brás

Jaime Castro Pestana Paulo Amaral

Referências

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