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Saberes Médicos em Rede: o Instituto de Medicina Tropical entre instituições, atores, doenças e agentes patogénicos (1935-1966)

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DEPARTAMENTO DE

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

Saberes Médicos em Rede:

o Instituto de Medicina Tropical entre instituições, atores, doenças e agentes patogénicos (1935-1966)

JOÃO FILIPE LOURENÇO MONTEIRO Mestre em Biologia do Desenvolvimento

DOUTORAMENTO EM HISTÓRIA, FILOSOFIA E PATRIMÓNIO DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA

Universidade NOVA de Lisboa

setembro, 2022

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Universidade NOVA de Lisboa setembro, 2022

DEPARTAMENTO DE

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

Saberes Médicos em Rede:

o Instituto de Medicina Tropical entre instituições, atores, doenças e agentes patogénicos (1935-1966)

DOUTORAMENTO EM HISTÓRIA, FILOSOFIA E PATRIMÓNIO DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA

JOÃO FILIPE LOURENÇO MONTEIRO

Mestre em Biologia do Desenvolvimento

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Orientadora: Isabel Maria da Silva Pereira Amaral,

Professora Auxiliar com Agregação, NOVA School of Science and Technology da Universi- dade NOVA de Lisboa

Coorientadores: Paula Cristina Gonçalves Dias Urze,

Professora Auxiliar com Agregação, NOVA School of Science and Technology da Universi- dade NOVA de Lisboa

Júri:

Presidente: Maria Paula Pires dos Santos Diogo,

Professora Catedrática, NOVA School of Science and Technology, Universidade NOVA de Lisboa

Arguentes: Alexandra Patrícia Lopes Esteves,

Professora Auxiliar com Agregação, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho

Maria Manuel Serrano,

Professora Associada, Departamento de Sociologia, Universidade de Évora

Orientador: Isabel Maria da Silva Pereira Amaral,

Professora Auxiliar, NOVA School of Science and Technology da Univer- sidade NOVA de Lisboa

Membros: André Mota,

Professor Associado, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo

Maria Paula Pires dos Santos Diogo,

Professora Catedrática, NOVA School of Science and Technology, Uni- versidade NOVA de Lisboa

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

SABERES MÉDICOS EM REDE:

O INSTITUTO DE MEDICINA TROPICAL ENTRE INSTITUIÇÕES, ATORES, DOENÇAS E AGENTES PATOGÉNICOS (1935-1966)

JOÃO FILIPE LOURENÇO MONTEIRO

Mestre em Biologia do Desenvolvimento

DOUTORAMENTO EM HISTÓRIA, FILOSOFIA E PATRIMÓNIO DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA Universidade NOVA de Lisboa

setembro, 2022

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Saberes Médicos em Rede: o Instituto de Medicina Tropical entre instituições, atores, do- enças e gentes patogénicos (1935-1966)

Copyright © João Filipe Lourenço Monteiro, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universi- dade NOVA de Lisboa.

A Faculdade de Ciências e Tecnologia e a Universidade NOVA de Lisboa têm o direito, per- pétuo e sem limites geográficos, de arquivar e publicar esta dissertação através de exempla- res impressos reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por qualquer outro meio co- nhecido ou que venha a ser inventado, e de a divulgar através de repositórios científicos e de admitir a sua cópia e distribuição com objetivos educacionais ou de investigação, não comer- ciais, desde que seja dado crédito ao autor e editor.

Este documento foi criado com o processador de texto Microsoft Word e o template NOVAthesis Word [11].

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À minha família.

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xi Agradecimentos

Para a execução deste projeto, cujo resultado final é a tese que ora se apresenta, contribuíram diversas pessoas e instituições que merecem o meu agradecimento:

A minha Orientadora Doutora Isabel Amaral e Coorientadora Doutora Paula Urze pelos conselhos, sugestões, apoio e orientação ao longo do período de investigação e da escrita de tese, assim como pela sua fé inabalável na concretização deste projeto;

O Centro Interuniversitário de História das Ciências e Tecnologia (CIUHCT) pelo acolhimento e pelo financiamento que permitiu dar início à investigação através da bolsa UID/HIS/00286/2013; assim como a Fundação para a Ciência e Tecnologia. I.P. (FCT) pelo financiamento ao projeto doutoral atra- vés da bolsa: SFRH/BD/122284/2016. A participação em conferências e outros outputs académicos beneficiaram de financiamento também da FCT, I.P. (PIDDAC/OE), no âmbito da Unidade CIUHCT, Ref.: UIDB/00286/2020;

A equipa do Arquivo e da Biblioteca do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Doutora Paula Sa- raiva, Paulo Caldeira e Rita Francês, pelo apoio, simpatia e total disponibilidade para me aturarem, por vezes até horas tardias e fora do horário de trabalho. Ao Doutor Philip J. Havik pelo seu entusiasmo e pelos comentários que levaram a pistas para a pesquisa;

A equipa da biblioteca do Arquivo Histórico Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros (AHD-MNE);

Ao Ivo Veiga que lecionou o workshop Network Analysis for historical and archaeological data e que esteve sempre disponível para esclarecimento de dúvidas, assim como à Danielle Almeida Sanches pela ajuda com a visualização dos gráficos de Social Network Analysis. Ambos os investigadores fize- ram parte do Laboratório de Humanidades Digitais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa;

Foram várias as pessoas que me rodearam nos últimos anos e que de algum modo, com o seu apoio, deram-me força para concluir esta investigação. Os colegas do CIUHCT com quem troquei ideias, com quem aprendi e com quem me senti apoiado. A Cristina Amieiro pela preocupação e pelas pala- vras de incentivo. Os amigos da COMCEPT – Comunidade Céptica Portuguesa, associação de promo- ção de ciência e de pensamento crítico, por estarem a meu lado, pelas conversas e pelo companheiris- mo na intervenção cívica que temos tido. Uma nota especial de agradecimento à colega Leonor Abran- tes pelos livros emprestados, pelas sugestões e pelo apoio. Os camaradas partidários com quem tenho contribuído para uma sociedade melhor. Os amigos do coletivo José Estêvão, pelo apoio e por serem uma segunda família para mim. Ao Sérgio Viegas que, enquanto elo à Caixa Geral de Depósitos, apoiou os meus empreendimentos. Ao Doutor António Neves pelo importante contributo no processo de desbloqueio interior;

A Doutora Teresa Salomé Mota que conheci como colega e que rapidamente se tornou uma grande amiga. A Doutora Teresa foi importante para este doutoramento pelos artigos partilhados, pelas pistas sugeridas, pelas observações que ia fazendo e pelo meu equilíbrio emocional nas fases mais pessimis- tas;

Por fim, a minha Família por todo o apoio moral, emocional e financeiro, sem o qual nunca teria con- seguido iniciar e acabar este doutoramento. Neste grupo encontram-se os meus avós José João Vieira Lourenço (1926-2018) e Deolinda Mendes Marques Lourenço (1927-2020), os meus pais Virgílio Monteiro e Conceição Monteiro, a minha irmã Ana Monteiro Oliveira e a minha companheira Diana Barbosa. Apesar das suas parcas reformas, os meus avós ajudaram-me no pagamento das propinas

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quando ainda não tinha bolsa, tendo, entretanto, falecido sem poderem assistir à conclusão deste pro- jeto. Os meus pais sempre defenderam que o melhor legado que poderia ser deixado aos filhos seria uma “ferramenta” – sendo essa ferramenta a educação. Apesar de por vezes não compreenderem “para que serve” o que estou a estudar, ou “como é que isso vai dar dinheiro”, nunca deixaram de investir na minha carreira académica, o que eu agradeço. Também foram os responsáveis pelo apoio ao pagamen- to das propinas quando ainda estava sem bolsa. A minha irmã esteve sempre a meu lado e temos feito, cada um, o seu percurso em paralelo, mas sempre em união. A Diana Barbosa, a minha companheira, assistiu aos altos e baixos deste percurso, esteve presente na saúde e na doença, foi a “gestora das con- tas” e sempre me apoiou incondicionalmente, com carinho, dedicação e motivação, tendo sido essen- cial para a conclusão desta importante etapa da minha vida.

A todos, muito obrigado!

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“A nossa relação com a natureza sempre foi contraditória. A na- tureza tem sido percebida, quer como ameaçadora e aterroriza- dora, quer como doce e consoladora. Teve de ser conquistada, mas também protegida do impacto da conquista humana. É vista como frágil e, portanto, crescentemente carente de vigilância humana, ao mesmo tempo que convida a intervenções cada vez mais inteligentes”1. (Helga Nowotny, 2008)

1 Nowotny, Helga, “Os constragimentos da produção do conhecimento científico: considerações epistémicas e sociais”, in Steiner, George, A ciência terá limites?, (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian/Gradiva, 2008), p.152

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xv Resumo

A presente tese pretende dar a conhecer a construção de saberes médicos e o papel por eles de- sempenhado a partir da investigação das redes de produção e circulação de conhecimento estabeleci- das pelo Instituto de Medicina Tropical (IMT), durante o período entre 1935 e 1966. Procurou-se compreender de que modo esse conhecimento científico, construído a partir da interação de institui- ções, atores, doenças e agentes patogénicos, se consolidou em Portugal em diversas fases do Estado Novo.

Para isso, analisou-se a produção científica realizada pelos investigadores do IMT, a influência das organizações internacionais no contexto da saúde e do estabelecimento de programas para o con- trolo de algumas doenças, e as ações que se revelaram determinantes para a definição de políticas de saúde pública, no contexto da medicina tropical. Com esse fim, identificaram-se os intervenientes nas redes científicas e “cartografaram-se” as relações criadas, assim como se identificaram as doenças e agentes patogénicos que foram alvo de investigação no IMT e se relacionou esse conhecimento com os modelos de combate às doenças tropicais, em outros contextos, nomeadamente na Europa.

Como fontes primárias utilizaram-se maioritariamente as existentes nos arquivos do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) e no Arquivo Histórico Diplomático do Ministério dos Negó- cios Estrangeiros (AHD-MNE), que inclui a troca de correspondência entre o IMT e o governo, relató- rios de viagens ao estrangeiro e recortes de notícias. Foram ainda consultados os arquivos digitais da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Fundação Rockefeller (FR). Em termos de obtenção de informação complementar recorreu-se, sempre que necessário, à Biblioteca Nacional, à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra e ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

O tratamento quantitativo da informação obtida a partir das publicações analisadas foi realiza- do através de um tratamento estatístico simples e com recurso gráfico baseado na Social Network Analysis (SNA) com vista à representação visual das redes identificadas.

Palavras-Chave: História da Medicina Tropical, Instituto de Medicina Tropical, Circulação de Co- nhecimento, Social Network Analysis, Estado Novo.

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Abstract

The present thesis aims to present the construction of medical knowledge and the role it played during the period between 1935 and 1966, while researching the networks of production and circulation of knowledge established by the Institute of Tropical Medicine (IMT). It was object of study how this scientific knowledge – built from the interaction of institutions, actors, diseases, and pathogens – was consolidated in Portugal in different stages of the Estado Novo.

Hence, the scientific production carried out by the elements of the IMT, the influence of inter- national organizations involved in the establishment of health programs for the control of some dis- eases, and the actions that proved to be decisive for the definition of health policies in the context of tropical medicine, were analyzed. To accomplish this, the actors in the scientific networks were identi- fied and the relationships created were "mapped". As well, the diseases and pathogens studied at the Institute of Tropical Medicine were also identified, which allowed to establish a relation with the models of controlling tropical diseases, namely in Europe.

The primary sources were mostly located in the archives of the Instituto de Higiene e Medici- na Tropical (IHMT) and in the Diplomatic Historical Archive of the Ministry of Foreign Affairs (AHD-MNE), which includes the exchange of correspondence between the IMT and the government, reports of trips abroad and news clippings. The digital files of the World Health Organization (WHO) and the Rockefeller Foundation were also consulted. In terms of obtaining additional information, whenever necessary, the National Library, the General Library of the University of Coimbra and the National Archives of Torre do Tombo were visited.

The quantitative analysis of the publications was carried out through a simple statistical treat- ment, and with a graphic tool based on Social Network Analysis (SNA) to obtain the visual represen- tation of the identified networks.

Keywords: History of Tropical Medicine, Institute of Tropical Medicine, Production and Circulation of Knowledge, Social Network Analysis, Estado Novo.

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xvii Índice

Índice de Figuras ………..………..xix

índice de Tabelas ………..………..xxi

Siglas ………xxiii

Prefácio ……….xxv

Introdução ……….…………....1

1. O Instituto de Medicina Tropical e a política do Estado Novo (1935-1966)…... ………15

2. Entre instituições e atores: o estabelecimento de redes pelo Instituto de Medicina Tropical...29

3. Entre doenças e agentes patogénicos: estratégias de combate e definição de políticas de saú- de………..………77

Conclusões ………111

Bibliografia ………...117 Anexos ……….Volume 2

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ÍN D I C E D E FI G U R A S

Figura 2.1 - Variação do número de investigadores ao longo dos anos, por cadeira e no total Figura 2.2 - Variação do número de investigadores das oito cadeiras ao longo dos anos por género Figura 2.3 - Variação do número de alunos do curso de medicina tropical ao longo dos anos por géne- ro

Figura 2.4 - Número de artigos publicados nos Anais do Instituto de Medicina Tropical por língua de publicação

Figura 2.5 - Autores com uma dezena ou mais de publicações nos Anais do Instituto de Medicina Tro- pical (1943-1966)

Figura 2.6 - Gráfico SNA - Redes criadas a partir das publicações dos Anais do Instituto de Medicina Tropical (1943)

Figura 2.7 - Gráfico SNA - Redes criadas a partir das publicações dos Anais do Instituto de Medicina Tropical (1943 a 1952)

Figura 2.8 - Gráfico SNA - Redes criadas a partir das publicações dos Anais do Instituto de Medicina Tropical (1943-1966)

Figura 2.9 - Gráfico SNA - Detalhe do Cluster Central (1943-1966)

Figura 2.10 - Gráfico SNA - Detalhe das cadeias que rodeiam o cluster central, estando apenas exibi- das as cadeias com duas ou mais ligações (1943-1966)

Figura 2.11 - Gráfico SNA - Resultado das métricas globais (1943-1966), ordenadas por grau

Figura 2.12 - Gráfico SNA - Resultado das métricas globais (1943-1966), ordenadas pelo Coeficiente de Clustering de modo decrescente

Figura 3.1 - Categorias em que se dividem os temas de investigação publicados nos Anais do Instituto de Medicina Tropical, no período 1943-1966

Figura 3.2 - Doenças cuja investigação foi alvo de publicação nos Anais do Instituto de Medicina Tro- pical, no período 1943-1966

Figuras 3.3 - Outras doenças publicadas nos Anais do Instituto de Medicina Tropical, no período 1943-1966

Figura 3.4 - Temas relacionados com Outros Assuntos Sanitários

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Figura 3.5 - Número de artigos publicados nos Anais do Instituto de Medicina Tropical por investiga- dores do IMT e por investigadores externos, entre 1943 e 1966

Figura 3.6 - Número de artigos publicados por investigadores do IMT e externos consoante os temas

“Doenças” e “Outros Assuntos”, entre 1943 e 1966

Figura 3.7 - Número de artigos publicados por investigadores do IMT e externos dentro do tema “Ou- tros Assuntos”, entre 1943 e 1966

Figura 3.8 - Número de artigos científicos publicados por investigadores do IMT versus outros inves- tigadores sobre as várias categorias de doenças

Figura 3.9 - Relação entre os investigadores do Instituto de Medicina Tropical e os principais grupos de agentes patogénicos estudados pela instituição

Figura 3.10 - Relação entre investigadores do IMT e as doenças estudadas na instituição

Figura 3.11 - Circulação de saberes médicos: deslocação da equipa da Missão Permanente de Cabo Verde e redes de permuta de material científico

Figura 3.12 - Circulação de saberes médicos: deslocações a partir do IMT para missões, formação, comunicações científicas ou visitas institucionais

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ÍN D I C E D E TA B E L A S

Tabela 2.1 - Cadeiras lecionadas no Instituto de Medicina Tropical

Tabela 3.1 – Doenças e agentes patogénicos dos artigos publicados nos Anais do Instituto de Medicina Tropical, entre 1943 e 1966.

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xxiii Siglas

AHD-MNE – Arquivo Histórico Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros CECA – Comunidade Económica do Carvão e do Aço

CEE – Comunidade Económica Europeia CIM – Curso Internacional de Malariologia DGS – Direção-Geral da Saúde

EECSB – Estação Experimental de Combate ao Sezonismo em Benavente EESAM – Estação para o Estudo do Sezonismo de Águas de Moura EFTA – European Free Trade Association

EMT – Escola de Medicina Tropical

ENSPMT – Escola Nacional de Saúde Pública e Medicina Tropical EUA – Estados Unidos da América

FR – Fundação Rockefeller HCL – Hospitais Civis de Lisboa

IAC – Instituto para a Alta Cultura (1936-52) / Instituto de Alta Cultura (1952-76) IBCP – Instituto Bacteriológico Câmara Pestana

IHMT – Instituto de Higiene e Medicina Tropical IMT – Instituto de Medicina Tropical

JEN – Junta de Educação Nacional JIU – Junta de Investigações do Ultramar JNE – Junta Nacional de Educação

NATO – North Atlantic Treaty Organization OMS – Organização Mundial de Saúde ONU – Organização das Nações Unidas SNA – Social Network Analysis

UNCSAT – United Nations Conference on Science and Technology URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

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xxv Prefácio

Esta tese visa dar a conhecer a construção de saberes médicos e o papel por eles desempenhado no quadro do sistema colonial português, e em particular nas colónias africanas, a partir da investigação sistemática das redes de produção e circulação de conhecimento estabelecidas a nível nacional e inter- nacional por médicos e investigadores do Instituto de Medicina Tropical (IMT), durante o período entre 1935 e 1966. Procurar-se-á compreender de que modo um conhecimento científico pericial, construído a partir da interação de instituições, atores, doenças e agentes patogénicos, se consolida em dois momentos históricos distintos: durante as décadas de 1930 e 1940, quando se afirma em Portugal um regime ditatorial, o Estado Novo, e no pós Segunda Guerra Mundial, quando esse regime se sente compelido a participar da nova ordem mundial resultante do conflito e se torna membro de diversas instituições internacionais, nomeadamente da Organização Mundial de Saúde (OMS). A história do IMT articula-se assim entre o contexto nacional e o internacional, envolvendo aspetos científicos, mas também sociais e políticos.

Ao longo deste trabalho procurar-se-á apresentar e defender a tese de que as redes criadas, tendo em vista a produção e circulação de conhecimento médico, foram essenciais para a consolidação da disciplina de medicina tropical em Portugal. Para que os objetivos da tese de doutoramento sejam con- cretizados, a investigação foi realizada em torno de três eixos fundamentais de análise: a) a produção científica realizada pelos elementos do IMT; b) a influência das organizações internacionais relacio- nadas com a saúde no estabelecimento de programas para o controlo de algumas doenças; c) as ações que se revelaram determinantes para a definição de políticas de saúde no contexto da medicina tropi- cal2. Cruzando os dados obtidos a partir desta análise tripartida, será possível:

1. Identificar os diferentes intervenientes nas redes científicas e ‘cartografar’ as relações estabe- lecidas entre os mesmos;

2. Identificar as principais doenças e agentes patogénicos resultantes da investigação conduzida pelos intervenientes nas redes de conhecimento e, em particular, pelos membros do IMT e relacionar este conhecimento com os principais modelos de combate às doenças tropicais;

2 Por outras palavras, estas três dimensões de análise são idênticas às que os investigadores Paula Urze e António Abreu, numa perspetiva sociológica, designam, respetivamente: Mecanismos de Transferência de Conhecimen- to, que contemplam a vertente “material” envolvida na transferência de saberes entre instituições da rede, tais como publicações, relatórios e outros meios de comunicação; Natureza das Relações, como as relações entre atores, instituições criadas pela rede, parceiros e organizações externas; e Competências/Conhecimentos de I&D, que incluem as políticas e regras de governação responsáveis pela criação ou procura de novas competências pelos atores da rede. Qualquer um destes fatores pode ser responsável por promover ou inibir a transferência de conhecimento. Ver: Urze, Paula e Abreu, António, “Transferência de conhecimento em redes de I&D” in Serra- no, Maria Manuel e Urze, Paula, Inovação, Organizações e Trabalho: estudos de caso, (Lisboa, Edições Sílabo, 2015): 100-115; assim como Urze, Paula e Abreu, António, “Knowledge Transfer Assessment in a Co- innovation Network” in Camarinha-Matos, Luís M.; Xu, Lai and Afsarmanesh, Hamide (eds), Collaborative Networks in the Internet of Services, (Berlin, Springer, 2012).

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3. Refletir sobre o modo como os saberes médicos construídos contribuíram para a consolidação da medicina tropical no contexto nacional e internacional.

Pretende-se assim fazer convergir questões ligadas à prática da medicina tropical e às políticas da saúde pública em contexto nacional que permitam contextualizar as redes científicas e os saberes médicos construídos a partir das mesmas, contribuindo deste modo para um melhor conhecimento da história medicina tropical em Portugal.

Uma vez que se pretende construir as redes de produção e circulação do conhecimento onde médicos e investigadores do IMT estavam integrados, será feito o levantamento e análise de diversos tipos de publicações em que os mesmos surgem como autores e/ou coautores, sendo privilegiadas as publicações institucionais, mormente os Anais do Instituto de Medicina Tropical. Desta publicação constam artigos científicos, relatórios de atividades, relatórios de missões, comunicações e discursos apresentados em eventos comemorativos e ainda obituários. Outros documentos existentes nos diver- sos arquivos contêm informação sobre as deslocações de investigadores e médicos ao estrangeiro que ajudarão a complementar a reconstituição das redes em estudo3.

O levantamento efetuado com a finalidade de reconstituir as redes científicas estabelecidas permitirá ainda obter informação adicional sobre a produção científica do IMT, nomeadamente a iden- tificação das temáticas de investigação e a evolução do número de investigadores e de publicações, no geral e por área temática.

O tratamento quantitativo da informação obtida a partir das publicações analisadas será reali- zado de duas formas: por um lado, um tratamento estatístico simples; por outro, um tratamento gráfico baseado na Social Network Analysis (SNA)4 com vista à representação visual das redes identificadas.

Esta tese é composta por cinco partes. Começar-se-á pela Introdução, que define a metodolo- gia, o estado da arte e a escolha da matriz teórica que sustenta o argumento da dissertação. No Capítu- lo 1, o Instituto de Medicina Tropical será apresentado no contexto político global, nacional e institu- cional. No Capítulo 2, serão identificadas as redes formadas pelos atores e instituições associados ao IMT, o que permitirá conhecer as relações entre médicos, investigadores e organizações e o modo como o processo de produção e circulação de saberes médicos foi sendo construído. No Capítulo 3, passar-se-á à identificação das doenças e agentes patogénicos que foram o foco de investigação dos

3 Parte da documentação existente no AHD-MNE nunca foi consultada antes, uma vez que os documentos ainda estavam classificados. Esses documentos foram desclassificados após requerimento, tendo sido trabalhados pela primeira vez no contexto da presente investigação.

4 Scott, John P., Social Network Analysis: a Handbook, 2nd edition, (London, SAGE Publications, 2000), assim como Lemieux, Vincent e Ouimet, Mathieu, Análise Estrutural das Redes Sociais, 2ª Edição, (Lisboa, Instituto Piaget, 2012). O software utilizado para o tratamento de dados e produção das imagens de relações em rede são os mais variados, entre os quais se destacam: Gephi, Pajek, Palladio, R e UCINET.

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cientistas e médicos do IMT, a fim de conhecer quais as estratégias de combate às doenças tropicais e compreender de que modo estas tiveram reflexo na definição de políticas de saúde no contexto coloni- al português, em particular nas províncias ultramarinas. Por último, serão apresentadas as conclusões deste trabalho, respondendo aos propósitos desta dissertação, isto é, em que medida a história do Insti- tuto de Medicina Tropical entre 1935 e 1966 permite refletir sobre o papel desempenhado pelos sabe- res médicos em rede no quadro do sistema colonial português, onde interagem instituições, atores, doenças e agentes patogénicos.

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1 Introdução

O IMT sucedeu à Escola de Medicina Tropical (EMT), que existiu entre 1902 e 1935, e antecedeu a Escola Nacional de Saúde Pública e de Medicina Tropical (ENSPMT), criada em 1966 e extinta em 1972. A primeira instituição foi já estudada por vários investigadores participantes no projeto POC- TI/HCT/60184/2004 — A Medicina Tropical e as Colónias Portuguesas (1887-1942), do qual resulta- ram diversos outputs, nomeadamente, duas teses de doutoramento financiadas pela FCT/MCTES5. O projeto de doutoramento no qual o presente trabalho se insere visa, de algum modo, ser complementar aos estudos já realizados.

O intervalo de tempo compreendido neste estudo diz, pois, respeito às datas que medeiam a criação e a extinção do IMT, datas essas em que tem lugar não apenas a mudança de nome da institui- ção, mas também uma alteração das suas características e finalidades.

Em termos políticos, esse intervalo de tempo corresponde a duas fases distintas do Estado No- vo6; não obstante a questão do império colonial permanecer central quer por razões ideológicas e sim- bólicas, quer económicas. Sendo a questão colonial uma das características mais marcantes do Estado Novo, esta condicionou necessariamente o trajeto da medicina portuguesa e a sua resposta à agenda internacional, sobretudo após a configuração do mapa geopolítico traçado na sequência da Segunda Guerra Mundial.

Interessa-nos, pois, refletir sobre o IMT, enquanto objeto de estudo da tese, a partir da interfa- ce construída com base em redes que envolvem instituições, atores, doenças e agentes patogénicos e que, alicerçada no contexto nacional, preconiza o percurso da medicina tropical portuguesa na matriz europeia, utilizando para o efeito uma grelha metodológica em que se destacam os conceitos de “sabe- res médicos”, produção e circulação do conhecimento e redes científicas.

Mary Jo Wagner e Harold Thomas definem ‘saberes médicos’ como os “conhecimentos esta- belecidos e em evolução sobre ciências biomédicas, clínicas e afins (e.g. epidemiológico e comporta- mental-social) e a sua aplicação na assistência aos pacientes”7. Por outro lado, para Yutaka Tachimori o conceito de ‘saberes médicos’ pressupõe uma aprendizagem não só de diagnóstico, mas também de

5 Lobo, Ana Rita, A História da Malária em Portugal na Transição do Século XIX para o Século XX e a Contri- buição da Escola de Medicina Tropical de Lisboa (1902-1935), Tese de doutoramento, (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, 2012); Castro, Ricardo Themudo, A Escola de Medicina Tropical de Lisboa e a afirmação do Estado Português nas colónias africanas (1902-1935), Tese de doutoramento, (Fa- culdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, 2013).

6 Período de afirmação e consolidação do regime durante a década de 1930 e parte da década de 1940, a que se seguem anos de tensão resultantes, em larga medida, dos efeitos da Segunda Guerra Mundial.

7 Wagner, Mary Jo and Thomas Jr., Harold A., “Application of the medical knowledge general competency to emergency medicine”, Academic Emergency Medicine, 11 (2002), vol. 9: 1236-1241, pp. 1236 e 1237.

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“sintomas, resultados de testes clínicos, conhecimento patológico e anatómico”8. Por outro lado, Neto, Barbosa, da Silva e Dantas exploram a relação entre ‘saberes médicos’ e conhecimento leigo e discu- tem o papel das redes sociais no diálogo estabelecido entre os mesmos, concluindo que não são mutu- amente exclusivos9.

Assim, no presente trabalho utilizaremos o conceito de ‘saberes médicos’ como sendo um co- nhecimento especializado num campo médico abrangente produzido por uma diversidade de atores e que circula em diversos contextos, com destaque para os mais estritamente ligados à prática científica, definidas pelas publicações periódicas, congressos, encontros e missões.

Os estudos históricos e sociológicos dedicados à produção e circulação do conhecimento des- tacam, regra geral, o papel desempenhado pelas redes nesses processos. Os primeiros estudos relativos às redes em ciência contam já com algumas décadas, sendo alguns maioritariamente da responsabili- dade de autores provenientes da sociologia da ciência10. O interesse pela temática decorria, em grande medida, dos aspetos sociais inerentes à ciência discutidos por Thomas Kuhn em A Estrutura das Revo- luções Científicas11.

Neste âmbito, assinale-se o artigo de Mulkay, Gilbert e Woolgar, publicado em 1975, no qual os autores propõem um modelo teórico que relaciona fatores intelectuais e sociais com o aparecimento e desenvolvimento de novas áreas de investigação. Os autores defendem que as redes estabelecidas entre investigadores pertencentes a diferentes áreas de especialização científica são cruciais nesse con- texto, explicitando os diferentes estádios que caracterizam estas últimas. A construção dessas redes pressupõe, no entanto, a existência de uma ‘cultura científica’ comum entre os elementos que as inte- gram e a partilha de informação e conhecimento considerados relevantes para os interesses de cada um desses elementos. Para os autores em questão, as redes configuram-se assim como uma “concentração de ligações de interesse sem fronteiras definidas”12.

8 Tachimori, Yutaka; Iwanaga, Hiroaki and Tahara, Takashi, “The networks from medical knowledge and clini- cal practice have small-world, scale-free, and hierarchical features”, Physica A, 392 2013: 6084-6089, 6084.

9 Neto, André Pereira et al., “O paciente informado e os saberes médicos: um estudo de etnografia virtual em comunidades de doentes no Facebook”, História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 22 (2015):1653- 1671.

10 Veja-se, por exemplo, De Solla Price, Derek J. and Beaver, Donald, “Collaboration in an invisible college”, American Psychologist, 21 (11) (1966): 1011-1018; Crane, Diane, “Social structure in a group of scientists: a test of the invisible college hypothesis”, American Sociological Review, 34 (1969): 335-352; Crawford, Susan,

“Informal communication among scientists in Sleep Research”, Journal of the American Society of Information Sciences, 22 (1971): 301-310.

11 Kuhn, Thomas, The Structure of Scientific Revolutions, (Chicago, The University of Chicago Press, 1962).

12 Mulkay, Mike J.; Gilbert, G. Nigel and Woolgar, Steve, “Problem areas and research networks in science”, Sociology, 9 (1975): 187-203.

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Durante as décadas seguintes, os estudos que contemplam questões históricas e sociais dedi- cados às redes de produção e circulação do conhecimento científico não pararam de crescer, revelan- do-se uma das abordagens mais heurísticas no contexto da história da ciência. Produção e circulação revelam-se processos igualmente complexos e indissociáveis, nos quais atores tão inúmeros quanto diversos se cruzam interpretando, negociando e apropriando conceitos e práticas científicas13. Tam- bém na história da medicina tropical, diversos estudos têm reconhecido um papel central às redes na produção e circulação do conhecimento médico14. Uma vez que no presente projeto de doutoramento se optou pela utilização do conceito de rede enquanto ferramenta analítica, destaca-se como referência principal o trabalho desenvolvido por Deborah Neill, dedicado às redes formadas no âmbito da medi- cina tropical em contexto colonial, que defende que o estabelecimento de redes é um processo funda- mental tanto na produção e circulação do conhecimento científico, como na construção da autoridade científica dos elementos que delas fazem parte15. No seu livro Networks in Tropical Medicine, a autora desenvolve a argumentação num contexto internacional abrangente no qual se inserem vários projetos imperialistas – franceses, alemães, ingleses e belgas – e no qual atores europeus de diferentes naciona- lidades colaboraram como que movidos por um empreendimento médico transnacional. Neste contex- to, os percursos de circulação de conhecimento, materiais e pessoas em que participavam atores tão diversos como médicos, cientistas, empresários, missionários e administradores das colónias, permiti- ram aos médicos europeus que se dedicavam à prática da medicina tropical construir uma rede de in- vestigadores e clínicos que proporcionou o estabelecimento da sua autoridade coletiva enquanto espe- cialistas numa disciplina em fase de afirmação.

Pode dizer-se que os mesmos se organizaram em ‘comunidades epistémicas’, de acordo com o conceito avançado por Peter Haas:16 redes de profissionais com competência reconhecida num deter- minado domínio que partilham princípios e crenças e que possuem autoridade suficiente para serem ouvidos pelos decisores políticos. De acordo com Neil, a conjugação de objetivos nacionais com ato- res transnacionais pertencentes a uma mesma comunidade epistémica terá permitido não apenas a

13 Entre muitas obras significativas neste âmbito, destaque-se Latour, Bruno, Science in Action: How to Follow Scientists and Engineers through Society, (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1987) e Secord, James A., “Knowledge in transit”, Isis, 95 (2004): 654-672.

14 Dada a já extensa bibliografia sobre este tema, citam-se Raj, Kapil, Relocating Modern Science: Circulation and the Construction of Knowledge in South Asia and Europe, 1650-1900, (New York, Palgrave Macmillan, 2007) e Bastos, Cristiana; Barreto, Renilda (orgs.), A circulação do conhecimento: medicina, redes e impérios, (Lisboa, ICS-Imprensa de Ciências Sociais, 2013).

15 Veja-se, em particular: Neill, Deborah, “Paul Ehrlich’s colonial connections: scientific networks and sleeping sickness drug therapy research, 1900-1914”, Social History of Medicine, 22 (1) (2008): 61-77 e Neill, Deborah, Networks in Tropical Medicine: Internationalism, Colonialism, and the rise of a Medical Specialty, 1890-1930, (Stanford, Stanford University Press, 2012).

16 Haas, Peter, “Introduction: epistemic communities and international policy coordination”, International Or- ganization, 46 (1) (1992): 1-35.

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construção de novos factos científicos como o estabelecimento de práticas de saúde pública nas coló- nias17.

Uma vez expostos os principais pressupostos teóricos que guiarão a análise e interpretação da investigação na presente tese de doutoramento, assinale-se que serão ainda tidas em conta outras abor- dagens relativas à produção e circulação do conhecimento científico.

Entre essas abordagens, destaca-se a proposta por Gibbons et. al., que consideram que, tradi- cionalmente, a produção de conhecimento científico ter-se-ia centrado maioritariamente em problemas ligados aos interesses da comunidade académica, sendo a investigação desenvolvida por grupos de investigadores/académicos que, dentro de uma determinada disciplina científica, possuem uma forma- ção homogénea. Estes grupos, organizados de forma hierárquica numa estrutura pouco flexível que tende a perpetuar-se no contexto académico, conduziriam a uma produção e circulação do conheci- mento científico restritas, uma vez que ele transita em revistas científicas especializadas e encontros organizados pela comunidade científica, sendo a sua avaliação feita, maioritariamente, pelos pares. A produção e circulação do conhecimento científico far-se-ia assim num quase ‘circuito fechado’, o que levaria a uma certa desresponsabilização social por parte dos cientistas e a que estes fossem pouco reflexivos acerca da sua prática.

Alterações ocorridas na organização da comunidade científica, mas também nas suas preocu- pações e motivações, teriam levado a que, a partir da segunda metade do século XX, o modelo expos- to, que Gibbons et. al. designam por Modo 1, fosse substituído e/ou complementado por um novo modo de produção do conhecimento, designado por Modo 2. Gradualmente, Portugal também assistiu a essa alteração de produção de conhecimento, sendo exemplo disso os Centros de Estudos criados no Instituto Superior Técnico nas áreas da química, geologia e eletrónica; o Centro de Estudos de Medi- cina Tropical criado no IMT perto do fim da Segunda Guerra Mundial; ou a participação de peritos nacionais enquanto consultores em organizações internacionais e globais, como a OMS. De acordo com os autores, é possível identificar as seguintes tendências no Modo 2: os interesses de investigação, mais do que disciplinares, são agora sociais, económicos e políticos; a produção de conhecimento científico centra-se cada vez menos nas universidades, deslocando-se no sentido de uma interação entre institutos, centros de investigação, laboratórios industriais, consultoras e think tanks; as equipas são transdisciplinares e heterogéneas em termos de competências e experiência, com os membros a serem convocados consoante as necessidades; a organização dessas equipas é heterárquica e transien- te; a produção de conhecimento é realizada num contexto de aplicação e circula mais amplamente pela sociedade, não se centrando tanto na comunidade científica; num contexto de investigação que é de

17 Neill (2012), op.cit. (15)

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grande mobilidade, o conhecimento produzido pode assim ser mais facilmente utilizado em novos contextos; os membros das equipas de investigação são socialmente mais responsáveis e reflexivos, o que leva a que o seu trabalho se aproxime dos interesses de indivíduos ou grupos que, tradicionalmen- te, têm estado afastados do sistema científico-tecnológico18.

Constata-se assim, na abordagem exposta, que tanto os conceitos de produção e circulação do conhecimento como o das redes que lhes estão associadas como que se ‘dilata’ de modo a incorporar outras práticas, atores e públicos em contextos que não os tradicionalmente assumidos como científi- cos. Uma das autoras que partilha este tipo de abordagem é Helga Nowotny, centrando-se, fundamen- talmente nas questões da relação da ciência e do(s) seu(s) público(s) que a mesma levanta.

A autora defende que ciência e público(s) se encontram ligados por uma complexa rede de in- terações que tem lugar em diversos espaços públicos, levando a que o conhecimento científico e tec- nológico seja produzido e circule cada vez mais amplamente por toda a sociedade. Neste poderoso e eficiente processo de produção e distribuição social do conhecimento, é difícil estabelecer fronteiras entre o conhecimento científico e tecnológico produzido por especialistas (expert knowledge) e o co- nhecimento proveniente um público considerado leigo (lay knowledge), sendo que, no final, apesar de eventuais resistências e atritos, esta interação acaba por ter resultados benéficos para todos os interve- nientes19.

A medicina tropical é uma disciplina científica cuja emergência esteve intrinsecamente associ- ada à expansão colonial e ao estabelecimento de projetos imperiais por parte de diversas nações euro- peias20. Durante algum tempo, a historiografia da medicina tropical focou-se sobretudo nas ‘grandes

18 Gibbons, Michael et al., The New Production of Knowledge – The Dynamics of Science and Research in Con- temporary Societies, (London, SAGE Publications, 2002). Ver também Nowotny, Helga; Scott, Peter and Gib- bons, Michael, “‘Mode 2’ revisited: the new production of knowledge”, Minerva 41, (2003): 179-194.

19 Os espaços identificados pela autora são cinco: o da criatividade científica individual dependente do contexto social; o das práticas e conhecimentos etno-científicos; o espaço em que conhecimentos leigos e profissionais se encontram; o espaço público do mercado, em que a inovação é maior em locais em que há diálogo entre produto- res e consumidores; e o espaço híbrido do discurso público, com destaque para as questões de controvérsia am- biental ou tecnológica, em que participam peritos em ciência e tecnologia, empresários, políticos, jornalistas, grupos ambientais, associações e organizações não governamentais. Nowotny, Helga, “Socially distributed knowledge: five spaces for science to meet the public”, Public Understanding of Science, 2 (1993): 307-319.

20 Sobre a emergência da medicina tropical, veja-se: Worboys, Michael, “The emergence of tropical medicine: a study in the establishment of a scientific speciality” in Lemaine, Gerard et al. (eds.), Perspectives on the Emer- gence of Scientific Disciplines (The Hague, Paris: Mouton, 1976), pp. 75-98; Amaral, Isabel, “The emergence of Tropical Medicine in Portugal: the school of tropical medicine and the colonial hospital of Lisbon (1902-1935)”, Dynamis, 28 (2008), 312-318; Ribeiro, Pedro Lau, A Emergência da Medicina Tropical em Portugal (1887- 1902), Dissertação de Mestrado, (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, 2002).

Sobre a medicina tropical no contexto imperialista, veja-se, por exemplo: Headrick, Daniel, Tools of Empire:

Technology and European Imperialism in Nineteenth Century, (New York, Oxford University Press, 1981);

Hobsbawm, Eric J., A Era do Império 1875-1914, (Lisboa, Editorial Presença, 1990); Agar, Jon, Science in the Twentieth Century and Beyond, (Cambridge UK, Polity Press, 2013), pp. 142-160; Diogo, Maria Paula e Ama- ral, Isabel Maria (eds.), A Outra face do Império: Ciência, Tecnologia e Medicina (sécs. XIX-XX), (Lisboa, Edi- ções Colibri, 2012), pp. 131-195; Alexandre, Valentim (Coord.), O Império Africano, (Lisboa, Edições Colibri, 2000).

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figuras’ de países como o Reino Unido, a França e a Alemanha. A partir da década de 1980, a utiliza- ção de abordagens inovadoras na história da ciência e da medicina levou a que se destacassem aspetos sociais e culturais relacionados com a prática científica, passando a evidenciar-se outros aspetos da história da medicina tropical21: a construção social do conhecimento médico22; a ação de uma multi- plicidade de atores para além de médicos e cientistas23; o ‘espaço’ colonial como laboratório24; a apro- priação do conhecimento dos povos colonizados pela medicina ocidental25; o papel das tecnologias, incluindo as médicas, na construção dos impérios coloniais26; entre outras.

Por sua vez, Michael Worboys, ao focar-se na prática das ciências naturais e da medicina no contexto colonial britânico, foi um dos primeiros autores a mostrar que, mais do que aproveitar as oportunidades oferecidas pela expansão colonial, o conhecimento, a prática e as instituições dessas disciplinas na metrópole foram influenciadas pelo projeto imperial britânico, que se constituiu assim como uma oportunidade para o desenvolvimento da agenda da comunidade científica27. Esta perspeti- va é reforçada por Worboys e Palladino ao proporem uma agenda para o estudo da ciência e do impe- rialismo na qual é dada igual relevância a todas as disciplinas e empreendimentos científicos no con- texto imperial; o contexto histórico e cultural de colonizadores e colonizados, assim como as suas interações e modos de remodelação de conhecimento daí decorrentes; o papel desempenhado por co- munidades científicas nacionais e regionais e a diversidade de abordagens face a questões científicas

21 Em termos historiográficos, este ‘movimento’ registado na medicina tropical não é diferente do que teve lugar na história da medicina ou mesmo na história da ciência em geral.

22 Wright, Peter and Treacher, Andrew, (eds.), The Problem of Medical Knowledge: Examining the Social Con- struction of Medicine, (Edinburgh, Edinburgh University Press, 1982).

23 É o caso, entre outros, da ação de filantropos e instituições filantrópicas: Stapleton, Darwin H. (ed.), Creating a Tradition of Biomedical Research: Contributions to the History of the Rockefeller University, (New York, The Rockefeller University Press, 2004) e Stapleton, Darwin H., “Historical perspectives on malaria: the Rockefeller Antimalaria strategy in the 20th Century”, Mount Sinai Journal of Medicine: A Journal of Translational and Personalized Medicine, 76 (5) (2009): 468-473.

24 Headrick, Daniel, “Sleeping Sickness epidemics and colonial responses in east and central Africa, 1900- 1940”, PLoS Neglected Tropical Diseases, 8, (4) (2014): 1-8, e2772, https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0002772

25 Ver, por exemplo: Kumar, Deepak (ed.), Science and Empire: Essays in Indian Context, 1700-1947, (Delhi, South Asia Books, 1991).

26 Headrick, Daniel, Power over Peoples: Technology, Environments and Western Imperialism, 1400 to the Present, (Princeton NJ, Princeton University Press, 2010).

27 Worboys, Michael, Science and British Colonial Imperialism, 1895-1940, PhD. thesis, (Sussex, School of Mathematics and Physical Sciences, 1980) e Worboys, Michael, “Colonial and imperial medicine”, in Brunton, Deborah (ed.), Medicine Transformed. Health, Disease and Society in Europe, 1800-1930, (Manchester, The Open University, 2004), pp. 211-238. Para o caso português, veja-se: Shapiro, Martin, Medicine in the Service of Colonialism: Medical care in Portuguese Africa, 1885-1974, PhD. thesis, (Los Angeles: University of Califor- nia, 1983).

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nas colónias, assim como a discussão das razões justificativas da diferente repercussão que encontra- ram na ciência internacional28.

Em Portugal, a bibliografia dedicada à medicina tropical tem registado um incremento assina- lável nas duas últimas décadas. A investigação desenvolvida tem-se centrado principalmente no perío- do da EMT (1902-1935), com especial enfoque na emergência da medicina tropical enquanto discipli- na científica autónoma e na história da doença do sono e da malária, enquanto patologias que merece- ram a atenção dos primeiros médicos da referida instituição29. Apesar do protagonismo dado a um conjunto de figuras emblemáticas nacionais e à pesquisa médica por elas desenvolvida, tanto no terri- tório continental como nas colónias, essa investigação não deixa de refletir o entendimento da prática da medicina tropical no contexto internacional. Por outro lado, os estudos em questão revelam ainda que a medicina tropical só pode ser entendida se se perspetivar a relação entre política e ciência e entre colonizador e colonizado. Os resultados obtidos pela medicina tropical levaram à criação de modelos científicos de combate às doenças tropicais cuja implementação junto dos povos colonizados não pode deixar de ser entendida como uma efetiva estratégia de colonização e, consequentemente, de controlo dos povos colonizados. Todavia, a verdade é que ‘medicina científica’ não foi pacificamente adotada pelos povos colonizados e a mesma nunca substituiu completamente o recurso à medicina tradicional,

28 Palladino, Paolo and Worboys, Michael, “Science and Imperialism”, Isis, 84 (1993): 91-102. A agenda pro- posta neste artigo pelos autores parte de uma crítica feita à abordagem do historiador Lewis Pyenson no que respeita às questões relativas à ciência e imperialismo. No que respeita à última parte da agenda proposta, Wor- boys argumenta num trabalho posterior que os impérios Britânico, Belga e Alemão em África usaram, cada um deles, diferentes estratégias de controlo da doença do sono, refletindo diferentes perspetivas sobre a doença por parte das autoridades médicas e coloniais. O autor salienta assim a necessidade de proceder a estudos comparati- vos na história da medicina que consideram o mesmo problema médico em diferentes cenários, ou que reflitam sobre vários temas que ocorram num mesmo contexto, Worboys, Michael, “The comparative history of sleeping sickness in east and central Africa, 1900-1914”, History of Science, 32 (1994): 89-98.

29 Amaral, Isabel et al. (a), “Contribuições para uma história da medicina tropical nos séculos XIX e XX: um olhar retrospectivo”, Anais do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, 12 (2013): 13-28; Lobo (2012), op. cit.

(5) e Lobo, Ana Rita, “O combate à malária em Portugal no século XX (1903-1973)” in Diogo, Maria Paula e Amaral, Isabel Maria (eds.), A Outra face do Império: Ciência, Tecnologia e Medicina (sécs. XIX-XX), (Lisboa, Edições Colibri, 2012), pp.183-195; Havik, Philip, “Public health and tropical modernity: the combat against sleeping sickness in Portuguese Guinea, 1945-1974”, História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 21 (2) (2014):

641-666; Amaral, Isabel, “A Doença do Sono/Tripanossomíase – O elemento catalisador do progresso da medi- cina tropical portuguesa (1901-1966)” in Mota, André; Marinho; Maria Gabriela S. M. C. e Filho, Cláudio Ber- tolli, As Enfermidades e Suas Metáforas: Epidemias, Vacinação e Produção de Conhecimento, Coleção Medici- na, Saúde & História, Vol. VII, (São Paulo, Universidade de São Paulo, 2015), pp. 14-15; Ribeiro, Pedro Lau,

“As missões médicas nas colónias portuguesas: expetativas e repercussões na medicina tropical (1902-1935)” in Diogo, Maria Paula e Amaral, Isabel Maria (eds.), A Outra face do Império: Ciência, Tecnologia e Medicina (sécs. XIX-XX), (Lisboa, Edições Colibri, 2012), pp.149-162. Outros estudos relativos à questão da malária em Portugal: Faustino, Vítor, Mosquitos, Arroz e Sezões: a Erradicação da Malária no Vale do Sado, Dissertação de Mestrado, (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 2006); Saavedra, Mónica, Uma Questão Nacional: Enredos da Malária em Portugal, Séculos XIX e XX, Tese de Doutoramento, (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 2010) e Saavedra, Mónica, A Malária em Portugal: Histórias e Memórias, (Lisboa, Imprensa das Ciências Sociais, 2014).

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pelo que, independentemente da ação das missões médicas realizadas, a receção da medicina europeia nas colónias variou entre a rejeição, a aceitação parcial e a apropriação30.

No sentido de procurar cartografar a rede de saberes médicos no contexto do IMT foi escolhi- da a técnica de Social Network Analysis. Esta, escolhida como ferramenta de análise e tratamento de dados, insere-se no âmbito da disciplina das humanidades digitais31 e tem sido utilizada no estudo de comunidades médicas e do conhecimento médico em geral32 e, em concreto, em estudos sobre publi- cações de medicina tropical33. Estes estudos permitiram identificar redes, autores mais prolíficos, evi- denciar padrões de coautorias e revelar a proximidade entre autores e os tipos de ligações entre os mesmos – diretas ou intermediadas.

A SNA pode funcionar tanto como metodologia de pesquisa, como técnica de representação das diferentes formas de relação entre diversos atores. O que se propõe neste trabalho é uma utilização básica da SNA enquanto técnica de visualização, que permitirá, a partir da informação constante das publicações do IMT, estudar as relações entre autores provenientes de diferentes áreas de especializa-

30 Edgerton, David, “Creole technologies and global histories: Rethinking how things travel in space and time”, HoST, 1 (2007): 73–110; Amaral, Isabel, “A medicina tropical e o império português em África: diálogo entre política, ciência e misticismo (1887-1935)” in Diogo, Maria Paula e Amaral, Isabel Maria (eds.), A Outra face do Império: Ciência, Tecnologia e Medicina (sécs. XIX-XX), (Lisboa, Edições Colibri, 2012), pp.131-147.

31 Até cerca de 2010 o termo utilizado era “Computação em Humanidades” (Humanities Computing). O termo

“humanidades digitais” é compreendido como a utilização de métodos e conceitos digitais no campo das huma- nidades. Daniel Alves argumenta que este é um campo utilizado, mas não institucionalizado. Quer com isso dizer que é utilizado na investigação académica, na produção de conhecimento e na formação de investigadores, mas que tem menos visibilidade no currículo das universidades e nos eventos organizados por unidades de inves- tigação. Sobre este tema e a história do recurso a ferramentas digitais aplicadas às humanidades, ver: Alves, Daniel, “Humanidades Digitais e Investigação Histórica em Portugal: perspetiva e discurso (1979-2015)”, Práti- cas da História, 1 (2) (2016): 89-116. O mesmo autor também argumenta, por outro lado, que talvez não seja necessária uma institucionalização da disciplina, mas assumir que o que existe é uma comunidade de práticas de humanidades digitais. Sobre este debate entre a visão de institucionalização versus comunidade, ver: Alves, Daniel, “As Humanidades Digitais como uma comunidade de práticas dentro do formalismo académico: dos exemplos internacionais ao caso português”, Ler História, 69 (2016): 91-103.

32 Veja-se, por exemplo, Shirazi, Amir H. et al., “Evolution of communities in the medical sciences: evidence from the medical words network”, PLoS ONE, 11 (12) (2016): e0167546 e Tachimori, Yutaka; Iwanaga, Hiroaki and Tahara, Takashi, “The networks from medical knowledge and clinical practice have small-world, scale-free, and hierarchical features”, Physica A, 392 (2013): 6084-6089.

33 Sadoughi, Farahnaz; et al., “Social network analysis of Iranian researchers on medical parasitology: a 41 year co-authorship survey”, Iran Journal of Parasitology, 11 (2) (2016): 204-212; González-Alcaide, Gregorio et al.,

“Scientific authorships and collaboration network analysis on Chagas Disease: papers indexed in PubMed (1940- 2009)”, Revista Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, 54 (4) (2012): 219-228 e González-Alcaide, Gre- gorio; et al., “Evolution of coauthorship networks: worldwide scientific production on leishmaniasis”, Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 46(6) (2013): 719-727.

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ção científica, nomeadamente a densidade dessas relações, se são mais ou menos fortes e a posição dos autores nas redes. O software utilizado para esse fim será o Palladio 34.

No domínio da análise estrutural, recorrer-se-á aos conceitos utilizados no estudo de redes, segundo a teoria dos grafos. Uma rede é também designada grafo e é constituída por vértices e arestas.

Na área da matemática, a teoria dos grafos é uma linguagem formal e padronizada, recorrendo a con- ceitos (vocabulário) que nos permitem comunicar e quantificar a estrutura e as propriedades das re- des35.

Para obter a visualização gráfica através do software Palladio utiliza-se a informação obtida a partir dos Anais do Instituto de Medicina Tropical, previamente reunida em tabelas num ficheiro ex- cel. Dessas tabelas são selecionadas duas colunas de cada vez para se associarem entre si, em que a primeira coluna, ou fonte (source), se liga à segunda coluna, ou alvo (target), estabelecendo uma liga- ção. Por outras palavras, uma fonte é o emissor de uma relação com um alvo, como seja uma ligação de autor com coautor, ou de ligação de deslocação entre localidades. Graficamente, observam-se pon- tos e linhas, em que os pontos designam-se atores36 e as linhas designam-se arcos – se a relação for orientada entre dois atores – ou arestas – se não houver orientação. À ligação entre pontos, diz-se que há uma conexão entre atores, que é representada pelos arcos ou pelas arestas. À sequência de arestas em que a extremidade de uma coincide com a extremidade da outra dá-se o nome de cadeia; à sequên- cia de arcos percorridos no mesmo sentido dá-se o nome de caminho. Quando dois atores têm uma relação direta, diz-se que são contatos; se a relação entre dois atores for indireta, os atores no meio são definidos como intermediários. Se três atores estão conectados entre si na forma A ligado a B que está ligado a C, os atores A e C encontram-se num buraco estrutural, e B é o ator intermediário que se encontra em posição vantajosa por poder comunicar, trocar ou interagir com os restantes atores. Caso a ligação fosse unidirecional no sentido de ligação de A a C, dir-se-ia que o ator A é o ascendente e C

34 O Palladio, enquanto ferramenta de análise de redes sociais, resultou do Projeto “Networks in History: Data- driven tools for analyzing relationships across time”, desenvolvido pela Stanford University, entre 2013 e 2016.

Com o objetivo de desenhar novas interfaces gráficas a partir de investigação em humanidades, apoiou-se, para isso, noutros protótipos anteriormente desenvolvidos para o projeto de investigação “Mapping the Republic of Letters”, que analisava as comunidades académicas e redes de conhecimento entre 1500 e 1800. Para saber mais sobre o Palladio, ver: https://hdlab.stanford.edu/palladio/about/. Sobre o projeto “Mapping the Republic of Let- ters”, ver: http://republicofletters.stanford.edu/. Sobre a aplicação de ferramentas de análise de redes sociais em investigação histórica, em particular no âmbito do referido projeto “Mapping the Republic of Letters”, ver:

Ceserani, Giovanna et al., “British travelers in Eighteenth-Century Italy: the grand tour and profession of archi- tecture”, The American Historical Review, 122 (2) (2017): 425-450; Edelstein, Dan; Kassabova, Biliana, “How England fell off the map of Voltaire’s Enlightenment”, Modern Intellectual History, 17 (1) (2020): 29-53 e Win- terer, Caroline, “Where is America in the Republic of Letters?”, Modern Intellectual History, 9 (3) (2012): 597- 623.

35 Curso online Network Theory: introduction course, nos capítulos: Network theory overview e Graph theory overview, respetivamente https://www.youtube.com/watch?v=qFcuovfgPTc e https://www.youtube.com/watch?v=82zlRaRUsaY. Organização: Systems Innovation, consultado a 6 de junho de 2020.

36 Os pontos aos quais se ligam as arestas também podem ser designados vértices ou nós.

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