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Introdução. freguesias rurais. 1 Anexo A Carta ao Ministro das Obras Públicas sobre abastecimento de água nas

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Academic year: 2022

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Introdução

1940-60 – duas décadas que, embora não muito distantes, já pertencem ao nosso passado, às nossas memórias, e marcam na História de Elvas o momento em que a cidade cresceu para fora dos seus muros, alar- gando as áreas urbanas, fazendo surgir os bairros, as avenidas, as matas, as escolas, os espaços desportivos e de lazer, transformando a antiga urbe castreja numa cidade aberta e alegre.

Pretendemos fazer reviver uma etapa importante da vida da cidade, dar visibilidade a acontecimentos esquecidos, reconstruir memórias perdidas. Procurámos obter uma informação aprofundada, através da consulta da correspondência, actas, relatórios e planos de actividades da Câmara, Plano de Urbanização da Cidade, memórias descritivas das obras, correspondência com os ministérios, o arquitecto urbanista e o Governo Militar da Praça e pela leitura de periódicos, e assim fomos conhecendo o difícil caminho percorrido no processo de abertura e expansão da Cidade. É através da leitura desses documentos que o leitor vai acompanhar o processo de transformação da cidade, que a narrativa só procura situar e completar.

As autarquias lutavam com orçamentos muito reduzidos para a gestão dos seus concelhos, as obras estavam na dependência dos apoios do Estado:1 o investimento em bairros sociais, escolas, estradas, edifícios públicos e todas as infraestruturas construídas no país, era legislado, subsidiado, acompanhado e fiscalizado pelo poder central.

Elvas, cidade fortificada, com numerosos quartéis e respectivas unida- des, sentia ainda, a influência, mais exactamente, o poder das esferas militares. Aqui nada podia ser realizado sem pedido, consulta, e o acordo

1 Anexo A – Carta ao Ministro das Obras Públicas sobre abastecimento de água nas freguesias rurais.

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do Ministério da Guerra.2 A Câmara tinha um poder de decisão limitado:

administrar os bens do concelho, promover a cultura e a assistência, o abastecimento e a salubridade públicas e a segurança. Sobre o presidente da Câmara “pesava toda a estrutura administrativa municipal tendo de coordenar, orientar, fiscalizar a execução das deliberações camarárias e representar o município ao nível do poder central”.3 Conseguir as autori- zações para os diversos empreendimentos, aceder aos investimentos públicos e canalizá-los para o concelho era uma missão difícil. Para ter sucesso, era necessário estar atento à legislação e programas do governo, enviar exposições detalhadas e convincentes sobre as carências, deslocar- -se pessoalmente a Lisboa, aos centros de decisão, passando horas nas antecâmaras dos Ministérios. São elucidativas as palavras de um Vereador, o Sr. Capitão Carlos Pereira, que foram publicadas no sema- nário Linhas de Elvas, em 14 de Abril de 1956:

Na complicada administração duma edilidade, onde os recursos, em dinheiro, não abundam e, são inúmeras as parcelas a atender, algumas vezes aconteceu ficar um ou outro problema por resolver porque o imponderável das circunstâncias assim o destinou. Apesar disso, o sr. Dr. Mário Cidraes, não põe o problema de parte. Vai per- correr os departamentos do Estado, com novos planos, novos projec- tos, insistindo sempre, mantendo com firmeza o seu propósito de ver realizados os assuntos que interessam ao bem comum.4

A administração do município elvense era especialmente complica- da, uma cidade sem espaço, apertada dentro dos rígidos limites impos- tos pela cerca de muralhas e impedida de construir nas imediações, onde praticamente só tinham lugar os edifícios de carácter militar ou reli- gioso. Inverter esta situação foi o objectivo traçado, e vamos procurar reconstituir os passos dados para o conseguir realizar.

2 Como curiosidade ilustrativa, um episódio inesperado, passado em Setembro de 1939:

o Grupo de Amigos de Elvas, por sugestão do sr. José de Andrade Lopes, apresentou à Camara o projecto de realização de um filme de propaganda turística. Não foi possível dar realidade ao sonho porque o Ministério da Guerra proibiu a filmagem das fortifi- cações e suas dependências, impedindo assim, a divulgação da cidade fortaleza.

3PODER LOCAL E EDUCAÇÃO: QUE RELAÇÃO – INÊS M. L. O. CERCA.

4 Excerto do discurso pronunciado, em representação da Vereação, no jantar de home- nagem ao Presidente da Câmara

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A Cidade

Fig. 1 – À sombra das suas muralhas

“Com os seus baluartes, as suas torres, os seus eirados, o seu aqueduto, Elvas é para o caminheiro que passa, um apelo súbito das energias mais profundas (…) sentado à sombra das suas mura- lhas e ouvir, de coração encostado a elas, a mar- cha compassada do Tempo, marcando o ritmo da eternidade.”

Antonio Sardinha – “De vita et moribus”

Velha fortaleza, sentinela da fronteira, disposta sobre uma eleva- ção, o seu denso e branco casario predominando sobre as muralhas, desenha no espaço uma elegante silhueta, suavemente sinuosa, flanqueada por dois montes onde se situam os fortes de Santa Luzia e de Nossa Senhora da Graça. As suas fortificações notáveis formam com o seu castelo, muralhas, fortes e baluartes, um magnífico con- junto de arquitectura militar: pode afirmar-se que a própria cidade

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antiga, envolvida pelas muralhas e dominada pelo seu castelo, cons- titui também um vasto castelo.

Inteiramente cercada por essa espessa cortina de pedra, o acesso faz- -se através de apertadíssimas portas que, se em tempos contribuíram para a sua defesa, há muito que impedem a sua expansão e desenvol- vimento. Mas esta obra notável, de grande valor histórico-arqueológico, não pode ser medida pelo restrito interesse citadino pois ultrapassa-o largamente para se projectar como preciosidade arquitectónica, na cate- goria de Monumento Nacional.

Intramuros as ruas são sempre estreitas – como convinha à escassez de área urbanizável – muitas vezes ingremes e tortuosas, cobertas com a velha e irregular calçada portuguesa, incómodas para a crescente circulação de peões e veículos. Em algumas zonas, o trânsito torna-se mesmo impossível, impedido por construções camarárias, militares e particulares que estreitam ou fecham ruas e passagens. Os largos e pra- ças, pouco frequentes, mostram-se sempre de traçado acanhado.5

Fig. 2 – Ruas estreitas e largos de traçado acanhado

5 Informações recolhidas no Anteplano de Urbanização dos Arquitectos Moreira da Silva.

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ELVAS – A EXPANSÃO DA CIDADE 11

A quase totalidade das habitações, serviços, comércio e indústrias, estavam concentradas dentro das muralhas. Fora destas, além dos fortes, do aqueduto da Amoreira, do cemitério, da ermida do Calvário e igreja do Senhor Jesus da Piedade, só existiam, o estádio, o pequeno bairro da Fonte Nova, sem esgotos nem água canalizada e, distante, a estação de caminhos de ferro.

Fig. 3 – Denso casario

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A grande maioria dos elvenses ocupava-se nos trabalhos agrícolas.6 A economia girava à volta da agricultura, do comércio e da sua praça forte. Dentro do perímetro muralhado, situavam-se os quartéis e numerosos edifícios militares que alojavam um batalhão de Caça- dores (n.º 8), um regimento de Cavalaria, um Depósito Disciplinar, uma Companhia de Reformados, uma Companhia da Guarda Fiscal, uma Secção da Guarda Nacional Republicana e também a Polícia de Segurança Pública.

Os elvenses, viviam as suas rotinas marcadas pelos toques dos clarins, as charangas e as paradas, os juramentos de bandeira dos novos recrutas e as despedidas das unidades que partiam em missão.

Mas a população crescera, o ritmo de vida alterava-se, os transportes evoluíam, enquanto o espaço, delimitado pela muralha do sec. XVII, se mantinha imutável desde o sec. XIV, desenhado pela cerca fernandina, entretanto absorvida pela fortificação abaluartada.

Uma área de 430.036m2, albergava 14.420 habitantes, o que repre- sentava uma densidade populacional de 335 habitantes por hectare, em casas que em média não tinham mais de dois andares sobre o piso térreo, frequentemente ocupado por estábulos e celeiros. Muitos recordamos ainda o tilintar das guiseiras e chocalhos das mulas e das ovelhas que, no final do dia regressavam dos campos, ou o bater dos cascos dos cavalos na calçada.

Com esta densidade populacional muito elevada, as ruas eram buli- çosas e cheias de vida e as habitações, em número insuficiente, na maior parte dos casos sem condições higiénicas nem conforto, alojavam várias gerações.

6 Boletim Nacional de Estatística 1930 – Actividades da População do concelho:

. Trabalhos agrícolas --- 14.175

. Pesca e caça --- 10

. Extracção de minérios --- 24

. Indústria --- 2.232 . Transportes --- 364

. Comércio --- 872

. Força pública --- 1984

. Administração pública --- 638

. Profissões liberais --- 45

. Trabalhos domésticos --- 1202

. Improdutivos --- 1257

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ELVAS – A EXPANSÃO DA CIDADE 13

Era assim a cidade quando todo o seu denso casario estava contido pela muralha. Os elvenses alongavam a vista e, fora, em contraste, estendia-se a planície sem fim.

Fig. 4 – Sobre os telhados, os galarins donde a vista se alongava transpondo a muralha

A carta enviada à Câmara, que consta da acta da reunião da vereação, de 26 de Agosto de 1940, assinado por sessenta e oito munícipes, reflete o seu sentir:

Exmo. Sr. Presidente e demais Vereadores da Câmara Municipal de Elvas

Os abaixo assinados tendo aguardado de há muito a esta data a construção de um bairro que lhes viesse melhorar a sua condição eco- nómica, e não só isso como também as mais que precárias condições higiénicas em que estão condenados a viver, modificando-as para um mínimo que até por Lei são consideradas absolutamente indispen- sáveis à vida e à saúde públicas, não têm no entanto visto realizada essa aspiração máxima da maioria da população desta cidade (…) Nestas condições, e com o máximo respeito e devida consideração por tão dignas pessoas, os mesmos abaixo assinados propõem-se

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efectivar a construção de um bairro que venha resolver de vez, se- gundo a melhor intenção, o arrastado problema da habitação em Elvas para a sua comprimida e excessiva população.

Posto isto, e como ponto de partida com vista aos trabalhos ulteriores a fim de se poder dar seguimento ao assunto de colaboração íntima com a Exm.ª Câmara Municipal, vimos mui respeitosamente pedir a V. Exas. a cedência do terreno camarário designado por Rossio da Feira, triângulo compreendido entre as estradas nacional e do Can- cão e o ramal que passando em frente da Praça de Touros liga aque- las duas estradas. P. deferimento. Liv. 27, fl.147 (frente e verso) Um pedido tão justo não pôde ser deferido por duas razões:

Em primeiro lugar, Elvas era uma praça militar, onde a população civil estava sempre subordinada aos interesses estratégicos e de defesa;

mantinha-se uma cidade fortaleza, a “chave do reino”, e em todo o espaço em volta da muralha, sujeito ao regime de Servidão Militar, era muito difícil conseguir autorização para qualquer construção civil.

A segunda condicionante que impedia a Câmara de deferir o pedido era a figura do Plano Geral de Urbanização, criada pelo Decreto-Lei n.º 24802, de 21 de Dezembro de 1934, pelo Ministro das Obras Públicas e Comunicações, Eng. Duarte Pacheco.

Tornava-se urgente ultrapassar estas duas barreiras que impediam a expansão da cidade.

Fig. 5 – Envolvente da muralha

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Primeiros Passos de Uma Expansão

Em 1942, foram inaugurados em Elvas, na zona exterior às muralhas, dois edifícios, a Pousada e a Cadeia Comarcã, que representam um início do processo de expansão da cidade, que iria ocorrer poucos anos mais tarde.

Pousada

Fig. 6 – Pousada

“A Pousada de Santa Luzia foi posta junto da cidade fronteiriça de Elvas (…). Ainda que a 200 metros da povoação, pertence-lhe, por bem dizer.”

Pousadas do S.N.I. 1948 – Edições SNI

Primeira pousada a ser inaugurada, abriu as portas em 19 de Abril de 1942.

Estava decorada com o mobiliário tradicional alentejano, pintado à mão, e azulejos, também eles pintados manualmente, obra de artesãos

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da região. Por ironia, teve decoradoras estrangeiras, Vera Leroi e Ane- -Marie Jauss que desenharam a maioria do mobiliário.

António Ferro fez um discurso inflamado, tinha nascido a hotelaria de marca portuguesa. O primeiro concessionário, Azinhal Abelho, po- eta, veio juntar ao sonho, a poesia.

Estas unidades hoteleiras, que continuam hoje como uma marca de excelência no turismo português, foram o resultado de um processo que se foi desenhando e construindo. Em 1933, o jornal “Notícias Ilustrado”

lançou o concurso “O Nosso Jornal e o Turismo – Exposição do Hotel Modelo”. Para realizar os projectos foram convidados oito arquitectos recém formados que iriam criar os modelos de unidade hoteleira para oito regiões: Minho, Douro, Trás-os-Montes, Beira Alta, Beira Baixa, Estremadura, Alentejo e Algarve. Estas criações foram objecto de uma exposição itinerante através do País, em carruagem da CP, empresa que apoiou a iniciativa. Os modelos de “Hotel” foram buscar inspiração ao ensaio publicado no mesmo ano, pelo arquitecto Raul Lino, “Casas Portuguesas – alguns apontamentos sobre o arquitectar das casas sim- ples”, que identifica um tipo de construção para as diferentes regiões, fixando os princípios orientadores para a criação na arquitectura:

economia, beleza, e respeito pela tradição.

Fig. 7 – Ambiente tradicional

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ELVAS – A EXPANSÃO DA CIDADE 17

Em 1936, realizou-se o 1.º Congresso Nacional de Turismo, onde se elaborou um Plano Nacional e se delimitaram as Zonas de Turismo:

Norte, Centro, Sul, Insular e Colonial. Foram apresentadas e discutidas propostas, na tentativa de idealizar uma nova estrutura hoteleira, de expressão regional, economicamente acessível para a maioria da popu- lação e que desse realce aos valores tradicionais da cultura portuguesa.

Francisco de Lima apresentou o estudo de uma instalação turística “para a grande massa, para o viajante mais modesto, para o empregado públi- co, para o industrial que deseja conhecer o país e instruir-se, para o estudante: as Pouzadas.” Aproxima-se do Hotel Modelo no regiona- lismo proposto e no tipo de construção apresentado, indo ao encontro das necessidades das terras de província. Um hotel onde os hóspedes se sentissem na sua residência, aproximando-se do modelo da “Casa Por- tuguesa. Nas Comemorações do Duplo Centenário da Fundação e Res- tauração de Portugal, é anunciada, em 1939, a construção das primeiras Pousadas Regionais. Os projectos foram entregues a dois arquitectos:

Miguel Jacobetty Rosa (1901-1970) desenhou as pousadas das regiões do Sul e Rogério de Azevedo (1898-1983) ficou com o estudo dos projectos do Norte/Centro. Procurava-se evidenciar os valores tradicio- nais da cultura portuguesa, através da sua cor regional, e criar uma estrutura hoteleira que agradasse e fosse economicamente acessível a uma ampla camada da população.

As Pousadas tiveram um papel de relevo na política de Turismo desenvolvida pelo SPN, de marcada expressão regional, localizadas em pontos de interesse pela situação geográfica, pelas belezas naturais ou pela riqueza monumental e arquitectónica.

Foram uma realização do Ministério das Obras Públicas, impulsio- nada pelas comemorações dos Centenários, através do Secretariado de Propaganda Nacional – SPN, mas houve o cuidado de envolver e respon- sabilizar o poder local, como se pode constatar através da acta de reunião da Câmara de 15 de Abril de 1940 – Ofício n.º 2652 da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, comunicando que “tendo sido superiormente determinado que a construção de Pousadas se realizasse de acordo e com a colaboração das entidades beneficiadas, a Câmara deveria entender-se, por determinação de Sua Excelência o Ministro, com a Direcção dos Edifícios do Sul, em Évora, para se proceder aos trabalhos de abastecimento de água e luz à Pousada de Elvas.”

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Fig. 8 – Hotel onde os hóspedes se sentissem em casa

Fig. 9 – Pátio interior

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ELVAS – A EXPANSÃO DA CIDADE 19

Na resposta ao ofício: “A Câmara tem dispensado todas as facili- dades para a construção da Pousada, como a exploração de pedreiras, cedência de material e outras que estão ao seu alcance; e continua disposta a prestar, de futuro, a mesma colaboração, aguardando que a Direcção dos Edifícios do Sul lhe comunique o que tiver por conve- niente sobre o assunto.” Em 1 de Julho de 1940, chegou o Ofício 1163 do Eng. Director dos Edifícios do Sul, comunicando que foi concedida uma dotação de 8325$00 para os trabalhos de canalização de água para a Pousada de Elvas, ou seja metade do valor do orçamento da obra, ficando a verba restante a cargo da Câmara e pedindo para a Câmara informar se pretende fazer as obras por administração directa.

Foi decidido responder que a obra seria feita por intermédio da Comissão Administrativa dos Serviços Municipalizados de Águas.

A Câmara deliberou “solicitar do Sr. Eng. Director dos Edifícios do Sul que se digne obter a necessária autorização para se abrir um roço na muralha e bem assim para se fazer o levantamento da calçada da estrada nacional 18, no espaço indispensável para assentamento do cano que tem de atravessar a mesma estrada.”

Na acta da reunião da Vereação de 18 de Novembro de 1940, ficou registado que: “Satisfazendo o desejo manifestado por Sua Ex.ª o Ministro das Obras Públicas e Comunicações, a Câmara deliberou com- correr com metade da despesa a que der lugar a instalação eléctrica para iluminação da Pousada de Turismo.”

Através da consulta da correspondência entre os órgãos de Poder Central e a Câmara, transparece a satisfação que a construção da Pousa- da provocou em Elvas.

Cadeia

A Cadeia Comarcã de Elvas situava-se, no centro da cidade, na rua que dela recebeu o nome, a Rua da Cadeia, num velho e degradado edi- fício, que em 1940 é descrito, em acta da reunião camarária de 8 de Julho: “o actual edifício, de construção muito antiga é, não só impróprio por falta de condições higiénicas e de salubridade, como por se encon- trar situado no local mais concorrido da cidade e constituir espectáculo vergonhoso para uma terra desta categoria, a pouca distância da frontei- ra e constantemente visitada por estrangeiros”.

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Em Abril de 1940 a Autarquia, na sequência do pedido apresentado ao Ministério da Justiça para a construção da cadeia, fez a cedência do terreno para a sua instalação. Embora o artigo 50 do Código Adminis- trativo determinasse que “pertence às Câmaras Municipais deliberar sobre o estabelecimento e manutenção das cadeias municipais e comar- cãs”, o que implicava que teriam que ser as câmaras de Elvas e, numa pequena percentagem a de Campo Maior a custear a sua construção, a Autarquia estava convicta de que o Ministério custeasse a despesa na totalidade, através de uma verba especial para edifícios prisionais.

Fig. 10 – Antiga Cadeia

Em Julho, o Presidente da Comissão das Construções Prisionais, organismo integrado na Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, envia um ofício comunicando que foi aprovado o projecto para a construção da cadeia de Elvas e que o Ministro das Obras Públi- cas deliberou conceder, como subsídio, dois terços do custo da cons- trução, devendo a Câmara contribuir com o terço restante. O subsídio do Estado somava cerca de 350 contos e à Câmara pertencia contribuir com 160 contos, cem em 1940 e o restante em 1941.

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ELVAS – A EXPANSÃO DA CIDADE 21

Segue-se uma numerosa troca de correspondência, longa da parte da Câmara, tentando valorizar a contribuição dada através da cedência do terreno, sucinta e seca do Ministério das Obras Públicas, que valoriza a contribuição do Estado.

Transcrevo o Ofício n.º 640, do Presidente da Comissão das Constru- ções Prisionais, em resposta ao ofício n.º 1129, de 9 de Julho, da Câmara de Elvas, que considero elucidativo:

… o custo da construção da cadeia incumbe à Camara nos termos do disposto nos Decretos-lei n.ºs 26.648 e 27.424, do Código Adminis- trativo. Estes Decretos-lei são de 1936 e, portanto, não deveria ter constituído surpresa para essa Camara a comunicação feita no nosso ofício n.º 512 de 4 de Julho.

Por consequência, a cedência do terreno para construção não repre- senta nenhuma facilidade feita ao Estado. Pelo contrário a importân- cia do subsídio de dois terços da importância das despesas de cons- trução, instalação de água e luz e mobiliário fixo representa um importante auxílio concedido à Câmara.

Estamos certos de que, em harmonia com casos análogos, acederia S. Exa. a que essa contribuição fosse distribuída da melhor forma possível pelos três anos económicos de 1940 a 1942.

Se, mesmo assim, a Câmara não puder contribuir para essa obra, tão necessária à cidade de Elvas e que tanto importa ao interesse público, ver-se-á Sua Excelência coagido, embora muito pesarosa- mente, a adiar para melhor oportunidade a concessão do subsídio para construção da cadeia (…).”

A Autarquia cedeu e, em 14 de Outubro de 1940, a Comissão das Construções Prisionais envia ofício a informar que o Ministro das Obras Públicas determinou que se fizesse a adjudicação da nova cadeia.

O projecto de construção do edifício integra-se nos projectos-tipo de construção das cadeias dos anos 30, 40, que são propostos “a partir de um programa arquitectónico detalhado onde estão definidos com rigor a caracterização dos espaços, sendo de salientar as preocupações relati- vas às celas e aos pátios, aos aspectos construtivos (…). Os projectos- -tipo serão aplicados nas diferentes comarcas pelo arquitecto Raul Rodrigues Lima, que substituiu Cottinelli Telmo em 1939”.7

7 Arquitectos e Políticos – A arquitectura institucional em Portugal nos anos 30 – de Gonçalo Canto Moniz.

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A concessão de um empréstimo, no valor de 123.200$00, através da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência para custear as despesas, foi autorizado em 18 de Novembro de 1941.

No dia sete de Julho de 1942, foi entregue à Câmara o novo edifício da Cadeia Comarcã.

Fig 11 – Cadeia Comarcã, Projecto-tipo A, arquitecto Cottinelli Telmo, 1938.

Revista Oficial do Sindicato Nacional dos Arquitectos, (2), Março 1938

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ÍNDICE

1 – Introdução ... 7

2 – A Cidade ... 9

3 – Primeiros Passos de uma Expansão ... 15

3.1 – Pousada ... 15

3.2 – Cadeia ... 19

4 – Servidão Militar ... 23

5 – Anteplano de Urbanização ... 27

6 – Plano de Abastecimento de Água à Cidade de Elvas ... 37

7 – Os Novos Bairros ... 43

7.1 – Bairro da Boa-Fé ... 45

7.2 – Bairro de Santa Luzia ... 52

7.3 – Bairro do Rossio do Meio e Fonte Nova ... 57

7.4 – Bairro das Caixas ... 60

8 – O Viaduto das Novas Portas de Évora ... 67

9 – Urbanização do Rossio do Calvário ... 79

10 – Estabelecimentos de Ensino ... 87

11 – O Centro Histórico ... 95

12 – As Obras ...103

13 – Espaços Arborizados e Zonas de Desporto e Lazer ...107

14 – Considerações Finais ... 113

Anexos ... 115

Presidentes da Câmara e Vereadores ...137

Índice de Gravuras ...139

Bibliografia ...143

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