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Universidade Severino Sombra Coordenadoria de Pós – Graduação Programa de Mestrado em História IMIGRANTES ITALIANOS EM UMA NOVA FRONTEIRA Noroeste Fluminense (1896-1930) Rosane Aparecida Bartholazzi de Carvalho Vassouras 2001

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Universidade Severino Sombra

Coordenadoria de Pós – Graduação Programa de Mestrado em História

IMIGRANTES ITALIANOS EM UMA NOVA FRONTEIRA

Noroeste Fluminense (1896-1930)

Rosane Aparecida Bartholazzi de Carvalho

Vassouras

2001

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IMIGRANTES ITALIANOS EM UMA NOVA FRONTEIRA

Noroeste Fluminense (1896-1930)

por

Rosane Aparecida Bartholazzi de Carvalho

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em História Social do Trabalho da Universidade Severino Sombra – USS, pela Mestranda Rosane Aparecida Bartholazzi de Carvalho, como Requisito Parcial para obtenção do Título de Mestre.

Orientadora: Professora Maria Yedda Leite Linhares

Vassouras 2001

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CARVALHO, Rosane Aparecida Bartholazzi

Imigrantes italianos em uma nova fronteira: Noroeste Fluminense (1896 – 1930). – Vassouras: USS, 2001.

Inclui bibliografia.

1. Região. 2. Imigrantes italiano em uma nova fronteira. 3. Noroeste Fluminense, RJ (Séculos XIX e XX). I. Título. II. Linhares, Maria Yedda Leite (Ori). III. Universidade Severino Sombra – CPG – PMH.

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Universidade Severino Sombra

Coordenadoria de Pós – Graduação Programa de Mestrado em História

Dissertação: IMIGRANTES ITALIANOS EM UMA NOVA FRONTEIRA Noroeste Fluminense (1896-1930)

Elaborada por Rosane Aparecida Bartholazzi de Carvalho e aprovada por todos os membros da Banca Examinadora, foi aceita pelo Programa de Mestrado em História da USS, como requisito para obtenção de Título de

MESTRE EM HISTÓRIA

Banca Examinadora

_____________________________________

Presidente

_____________________________________

1º Examinador

_____________________________________

2º Examinador

Vassouras 2001

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In memorian

Umberto Bartolazzi

À minha mãe

Pelo espírito de luta sempre presente

Ao meu esposo Tarcísio, pela força e incentivo diário.

O título conquistado também é seu.

Aos meus filhos Gabriel e Matheus,

por terem suportado a minha ausência,

Amo vocês!

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Agradeço, inicialmente, a Deus pela força e coragem para vencer os desafios. Todos os nossos planos são passíveis de se tornar realidade. Mas, para tanto, é preciso crer firmemente nessa possibilidade. É dessa força que nasce a vitória. Sem tentativa e persistência não se supera limites.

A minha orientadora e amiga professora Maria Yedda Linhares, a minha eterna gratidão pela paciência e dedicação à pesquisa histórica e por sua orientação minuciosa e competente, pela acolhida em sua residência. “Ser Professor é despertar a magia do saber. É abrir caminhos de esperança. É criar o real desejo de ser”. Obrigada por ter me proporcionado tudo isso.

Aos meus professores Dr. José Augusto dos Santos, Dr. José Costa D’

Assunção Barros, Dr. Lincoln de Abreu Penna, Drª Miridan Brito Knox Falci, pela sabedoria e contribuição dada à minha Dissertação.

A professora Philomena da Cunha Gebran, que gentilmente atendeu minha solicitação, me possibilitando a hospedagem nesta casa durante o curso, pela competência com que vem desempenhando a direção do Mestrado.

Aos meus amigos de turma e curso, com os quais aprendi muito, pela solidariedade e companheirismo durante as aulas.

Aos funcionários do Departamento de Pós-Graduação em História da USS, pela eficiência e atenção dada.

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para que eu pudesse chegar até aqui.

Aos diretores das escolas onde trabalho que compreendendo as minhas dificuldades colaboraram nos momentos de necessidade.

Ao Revmº Padre José Paulo Vieira, por me fornecer fontes bibliográficas referentes a região.

A José Antonio Abreu de Oliveira, de Varre-Sai, pelo material de pesquisa fornecido, me auxiliando na construção do primeiro capítulo dessa dissertação.

A Fabíola, Beth, Dr. Francelino França, e outros com os quais tive contato em Varre-Sai, sem dúvida foram importantes na realização desse trabalho.

Meu agradecimento sincero às famílias italianas de Varre-Sai que com carinho me receberam em suas casas dando seus depoimentos, abrindo seus arquivos com documentações fundamentais para a construção do meu objeto de pesquisa.

Sem dúvida muitas pessoas que contribuíram para a realização desse trabalho não foram mencionadas. A elas os meus sinceros agradecimentos.

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No panorama dos estudos sobre imigrantes italianos no Brasil, percebemos a necessidade de produzir novos conhecimentos aprofundando em questões pouco exploradas no âmbito da História Regional. Nesse sentido, o presente estudo é dedicado a uma colônia de italianos que se estabeleceu em Varre-Sai, no município de Itaperuna, Noroeste Fluminense, no final do século XIX.

A chegada do imigrante se faz num período de expansão da cafeicultura na região. Procuramos para tanto, analisar a dinâmica do processo de aquisição de terras por parte destes, que de colonos e parceiros transformaram-se em proprietários rurais.

As diversas fontes de renda ligadas à lavoura cafeeira e os pecúlios existentes no país de origem permitiram aos italianos uma ascensão econômico-social.

Procuramos ainda explicar de que maneira os imigrantes italianos atuaram no sentido de construir seu próprio espaço na região de Varre-Sai.

Inserido no âmbito da História Agrária brasileira, nos moldes traçados pelos historiadores Maria Yedda Linhares, Ciro Flamarion Cardoso, João Fragoso e Hebe Castro, entre vários outros, trabalhamos com extensas fontes demográficas, judiciárias e privadas. Parece-nos que a relevância dessa pesquisa ao trabalhar com tais fontes, no tocante a imigração italiana, traduz a essência do ofício do historiador, que não pode prescindir de tais documentos para a reconstrução de processos históricos demográficos, econômicos e sociais da sociedade brasileira.

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INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO I – O POVOAMENTO E A OCUPAÇÃO DA TERRA ... 9

1.1. O Contorno geográfico da região e sua definição político administrativa ... 9

1.2. Os antigos e os novos donos da terra ... 23

1.3. Um europeu na floresta do interior fluminense ... 31

CAPÍTULO II – O IMIGRANTE ITALIANO NA NOVA FRONTEIRA DO CAFÉ ... 49

2.1. A chegada em terras fluminense ... 49

2.2. Os italianos se instalam em Varre-sai ... 71

CAPÍTULO III – DE COLONOS A PROPRIETÁRIOS ... 84

3.1. As estratégias de acesso à propriedade ... 84

3.2. O italiano conquista o seu lugar ... 100

3.3. A nova sociedade ... 112

CONCLUSÃO ... 118

FONTES ... 121

BIBLIOGRAFIA GERAL ... 123

ANEXO ... 126

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INTRODUÇÃO

O presente estudo pretendeu dar uma contribuição ao entendimento do processo da imigração italiana que foi após a portuguesa a mais numerosa no Brasil.

Percebemos a necessidade de um estudo dedicado a presença italiana no Estado do Rio de Janeiro. Nesse sentido, o centro de análise recaiu sobre uma colônia de italianos que se instalou em Varre-Sai1 no Noroeste Fluminense, RJ.

No Brasil, a extinção do tráfico, em 1850, apresenta-se em um momento de grande expansão cafeeira, acentuando assim, a necessidade de se pensar em como substituir a mão-de-obra escrava. Essa necessidade é suprida, inicialmente com o tráfico inter e intra-provincial do decadente nordeste açucareiro. Quanto a solução, entretanto, continuou sendo o grande desafio das classes dominantes e dirigentes brasileiras. A migração interna tornou-se insuficiente para atender à demanda da lavoura cafeeira devido a fatores ligados à elevada mortalidade entre os escravos, associados à mínima reprodução interna. Tradicionalmente a reprodução da mão-de-obra se fazia via mercado. O escravo tornava-se raro e caro na medida em que escasseava.

Com o fim do tráfico e a progressiva abolição da escravidão, apresentou-se como alternativa ao escravismo a opção pela mão-de-obra livre européia. Era necessária uma política imigrantista voltada à introdução de imigrantes para a lavoura cafeeira.

1 Conta-se que onde hoje se localiza a atual cidade de Varre -Sai, existia um rancho pertencente à D. Inácia, por onde passavam os tropeiros que ali pernoitavam. Para manter o local sempre limpo, ela pedia que eles varressem antes de sair. Surgindo assim a denominação popular: “Rancho de Varre e Sahe”, com o passar do tempo, simplesmente Varre -Sai.

Varre -Sai possui uma área de 190,3 km, com uma altitude de 680m, predomin ando clima tropical de altitude, delimitando-se atualmente com Bom Jesus do Itabapoana, Porciúncula e Natividade. Possui uma população de 7.630 h (1996)

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A primeira experiência de emprego de mão-de-obra livre no Brasil foi introduzida por intermédio da iniciativa particular, quando o Senador Vergueiro, através da Vergueiro & Cia, trouxe para a Fazenda Ibicaba/Limeira/S. Paulo, famílias de colonos suíços, alemães, portugueses. O sistema adotado para promover a vinda desses imigrantes foi o “sistema de parceria”. Através dele os colonos tinham pagas as despesas de viagens e transportes até a fazenda. Os gastos de manutenção e instalação das famílias corriam também por conta do fazendeiro. Na verdade, toda essa gratuidade era apenas um adiantamento, assim que o colono começasse a produção, deveria pagar ao fazendeiro os juros que eram cobrados.

Essa experiência adotada pela Vergueiro & Cia acabou não dando certo, já que o endividamento prendia os colonos ao fazendeiro quase como um escravo. Os colonos eram juridicamente livres, mas não o eram economicamente. Pelo fato do fazendeiro ter subvencionado a vinda do imigrante este era tido como se fosse um servo da gleba. O descontentamento dos colonos veio a se manifestar numa agitação em fevereiro de 1857 na fazenda Ibicaba. Eram muitas as reclamações por parte dos colonos e, também, dos proprietários que exigiam o cumprimento dos contratos estabelecidos, habituados que estavam à rotina do trabalho escravo, encontrando dificuldades em aceitar os padrões de comportamento do trabalho livre.

Os conflitos existentes nessas colônias particulares repercutiam negativamente nas regiões de origem do imigrante. Para garantir a permanência e a chegada dessa mão-de-obra no Brasil foi necessária à intervenção do Estado na organização dos núcleos coloniais oficiais e uma nova relação de trabalho denominada colonato, surge, para garantir a fixação do imigrante na fazenda. Esse sistema se caracterizou pela combinação de três elementos: um pagamento fixo pelo trato do cafezal, um pagamento

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proporcional pela quantidade de café colhido e produção direta de alimentos como meio de vida comercializáveis pelo trabalhador. O rendimento anual do trabalhador dependia do grau de intensificação do trabalho que podia impor à família.

Esses imigrantes formaram colônias, com significativa importância a dos italianos que começaram a chegar no Brasil em número representativo por volta de 1870, tendo o fluxo aumentado a partir da década de 80 em virtude da progressiva abolição da escravatura. Os italianos entusiasmaram-se com os subsídios concedidos pelo governo, haja vista as condições desastrosas em que viviam na Itália, então em crise econômica grave, forçando centenas de milhares de camponeses a largarem a terra.

Não esqueçamos que o último quartel do século XIX foi catastrófico para as populações camponesas da Europa Ocidental, ocasionando uma verdadeira diáspora que deu uma importante contribuição ao desenvolvimento econômico e social na América, sobretudo nos EUA.

A corrente imigratória italiana localizou-se em diversas regiões do Brasil. Abordar a partir da história regional uma colônia italiana em Varre- Sai/ Noroeste Fluminense/RJ, no período compreendido ente 1896/1930 foi à proposta do presente projeto.

O recorte temporal que propomos para o desenvolvimento desse trabalho se fez relevante por ser o período em que a mão-de-obra do imigrante na lavoura cafeeira foi de extrema importância, tendo em vista a extinção do regime escravo paralela à ascendência do café nessa região. É importante ressaltar que esse foi um período de ascensão e crise da economia agrária culminando com transformações políticas e econômicas-sociais nos anos 30 do século XX.

A contribuição dada por esse grupo étnico no Rio de Janeiro é pouco conhecida, e, por vezes, ignorada. Portanto, novos conhecimentos devem ser produzidos a fim de aprofundarmos em questões pouco exploradas no âmbito da

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História Regional. Nesse sentido, é que me interessei pelo estudo dessa imigração na região do interior fluminense. Por ser uma oriunda dessa corrente imigratória, o assunto me é empolgante, principalmente sabendo que ainda há um potencial de grande importância cultural e econômico a ser revelado, pois, não tivemos a pretensão de esgotá-lo.

O tema é importante para a compreensão do processo imigratório localizado, visto que a imigração não pode ser vista de maneira uniforme em todas as regiões, possuindo particularidades inerentes à sua realidade.

Procuramos abordar o imigrante como agente transformador, colocando-o em uma situação não apenas de subjugado, nem de vencedor, mas como parte de uma comunidade que, pouco a pouco, foi construindo sua história em terra desconhecida.

A História Regional nos possibilitou analisar o concreto, o cotidiano, perceber diferenças múltiplas, e contextualizá-las nos estudos de abordagem nacional. Assim, identificamos região como uma abstração e uma estratégia do pesquisador. O historiador constrói e recorta a região de acordo com o seu objeto de estudo.

Estudando a contribuição dos italianos na região de Varre-Sai (Noroeste Fluminense, RJ), tentamos mostrar que, graças à utilização desta mão-de-obra na lavoura cafeeira, um novo impulso foi dado à região, que, no período estudado (1896-1930), tornou-se o grande centro irradiador de café no Estado do Rio de Janeiro, ficando o município, em primeiro lugar em número de sacas de café produzido.

Instigou-nos também analisar as estratégias de acesso e manutenção da propriedade pelos imigrantes italianos que, de colonos e parceiros, se transformaram em proprietários de terra, estando ainda hoje a maior parte das propriedades cafeicultoras concentradas nas mãos dos descendentes desse

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grupo étnico.Coube-lhes construir seu próprio espaço em uma terra totalmente estranha.

No período em que a região tornava-se grande produtora de café, a alegada escassez de mão-de-obra, segundo a visão dos proprietários, seria a causa da crise na lavoura. Foi em busca de solução para suprir a mão-de-obra que grandes cafeicultores reivindicaram imigrantes europeus para a região.

Vindos, em maioria, do Porto do Rio de Janeiro a partir de 1896 inicia- se a chegada das famílias italianas. Em 1896 e 1897 inúmeras famílias instalaram-se na região, dentre elas citamos: PULITINI, GEOVANINNI, PURIFICATI, PELEGRINI, FABRI, GRILLO, RIGUETHI, MURUCI, RIDOLPHI, CAPACIA, BENDIA, AMITTI, FUZZI, GORINI, TUPINI e outros.

Embora freqüentemente descurada, em relação aos imigrantes que se dirigiram para São Paulo e para o Sul do país, as famílias italianas que se fixaram no Estado do Rio de Janeiro representam uma coletividade importante. Realizar trabalho de cunho regional torna-se um desafio, uma vez que as fontes em grande parte, encontram-se dispersas e desorganizadas e em mau estado de conservação.

Trabalhamos com a quantificação de dados demográficos e econômicos (censo de população, produção, preço da terra etc) e confrontamos esses dados numéricos abstraídos antes e após o recorte temporal estabelecido, dessa forma, conseguindo estabelecer uma comparação e comprovando nossas hipóteses.

A quantificação teve seu apogeu na historia dos preços nos trabalhos de Simiand, Hamilton, Labrousse, entre outros2. Hoje parece que nos

2 CARDOSO, Ciro Flamarion & PÉREZ, Hector. Os Métodos da História. Rio de Janeiro: Edições Graal.

1983 p.283

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distanciamos daquela visão quantificada da historiografia francesa. No entanto recorremos aos dados que podem ser quantificados.

Utilizamos a documentação cartorária de Itaperuna e Varre-Sai.

Registro de imóveis, hipotecas, procurações que constam no Livro de Notas no período compreendido entre 1897-1930. Esta documentação serviu para registrar o acesso à terra, através do estudo minucioso das transações imobiliárias contidas nesse Livro de Notas.

Ao analisarmos alguns artigos do jornal “O Itaperunense” fundado em 1893, foi possível traçar um perfil social, econômico, político do período estudado.

De grande valia, talvez a mais importante, foi a análise de documentos pessoais deixados por italianos, passaportes, cartas, testamentos, balanço de fazendas e outros. Através do balanço de fazendas, percebemos a capacidade produtiva dos diversos trabalhadores existentes na fazenda, principalmente os italianos, bem como seus rendimentos e suas ocupações.

Outras fontes foram utilizadas na construção do trabalho: O Almanak Laemert, onde encontramos dados referentes a processos políticos/administrativos da região, dados econômicos, listagem nominal de fazendeiros etc. Enciclopédia dos Municípios (dados históricos da região estudada, suas características físicas e utilização de mapas. No IBGE recolhemos dados do recenseamento de 1872, 1890, sinopse do recenseamento de 1900 e o recenseamento agropecuário e demográfico de 1920...). Com esses dados, foi possível estabelecer um quadro comparativo em números de população. No Arquivo Nacional, encontramos manuscrito que diz respeito ao levantamento histórico dos órgãos de imigração e colonização, bem como analisamos documentos microfilmados sobre a relação de imigrantes com seus respectivos vapores por ano de chegada. Na Biblioteca Nacional, recolhemos dados contidos nas publicações oficiais do

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Ministério da Agricultura Indústria e Comércio referentes à agricultura nos municípios do Rio de Janeiro (1910-1912), bem como o salários dos trabalhadores rurais da região em estudo.Utilizando a Internet através do site wwcrl.uchicago.edu/info/brazil encontramos Relatórios e Mensagens Ministeriais de Província referentes a imigração e colonização no Brasil, especificamente do Rio de Janeiro no período estudado. Destes dados, traçamos um quadro estatístico sobre a chegada dos imigrantes no porto do Rio de Janeiro e discursos oficiais sobre colonização e cafeicultura.

Utilizamos também, a fonte oral entrevistando os descendentes dos italianos da região de Varre-Sai que conviveram diretamente com seus antepassados, tendo, portanto, viva na memória vida e obra desses imigrantes.

Para Daniele Voldman3 em Usos e Abusos da História Oral, fonte oral é o material recolhido por um historiador para as necessidades de sua pesquisa, em função de suas hipóteses e do tipo de informações que lhe pareça necessário possuir.

Essa Dissertação foi ordenada em três capítulos que, pelos quais pretendemos, esclarecer, as proposições por nós formuladas.

No Capítulo I, a bordamos o processo político administrativo através do qual se constituiu a região que atualmente é denominada Noroeste Fluminense. Tratamos também do desbravamento da região pelos posseiros vindos de Minas Gerais, que introduziram as primeiras mudas de café na região.

O Capítulo II enfatiza a chegada dos italianos em terras fluminenses estabelecendo uma comparação dos dados quantitativos com relação à nacionalidade e à chegada no porto do Rio de Janeiro. Abordamos,

3 FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaína. Usos e abusos da História Oral. Rio de Janeiro:

Editora Fundação Getúlio Vargas, 1996

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sinteticamente, a trajetória do imigrante, da origem ao destino. Destacamos também o papel das hospedarias como receptoras destes imigrantes. Em seguida, tratamos da imigração italiana em Varre-Sai. Com a expansão da cafeicultura, a demanda pelo trabalhador agrícola tornava-se eminente.

Inúmeras famílias italianas chegam à região a partir de 1897 e são encaminhadas para as fazendas.

No Capítulo III apontamos para as diversas estratégias utilizadas pelo imigrante que se transformou de colono em lavrador independente, constituindo-se em uma nova classe de pequenos e médios proprietários. A aquisição de um lote de terra era o sonho de todo camponês, em particular o italiano. Como força de trabalho na lavoura cafeeira, a família italiana consegue, aos poucos, ascender socialmente utilizando-se de recursos próprios.

No último subtítulo, enfatizamos a posição econômica da região, que sendo policultora, atingiu o apogeu em 1920 nas pequenas e médias propriedades cafeicultoras. Por ser uma região de fronteira agrícola aberta, o café seguiu seu itinerário, sendo majoritariamente cultivado pelos italianos proprietários.

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1. – POVOAMENTO E OCUPAÇÃO DA TERRA

Enfocamos aqui a construção do que viria a ser o Noroeste Fluminense, especialmente Varre-Sai, o recorte espacial do presente estudo.

Paralelo a definição do recorte geográfico, abordaremos a evolução político-administrativa, dando destaque à ocupação da terra pelos primeiros posseiros.

1.1 - O contorno geográfico da região e sua definição político- administrativa

As terras que formaram o município de Itaperuna, de onde saiu o atual município de Varre-Sai, pertenciam à Vila de Campos dos Goitacazes, na Capitania de Paraíba do Sul, área esta, parte do Norte Fluminense até bem pouco tempo e, atualmente, conhecida como Noroeste Fluminense, no estado do Rio de Janeiro.

O estudo regional foi o que se mostrou mais adequado aos meus propósitos, pela possibilidade de apresentar questões da história até então inexploradas e por oferecer elementos que possam ser comparados e avaliados a partir de parâmetros outros. São diversas as razões que explicam a expansão dos estudos históricos regionais. Dentre essas razões Pierre Goubert cita:

“O estudo regional permite que um só historiador, trabalhando de maneira artesanal, utilize a totalidade da documentação disponível.”

É possível seguir, na longa duração, a evolução de uma comunidade regional em diversos níveis estruturais- demográfico, econômico, social e ideológico, etc. – coisa nada fácil para todo um país”.4

4 GOUBERT, Pierre. Local History. 1971apud CARDOSO, Ciro Flamarion. op. cit.,. p.75

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A História Regional nos possibilita analisar o concreto, o cotidiano, perceber diferenças múltiplas, e contextualizá-las nos estudos de abordagem nacional. Assim conforme as abordagens feitas, identificamos região como uma abstração e uma estratégia do pesquisador, onde ele a recorta e a constrói de acordo com seu objeto de estudo.

Segundo Ciro F. Cardoso5 toda delimitação territorial é uma abstração, uma simplificação de uma realidade mais complexa para finalidades de pesquisa ou de ação prática; além disso, as relações entre o homem e o espaço não são imóveis, modificam-se no tempo conforme o grau de variáveis de organização do meio ambiente pelo grupo humano. Nesse sentido o autor afirma:

...o que importa é definir operacionalmente a região e saber integrá-la num conjunto significativo. Afinal o enfoque regional não é um método, e sim uma op- ção quanto a delimitação do universo de análise”.6

Na história do Brasil nos últimos vinte anos, o enfoque regional foi amplamente utilizado na historiografia, em dissertações de mestrado e teses de doutorado na UFF, UFRJ e mais recentemente nas Universidades do estado de Minas Gerais.

Percebe-se, portanto, a necessidade do historiador limitar seu campo de ação, tendo em vista, as mudanças ao longo do tempo, na constituição dos atuais municípios. Uma unidade administrativa do passado nem sempre

5 CARDOSO, Ciro Flamarion. Agricultura, Escravidão e Capitalismo.Petrópolis: Ed Vozes, 1979.p.78

6 Idem, p. 78

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corresponde à divisão territorial do presente. As terras pertencentes a Campos, aos poucos foram sendo desbravadas chegando aos vales do Pomba, do Muriaé, do Carangola e do Itabapoana, ao longo dos quais se estendem hoje novos municípios: Itaperuna, Cambuci, Bom Jesus do Itabapoana, Santo Antônio de Pádua, Porciúncula, Natividade, Varre-Sai e outros.

O primeiro ato legal referente à região que atualmente constitui o Noroeste Fluminense foi a Provisão Episcopal de 30 de Janeiro de 1759 que criou a Freguesia7 de Santo Antonio dos Guarulhos (Campos dos Goitacazes).

Seu território se estendia para o centro até os limites da Província de Minas Gerais a margem direita do Rio Itabapoana (mapa 1), com uma superfície de 800,88km2, e uma população de livres que chegava a 6.515.8. Sabe-se que as freguesias ou paróquias constituíram as unidades administrativas do país do período colonial ao império9. O padre de uma paróquia era um elemento respeitado pelas comunidades, exercendo uma grande influência nas estruturas administrativas.

7 Freguesia era uma povoação sob o ponto de vista eclesiástico. Dada a união entre a Igreja Católica e o Estado, a freguesia era uma divisão além de eclesiástica, administrativa.

8 LAEMERT VON, Eduardo. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Província do Rio de Janeiro. Província do Rio de Janeiro. Ano 1880,p.81

9 Cf. Maria Yedda Linhares e Francis co Carlos Teixeira da Silva.Região e História Agrária. p. 23

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Começaram as divisões das grandes porções territoriais do que vinha a se compor o município de Itaperuna, ao qual pertenceu Varre-Sai, nosso recorte espacial para o presente estudo. Novos municípios, freguesias e vilas surgiram. Por lei provincial foi erigida à freguesia em 1853 como Nossa Senhora de Natividade do Carangola, as terras que posteriormente formaram o município de Itaperuna, desmembrando da Freguesia de Sto Antônio dos Guarulhos.

É oportuno citar a criação em 1862, da Freguesia do Senhor Bom Jesus do Itabapoana, à qual pertenceu Varre-Sai até que fosse elevada a freguesia.

No Almanaque Laemert, encontramos a seguinte referência sobre essa nova freguesia:

“Acha-se esta freguesia situada à margem direita do mesmo nome; tem uma pequena igreja que serve de Matriz, e uma outra de pedra e cal em construção.

Tem sessenta e quatro casas, sendo seis sobrados e cinqüenta e oito térreas. Sua maior extensão é de 15 léguas; abundante de terrenos apropriados ao café. É lugar sadio, cortado de regatos, e com mais de 4.000 habitantes. Possui uma estrada que vai até o Porto de Limeira. Esta estrada foi construída pela Província, sendo daí que data a época do aumento progressivo que tem tido e continuará ter, se não cessarem os favores do governo, sem cuja coadjuvação não poderá progredir. Exporta para o porto de Limeira mais de 800.000 arrobas de produtos, e muito mais se extravia pela falta de estradas entre a Província e o vizinho Espírito Santo. Seus moradores laboriosos e incansáveis na plantação do café, confiando no governo de Sua majestade Imperial, tornar-se-ão em pouco tempo, os maiores exportadores de café da província do Rio de Janeiro”.10

10 LAEMERT VON, Eduardo. Op. cit., Ano 1880. p. 86

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Pelo Decreto de nº 2389 de 20 de novembro de 1879, foi criada a freguesia de São Sebastião (atual Varre-Sai), ficando desmembrada da freguesia de Bom Jesus, ambas pertencentes ao município de Campos. A nova freguesia tinha como limites territoriais: partindo do ribeirão do rio Itabapoana que divide a Província do Rio de Janeiro com a do Espírito-Santo, e seguindo por ele até encontrar as divisas da Província de Minas Gerais e da freguesia de Nossa Senhora de Natividade do Carangola. Com o desmembramento Varre-Sai foi servido com a instituição de um distrito policial, vindo a ser criado um distrito de paz em 20 de abril de 1882, permanecendo esse distrito com os mesmos territórios e divisas de quando foi elevada à freguesia.

As divisões políticas-administrativas continuam evoluindo. O Noroeste Fluminense começou a se definir concretamente quando em 24 de novembro de 1885 através do Decreto de nº 2810 133 ficou estabelecido à criação do município de Itaperuna. A ata de criação ficou assim redigida:

Art. 1º - Fica elevada à categoria de vila -, com denominação de – Vila de Itaperuna – a freguesia de Nossa Senhora da Natividade do Carangola, e pertencendo também ao novo município as freguesias de Santo Antonio do Carangola (atual Porciúncula), São Sebastião do Varre-Sai e Bom Jesus do Itabapoana.

Art. 2º - O município de Itaperuna fará parte da comarca de Campos.

Esse significativo ato representou um grande passo em direção do que viria ser a definição territorial deste município, que passou por inúmeras alterações políticas administrativas até a sua constituição definitiva. Dois anos após o referido decreto ter sido publicado teve seu artigo primeiro revogado.

Em 1887, a freguesia de Nossa Senhora de Natividade do Carangola teve seu território alterado com a criação da freguesia de São José do Avaí, tendo por

133 JUNIOR, Leopoldo Muylaert. Álbum de Itaperuna. 1910

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sede o arraial de Porto Alegre (atual Itaperuna) e posteriormente vila de São José do Avaí, substituindo o termo vila de Itaperuna. Novas circunscrições territoriais foram incorporadas à vila, como a de Nossa Senhora da Piedade do Lage, que fazia parte do município de Santo Antônio de Pádua. Esta vila tinha como limites territoriais à margem esquerda do rio Muriaé o córrego da Chica, até as serras que divide as águas com o rio Itabapoana; do lado de cima o rio Carangola até as divisas da freguesia de São Sebastião do Varre-Sai.

A criação da Vila São José do Avaí e a anexação da freguesia de Laje à mesma, ocorreu após uma intensa discussão entre os deputados da Assembléia Legislativa de Campos. O projeto de transferência da freguesia de Laje, do município de Pádua, para São José do Avaí foi rejeitado por alguns deputados que acreditavam que o desmembramento comprometeria o desenvolvimento do recém criado município.

Pronunciando-se em defesa da população de Lage, o deputado Coelho Barroso autor da emenda substitutiva da criação da Vila de São José do Avaí e da anexação de Lage à mesma diz em uma das apartes:

“Esqueceu o nobre deputado de que o norte da freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Lage, justamente a sua parte mais populosa, laboriosa, rica e onde se tem concentrado lavoura mais importante, dista da sede do município oito léguas, ao passo que está a pouco mais de um quilômetro de Porto-Alegre sede do novo município,e ainda a três horas de viagem da cidade de Campos pela via férrea Carangola”.12

Cabe destacar que era expressiva a população da freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Lage, chegando a superar a Vila de São José do Avaí.

12 Idem

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Segundo o censo de 189013, Lage tinha um total de 7.460 habitantes, enquanto São José tinha apenas 5.623. Foi significativa para a Vila essa anexação, ampliando enormemente sua população e o comércio local.

O interesse pela criação da vila é manifestado pelos fazendeiros da região desde o ano de 1880, conforme consta na ata de reunião14feita entre os defensores da emancipação da Freguesia de Nossa Senhora de Natividade do Carangola. O número aproximado de participantes, sendo a maioria deles fazendeiros foi em torno de 50 pessoas, destacando entre eles membros da família, os pioneiros no desbravamento da região, e Felicíssimo de Faria Salgado, o doador da área em que se constituiu a freguesia de São Sebastião do Varre-Sai. O assunto em pauta nessa reunião consistia na deliberação de meios para que a criação do município fosse efetivada e aprovada pela Assembléia Legislativa de Campos. Chegou-se a formação de uma comissão para que se procedesse a meios legais as doações ou compras de terrenos.

Cabia também à comissão, a demarcação dos terrenos e o planejamento das ruas e construções. Verifica-se, portanto, que, essa comissão possuía amplos poderes para assinar escrituras e tomar todas as providências para a criação e instalação da Vila.

É oportuno destacar que, para a criação do município, várias justificativas foram apontadas pelo deputado Francisco Portella15 na sessão da Assembléia Legislativa Provincial. Uma delas era que as freguesias pertencentes ao município de Campos tinham almas suficientes, além, da exigência do regimento para a criação de um município. Segundo o censo de 1872 a freguesia de Nossa Senhora da Natividade do Carangola tinha um total de 5.635 almas, São Sebastião do Varre-Sai tinha um total de 3.554 e a de Bom Jesus do Itabapoana 3.000, perfazendo um total de 12.189 almas.

13 Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. Diretoria Geral de Estatística. Rio de Janeiro 1890

14 MUYLAERT, Leopoldo. Op.cit

15 Idem

(26)

Ainda referindo a criação do município Portela dizia:

“Este município se acha constituído, por assim dizer, por uma só família, do mesmo sangue, porque fora povoado por Mineiros e a população atual é deles descendente. (...) é um município de café, há ali o mesmo sistema de vida e há toda uniformidade no viver dos povos destas três freguesias, o que é uma razão para se constituírem homogeneamente em um município”.16

Percebemos nesse discurso uma exaltação à região homogênea. Sem querer refutar a colocação de Portela, cabe aqui um parêntese para a validade de uma região homogênea. Muita usada pelo IBGE na divisão territorial do país, o conceito de microrregião homogênea foi fundamentado sobre os elementos (agricultura, população etc.). Sabe-se que dificilmente encontraremos homogeneidade em um país, principalmente aquele que ainda está em processo de povoamento, ou seja, com “fronteira agrícola e demográfica aberta”17, sujeita a grandes modificações.

Indo além nas suas justificativas, Portela relacionava prosperidade da região à construção das estradas de ferro do Carangola e Leolpoldina. É importante ressaltar, que a construção de ferrovias no século XIX, favoreceram mudanças significativas, principalmente à expansão da agricultura, levando a possibilidade de regiões longínquas se prosperarem, especialmente nas regiões onde o café se desenvolvia.

Ainda segundo ele, a criação do município de Itaperuna, beneficiaria principalmente a população de Varre-Sai. Por este pertencer à bacia do Itabapoana, ficava distante da linha férrea Carangola que tinha uma estação localizada em Porto Alegre, sede da Vila de São José do Havaí, tendo que andar aproximadamente dez léguas para tomar o trem em direção à cidade de

16 Ibdem

17 LINHARES, Maria Yedda e SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Op. cit..,p.20

(27)

Campos, onde tratavam de negócios do foro. Acreditava-se que a região era promissora, podendo vir a constituir um centro agrícola de grande importância. Essa observação, efetivamente, vem ser consolidada quando a região torna-se um grande centro produtor de café no Brasil, fato que abordaremos mais adiante.

Com relação às características físicas de Varre-Sai, outro relato importante foi feito na Assembléia Provincial por Portela: “Varre-Sai tem o clima mais ameno que se pode imaginar, é muito fértil, tem lugares magníficos para várias culturas e pastagens admiráveis, que se podem comparar as belas pastagens mineiras”. 18

Quanto ao suposto prejuízo para Campos, defendido por alguns deputados, Portela concluía dizendo que, Campos não perderia com a formação do novo município e que as relações comerciais não se romperiam.

Percebe-se, portanto, que até à criação do município muitas reivindicações foram feitas por polí ticos interessados no desmembramento e na definição territorial do que viria a ser o município de Itaperuna.

Verificamos o empenho da população local, inclusive dos fazendeiros para a edificação da vila através do decreto de criação do município, onde o Presidente da Província afirmava:

“Constituirão patrimônio da vila, os quinze alqueires de terras doadas para esse fim pelo comendador José Cardoso Moreira, os quais, divididos em lotes, serão arrendados ou aforados às pessoas que quiserem nelas edificar, de conformidade com a planta e plano da nova vila”.19

Cabe destacar, que houve nesse relato um equívoco por parte do Presidente ao atribuir a doação das terras ao Comendador. Nas fontes

18 MUYLAERT Leopoldo. Op. cit.

19 Idem

(28)

encontradas percebemos uma certa confusão sobre esse “equívoco”. Não fica claro se houve uma intenção por parte do Presidente ao pronunciar o nome do referido Comendador. O certo é que essas terras foram doadas pelo seu genro Sr. Jaime Augusto e sua esposa. O “equívoco” foi de tamanha importância, a ponto de ser decidid o em sessão extraordinária da câmara convocada pelo presidente, sobre escritura de doação dos terrenos para o patrimônio da vila. A escritura de doação foi feita no 3º cartório de Campos. De acordo com o traslado, a doação foi feita pelo Sr. Jaime e esposa à Câmara Municipal, e os terrenos valiam a importância de 5:000$000 (cinco mil réis). Não só os terrenos para a constituição da vila foram doados pelo casal, como também o terreno para a construção da estação da estrada de ferro Carangola. Eram ainda proprietários de um grande armazém comercial e um hotel próximo à estação. Percebe-se dessa forma, que os doadores eram possuidores de muitos bens, contribuindo para o desenvolvimento do município. Não nos foi possível analisar se havia algum interesse em particular nessas doações devido à falta de documentos.

Constatamos que grande parte das freguesias e vilas que se constituíram nessa região tiveram os terrenos doados por fazendeiros. Podemos citar a freguesia de São Sebastião do Varre-Sai, que teve os terrenos doados pelo fazendeiro Felicíssimo de Faria Salgado. Nesse caso, conta-se que, essa doação foi feita devido a uma graça recebida por ele do santo São Sebastião.

Era comum, naquela época, as promessas e as oferendas materiais feitas pelos católicos como recompensa à ajuda recebida.

Com a relação às questões ligadas à igreja, é oportuno ressaltar que o bispado não reconheceu o patrimônio da vila de São José do Avaí. Major Porphirio justificou essa razão quando disse:

(29)

“Corria como certo que a razão de o Senhor Bispo não desejar atender às representações dos católicos locais, se prendia à circunstância de não terem os fundadores do lugar feito a doação dos terrenos à igreja, e sim, à Prefeitura, deixando aquela sem patrimônio”.20

Em virtude do exposto nesse relato, ficou a vila sem vigário por aproximadamente quatro anos. Porém, a pedido do intendente, foi feito pela Câmara, um ofício ao governador do Estado no sentido de interferir junto ao Sr. Bispo a nomeação do respectivo vigário. Posteriormente esse pedido foi feito diretamente pela Câmara ao Bispo. Enfim, recebe à vila o vigário.

Contudo, a fim de que a mesma fosse elevado à categoria de freguesia eclesiástica, o padre requereu junto a Câmara à doação de terrenos no entorno da igreja. Além do recebimento dos respectivos terrenos, a igreja foi também, isenta de ônus.

Verifica-se dessa forma, que o padre de uma paróquia era muito respeitado e exercia grande influência sobre a comunidade local. Mesmo diante da emancipação do município e o fortalecimento do poder civil, continua persistindo de certa forma o poder da igreja.

Devido à complexidade na definição dos contornos geográficos que irão constituir uma região, estes, vão se delineando muito lentamente e por etapas. Apesar da transformação da freguesia em vila, permaneceu a população do município dependente da Comarca de Campos. Após a conclusão das construções dos prédios públicos é que pôde ter o município sua própria Comarca e Câmara. Por deliberação do presidente da província, realizou-se, eleição para compor o legislativo no dia 10 de maio de 1889, e a apuração feita pela Câmara Municipal de Campos. Os votantes pertenciam além da sede do município, às freguesias de Natividade, Bom Jesus, Santo

20 HENRIQUES, Porphirio. A Terra da Promissão. Rio de Janeiro. Ed. Aurora. 1956p.74

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Antonio do Carangola e São Sebastião do Varre-Sai. A Câmara seria constituída por sete vereadores, dos sete, quatro pertenciam ao Partido Republicano. Cabe aqui uma reflexão: O que levou o Partido Republicano ser maioria nessas eleições, considerando que ainda estávamos em pleno regime monárquico? Por outro lado, como teriam essas idéias republicanas se infiltrado nos ideais de boa parte dos eleitores da região, levando-se em conta que o município está situado distante dos grandes centros? Uma resposta para tais questionamentos requer uma ampla pesquisa que no momento nos é inviável. Embora, o movimento republicano, principalmente depois da abolição, tivesse ganhado força e atraído mais adepto, é de causar espanto, que no interior do estado do Rio de Janeiro fosse eleita uma Câmara republicana, a primeira no Brasil.

Segundo Alberto Lamego21, a ocorrência desse fenômeno, possivelmente, deveu-se ao fato de Itaperuna não possuir uma poderosa aristocracia agrária ligada a fortes elos com a Coroa como nas demais províncias do vale do Paraíba. Tanto assim que, em pleno apogeu dos

“barões de café”, no Segundo Reinado, nenhum título nobiliárquico possuía a terra itaperunense, o que demonstra a ausência de riquezas. Tal singularidade é atribuída conforme Lamego, a inexistência de uma nobreza rural na região.

Ressaltamos que com a oficialização da Câmara e da Comarca, a Vila de São José do Avaí foi elevada a categoria de cidade com a denominação de Itaperuna22, estabelecendo um novo recorte na estrutura administrativa. A Vila era formada pela sede e mais três freguesias, já citadas anteriormente.

Com a elevação para cidade surgiram os distritos, os quais transcrevemos:23

21 LAMEGO, Alberto. O Homem e a Serra. Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Rio de Janeiro. 1950

22 A etmologia da palavra é dada como significado “pedra preta” Ita = pedra, Una = preta, per = caminho (caminho da pedra preta) por possuir nos limites com Minas uma elevação de pedra denominada Pedra Elefantina

23 MUYLAERT, Leopoldo. Op. cit.

(31)

1º Itaperuna (Sede) 7º Varre-Sai

2º Penha 8º Santa Clara

3º Lage 9º Sant’Ana

4º São Sebastião da Boa Vista 10º Bom Jesus do Itabapoana 5º Natividade do Carangola 11º Santo Antônio do Itabapoana 6º Santo Antônio do Carangola

Outra questão a considerar nessas subdivisões é a de que ainda no governo de Portela, dois decretos dividiram o município de Itaperuna em três.

Em 14 de julho de 1890 foi criado o município de Natividade do Carangola e em 24 de novembro o município de Bom Jesus do Itabapoana. O desmembramento desses distritos do município de Itaperuna levaram muitos vereadores a protestarem, visto que, seria inconveniente tal medida, devido a escassez da renda. Embora diante de vários protestos, foi efetivada a criação dos novos municípios, alterando os limites territoriais. O distrito de Varre-Sai passa a pertencer a Natividade do Carangola.

Acrescentamos, que após a Proclamação da República, os municípios passaram a ser administrados por intendentes municipais, nomeados pelo Governo do Estado, assim constituídos: numericamente compunha a Intendência de três a quatro pessoas consideradas influentes no município e um secretário. Com a saída de Portela do governo estadual, imediatamente se procede a sucessão dos intendentes nos novos municípios criados. Ao passar a administração do município era feita uma prestação de contas. Como exemplo citamos o município de natividade do Carangola :

“Foram entregues livros, documentos, mobílias, casa e pertences constante do inventário, que será transcrito em livro próprio e será assinado por essa intendência e pela sucessora, incluindo-se nesse inventário a quantia de 6:089$893 em dinheiro, que neste ato é

(32)

entregue pelo membro da comissão de fazenda, demonstrando um depósito no Banco Rural e Hipotecário do Rio de Janeiro de 698$000 e assim também da existência em poder Coletor de 78$565, rendas relativas ao corrente mês, perfazendo o saldo em numerário de 6:866$458”.24

Embora, tivesse uma relativa movimentação forense, ressaltamos que os novos municípios tiveram autonomia por um curto período.

Diante das crises políticas e econômicas porque passava o país nos primeiros anos da República, os municípios criados sobreviveram por quase dois anos. Tendo em vista, a renúncia do governador Francisco Portela, os decretos de criação dos municípios foram suprimidos, voltando a ser distrito de Itaperuna.

Destacamos que nas primeiras décadas do século XX, Itaperuna, contava com 12 distritos, incluindo Ouro Fino desmembrado de Natividade do Carangola em 1903 e com 47.000 habitantes.

Com o município definido territorialmente, verifica-se um progressivo movimento forense. Desde 1893 foi elevada a 1ª entrância, vindo a ser de 2ª entrância logo em seguida, como podemos ver nos quadros em anexo.25

Analisando os dados estatísticos desses movimentos forenses apresentados por Leopoldo Muylaert entre os anos de 1905 e 1909, verificamos que o número de inventários é superior a todas as outras transcrições. No total do qüinqüênio a comarca contava com 209 inventários, gerando um valor de 1.730.630$067. O total das transcrições chegava ao valor de 251:815$519. Esse valor pode ser considerado expressivo, se considerarmos que o povoamento e o desenvolvimento da região se fez de forma lenta e gradativa. Grande parte do território era coberta de matas,

24 Idem

25 Ibdem

(33)

habitadas por índios muitas das vezes temidos. Em busca de terras férteis para a agricultura, pessoas de lugares longínquos, principalmente, vindos de Minas Gerais iniciaram o desbravamento e o povoamento da região desenvolvendo a cultura cafeeira.

1.2 – Os antigos e os novos donos da terra

Antes da chegada do homem branco, a região era ocupada por índios denominados Puri e Coroados. Remanescentes da grande nação Goitacá26, esses índios, considerados ferozes guerreiros foram expulsos do litoral fluminense após a Confederação dos Tamoios, se viram por pressão de tribos inimigas forçados a deixarem suas terras. Espalharam-se em migrações sucessivas, subindo os rios Paraíba do Sul, Pomba, Carangola, Muriaé e Itabapoana, que cortavam as matas ainda não ocupada pelos portugueses.

Sobre os Puri conta Matoso Maia:

“Os Puri vagueavam pela serra da Mantiqueira e pelo alto Paraíba e iam até o rio Doce; os coroado viviam na região banhada pelo curso inferior deste rio. Os Puri atacados pelos coroados, e muito dizimados, tornaram-se nômades. Restos dessa horda fixaram-se no começo do século passado, nos sertões que hoje são terras dos municípios de Santo Antônio de Pádua e Itaperuna”.27

Atingiram a Zona da Mata Mineira e o Noroeste Fluminense, área de terras virgens considerada por muitos como“Áreas Proibidas”. Essas áreas

26 Os Goitacá, nos primeiros tempos da chegada dos portugueses, formavam uma exceção no litoral brasileiro, porque quase toda a costa litorânea encontrava-se ocupada por índios do tronco lingüístico Tupi- Guarani, ao qual os Goitacá não se filiavam.

27 MAIA, Matoso apud BUSTAMANTE, Heitor de. Sertões dos Puris. p. 20

(34)

eram consideradas “áreas de defesa natural”28, pois cobertas de densas matas serviriam de barreira para o extravio do ouro procedente das zonas auríferas.

Os governos da Colônia e da Capitania consideravam necessário, que esta região não fosse devastada e nem recebesse habitantes, servindo dessa forma de defesa contra o contrabando do ouro. Além disso, a região era conhecida como “Sertões Pestíferos”, lugar de doenças. As lendas se espalhavam, acreditavam que se bebessem as águas dos seus rios ficariam verdes, pois suas águas eram venenosas. Acredita-se que essa lenda tenha surgido em virtude do grande índice de malária existente nessa região. Devido aos fatores citados a devastação da região e sua ocupação pelos posseiros, só veio a ocorrer nos finais do século XVIII, e mais precisamente no terceiro decênio do século XIX, ou seja, quando as terras do Noroeste Fluminense tornaram-se interessantes para a implantação de atividades econômicas.

Tendo em vista o declínio da mineração nas Minas Gerais, no final do século XVIII, iniciou-se a ocupação pelo homem branco, que em busca de terras agricultáveis foram fixando-se nessa região. Por volta de 1830 chegaram os primeiros posseiros.

O considerado pioneiro foi o mineiro José de Lanes Dantas Brandão29, proveniente de Minas Gerais. Existem divergências quanto ao motivo que o trouxe a essa região, o mais provável é que participava das fileiras da Guarda Nacional, Milícia de reserva do Exército, criada pelo império. Tendo se desentendido por lá, se refugiou em Campos dos Goitacazes e, posteriormente, subiu pela margem direita do rio Paraíba, alcançando os rios Carangola e Muriaé, onde se apossou das terras que começavam em Santo Antônio do Carangola e terminavam em Bambuí. Um ano depois de estabelecido na região tentou legalizar a posse das terras que havia ocupado.

28 OILIAM, José. Visconde do Rio Branco terra. povo.história.Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1982 p. 27

29 MUYLAERT, Leopoldo. Op.cit.

(35)

Posteriormente faz a doação dessas terras para parentes e compadres e aos poucos as fazendas foram se constituindo e o povoamento se consolidando.

José de Lanes veio a se fixar definitivamente à margem direita do rio Carangola fundando a fazenda denomin ada São José. Foi também, proprietário da fazenda de Porto Alegre, lugar que em 1885 foi sede da Vila de São José do Avaí. Foi a partir desta sede que desenvolve a cidade de Itaperuna.

Acrescenta-se também, que Lanes retornou à terra de origem e trouxe consigo índios, escravos e um indivíduo conhecido por Bambuí, ao qual doou as terras que ainda hoje tem essa denominação.

Alberto Lamego assim atribui a distribuição de terras feita por José de Lanes:

“José de Lanes e seus parentes, perdidos em distantes selvas e não tendo posses para cultivar tão vastas áreas de florestas, partilharam-nas entre colonos, atraindo uma grande imigração de gente ativa, mas sem recursos para a aquisição de grandes lavouras”.30

30 LAMEGO, Alberto.1950.Op. cit., p. 229

(36)

O pioneirismo de Lanes é discutível uma vez que antes de sua chegada à região, verificamos que, abrindo caminho para os colonizadores, exerceu importante papel o Coronel Guido Tomás Marliére. Desbravador e

“civilizador” dos índios, tornou-se em 1824, “Diretor Geral dos Índios” na Província de Minas Gerais. Estando há pouco tempo no exercício de suas funções declarava ao governo que: “Tenho empreendido domar os índios preferindo para este fim balas de milho às de chumbo até então empregadas”.31

Guido Marliere já era conhecido por serviços prestados a catequização dos índios, quando recebeu a missão de navegar o rio Doce para se encontrar com os botocudos considerados antropófagos e apaziguar os conflitos existentes entre os índios do norte e do sul da província mineira. Tal fato impedia a demarcação das sesmarias bem como o povoamento da região, pois ninguém se aventurava a enfrentar esses nativos “hostis”. O resultado dessa tentativa foi o melhor possível, chegou a ter o índio Pokrane, um dos botocudos, como seu aliado na aliciação dos indígenas. Constatamos que, em suas andanças pela região da Zona da Mata mineira chega ao noroeste fluminense e tem contato com o índio Puri.

Percebe-se que, a presença de índios considerados hostis, serviu apenas para adiar a ocupação das terras no Brasil, mas nunca chegou a ser impedimento para que o homem branco deixasse de atender seus próprios interesses.

Outra grande contribuição de Guido à região, foi adotar providências para a construção de uma estrada de ferro ligando Presídio, em Minas Gerais, a Campos dos Goitacazes. A construção da estrada foi iniciada em 1826 tendo seu o percurso atingido a região Noroeste Fluminense. É certo que essa estrada beneficiou muito mais os mineiros, mas não deixou de contribuir

31 Notícias e documentos sobre sua vida encontrados na Revista do Arquivo Público Mineiro. Direção e Redação de Augusto de Lima. Ano XI, Fascículos I, II, II e IV. Belo Horizonte, 1907

(37)

também com parte do território fluminense, uma vez que suas linhas alcançavam Santo Antônio de Pádua. Como vimos às chamadas “áreas proibidas”, não eram tão proibidas assim, ficando mais no imaginário. A existência de aldeamentos desde 1819 se fez presente como podemos constatar com dados extraídos da Revista do Arquivo Público Mineiro:

“Este aldeamento é considerável. Já o diretor com os índios comunica com os primeiros moradores de Campos dos Goitacazes pelo Muriaé, e por caminho de terra pela suas margens. Tem capela e casa para os índios Puri. Vários brasileiros entrarão e entram a apossar-se daquelas terras”.32

Era muito presente na região - principalmente as terras que faziam fronteira com Minas - a ipecacunha ou poaia33, sendo comercializada pelos antigos mineradores que se transformaram em poaieiros, agricultores e comerciantes.

“Todos são cultivadores, mas divertidos da própria cultura pelos negociantes de poaia, que os ocupam a maior parte do ano...e serve para industriar os Puri ali aldeados em 1819, aos trabalhos rústicos, fora o tempo de colher a poaia”.34

O que deve ser estabelecido é que mesmo com incursões do homem branco na região antes da família Lanes, considerada a pioneira, o povoamento organizado só ocorreu efetivamente a partir da chegada dessa

32 Revista do Arquivo Público Mineiro. Direção Geral dos Índios. Golpe de Vista. Sobre o estado atual da civilização dos mesmos

33 Planta rubiácea nativa do Brasil muito utilizada na medicina da época e comercializada pelos primeiros povoadores.

34 Biografia escrita de próprio punho pelo seu genro Alexandre Brethel. Arquivo de família

(38)

família, procedente de Minas Gerais. Existem divergências quanto ao pioneirismo ser atribuído a José de Lanes ou ao seu irmão Joaquim de Lanes.

Não vamos nos deter nesse fato por considerá-lo irrelevante, uma vez que o mais importante não é discutir o pioneirismo, e sim as contribuições dadas por essa família na ocupação da região.

Outra questão a considerar, é que José de Lanes recebeu o título de guarda-mor pelos serviços prestado às regiões inóspitas que habitara e desenvolvera.35

Embora tivesse sido considerado o fundador do que viria a denominar Itaperuna, foi tragicamente assassinado por dois dos seus escravos. Quanto aos motivos deste assassinato, não nos foi possível desvendar pela ausência de documentação.

Vale ressaltar que, além dos mineiros, contribuíram para a devastação e o povoamento da região os campistas, que apesar de concentrarem seus esforços na produção da cana-de-açúcar, penetraram para o baixo Paraíba chegando a Cachoeira, hoje Cardoso Moreira. À região que hoje constitui o noroeste fluminense tornou-se o grande desafio para as incursões dos campistas. Região longínqua, dominada por Puris, com matagais impróprios à criação e à cana-de-açúcar, existindo somente nessa época a possibilidade de se explorar além da poaia a madeira.

Percebe-se dessa forma que o rio Muriaé, afluente do Paraíba, exerceu importância no desbravamento da região. Sobre essa importância relata Lamego:

“Na evolução das cidades serranas fluminenses, onde muitas vezes importantes cursos d’água são abandonados pe la escolha de bem menos importante

35 LAMEGO, Alberto.1950.Op. cit., p.227

(39)

afluentes, há, entretanto, uma zona onde o rio impõe visivelmente as suas diretrizes na formação de núcleos urbanos centralizadores de uma intensa vida rural. É o caso de Itaperuna”.36

Lamego ainda ressalta que, os fatores geográficos exercem influência na evolução dos fenômenos econômicos e sociais de cada país, povo ou região. Atribui a civilização cafeeira da serra fluminense, a fatores ligados ao determinismo geográfico, ou seja, a importância do rio Muriaé para o desenvolvimento da cultura cafeeira. Com relação à importância dos fatores naturais para a cafeicultura acrescenta:

“...não obstante haverem todos os centros cafeeiros nascido na bacia de um grande rio, insignificante e quase nula foi a influência dele como caminho líquido, a não ser em trechos isolados”.37

Verifica-se que, abrindo caminho para a posterior chegada do café, exerceram “importante” papel na devastação das florestas, as “bandeiras do jacarandá”.Estes iam abrindo clareiras com a derrubada das árvores. 38

“As zonas serranas do extremo norte fluminense começa desta maneira a ser desbravada com a exploração do jacarandá. Esta, porém, não conduz ao povoamento em massa. Limita-se a abertura de picadas na floresta, em pouco de novo cerradas pela exuberância da vegetação que renasce....O médio e o alto curso do Muriaé, onde erravam os Puris, continuavam perdidos no “Deserto das Montanhas”, aguardando a vinda do café”.39

36 Idem. 1950. Op. cit., p.224

37 Idem. 1950.p.223

38 Ibdem,1950. p.225

39 Ibdem,1950. p.226

(40)

Sem dúvida que, essas incursões nas matas virgens abriram caminho para o colonizador, mas não fixava o madeireiro à região, permanecendo uma área inóspita, a espera do elemento dominador da selva. Estes elementos, indiscutivelmente foram os mineiros, da família Lanes e posteriormente às famílias Tinoco e Rabelo.

É importante destacar, que na medida em que os mineiros iam se estabelecendo na região, novos investimentos por parte do governo foram sendo efetuados, no sentido de facilitar o povoamento e o desenvolvimento.

Nesse sentido, é que o decreto de 30 de abril de 184940 criou a estrada ligando Campos aos sertões do Muriaé (atual noroeste fluminense).

A medida em que a ocupação foi se efetivando, os aldeamentos tornaram-se cada vez mais numerosos. O primeiro deles foi na fazenda Porto Alegre (atual Itaperuna), do colonizador José de Lanes, às margens do rio Muriaé.

Em toda a região desde o vale do Muriaé ao vale do Itabapoana, os aldeamentos se fizeram presente. Verifica-se também aldeamento feito por Joaquim de Lanes logo a sua chegada à região. Podemos demonstrar através de dados extraídos de sua biografia, a utilização do Puri como mão-de-obra para o cultivo de produtos de subsistência.

“Aliciando cerca de 200 índios de boa índole, habitantes destas paragens, plantou milho, mandioca e cana-de-açúcar, para a subsistência de todos, pois tinha a caça que não lhe faltava por estas bandas.

Para obter dinheiro, arrancava poaia ou ipecacunha que abundava, então, por estas selvas”.41

40 Ibdem.1950. p.227

41 Revista do Arquivo Público Mineiro. Artigo citado.

(41)

Consta nesta biografia, que Joaquim se apropriou de dois mil alqueires de terras devolutas, mas que como os negócios com a poaia haviam fracassado, teve que vender as terras há um preço insignificante, visto seu baixo preço no mercado. As terras no Brasil passaram a ser privadas, ou seja, ter valor de compra e venda a partir da Lei de Terras em 1850. Outra questão a considerar, é que nessa época a posse da terra não era tão lucrativa como a posse de escravos que constituíam reserva de valor e símbolo de poder.

Verifica-se que o proprietário por endividamento perdeu muitas terras, dos dois mil adquiridos inicialmente, ficaram apenas cinqüenta alqueires, em uma fazenda denominada Perdição, situada em Santo Antonio do Carangola (atual Porciúncula) nos limites da Província do Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Embora não tenha abandonado a colheita da poaia, visto ser esta uma fonte abundante e proporcionar rendimentos, procurou fazer investimentos na cultura do café.

Em poucas décadas, com o processo de aldeamento, constatamos o desaparecimento das comunidades indígenas. A derrubada das matas, o aliciamento dos indígenas nos trabalhos das fazendas teve um desfecho catastrófico para essa população.

1.3 – Um europeu na floresta do interior fluminense

Analisando as cartas deixadas por um imigrante que se estabeleceu na região no último quartel do século XIX, nos foi possível traçar um perfil da situação sócio -econômica daquela época.

Alexandre Brethel, um imigrante francês, oriundo da Bretanha, estabeleceu-se na Província do Rio de Janeiro na divisa com Minas e Espírito Santo, em um lugar denominado Paiol (hoje Carangola), no último quartel do

(42)

século XIX. Antes de sua viagem, fez uma previsão do que encontraria no Brasil: “Não creio que vá para um país de selvagens; haverá ricas famílias em torno de nós, porque lá, como na Inglaterra, a fortuna encontra-se nas mãos de um pequeno grupo, e os outros habitantes são índios que trabalham nas plantações...”.42

Ressaltamos que antes de se estabelecer nas florestas fluminenses, o imigrante passou pela Fazenda de Santana, em Pati do Alferes, no Rio de Janeiro. Essa propriedade pertencia à família Monlevade, da qual Brethel fazia parte. Lá iniciou sua experiência no cultivo da cana-de-açúcar, do arroz e do café. Tais cultivos seriam mais tarde sua principal ocupação.

No Brasil, além de atuar como farmacêutico, trabalhou como administrador em uma fazenda onde se cultivava o café e a ipeca (poaia), e logo se transformou em proprietário. Por volta de 1873, herdou de seu sogro, Joaquim de Lanes, a fazenda Perdição, em Santo Antônio do Carangola (atual Porciúncula) que recebeu a denominação de São Joaquim em homenagem ao ex-proprietário, um dos pioneiros na colonização da região. E aí se fixou definitivamente.

Alexandre Brethel enviou diversas cartas43 à sua família na França nos revelando com riquíssima preciosidade o cotidiano daqueles que viviam nessa região. Nesse sentido abordaremos diversos trechos dessas cartas, a fim de elucidarmos questões até então inexploradas.

Brethel já previa a dizimação dos nativos na medida em que o colonizador avançava mata adentro, devastando-a. Em uma das cartas que escrevia à família profetizava:

42 Cartas publicadas pelos descendentes de Alexandre Brethel por TANNEAU, Yves, traduzido por Dario de Campos Barros. seus descendentes, tendo como organizador seu bisneto Dario de Campos Barros.

43 As cartas de Alexandre Brethel foram encontradas numa mansão da Bretanha, enviadas ao Brasil e traduzidas pelos seus descendentes, tendo como organizador seu bisneto Dario de Campos Barros. Uma obra inédita e desconhecida

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