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Arte e criatividade – Caminhos para a Longevidade

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Academic year: 2021

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Arte e criatividade – Caminhos para a Longevidade

Por que é tão difícil suportar o envelhecimento?

Esta é uma das perguntas que inicia o artigo Velhice na sociedade Pós-moderna, e também nos provoca e chama à reflexão nesta 16ª edição da Revista Portal de Divulgação. Esta questão nos remete à frase que iniciava o Editorial da edição nº 15 / outubro desta Revista – Envelhecer não tem nada bom.

Se o envelhecimento não tem nada de bom, fica difícil, e quase impossível, suportá-lo. E, sobre esta premissa, foi construída uma ideia generalista, e generalizadora, na sociedade atual, sobre o que é envelhecer, criando e mantendo os mitos e preconceitos em relação às faixas etárias mais avançadas.

É nesta mesma sociedade que vivemos e viveremos todos, cada vez mais tempo, uma longevidade já visível entre nós cotidianamente. Mas, a vida é um ciclo que se inicia com o nascimento e se completa com a morte, que pode ocorrer para qualquer pessoa em qualquer idade, como no exemplo que traremos adiante - Steve Jobs uma referência na área da informática, morto

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2 aos 56 anos, em uma sociedade desenvolvida na qual, mesmo com todos os recursos médicos disponíveis, não foi possível prolongar seu tempo de vida. Ele ainda não era, segundo as leis brasileiras, um idoso.

Assim, a reflexão trazida neste artigo de abertura procura mostrar esta fase da vida como natural, assim como outras etapas da evolução humana, e na qual devemos encontrar um equilíbrio entre ganhos e perdas, pois ele “anda de mãos dadas com o contexto social e cultural [com] as situações genético-biológicas e psicológicas do indivíduo”.

Esta diversidade dos modos de viver e envelhecer é uma realidade também enfocada pelo olhar psicanalítico, que o autor justifica, apoiado em Messy (1993), afirmando “que há uma dificuldade latente em nos reconhecermos na imagem que enxergamos e, dessa maneira, acabamos por ver a velhice por meio da imagem do outro”, perspectiva que amplia esta discussão.

Na sociedade atual - de consumo e culto à beleza física - a velhice ainda é vista com desprezo e uma “trajetória rumo a morte”. Assim, é dever de todos: “disseminar a noção de respeito, solidariedade e compreensão para com os idosos”, indicando o tempo de um percurso de vida ainda a ser feito, com projetos e expressão dos desejos, desligado de uma cronologia impeditiva. Ante a complexidade e diversidade das etapas da vida, e nelas o envelhecimento, o artigo Um novo olhar para a velhice, também aborda a diversidade do envelhecer, e propõe uma reinvenção da velhice.

E como reinventar a vida, nesta fase?

A criatividade deve ser guia na busca de novos caminhos de aprendizagem, ação e interação. As diferentes manifestações artísticas – pintura, música, poesia, dança, teatro, etc., por meio da qual os indivíduos expressam e comunicam suas emoções mostram esta possibilidade de reinvenção de si, indicando que “a velhice pode ser pintada e repintada conforme as cores que queremos, basta termos a motivação necessária e forças para agir, e buscarmos dias mais prazerosos”.

Com que cores queremos pintar esta fase da vida?

A autora indica, ainda, como recurso auxiliar no campo criativo as muitas atividades ligadas à utilização das novas tecnologias, como o computador, cuja utilização não pede “carteira de identidade”. O uso criativo do computador ainda é pouco explorado, e vai além do acesso à Internet e o contato com as redes sociais, podendo ser explorado em seus muitos recursos artísticos e criativos – no trabalho sobre fotografias; na escrita e divulgação de narrativas, crônicas e poesias; nas visitas guiadas aos sites de museus; na busca de

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3 músicas, concertos e shows, de vários tipos e tempos, entre inúmeras outras possibilidades.

Mas, o fundamental é deixar sempre “acesa a chama da vitalidade, da alegria, da expressão de opinião, da descoberta do novo, das relações sociais [...] para um envelhecimento com mais qualidade, e que seja uma fase interessante, servindo de exemplo para os mais jovens, construindo uma nova e boa visão sobre o envelhecimento”.

Dentre as várias possibilidades que se mostram neste processo de aprendizagem de longeviver, nestes tempos “pós-modernos” com sempre novos recursos tecnológicos, um reforço na manutenção do equilíbrio físico, aliado ao lazer, é apresentado em Videogame interativo e envelhecimento, uma relação de saúde e bem-estar.

Se vamos viver muitos anos, vamos procurar viver bem!

Mesmo com algumas fragilidades devemos buscar um equilíbrio entre “perdas e ganhos”, como já apontado acima. Neste sentido, afirma a autora que, entre outras medidas, “a prática regular de atividade física minimiza os declínios da capacidade funcional, que é necessária para que o idoso tenha uma vida independente e, consequentemente, uma melhor condição de saúde”.

Neste sentido o videogame interativo pode ser utilizado tanto como diversão por meio dos jogos, propiciando, neste sentido, uma aproximação entre diferentes idades, como para a realização de programas de exercícios físicos. Evidente que o indivíduo idoso não deve substituir a atividade física - acompanhada de profissional habilitado - pelo jogo, mas a autora afirma que existem muitos jogos para o videogame Nintendo® Wii Fit, entre outros, que “permitem aos praticantes executarem diversos testes de equilíbrio com conscientização de lateralidade e distribuição do peso corporal de uma forma saudável e eficiente [...] e visualizarem e perceberem onde encontra o seu centro de gravidade, facilitando o progresso e evolução durante a prática”. Tantos caminhos, tantas possibilidades! Quais escolher?

Como alcançar este envelhecimento ativo e prazeroso?

Com uma educação para longevidade – como nos propõe a autora de Projeto

de Vida Pessoal: novas possibilidades na velhice. Esta seria a arma mais eficaz para combater os mitos e preconceitos que cercam os idosos. Porém, mais do que programas e atividades idealizadas para os idosos, devemos resgatar e desenvolver no próprio indivíduo suas capacidades “adormecidas”, levando-o, à desejável e saudável, reapropriação de si e, com isto, dos desejos adormecidos tornando-os atores responsáveis por sua autoeducação e

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4 Segundo a autora, baseada em longa prática em uma ILPI, a proposta é uma “nova atitude gerontológica” que objetive: “fortalecer o conceito de que a velhice pode ser uma fase da vida com crescimento de horizontes e desafios prazerosos; sensibilizar os jovens e adultos em desenvolverem em suas trajetórias existenciais projetos e sonhos a serem realizados no percurso da vida; colaborar para que nossos idosos desenvolvam um plano existencial, pois enquanto há vida existem possibilidades de crescimento. Apreender a viver o infinito do tempo!”.

Apreender a viver o infinito do tempo!

Esta frase talvez traduza A mensagem de uma vida. Steve Jobs, de quem já mencionamos a morte precoce. Tomando com base o célebre discurso de formatura aos alunos da Universidade de Stanford, em 2005, a autora afirma o seu significado no próprio percurso, e nos conduz na análise das três histórias de superação que marcaram a trajetória deste brilhante criador. Ela afirma que Steve acreditou na “tecnologia vivida como arte e criatividade [...] não apenas como um aceno de esperança ou um vislumbre de salvação. A sua crença era “o estar aqui” - e ele se fez vivendo com o outro e entre os outros, sem se deixar levar pelas imposições e normas destes outros”.

Arte e criatividade. Seriam estas as duas palavras-chave no processo de superação e adaptação para um melhor longeviver?

Sem dúvida a reflexão Quais condições de moradia algumas travestis têm encontrado ao longo da vida? indica que a criatividade é fundamental para superar o desafio diário de viver em um mundo diferente daquilo que é considerado social “normal”, e aceito na sociedade. As questões relativas ao envelhecimento e a moradia das travestis, especialmente na fase da velhice, além de sérios problemas sociais sem a atenção e ação devidas, trazem em si uma grande carga adicional de preconceitos.

Nos relatos, trazidos pelo autor, sobre a vida e o envelhecimento das travestis constatamos que, desde o início, são exiladas – do próprio corpo, da família, da

comunidade – que buscam nas grandes cidades uma nova identidade para

seus corpos, usados como de afirmação de um outro “eu”, e meio de subsistência. E se a vida é precária, assim são os destinos deste “morar” ao longo da vida, feito de estranhamentos e incertezas.

A criatividade e certa “arte” de (sobre) viver é um dos recursos de utilizadas pelas travestis, pois, como afirma o autor, elas “precisam inventar suas vidas de forma original, pois, como não “existem” perante a lei, estão sujeitas a todo tipo de violência e aniquilamento”.

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5 O relato de experiência “A utilização de atividades lúdicas, socioeducativas e intergeracionais na comemoração do Dia dos Avós” nos indica outra realidade - o mundo crescente dos idosos ativos que buscam, nos serviços oferecidos pelos órgãos públicos, espaços de convivência e compartilhamento. E observamos que atividades variadas como relatadas, e nas quais também se uniram arte e criatividade, podem indicar a possibilidade de um período de construção de novas relações e projetos.

Vimos concretamente, nesta edição, as muitas possibilidades de viver a vida, e nela a longevidade, em um mundo de alta tecnologia e desenvolvimento, mas ainda repleto de preconceitos em relação a todos os que não obedecem a um “padrão” de beleza, atividade e “normalidade”. E entre esses “mitos” está o que afirma o esquecimento como uma das suas perdas maiores. O tema Memórias tem sido foco de nossos trabalhos e pesquisas nos últimos 20 anos, e sempre nas aulas ou palestras noto que o principal interesse é a perda da memória, os esquecimentos e o temível Alzheimer. Assim, naturalmente nosso interesse foi despertado pelo livro O melhor cérebro de nossa vida. Segredos e talentos da maturidade, de Barbara Strauch, aqui resenhado.

Nele, a autora busca evidenciar, baseada em inúmeros estudos científicos e

nas muitas entrevistas apresentadas, que “conforme envelhecemos, o cérebro

se reorganiza e passa a agir e pensar de maneira diferente. Essa reestruturação nos torna mais inteligentes, calmos e felizes”.

Uma frase animadora! Mas, podemos concordar com a autora?

Nas pesquisas apresentadas fica claro que sim, temos muitas perdas no campo cognitivo ao longo da vida, especialmente, na velhice. Porém, parece que o cérebro constrói novos caminhos para superar os obstáculos, e desenvolve a capacidade de ter uma visão do todo, o que supera as perdas na qualidade das respostas e soluções encontradas.

O cérebro desenvolve estratégias adaptativas, resultados que beneficiam a qualidade de vida das pessoas mais idosas. Poderíamos pensar que a arte e a criatividade podem ser os ganhos compensatórios do “cérebro da meia idade”? È longa a estrada. Muitos os caminhos e obstáculos, incertezas e estranhamentos durante a vida, mas as pesquisas indicam que nosso cérebro cria novas estratégias e novas rotas – com arte e criatividade - na perspectiva de longeviver – veredas alternativas que nos desafiam a continuar.

E, como na edição anterior, invertemos a afirmação inicial com as perguntas: Será que é mesmo tão difícil envelhecer? E atingir as idades mais avançadas não tem nada de bom? A arte e a criatividade podem ser desenvolvidas como estratégias de superação?

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6 Perguntas que nos fazemos cotidianamente e que deixamos à reflexão de nossos leitores.

“O pensamento é uma arte; o conhecimento que construímos é uma tela que expressa nossas ideias; o ser do conhecimento, o cidadão do planeta Terra, é um artesão que bricola, de forma singularizante, os saberes à sua volta. Em outras palavras, trata-se de “por a vida nas ideias e as ideias na vida”.1

Beltrina Côrte e Vera Brandão Editoras

1 Morin, Edgar, et al. “A Ética do sujeito responsável”. In. Ética, Solidariedade, Complexidade.

Referências

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