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Culto ao corpo e discurso cientifico: Imagens e representações na Revista Musculação & Fitness

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Academic year: 2021

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Humanas Letras e Artes

Departamento de História

PAULO EDUARDO LUSTOSA DE MELO

CULTO AO CORPO E DISCURSO CIENTIFICO: Imagens e Representações na Revista Musculação & Fitness

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Culto ao corpo e Discurso Cientifico:

Imagens e Representações na Revista Musculação & Fitness

Monografia de Graduação apresentada ao Departamento de História do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em História.

Orientador: Prof. Dr. Henrique Alonso de Albuquerque Rodrigues Pereira

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN Departamento de Ciências Humanas Letras e Artes – CCHLA

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representações na revista Musculação & Fitness apresentada por Paulo Eduardo Lustosa de Melo e aceita pelo Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sendo aprovada por todos os membros da banca examinadora abaixo especificada:

__________________________________________ Professor Doutor Henrique Alonso de Albuquerque R. Pereira.

Departamento de História.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

__________________________________________ Professor Doutor Raimundo Nonato Araújo da Rocha.

Departamento de História.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

__________________________________________ Professora Especialista Francisca Aurinete Girão Barreto da Silva.

Departamento de História.

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Ao meu pai João Batista de Melo que dedicou toda sua vida de trabalho e estudo para promover-me uma boa educação, disciplina e respeito. A minha mãe Maria Laura Lustosa de Melo, que mesmo com o ensino fundamental incompleto, se mostrou a pessoa mais sábia que já conheci e me suporta nessa breve jornada que é a vida.

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Agradeço a todos que de uma forma direta ou indireta influenciaram nesse trabalho.

Numerar um a um seria injusto com minha memória, mas gostaria de citar algumas pessoas. Iniciando pela minha infância primeiramente aos meus pais que não me mimaram tanto na vida, a minha irmã Ana Paula que me encorajava a participar de brincadeiras nada saudáveis, aos avos da minha filha José Maria e Josemira Alves, minha filha Saskia Lustosa e a mãe da minha filha Karla Miriam, que foi o primeiro passo para dar inicio a essa batalha. Aos amigos Alexandre (O Grande) Guimarães e família, Bruno (Therion) Oliveira e Ana Lafeta, aos amigos das bandas que eu participei. A Ana Karla e Juliana Fuerte que estiveram no início e no final do curso respectivamente comigo e incentivaram-me.

A todos os verdadeiros professores que exerceram com louvor seu ofício no departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, dando exemplo de como um educador se comporta.

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Este trabalho teve por objetivo estudar imagens e representações construídas sobre a musculação. Para atingir este objetivo, esta pesquisa privilegiou dois tópicos específicos. De um lado, o estudo do culto ao corpo, corpolatria, e, de outro, a análise de discursos científicos presentes em estudos acadêmicos citados nas fontes estudadas. Para isso, foram selecionados e analisados 8 números da revista Musculação & Fitness como fonte documental. Este periódico, de origem e circulação no Brasil, dedica-se especificamente à divulgação da musculação e estimula sua prática como atividade esportiva. Para se estudar aquelas fontes, a análise de discurso foi utilizada como ferramenta metodológica de investigação. Assim, procurou-se observar de quais formas as fontes expressam ou relacionam a interação entre o culto ao corpo e o discurso científico. Verificou-se que esses dois componentes formam os pilares de sustentação utilizados como imagens e representações do que seria um modelo de corpo ideal em nossa sociedade. Nesse sentido, as atuais formas de corpo desejadas estão ligadas à musculação como um caminho para o objetivo final que são os modelos de beleza que vigoram em nossos dias. Por outro lado, também são analisadas imagens e discursos que caracterizam a musculação como um esporte que se sustentaria em bases cientificas e seria uma dos melhores caminhos para a melhoria da saúde do individuo.

PALAVRAS CHAVE: Culto ao corpo, musculação, imagens e representações.

ABSTRACT

This work aimed to study images and built representations about the weight. To achieve this goal, this research favored two specific topics. On the one hand, the study of the cult of the body, corpolatria, and on the other, the analysis of scientific discourse present in academic studies cited in the studied sources. For this, we selected and analyzed 8 issues of the magazine Muscle & Fitness as a documentary source. This periodical, origin and movement in Brazil, is dedicated specifically to the promotion of strength and stimulates their practice as sports. To study those sources, discourse analysis was used as a methodological tool for research. So, we tried to observe what sources forms express or relate to interaction between the cult of the body and the scientific discourse. It was found that these two components form the support pillars used as images and representations of what would be an ideal body model in our society. In this sense, the current desired body shapes are linked to weight training as a way to the ultimate

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images and discourses that characterize bodybuilding as a sport that would hold on scientific basis and would be one of the best ways to improve the individual's health.

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Abreviaturas e Siglas

Introdução---1

1 – Musculação: anatomizando corpos---8

2 – Corpolatria: a emergência de um corpo perfeito---16

3 – Culto ao Corpo e Discurso Científico: O caminho para uma conduta saudável.---30

Conclusão---38

Referência Bibliográficas---40

Fontes---42

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(M&F) – Musculação & Fitness

Vigitel - Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico ACSM - American College of Sports Medicine

ABESO – Associação Brasileira para o Estudo de Obesidade e Síndrome Metabólica. OMS – Organização Mundial da Saúde.

SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes. DM – Diabetes Melitus.

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Introdução

O interesse por escrever um trabalho como esse veio através de um questionamento simples sobre a musculação. Sobre os comportamentos que influenciam uma determinada parcela da sociedade a procurar a musculação com o objetivo de praticar o exercício como um esporte e atividade física ou na busca por um corpo desejado, ou seja, o que motivou grande numero de pessoas a procurarem a musculação como um exercício físico.

Uma resposta que explique que tal busca se resume apenas em “O culto ao corpo” não se faz suficiente, pois assim estaríamos anulando as outras relações que podem levar a essa procura, sendo elas a do esporte competitivo e a melhoria da saúde física e psicológica bem divulgada pela mídia. Esse simples questionamento gerou um problema mais especifico: como se forma o discurso que justifica a musculação como grande fenômeno da atualidade na procura por uma imagem corporal? Sobre o aspecto atlético, comercial, e cientifico?

Poderíamos aqui citar as diversas formas de percepção da influencia da mídia na construção da imagem do Homem atual como exemplo de corpolatria, mas o trabalho não é exclusivamente esse. Ele se destina a explicar, a partir de um ponto de vista de uma revista Musculação & Fitness como é gerado o discurso através das imagens e reportagens avaliadas e correlacionadas a artigos e teorias que tratam do assunto, porem separando cada elemento para o seu devido objetivo.

Analisar a História do tempo presente é um oficio que se deve ter bastante cuidado uma vez que se coloca a questão da relação do historiador e seu tema, e o historiador e seu tempo, levando-se em conta todos os fatores que por ele devem ser estudados sob uma análise crítica mais atenciosa, por razões dele estar inserido ao meio em que vai estudar.

“O historiador é cada vez mais parte integrante do contemporâneo porque a força da história passadista, factual, e historicista se esfumaça diante de uma demanda social insistente, resolutamente ancorada no presente e no modo interpretativo”(Chauveau,Tétart.1999)

O que demonstra a importância dos estudos sobre a história do tempo presente se relaciona mais com identificar as relações que, independentemente das percepções e das intenções dos indivíduos, comandam os mecanismos econômicos, organizam as relações sociais, engendram as formas do discurso. Daí a afirmação de uma separação radical entre o objeto do conhecimento histórico propriamente dito e a consciência subjetiva dos atores.

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Em uma perspectiva do estudo da história do tempo presente os historiadores Serge Bernstein, Pierre Milza esclarece que a historia do tempo presente não difere em nada a do século XIX, seja sobre seus métodos ou suas fontes. Identificando que a pesquisa sobre que analisa o jornal “a identidade do objeto entre o jornalista e o historiador do presente não deve ser ilusão”. Entendemos assim que o processo de compreensão das fontes que estão ligadas diretamente ao pesquisador, em tempo presente, e devem ser levadas em consideração assim como qualquer outro modelo de fonte.

Os autores continuam com uma observação de que é importante ver que o trabalho do bom jornalista é esforçasse para reconstruir e explicar a seu leitor a trama dos eventos cotidianos que o assaltam e faz o trabalho útil de informação. O que nos ajuda a entender que as ferramentas que iremos usar para esse estudo.

O documento que utilizamos para a analise desse trabalho recebia o nome de (JMF) Jornal da Musculação & Fitness depois passou a se chamar apenas (M&F) Musculação & Fitness, a revista sempre teve o compromisso de passar a informação da forma mais clara e responsável possível para seus leitores, como foi colocado acima sobre a preocupação que o historiador deve ter com os autores que produzem os artigos. Tivemos o cuidado de identificar quem escreve assim como o publico que lê a revista, para deixar claro como ocorre o processo de recepção das informações.

Da mesma forma a critica as consequências geradas através de informações que são passadas foram necessárias para se identificar as questões de construção da imagem e da identidade. O conhecimento histórico da analise do documento no presente imprime uma quantidade maior de recursos porem uma exigência mais efetiva sobre a pesquisa. O grande fluxo de informações é um sistema que conduz a efeitos cascatas de ações do Homem na sociedade, isso no que diz respeito ao comportamento de grupos que se identificam com o corpo atlético ou buscam um como referencia. Temos ai as informações das mais diversas fontes, sites, blogs, revistas on-line, instagram entre outros, que nos fazem entender o cuidado que devemos ter ao lidar com determidas fontes.

A abundância de instrumentos documentais capazes de fornecer fontes do trabalho do historiador e que contribui para modificar a própria natureza da noção de arquivos. Da abundância das publicações de toda ordem à profusão das fontes audiovisuais, passando pelo depoimento oral o historiador do presente é um privilegiado com relação a seus confrades, pois ele praticamente jamais corre o risco de se encontrar privado dos documentos necessários para seu trabalho. Mas a moeda tem seu reverso. A profusão exige escolha e classificação e o rigor do ofício histórico é aqui ainda mais indispensável que alhures. Como não se afogar sob uma montanha de palavras ou imagens, sem conhecimento aprofundado do contexto,

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sem um método seguro de abordagem dos documentos, sem o sentido do essencial? (Bernstein e Milza, 1999)

Assim analisamos os devidos documentos, sobre a simples ótica da construção de sua imagem a partir do produto formado pelo individualismo do consumo em grupos sociais específicos. Os praticantes de musculação.

Em outro plano um questionamento se fez presente que esta ligado a importância da musculação, que prioriza o exercício físico como elemento essencial para a melhoria saúde, como benéfica para a qualidade de vida onde encontrasse grande produção acadêmica provando seus efeitos , porém esse ultimo ainda caminha apenas em um limitado grupo de profissionais que tentam passar para a sociedade seus benefícios.

Em uma reportagem recente mostrou-se que uma pesquisa do Ministério da saúde aponta que hoje 33.8% da população pratica atividade física regularmente, um crescimento de 12,6% nos últimos cinco anos. Tais estudos da Vigitel 2013 (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por Inquérito Telefônicog) indicam uma mudança no comportamento da população adulta, que deram uma maior importância as mensagens de promoção da saúde, assim como em adotar um estilo de vida mais saldável.

Na busca por atividades físicas, a musculação tem ganhado cada vez mais adeptos no Brasil, enquanto o futebol reduz na rotina da população, o percentual dos entrevistados que disseram praticar musculação cresceu 50% entre 2006-2013, enquanto o índice dos que jogavam bola caiu 28% no período. Segundo a pesquisa, 18,97% dos adultos hoje optam pelas academias contra 14,87% que dizem praticar futebol.(Vigetel,2013)

Segundo a diretora de Vigilância e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, Deborah Malta,em entrevista cedida para a revista Musculação & Fitness no ano de 2015, comenta que o crescimento da pratica da musculação demonstra maior interesse da população brasileira em ter melhor qualidade de vida e mais saúde. Tais dados estatísticos demonstram claramente o crescimento da procura por uma possível melhora da saúde, porem devemos deixar claro que o crescimento da busca por um modelo estético ideal faz parte do entusiasmo do homem contemporâneo.

A revista Musculação & Fitness tem por objetivo divulgar a musculação como um esporte de grande importância, mas também como um recurso para a melhoria da saúde. Porem junto a isso uma rede de sistemas são gerados. Quais são esses sistemas? Chamaremos de sistemas,

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pela simples definição da palavra que se refere ao conjunto de elementos interconectados, em que tal periódico que esta sendo avaliado se enquadra em um bloco correlacionado de Musculação, Nutrição e estudos científicos aplicado ao treinamento resistido com pesos. Esses elementos produzem as redes que falaremos no decorrer do trabalho.

A Musculação é um esporte antigo, com registros em diversas civilizações da Antiguidade como a Egípcia, Grega e Romana para sermos breves, porem nunca foi tão cultuada como está sendo no século XXI. O Brasil esta em segundo lugar no ranking mundial perdendo apenas para os EUA em numero de academias de musculação e praticantes. No solo brasileiro as academias já geravam um lucro de 5 bilhões de reais com um mercado de 23 mil unidades no ano de 2012, de acordo com oCONFEF (Conselho Nacional de Educação Física) cerca de 7,7 milhões de brasileiros acreditam que é importante estar em forma e 4,2 milhões (52%) praticam atividades físicas em uma academia de ginástica. A classe emergente representa mais da metade dos brasileiros que praticam atividades físicas pelo menos uma vez por semana, sendo elas caminhadas ou corridas, porem grande parte dos grupos questionados sobre qual atividade gostaria de praticar fora a corrida ou caminhada demonstrou o interesse pela musculação. A musculação como conhecemos hoje teve inicio entre o final do XIX e inicio do XX e foi construindo uma evolução significativa tanto na área da ciência como no meio popular no decorrer do século vinte. A imagem do corpo foi se moldando junto a esse processo, a cada ano que a referencia mudava mudava junto a identificação que os admiradores tinham em obter formas das mais cimetricas ou com os volumes desejados, hoje temos mulheres super tonificadas e homens cada dia com o objetivo de destacar sua massa muscular de acordo com a quantidade ou qualidade exigida nos padrões atuais.(Pulcineli..2015)

Uma grande indústria se constrói junto a busca pelo corpo perfeito, que é a da suplementação, apesar de não ser o foco do trabalho citaremos alguns exemplos em comerciais da revista onde uma marca é o caminho para a conquista de determinado objetivo dentro da corpolatria. Como foi colocado acima, a musculação gera um lucro significativo e junto a isso a indústria da beleza ou do fitness ( já que estamos falando de um novo padrão de estética na sociedade) se aproxima cada vez mais de uma maior parcela na sociedade e o principal veiculo é a mídia. Para isso avaliamos a revista (M&F) em diversos anos dentro da última década no que resultou em 8 revistas, tendo em vista que seu lançamento é bimestral, e dentro de cada revista

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separamos algumas reportagens, em alguns momentos imagens, que se diferenciam pelo seu conteúdo e objetivo da analise do discurso.

Dessa forma procuramos entender que os modelos de imagens estudados dialogam com o leitor, criando uma identidade dentro de seu discurso e suas escolhas. Para isso é importante perceber a influencia que a imagem promove no publico alvo, assim como ela demonstra determinado tipo de comportamento social daquele momento histórico.

“O artefato fotográfico (através da matéria que lhe da corpo), constitui uma fonte histórica. Este artefato é caracterizado e percebido, pois, pelo conjunto de materiais e técnicas que lhe configuram externamente como objeto físico, e pela imagem que o individualiza, o objeto-imagem, parte de um todo indivisível que integram o documento enquanto tal”(Kossoy,2001)

Cada documento gera um discurso único, pois esta direcionado com seu objetivo chave, ou seja, no caso da musculação grande parte se dispõe em treinamento, no que diz respeito a imagens do corpo – em sua maioria propagandas de vitaminas ou suplementos- o símbolo de beleza é o que vigora, os últimos são os de estudos e revisões da ACSM (America College of Sport Medicine) citados dentro da própria revista. Muitos dos documentos que foram analisados são comentados por um medico ou um fisiologista da área.

Os assuntos se distanciam e se aproximam ao mesmo tempo, por estarmos aqui tratando de uma visão sobre o sujeito e suas mudanças no decorrer do tempo em uma construção da imagem, e assim gerando uma percepção do eu no imaginário psicofísico, na aceitação social (como é o caso da corpolatria em grande parte). Em outro caso a musculação como esporte e como forma de melhorar soluções para a saúde tem um efeito na sociedade positivo e leva a compreensão de sua necessidade (como é o caso dos estudos científicos ACSM que são citados na revista). Assim identificamos os pontos que levam a busca por uma identidade no discurso da produção da imagem do físico atlético inspirado na pratica da musculação.

Durante esse trabalho, a preocupação de analisar um elemeto como uma revista voltada para o publico da musculação, mas que veremos que tem uma abordagem maior durante a explicação no segundo capítulo, se faz com muito cuidado por termos em vista a analise dos elementos externos e internos.

Na analise interna deve-se analisar para quem escreve, por que escreve localizar seu publico alvo, verificar a organização estética desse periódico, seus editores e proprietários e como estes se relacionam com poder e sua instituições. Na critica externa devemos analisar como esta o contexto histórico ao qual o documento esta inserido, analisando o político, econômico, social

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e cultural relacionando o documento com o momento que se escreve para com isso entendermos as motivações daqueles que os produzem e por que produzem.

Identificar o autor se fez importante para que possamos analisar melhor, ou com menos erro, as estruturas que influenciam a sua produção.

Para atingir o objetivo central deste trabalho, escolheu-se estruturar o texto em três capítulos. O primeiro capítulo se dedica a entender a musculação, tal como se tem hoje (tendo em vista que os registros históricos datam desde a História Antiga), passando por um breve histórico de sua construção no tempo, a partir do século XX até os dias atuais. Apenas com a intenção de “orientar” o leitor no contexto histórico. No decorrer do capítulo analisamos entrevistas que estão voltadas para os praticantes de musculação, que em sua maioria são atletas, buscando entender que a influencia que eles exercem sobre a pratica de musculação é significativa e esse tipo de comportamento pode influenciar também aqueles que não são atletas, mas que buscam inspiração para conquistar um corpo idealizado.

No segundo capítulo observamos como o ideal de corpolatria (do culto ao corpo) em sua grande parte um assunto bem abordado em trabalho do Campo de Sociologia, Antropologia e até de Letras, porem não é um assunto que esta esgotado, muito pelo contrario, acreditamos que ainda podemos contribuir em partes já que esse tipo de estudo auxilia na observação da sociedade e no comportamento humano no decorrer da história entendendo a força que os veículos de consumo exercem sobre o homem . Dessa forma tentamos somar aos estudos já elaborados com uma contribuição simples de um olhar histórico. Não cabe ao nosso trabalho analisar todo o processo histórico do corpo, o que pretendemos aqui é levantar alguns apontamentos para analisar os padrões que estão sendo gerados através do mundo da musculação, ou seja, a corpolatria como objeto alcançável através do exercício físico, e dentro do mesmo capítulo que esta a questão da busca pelo corpo perfeito, falaremos sobre o uso de esteroides anabolizantes. O terceiro capítulo se destina ao discurso cientifico na musculação, sobre esse ponto de vista observa-se o ultimo processo que aqui estudamos buscando entender sobre as representações desse fenômeno atual. O que se produz dentro das academias cientificas especializadas no estudo do treinamento resistido com pesos, e como é repassado para o publico geral. Veremos que muitas vezes é bem divulgado e que bons profissionais seguem o objetivo do estudo que foi feito para o beneficio da saúde do paciente ou cliente, mas que o mal uso do conhecimento ou a má interpretação dos estudos faz com que a musculação seja mau vista. O interesse, sob o

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ponto de vista do observador, coloca em questão também não só o crescimento como fenômeno a ser discutido, mas a soma desse com a forma que o conhecimento está sendo passado. Dessa forma concluímos que existe uma construção de imagens produzidas a partir da ideia de corpo perfeito ou modelo ideal, atribuída a musculação. O que caracteriza uma mudança em parte da sociedade e que envolve suas relações.

A musculação por sua vez não tem o objetivo de gerar uma conduta social de mecanismo de adoração ao corpo como é estipulado. A musculação como exercício físico e como um preparo para atletas de outros esportes se resume a um treinamento que visa a melhoria do desempenho ou da estrutura física do atleta.

Porem nosso trabalho identificou que a construção do discurso de representação de grupos sociais prevalece na identidade de culto ao corpo. E a musculação é usada como o principal caminho de sustentação desse discurso, justificando sua grande procura.

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1 - MUSCULAÇÃO: Anatomizando corpos

A musculação, assim como qualquer outro esporte, tem como seu objetivo a conquista de uma vitória sobre outro (adversário) ou sobre si mesmo e para isso se exige o esforço e a dedicação máxima. Esse é o que poderíamos chamar de mérito justo, um atleta ou um entusiasta só pode ser reconhecido como vitorioso pelo caminho de sua dedicação e disciplina. Dessa forma, a musculação se afasta um pouco de uma simples ação de culto ao corpo.

Abordaremos nesse capítulo uma parte da História da musculação, comentando sobre reportagens que tratam desse tema, e que são lançadas na revista Musculação & Fitness (M&F) com o intuito de informar como foi a evolução desse esporte. Para isso temos de antes esclarecer sua História.

A partir do final do século XIX o chamado culturismo (em que podemos definir culturismo como: o uso de exercícios de resistência progressiva para controlar e desenvolver os músculos do corpo, a melhor formação muscular), juntamente com o halterofilismo (que é o levantamento de pesos – alteres- como esporte competitivo), tinha suas atenções voltadas para as companhias circenses e teatros, onde eram apresentados os praticantes daquelas atividades que ficaram conhecidos como “os homens mais fortes do mundo”. Nomes expressivos daquela época tais como Louis Attila, Eugen Sandow e Charles Samson participavam de exibições e confrontos, disputando este título. Attila, em 1887, na Europa, durante o jubileu da Rainha Vitória, recebeu do Príncipe de Gales uma pequena estátua com a figura de Hércules cravejada com 36 diamantes, por essa razão ele obteve fama e foi mais reconhecido. Como consequência disto, pessoas do mundo inteiro viram no desenvolvimento dos seus músculos uma forma de enriquecer. Ginásios, que era o local de treinamento, foram abertos por toda a Europa, que na época era o berço dos homens fortes.

A musculação como forma de competição onde se exibia os músculos, tem como dado oficial o registro da primeira competição em 1901 em Londres. Possivelmente tenham existido muitos outros campeonatos, mas este é o que parece que deu início oficial ao esporte. Esta competição foi intitulada: “O Físico mais Fabuloso do Mundo” e foi idealizada e realizado por Eugene Sandow e contou com 156 atletas. O vencedor foi Willian Murray, que mais tarde se tornou ator, cantor e músico, tendo criado números artísticos com atletas que imitavam gladiadores, junto com estes eventos criou campeonatos de Musculação na Inglaterra. O Culturismo propriamente dito, surgiu do halterofilismo competitivo na década de 1940 através do halterofilista canadense Josef (Joe) Weider, cuja iniciação no culturismo aconteceu em 1939,

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quando ele por acaso teve acesso a uma revista de halterofilismo. Joe decidiu então construir e modelar seu corpo com o propósito de afugentar e se proteger dos tipos brigões que assolavam a vizinhança onde morava em Montreal.(Shwazenegger. 2002)

Durante muito tempo os treinamentos de musculação estavam ligados ao treinamento de força halterofilistas como é o caso dos livros de Wilian Boone’sTreining Program (1937)

William Boone era um levantador tremendamente forte para sua época nos anos 30 e 40, ele primeiro alcançou fama quando os relatórios foram publicados de seus ganhos surpreendentes sobre um programa de agachamento pesado, criada naquele momento sobre o metodo de observação dos treinamentos de outros levantadores, e que ele se inspirou para seguir depois de ler sobre o que um cronograma semelhante . Esse treinamento hoje sofre pequenas variações, mas suas bases são as mesmas, Boone levantou algo como 80-100 libras no programa de agachamento. (Disponível em:<http://www.oldtimestrongman.com/strength-articles/william-boones-1937-training-program>. Acesso em: 02 de maio de 2016.)

Certamente, se conversacemos sobre metodos de treinamento com alguns dos praticantes dessa época ficariamos absmados com os metodos usados por eles como tecnicas de treino, tanto na sua repetição e carga elevada como nos movimentos e amplitudes usadas. Nos idos dos anos 1940 se dizia “treine para a forma, que a força será, consequência”.( Shwazenegger. 2002) De outra forma, que pode se entender melhor o conceito de fisiculturismo, que é a representação da musculação em competição, nos anos de 1970 os praticantes costumavam usar uma frase “treine para construir, não para destruir”. O fisiculturismo ou culturismo esta ligado a construção do corpo de uma forma harmonica e cimetrica, tendo em vista que os atletas de musculação não se encaixam em padrões de beleza, e por essa razão fogem do que mais a frente chamaremos de culto ao corpo ou corpolatria.

Muitos atletas ficaram conhecidos usando seus metodos de treinamento.

Segundo o Professor Eugenio Koprowski (Fundador da NABBA e IFBB no Brasil, pesquisador, escritor, e treinador de musculação) o german volume treining (O metodo das dez repetições) merece uma atenção. Esse metodo era ultilizado na Alemanha entes da segunda guerra mundial por levantadores de peso, a estrategia se resume ao exercicio que o atleta tem de executar durante o periodo em que os levantadores estavam “Off-season” ( fora de competições) para que podessem almentar o volume de massa muscular.

Apresentousse uma resposta positiva. Era, para os fisiculturistas, os metodos desejados e dessa forma muitos foram adotando tais treinamentos. Nos anos 1970 Vince Gironda, atleta

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profissional do fisiculturismo, ultilizou amplamente o metodo em seus clientes, grande parte compostos por astros e estrelas de Hollywood, mas tambem em campeões do fisiculturismo. Gironda fez algunas modificações no modelo de treinamento, o que gerol mais resultados positivos e em 1976 Bill Star editou o livro “The Strongest Shall Survive: Strength Treining for Footbal”(Os mais fortes sobreviverão: treino de força para fotebol), que ultiliza o treinamneto de força para a melhoria no desempenho dos jogadores de fotebol. (Star. 1976)

No caso do Brasil as acadamias tem uma História bem mais recente 1950-1960 porem tambem ligada ao halterofilismo, que influenciava os admiradores a pratica do levantamento de peso em primeiro momento e depois a construção de um corpo forte.

Ao observamos a revista (M&F), temos de ter uma reflexão constante com a produção que ela esta ligada, com os porcessos de identidade que serão criados apos o seu lançamento ao grande publico, e entender que o objetivo de divulgação aqui analisado, por mais que esteja focado em um publico alvo, promove interpretação e permite influenciar atletas ou entusiastas do esporte. No caso de atletas e praticantes de musculação muitos sonham com um titulo de campeão ou tem como objetivo atingir os modelos de medidas, ao menos próximo daquele que admiram. Como é o caso da entrevista cedida pelo atleta Edsom Prado (Mr. Universe) para a revista Musculação & Fitness no ano de 2015, questionado sobre de que forma pode ser conquistado um titulo de Mister Universo, e de que forma ele pode comentar sobre os jovens que sonham com o Mister Olympia?

“Além de todo o preparo extrapalco, o atleta deve ser honesto e consciente, sabendo avaliar se ele tem capacidade de lidar com uma preparação profissional e se tem potencial para chegar lá, se necessário ouvir uma opinião fria e técnica para saber se tem capacidade de suportar esse tipo de competição. O atleta com perfil de profissional além de apresentar uma genética incrível, deve estar preparado psicologicamente” (M&F, nº 100, p.36,2015)

Não só nessa parte como em grande conteúdo da entrevista esta voltada para as formas que levaram a conquista do titulo de Mister Universo, varias vezes o entrevistado cita as condições do atleta a nível profissional, mas a forma que ecoa na sociedade é outra. Muitos leitores que são praticantes de musculação levam a serio o trabalho de treinamento como uma preparação para uma competição, porem o fazem apenas como um caminho para a melhoria dos seus ganhos. O que muitas vezes possa a prejudica-lo.

No treino para competição, seja ele em qualquer categoria de esporte competitivo, as “normas” são esquecidas. Não é diferente no fisiculturismo.

“O fisiculturismo é considerado uma modalidade competitiva da musculação, cujo objetivo, grosso modo, é obter o máximo de volume muscular possível com vistas a determinado padrão estético corporal. Nessa prática, os/as fisiculturistas desejam que ocorra exacerbação da hipertrofia muscular e é aceitável

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entre eles/elas que se extrapolem os limites fisiológicos humanos para consegui-la”(Estevão,Bagrichevsky).

Por essa razão podemos observar que existe uma resposta no comportamento dos grupos que estão relacionados esse esporte, assim em um trabalho publicado para uma revista cientifica foi analisado o comportamento dos praticantes de musculação que buscam melhorar sua forma física inspirados em atletas de fisiculturismo, e dessa forma muitas vezes passam do limite de um treinamento direcionado para a saúde.

“Para Goldenberg e Ramos (2002, p. 25), em decorrência da “mais nova moral, a da ‘boa forma’, a exposição do corpo, em nossos dias, não exige dos indivíduos apenas o controle de suas pulsões, mas também o (auto)controle de sua aparência física”. Para quem não opta (ou não pode optar!) pelas cirurgias, foram inventadas outras soluções, de efeitos não tão rápidos. Caso desejem, meninas adolescentes, mulheres jovens e maduras também podem enfrentar o trajeto rumo ao corpo sarado, exercitando-se laboriosamente em aulas de ginástica, bicicletas ergométricas, esteiras elétricas, steps etc. Ainda como complemento dessas árduas provações é possível praticar mais algumas horas de musculação, não esquecendo da dieta que, em quase todos os casos, bastante restritiva em relação ao consumo de calorias por dia.”(Apud.Goldenberg,Ramos. 2002)

Dessa forma podemos observar a estruturação da dinâmica que gera o ideal do modelo do corpo para os praticantes de musculação.

Na mesma entrevista o entrevistado, Edsom Prado, responde a uma questão que diz respeito a dinâmica da vitória onde que se faz da seguinte forma :” No final de contas, vencera o atleta trabalhador , esforçado, mesmo que não seja profissional?”(M&Fnº100,2015)

Resposta: “Na verdade, o titulo e a classificação não é o que vai faze-lo se tornar bem sucedido, e sim a forma como ele planeja e conduz a carreira. Ele pode ser campeão paulista e ser mais bem sucedido de quem foi campeão do mundo.”(M&F nº100p.37,2015)

O que podemos ver é uma influencia tanto para um atleta que busca a vitória como para aqueles entusiastas do esporte, essa colocação da resposta do entrevistado faz sentido quando tratamos da formação da imagem. No caso dos atletas, essa influencia se mostra necessária, pois a competição é algo intrínseco na vida deles.

De outra forma, a dos praticantes de musculação que costumam criar uma imagem do que eles venham a conquistar, um esforço muito forte sera feito para atingir as formas imaginadas de identidade.

Os frequentadores de academias se posicionam de forma a entender que aquela informação dará condições para ele alcançar determinada forma física a qualquer custo. Levamos em conta aqui a questão do produto produzido pela imagem e pelo discurso do entrevistado, em que muitas vezes é mal interpretado em blogs, ou em vídeos produzidos e divulgados na internet.

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O imediatismo é uma ideia que toma conta da mente de grande parte do publico que lê esse tipo de revista. Apesar de a revista tentar esclarecer que a musculação é um processo lento e que exige paciência, vários leitores não aceitam essa condição e buscam varias alternativas para o alcance rápido de deixar seu corpo semelhante ao de um atleta profissional.

Dessa forma a atual atleta Cinara Polido deu inicio as praticas de musculação tentando inicialmente enfrentar a obesidade.

“A motivação para fazer musculação veio da necessidade de mudar o corpo e melhorar a autoestima.”(M&F.p.38,nº 96,2014)

O que nos mostra um modelo típico que pode ser seguido. Em que grande parte dos leitores formam uma opinião e um juízo de valor do entrevistado. Esse modelo de projeção da identidade é reproduzido por todos aqueles que criam uma imagem da sua capacidade. É uma responsabilidade alheia trazida para o pessoal.

Na mesma entrevista a atleta continua:

“Não conheço ninguém que conseguiu realizar um sonho sem fazer sacrifícios, que muitas vezes são diários e se prolongam por um largo espaço de tempo.”(M&F,p.38,nº96,2014)

Não se trata aqui de uma abdicação de determinados valores simples. Os resultados que podem ser gerados por uma opinião dessa relacionadas a musculação são na sua maioria das vezes descabidos da realidade de certos praticantes, que assimilam a informação que foi passada ao seu prestigio. O que ocorre em sua totalidade é má interpretação das ideias ou como o processo de produção de um discurso é gerado através da imagem ou fala de determinado atleta.

De acordo com um trabalho etnográfico produzido ao longo de 54 meses em 12 academias do estado do Rio de Janeiro onde se analisou grande parte do comportamento dos praticantes de musculação as identidades formavam opiniões das mais variadas sobre o corpo como elemento de bem estar social e como aceitação dos grupos específicos.

Esse trabalho analisou de um ponto de vista o corpo como objeto de consumo e reflexão das formas de hierarquização das relações sociais dentro das academias, na construção de identidades do fisiculturista.

“A musculação utilizada no fisiculturismo, portanto, está radicada na prática estética de uma ética baseada em classificações da realidade que reproduzem, por meio de categorias de belo/feio, fraco/forte, viril/feminil, as distinções funcionais de gênero e de classe. Na superfície fabricada dos corpos esculpidos inscreve-se a visão de mundo burguesa que tende a reproduzir, no cerne de sua economia simbólica, aspectos da própria economia monetária que a constitui como locus na estrutura social. A aparência se torna espécie de capital corporal a ser investido em harmonia com a lógica do lucro inerente ao mercado.

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Resta saber se haverá possibilidade de manutenção da solidariedade e coesão social diante de tais valores.”(Sabino&Luz,2007)

O autor em seu texto leva em conta posições sociais para esclarecer o comportamento daqueles que convivem no meio das academias e sua criação de identidades. No mesmo caminho entendemos que a grande produção da mídia, que a revista esta inserida, gera um ideal mítico do corpo sonhado que busca na musculação a solução para uma imagem projetada.

Em outra reportagem que podemos citar como exemplo do modelo atlético como fonte de inspiração, e como criação da imagem é a de um garoto obeso, com sérios transtornos psicológicos , problemas esses relacionados a obesidade que segundo a OMS(Organização mundial da saúde) e a ABESO (Associação brasileira de estudos da obesidade e da síndrome metabólica), a obesidade é uma doença que causa sérios transtornos psicossociais .

Nesse caso a produção da imagem esta direcionada a conquista de um corpo atlético, e de um sonho de se tornar fisiculturista. O titulo por sua vez resume a ideia de produção do discurso: “O êxito diante do impossível – uma história real de vitorias e conquistas”

A matéria trata de uma longa história de um garoto que pesava 150 quilos, adquiridos ao longo de sua infância e adolescência sobre uma alimentação rica em gorduras saturadas extremamente calóricas. Uma vida sedentária.

Marcelo Sendom passou de 150 para 75 kg.

Sua admiração e identificação pelo esporte o levou a virar um atleta. Em entrevista a revista Musculação & Fitness Marcelo relata que: admirava grandes nomes do esporte como Dorian Yates, Mike Mentzer, Andreas Munzer, Shaw Ray e outros ( Todos fisiculturistas profissionais) observando que nessa medida as identidades construída em detrimento da imagem se faz de forma muito significativa.

Podemos colocar que a superação foi o grande ponto que o garoto conquistou. Mas o que está diretamente associado é como ele transportou a identidade de um atleta profissional para o seu imaginário chegando a mudar radicalmente seu estilo de vida. O que se caracteriza como a produção da imagem e do discurso dentro de um pequeno grupo, que é o do fisiculturismo, mas que atinge os mais variados estilos de vida.

As formas que produziram a identidade que ele adotou nascem através do discurso da conquista por um corpo atlético. Como ele relata em sua entrevista:

“Você é sua principal limitação e, ao mesmo tempo sua principal motivação, É necessário parar de acreditar em formas magicas para mudar de vida. O caminho é longo e não é fácil, mas quem há de chegar ao destino sem antes dar o primeiro passo? Esse é o esporte onde você é a arte e o artista ao mesmo tempo e, apesar das abdicações, estar bem consigo não tem preço” (M&Fp.51nº98,2014)

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As características marcantes desse aspecto permitem uma melhor compreensão do nosso estudo. Os esforços que são feito para a conquista do corpo desejado não estão relacionados simplesmente ao o treinamento básico, eles vão muito mais além da academia. Um atleta de fisiculturismo é o único atleta que tem de ser 24 horas por dia um profissional, e isso demanda muito tempo e empenho. O caso do garoto citado acima é o que demonstra essa superação, que foi elaborada através do mecanismo de identidade construído por um discurso de imagem. Para o atleta fisiculturista o dia se resume em suprir calorias e saber gasta-las. Ao acordar e ao longo de todo o dia sua preocupação com a alimentação é constante, pesar, e selecionar o que pode e o que não pode comer tem de se tornar uma rotina. O que não é fácil com um mercado de alimentos bem industrializado e programado na corrente inversa ao que ele deseja, dessa forma o atleta tem de saber preparar e organizar sua comida e sua suplementação. Grande parte dos que iniciam sua carreira nesse esporte desistem no momento da dieta, agradar o paladar esta distante do que se tem a fazer. A obrigação é ingerir os macros e micronutrientes nas horas exatas.

O treinamento não se prende a métodos comumente visto em academias, eles ocorrem em uma variabilidade constante e muito exigente submetendo ao praticante dor. É fácil identificar os atletas e os simpatizantes desse esporte nas academias, eles constroem uma identidade que gira em torno de um mundo do fitness. As roupas com as mais variadas estampas (não sou frango, dane-se o padrão, modo cabuloso são exemplos), os calçados, até mesmo as garrafas de transportar água ou algum suplemento, as conversas giram em torno de um só assunto (treinar, ficar grande, no pain no gain, ou, está tomando o que?), esse é um grande modelo de construção das imagens e representações que se ligam a rede de informações transmitidas através de entrevistas e de vídeos divulgados pela mídia, que estão voltadas para esse publico.

Esses locais desenvolvem toda uma cultura de identidade sobre o culto ao corpo, inspirados em treinamentos esclarecidos em revistas os praticantes de musculação, geralmente, não levam em conta a individualidade biológica e repetem os métodos usado por profissionais do esporte sem a menos preocupação de sofrer um lesão ou até mesmo um rompimento de tendão.

Muitas vezes o que esta em jogo é o alcance do que esta por vir. A resposta que aquele treinamento vai dar e como ele vai poder exibir seu corpo como um objeto de desejo ou de vitória para o grupo que ele pertence. Muitos garotos que iniciam os treinamentos em academias de musculação sofrem com o imediatismo que gera uma perturbação constante e consequentemente recorrem aos mais variados tipos de treino, sem a menor precaução, quem dirá a procura por um profissional capacitado.

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Em uma matéria o atleta profissional Charles Mario “The pocket Hercules” comenta sua grande variabilidade de treinamento, sua dieta e suplementação onde em nenhum momento ele indica que pode servir como um exemplo. Contudo, a matéria é repleta de fotos e tem um pequeno modelo de treinamento descrito onde Charles aparece praticando alguns movimentos (M&F, nº 86p.18,19,20. 2011)

Nas academias esse tipo de treino ganha mais centralidade, muitos que leram o a matéria agora serão responsáveis por um novo modelo de ganho muscular que aguardam alcançar o mais breve possível, e uma grande massa pode seguir e sacralizar o modelo do estereotipo que almejam tanto. Como um ritual esse modelo de treinamento passa de um a um dentro da academia, para os alunos é a nova formula magica até a próxima edição ou um outro atleta ou alguém com fama suficiente apresente uma “melhor”.

Em uma visão amplificada Hansem e Vaz na revista Movimento, analisou da seguinte forma:

“No ambiente da Grande Academia os fisiculturistas representam um papel muito importante. Por um lado são pontos de referência para os demais alunos e exemplos de sucesso na batalha por músculos hipertrofiados; por outro, conferem uma legitimidade especial ao espaço, exemplos de um ideal que se apresenta como possível, provas vivas de quão longe poderia chegar quem decide treinar naquele local”(Hansem,Vaz.2006)

.

Entendendo como podemos analisar o processo de difusão do que é produzido e como é construído no imaginário de uma grande parcela dos que praticam musculação como a informação sai e como ele chega ao grande publico.

Concluindo que a produção da revista esta voltada para a divulgação do produto “musculação” e que na sua totalidade a recepção dessa informação cria outro espaço gerando um discurso de identidade que não era o objetivo da publicação, mas que gera um perfil do leitor.

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2 - Corpolatria – A emergência de um corpo perfeito.

Constantemente somos bombardeados por uma vasta manipulação de fotos e formas que devemos seguir como modelo de corpo ideal e perfeito. Em qualquer modelo de veículo de comunicação a produção de uma imagem do belo se estendeu hoje para corpos super potentes e para formas inquestionáveis de perfeição.

Se pararmos para observar o grande fluxo de imagens que esta ao nosso redor não daremos conta nem de uma pequena parte, em tudo que se cobra uma imagem que corresponda com o bom, belo e atual. Desde um simples comercial de refrigerante, passando por uma seção de produtos para estética em uma farmácia, e chegando a qualquer promoção que prometa a desejado corpo o mais breve possível.

Sobre esse ponto de vista o corpo e suas transformações fazem parte de uma estrutura do momento em que ele esta inserido, como Sales e Santos coloca em seu texto citando Marzano e Parizole:

“A concepção dos modelos de beleza e as suas relações com as práticas sociais devem, entretanto, ser contextualizadas no tempo. Assim, tendemos a nos comportar de maneiras diferentes, em cada ambiente em que nos encontramos, considerando que as atitudes têm sido, ao longo do tempo, apropriadas para cada situação e lugar. A forma como agimos e como utilizamos nossos corpos, como meio de expressão têm, portanto, um fundo cultural e devem ser situadas em cada sociedade e em cada época.”(Marsano,Parisoli .2004)

A aparência em academias esta como um jogo de tradições que vão desde a roupa que assume o papel de status, passando pelo cabelo e unhas bem feitas no caso das mulheres, e artefatos de treinos. Que antes eram vistos apenas com atletas, tais como cintos pélvicos, luvas, elásticos, chegando até os protetores bocais. Dessa forma os menos informados podem criar uma crise de identidades assim que se entra em uma academia e esta desprovido do meio dos frequentadores mais antigos. Separando-se por grupos específicos do tipo iniciante, intermediário e veterano que aqui poderíamos assim colocar.

O iniciante, muitas vezes, se sente coagido por aqueles que já estão a um certo tempo se dedicando ao treinamento e aos cuidados com a imagem, ele tenta entender primeiro o ambiente e depois, lentamente, vai criando vínculos com os outros grupos que ele se identifica, na maioria dos casos ele procura os que estão um grau acima do dele.

O intermediário segue a mesma escala, só que ele olha para o fisiculturista, que muitas vezes pode ser um personal treiner ou mais um atleta apenas. Seu contato com o fisiculturista sempre é acionado pela grande admiração por sua massa muscular que se destaca em meio aos outros

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frequentadores da academia, e sua busca por uma conquista igual a do atleta gera um dialogo sobre as condições que levaram a ele conseguir uma forma física tão exagerada.

O veterano, como a palavra já esclarece, recebe uma “certa” admiração no meio da academia, todos entendem que para chegar a tanto ocorreram varias abdicações, e por essa razão ele é venerado como exemplo por uma ampla maioria de frequentadores. Deixando claro que esse ultimo também é visto, algumas vezes, como uma deformidade entre outros alunos.

Os atletas do fisiculturismo servem como modelos de referencia, são o norte daqueles que desejam construir músculos, demasiados ou não. Eles representam uma formula que o admirador pode dosar ao seu favor o quanto de volume quer chegar para seus objetivos.

“Os fisiculturistas são em geral atletas amadores ou semi-profissionais que participam de competições. No Brasil ainda há pouca profissionalização do fisiculturismo, ao contrário, por exemplo, dos Estados Unidos. Apresentam se comparados aos demais freqüentadores das academias, considerável massa muscular que de imediato chama atenção de qualquer observador. Em sua maioria são veteranos praticantes de musculação, o que lhes confere enorme prestígio intra e inter academias, não apenas devido a sua aparência, mas também por aquele conjunto de conhecimentos que Bourdieu denominou senso prático (2001), conhecimento, no caso, relacionado as séries de exercícios, tipos de remédios, esteróides e dietas que inúmeros professores jovens de Educação Física oriundos das universidades não têm.”(Sabino, Luz. 2007)

Formando assim uma rede de representações que o seguem como referencia pela resposta que ele veio a ter na sua experiência da pratica. E com isso se segue também a produção da imagem e de um modelo que se deseja atingir.

Grande parte do que é produzido pelas mídias e absorvido pelo meio das academias em nosso estudo observou-se uma grande influencia da imagem que pode manifestar no leitor uma expectativa de conquista rápida ao corpo ideal.

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Uma modelo com 1.69 metros, 90cm de busto, 61cm de cintura, 65 cm de quadril, 64kg. Carol Saraiva com seus cabelos negros e lisos, e um biquíni que permite chamar atenção de cada centímetro trabalhado e esculpido na academia apresenta uma propaganda que promete uma melhor definição muscular “SEXY DEFINITION” seguindo com as observações: mais definição, mais energia, mais rápida absorção!(M&F.p41.nº91,2013)

Em um simples produto podemos encontrar quase toda a solução do emagrecimento. Apontando uma solução fácil e rápida, que nos permite observar que a modelo utilizou o produto para ter uma boa forma física.

A fotografia é repleta de informações que apontam para os benefícios durante o uso do produto. Com o avanço tecnológico as informações (de imagens) foram se direcionando para um mercado cada vez mais consumidor onde ocorre uma identidade do consumidor que se ligam ao poder de consumo, sendo parte de um produto que em breve se tornara obsoleto e dará vez a outro. Notando que esse processo faz parte de uma sociedade liquida como colocou Zygmund Baumam.

“O individuo aprende a expressar-se de maneira adequada com o meio exterior e procura influenciar o meio para alcançar seus objetivos, fazer amigos, trabalhar em uma rede social complexa e emaranhada de agentes ativos e com fluidez.”(Brito,Vieira.2011)

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No caso do nosso documento estudado todas as formas de beleza e definição do novo modelo de corpo podem ser alcançadas, ou ao menos, dinamizadas no seu percurso.

O registro visual tenta se enquadrar na realidade que ele esta inserido, no nosso caso a musculação que determina as formas e as curvas dos músculos tonificados. Essa ideologia acaba transparecendo em suas imagens.

A fotografia segundo Kossoy é um meio de expressão individual, mas também que pode sofrer varias interpretações, se prendeu a projetos puramente estéticos e que não podemos prendê-la ou entender como realidade dita factual. Ou seja, uma fotografia esta envolta de fatores e interesses daqueles que a produzem. Relacionando um processo imaginário que reflete no espectador.

“Neste sentido, um assunto teatrelamente construído segundo uma proposta dramática, psicológica, surrealista, romântica, política caricaturesca, etc., embora fruto do imaginário do autor, não deixa de ser um visível fotográfico captado de uma realidade imaginada.”(Kossoy,2001)

A imagem representa determinado símbolo construído a partir de formas que lhe foram dadas, o que em nossa observação se destaca são os modelos e as representações que se buscam em uma determinada imagem do corpo modelado sobre as formas desejadas.

A fotografia promove um interesse no cliente, que passa para ele uma segurança em seu objetivo. Isso ocorre quando se tem uma imagem produzida pelo espectador relacionada ao seu desejo.

Sobre a sombra de uma expectativa do que pode vir a se tornar o corpo daquele que pratica musculação e pretende se encaixar nos modelos atribuídos pela mídia, o discurso do imagético vai tomando mais forma. O processo da Industria Cultural desempenha uma organização mais ampliada para que a aceitação do meio, os consumidores, não se percebam apenas como um objeto de consumo mas como produtores de tendências.

“A indústria cultural pretende hipocritamente acomodar-se aos consumidores e subministrar-lhes o que desejam. Mas enquanto diligentemente evita toda a ideia relativa à sua autonomia e proclama juizes as suas vítimas, a sua dissimulada soberania ultrapassa todos os excessos da arte autónoma. A indústria cultural não se adapta tanto às reacções dos clientes quanto os inventa.”(Adorno.1951)

Isso faz com que o cliente se perceba como um elemento que a indústria se dispõem a produzir um produto para sua necessidade ou de acordo com elas. Ao observar as mais variadas fotografias veremos que em sua grande parte uma possível intenção de passar para o cliente que a busca por um corpo ideal, atlético e atraente esta próximo se a compra por determinado produto for efetivada. De uma maneira geral isso é como no processo mercadológico, seja ele

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das mais variadas exigências. O status em nossa sociedade esta relacionado com o poder aquisitivo de cada pessoa, aonde ela mora, qual carro ela anda, como ela se veste e os locais que ela frequenta.

Todos esses pontos indicam qual “classe” você pertence. So que, de outra forma, estamos falando de uma ramificação de macro estrutura que é a indústria, para uma micro estrutura que é o salão de musculação. Um ideal de imagem e de discurso conquistado através de um esforço, que antes só era visto por atletas agora toma uma proporção que parece infreavel.

A busca pelos modelos que saem do padrão exigem do consumidor uma dedicação e uma tolerância a dor, um exemplo disso seriam os treinos e esforços máximo para se chegar ao objetivo de uma hipertrofia muscular desejada e que se encaixe com os personagens da admiração do executor.

Essas ações tomadas por praticantes de musculação se tornaram normais em algunas academias com a febre do fisiculturismo no Brasil. Esporte esse que ainda engatinha em nosso país, malvistos por muitos e endeusados por outros. Retornando ao ponto do fisiculturismo que podemos encontrar o maior numero de informações sobre a musculação, com sua divulgação em larga escala nos últimos anos, grande parte das empresas de suplementos alimentares se dedicaram a patrocinar atletas para que sua marca seja mais aceita e vendida.

Na proporção que, quanto mais famoso o atleta mais benefícios ele vai trazer para empresa. Não importa aqui o conhecimento na área de treinamento, os atletas são em sua maior parte autônomos, ou já possuem treinadores.

Na revista Musculação & Fitness do ano de 2011 de numero 85 temos um exemplo de produção do que se espera da imagem através de uma fotografia que faz o anuncio de um produto ressaltando as seguintes palavras :

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RESULTADOS EXTREMOS. “Thermo cuts black” ,mais foco, energia, disposição e menos gordura. No centro da propaganda se localiza um atleta ( Marcelo Rafaeli) fisiculturista profissional levantando um alteres expondo sua estrutura muscular bastante hipertrofiada.(M&F.p.2.nº85.2011)

A combinação da imagem junto ao discurso produzido para a conquista do corpo perfeito nos faz entender claramente que a grande expectativa do consumidor é ter o ganhos semelhantes ao divulgador do produto, e para isso seu consumo junto a um treinamento cada vez mais aplicado deve ser seguido.

Uma expectativa quase que instantâneo são aguardadas ferozmente pelo consumidor que passa a ser um elemento do produto produzido, agora ele se sente pertencente a um grupo de consumidores que não só almejam alcançar os resultados, mas que se enquadra no modelo de pessoas que tem o poder aquisitivo de comprar suplementos alimentares assim que são lançados no mercado.

Para entender como o mercado funciona sobre a perspectiva de uma felicidade, que aqui pode ser conquistada pela busca por um corpo perfeito podemos enquadrar nas observações das criticas feita por Baumam sobre a felicidade como objeto de mercado

“Um dos efeitos de manter a busca da felicidade atrelada ao consumo de mercadorias é tornar essa busca interminável e a felicidade sempre inalcançada. Se não se pode chegar a um estado de felicidade duradouro, então a solução é continuar comprando, com a esperança de que a próxima linha de produtos super fáceis de usar ou a nova tendência outono-inverno redima os incansáveis buscadores de felicidade. A grande cartada dos mercados foi transformar o sonho da felicidade de uma vida plena e satisfatória em uma busca incessante de “meios” para se chegar a isso.”(Fragoso.2011)

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A única forma de torna a busca da felicidade uma constante é torna-la inalcançável, sempre produzindo um novo produto. Dessa forma podemos entender que pode existir uma forma econômica que induz como deve ser o corpo. As curvas delineadas e destacadas em grande parte das fotos que fazem o anuncio do produto a ser vendido nos ajuda a entender isso. Os modelos dos corpos apontam para como o consumidor pode conquistar seus objetivos, suas novas formas.

No campo de modelos, independente das formas (top models) os estudos apontam para uma determinada forma de comportamento que envolve o modelo o tornando em uma mercadoria. Segundo Martinez toda a produção que envolve um modelo de beleza esta inserido em um contexto de mercado que depende de fatores que o aproximem do consumidor e tornem possíveis as campanhas de produção deles.

A importância do fotografo é citada como crucial tanto para Martinez como para Kossoy, ele é responsável por todo o envolvimento da cena que vai ser representada, desenrolando assim uma atração maior para o consumidor.

Além da funcionalidade as fotos devem estar atreladas as linguagens estéticas contemporâneas. Para Kossoy a fotografia além de ser um resíduo do passado, é também um testemunho visual no qual se pode detectar, tal como ocorre nos documentos escritos.

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“Conquiste resultados sólidos com proteína pura.BIO WHEY!

Nortom James Murayama conquistou o 4º titulo mundial de culturismo NABBA,com a Perfomance Nutrition”(M&Fp.55,nº85,2011)

Ao lado o campeão apresenta seu corpo extremamente forte com uma qualidade muscular e maturidade que exigem anos de preparo. No caso da propaganda que deixa bem claro que a conquista se tornou possível através do uso do suplemento.

“GOFFMAN (1980) aponta para uma eterna insatisfação com a imagem do corpo, estimulada pela ação da propaganda, cujo produto é ruptura entre o indivíduo e que se exige dele e isso

traduziria como verdadeira opressão social que surge mesmo quando apenas o indivíduo e o espelho estão em cena. MALHEIRO e GOUVEIA (2001) confirmaram a existência de uma relação positiva entre a ansiedade física social e as atitudes e comportamentos alimentares de risco.” (Santos , Salles.2009)

Isso faz com que possamos entender como a influencia dos produtos que se dedicam a complementar uma nutrição para atleta se valem da imagem para o consumo e promovem uma identidade no consumidor.

Podemos abordar também outro assunto que muitas vezes é relacionado com o consumo de suplementos alimentares porem não se constituem como tal. Podendo causar vários danos a saúde. São os esteroides anabolizantes.

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A busca pela forma perfeita do corpo é exigente e muitas vezes leva seus consumidores a uma impaciência. Segundo Cecchetto e colaboradores o uso de anabolizantes se tornou uma linguagem comum no meio das academias de musculação, os mais jovens são os que mais se encantam, seja pela velocidade que pensam em ter seus resultados, ou pela influencia de vendedores desses fármacos que prometem resultados olímpicos com qualidades impressionantes.

“Com efeito, estaríamos testemunhando o recrudescimento de um novo modelo de corpo masculino: a hipermasculinidade, cuja característica principal é a supervalorização de "marcas" masculinas, sejam elas psicológicas ou físicas. Neste registro, a musculosidade e o que isso conota – poder, dominação e virilidade –, são equacionados ao masculino, opondo-se à fraqueza, atributo associado ao "feminino", reiterando uma divisão rígida dos papéis de gênero”(Cecchetto.et al. 2012)

Dessa forma é gerado um novo discurso da conquista em busca dos músculos desejados. Os anabolizantes são uma classe de hormônios esteroides naturais e sintéticos que promovem o crescimento celular e a sua divisão, resultando no desenvolvimento de diversos tipos de tecidos, especialmente o muscular e ósseo. São substâncias geralmente derivadas do hormônio sexual masculino, a testosterona, e podem ser administradas principalmente por via oral ou injetável, intramuscular.

Os músculos desejados não podem esperar pelo caminho mais comprometido com a saúde. Dessa forma é como circula as conversas dentro das academias de musculação.

Segundo autores que estudaram a “dismorfia” muscular ( termo que ainda esta e desenvolvimento) o uso dos anabolizantes se tornou um problema sociocultural com prejuízos psicológicos.

Sob este aspeto, o uso de esteroides anabolizantes torna ainda mais nítida a busca irracional pelo corpo musculoso, sendo irrelevante as consequências desta busca, sejam elas psicológicas, fisiológicas e/ou sociais.

A metodologia utilizada para promover o corpo com recursos farmacológicos podem ser classificados como a busca de um corpo idealizado e esculpido por um bisturi de uma cirurgia plástica. A finalidade é a mesma, os riscos são diferentes, porem não deixam de existir.

A pessoa que busca ter um corpo perfeito, nos modelos estipulados pelo grupo social em que esta envolvido, vai utilizar de suas ferramentas para alcançar o mais breve possível o seu desejo imaginado. E esse processo vai depender do seu poder aquisitivo.

As relações em academias de musculação giram entorno disso. Muito do que se ve é objeto do poder financeiro que a ele pertence. Então são associados não somente a roupa, mais ao produto final que foi projetado, um corpo perfeito e sem deformidades.

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A pele bronzeada, o cabelo sempre na tendência atualizada, um sorriso claro, músculos muito bem tonificados e hipertrofiados, mulheres com pernas e glúteos salientes, seios siliconados, cabelos longos, unhas impecáveis, rostos simétricos. As academias de musculação são celeiros de uma cultura grega adormecida em seus intelectos e emergentes em suas imagens, ou seja, agindo apenas em promoção do corpo e não da mente.

Essa busca pode custar caro. Os danos que podem ser gerados pelo uso de esteroides anabolizantes podem ser irreparáveis e não são levados a sérios pela grande maioria dos que confiam apenas em seus resultados, para esse só chamam a atenção apenas quando algum conhecido vem a óbito.

Um meio social é outro fator a ser levado em conta. Não sendo suficiente toda a conjuntura do consumo dos produtos é necessário uma relação de identidade com grupos que se dediquem apenas ao modelo de discurso: TREINO, DIETA, E FARMACOS.

Muitos se identificam com esse processo de construção do eu sobre a alegação de que outros grupos não iriam entender ou teriam preconceito com suas condutas de vida “saudável” e dessa forma se identificam como fisiculturistas, o que aqui identificamos, segundo os artigos que fizeram trabalhos de campo em academias, como fisiculturistas ou entusiastas do esporte que tendem a se comportar de forma igual ou semelhante dentro do seu grupo. Criando uma identidade imaginada.

Todo esse caminho de status social, vai se construindo paulatinamente e com o passar do tempo o sujeito tenta se enquadra em uma “patente” maior no que diz respeito ao seu conhecimento que foi adquirindo com os anos de pratica.

“Assim, em conformidade com o aumento de sua massa muscular o praticante assíduo de musculação realiza, pari passu, a condensação de sua socialização: convites para festas surgem, mulheres de prestígio das academias apresentam-se ou lhe são apresentadas, outros praticantes começam a dirigir-lhe atenção e seu status aumenta gradativamente com o aperfeiçoamento de sua forma. Este processo é mais acelerado se o indivíduo detém certa quantidade de capital econômico que venha lhe possibilitar o dispêndio maior de tempo em exercícios, (em geral o freqüentador habitual gasta em média duas horas de exercícios por dia de segunda a sábado), permanecendo com maior intensidade na academia e possibilitando-lhe contratar personal trainners, adquirir consideráveis quantidades de suplementos alimentares e esteróides anabolizantes, viabilizando a ostentação, não apenas de sua forma otimizada, mas de itens de consumo como carros e motocicletas caros, roupas de grife e tênis importados. Ser reconhecido como pessoa no grupo é poder não apenas apresentar forma física trabalhada com pesos, exercícios e investimentos químicos, mas também consumir bens caros. De forma similar a outros contextos o poder de consumir no imaginário fisiculturista está diretamente associado à construção identitária da pessoa”(Luz, Sabino)

Toda essa construção parte do principio em que a imagen projetada é lavada para uma condição do real, se torna um projeto que em primeiro momento sai do que esta congelado com fotografia,

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e parte em segundo momento para as relações de micropoderes que idealizam e domesticam o corpo como elemento de um projeto de consumo.

Seguindo por uma explicação básica sobre o que acabamos de citar, o entendimento fica mais claro pelos autores Kossoy, Foucalt, Adorno sucessivamente, se baseando em cada trabalho elaborado por esses autores.

A fotografia se apresenta como elemento que registra um tempo determinado, mas que pode também definir os modelos que ali ficam acumulados.

“se não houver um mergulho naquele determinado momento histórico, fragmentariamente congelado no conteúdo da imagem e globalmente circunscrito ao ato da tomada do registro. A fotografia enquanto cerne de estudo de sua própria historia e enquanto instrumento de apoio das mais diferentes pesquisas nunca escapara desta condição”(Kossoy.2001)

O autor deixa claro a obrigação em que o historiador deve ter em buscar nesse tipo de documento uma explicação para o que ele vai abordar, da complexidade de fatores operantes na linguagem que operam sucessiva e simultaneamente, amplia percepções em relação às imagens publicitárias, que é o caso dos documentos aqui estudados.

Para Michel Foucalto, o poder disciplinar, é entendido como mecanismo de poder na sociedade. Para ele vivemos na Era dos corpos disciplinados onde a disciplina produz, para a modelagem e controle dos corpos, ferramentas que vão nortear todo o processo de construção do poder e normatização das condutas, adotando caracteres para sua aquisição. Segundo o autor o corpo está preso no interior de poderes muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações. (Foucalt.2004)

Apesar de tratarmos de um assunto que supostamente estaria relacionado a um certo funcionamento da liberdade do corpo, já que expressa uma ação de independência e de atitudes escolhidas, vemos que mais uma vez o corpo se prende aos mecanismos de uma relação de poder construída pela mídia e que segue padrões estipulados.

Na ocasião vemos no estudo que o comportamento dos praticantes de musculação formam um grupo social, criando um espaço e uma imagem através de modelos imaginados.

Theodor Wiesengrund-Adorno entende que a Industria Cultural faz com que o Homem se tornasse um mero instrumento de produção e consumo.

De acordo com suas ideias, o homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho. Portanto, o homem ganha um coração-máquina. Tudo que ele fará, fará segundo o seu coração-máquina, isto é, segundo a ideologia dominante já que ele agora é elemento da cultura “dominante”. A Indústria Cultural, que tem com guia a

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