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Resiliência e prática desportiva: um estudo com jovens brasileiros e portugueses

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Academic year: 2021

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(1)Resiliência e Prática Desportiva: um estudo com Jovens Brasileiros e Portugueses. Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de Mestre em Desporto para Crianças e Jovens (Decreto-lei no 216/92). Orientador: Professor Doutor António Manoel Fonseca Co-orientador: Paulo Castelar Perim. Vinícius Zocateli Porto, abril de 2010.

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(3) Ficha de Catalogação Zocateli, Vinícius (2010). Título: Resiliência e prática desportiva: é possível uma correlação? Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de Mestre em Desporto para Crianças e Jovens. PALAVRAS-CHAVE: Resiliência; Prática Desportiva; Esporte; Correlação; Fatores de Risco e Proteção..

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(5) "Estamos usando nosso cérebro de maneira excessivamente disciplinada, pensando só o que é preciso pensar, o que se nos permite pensar." José Saramago. I.

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(7) A minha formidável família. Ao meu grande pai, João Zocateli (in memorian) Aos amigos que sempre estiveram do meu lado. E a esta vida, que não pode passar em branco.. III.

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(9) Agradecimentos. Agradecimentos É no fim de uma longa caminhada que podemos olhar para trás e observar as mãos que lhe foram estendidas, quando do alto alguém o puxa para junto, as que o impulsionaram, quando de baixo alguém quer que você suba mais um patamar, as que lhe puxaram as orelhas, mostrando que o caminho mais fácil nem sempre é o caminho certo, enfim, as importantes mãos, as quais sem elas este trabalho seria impossível de se fazer real. Agradeço ao Professor Doutor António Manoel Fonseca, meu orientador, que por diversas vezes, muito mais do que orientar, me ajudou a compreender este mundo tão próximo e tão distante que é Portugal e Brasil. Obrigado pelo acolhimento, pela paciência, conselhos e orientações. Aos amigos do Gabinete de Psicologia, Professor Nuno e Eleonor. Vocês são parte importantíssima deste trabalho, ajudando-me a adentrar. num novo. mundo de pesquisa, num novo conceito de trabalho. Obrigado Professor Nuno pela enorme ajuda na organização dos dados. Obrigado Leonor pela fantástica voluntariedade, nos mais diversos momentos, para me amparar nas dúvidas. Ao amigo e professor de graduação e co-orientador Paulo Castelar, que me ajudou e me apoiou desde o início, quando toda essa idéia de realizar o mestrado em Portugal surgiu. Obrigado por me agüentar por tanto tempo, por me fazer mostrar outras formas de ver muitas coisas da vida, e por me apoiar quando as coisas não andavam bem. Ao grande amigo e professor Erivelton, que com muito senso de humor, sabedoria e amizade, me acompanhou esse tempo todo, apoiando em diversos momentos difíceis e realizando um auxílio qualitativo enorme na finalização desse trabalho. Obrigado por se fazer presente sempre. À minha mãe, Penha Queirós, e irmãos, Yara, Diego, Fabiane, Lolô, Wando..., que sempre mantiveram a saudade bem ardente, para que eu pudesse voltar logo e, juntos, acalentarmos nossos corações. A você mãe, que como uma guerreira, conseguiu sempre me apoiar e manter a casa firme, sem abdicar em. V.

(10) Agradecimentos. nenhum momento do que acreditamos. Ao Zé, que chegou dando um brilho de alegria a mais na casa, brilho este que até aqui em Portugal eu consegui ver. À Fernanda, que durante todo esse processo se mostrou uma companheira formidável, e que continua sendo uma das pessoas mais importantes na minha vida. Obrigado pelo carinho, pelas gentilezas, e pelos conselhos que me fizeram e faz ser uma pessoa bem melhor. Ao grande amigo Rogério, que em terras portuguesas, me calhou como um padrinho e tanto. Obrigado pelas suas gargalhadas, pelas horas de alegria, pela ajuda nos momentos difíceis e por ser uma pessoa que me dá esperança num mundo muito melhor. Aos grandes amigos fomentados em terras lusitanas, que me apoiaram sempre, e não me deixavam jogar o Pró-Evolution sozinho. De modo especial agradeço ao Xuxa, Denize, Babi, Carioca, Daniel, Cyrus, Anderson, Del, Ingrid, Diego, Juliana, Fernanda, Israel, Bernadinho, Coquinho, Fred, Manu e Alex, JP e João... Graças a vocês esses dois anos vão ficar gravados num espaço especial na minha memória. À galera do Brasil, que de longe me mandavam energias positivas, e pela internet me faziam sentir um pouco mais próximo de casa. Ao Faé, Diego, Dudu e Davi Brandão, ao Lelê, Rodrigo e André Badiani, aos meninos que se formaram comigo, que muito mais do que amigos, hoje posso incluí-los na minha grande lista de irmãos. Sempre é um prazer ter mais um. À psicologia, saber ao qual eu me apaixonei logo no início da faculdade, e que me auxilia a estar no mundo de uma forma diferente. Ao esporte, paixão que nasceu comigo. Porém faço minhas as palavras de Armando Nogueira: “É um caso de amor não correspondido, as bolas, de um modo geral, vôlei, gude, basquete, sinuca, futebol, todas não corresponderam meu amor por elas”. E devido a isso, me restou apenas estudá-las.. VI.

(11) Índice Geral. Índice Geral Agradecimentos. V. Índice de Tabelas. IX. Índice de Gráficos. XIII. Índice de Quadros. XV. Resumo. XVII. Abstract. XIX. Capítulo 1 – Introdução. 1. Capítulo 2 – Fundamentação Teórica. 9. 2.1 – A Resiliência. 11. 2.2 – Prática Desportiva e Resiliência: suas intercessões. 21. Capítulo 3 – Metodologia. 27. 3.1 – Amostra. 29. 3.2 – Instrumentos. 31. 3.3 – Procedimentos. 36. 3.4 – Análise dos dados. 36. Capítulo 4 – Resultados. 39. Capítulo 5 – Discussão. 57. Capítulo 6 – Conclusões e Recomendações. 67. Referências Bibliográficas. 73. VII.

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(13) Índice de Tabelas. Índice de Tabelas Tabela 1. Diferença das médias de escores de resiliência entre população portuguesa e brasileira.. 41. Tabela 2. Diferença das médias de prática desportiva entre meninos e meninas portuguesas.. 42. Tabela 3. Diferença das médias de prática desportiva entre meninos e meninas brasileiras.. 42. Tabela 4. Média dos níveis de resiliência Correlação idade x resiliência na amostra total.. 43. Tabela 5. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência na amostra portuguesa.. 43. Tabela 6. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência na amostra brasileira.. 44. Tabela 7. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência na amostra masculina portuguesa.. 44. Tabela 8. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência na amostra feminina portuguesa.. 45. Tabela 9. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência na amostra masculina brasileira.. 45. Tabela 10. Média dos níveis de resiliência, e correlação idade x resiliência na amostra feminina brasileira.. 46. Tabela 11. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninos e meninas da amostra total.. 46. Tabela 12. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninos e meninas portugueses.. 47. IX.

(14) Índice de Tabelas. Tabela 13. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninos e meninas brasileiros.. 47. Tabela 14. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninos portugueses e brasileiros.. 48. Tabela 15. Diferença das médias de escores de resiliência entre meninas portuguesas e brasileiras.. 48. Tabela 16. Média dos níveis de resiliência, e correlação resiliência x freqüência de prática desportiva na amostra total dos indivíduos.. 49. Tabela 17. Média dos níveis de resiliência, e correlação resiliência x freqüência de prática desportiva na amostra portuguesa.. 49. Tabela 18. Média dos níveis de resiliência, e correlação resiliência x freqüência de prática desportiva na amostra brasileira.. 50. Tabela 19. Média dos níveis de resiliência, e correlação resiliência x freqüência de prática desportiva na amostra masculina e feminina de cada nacionalidade.. 51. Tabela 20. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem pratica desporto escolar e quem não pratica da população total.. 52. Tabela 21. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem pratica desporto em clube/ ginásio/ academia e quem não pratica da população total.. 52. Tabela 22. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem participa de competições federadas e quem não participa da população total.. 53. Tabela 23. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem pratica desporto escolar e quem não pratica da população portuguesa.. X. 53.

(15) Índice de tabelas. Tabela 24. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem pratica desporto em clube/ ginásio e quem não pratica da população portuguesa.. 54. Tabela 25. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem participa de competições federadas e quem não participa da população portuguesa.. 54. Tabela 26. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem pratica desporto na equipe da escola e quem não pratica da população brasileira.. 55. Tabela 27. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem pratica desporto em clube/ academia e quem não pratica da população brasileira.. 55. Tabela 28. Diferença das médias de escores de resiliência entre quem joga competições por algum clube e quem não joga da população brasileira.. 55. XI.

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(17) Índice de Gráficos. Índice de Gráficos. Gráfico 1. Distribuição da população Portuguesa e Brasileira da amostra. 29. Gráfico 2. Distribuição dos indivíduos de acordo com a idade. 30. XIII.

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(19) Índice de Quadros. Índice de Quadros. Quadro 1. Fatores referentes a pessoas resilientes. 34. Quadro 2. Itens da Escala de Resiliência. 35. XV.

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(21) Resumo. Resumo A sociedade atual está cada vez mais preocupada com o crescimento saudável dos seus jovens. Este presente trabalho entrecruza dois conceitos amplamente discutidos no seio do desenvolvimento positivo: o desporto e a resiliência. Esse último, um conceito muito mais novo, aparece como um complemento para se entender as nuanças do desenvolvimento dos jovens. A resiliência pode ser aqui entendida resumidamente como o processo no qual um sujeito passa para conseguir enfrentar e superar as adversidades que surgem no decorrer da sua vida, assim como seu comportamento frente às adversidades. É a resultante da interação entre os fatores de risco e de proteção ao qual o sujeito está exposto. O desporto, segundo a literatura, parece ser um ambiente favorável à emergência dos comportamentos resilientes, tanto no que tange aos princípios desportivos, quanto no relacionamento com professor/treinador. O objetivo deste estudo é mapear a resiliência na população portuguesa e brasileira estudada, e buscar saber se existe correlação com a freqüência de prática desportiva. Os sujeitos da pesquisa foram 227 jovens portugueses e 195 brasileiros de escolas públicas de ambos os países. Foram utilizados a Escala de Resiliência de Wagnild e Young para a medição dos níveis de resiliência nos indivíduos, e a prática desportiva foi medida por um questionário de autopreenchimento, elaborado pelo Gabinete de Psicologia da FADEUP, que engloba também algumas questões sócio-demográficas. Para a análise utilizamos o programa estatístico SPSS versão 17.0, realizando operações com os escores da Escala de Resiliência, juntamente com a nacionalidade, sexo, idade e, por fim, a prática desportiva. Os resultados obtidos demonstraram poucas diferenças nas médias dos grupos populacionais, sendo que apenas os rapazes portugueses e brasileiros mostraram diferença nas suas médias, e os portugueses obtiveram correlação positiva concernente a idade. Relativamente à freqüência de prática desportiva, não foi observado nenhuma correlação com os níveis de resiliência, tampouco nos grupos que praticam em locais institucionalizados de prática. Os resultados sugerem que, a prática desportiva simples, ou sem qualquer objetivo de intervenção em comportamentos, não parece promover a resiliência em jovens, seja no Brasil ou em Portugal. Palavras-chave: Resiliência; Prática Desportiva; Esporte; Jovens; Fatores de Risco e Proteção.. XVII.

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(23) Abstract. Abstract The modern society is each and every day more concerned with the healthy growth of their young children. In this present work we tried to cross two widely discussed topics inside the positive development: sports and resilience. The last one carries a new concept, as it appears as a complement to understand the development of young children.. The resilience may be understood as a. process in which a person goes thought in order to fight and overcome the adversities that appear during one’s life. It’s the result between two risk factors and in which a person is exposed to. Sport, in the literature, seems to be a constructive environment to the emergencies of the resilient behaviors, in the matter of sporting principles, and inside the teacher/coach relationship. The objective of this study is to chart the resilience within the Portuguese and Brazilian population in order to search if there is any correlation among the frequency and practice of sports. The subject of the research were 227 young Portuguese children and 195 Brazilian ones from public schools in both countries. The Wagnild and Young resilience scale was used to measure the individual’s resilience levels, and an interview, elaborated by FADEUP Psychology Department, was used to measure the sport’s practice. A 17.0 version SPSS statistic program was used to execute the analysis, as it performed operations with the Resilience Scale scores, among the data of nationality, gender, age and the practice of sport. The results gathered showed modest differences in the average popular groups, and only the Portuguese and Brazilian boys demonstrated a variation in their numbers, showing that the Portuguese got a positive correlation with their age. No connection was found with the resilience levels and the frequency of the practice of sports, neither among the groups that practice in the institutionalized places of training. The results suggest that the simple practice, or the one without any purposely interventional behaviors, doesn’t seems to endorse the resilience among young people, neither in Brazil or Portugal. Key Words: Resilience, Sport Practice, Sport, Correlation, Risk and Protection factors.. XIX.

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(25) Capítulo 1 – INTRODUÇÃO. 1.

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(27) Introdução. Capítulo 1: Introdução Este trabalho tem como temática o desporto e a resiliência, visto a possível interseção entre o conceito de resiliência e os benefícios que o esporte pode proporcionar aos seus praticantes. Os trabalhos realizados tendo como objeto de estudo e discussão a resiliência são direcionados para temáticas sobre violência, “comportamento desviante”, desrespeito a regras, adaptação, em que pese outras temáticas sejam também desenvolvidas (Cecconello, 2003; Cecconello & Koller, 2000; Chan, 2008; Mohaupt, 2008; Smokowski et al., 1999). A resiliência encontra-se ainda como um conceito considerado novo, e que pretende dar potência à psicologia que foca nos aspectos positivos dos sujeitos (Mohaupt, 2008). Ela traz uma nova relação de intervenção e compreensão dos fatores protetores que rodeiam o sujeito, contribuindo para uma ampliação do foco, antes concentrado nos fatores de risco e nas patologias. No desenvolvimento desse conceito, fatores de proteção e risco se mesclam e agem sobre o sujeito de uma forma particular, configurando a resiliência enquanto um processo dinâmico, presente em diversos momentos da vida da pessoa (Yunes, 2003). Podemos dizer que uma pessoa resiliente é aquela que consegue desenvolver a tendência de enfrentar, ultrapassar ou superar momentos de dificuldades, patologias e infortúnios de vários aspectos, se apoiando nos fatores de proteção para tal feito. Os estudos encontrados, onde a resiliência está vinculada com o desporto, estão centrados na superação de dificuldades e no alto rendimento dentro do esporte (Halgin, 2009; Milham, 2007). Nessa abordagem é focada a necessidade do atleta de saber superar as diversas dificuldades ao longo de sua formação e carreira, transformando-as em experiências motivadoras, fortalecedoras, incorporando ao atleta novas habilidades.. 3.

(28) Introdução. Muitas das características vinculadas ao sucesso dos atletas, como autoeficácia, auto-confiança, orientação à meta, compromisso, otimismo, saber minimizar o stress, ter foco, entre outras, estão intimamente vinculadas ao conceito de resiliência, mais pontualmente dentro das características dos fatores de proteção (Milham, 2007). Outro foco de abordagem sobre a resiliência juntamente com o esporte diz respeito à vinculação desse último à formação de caráter e modelação de comportamento relativamente aos seus praticantes. É amplamente divulgada a possibilidade de se “educar” o praticante desportivo, treinando as mais diversas “qualidades” durante a prática. A resiliência, portanto, pode ser uma nova meta a ser buscada pelos praticantes desportivos, salientando a face educativa do esporte. Assim, a prática desportiva é altamente considerada no meio acadêmico e no senso comum como um meio educacional para os jovens e crianças (Brustad & Parker, 2005; Hellison, 2000; Hellison & Walsh, 2002; Pate et al., 2000; Regueiras, 2006), sendo ela alvo de diversos trabalhos de intervenção e de pesquisa. Este projeto de estudo nasceu há dois anos quando em contato com jovens da periferia de Vitória, no ES, Brasil, em um programa chamado É Dia de Jogo, que envolvia o jogo de futebol e a discussão acerca da violência. A partir disso, refletimos sobre a função social da prática desportiva, e da possibilidade que ela nos apresenta para trabalhar com essas crianças. Dentro de um trabalho social esportivo, pensamos: melhor do que fazer as crianças aceitarem regras, por que não ajudá-las a compreender as regras, questioná-las e então fazer parte da sua criação/recriação/aceitação, buscando, assim, algo muito além da simples adaptação. Outra idéia, e que tem uma maior pertinência a esse estudo, diz respeito às derrotas/ dificuldades e os fatos que levam a ações violentas dentro de campo. Nesse caso, utilizamos as derrotas no desporto, para traçar um paralelo com as derrotas da vida, e a partir dessa reflexão, fazer uma analogia com suas histórias. Ou seja, naqueles momentos em que o temperamento levá-las a agir agressivamente,. 4.

(29) Introdução. ajudá-las a pensar estrategicamente, tais quais os fenômenos presentes no processo de resiliência. Baseado. no. pressuposto. dos. aspectos. normativos. do. desporto,. nomeadamente, seguir regras, concentração, estratégia, vitórias e derrotas, satisfação e frustração, e assim por diante (Hellison, 2000; Hellison & Walsh, 2002; Sanches, 2007), levantamos a seguinte questão: a prática desportiva, a priori, se constitui num meio que promova a resiliência? A resiliência aparece mais freqüentemente nas crianças e jovens que praticam esporte em geral? O presente estudo tem como objetivo principal verificar se existe correlação entre prática desportiva e os níveis de resiliência nos jovens, isto é, se os sujeitos que praticam mais esporte apresentam maiores índices verificados pela Escala de Resiliência de Wagnild & Young (1993), além de saber como se distribuem os índices de resiliência e de prática desportiva entre os jovens brasileiros e portugueses da amostra, incluindo o gênero e idade em todos os casos. Dessa forma, algumas questões foram levantadas de acordo com a leitura da bibliografia disponível e dos anseios para saber mais sobre a resiliência e seus entrelaçamentos com a prática desportiva. Idade e gênero são variáveis amplamente utilizadas em estudos sobre a resiliência e também em estudos sobre o desporto. É importante compreender como a população em estudo se comporta relativamente à resiliência e a prática desportiva quando colocado em análise esses dois fatores. Nos estudos de resiliência existem algumas divergências entre os resultados das análises referentes à idade e gênero, sendo esses, portanto, fatores ainda não completamente compreendidos (Cecconello & Koller, 2000; Cohu, 2005; Pesce et al., 2004; Wagnild, 2009). Já em relação ao esporte, os estudos mostram claramente a maior participação dos homens relativamente as mulheres, tendo o esporte um caráter hegemonicamente masculino (Pieron, 2004; Silva et al., 2008; Silva et al., 2005). Relativamente à freqüência de prática desportiva foi relevante para enriquecer o presente trabalho, e também servir de referência para próximos estudos, 5.

(30) Introdução. mapear as diferenças entre as médias de freqüência de prática desportiva, as quais na primeira vista pareceram bem diferentes em relação ao gênero. A. nacionalidade. enquanto. variável. ganha. relevância. devido. ao. desenvolvimento do trabalho ter ocorrido em duas populações de países distintos, Brasil e Portugal, porém com grandes semelhanças. Os dois países são considerados como “países irmãos”, que guardam diversas afinidades entre si, nomeadamente a língua, a história e diversos pontos de suas culturas. Porém, trazem entre si diferenças marcantes, como localização territorial, uma vez que estão situados em continentes diferentes: America do Sul e Europa, determinando clima e vegetação característicos e possuindo cada qual seu desenvolvimento sócio-econômico diferenciado. Considerando semelhanças e diferenças, o estudo se propôs a observar como a resiliência e a prática desportiva se comporta entre as duas escolas públicas dos dois países, considerando gênero e idade também como fatores. Dessa forma, o presente trabalho se lança numa proposta ainda pouco estudada, porém de suma importância para a ampliação dos domínios de intervenção com resiliência. De uma forma sintetizada podemos arranjar os objetivos da seguinte forma: Objetivo Principal: • Verificar se existe correlação entre a freqüência de prática desportiva semanal e os níveis de resiliência medidos pela Escala de Resiliência, tanto na população total do estudo, como nas populações de cada país em separado. • Verificar. se. os. jovens. que. praticam. em. escolas,. clubes/ginásios/academias, ou em competições federadas possuem maiores médias de níveis de resiliência, do que os que afirmam não praticar nesses locais. Objetivos Secundários • Comparar as médias dos níveis de resiliência das populações em estudo, incluindo gênero como variável dependente. 6.

(31) Introdução. • Verificar se existe correlação entre os níveis de resiliência e a idade dos sujeitos. • Verificar como se distribuem a freqüência de prática desportiva na população em estudo.. Adiante será apresentada uma revisão teórica sobre o conceito de resiliência, fatores de risco e proteção. Assim como também o que compreendemos como prática desportiva. Noutra seção, faremos uma aproximação teórica dos dois conceitos, resiliência e prática desportiva, e as possibilidades de interseções. Diante da formulação teórica, apresentaremos a formatação da metodologia de pesquisa, seguido dos resultados. E por fim, a discussão do que foi colhido e analisado, para podermos angariar novos conhecimentos a cerca do assunto.. 7.

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(33) Capítulo 2 – Fundamentação Teórica. 9.

(34) 10.

(35) Capítulo 2: Fundamentação Teórica. 2.1 – A Resiliência. É comum teoricamente encontrar o conceito de resiliência vinculado aos conceitos de fatores de risco e de proteção. Eles se mesclam e se reconstroem a partir da forma como nós entendemos cada um deles, sendo que existe uma dificuldade muito grande em delimitar o que seja fator de risco e proteção (Pinheiro, 2004). Para Cecconello (2003) o enfoque maior tem que ser dado na pessoa e nas suas interações com o seu meio, e considera tanto os fatores de risco quanto os de proteção enquanto processo, ou seja, o que pode ser fator de proteção ou de risco para uns, pode não ser para outros. Os fatores de proteção e de risco estão presentes a todos os momentos na vida de uma pessoa. Eles costumam ser divididos em fatores relacionados à pessoa ou fatores relacionados ao meio, porém em nenhum momento se deve colocar o foco de estudo em um, ou em outro (Pinheiro, 2004; Yunes, 2003). É importante ressaltar que, numa intervenção, compreende-se que tanto os fatores de proteção quanto os de risco possuem alicerces sociais, relativos ao meio, como características pessoais do sujeito em questão. Os fatores de risco são aspectos chave para o aumento da vulnerabilidade dos jovens em face ao seu desenvolvimento, sendo vulnerabilidade aqui entendido como o “resultado negativo da relação entre a disponibilidade dos recursos materiais ou simbólicos dos atores, sejam eles indivíduos ou grupos, e o acesso à estrutura de oportunidades sociais, econômicas, culturais que provêm do Estado, do mercado e da sociedade” (Abramovay et al., 2002). Mas o que são os fatores de risco? Em suma, seriam os fatores que impulsionam negativamente o desenvolvimento das pessoas diante de um desenvolvimento normal. Diversos autores tratam os fatores de risco de maneira diferentes, porém aqui não os vemos como estáticos e universais, mas 11.

(36) Fundamentação teórica. sim como fatores multifacetados e dinâmicos, que interagem com o sujeito de acordo com sua compreensão (Olsson et al., 2003). Pesce et al. (2004) definem os fatores de risco como "obstáculos individuais ou ambientais que aumentariam a vulnerabilidade da criança para resultados negativos no seu desenvolvimento”. Estão relacionados aos fatores que limitam o aparecimento do sucesso. O risco é um fator que irá atuar aumentando a probabilidade do desenvolvimento de alguma desordem, podendo ser a manifestação de alguma doença ou de algum comportamento que vai de encontro com a saúde do sujeito. Porém somente após uma avaliação da conseqüência em uma pessoa exposta a um ou mais fatores de risco, pode-se saber se o risco teve ou não efeito sobre a mesma (Masten & Garmezy, 1985). Os fatores de risco possuem tanto aspectos pessoais/ individuais, como ambientais/ sociais. Masten e Garmezy (1985) categorizam alguns fatores de risco mais estudados da seguinte forma: os ambientais citam a pobreza (baixo nível sócio-econômico), as características da família, eventos negativos da vida (negativos para o sujeito) e a não presença de apoio social; os fatores pessoais, cita o gênero - existe uma diferença entre homens e mulheres no que diz respeito à exposição aos riscos, habilidades do sujeito no aspecto social, intelectual e psicológico, além dos fatores genéticos. Chan (2008) acrescenta alguns fatores de risco como a idade (adolescentes possuem mais chance de risco que adultos), o tipo/ tamanho da comunidade (além do nível de pobreza na comunidade, é importante saber se é urbana ou rural, e o seu tamanho), e por fim a etnia (Afro-Americanos com mais risco do que Euro-Americanos, e com menores riscos os Latinos e Hispânicos). Além disso, considera que as pessoas que estão mais expostas aos riscos ambientais são os mais pobres e minorias em geral. Porém a compreensão de fatores de risco, assim como os fatores de proteção, deve ter um caráter acumulativo, cujos fatores podem aparecer em conjunto, ou em cadeia. A não presença de apoio social pode predizer o aparecimento de eventos negativos durante a vida, e assim por diante. Isso dá ao risco uma 12.

(37) Fundamentação teórica. conotação de processo. Estar exposto ao risco não necessariamente irá desencadear conseqüências negativas, mas é a forma como se dá essa exposição, e quais os outros fatores de risco e proteção que estão ali envolvidos que irão ter influência no comportamento (Luthar et al., 2000; Rutter, 1987, 1990, 2006). Segundo Assis et. al. (2006) não é toda adversidade que pode afetar o desenvolvimento saudável individual ou familiar. Raramente apenas uma adversidade é a causadora de dificuldades no desenvolvimento. O mais comum é a colisão e a potencialização de problemas que surgem, um após o outro, desencadeando dificuldades de enfrentamento e superação dos estressores. É. dessa. concepção. que. podemos. tentar. compreender. diferentes. comportamentos por pessoas expostas ao mesmo risco, por exemplo, a pobreza ou violência. Blum (1997) afirma que o estresse é um fenômeno universal, e que eventos negativos são experiências constantes na vida das pessoas, porém nem sempre elas levam os sujeitos a uma vida de privação. Isso vem ao encontro do que Rutter (1987, 1990, 2006), Pesce et al. (2004) e Howard et al. (1999) afirmam: os fatores de risco aumentam a sua influência negativa quando em conjunto (mais de um), e essa influência está totalmente vinculada com os recursos disponíveis para o sujeito lidar com elas. Tais recursos, resguardando as características conceituais, podem ser chamados de fatores de proteção. São eles que fazem o intermédio entre os riscos e o comportamento conseqüente. Conhecer de que forma os fatores de proteção se desenvolvem e como eles atuam modificando a vida do indivíduo é fundamental para entender o conceito de resiliência (Rutter, 1990, 1999). Mas o que são os fatores de proteção? Os fatores de proteção agem como mediadores das situações/ fatores de risco, buscando uma modelação das respostas frente a circunstâncias que afetariam negativamente o sujeito. Em geral os fatores de proteção são agrupados em três grandes categorias (Pesce et al., 2004; Pinheiro, 2004; Rutter, 1985, 1987, 2006; Smokowski et al., 1999): os atributos pessoais do indivíduo; laços afetivos no seio da família; e a 13.

(38) Fundamentação teórica. existência de sistemas de apoio externo, que surgem na escola ou na comunidade. Smokowski et al. (1999), em suas pesquisas, agruparam dentro destes 3 grupos várias características ligadas ao sujeito resiliente. Por atributos pessoais, eles nomeiam as seguintes características: ser do sexo feminino antes da adolescência, e ser do masculino após a adolescência; possuir um temperamento fácil; possuir controle sobre suas ações; possuir senso de humor; saber olhar as coisas de formas diferentes; possuir boas capacidades intelectuais; saber resolver problemas, ser otimista e ter um “senso de propósito e futuro”. Já Pesce et al. (2004) apresentam esse primeiro grupo, atributos pessoais, resumindo as características da seguinte forma: “auto-estima positiva, autocontrole, autonomia, características de temperamento afetuoso e flexível” (p. 137). Uma questão importante sobre esse grupo, atributos pessoais, é compreender se as crianças nascem com todas essas características, ou se são levadas a apresentar esses fatores devido a sua interação com o meio durante a sua vida. Muitos estudos acerca dessa questão são ainda necessários, porém alguns autores já descartam o uso de fatores de proteção, como características pessoais inatas ao sujeito, presente em sua personalidade como um traço, o que faria separar “resilientes” de “não-resilientes”, mas sim como processos da vida do sujeito que terá efeitos diversos em situações diversas (Cecconello, 2003; Olsson et al., 2003; Rutter, 1999, 2006; Yunes, 2003). No grupo de características relativas aos laços afetivos no seio da família Pesce et al. (2004) enfatizam a coesão familiar, a estabilidade, o respeito mútuo dos parentes e o apoio/ suporte que essa família recebe, aspectos também citados e discutidos por Yunes (2003). Já Smokowski et al. (1999) argumentam que o apoio e o carinho de adultos pode vir a ser um fator crucial para. amenizar. os. efeitos. dos. riscos,. possibilitando. ao. jovem. um. desenvolvimento saudável. Jovens que passam o dia na rua, ou na escola, que ao chegar a casa recebem dos pais influências positivas em relação ao estressores. externos,. podem. extrair 14. disso. um. impulso. para. um.

(39) Fundamentação teórica. amadurecimento sadio. Pinheiro (2007) acrescenta que os comportamentos dos pais que ajudam a criar rotina e consistência na vida das crianças, podem ser incluídos nesse grupo de características dos fatores de proteção. Em ralação ao sistema de apoio externo, não é relatado características do sujeito, mas sim comportamentos. Pesce et al. (2004) enfatizam o bom relacionamento com os amigos, professores e pessoas que assumem um papel de importância e segurança para a criança. Smokowski et al. (1999) dizem que as crianças resilientes tem a tendência de utilizar mais eficazmente os sistemas de apoio sociais do que as outras crianças. O jovem que apresenta comportamentos resilientes forma laços com professores, colegas, amigos mais velhos, pais, e profissionais que trabalhem com ele. Esses laços são vistos como amenizadores de riscos e facilitadores do desenvolvimento adaptativo, ou seja, como fatores de proteção. Crianças e adolescentes resilientes são movidas a utilizar mais eficazmente os sistemas de apoio social do que os seus pares. Os professores, colegas, amigos e pessoas mais velhas, o apoio dos pais, citado anteriormente, forma laços com a criança ou adolescente resiliente, e são citados freqüentemente como modelos positivos nas suas vidas, adotando papéis de confidentes e facilitadores. Pinheiro (2004) resume os três grupos da seguinte forma: “Quanto aos fatores de proteção, os autores acordam nas condições do próprio indivíduo (expectativa de sucesso no futuro, senso de humor, otimismo, autonomia, tolerância ao sofrimento, assertividade, estabilidade emocional, engajamento nas atividades, comportamento direcionado para metas, habilidade para resolver problemas, avaliação das experiências como desafios e não como ameaças, boa. auto-estima);. nas. condições. familiares. (qualidade. das. interações, estabilidade, pais amorosos e competentes, boa comunicação com os filhos, coesão, estabilidade, consistência) e nas redes de apoio do ambiente (um ambiente tolerante aos conflitos, demonstrar reconhecimento e aceitação, oferecer limites definidos e realistas)”. (p. 72) 15.

(40) Fundamentação teórica. Assis et. al. (2006) categorizam esses três grupos em três “tipos de proteção”. O primeiro é nomeado de capacidade individual, que mantém relação com autonomia, auto-estima positiva, autocontrole, temperamento afetuoso e flexível. O segundo tipo de proteção é fornecido pela família, sendo características importantes e determinantes a estabilidade, o respeito mútuo, o apoio e suporte. Por fim, o último tipo de proteção é o ambiente social, intermediado por pessoas significativas que tem papel de referência (amigos, professores). Segundo Pesce et al. (2004) os fatores de proteção têm uma inter-relação positiva entre eles, ou seja, “a presença de um fator de proteção pode determinar o surgimento de outros fatores de proteção em algum outro momento”. Gore e Eckenrode (citado por Pesce et al., 2004) sugerem que, por exemplo, o nível de auto-estima num sujeito pode interferir diretamente em algum outro fator de proteção como a eficácia do suporte social. Um jovem com uma auto-estima elevada poderá ter maiores chances de estabelecer vínculos afetivos importantes para o enfrentamento de estressores. Tão complexo quanto analisar o que são fatores de proteção para os diferentes tipos de pessoas e sociedades, é fazer a ligação entre os fatores protetores que intervêm simultaneamente no desenvolvimento do jovem. Essa característica reforça a visão dos fatores de proteção enquanto um processo, tal qual a resiliência (Yunes, 2003). Os fatores de proteção têm a capacidade de provocar a modificação da resposta dos indivíduos frente aos fatores de risco. Isso porque os fatores protetores possuem, segundo Rutter (1987), a função de amenizar o choque com o risco; de atenuar as respostas negativas frente à exposição ao risco; de manter a auto-estima e auto-eficácia suportadas pelo apego a pessoas de convivência segura, e pelo sucesso em tarefas; e por fim, cunhar formas de reverter os malefícios do estresse. Howard et al. (1999) afirmam que os fatores protetores possuem um efeito acumulativo na vida das pessoas. Assim, quanto mais características e exposição a fatores de proteção, mais chances o indivíduo tem de produzir comportamentos resilientes. 16.

(41) Fundamentação teórica. Rutter (1987) questiona a forma como os estudos lidam com os fatores de proteção, demonstrando um certo receio a formas estanques de lidar com o conceito. Assim, ele afirma que todas as características e comportamentos apresentados como fatores de proteção devem ser visto como mecanismos ou processos, sendo imprescindível compreendê-los em conjunto com a situação do indivíduo. O que pode se configurar como um fator de proteção numa situação, pode não ter o mesmo efeito numa outra situação, ou num outro sujeito. Neste trabalho buscamos englobar duas populações de países distintos, Brasil e Portugal, tanto pelas inúmeras similaridades dos dois países, como também pelas mais complexas diferenças. Jovens que crescem num país da América Latina e da Europa vivem experiências diferentes, contextos diferentes, fatores de risco e proteção diferentes. Assim, nessa interação de fatores de proteção e de risco, vincula-se o conceito de Resiliência. O conceito surge diante de um mundo onde é comum encontrar dificuldades, com maior ou menor intensidade, durante o desenvolvimento do sujeito. Resiliência diz respeito ao processo de superação das dificuldades pelas. pessoas,. tirando. dessa. experiência. um. proveito. para. o. seu. desenvolvimento e para a sua vida. Porém a resiliência ainda se configura como um conceito em discussão, devido às várias formas de compreendê-la. No cunho do conceito, pela origem inglesa, resilient está vinculada a idéia de elasticidade. Pinheiro (2004) diz que na língua inglesa resilient se refere à: “a habilidade de uma substância retornar à sua forma original quando a pressão é removida: flexibilidade. Esta última remetenos ao conceito original de resiliência atribuída à física, que busca estudar até que ponto um material sofre impacto e não se deforma.” (p.68) Esse nascimento do termo resiliência vinculado à resistência dos materiais produziu aspectos polêmicos, “já que os materiais seriam mais ou menos resistentes, e tal comparação levaria a um enfoque mais naturalista do desenvolvimento, considerando alguns indivíduos mais resistentes do que. 17.

(42) Fundamentação teórica. outros, em vez de privilegiar as contingências em que tais resistências despontam” (Farias & Monteiro, 2006). Além disso, Pinheiro (2004) nos alerta sobre o fato do conceito de resiliência estar “envolto em ideologias de sucesso e de adaptação às normas sociais. No entanto, esta noção funda dois grupos: os resilientes e os não-resilientes”. No presente estudo, utilizamos uma auto-medição de aspectos contidos no conceito de resiliência e correlacionando o resultado à prática desportiva, nacionalidade, idade e sexo, e não afirmando estaticamente que um sujeito é resiliente e o outro não. Muitos autores em seus trabalhos definem que o sujeito resiliente é aquele que consegue, após ultrapassar momentos de dificuldade (exposição aos fatores de risco), se adaptar normalmente, ou seja, fazem uma ligação entre o conceito de resiliência e adaptação (Cecconello & Koller, 2000; Chan, 2008). Rutter (1985) foi quem inicialmente tentou romper com essa visão, que a resiliência deixa de ser um atributo individual, uma característica da personalidade, para ser vista como um processo dinâmico. Em trabalho mais recente, afirma que a resiliência não pode ser vista estritamente como uma competência social ou característica de saúde mental positiva, mas sim, como “um conceito interativo que envolve a combinação de sérias experiências de risco. e. um efeito. psicológico. relativamente. positivo,. apesar. dessas. experiências” (Rutter, 2006). Após 20 anos de desenvolvimento do conceito, ele é visto como uma mescla de processos intrapsíquicos e sociais (vinculado fortemente aos fatores de risco e de proteção) que possibilitam ter uma vida saudável num meio insalubre; está associado à forma como o sujeito vê, sente e age sobre as adversidades e oportunidades. Essa forma pode ser verificada quando a Escala de Resiliência de Wagnild & Young (1993) é aplicada sobre o sujeito. Nessa escala, o entrevistado responde acerca de assuntos referentes à sua percepção, seus sentimentos e suas ações futuras sobre as adversidades e oportunidades.. 18.

(43) Fundamentação teórica. Assis et. al. (2006) definem a resiliência da seguinte forma: “a capacidade de resistir às adversidades, a força necessária para a saúde mental estabelecerse durante a vida, mesmo após a exposição a riscos. Significa a habilidade de se acomodar e reequilibrar frente às adversidades”. Ela é resultado de um processo dinâmico que envolve os fatores sociais e intrapsíquicos de risco e proteção. Resiliência está vinculada a duas idéias principais: estar exposto à alguma ameaça ou adversidade, e ocorrer uma “adaptação positiva” mesmo apesar das agressões no processo de desenvolvimento (Luthar et al., 2000). O indivíduo resiliente, que naquele momento reúne as condições para tal, tendem a recuperar seu equilíbrio e retomar o sentido em meio ao infortúnio. O fenômeno da resiliência é em parte devido aos fatores/ processos de proteção que promovem uma modificação catalítica da resposta de uma pessoa frente uma situação de risco (Rutter, 1987). Em trabalho mais recente, Rutter (2006) diz que a resiliência se refere à “resistência” em relação às experiências de risco, tanto ambiental, como pessoal (estresse, adversidade pessoal). Ela não é sinônimo de competência social ou pessoal (saúde mental positiva), mas sim, um processo, uma forma de se estabelecer frente aos riscos. A resiliência se baseia no “(...) reconhecimento da grande variação individual nas respostas das pessoas para as mesmas experiências (...)”, sendo um fenômeno presente nos comportamentos que fogem do esperado para o risco em questão. Cabe salientar que, uma vez que uma pessoa apresente resiliência em determinado momento de sua vida, não quer dizer que ela continuará apresentando ao longo de seu desenvolvimento (Rutter, 2006). A reação aos eventos estressantes pode variar durante o ciclo de vida, dependendo do momento que a pessoa está vivendo, da intensidade dos fatores de risco e da disponibilidade dos fatores de proteção. Assim, uma pessoa pode apresentar uma resposta adaptada frente a um fator de risco em determinada situação, e, em outra, ser vulnerável. Cyrulnik (2004, citado por Assis et. al. (2006)) afirma que a infância é um período crucial para a resiliência no sujeito. Nessa fase o potencial de 19.

(44) Fundamentação teórica. resiliência poderá ser mais ou menos estimulado, e até tornar-se uma sólida maneira de agir. Na adolescência, a necessidade de se afirmar abre um espaço crucial para a intervenção com resiliência no sujeito. Dessa forma, a idade apresenta-se como uma variável importante para a compreensão das respostas dos indivíduos frente às adversidades. Acrescentando mais uma variável importante, aproveitamos o trabalho de Smokowski et al. (1999), que afirmam que as adolescentes estão mais propensas à exposição dos riscos dos que os adolescentes, para levantar a questão se os diferentes gêneros apresentam também diferentes respostas relativamente à resiliência. Para Wagnild (2009) o conceito de resiliência contribui para mudar o foco da intervenção e estudos nos cuidados da saúde, ajuda a reconhecer os pontos fortes do sujeito e a construir estratégias de trabalho sobre as capacidades já existentes.. Resiliência. “conota. força. interior,. competência,. otimismo,. flexibilidade, e a habilidade de lidar eficazmente em face à adversidade”. As pessoas que estão resilientes experienciam as mesmas dificuldades e os mesmos estressores, como todas as outras pessoas que estão expostas a esses riscos e elas não são imunes ao estresse. Porém aprenderam a lidar com as dificuldades inevitáveis da vida, e essa habilidade diferencia a resposta frente aos riscos e estressores (Luthar et al., 2000). Para Assis et al. (2006) a resiliência se encaixa perfeitamente numa ferramenta de prevenção à violência. Os autores defendem que comportamentos resilientes devam ser estimulados durante toda a vida do sujeito, a fim de que a exposição à violência não multiplique a sua incidência.. 20.

(45) Fundamentação teórica. 2.2 – Prática Desportiva e Resiliência: suas interseções. A Comissão da União Européia define o esporte como: “todas as formas de atividade física que, através da participação ocasional ou organizada, visam manifestar ou melhorar a condição física e bem-estar mental, cultivar relações sociais ou a obtenção de resultados em competições em todos os níveis (2007, p. 01).” No presente trabalho denominamos prática desportiva como a participação da pessoa no esporte de acordo com a definição acima. Prática desportiva se insere como uma atividade física, porém circunscrita pelo conceito de esporte. A Lei de Bases do Desporto, promulgada em 2004 no território português, define o praticante de esporte da seguinte forma: “São praticantes desportivos aqueles que, a título individual ou integrados numa equipa, desenvolvam uma actividade desportiva.” A prática desportiva é tema chave desse estudo por se configurar como uma prática universal, e que visa não ser excludente. Porém é sabido que a prática desportiva ainda não se manifesta como uma atitude generalizada entre a população mundial, ficando quase sempre abaixo da média ótima de freqüência de prática desportiva (PD). Pate et al. (2000) confirmam esse baixo valor de prática desportiva na sociedade norte-americana, e ainda correlaciona a inatividade com os riscos de saúde. Nelson & Gordon-Larsen (2006) defendem “(...) que o acesso a instalações e programas de apoio à participação dos pais na PD, e os aumentos globais na participação da PD podem ter efeitos positivos que se estendem muito além do peso e fitness” (p. 1288). Maia e Lopez (2007) discutem vários motivos que impulsionam os jovens de ambos os gêneros a realizar a prática desportiva, tais como o aprimoramento de competências técnicas e da forma física, afiliação geral e específica, o aproveitamento do tempo livre, a chance de participar de competições e a procura de emoções. 21.

(46) Fundamentação teórica. A prática desportiva está muito mais relacionada com aspectos positivos da vida do que negativos. Seja na sua relação com a saúde, com o bem estar, o sucesso, ou o comportamento em geral, a prática desportiva vive um momento impar na história. O praticante desportivo, principalmente os não-profissionais, não estão apenas ocupando o seu tempo livre, mas sim, utilizando o esporte como uma ferramenta a mais para o desenvolvimento de sua subjetividade (Tabares, 2006). Esses estudos fazem relações de características necessárias a uma boa prática desportiva com características do desenvolvimento humano saudável. Para Correa (2008) e Tavares (2006), ver a prática desportiva como apenas uma forma de levar as pessoas a passarem o tempo, seria tratar de forma minimalista as potencialidades do esporte e das Ciências do Esporte. Corte-Real et al. (2008) ratificam a importância da prática desportiva da seguinte forma: “No entanto, apesar de toda a evolução verificada e não obstante não ser completamente consensual o conceito de estilo de vida saudável – perdurando algumas confusões terminológicas e mesmo conceptuais – a actividade física constitui-se, indubitavelmente, como uma das componentes com mais peso na definição do mesmo, existindo uma convicção cada vez mais forte das vantagens físicas, psicológicas e sociais aliadas à sua prática, em todas as idades, quer por parte da população em geral, quer ao nível da comunidade científica”. p (220) É comum a prática desportiva ser relacionada com aspectos positivos da vida dos sujeitos. É considerado no meio acadêmico e no senso comum como um ambiente educacional para os jovens e crianças, e em muitos casos ainda é considerado como “salvador da pátria”, com a força de “tirar as crianças da rua”, de ensiná-las a respeitar as regras, de aprender a dirigir a sua própria vida e buscar o sucesso (Hellison, 2000; Hellison & Walsh, 2002; Hellison & Wright, 2003; Parker & Hansen, 2009; Wright et al., 2004).. 22.

(47) Fundamentação teórica. Os autores citados acima desenvolvem esses links referindo-se direta ou indiretamente à praticas desportivas organizadas e com acompanhamento de adultos. Porém, nem sempre os benefícios são claros, visto que seriam necessárias mais pesquisas de longa duração. Mesmo assim, quando é visto a relação com desporto e benefícios ao praticante, tais benefícios são vistos de um modo global, uma melhoria geral do sujeito em relação à situação anterior ao início da prática (Brustad & Parker, 2005; Pate et al., 2000). Essa melhora geral vincula-se especificamente a qualidades vistas como “boas” pela sociedade, que ajudam o sujeito a se produzir de forma positiva, satisfatória. A proximidade do esporte com a produção dessas qualidades está no fato de que para praticá-lo, essas qualidades também se fazem necessárias. Dentre diversas características positivas que o sujeito pode encontrar dentro da prática desportiva, a resiliência parece ser uma delas (Martinek & Hellison, 1997). Devido a tantas adversidades encontradas no esporte, e inúmeras formas de superação, a prática desportiva parece configurar-se como um meio salubre para a promoção da resiliência. Porém na maioria dos estudos, a ligação entre resiliência e desporto está vinculada à performance e ao alto-rendimento (Halgin, 2009; Milham, 2007). De. outra. forma,. observando. a. potencialidade. do. esporte. enquanto. transformador de atitudes, Martinek e Hellison (1997) apresentam a possibilidade de reforçar a resiliência através da prática desportiva. Eles acreditam que a prática desportiva é um excelente meio para promover e cultivar características de comportamento resiliente no sujeito praticante. Defendem que os programas de prática desportiva com jovens pobres, e que tem o objetivo de promover o reforço da resiliência, devem focar no desenvolvimento da auto-estima e dignidade, competência social, autonomia e esperança dos jovens inseridos no programa. Essas características estão intimamente ligadas à resiliência. A promoção da resiliência durante a prática desportiva ocorreria tal qual um treino de habilidades. O esporte se configuraria como um meio extremamente 23.

(48) Fundamentação teórica. salubre para que a resiliência pudesse ser discutida e “ treinada ”. Martinek e Hellison (1997) vêem no esporte uma ferramenta, onde o profissional da área possa buscar formas de desenvolver nos seus alunos potencialidades para além das qualidades físicas e mecânicas. E dentre essas possibilidades, a resiliência surge como mais um novo processo de formação dos jovens envolvidos no esporte. Muitas características presentes na literatura sobre o sujeito que se manifesta de forma resiliente, também se vinculam nos estudos sobre a prática desportiva. Sejam características em forma de traços de personalidades, sejam em formas de lidar com eventos, elas parecem ser essenciais para o sucesso da prática desportiva, tal qual para o bem estar na vida. Sanches (2007), por exemplo, delineia algumas características que são descritas em processos resilientes e que ao mesmo tempo se encontra no desporto. Utilizando-se das características discutidas por Rutter, Sanches delineou alguns paralelos referentes à prática desportiva: segundo ele o atleta aprende a lidar com regras, respeitar as pessoas, planejar atividades, realizar cálculos, cumprir horários, desenvolver convivências, se sentir bem ao realizar as tarefas, aprender a ganhar e perder e desenvolver habilidades para lidar com mudanças em situações de jogo. O paralelo se configura com as características da pessoa que está resiliente, por exemplo: saber planejar atividades, assumir responsabilidades, ter competências sociais, estar com a auto-estima elevada, visualizar oportunidades, ter controle de suas ações em situações adversas, e assim por diante. Sanches (2007) continua o seu paralelo com a prática desportiva utilizando-se de fatores que Trombeta traçou para a resiliência, por exemplo, a abertura a novas. experiências,. identificação. com. modelos. positivos,. autonomia,. adaptação em situações diversas, possuir estabilidade emocional, saber lidar com sofrimento, desenvolver e seguir metas; os quais estariam ligados à necessidade de ousar no esporte, de superar seus limites, a identificação e convivência com técnicos, professores e colegas, aprender a perder e superar a dor, saber traçar meios para se atingir as metas de jogos e campeonatos, e saber lidar com o estresse de jogo. Podemos observar que, na sistematização 24.

(49) Fundamentação teórica. que Sanches faz, é esperado que a prática desportiva se estabeleça como um fator facilitador ou emancipador de características pessoais imprescindíveis para o processo de resiliência. Assis et al. (2006) delineiam o conceito de resiliência vinculado a processos psicológicos, e apresentam a atividade esportiva como um possível promotor da resiliência, da seguinte forma: “Outra forma de lidar com os problemas, que mescla diferentes formas de enfrentamento das dificuldades, é transformar os estresses em objeto de sublimação. A estratégia de cicatrização do sofrimento por meio da arte, do esporte ou do humor é considerada precioso fator promotor de resiliência. São mecanismos utilizados para mudar a própria idéia que a pessoa tem sobre o problema que viveu: reelaborar o sofrimento, enquanto o encena para os outros. Atividades artísticas e esportivas podem ser formas eficazes de transformar um sofrimento vivido em um episódio social menos pesado e, algumas vezes, até agradável.” (pp. 38-39) O esporte inserido como atividade principal dentro de projetos sociais, pode se tornar uma ferramenta imprescindível de apoio à criança, seja vindo dos colegas como dos profissionais. Um apoio como esse pode se caracterizar, desde que seja bem estruturado, como um fator de proteção a mais na vida dessa criança, podendo até vir a suprir determinadas faltas em situações de risco, como problemas familiares e a violência urbana. McLaughlin e Heath (citado por Hellison, 2000) dizem que “os programas de intervenção existentes tendem a ‘culpar a vítima’ tentando ‘mantê-los fora da rua’, ou corrigindo as suas deficiências perceptíveis, ao invés de colocar a culpa onde compete, na indiferença das instituições educacionais, sociais e políticas”. Assim surge a hipótese de se trabalhar com a resiliência com um viés preventivo (Blum, 1997; Cecconello, 2003; Cecconello & Koller, 2000; Chan, 2008; Patterson, 2001; Pesce et al., 2004) associado à prática desportiva.. 25.

(50) Fundamentação teórica. A presença da resiliência no desenvolvimento do sujeito ajuda a criar mecanismos de enfrentamento a adversidades para múltiplos casos que podem surgir enquanto risco. Chan (2008) afirma que é imprescindível reforçar as instituições que ajudam a elevar os níveis de resiliência (família, pares, escolas e programas de intervenção) em jovens expostos a estressores. Jovens com maior presença de resiliência são menos afetados por essa exposição. E a prática desportiva parece poder colaborar no sentido de promover a resiliência.. 26.

(51) Capítulo 3 – Metodologia. 27.

(52)

(53) Metodologia. Capítulo 3 – Metodologia. 3.1 – Amostra. Os sujeitos da pesquisa foram jovens brasileiros e portugueses de escolas compreendidas no ensino fundamental e médio (Brasil e no ensino básico e secundário (Portugal). Ambas as escolas se localizam em zona urbana. A amostra se constituiu de 422 sujeitos. O número de sujeitos brasileiros foi de 195 (46,2%) participantes e o de portugueses 227 (53,8%).. Gráfico 1. Distribuição da população Portuguesa e Brasileira. 29.

(54) Metodologia. A idade média dos participantes foi de 15,70±1,39 anos, sendo que a idade mais nova foi de 12 anos (8 participantes) e a idade máxima foi de 19 anos (11 participantes). Foram 174 (41,2%) participantes do sexo masculino e 247 (58,5%) do sexo feminino.. Gráfico 2. Distribuição dos indivíduos de acordo com a idade. A população portuguesa se dividia em 48,9% de indivíduos do sexo masculino (n=111) e 50,7% do sexo feminino (n=115). Já a população brasileira estava distribuída com 32,3% de indivíduos do sexo masculino (n=63), e 67,7% do sexo feminino (n=132).. 30.

(55) Metodologia. 3.2 – Instrumentos. Utilizamos a escala de resiliência desenvolvida por Wagnild e Young (1993), adaptada à população brasileira e portuguesa. Os autores reuniram diversas características e comportamentos que repetidamente eram vinculados pelos estudos à resiliência, para pensar uma forma fidedigna de medir, ou mapear a resiliência numa pessoa ou num grupo. A lógica dessa “medição” está na fala, ou melhor, nas respostas dos sujeitos frente a situações de adversidade e de proteção colocadas a ele. Dessa forma, eles desenvolveram uma escala de resiliência a qual os itens que a formavam visaram compreender tais situações. A escala possui 25 itens com resposta do tipo Likert variando de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente). Esses 25 itens refletem as 5 características da resiliência: serenidade constante mesmo diante de momentos difíceis; perseverança frente a adversidade; autoconfiança; sentido de vida (ela ganha um propósito a ser seguido) e auto-suficiência, que é a percepção de que cada pessoa é única, que em alguns casos deve resolver seus problemas por si mesmo, o que pode dar uma sensação de liberdade (Wagnild, 2009; Wagnild & Young, 1990). A escala tem uma somatória de pontos que varia de 25 a 175. Wagnild e Young (1983, 1990) e Wagnild (2009) estabelecem cortes na classificação, onde valores superiores a 145 indicam resiliência moderadamente alta à alta, 125 a 145 indica moderadamente baixa à moderada resiliência, e valores inferiores a 125 indicam baixa resiliência. Para a população brasileira a escala foi traduzida e validada por Pesce et al. (Pesce et al., 2005), e para a população portuguesa por Vara & Sani (2006). Pesce et al. (2004) buscaram realizar equivalências dentre as quais: conceitual, de itens, semântica, operacional, de mensuração (com a consistência interna medida pelo Alpha de Cronbach), a validade de conteúdo e de construto. Foram realizadas a análise fatorial e a equivalência funcional. A avaliação. 31.

(56) Metodologia. conceitual e de itens da escala original apontou para a pertinência do instrumento original para a cultura brasileira. Foram mantidos os 25 itens originais, e na mesma ordem. Na avaliação semântica, a maioria dos itens foram considerados inalterados, obtendo altos níveis de concordância. Em relação à mensuração, no teste e pré-teste, os valores de alfa de Cronbach foram satisfatórios, respectivamente: 0,80 e 0,85. Os índices de confiabilidade intra-observador mostraram-se também significativos e foram medidos pelo teste Kappa. Wagnild e Young (1993), no estudo original, sugeriram dois fatores (competência pessoal e aceitação de si mesmo e da vida) presentes na escala e que se afinam com a teoria da resiliência. Pesce et al. (2004) utilizaram a rotação ortogonal varimax e rotação oblíqua oblimin, e encontraram três fatores, ao invés dos dois da versão original: o primeiro, que explica 20,6% da variância total, são itens relacionados à resolução de ações e valores; o segundo, com 6,7% da variância total, são itens relacionados à independência e à determinação, e o último fator, com 5,5% da variância total, formado por itens relacionados à autoconfiança e à capacidade de adaptação a situações. Para a medição da resiliência, Pesce et al. (2004, 2005) utilizam o somatório de escores das respostas do questionário, onde valores elevados dizem respeito à elevada resiliência, e valores baixos à baixa resiliência (variando de 25 a 175). Esse ponto é também igual o que afirmam os autores originais (Wagnild & Young, 1993; Wagnild, 2009), porém sem estabelecer valores de corte. As escalas para a população brasileira e portuguesa respeitaram as diferenças de adaptação semântica, com algumas alterações em palavras, pois focavam as populações relativas a cada país. Porém não foi detectado maiores diferenças no que diz respeito à escores e análises. Dessa forma optou-se por aplicar cada escala em sua população de estudo. A prática desportiva foi medida por um questionário de auto-preenchimento, elaborado pelo Gabinete de Psicologia do Desporto da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), que englobava questões sóciodemográficas e os hábitos de prática desportiva (Corte-Real et al., 2004). 32.

(57) Metodologia. Contém diversas perguntas com respostas diretas sobre a quantidade de prática desportiva semanal, e se tal prática se realiza em clubes, escolas ou em outros locais. A folha do instrumento se caracteriza por questionários impressos em frente e verso. Na frente, o questionário de resiliência, no verso o questionário de prática desportiva e a identificação sócio-demográfica, onde se pergunta a morada, a profissão dos pais, a idade, sexo, etc. Perceber a resiliência utilizando-se de testes, quando bem desenvolvidos, traz diversas vantagens para os pesquisadores, pois é possível detectar precocemente riscos existentes, além de fornecer informações úteis ao estabelecimento de diagnósticos e projetos de intervenção. Apesar disto, devese ter cuidado para que a interpretação dos resultados não meramente separe resilientes de não resilientes. O instrumento deve ser visto como um facilitador para perceber como as pessoas lidam com as desvantagens e as proteções. A Escala de Resiliência de Wagnild & Young, em seus itens, está de acordo com o que se encontra acerca da teoria da Resiliência, por mais controversa que essa seja. Grotberg (2005) identifica vários fatores que se referem a pessoas resilientes, a os dividem em 4 grupos: “eu tenho”, “eu posso”, “eu sou” e “eu estou”. Tais características são as que se seguem no quadro a frente:. 33.

(58) Metodologia Quadro 1. Fatores referentes à pessoas resilientes. Eu tenho. Eu posso. Pessoas do entorno em quem confio e que me querem incondicionalmente;. Falar sobre coisas que me assustam ou inquietam;. Pessoas que me põem limites para que eu aprenda a evitar os perigos ou problemas;. Procurar uma maneira de resolver os problemas;. Pessoas que me mostram, por meio de sua conduta, a forma correta de proceder;. Controlar-me quando tenho vontade de fazer algo da maneira errada ou perigosa;. Pessoas que querem que eu aprenda a me desenvolver sozinho;. Encontrar alguém que me ajude quando necessito;. Pessoas que me ajudam quando estou doente, ou em perigo, ou quando necessito aprender.. Procurar o momento certo para falar com alguém.. Eu sou. Eu estou. Uma pessoa pela qual os outros sentem apreço e carinho;. Disposto a me responsabilizar por meus atos;. Feliz quando faço algo bom para os outros e lhes demonstro meu afeto;. Certo de que tudo sairá bem.. Respeitoso comigo mesmo e com o próximo.. Essas características descritas por Grotberg (2005) demonstram uma consonância com as questões do questionário utilizado. Tais questões propostas por Wagnild e Young (1993) e traduzidas por Pesce et al. (2004), as quais se constituem na Escala de Resiliência utilizada no presente trabalho, foram as seguintes:. 34.

Referências

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