UNIVERSIDADE
DE
EVORA
DEPARTAMENTO
DE.
SOCIOLOGIA
Mestrado
em
a
escola
e
o
trabalho
infantil
O
caso dos
menores integrados
no PIEF
:
Dissertação
de
Mestrado
apresentada
por:
",
Paula
Cristina Rosado Godinho
','
Orientador:
Prof.
Doutor
Francisco
Martins
Ramos
"Esta disserüação não
inclui
as críticas e sugestões feitas pelojúri".
Évora
'fi,"PÍln
,NT'ERSTDADE
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'lÇY
ü
5
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{DEPARTAMENTO
DE
SOCIOLOGIA
Mestrado
em
Sociologia
Área
deespecialnaçáoz
Família
ePopulação
A
Famflia,
a
escola
e
o
trabalho
infanül
O
caso dos
menores integrados no
PIEF
Dissertação
de
Mestrado
apresentada
por:
Paula Cristina Rosado Godinho
4Vc
tq5-Orientador:
Prof,
Doutor
Francisco
Martins
Ramos
"Esta dissertação não
inclui
as críticas e sugestões feitas pelojúri".
Évora
Agradecimentos
Chegar aqui constitui uma meta em tennos académicos e represent4 igualmerÚe,
o
fecho degm ciclo
e
o início
deoutro,
em termos de projecto devida.
Por isso, osmeus
agradecimentos revestem-sedurn
duplo
significado:
por um lado a
profimdagratidão
a
todos
os que
sempreme
apoiarame
incentivaram para
a
rcalizaçáo e conclusão destetabalho,
poÍ
oufio,
aos que
nos
momentosds maior
tensão, não permitiram que o desânimo e desalento superasse o desejo de levar a termo a conclusão deste trabalho. Cumpre-me por isso, dirigfu uma palavramúto
especial......
ao Professor Francisco Ramos, pelo seu incentivo, peta sua disponibilidade,pelo apoio, pela riqueza de
coúecimentos
e estímulo à reflexão....
aopETI,
na pessoa da sua coordenadora regional, por mets
autoizado fazeta recolha dos dados nos PIEF'S.
...
à EquipaMóvel
do PETI, pela disponibilidade, generosidade e incentivo comque
sempreme
recebeq
facultando
todos
os
dados
necessáriose
facilitando
a comunicação com as Técnicas de Intervenção Local(TIL)
dos PIEF'S....
àsTIL,
peladisponibilidade
de se articulaÍem com os professores, PoÍ forma a definir o momento mais adequado para se proceder à recolha dos dados....aos professores do PIEF, que gentilmente cederam tempo das suas aulas para
se proceder à aplicação da ficha inquérito.
...
aos meus pais, pelo amor, confiança eincentivo
que sempre me dedicaram,pelo
exemplo
de
coÍageme
determinaçãoe por me
lembraremda
importáncia
de atingirmos as metas a que nos propomos....
ao
Carlos,pela
amizade,pela
presençae
disponibilidadee,
pela
certez4muitas vezes repetida, de que todos os obsüículos se superariam.
...
a todos 9s amigos e familiares, que sempre se mostraramA fanília, a escola e o tmhlho infantiL
RESUMO
Num
tempo
marcadopelo
efemero,pelo tansitório e pelo
confronto
muitas vezes desigual,ente
valores e interesses, nuüla sociedade em perÍnanente e aceleradamutação,
assiste-seao
surgimento
de
situações complexas
e
dificeis
de
seremultapassadas, provocando fossos entre gerações, categorias profissionais
e
sociedade em geral.Sobrevivendo as intempéries políticas, económicas e sociais, a
família
e a escolatêm encontado alguns processos dificeis.
Aqui
cruzam-se inexoravehnente situações de trabalhoinfantil,
de analfabetismo e de miséria.O
trabalho insere-se na condição dainfrncia,
na corúemporaneidade. Mas, nãoda
mesmaforrra
paratodos os
menores.A
iniciação de
actiüdades produtivaspor
menores, torna-osmais
vulneráveisa
situaçõesde
exploração, aproxiÍrando-os mais precocemente dos adultos em detrimento da sua formação pessoal e académicaCom o empenhamento de todos é possível postular
um
caminho promissor, que pugne pela democratizagão da educagão, para que ninguém sejaexclúdo.
Só pela
valorizagãodos
recursos humanose
pela
qualificação avançada dostabalhadores
é
possível fazer facea
um
mundo
concorrencial que se pretende maisjusto
e humanizado.Este estudo tem como objectivo geral caracterizar a
vida familiar,
a escola e o trabalhoinfantil
dos menores integrados em PIEF, no âmbito do projecto PETI.A fanílio, a escolo e o lmhlho infantil
Family,
School and
Child
Lúour
In
a time characterized by the ephemeral, the transitory and the confrontation, somany times
unequal, betweenvalues and
interests,in
a
society
in
permanent and accelerated mutation,we
wihess to
the
riseof
complex6d
difEcult
situationsto
be overtaken, creating ditches between generations, professional categories and societyin
general.
Surviving
to
the
political,
economicaland social
inclemency,the
family
and school have found somedifficult
pÍocesses. Here meetinexorúly
situationsof
childishwork, illiteracy
and misery.This
work
setsitself in
the childish
condition, nowadays.But
not
in
the
sameway
for
all
minors. The
rising
of
producüveactivity
of
minors,
makesthem
morevulnerable
to
situationsof
exploitatiorç
approachingthem
even morepremature§ to
adults instead of their academic and personal formation.With
total
engagementit
is
possibleto
demand a promisingway
that strugglesfor the democratization
of
education, so that no one is excluded.By
valuing the human resources and the advanced qualificationof
workersit
ispossible to face a competitive world that we want fairer and more human.
The
main
goalof
this
work
is
to
characterizethe familiar
life,
school and thechildish
work
of minor that belong to PIEF, in the PETI project.A fanília, a es@lo e o lrablho infantil
ÍNorcB
SislasÍndice
deQuadros
Índice
deGníÍicos
Índice
de X'igurasÍndice
de AnexosINTRODUÇÃO
CAPÍTIILO I
-
A
PRoBLEnaÁrrca
CAPÍTULO
II -
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
I
*
A
família num contexto de mudanga---1.1
-
Definição de um conceito 1.2-
Funções da família---1.3
-
A
famflia e os direitos de cidadania na promoção da inclusão 2-
A
escola enquanto factor de socialização2.1-
ArelaçãoEscola/ família
2.2-
As causas e consequências do abandono escolar 2.3-O
percurso escolar e o futuro3
-Como
definirTrabalho Infantil
3.1
-
IdadeMínima
de Admissão ao Trabalho 3.2-As
causas do TrabalhoInfantil
3.3- O Trabalho
Infantil
em Portugal3.3.1
-
Enquadramento Legal e Legislativo3.3.2
-
Trabalho Condicionado a menores4-
Família, Escola e Trabalho: da especificidade dos contextos ao quotidiano das criançascApÍTULo
m
-
eunsrÕEs METoDoLócrcAs
1
-
Delineamento do estudo 1ii
iii
iv
v
I
7t4
192t
24 33 35 38 40 424
46 48 48 49 51 54 55 2-
Campo de análise Paub êodinhoA fanília, o 6eoh e o trafulho
iafalil
3
-
Unidade de Análise4
-
Instumento
de avaliação5
-
Procedimento para a aniílise dos dados 6*
Construção do modelo de aniálise 7*
Considerações éticas8
-
Validação dos resultadoscApÍTrrl,o
w
-
APRESENTAÇÃO
EANÁLrSE
DOSDADOS
I
-
Intodução
2
-
Breve caractsizaqão dos inquiridos 3-
Caracterizarçã'o dos agregados familiares4
-Caracteirzação do percruso escolar5 -Caractenz.ação das actividades desenvolvidas pelos menores 6
-
Implicação das actividades laborais nas acüvidades escolares 7-
Perspectivas futuÍasCONCLUSÔES
E SUGESTÔESBIBLIOGRAI'IA
AI\EXOS
s7 58 606t
62 63 87 92 65 66 68 73 80 82 83 Paula êodinhoSIGLAS
CNASTI
- Confederação Nacional de Acção Sobre TrabalhoInfantil
DGERT
-
Direcçâo Geral do Emprego e das Relações de TrabalhoEMM
-
EquipaMóvel Multidisciplinar
GDDC
-
Gabinete de Documentação eDireito
ComparadoIPEC
-
Internacional Programme onElimination of
Child LabourMTS
-
Ministério
do Trabalho e da SolidariedadeMS§T
-
Ministério
da Segurança Social ç do TrabalhoOIT
-
Organizagão Internacional do TrabalhoPEETI
-
Plano para a Eliminação da Exploração do TrabalhoInfantil
PETI
-
Plano de Prevenção para a §[iminação da Exploração do TrabalhoInfantil
PIEF
-
Programa Integrado de Educação e FormaçãoSPSS
-
Statistical Packagefor
Social SciensesTIL
-
Técnica de Intervenção LooalSIETI
-
Sistema de Informação Estatística sobre o TrabalhoInfantil
rc1q+1-Á fqnÍlia, o escola e o trafulho infantiL
i
A fanÍlía, a escob e o trafulho
infanlil,
ii
-.ffi
Índice
de
Quadros
Quadro
1 -Distibúção
de frequências por géneroQuadro
2-
Distibuição
de frequências por idadeQuadro
3-
Dimensão do agregadofamiliar
Quadro
4-
Profissão do paiQuadro
5-
Profissão da mãeQuadro
6-Natureza
da casa do agregadofamiliar
Quadro
7 - QuotidianoQuadro
E - EscolaQuadro
9-
Perspectivas futurasQuadro
10 - AssidúdadeÍndiçe
de
Gráficos
GniÍico
1-
Freguesia de residênciaGráÍico
2-
Com quemvive
Grófrco
3-
Húilitações
do paiGráÍico
4-
Habilitagões da mãeGráÍico
5-
Porque parou de estudarGnáÍico 6
-
Porque reprovouGráÍico
7-Ajudapais
GráÍico
8-
Profissão futuraGráÍico
9-
Escolha da profissãoA fanília, a escola e o tmblho infantil.
üi
â faníln, a escob e o tmfulho infantiL
iv
Índice
de
Figuras
Figura
1-
Metodologia de planeamentoX'igura 2
-
Complementaridade entre o sistemafamília
e escolaIndice
deAnexos
Anexo
1-
Despacho Conjunto n.'94812003 Anexo 2-
Ficha InquéritoAnexo 3
-
Modelo de AnáliseAnexo 4
-
Quadro anrálise de conteúdo das questões abertasAnexo 5
-
Categonzaçáo das questões abertasAnexo 6
-
Caracterização das actividades desenvolvidas por menoresA fdrrírh, ae.scohe o tmfulho
infanliL
v
A fanllia, o escoh e o lrafulho
infantil.
1INTRODUÇÃO
O esfudo que
aqú
se apÍesenta, insere-se no âmbito da dissertação de Mesúadoem
Sociologa,
aÍeade especialiraçáo família e população.O
Mundo
marcadopela
globaltzaçáo,habitado
por
indivíduos
com
ruodusvivendi distintos,
rapidamentese
transformounum Mundo de
exhemos
e
bastantecomplexificado.
Confrontados com esta realidade podemos interrogar-nos acerca da relação que
se vai estabelecendo
ente
a família, a escola e ofúalho
infantil.
Na terminologia deste estudo, optou-se por
utilizar
a palavra menor, em vez decrianç4 pela maior consonância com a terminologia legal.
P. Ariés, na sua obra
*A
criança e afamília
noAntigo Regime',
explica que a passagem da"família
tadicional"
à"família
moderna'' operou mudanças na relação da criança com a famítia, a escola e o trabalho @imentel s.d).Ainda na linha de pensamento desse autor, à medida que a
familia
exigia paÍa os seusfilhos
"maioÍes cuidados na preparaçãomoral, cultural,
social e até profissional" (Leandro 2000:32),um novo conceito de criança surgia. Coexistiam assim doistips
defamília. Numa, a família concebe os filhos numa óptima de rentabilidade económica, ou
seja, a importância do grtrpo e de ajudar o grupo sobrepõe-se ao próprio indivíduo, neste caso o menor. Na
outa,
o que é valorizado é o pleno desenvolvimento humano e social, que reconhece a importância do seu percurso escolar. Neste caso, mais do que o reforço económico quea
família
possa obter,o
percursoda
criançaé
assumidoe
entendido como um investimento familiar, que emmútos
casos pode durar até àjuventude.Actualmente, grande
parte das famílias tenta
mobilizar-se
no
seirüdo
depossibilitar
aos seusfilhos o
melhor capital cultural,
uÍÍtayez
queé a
qualidade dodiploma
quedita a
orientação em te,rmos profissionais, conferindo conseque,lrteme,lrte um estatuto social.Contudo, muitas famílias vêem-se na contingêncial de não possibilitar aos seus fi1hos
um
percurso escolarsólido,
inscrevendo-sea
maioria
destesnuÍna lógica
de abandono escolar,2 para ingressar, precocemente, no mercado detabalho,
ainda que deforma clandestina ou mais ou menos dissimulada
1
Em virtude da sua modesta condição económica e social.
'Qo"
é em grande paúe antecedido fx)rrrm elevado úsentismo escolar.A farnÍlia, a escob e o tmfulho
iafantil
2^
r
=ou'ruiau
;;;";=
reforçada pela resistência que alguns núcleos de famflias oferecem, a
uÍra
permanência mais prolongada de seus filhos na escola" dá primazia a uma leitura complexae
cntnda
de
quato
realidades indutoras de exclusão social: a procura de mão-de-obra barata e indiferenciada, existência de famflias pobres com baixonível
de escolarização, que §esocoÍrem dos filhos para equilibrar o orçame,nto
familiar,
o abandono escolar premafino e a expectativas dos menores, que preferem uma integração e afirmação pessoal porüa
dofabalho.
Um
pouco
por
toda
a
parts, nasultimas
décadas,nas
sociedades ocidentais, acredita-se quea
escola assumeum
papel importantíssimono
combateà
exclusão e desigualdadessociais.
Reflexo disso
mesmo
é
o
prolongamento
da
escolaridadeobrigatória
e
o
"designado fenómenoda
massificação escolar,a
todos os níveis
doensino,
de
maneira ainda
mais
acenfuada,enüe nós,
ao
longo dos dois
últimosdecénios...
[investe-seassim]
durantemuito mais
tempo
e
mais
intensamente, napreparação escolar de uma parte noüível da sua população, nulna idade em que para
um
certo número,noutos
tempos, poderia ser considerada produtiva'' (Leandro 2000:36).Os menores estão cada vez mais onde devem estar: na escola
No
entanto,tal
facto não encobre certos fenómenos sociais que interactuam com
o
trabalhoinfantil
emuito contibuem
paraa
sua persistência.O
abandono escolar precoce éum
dos maisgraves,
"(...)
pois em
geral
precedeuma
integraçãosocial
pessoalmenteinjusta
e inferiorizante" (Azevedo 1999: 7).Numa
sociedade onde profissionalmente se valorizam ashúilitações
escolares dosindiüduos,
Íts suas qualificações e competências, Íts novas tecnologias e a sociedadede
informação,o
abandono escolar sema
conclusãoda
escolaridade obrigatóriae
a saída do sist€ma escolar sem qualquer diploma escolar ou qualificação profissional é a demonsfiação clara de desigualdades e assimetias sociais, constituindo ráreas críticas de coesão social (Azevedo 1999).Portugal é um dos países da Europa onde e, apesar de, os fenómenos da inserção
precoce
no
mercadode
túalho
e
o
abandono escolar pÍesoce,terem diminuído
aolongo
das ultimas
decadas,continuam
a
constituir
um
grave problema
social,principalmente ao
nível
das consequências, quer no percurso pessoal e profissional doindivíduo, quer ao nível do próprio mercado de
tabalho.
Olhando
para
a
sociedade portuguesa apercebemo-nosda
cadavez
maiorprecariedade do
tabalho,
colocando em riscoo
sustento das famílias e a educação dosA fonília, a escola e o tmfulho
infantil.
3u
;;; *;.-';;
viver
e
saborear
a
alegfia
de
ser
criança,
por
as§umirem, prenaturamente,
aresponsúilidade
de realizar determinadas tarefas, que não passam necessariamentepor
começaÍ atabathaÍ
numa empresa ouindúsfia,
ou até no camllo, mas que pode serpor
assgmirgm
papelno
seio dafamília,
iniciando-se assimno
tipo
detúalho
definidocomo
Domiciliário.
Os menores que entram no mercado de
tabalho
com idades inferiores a 16 anos, e portanto em períodos de escolaridadeobrigatóriq
sâoalvo
de graves consequências em termos de qualificações, competências adquiridas, carreira profissional, mobilidadesocioprofissional, para
além de
aspectos relacionadoscom
a
satisfaçiloe
go§to pelotrabalho, motivação e auto-estima no trabalho.
O rabalho infantil
estií associadoa um
tipo
de economia subterrânea, oculta,paralel4
liderada por empresários semescúpúos
nem sensibilidade.Na
sua maioria otecido
empresarialportuguês onde
prolifera
o
tabalho infantil,
são as
pequenas empresas,de
canícter maioritariamente4Íssanal,
sedeadasem
zonasrurais,
onde os pais aceitam estetipo
de situações, na medida em que o ingresso precoce no mercado detúalho,
maisdo
que umafonte
de rendimento, ocupa os temposliues
quea
escola proporciona ajudando-os igualmente a se tornmem os Homens e Mulheres do futuro.Para a|ém de serem uma mais
valia
para aumentar a produtividade, os menones quetabalham,
fazem-no deforma
súmissq
não reivindicando atrmentos salariais ouqualquer oufio
tipo
de regalias sociais, aocontário
de um tabalhador adulto.Mas não são só as dificutdades financeiras da
família
que remetem os mmorespara
o
ingresso precoce no mercado detabalho.
Muitas destas crianças, bem como osseus
pais
e
Encaregados
de
Educação, estão completamente desmotivadospam
afrequência escolar.
Os
próprios
professores sentemdificuldades
em ministar
os progxamase
conseguir chegar aos alunos, estimulandoo
seu desejode
conhecer eaprender.
Tudo
isüo
remete-nos
para
o
desfasamentoenfe
os
conhecimentosminisúados pela
escola,as
competências requeridaspelo
mercadode
fabalho e,
ocapital cultural
e
o
conhecimentomais
abstracto dos alunos,facto
quea
escola nãovalorizq
acentuando,com
esta
postur4
ainda
mais, as
desigualdadessociais
dos menores.6
"ssslha
do
tema
prende-senão
só
pela
pertinência
e
importância
do entendimento
do
impactodo
fenómenodo
abandono escolar, aonível
da formação e exclusão dos menorese
de como
esse abandonoos impele
a iniciar
uma
acüvidadeA fanília, aescolae o tmhko
infantiL
4,;-consmngimento à formação integral dos menores, nomeadamente na cidade de Evora,
mas
pelo facto de e,
enqrümto AssistenteSocial, trabalhar
na
área
da Infância
eJuvenfude,
intervindo por,
paÍae
oom os menores, bem comocom
as suas famílias,nomeadamente com as figuras parentais (em alguns cÍtslos apenas indirectamente). Se
por
um
lado
os paistêm
consciência quea
frequênciae
o
aproveitame,lrto escolar é o único meio de proporcionar aos seusfilhos
um futuro diferente dos seus,por
oufio,
as
despesasque
tal
situação acarreta extrapolao
orçamentofamiliar,
sendo necessário,mútas
vezes,contar
com
a
ajuda dos
filhos
para equiübrar
o
refeÍido orçamento, sejaatavés do
desempenho deuma
actividadelúoral
remrmerada, seja assegurando arcalizaçáo de algumas tarefas no seio dafamíliq
libertando assim os paisou responsáveis para
o
exercício deouta
actividade suplementar.A
solução passapor
conciliar
a
frequência escolarcom a
participaçãoem
algumas actividadeslúorais
o que, consequentemente, sevai reflectir
no aproveitamento escolar dos mesmos. Refira-se que para algrrmasfamílias,
a
participaçãode
seusfilhos
em
algumas actividadeslaborais é entendida como parte do processo de educagão
e
socialização das mesmas.(Pinto 2003).
Têm,
igualmente,sido feitos
estudos sobreas
causasido
insucesso escolar e apontadas atgrrmas delas. Entre as quais se salientam: a falta de estímÚo que as crianças recebem dos pais havendo um hiatoente
os conhecimentos adquiridos no meiofamiliar
e no meio
escolare a
sscassszde
tempopara
actividadesde
lazeÍ
fora do
âmbito escolar, sendopor
isso
a
escolaum local priülegiado
para
actividadesde
lazer
edivertimento deixando
de
ser
entendidapara
estascrianças
como
um
espaço de aprendizagem.Face
ao
exposto,
a
incidência deste esfudo,
que se
insere
no
âmbito
da dissertaçãode
mestradoem
Sociologia
é
sobre
a
relaçãoque
os
menotres,sem
a escolaridade obrigatória e, sinalizados ao PETI3 @lano de Prevenção para a Eliminaçãoda
Exploraçãodo
TrabalhoInfantil),
e
integradosno PIEF
(Programa Integrado de Educação e Formação) têm com a famflia, a escola e otabalho,
tendosugido
algumas questões que serviram de ponto de partida para este estudo:-
Como se caracteriza o agregadofamiliar
destes menores?- Qual o papel da escola na formagão, atracção e exclusão dos me,lrores?
'
O Prolecto PETI foi criado pela resolução do Conselho de Ministros n.o 75198 e tem como objectivo fundamental de prevenir e eliminartodas as formas de exploração de Trabalho InfrntilA fanília, oe§cohe o tmMho
infantiL
5-
r"
t"
"*".
outJoilr
t--"o-integrat dos menores?
O
presente estudo abrangeu os menores sem a escolaridade obrigatória sinalizadosao
PETI, por
abandonoe /ou
absentismo escolare
integradosna
medidaPIEF,
na cidade de Evora, tendo-se definidotês
objectivos específicos:-
Caractet'tz.ar o agregadofamiliar
dos menoresl-
I)escrever o papel daeco}a
nafomação
e atracção e exclusão dos menor€§;-
Abordar
a
problemática do trabalho
infantil
como
factor impeditivo
de formação inúegral dosjovens;
Por forma
a
conseguirfazer
fase aosobjectivos
elencados, esta dissertação está organizadaem
quato
capítulosdistintos.
O
capítuloI
é
dedicadoà
apresentação doproblema,
aos objectivos
e
dimensõesem
aniáliseno
estudo.
No
capítulo
tr
éapresentado
o
quadro
concepfuale
a
matiz
teórica
necessiáriapara
fundameirtar aproblemática, nortear
a
colheita de dados e interpretar os resultados.A
metodologia é privilegiada no capítuloIII
e noIV
capítulo são apresentados e analisados os resultados.As conclusões e sugestões surgem como
aetapafinal
desta dissertagão.A fottílra, a escoh e o tmfulho iafantil.
CAPÍTTILO
I
PROBLEMÁTICA
.1. .., :.r: PanbditthoA fanília, a escola e o trafulho
iafantiL
TA PROBLEMATICA
Acfualmente, Íta oÍganiz:rção económica" a componente escolar é cada vez mais valorlrzad4 uma vez que é a qualidade do diploma que dita
"...a
orientação do empÍego e, por conseguinte, do estatutosocial..."
(Leandro 2000:32).Por forma a
apostarna
formação,a
escolmidade tendehoje a
prolongar-se na idade e no tempo.Daqü
decorre aentada
caÃavezmaistardianaüdaprofissional.
Contudo, ainda são
mútas
asfamíias
que se vêem na contingência de assistir aoabandono
escolar
de
seus
filhos para
ingressarem, precocemente,e
sem
grandesaspirações
em
termos
de futuro,
no
mercadode
habalho, muitas
vezesde
formaclandestina ou mais ou menos dissimulada
Ás
vezes
o
trabalho
infantil
começanas férias.
Há
imensos menones queaproveitam esses
hês
meses para ganhar atgrrm dinheiro paÍa compÍaraquilo
que os pais não podem dar: as sapatilhas, as calças de marca, os telemóveis... Depois ganhamgosto
pelo
dinheiro, que
normalmenteé
para
eles, passama
poder
compraro
que querem e perdem a vontade de estudar.Há
umaouta
realidade que se chama misériaem
que as famílias
passâmdificuldades porque
os pais
não
pode,mtabalhar,
por
questões
de
saúdeou
porque
foram
despedidosnuma
idade
em
que
já
não
têmpossibilidade
de
arranjar
um
novo
emprego,e
nesses casossão
os
menoÍes que assumemo
sustento da casaNo
fundo
estes factores resumem-senum:
dificuldadeseconómicas.
Um
outro
grupo de menores é posto atabalhar
porque os paispor
não terem estudado não reconhecem a importância da escola para a formação dos filhos.Para alguns menores,
o
trabalhoinfantil
não é simplesmente uma sscslhae masantes
uma
necessidadede
sobrevivênciafarniliar.
A
situação torna-semais
gÍave quando o percurso escolar destes menores é fortemente marcado pelo inzucesso escolar,deüdo
ao
decréscimo
de
incentivo
e
motivação
e
à
debilidade
das
condições económicas, sociais e culturais a que estão zujeitos.Num
esfudo sempaÍ,
com umaamosta
de26
mil
famflias
(com menores emidade escolar, cuja
opinião
foi
ouüda), incluindo
não sóo
tabalho
domicilirário, mas também algrrmas ocupações domésticas e a participação nas feiÍas agrícolas,dissipam-se de
vez as
especulações infundamentadasque,
em
1994, fizeram
fé
no
SenadoAmericano
(este citava
200
mil
crianças
a
"trbalhar"
em
Portugal).â fanília, a esoh e o trahlho
infantiL
SUma única criança explorada pelo trabalho, privada da sua
infincia
e com o seufuturo
comprometido,
devení
ser
motivo
da
nossa vergonha
e
pÍeocupação.Em
Portugal são
dezenasde
milhares
que ainda não vêem
respeitadoo
direitoconsagrado no art.o 32 da Convenção dos Direitos da
Criançaa"ser
protegtda contra a exploração económica ou a sujeição o trabolhos perigosos ou cqp(aes de comprometera
&ut
educação,prejudicar
a
suo
saúdeou
o
seu
desenvolvimentofisico,
menÍal,espiritual, moral ou social". E se o conceito de 'trabalho
infantil"
pode, por vezes, estarenvolto em ambiguidades,
a
clarcza da Convenção dos Direitos da Criança instrumento dalei
internacional, que inspira tambémo
nosso quadro legislativo, não pode oferecer quaisquer dúvidas. 'T,iele sefirma
uma base sólida pma a congregação de esforços dosorganis6e5 públicos, das associações de fiabalhadores de empregadores, .las ONG's e
de
todas
as
pessoasde
boa-vontade,numa
luta
sem
téguas
conta um
crime inqualificável, porque exercido sobre crianças indefesas" (Cardoso 1999).Por
outo
lado,o
ensino de gratuito não tem nada-
para se conseguir entrar nolo
escalão de apoio do Estado e ter acesso aoslivros
é preciso estar mesmo namiseria
Por isso se ofilho
rende na escola, os pais acham que [a frequência] vale apenq
se elechumba
um
ou
dois
anos
-
poÍque
o
ensino
não
respondeàs
suas dificuldadesespecíficas de aprendizagem
-
tiram-no da escola. E para algumas crianças estar sete aoito
horasdenfo
de uma sala de aulaa
ouvir
coisas que não entende é mesmo umaviolência.
Mas, e apesar das dissidências em torno da *qualidade do ensino", começa-se a assumir que o sucesso educativo dos menores depende de uma escola e de um ensino de qualidade, em que a isenção, a formação e a orientação seja apanrígo indispen*[vel no combate à ignorância e à exclusão, como é referido no Pacto Educativo datado de 1996.
Atendendo as particularidades dos grupos mais desfavorecidos social, material e
culturalmente,
o
referido
Pacto
prevê, pela
intervenção
do
Estado,
valorizar
osprincípios da
igualdadee
equidade.Princípios
esses que estllolonge de
serem uma realidadeno
sistema educativo ondeo
insucesso escolar fiaduzidono úsentismo
e/ou abandono escolar, se assume como a expressão mráxima dessa mesma realidade.Mas...onde estão os menorcs que abandonam a escola?
Quantos não estarão a ser explorados arealiz.ar
tabalho
por contad'outem,
ou aajudar em casa
(tabalho
doméstico)? Quantos,por
questões desobreüvênci4
estarão na marginalidade (pedofilia, prostituição, correios de droga...)?A fanília, a escola e o tmbalho
iafantiL
9Para
mútos
menoÍes
a
família
assume-seprimordialmente
como porta
deentada
ao trabalhoinfantil
clandestino, fimcionandocomo
entidade exploradora dos próprios menores, em detrimento da sua vertente de "porto de abrigo".Pensar a realidade do
tabalho
infantil
bem como as estratégias paÍa o erradicar,"obriga a um esforço de contextualizaçáo de fenómeno e implica a consideração de uma
abordagem sistémica
em que
o
foco não se centaliza
apenasna
problemática-Trabalho
Infantil
-
mas também na alteração dos hribitose
dasmentalidades"(Cúral
2001: on-line) dos sistemas envolventes:família
escola e comunidade.Mas a escola ainda será uma altemativa credível?
Tal
como a conhecemos, paramútas
crianças, a escola é totalmente desprovida de sentido. O fosso existente enüe o saber que a escola veicula e o pragmatismo do seudia
a di4
reforça
o
sentimentode
desvalorizaçãoe
inutilidade
do
conhecimento académico, enquanto esEatégia de mudança Este fosso é reforçado pela "exclusão dos interesses e potencialidades das crianças nos projectos educativos, e na ausência de um conceito de fonnaçãoao longo
davida
que integrea
educaçãono
fabalho
e para o frabalho como factor essencial ao sucessoe
àrealizaryão do serhumano.'
(Cúral200l:
onJine)
Esta
é a
escola que temos.Por
isso quando sefala
de
abandonoe
insucesso escolar, importa questionar se são os menores que abandonarn a escola ou é a escola que abandonaos
menores? Seo
fazempor
trecessidadede
contibuir
parao
sustento dafamília
ou
paÍa
fugir
se
um
sistemaque
sistematicamenteos
condiciona
na
sua capacidade de afirmação e participação ao negligenciaroutos súeres
e aprendizagens?O
sucesso passapor
diferentes caminhos, interesses e percursos, na medida emque todos
somos diferentese
temos
o
direito de
escolherde forma
consciente e informada 6 saminho a seguir.O
PETI
-
Programa paraPrevençãoe
Eliminação da Exploraçãodo
TrabalhoInfantil
criado pela Resoluçãodo
Conselho de Minismosn"
37120M de20
de Marçosucede ao Plano para Eliminação da Exploração do Trabalho
Infantil
(PEEIT). Com acriação
do PETI,
háum reforço
da componente preventiva dapolíüca
de combate à exploração do trabalhoinfantil.
O PETI destina-se a:
-
Menoresem
situação de abandono escolar sem terem concluídoa
escolaridadeobrigatória;
-,,-'":::::sT:T.":;triscodernserção'i:="::*ls
A fanílio, a es@la e o tmhlho infan
il.
l0
il;;.;,";;";;;;ffi
- Menores vítimas das piores formas de exploração;
O Programa propõe uma metodologia de planeamento, cujas fases fimdamentais são
3
§inalização,o
Diagnóstico
e
a
Intervençãoe
as
esfatégrassão
de
Preve,lrção eRemediação.
Figura
I
-
Metodologia de PlaneamentoI.G.T
I.S.H.S.TEMM
PETI C.P.C.J Tribunal/-/
Sem Intervengão
Fonte : h@ ://www.peti. gov.pt
Legenda:
IGT
-
Inspecção-geral do TrabalhoISHST
-
Instituto para a Seguranç4 Higiene e Saúde no TrabalhoEMM PETI-Eqüpas Móveis Multidisciplinares do PETI
CPCJ
-
Comissões de Protecção de Crianças e Jovens em Risco PIEF-
Programa Integrado de Educação/ FormaçãoCidadãos Tecnicos Intervenção
Local
da Entidade GestoraSINALIZAÇÃO
INTERYENÇÃO
DIAGNÓSTICO
ENCAMIN}AMENTO
Fim da Intervenção (Situação fora do ÂmUitoda intervenção PETI) Projectos de Férias PETI
REMEDIAÇÃO
PREVENÇÃO Regresso à escola Cursos de Formação P.I.E.F Ouhas Panh êodinhoÁ fotnília, a esolo e o trafulho
infanlil
ll
ffi;;;;,,'do
PErr
é
o
prEFi
Educação
e
Formação
-
que
tem
como objectivo
favorecer
o
cumprimento
da escolaridade obrigatória a menores e a certificação escolar e profissional de menoÍes apartir
dos 15 anos, em situação de exploração de trabalhoinfantil,
nomeadame,lrte nasformas
consideradas intoleráveispela
Convençãon.o 182
da OIT; tem
ainda
comoobjectivo
favorecer
o
cumprimento
da
escolaridadeobrigatória
associadaa
uÍDaqualificação profissional a menores com idade igual ou superior a 16 anos que celebrem conüatos de
tabalho.
O PIEF integra ainda um conjunto de medidas e acções orientadaspara
a
reinserção escolar, atravésda
integraçãono
percurso escolarregular
ou
da construção de percursos alternativos, escolares e de educação e/ou formação, incluindo actividadesde
educação extra-escolat,de
ocupaçãoe
orientaçãovocacional
e
de desporto escolar.Pelo
exposto, propusi-mecaracterizqr
a
vidafamiliar,
a
escolae
o
trabalhoinfanttl
dos menores integrados emPIEF no
ômbito
doprojecto
PETI
na
cidade de Évora.Em
tennos
mais
específicosprocurei
coracterizar
os
agregadosfarniliares
destes menores; descrever o
papel da
escola naformação, atracção
e
exclusão dosiovens; abordor
a
problemática
do
trabalho
infontíl
comofactor
impeditivo
daformação integral
dos menores e apresentar algumas propostas no sentido deprevenir
o trabalho infantil.
Conscierúe
da
subjectividade
da
realidade
e
dos princípios
inerentes
aoparadigma
qualitativo, como
sejao
facto
de e, segundo Firestone, Guba&
Lincoln
e McCracken adaptadospor
Creswell,o
investigador interactuarcom
o
objecto, haveruna
sobrecargade
valores
e
enviesamentos,o
processode
pesquisaser
indutivo, durantea
pesquisa são identificadasvárias
categorias estabelecendouma ligação
aocontexto
real,
desenvolvem-seteorias para
compreensãodo
fenómeno
estudado,confirmando
ou infirmando
os resultadosatavés
da veriÍicação @amos 2001), ouseivestir
o
papel de "investigador'
debruçar-mesobre
a
trilogia: Família,
Escola
eTrabalho Infanül, no âmbito do projecto PETI.
Propus-me realizar
um
esfudo descritivo, com mas características deum
estudo de caso, recorrendo à aplicação de uma ficha/inquérito (instnrmento que se situaente
oinquérito por
entevista
e o inquérito por quesüonário, como consta no anexo2)
dadaa
I Criado pelo
despacho conjunto n.o 882lgg de 28 de Setembro.
exiguidade da população inquirida. Com a recolha, ordenagão e classificação dos dados
foi
possível estabelecer relações entre as variáveis de forma a responder às questões de partida.A fonília, a escoh e o trafulho infontil. 12
. r=:.. .- - r.j:::r..:::ri-.:úsrj.r-sà'
A fanfl,a, o cs@b e o
fulho
infanliL j :ii l. ..: : , i;i.,ri i ir: : l:] t:: I ll Ii 'CAPÍTTII,O
II
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
PaubditthoA fqníln a escola e o trufulho infantil. 14
1-
A
FarÍIília
Num
Contexto
de
Mudança
Qualquer que seja o
tipo
de abordagem que se faz àfamfliq
há dois factores que estão permanentemente implícitos: o tempo e amudança.Quando se
fala
de
temponão
sefala
de
um
tempo
cronológico,Ítas
de
trm"tempo processr,mlo'(Relvas 1996), onde progressivamente se vão articulando diferentes papeis e posicionamentos. I
Para
Anthony
Giddens, estamos a assistir constantemente à ruptura dafamília
e ao regressoà
família
fadicional,
que se constifuía como uma unidade económica e, onde todos os elemerúos se envolüam na produgão. Para o autor afamflia
é'tm
campo de batalha entre a úadigão e a modernidade, mas é também uma metáfora para ambas" (Giddens 2001: 59)Michel
Adnersen (1984) refere que, paÍamütos
daqueles que se dedicam aoestudo
da
família,
nomeadamenteas
figuras mais
predominantes,o
verdadeiro conhecimento sobre a história e a evolugão dafamília,
exige uma especial aÍengão não sobre a estabilidade ou mudança de estrutura, mas sobre as mudanças de significados, olhando-separa
família
não como uma realidade mas antes oomo uma ideia, assim o defende Philippe Ariês na sua obra "Centuriesof
Childhood."A família
na óptica de Sampaio, sofreu"(...)
uma gronde evolução ao longo do tempo. (...) antes da revoluçãoindustrial
(..) afamília
era utn conjunto de pessoas que se uniapara
constituir
uma unidade deprodução
(.-.) e quantos maisfilhos
hontesse melhor, porque era importantehwer
muitas pessoaspwa pôr
a tmifude
afunciono-"
(Sampaio
1999
103). Desdemuito
cedo osfilhos
participavam navida
económica das famílias e as mulheres, para além detabalharem fora
de casa, também asseguravam o trabalho doméstico (Gemito20M).
Relativamente
à
participação
dos
menores
na
economia
familiar,
MartineSegalen
(1999
b)
refere
quepor
menor que
fosseo
salário
destes,ele
constituía a diferençaente
oeqúlíbrio
e amiséria.À
semelhançade
Sampaio(1999), também
Alneida
(1998),
ao
fazer
umaanálise retrospectiva
da
família
em
Portugal,conclú
queao longo
das décadas estainstituição
sofreu importantes mutações.O
nrimero de casais semfilhos
tem
vindo
aI
O modo çsps rrm pai ou uma mãe se relaciona com os seus filhos vai-se modificando de acordo com a idade destes e com alguns aspectos mais concretos da vida familiar, como seja o caso de um filho esfirdar
ou já trabalhar.
A fanília, a escola e o tatulho
infatiL
lS
aumeÍrtar significativarnente e nascem mais crianças fora do casamento, facto este que a
autora considera t
m indício
de novas formas de conjugalidade.A
par
de todas estas alterações, verifica-se também a crescente presença das mulheres no mundo do úabalho, o que causa grande impacto nas estruturas e nas relações familiares. Conforme aaúora,
to
"(...)
plono
dos valores
e
representações ocerca dafamílio e da
conjugalifude,mantendo-se
forte
a
valorização
da
importância
dafamília na vida
dos
indivíduos,sobressai a progressiva desvalorização
da
dimensão sacramentale
institucional
dos laçosconjugais." (Almeida
1998: 75-76). Face a este contexto, Slepoj diz-nos que hoje seatibui
"(...)
um maiorvalor
ao desenvolvimento e à afirmação pessoal eprocuram-se relações baseadas
no
dzsejo de conhecimerutoe
respeitorecíproco."(Slepoj
1998: 161).A
estrutura da família tradicional, o conceito de família bem como as referênciasculturais,
segrmdoPatício
(1995),
estãoa
mudar.
E
ainda
muito vulgar
ouvir
a expressão <<boas famílias»»e
é tendo em contatal
expressão queo aúor
se questionaÍrcerca
do
que
é
afinal uma boa família.
Senâesta
uma família com
princípios,conservadoÍa ou progressista? Com princípios morais, religiosos, financeiros... onde se
pode partilhar as coisas boas e menos boas, onde há regras,
limites,
dirâlogo, afectos e solidariedade?A
expressão «àoas famílias»», correspondemais
a
uma ideia
do
foro
social do que a uma realidade concretaLévi-Strauss
afirma
que, para se estudara
instituição família tem que
se"(...)partír
de um
modeloideal
do
que pensarnosser
afamília
"
(Lima
1,992:57).
Est§modelo ideal de Léü-Strauss, assenta em
tês
características:
naprimeira,
retém-se a noção de aliangamafimonial.
Queristo significar
que os laços de aliançamatimoniat
eram uma forma de estabelecer laços de afinidade enfre diferentes grupos, paÍa que as pequenas comunidades
não
ficassem fechadas.Assim,
o
marido
e a
mulher
eram procurados no seio deouto
grupo social; a segunda característica recai sobre o modeloda
família
conjugal.Aqui
é necessiário distinguir dois tipos fundamentais da instituiçãofamiliar: um
caracterizaa
familia
conjugal, que pode ser monogâmica,existindo
nonúcleo famiüar,
o
marido,
a
mulher
e
os
filhos
não
casados;ou
poligâmicae-
se o homemüver
viárias mulheres estamos peranteum
sistemapolieínico,
sefor
a mulher ater viirios
maridos, designa-sepor
sistemapoliândrico
-
o
oufio tipo
de
instituiçãofamiliar
alude à chamada família alargada ou extensa, na qual se enconffimtês
ou mais gerações. Este é umgupo
numeÍoso queinclui
os pais, os avós, osfilhos,
os sobrinhos,os
tios,
os primos...;a
terceirae
última
característicado
modeloideal
defamília
deÁ fanília, o esola e o tuzhlho infantiL 16
Lévi-strauss, refere-se aos laços legais,
ou
seja, centa-se numaproibição
de cariácteruniversal, isto é, a proibição do incesto. Relativamente ao
tipo
defamíli4
as alteraçõestambem são significativas, uma
vez
que
a
famíIia de hoje,
mais
do
que
nunca, é essencialmente monogâmica nuclear, salvaguardandoo
facto de, maioritariamente, nos meios rurais ainda ser possível encontrar algumas famílias extensas ou alargadas.Um
outo
autor,Luiz
Osório, classifica afamília
de acordo comtês
formaÍos brísicos: afarrília
nuclear (conjugal), a extensa (consanguínea) e a abrangente.A
famflia
nuclear é definida como sendo aquela queé
"(...)
constituídapelo
tripé pai-mãe-filhos.[A
famflia
extensa é aquela que é composta)... por
outros membros que tenham laços de porentesco...[tais como os avós,tios,
sobriúos,
etc.; afamília
abmngente englobatodos os elementos
já
referidos,incluindo
tambem]...
os não parentes quecoabitem"
(Osório 1996: 16)
O
autor sustenta quenum
casal comfilhos
os papéis familiares existeirtes são apenaso
de marido e
mulher.
Quando setrata de
uma
família
nuclear,os
papéis existentes são apenas o de mãe, pai, irmão efilhos.
Porém, nafamília
extensaincluem-se os papéis de avós,
tios
e demais parentes ou pessoas que coabitam na mesma casa.Por
vezes,nem
sempre os papeisfamiliares
são assumidospor
quem dedireito.
Por exemplo: quandoo
papel de mãe é desempenhadopoÍ
uÍna avó, ou mesmo pelo pai;quando o papel
futerno
é desempenhado pelo avô, ou quando o papelfilial
é depositadonum dos cônjuges cuja imaturidade emocional
o toma
carente aonível
da protecção ecuidados que normalmente são requeridos por uma criança.
Neste seguimento
-
de
quenem
sempre existeuma
correspondênciaenae
o personagem designado e o papel que lhe cabe desempenhar no seio da família-
Osório (1996) enuncia os elementos que definem os papéis familiares.No
que respeita ao papelconjugal, este
tem
sido
alterado
com
a
evolução
do
tempo,
pois
na
família
contemporânea, cadavez mais se confimdem os papéis do homem e da mulher navida
conjugal. Actualmente, ao afirmar-se que à mulher cabe
o
papel de cuidaÍ dolar
e ao homemo
de prover ao sustento dafamíliq
não só é, parao
autor, um modelo arcaico, como hoje em dia soa como um estereotipo ridículo. Destaformq
macho e femea "(--.)da espécie humona rituolizarn a
üdo
em comum ... emtorno
de prazeres e obrigaçõescompartidas, onde desejos
e
necessidades, assim como dirertose
deveres,já
não
se vincalam à identidade sexual e sim à condição humana e suíts circtmstôncias."
(Osório1996: 18). Quer
isto
significaÍ que,
o
papel cor{ugal
pressupõeque
exista
umainterdependência
ente
os
membrosque
formam
o
casal,de
tal
forma que
a
suarc
A fanília, d escob e o tmfulho infantiL
lT
*.""t".""t"
,",
"*-**
;;;;;
;;;
necessidades de cada um. O papel conjugal é assim delimitado por ideias, tais como, a coopeÍação, competição, simbiose, complementaridade, reciprocidade, etc. Mas o papel parental também
tem sofrido
alterações, na medida em que, estando inicialmente bem demarcados os papéis materno e paterno atavés da discriminação doprimeiro;
eaÃavezmais, na modemidade, as
atibúções
destes dois papéis são confimdidos na praxis.Ao
papel materno
cúia
a firnção de receptácúo das angustias dosfilhos,
além das tarefas de protecção e nutrigão; ao papel paterno cabia a função de cunha interposta entre mãe efilho
para indicar aoultimo
a necessidade de rentmciar à posse da mãe e dar seguimentoao
processo
de
indiüduação.
O
papel fratemo, oscila
enfie
a
rivalidade
e
a solidariedade, sendo igualmente possívelidentificar
esta dualidade de comportamentosna
relagãoente
marido
e
mulher
ou
ente
filho(s) e um
dos progenitores, estandotambém reproduzido
no
contexto social
aEavés das relações interpessoais. (Osório t9e6).De
acordocom
Almeida
(1998), em
Portugal,a família
nuclear representa omodelo dominante e todos os modelos üferentes deste são considerados como desvios que se repercutem negativamente na personalidade das crianças, no seu relacionamento
social
e
no
seu
sucesso escolar,visto que
após
a
ocorrênciade
um üvórcio
ouseparação, a recomtrrcsição
familim
envolve crianças do enlace anterior, o que preszupõea
existência
de
um
padrasto, madrastaou
ambos. "De
facn,
o
casamento dedivorciados temvindo a tornor-se umaformapredominante de matrimónio. (...) lEntão]
A
criança passas
sero actor
que confere especifictdadea
estasfamílias, alorgando'
lhes
asfronteiras drqvés de
uma rede cada vez mais vasta
de
relacionsmento§."(Almeida 1998:
7l-72).
E
de
acordo com todos
estes aspectosque
§urgem
as designaçõesde famílias
reconstituídase
de famílias
recompostas, paraidentificar
as configurações familiares com crianças de casamentos anteriores.As
alterações
ocorridas
nas
dinâmicas familiares
nos
ultimos
tem1rcs, deterioraram os laços afectivos entre pais e filhos, mas também possibiütaram àfamília
uma
maior
úertura, ou
seja, as relagões sãomais
autênücas e pessoais, nãoindo
de encontro ao quadrotadicional.
Apesar dos momentos de crise
e
das fansformaçõesde
quetem sido alvo,
afamília tem uma
grande capacidadede
sobrevivênciae
adaptação,pelo
que
ainda subsiste,facto que, de
acordocom
João Ferreirade
Almeida
referido
por
Gemito, revela aflexibilidade
e adaptabilidade da instituiçãofamiliar.
A
este propósito, MartineA fanílio, a es@la e o tmhlho infantil. 18
;
são
o
produto de forças sociais, económica.se
culturais comuns, sem que uma seja o resultado daouta"
(Segalen 1999 a:l0)
A fonília, o escob e o trafulho infantiL 19
1.1
-
Definição
De
Um
Conceito
Vrários têm sido os autores que, de forma tão esforçada
e
capaz se têm dedicadoao estudo da
família
e, maisaind4
à tentativa de definição deum
conceito.O
termo*família",
não prima pela especificidade, na medida em que, "Cobre uma variedade de experiências e de relações, masexclú
mútas
outras." (Saraceno 2003: 17) e porexistir
uma grande variabiüdade aonível histórico e cultural,
o
quepor
si
sójá
nos permiteindagar da complexidade de relagões e dimensões que coexistem no espaço «famflia»».
A
família
é uma instituiçâo natural que surge com o aparecimento do Homem, eque, ao longo dos tempos, tem sofrido mutações, no que se refere à sua forma enaixez.a
das relações.
A
enciclopédia Larousse define comofamília
o
"Conjunto
deindiüduos
unidos pelos laços
de
coqiugalidade,
consanguinidade,afinidade
ou
adopção.'(Larousse
2001:
2912).Alude
aindaao facto de,
a
definiçãode
família
seaplicar
a agregadoscuja
ríime'nsãopode
servariável,
consoante sejauma
família
nuclear ouextensa
Ao
tentardefinir o
conceito defamíli4
Osório afirma que esüa"(..)
não é umconcetto unívoco.
Pode-seaté afirmor,
radícalizmtdo,
que a
fomília
não
é
uma expressõo possível de conceituação, mas tão somente de descrições; ou seja, é possíveldescrever
as várias
estruturas
ou
modalidades assumidaspela
família
através dos tempos, mas nãodefini-la
ou encontrar algum elemento comum a todas asformas
com que se apresenta este grupo humsno."
(Osório 1996:l4).
Para
Alarcfu,
â
família não
é
somenteo
lugar onde
naturalmente todos nascemos,é também, "(...)um
grupo
institucionalizado, relstivamenÍe estóvel,e
queconstitui uma importante base
dovida
social."
(Alarcão 2000: 35).A
designaçãode farnília não pode
aplicar-se,
segundoTrosÇ
a
um
únicoindivíduo, porque
só um
gupo
pode ser uma
família, visto
que
a
mesma
"(...)
éformada
quando um casal se casa ou sejunta
a viver
no mesma cqso-
coabitação. Ooutro
meio deformar
umafamília
é
quando umacriança rusce e é
criadapela
mãesolteira
(ou pelopai)."
(Trost
1995: 56). Quandoum
casal tem umfilho
a família nãose
forma,
porqueà
partidajá
existia"logo,
a
chegadada
criança,ou
de uma
outracriança, significa que a família
foi
reformulada.Na perspectiva de Horton, a
família
"(...)
éa
instituição social básica, apartir
da qual outras se desenvolveram quando a maior complexidadecultaralfez
com que serc
A fanília, a escolo e o trafulho infantil. 20
-r -- *rr*0,'
166),P;;;;
famflia
comoo
primeiro e
o
mais marcante espaçode
rcalizaqão, desenvolvimento e consolidaçãoda
personalidade humana.É o
veículo mais
esüívelde
transmissão e aprofirndamentode
princípios éticos,
sociais, espirituais,
cívicos
e
educacionais,constituindo o verdadeiro fundarnento da sociedade e o seu alicerce espiritual.
Neves entende
os pais
como
"
(...)
osprimeiros
mestrese
educadores,e
a
educação dosfilhos
deve constituir a sua obraprima.
(...) O que osfilhos
procaram nospois
não são uns conhecimentos mais ou. tnenos omplos, mais ou menos acertad.os, masalgo
demuito nobre:
um testemunhodo
valor
edo
sentidofu
vida
encarnado rruma existência concreto, confirmado nas diversas circunstâncias e situações que se sucedemao longo
dos
anos."
§eves
1996:
20-
2l).
No
entantoe,
respeitandoa
linha
de pensamentode
Félix
(1994),
constaüa-sehoje
quea
família
perdeuo
monopólio
dainformação e fomração dos seus membros, que detinha
atéhá
algumas décadas atrás,repartindo
agoÍae,
crescentemente,o
seupapel com
a escolq a
imprensa,a
quase totaliLária presença dos meios audioüsuais e as grandes redes de telecomunicagões. Mas para o autor, continua a ser a primeira e decisiva instifuição de socialização dacrianç4
caindo num abismo se the faltar a vontade e a capacidade de renovação do presente e de compromisso activo perante o futuro.Num
determinado espaço e tempo, afamília
é uma unidade total constituídapor
uma totalidade de unidades, que são os indivíduos que a compõem.Atendendo à
mútiplicidade
de signiflcados e experiênciasaribúdas
à família,nenhum estudo, aniílise, reflexão, comentário, o que quer que sej4 pode ser exaustivo.
1.2
- Funções
da
Família
Tendo
em
contaas
funçõesda família
que
o
sociólogoMurdock
enuncia-sexual, reprodutor4 económica e educativa
-
aprincipal
alteração na fimção dafamflia
pos-indústrial
recai
sobrea
fimção
económica. Assiste-sea
esta alteração porque afamília
de hoje estiá mais ligada ao consumo do que propriamente à produção. Contudo,este facto é mais evidente nos meios urbanos,
visto
que nos rurais,lrcr
vezes, ainda seenconta a
unidadede
produçãoe
consumocomo função
económicada
família
A
fungão educativa dafamília
também sofreu profundas alterações, poisno
processo de socialização da criança não se pode desvaloizar o papel da instituição escolar. Quanto à firnção sexual e reprodutora, as alterações recaem sobre a primeira, uma vez que, ainda hoje, a reprodução é enquadrada na instituiçãofamiliar (Lima
1992).Nr.rma perspectiva mais actual, Osório (1,996)
diüde
deforma
esquem,ráüca, as funçõesda familia em
biológicas,
psicológicase
sociais. Contudo,não podem
ser esfudadas separadamente por estarem intimamente relacionadas. Actualmente, do pontode
üsta
biológico,
a função reprodutiva não é a tarefaprimordial
dafamília,
pois para gerar um novo ssr basta que haja intercurso sexual entre macho e fêmea, facto que pode acontecer fora dafamília
Assim, para oaúor,
a principal tarefa dafamília
consiste em assegurar a sobrevivência da espécie através dos cúdados minisüados aos novos seres.Quanto
à
função psicológica,a
mesma engloba comoprimeira e
firndamentalfirnção
a
de prover ao
alimento afectivo que
contribú
tanto
paÍa
a
sobrevivênciaemocional dos recém-nascidos, como paÍa a manutenção da homeostase psíquica dos outros membros da
família
e não só do bebé. Por esta mesma razÁo é tão importante a interacção afectivaente
os diversos elementos da família; a segunda frmção psicológica da família consiste em supemr as ansiedades existenciais dos seres humanos, de forma asuperar
as
chamadascrises
vitais;
a
terceira
e
ultima
diz
respeito
à
tarefa
deproporcionar
o
ambiente
adequadopara
a
aprendizageme
evolução
do
processocognitivo do ser humano
-
firnção que tem sido reportada paÍa a esfera pedagógica-
tal
como a
toca
de infonnações comtodo
o
sistema social.No
que concerne as fimçõessociais
da
farnflia,
dela
fazem parte
a
transmissão
das nonnas culturais
dos agrupamentos étnicos, bem como a preparação para o exercício da cidadania, tarefa estaque é delegada pela sociedade à
famflia
:'rj
A fanílh, o escola e o trafulho infon