• Nenhum resultado encontrado

INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA SOBRE VERBAS RESTITUÍDAS EM AÇÃO JUDICIAL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA SOBRE VERBAS RESTITUÍDAS EM AÇÃO JUDICIAL"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

74

INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA SOBRE

VERBAS RESTITUÍDAS EM AÇÃO JUDICIAL

Thiago Coelho Sacchetto1

Resumo: Consoante o art. 153, inciso III, da Constituição Federal, a base de cálculo para a incidência do Imposto de Renda poderá ser a renda e proventos de qualquer natureza dos sujeitos de direito tributados. Apesar da clareza do texto constitucional, dúvidas existem em relação à legalidade da incidência desse imposto sobre verbas restituídas de ações judiciais, que, em decorrência da natureza indenizatória que lhes caracteriza, não podem ser qualificadas como fato gerador do tributo apto ao surgimento da obrigação tributária. Nesse diapasão, examina-se a possibilidade de deduzirem-se valores relativos a verbas auferidas em ações judiciais da base de cálculo do Imposto de Renda, em consonância com as regras infraconstitucionais pertinentes à matéria e com a orientação predominante dos Tribunais Superiores.

Palavras-Chave: Imposto de Renda; Tributação de Receitas; Verbas Restituídas em Ação Judicial.

Abstract: According to art. 153, item III, of the Federal Constitution, the basis of

calculation for the incidence of Income Tax may be the income and earnings of any nature of taxed subjects. Despite the clarity of the constitutional text, doubts exist regarding the legality of the incidence of this tax on sums recovered from lawsuits, which, due to the indemnity nature that characterizes them, can not be qualified as a taxable event triggering the tax liability . In this passage, it is examined the possibility of deducting amounts related to amounts obtained in lawsuits from the basis of calculation of Income Tax, in accordance with the infra-constitutional rules pertinent to the matter and with the predominant orientation of the Superior Courts.

Keywords: Income tax; Taxation of Revenue; Values Restituted in Judicial Action.

1 Doutorando em Direito Político pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Ciências

Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL). Pós graduado em Advocacia Pública pelo Instituto para o Desenvolvimento Democrático (IDDE). Graduado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Foi pesquisador em Direito Público na Università degli Studi di Roma - La Sapienza. É membro da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/MG. Membro do Corpo de Avaliadores da Revista Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor do Instituto para o Desenvolvimento Democrático. Professor da Faculdade de Direito do Centro Universitário UNA. Advogado com ênfase em Direito Constitucional, Direito Eleitoral, Direito Administrativo, Direito Tributário e Direito do Consumidor. Autor de artigos e trabalhos acadêmicos.

(2)

75

1. FATO GERADOR DO IMPOSTO DE RENDA E LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA.

Como é cediço, a Constituição Federal brasileira concedeu à União Federal a competência tributária para instituir e cobrar o imposto sobre a renda e proventos, determinando em seu art. 153 que: “Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) III - renda e proventos de qualquer natureza;”.

Por sua vez, o diploma normativo responsável por estabelecer o fato gerador do Imposto de Renda no ordenamento jurídico brasileiro foi o Código Tributário Nacional (CTN), que determinou como hipóteses materiais para a incidência do referido tributo à aquisição de disponibilidade econômica, ou jurídica, de renda, ou proventos de qualquer natureza. É ver:

Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos;

II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior2.

Considerando a delimitação material do âmbito de alcance do Imposto de Renda estabelecida no caput do art. 43 do Código Tributário Nacional, para se determinar se verba porventura auferida é passível, ou não, de tributação pelo imposto é imprescindível que se examine, em cada circunstância, se ela caracteriza-se propriamente como aquisição patrimonial e, assim, se verdadeiramente constitui-se em fato gerador do imposto.

Embora o Decreto n.º 3.000/99 (RIR/99)3 seja norma especial responsável por regulamentar as hipóteses de dedução e isenção tributária, e por qualificar propriamente

2 BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Código Tributário Nacional. Dispõe sobre o Sistema

Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 out. 1966. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5172.htm>. Acesso em: 30 out. 2018.

3 BRASIL. Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999. Regulamenta a tributação, fiscalização, arrecadação

(3)

76

o que são rendimentos tributáveis, ou não, pelo Imposto de Renda no sistema nacional, pela sua natureza jurídica de norma secundária, o RIR/99 é norma jurídica subordinada aos ditames prelecionados no Código Tributário Nacional.

Isto implica em reconhecer que na sistemática tributária brasileira do Imposto de Renda, antes de se analisar se determinado importe constitui-se em rendimento tributável, ou não, nos termos estabelecidos pelo RIR/99, faz-se necessário examinar se este importe qualifica-se como fato gerador do imposto nos termos prelecionados pelo Código Tributário Nacional.

2. FATO GERADOR DO IMPOSTO DE RENDA E DISTINÇÃO ENTRE AQUISIÇÃO PATRIMONIAL E RECOMPOSIÇÃO PATRIMONIAL.

No que diz respeito ao Imposto de Renda, embora os agentes fazendários entendam de forma recorrente que qualquer adição ao patrimônio do contribuinte constitua em fato jurídico autorizador à incidência deste tributo, a jurisprudência dos tribunais judiciais há muito tem firmado o entendimento de que verbas indenizatórias, cuja função seja recompor o patrimônio do contribuinte, não são alcançáveis pelo imposto nos termos do art. 43, caput, do CTN.

Neste sentido, ao julgar o Recurso Extraordinário n.º 117.887-6/SP, o Supremo Tribunal Federal há tempos já se manifestou que o conceito de "renda e proventos de qualquer natureza", que abarcam as hipóteses de incidência do Imposto de Renda, somente se consubstanciam com a existência de acréscimo patrimonial ocorridos no auferimento destes aportes:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. RENDA - CONCEITO. Lei n. 4.506, de 30.XI.64, art. 38, C.F./46, art. 15, IV; CF/67, art. 22, IV; EC 1/69, art. 21, IV. CTN, art. 43. I. - Rendas e proventos de qualquer natureza: o conceito implica reconhecer a existência de receita, lucro, proveito, ganho, acréscimo patrimonial que ocorrem mediante o ingresso ou o auferimento de algo, a título oneroso. C.F., 1946, art. 15, IV;

República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 29 mar. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3000.htm >. Acesso em: 30 out. 2018.

(4)

77

CF/67, art. 22, IV; EC 1/69, art. 21, IV. CTN, art. 43. II. - Inconstitucionalidade do art. 38 da Lei 4.506/64, que institui adicional de 7% de imposto de renda sobre lucros distribuidos. III. - R.E. conhecido e provido4.

Todavia, em que pese estar pacificado na jurisprudência o entendimento de que o Imposto de Renda incide somente quando verificado o fator aquisição patrimonial, quando auferidas rendas ou proventos, a grande problemática que atualmente se coloca perante os órgãos administrativos e judiciais consiste na discordância entre o Fisco e os contribuintes acerca do que propriamente configuraria a existência do fato imponível “acréscimo patrimonial”.

A propósito, os contribuintes têm argumentado com satisfatórios resultados de êxito nas instâncias judiciais e administrativas que os valores oriundos do pagamento de indenizações não são objeto de incidência do Imposto de Renda, eis que não se classificariam propriamente como riqueza nova ou acréscimo patrimonial, e assim, não seriam capazes de concretizar o fato gerador deste tributo.

Neste diapasão, tem-se sustentado que indenizações recebidas para reparar dano previamente cometido não implicam em fato caracterizador de acréscimo patrimonial, mas sim em fato de recomposição do patrimônio, que visa primordialmente levá-lo ao estado que se encontrava antes do evento danoso, e não propriamente adicionar riqueza a sua composição.

Com efeito, diversos acórdãos do Superior Tribunal de Justiça têm reconhecido a impossibilidade de se tributar pelo Imposto de Renda os importes recebidos a título de indenização, considerando que as referidas verbas não se consubstanciariam em fato gerador do tributo por se prestarem somente a recompor o patrimônio atingido pelo ato ilícito. É ver:

TRIBUTÁRIO - IMPOSTO DE RENDA - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - NATUREZA DA VERBA - ACRÉSCIMO PATRIMONIAL - NÃO-INCIDÊNCIA - PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL - PRECEDENTES DO STJ.

4 BRASIL. Supremo Tribunal Federal – STF. RE 118887 – Relator Min. Carlos Velloso – julgado em

(5)

78

1. A indenização por danos materiais e morais não é fato gerador do imposto de renda, pois limita-se a recompor o patrimônio material e imaterial da vítima, atingido pelo ato ilícito praticado.

2. A negativa de incidência do imposto de renda não se faz por força de isenção, mas em decorrência da ausência de riqueza nova – oriunda dos frutos do capital, do trabalho ou da combinação de ambos – capaz de caracterizar acréscimo patrimonial.

3. A indenização por danos morais e materiais não aumenta o patrimônio do lesado, apenas o repõe, pela via da substituição monetária, ao statu quo ante.(...)5

Nesta ótica, ao avaliar a legalidade ou ilegalidade da incidência do Imposto de Renda sobre pagamentos efetuados, o Superior Tribunal de Justiça usualmente tem se detido na análise da natureza dos pagamentos (se remuneratórios ou indenizatórios) para determinar que verbas indenizatórias auferidas, na maioria dos casos, não são alcançáveis pelo imposto. Transcreva-se outro precedente:

DIREITO CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS DECORRENTES DE ACIDENTES DE VEÍCULOS. TRANSAÇÃO CELEBRADA PELAS PARTES INSTITUINDO PENSIONAMENTO, MEDIANTE INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO MENSAL. RETENÇÃO INDEVIDA DE IMPOSTO DE RENDA NA FONTE.

Diante de transação em que as partes instituem pensionamento mensal, com inclusão em folha de pagamento, pondo fim a demanda indenizatória, os pagamentos conservam a natureza indenizatória da origem da obrigação, não havendo fundamento para retenção do imposto de renda na fonte.

Recurso Especial provido6.

A confirmar esta orientação, o critério de exame da natureza das verbas porventura auferidas (se remuneratórias ou indenizatórias) tem sido utilizado de forma

5 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça – STJ. REsp 1068456 – Relatora Min. Eliana Calmon – julgado

em 18.06.2009 – DJ 01.07.2009. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 30 out. 2018.

6 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça – STJ. REsp 1012843 – Relator Min. Sidnei Beneti – julgado em

(6)

79

pacífica pelo STJ nas lides envolvendo desapropriações, para aplicar o entendimento de que não incide Imposto de Renda sobre os montantes pagos ao desapropriado em razão de que estas verbas possuem caráter indenizatório, e assim, não possuem por escopo adicionar riqueza ao patrimônio do indenizado. Ilustre-se:

TRIBUTÁRIO E ADMINISTRATIVO. NÃO INCIDÊNCIA DE IMPOSTO

DE RENDA SOBRE INDENIZAÇÃO DECORRENTE DE

DESAPROPRIAÇÃO. RESP. 1.116.460/SP, REL. MIN. LUIZ FUX, DJE 9.12.2009. REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.

AGRAVO REGIMENTAL DA FAZENDA NACIONAL NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça entende que não incide Imposto de Renda sobre verba recebida a título de indenização decorrente de desapropriação, seja por necessidade ou utilidade pública, seja por interesse social, por não constituir ganho ou acréscimo patrimonial. Precedente firmado sob o regime do art. 543-C do CPC: REsp. 1.116.460/SP, Relator Ministro Luiz Fux, Dje 1º.2.2010.7

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART.543-C, DO CPC. IMPOSTO DE RENDA. INDENIZAÇÃO DECORRENTE DE DESAPROPRIAÇÃO. VERBA INDENIZATÓRIA. NÃO-INCIDÊNCIA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA.

1. A incidência do imposto de renda tem como fato gerador o acréscimo patrimonial (art. 43, do CTN), sendo, por isso, imperioso perscrutar a natureza jurídica da verba percebida, a fim de verificar se há efetivamente a criação de riqueza nova: a) se indenizatória, que, via de regra, não retrata hipótese de incidência da exação; ou b) se remuneratória, ensejando a tributação. Isto porque a tributação ocorre sobre signos presuntivos de capacidade econômica, sendo a obtenção de renda e proventos de qualquer natureza um deles. (...)

5. Deveras, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido da não-incidência da exação sobre as verbas auferidas a título de indenização advinda de desapropriação, seja por necessidade ou utilidade

7 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça – STJ. AgRg no REsp 1266748 – Relator Min. Herman Benjamin

– julgado em 11.04.2013 – DJ 09.05.2013. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 30 out. 2018.

(7)

80

pública ou por interesse social, porquanto não representam acréscimo patrimonial. (...)8

Portanto, considerando que verbas pagas por indenização não se destinam propriamente a remunerar certa prestação ou determinado bem alienado a fim de acrescentar riqueza ao patrimônio do destinatário – mas possui o escopo de dar-lhe uma compensação financeira pela privação a que foi submetido – o caráter de recomposição patrimonial destes pagamentos tem se consolidado na jurisprudência do STJ9, e a ocorrência do fato gerador aquisição patrimonial do Imposto de Renda tem sido afastada nesses casos e em muitos outros similares.

Seguindo a mesma orientação jurídica, de forma ainda vacilante, a jurisprudência administrativa também tem reconhecido que verbas indenizatórias não são tributáveis pelo Imposto de Renda, embora grande parte dos agentes fiscais ainda insistam em seguir orientação diversa. A propósito, cite-se o teor da Solução de Consulta n.º 61/13 formulada pela COSIT e publicada em 01/08/13:

DANO MATERIAL. ISENÇÃO. Para que o valor da indenização recebida se situe fora do campo de incidência do imposto de renda, impõe-se comprovar que o montante recebido pela via judicial se vincula à efetiva perda patrimonial sofrida por ação de terceiros, não havendo tributação até o montante dessa perda. E a parcela que ultrapassar essa perda deve ser tratada como rendimento tributável, na fonte e na declaração anual de ajuste do beneficiário.

Dispositivos Legais: Código Tributário Nacional, artigos 43 e 111; Decreto nº 3.000/1999 (RIR/99) artigo 219, parágrafo único; e Lei nº 9.718, de 1998, art.9º.

8 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça – STJ. REsp 1116460 – Relator Luiz Fux – julgado em 09.12.2009

– DJ 01.02.2010. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 30 out. 2018.

9 Cite-se a propósito o teor das Súmulas n.º 125 e 136 do STJ, que prescrevem não incidir o Imposto de

Renda sobre verbas indenizatórias auferidas no pagamento de férias, ou licença-prêmio, não gozadas: Súmula 125: “O pagamento de férias não gozadas por necessidade do serviço não está sujeito à incidência do Imposto de Renda.”.

Súmula 136: “O pagamento de licença-prêmio não gozada por necessidade do serviço não está sujeito ao imposto de renda.”

A comprovar a atual orientação do STJ de que não incide o Imposto de Renda sobre verbas de caráter indenizatório, transcreva-se ainda o teor da Súmula n.º 498 deste mesmo tribunal:

(8)

81

Ementa: JUROS MORATÓRIOS. São tributáveis os juros moratórios de qualquer natureza, inclusive os que resultarem de sentença, e quaisquer outras indenizações por atraso de pagamento, exceto aqueles correspondentes a rendimentos isentos ou não tributáveis.

DISPOSITIVOS LEGAIS: Decreto nº 3.000/1999, art. 55, XIV.Lei No- 11.774, de 2008, art. 14, § 5º10.

Não obstante, embora a jurisprudência majoritária do STJ, e parte da jurisprudência administrativa, entenda não ser possível à incidência do Imposto de Renda na maioria dos casos que existam o estipêndio de verbas indenizatórias (como nas desapropriações, pagamento de férias não gozadas, indenização por danos materiais, e morais, etc), em algumas situações nas quais ocorre o pagamento de indenização por dano material ela tem sido admitida ao fundamento de que a hipótese de acréscimo patrimonial se configuraria..

3. FATO GERADOR DO IMPOSTO DE RENDA E DISTINÇÃO ENTRE AQUISIÇÃO PATRIMONIAL E RECOMPOSIÇÃO PATRIMONIAL NA INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL.

Para se compreender com mais exatidão os critérios adotados pela jurisprudência para autorizar a incidência do IR sobre o pagamento de verbas indenizatórias em alguns casos, e em outros não, a classificação doutrinária efetuada com fulcro nos arts. 186 e 187 do Código Civil que divide em subespécies as hipóteses de dano material (possível causa para o pagamento de indenização) é deveras esclarecedora.

Com base nesta classificação, cingem-se as hipóteses de dano material em duas subespécies compostas pelo: i) dano emergente; e ii) dano por lucro cessante; em que o montante do primeiro é calculado de acordo com o dano que a vítima efetivamente sofreu, e o do segundo, com base no que a vítima deixou de lucrar com a ocorrência do fato danoso.

10 COSIT. COSIT - Coordenação-Geral de Tributação. Processo de Consulta 61. Data de Publicação: 01

(9)

82

Lastreado na referida classificação, o STJ já se manifestou que a importância paga para indenizar o dano emergente (dano efetivamente verificado no patrimônio da pessoa), e que não ultrapassa o seu valor não se consubstancia em hipótese de acréscimo patrimonial, eis que presta somente a reconstituir eventual perda ocorrida e, por isto, não dá azo à incidência do Imposto de Renda.

Todavia, o Colendo Tribunal já asseverou em outro sentido que, quando a indenização paga se destinar a compensar ganho que porventura deixou de ser auferido (lucro cessante), ou porventura ultrapassar o dano efetivamente verificado no patrimônio da pessoa, estar-se-ia configurada uma situação de acréscimo patrimonial alcançável pelo Imposto de Renda. É o que se depreende entre vários julgados proferidos, com o teor do acórdão proferido no REsp n.º 1011261, cuja a didática ementa abaixo se reproduz:

TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. PAGAMENTO DE

INDENIZAÇÃO POR ROMPIMENTO DO CONTRATO DE TRABALHO NO PERÍODO DE ESTABILIDADE PROVISÓRIA. NATUREZA. REGIME TRIBUTÁRIO DAS INDENIZAÇÕES.PRECEDENTES.

1. O imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador, nos termos do art. 43 e seus parágrafos do CTN, os "acréscimos patrimoniais", assim entendidos os acréscimos ao patrimônio material do contribuinte.

2. O pagamento de indenização pode ou não acarretar acréscimo patrimonial, dependendo da natureza do bem jurídico a que se refere.Quando se indeniza dano efetivamente verificado no patrimônio material (= dano emergente), o pagamento em dinheiro simplesmente reconstitui a perda patrimonial ocorrida em virtude da lesão, e, portanto, não acarreta qualquer aumento no patrimônio. Todavia, ocorre acréscimo patrimonial quando a indenização (a) ultrapassar o valor do dano material verificado (= dano emergente), ou (b) se destinar a compensar o ganho que deixou de ser auferido (= lucro cessante), ou (c) se referir a dano causado a bem do patrimônio imaterial (= dano que não importou redução do patrimônio material)11.

CONCLUSÃO

11 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça – STJ. REsp 1011261 – Relator Teori Albino Zavascki – julgado

(10)

83

Portanto, de acordo com o que se expôs até aqui, tendo em conta que inexiste previsão no Decreto n.º 3.000/99 (RIR/99) permitindo a dedução ou isentando do Imposto de Renda as verbas recebidas em decorrência de decisão judicial12, para opinarmos com base na jurisprudência dos Tribunais Superiores e administrativos se as verbas a serem restituídas aos Consulentes devem sofrer a incidência do IR, ou não, faz-se imprescindível discorrer sobre as suas especificidades e a sua natureza jurídica.

Após examinar-se a natureza jurídica das verbas a serem restituídas aos Consulentes, e determinar se elas se caracterizam como: i) verbas indenizatórias decorrentes de dano emergente causado; ii) verbas indenizatórias decorrentes de dano por lucros cessantes causados; ou se caracterizam como: iii) verbas remuneratórias, torna-se possível opinar se os importes a serem pagos podem se qualificar como fato gerador do Imposto de Renda, ou não.

Tendo em vista que futuras mudanças legislativas, administrativas ou jurisprudenciais podem interferir significativamente nas conclusões ora discutidas, a temática deve ser periodicamente examinada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Supremo Tribunal Federal – STF. RE 118887 – Relator Min. Carlos Velloso – julgado em 11.02.1993 – DJ 23.04.1993. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 30 out. 2018.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça – STJ. REsp 1068456 – Relatora Min. Eliana

Calmon – julgado em 18.06.2009 – DJ 01.07.2009. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 30 out. 2018.

12 Embora por via argumentativa, seja possível sustentar que o artigo 681, §5º do RIR/99 traz em sua

deontologia a finalidade de isentar do Imposto as verbas destinadas a reparar danos patrimoniais: “Art. 681. Estão sujeitas ao imposto na fonte, à alíquota de quinze por cento, as multas ou quaisquer outras vantagens pagas ou creditadas por pessoa jurídica, ainda que a título de indenização, a beneficiária pessoa física ou jurídica, inclusive isenta, em virtude de rescisão de contrato (Lei n º 9.430, de 1996, art. 70). (...)

§ 5 º O disposto neste artigo não se aplica às indenizações pagas ou creditadas em conformidade com a legislação trabalhista e àquelas destinadas a reparar danos patrimoniais (Lei n º 9.430, de 1996, art. 70, § 5 º ).

(11)

84

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça – STJ. REsp 1012843 – Relator Min. Sidnei

Beneti – julgado em 05.11.2008 – DJ 17.02.2009. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 30 out. 2018.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça – STJ. AgRg no REsp 1266748 – Relator Min. Herman Benjamin – julgado em 11.04.2013 – DJ 09.05.2013. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 30 out. 2018.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça – STJ. REsp 1116460 – Relator Luiz Fux – julgado em 09.12.2009 – DJ 01.02.2010. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 30 out. 2018.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça – STJ. REsp 1011261 – Relator Teori Albino

Zavascki – julgado em 18.03.2008 – DJ 28.04.2008. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 30 out. 2018.

BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Código Tributário Nacional. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 out. 1966. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5172.htm>. Acesso em: 30 out. 2018. BRASIL. Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999. Regulamenta a tributação, fiscalização, arrecadação e administração do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 29 mar. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3000.htm >. Acesso em: 30 out. 2018.

CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 26ª Edição. São Paulo: Martins Fontes.

COÊLHO. Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Forense.

COSIT. COSIT - Coordenação-Geral de Tributação. Processo de Consulta 61. Data de Publicação: 01 out. 2013.

PAULSEN, Leandro; VELLOSO, Andrei Pitten. Contribuições: teoria geral, contribuições em espécie. 2ª Edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado.

TORRES, Heleno Taveira. Direito constitucional tributário e segurança jurídica: metódica da Segurança Jurídica do Sistema Constitucional Tributário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.

Referências

Documentos relacionados

RENDIMENTOS TRIBUTÁVEIS RECEBIDOS DE PESSOA JURÍDICA PELO TITULAR IMPOSTO COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA Sem Informações.. RENDIMENTOS TRIBUTÁVEIS RECEBIDOS DE PESSOA JURÍDICA

RENDIMENTOS TRIBUTÁVEIS RECEBIDOS DE PESSOA JURÍDICA PELO TITULAR (IMPOSTO COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA).

RENDIMENTOS TRIBUTÁVEIS RECEBIDOS DE PESSOA JURÍDICA PELO TITULAR (IMPOSTO COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA).

RENDIMENTOS TRIBUTÁVEIS RECEBIDOS DE PESSOA JURÍDICA PELO TITULAR (Valores em Reais) NOME DA FONTE PAGADORA

RENDIMENTOS TRIBUTÁVEIS RECEBIDOS DE PESSOA JURÍDICA PELO TITULAR (Valores em Reais) NOME DA FONTE PAGADORA

RENDIMENTOS TRIBUTÁVEIS RECEBIDOS DE PESSOA FÍSICA E DO EXTERIOR PELO TITULAR.

RENDIMENTOS TRIBUTÁVEIS RECEBIDOS DE PESSOA JURÍDICA PELO TITULAR (IMPOSTO COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA).

RENDIMENTOS TRIBUTÁVEIS RECEBIDOS DE PESSOA JURÍDICA PELO TITULAR (IMPOSTO COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA)..