• Nenhum resultado encontrado

Poder geral de cautela e as medidas cautelares “ex officio”

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Poder geral de cautela e as medidas cautelares “ex officio”"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)Revista de Direito Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008. PODER GERAL DE CAUTELA E AS MEDIDAS CAUTELARES “EX OFFICIO”. RESUMO Fábio Marcelo Rodrigues Centro Universitário Anhanguera Unidade Leme fabionpj@hotmail.com. O ordenamento processual consagrou o poder geral de cautela permitindo ao juiz determinar medidas provisórias, denominadas atípicas ou inominadas. Este poder integrativo da atividade jurisdicional justificou-se pela impossibilidade de previsão abstrata de todas as situações de perigo para o processo principal. Para sua concessão verificou-se necessária a presença do fumus boni juris e do periculum in mora. O artigo se ateve a análise do poder geral de cautela do juiz e a controvertida questão da possibilidade de sua concessão “ex officio”. Para melhor compreensão do tema, foram colacionadas distinções entre a tutela cautelar e a tutela antecipada. Concluiu-se que só em casos excepcionais, autorizados por lei, poderia o juiz determinar medidas cautelares sem a audiência das partes e só em ação já em curso, e não antes, como medida preparatória, pois assim estaria sendo violado o princípio da inércia da jurisdição. Palavras-Chave: Cautelar, tutela antecipada, poder geral de cautela.. ABSTRACT The processual ordinance consecrated the general power of caution, allowing the judge to determine provisional measures called atypical or nameless. This integrative power of the jurisdictional activity was justified by the impossibility of the abstract forecast of all the dangerous situations for the main process. The article clung to the analysis of the general power of caution and the controversial issue of the possibility of its concession “ex-officio”. For a better understanding of the theme, distinctions were collated between the protective and the anticipated tutelages. It was concluded that, only in exceptional cases, allowed by law, could the judge determine protective measures without the parts audience, and only in an action already in progress, never before, as a preparatory measure, otherwise the principle of the inertness of the jurisdiction would be violated. Anhanguera Educacional S.A.. Keywords: Caution, in advance guardianship, general caution power.. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 05/05/2008 Avaliado em: 04/06/2008 Publicação: 24 de outubro de 2008 117.

(2) 118. Poder geral de cautela e as medidas cautelares “ex officio”. 1.. INTRODUÇÃO O Poder Geral de Cautela e as Medidas Cautelares Ex Officio, como não poderia deixar de ser, inicia-se com o conceito do referido poder, com enfoque na atividade jurisdicional cautelar, traçando-lhe em seguida seus limites. Depois se revela o princípio da inércia da jurisdição, para melhor compreensão da controvérsia instalada em cima da cautelar de ofício e encerra-se com foco voltado para o poder concedido ao juiz para proteção da eficácia da atividade jurisdicional e os requisitos para concessão da medida cautelar ex officio.. 2.. A ATIVIDADE JURISDICIONAL CAUTELAR Para melhor entendimento acerca da atividade jurisdicional acautelatória, vislumbrase impingir confronto entre a tutela jurisdicional de cognição, a de execução e a cautelar. As duas primeiras modalidades compõem a categoria de tutela jurisdicional exaustiva, diferenciando da tutela cautelar que é instrumental. Com a maestria que lhe é peculiar, Luiz Orione Neto leciona a respeito dessa distinção: Assim, a tutela jurisdicional de conhecimento e a execução tendem a ser exaustivas e definidas no sentido de não carecerem de qualquer complementação de atividade jurisdicional. Melhor dizendo, não têm função específica de servirem como garantia da efetividade de outro tipo de prestação jurisdicional, uma vez que ambos bastam por si mesmos. (2002, p. 44).. Ainda sobre a distinção colaciona-se a doutrina de Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pelegrine Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, que lecionam: O processo de conhecimento (ou declaratório em sentido amplo), provoca o juízo, em seu sentido mais restrito e próprio: através de sua instauração, o órgão jurisdicional é chamado a julgar, declarando qual das partes tem razão. Objeto do processo de conhecimento é a pretensão ao provimento declaratório denominado sentença de mérito. (2004, p. 305).. Através do processo de conhecimento ou cognição, o juiz analisa a pretensão exposta na petição inicial pelo autor, eventual resposta apresentada pelo réu e as provas produzidas para proferir sentença de mérito, acolhendo ou rejeitando a pretensão do autor. Neste processo o juiz declara o direito. Todavia, poderá o processo ser julgado extinto sem resolução do mérito, nas hipóteses relacionadas no artigo 267º, do Código de Processo Civil. Nessas situações não há declaração de direito, mas nem por isso o processo deixa de ser de cognição; o que se verifica é uma forma anormal de ex-. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 117-128.

(3) Fábio Marcelo Rodrigues. tinção do processo. Quanto ao processo de execução, os citados doutrinadores lecionam: A função jurisdicional não se limita à emissão de sentença, através do processo de conhecimento. Além de formular concretamente a regra jurídica válida para a espécie, é necessário atuá-la, modificando a situação de fato existente para adaptá-la ao comando emergente da sentença: forma-se então o título executivo necessário para que esta possa ser concretamente atuada [...] Seu resultado específico é o provimento satisfativo do direito do credor, denominado provimento executivo. (2004, p. 305).. O processo cautelar não objetiva solução definitiva da controvérsia em torno da relação jurídica material, mas previne, de forma emergencial e provisória, a situação da lide contra as alterações de fato ou de direito que possam ocorrer antes da decisão final no processo de conhecimento ou na satisfação do processo de execução. Com essa atividade acautelatória busca-se evitar o dano decorrente da inevitável demora do provimento jurisdicional: eis aqui o periculum in mora, um dos requisitos de concessão da liminar juntamente com o fumus boni iuris, caracterizado na probabilidade de um futuro provimento jurisdicional favorável ao autor. Dessa forma, pode-se conceituar a atividade jurisdicional cautelar como sendo a atividade desenvolvida pelo juiz, tendo como instrumento o processo cautelar, cujas regras estão inseridas no Livro III, do Código de Processo Civil, artigos 796º ao 889º, que têm por fim, diante da emergência verificada, a tutela cautelar, que por sua vez objetiva a garantia e a efetividade do processo de conhecimento ou de execução. Ou, nas palavras de Vicente Greco Filho: A Medida cautelar é a providência jurisdicional protetiva de um bem envolvido no processo; o processo cautelar é a relação jurídica processual, dotada de procedimento próprio, que se instaura para a concessão de medidas cautelares. (2003, p. 154).. O bem jurídico, em virtude do tempo, corre perigo de deterioração ou perda, de forma que a atividade jurisdicional de cognição ou executiva pode se tornar inútil. A cautelar assegura a conservação desse bem.. 3.. CARACTERÍSTICAS DAS MEDIDAS CAUTELARES As medidas cautelares destinadas à conservação de um bem jurídico e à efetividade do processo principal apresentam características que lhe são peculiares, o que possibilita distingui-las dos outros provimentos jurisdicionais. Os estudiosos do direito enumeram as seguintes: autonomia, porquanto ela se inicia através de uma petição inicial, desenvolve-se dentro do procedimento previsto. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 117-128. 119.

(4) 120. Poder geral de cautela e as medidas cautelares “ex officio”. nas regras do Código de Processo Civil, e encerra-se por sentença. Esta característica fica mais acentuada quando vista pelo lado da objetividade, pois seu fim difere do processo principal; neste busca-se a sentença de mérito ou a satisfatividade de um direito já reconhecido, naquele visa-se à tutela cautelar que assegure a eficácia do processo principal; acessoriedade, neste sentido o processo cautelar existe em função do processo principal. Objetivando a medida cautelar garantir a eficácia do provimento a ser proferido na ação de conhecimento ou na executiva, sem a pretensão de caráter material não existe o processo principal; provisoriedade, notada pelo fato de que a medida cautelar deve gerar efeito até que a medida definitiva a substitua ou cesse a situação de emergência e de perigo que fundamentou sua concessão; instrumentalidade, por ser meio de assegurar a eficácia da tutela advinda do processo principal, sendo instrumental em relação a este; revogabilidade, umas vez que as medidas cautelares conservam sua eficácia no prazo do artigo antecedente e na pendência do processo principal, mas podem, a qualquer tempo, ser revogadas ou modificadas e fungibilidade, porquanto elas poderão ser substituídas, de ofício, ou a requerimento de qualquer das partes, pela prestação de caução ou outra garantia menos gravosa para o requerido, sempre que adequada e suficiente para evitar a lesão ou repará-la integralmente.. 4.. REQUISITOS PARA CONCESSÃO DA MEDIDA Além das condições gerais da ação como a legitimidade de parte, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido, a ação cautelar tem como requisitos de concessão da liminar e pressuposto de procedência a fumaça do bom direito e o perigo da demora, que se apresentam também nas expressões latinas - fumus boni iuris e periculum in mora. O fumus boni iuris consiste na probabilidade ou possibilidade da existência do direito amparado da pretensão principal invocado pelo requerente da medida. O juiz, na apreciação deste primeiro requisito, o fará, não em cognição exauriente ou exaustiva, mas em cognição sumária ou superficial. Sua análise não demanda conhecimento pleno e certeza absoluta dos fatos, por isso é que na cautelar não se ingressa no mérito da pretensão principal. Para seu deferimento basta apenas a probabilidade de que o direito invocado exista. A cognição judicial, no momento da apreciação deste requisito, é sumária e superficial por imposição advinda do caráter urgente da medida. Esse caráter impede um exame profundo dos fatos, ou seja, um conhecimento pleno de provas, mesmo. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 117-128.

(5) Fábio Marcelo Rodrigues. porque, para isso, haveria necessidade de instrução e ampla defesa, incompatíveis com a urgência da medida preventiva da lesão de dano ao direito e à efetividade do processo principal. A respeito do conhecimento superficial do juiz para se convencer da presença do requisito tratado, Ovídio Araújo Baptista da Silva leciona: A urgência que é o verdadeiro “pano de fundo” a legitimar a jurisdição cautelar impõe que o julgador proveja baseado em cognição sumária e superficial que a doutrina costuma indicar com fumus boni iuris, impedindo a segurança que um julgamento fundado em prova plena, capaz de conduzir pela natureza da tutela cautelar, insere-se definitivamente na classe dos processos sumários, sob dois aspectos: a demanda cautelar é sumária não só sob o ponto de vista material, como além disso exige-se uma forma sumária de procedimento, por via do qual ela se haverá de realizar. Não se pode pensar em verdadeira tutela de simples segurança instrumentalizada por meio de um procedimento ordinário, pois a urgência é uma premissa inarredável de todo provimento cautelar. A cognição exauriente que o magistrado tivesse que desenvolver, quando fosse convocado para prestar a tutela cautelar, além de supérflua e inútil, seria incompatível com a urgência que se presume sempre existente. (2002, p. 51-59).. Da lição apontada verifica-se que os elementos - probabilidade do direito invocado e natureza emergencial da medida - impõem a analise superficial dos fatos. São esses elementos que caracterizam o requisito comentado. A não presença do fumus boni iuris, isto é, a não demonstração pelo requerente da cautela, da existência da probabilidade do direito que ampararia a sua pretensão principal, terá por conseqüência o indeferimento da liminar e por fim o não acolhimento do pedido cautelar. O segundo requisito cristaliza-se no perigo da demora ou, em expressão latina, periculum in mora, que consiste no possível risco a uma das partes da ação principal, em decorrência da demora do julgamento desta. O risco da demora deve ser acrescentado do perigo de dano de difícil reparação ou irreparável ao direito da parte. Assim, não é suficiente para a concessão da cautela apenas o fator demora, devendo estar presente o perigo de dano que poderá tornar inútil à prestação jurisdicional principal. Deve-se levar em conta que o dano deve ser de difícil reparação ou irreparável; ao contrário não se defere a medida cautelar. Esse requisito vem delineado no artigo 798º do Código de Processo Civil ao estabelecer que poderá o juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave ou de difícil reparação. Havendo receio de lesão grave ou de difícil reparação ao direito de uma das partes, se esta lesão se efetivar, conseqüentemente afetará o resultado prático do pro-. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 117-128. 121.

(6) 122. Poder geral de cautela e as medidas cautelares “ex officio”. cesso de conhecimento ou de execução. Para a concessão da medida, deverá o requerente demonstrar essa possibilidade na petição dirigida ao juiz, que, concluindo pela sua presença, deferirá a medida pleiteada. Alguns doutrinadores têm afirmado a existência de dois tipos de situação de perigo: a que gera risco de dano irreparável ou de difícil reparação para o direito substancial e a que provoca risco de dano irreparável para a efetividade do processo. Sobre esse assunto colaciona-se o magistério de Alexandre Freitas Câmara: A doutrina mais autorizada tem afirmado a existência de dois tipos distintos de situação de perigo, nos termos do que aqui se faz. Fala-se em pericolo di infruttuosità e em pericolo di tardività. O primeiro dos tipos de periculum in mora corresponde às situações de perigo para a efetividade do processo principal, já que este não seria frutuoso (ou seja, não produziria bons resultados). Para esses casos adequada será a tutela cautelar. O segundo tipo de periculum in mora é o perigo de morosidade, em que se verifica a existência de risco de dano para o direito substancial, caso em que será adequada a tutela antecipatória. (2005, p. 37).. De uma forma ou de outra, isto é, tratando-se de lesão grave de difícil reparação ou irreparável ao direito material ou de situação que põe em perigo a efetividade do processo principal, presente uma das situações, a rigor a medida deverá ser concedida. Na prática, tanto a cautelar como a antecipação de tutela, poderão ser pleiteadas, independentemente de ser uma situação ou outra. Isso em razão do artigo 273º, do Código de Processo Civil, parágrafo 7º, que objetivou dirimir as controvérsias instaladas sobre questões envolvendo indeferimento de medidas urgentes sob o auspício de que, para o caso, adequada seria a medida cautelar e não a antecipação dos efeitos da tutela ou vice-versa, pois conforme a citada norma se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado. Desse modo, diante da situação de perigo, seja a que coloca risco à efetividade do processo ou a que poderá lesionar o direito material da parte, o que deve prevalecer é a tomada de medida que proteja a parte interessada. O fumus boni iuris e o periculum in mora apresentam-se como requisitos para concessão da liminar e elementos que, se provados, levarão a convicção do magistrado para o acolhimento da pretensão acautelatória. Estes requisitos não constituem condições da ação cautelar, como defendem alguns doutrinadores. Para esta conclusão, basta examinar a hipótese em que o sujeito, a título de exemplo, pretende medida cautelar para suspensão da divulgação do seu nome junto aos serviços de proteção ao crédito, inserido por requerimento de uma instituição financeira. Assim, ingressa com o pedido. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 117-128.

(7) Fábio Marcelo Rodrigues. e pretende liminar. Junta na inicial documento demonstrando a inscrição, mas nada prova até aquele momento que a negativação é indevida, argumentando que o fará na oportunidade da ação principal de inexistência de débito, por exemplo. Ora, o requerente é parte legítima, há interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido. Não tem como o magistrado extinguir a ação por falta de uma de suas condições. No caso, poderá a liminar ser indeferida por faltar-lhe um dos requisitos - o fumus boni iuris. Indeferida a liminar, o procedimento cautelar seguirá seu trâmite até julgamento simultâneo com a ação principal. Referidos requisitos, portanto, consistem em pressupostos de concessão da liminar ou procedência da pretensão acautelatória.. 5.. O PODER GERAL DE CAUTELA E AS MEDIDAS CAUTELARES EX OFFICIO O Código de Processo Civil consagra o poder geral de cautela no artigo 798º ao estabelecer que além dos procedimentos cautelares específicos, que o Código regula poderá o juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave ou de difícil reparação. Pela leitura do dispositivo verifica-se que o juiz poderá determinar as medidas cautelares que julgar adequadas, além daquelas específicas previstas no Código de Processo Civil. Trata-se das chamadas medidas inominadas ou atípicas. Referidas medidas têm fundamento no fato de que não é possível ao legislador prever todas as situações de perigo para o processo. Desse modo, pode-se conceituar o poder geral de cautela como sendo o poder atribuído ao juiz para conceder medidas cautelares atípicas, sempre que presentes os já outrora mencionados requisitos para sua concessão, sem que para o caso o Código de Processo Civil preveja medida específica ou nominada adequada. O legislador disciplinou os procedimentos cautelares mais comuns. Mas, em razão do fundado receio de lesão grave ou de difícil reparação, o juiz da causa poderá determinar medidas protetivas, como autorizar ou vedar a prática de determinados atos, ordenar a guarda judicial de pessoas e depósitos de bens e impor prestação de caução. Alexandre Freitas Câmara fornece o seguinte conceito:. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 117-128. 123.

(8) 124. Poder geral de cautela e as medidas cautelares “ex officio”. O poder geral de cautela é, portanto, um poder atribuído ao Estado-Juiz, destinado a autorizar a concessão de medidas cautelares atípicas, assim compreendidas as medidas cautelares que não estão descritas em lei, toda vez que nenhuma medida cautelar típica se mostrar adequada para assegurar, no caso concreto, a efetividade do processo principal. Trata-se de poder que deve ser exercido de forma subsidiária, pois que se destina a complementar o sistema, evitando que fiquem carentes de proteção aquelas situações para as quais não se previu qualquer medida cautelar típica. (2005, p. 47).. Vicente Greco Filho leciona que: O pode cautelar geral do juiz atua sob duas formas a) quando a parte, presentes os pressupostos, requer a instauração, preventiva ou incidental, de processo cautelar, pleiteando medida não prevista no rol legal e, portanto, chamada inominada; b) nos próprios autos do processo de conhecimento ou de execução, quando uma situação de emergência exige a atuação imediata do juiz independentemente de processo cautelar e mesmo de iniciativa da parte. (2003, p. 156).. Em suma, não havendo previsão específica que ampare o pedido de medida cautelar face à situação de perigo que torne inútil a atividade jurisdicional por lesar direito da parte, poderá o juiz, a requerimento da parte interessada, de modo incidente no processo principal (conhecimento ou execução) ou preparatório desses processos, ou de ofício, mas nestes casos, só em caráter incidental, determinar medida cautelar inominada.. 6.. OS LIMITES DO EXERCÍCIO DO PODER GERAL DE CAUTELA O magistrado encontra limites para exercitar o poder geral de cautela. Primeiramente, entendem os doutos que o juiz somente poderá exercer o poder geral de cautela quando presentes os requisitos de concessão de medida cautelar atípica e de acordo com o pedido elaborado pelo requerente. Além disso, outro limite que deve ser observado é o da necessidade. A tutela jurisdicional só será prestada quando necessária. Dessa forma, não sendo a medida cautelar necessária ela não deve ser deferida. Por derradeiro, também não pode o juiz conceder medidas satisfativas do direito do demandante, pois estaria concedendo aquilo que não é próprio das medidas cautelares, cujo objetivo é, em suma, garantir a eficácia da ação principal. Como se pode ver, o magistrado não pode ao seu alvedrio conceder medidas cautelares. Estas somente poderão ser deferidas quando necessárias para evitar lesão ao direito da parte e, conseqüentemente, para garantia da efetividade do processo principal e ainda estiveram presentes os já comentados requisitos inerentes à medida cautelar - fumus boni iuris e periculum in mora. Além do mais, o juiz não poderá conce-. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 117-128.

(9) Fábio Marcelo Rodrigues. der medida de cunho satisfativo, pois estaria desvirtuando a finalidade da cautelar e corrompendo suas características de provisoriedade e instrumentalidade. A respeito do limite de atuação do juiz quando do exercício do poder geral de cautela, Vicente Greco Filho doutrina: Deve ele manter-se nos estritos termos da essência das medidas cautelares, qual seja a provisoriedade, a proteção direta ou indireta a um direito que pode ser deferido no futuro e a sua real necessidade. Não pode, pois, o juiz, ao deferir medidas cautelares, quando da mesma natureza do pedido principal, ultrapassar os limites máximos do próprio direito a ser hipoteticamente concedido, nem antecipar a execução para ganhar tempo da satisfação do possível credor, nem violar a coisa julgada. Ainda, não deve o juiz pretender substituir pela providência cautelar o cabimento de um processo de conhecimento ou executivo e também substituir por uma medida inominada a medida expressamente disciplinada que, por falta de requisito legal, não pode ser concedida, como acima já se disse. (2003, p. 157).. Portanto, são esses os limites que devem ser observados pelo juiz no julgamento de concessão da medida cautelar.. 7.. O PRINCÍPIO DA INÉRCIA DA JURISDIÇÃO Em razão de o tema tratar de medida concedida de ofício pelo juiz, mostra-se relevante para sua compreensão a análise do princípio da inércia da jurisdição. Referido princípio está consagrado no artigo 2º do Código de Processo Civil que estabelece: “Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais”. O processo se origina por iniciativa da parte; daí a expressão latina: nemo judex sine actore; ne procedat judex ex officio. Pode desse modo provocar a atividade jurisdicional a parte ou interessado; este no caso de jurisdição voluntária. Em decorrência desse princípio tem-se que os órgãos jurisdicionais são inertes. Não existe exercício espontâneo da jurisdição, a não ser em exceções previstas na própria ordem jurídica. A título de exemplo, podem ser iniciados de ofício pelo juiz: o inventário (CPC, artigo 989º); a exibição de testamento (CPC 1129); a arrecadação de bens de herança jacente (CPC, artigo 1142º), etc. Comentando o princípio da inércia da jurisdição, Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarca asseveram:. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 117-128. 125.

(10) 126. Poder geral de cautela e as medidas cautelares “ex officio”. Outra característica da jurisdição decorre do fato de que os órgãos jurisdicionais são, por sua própria índole, inertes (nemo judex sine actore; ne procedat judex ex officio). O exercício espontâneo da atividade jurisdicional acabaria sendo contraproducente, pois a finalidade que informa toda atividade jurídica do Estado é a pacificação social e isso viria em muitos casos a fomentar conflitos e discórdias, lançando desavenças onde elas não existiam antes. (2004, p. 132-133).. Percebe-se disso que a atividade jurisdicional deve se movimentar para solução do conflito de interesse somente quando solicitada pela parte interessada.. 7.1. Os requisitos para concessão da medida cautelar ex officio Como já discorrido, o poder geral de cautela permite que o juiz determine providências de natureza cautelar que não estejam previstas expressamente e que não tenham sido requeridas. Isto se permite porque impossível ao legislador prever todos os perigos que poderiam levar à inutilidade do processo principal por lesão ao direito perseguido. Para concessão dessas medidas cautelares deverão estar presentes requisitos que permitam ao juiz deferi-la. Primeiramente, deverão estar presentes os requisitos de concessão das cautelares em geral, isto é, o fumus boni iuris e o periculum in mora. Também deverá existir processo em curso, pois em razão do princípio da inércia da jurisdição, não pode o juiz iniciar atividade jurisdicional de ofício, a não ser naquelas exceções já noticiadas e que estão expressamente previstas em lei. No mais, deverá o juiz observar os já citados limites para concessão da medida através do poder geral de cautela. Por fim, trava-se na doutrina discussão acerca da possibilidade de o juiz conceder providência de natureza cautelar de ofício, ou seja, sem requerimento da parte. A discussão centraliza-se no fato de que essa possibilidade contrariaria o já mencionado princípio da inércia da jurisdição. No mais, entendendo-se ser possível a concessão de ofício, essa providência poderia ocorrer somente de forma incidental, ou seja, em processo em curso, ou poderia também ser concedida sem processo em curso. Luiz Guilherme Marinoni refere-se à existência de três correntes: [...] a que entende somente possível a concessão de ofício da medida cautelar nos casos previstos no artigo 797º, do Código de Processo Civil; a que admite a concessão irrestrita da cautela de ofício; e a que entende ser possível a determinação de ofício da medida somente após a parte iniciar o processo. (1994, p. 69).. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 117-128.

(11) Fábio Marcelo Rodrigues. O entendimento que mais se coaduna com o ordenamento jurídico vem da terceira corrente, pois não há como admitir a concessão de medida cautelar sem antes ter sido provocada a atividade jurisdicional. Desse modo, enquanto não ajuizada a ação, o juiz não pode determinar medida cautelar, iniciando-se atividade jurisdicional não pleiteada. No entanto, com o processo em curso, o juiz poderá conceder medida cautelar de ofício em casos excepcionais ou quando autorizado por lei. Assim, se o processo estiver em curso e se verificar risco para sua efetividade e também com a proteção e segurança dos direitos ameaçados, presentes os requisitos antes apontados, o juiz poderá, em razão do poder geral de cautela, conceder medida cautelar sem requerimento da parte.. 8.. CONCLUSÃO Após abordagem do tema chega-se à conclusão de que ao juiz possibilita-se, através do poder geral de cautela determinar medidas provisórias, denominadas de medidas atípicas ou inominadas, além das chamadas medidas típicas ou nominadas. Este poder é integrativo da atividade jurisdicional em decorrência da impossibilidade do legislador de prever todas as situações de perigo para o processo principal, que poderiam levar à sua inutilidade e ineficácia. No mais, o magistrado não poderá, ao seu alvedrio, conceder medida liminar. Para isso, verifica-se necessária a presença do fumus boni juris e do periculum in mora, requisitos de concessão da medida cautelar. Esta somente poderá ser deferida quando necessária para evitar lesão ao direito da parte e, conseqüentemente, para garantia da efetividade do processo principal. Além do mais, o juiz não poderá conceder medida de cunho satisfativo, pois estaria desvirtuando a finalidade da cautelar e corrompendo suas características de provisoriedade e instrumentalidade. Com relação à possibilidade de concessão de medida cautelar de ofício pelo juiz, conclui-se ser possível a concessão dessa providência somente de forma incidental, ou seja, em processo em curso e não em caráter preparatório ou sem qualquer demanda em andamento, pois se estaria desrespeitando o princípio da inércia da jurisdição.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 117-128. 127.

(12) 128. Poder geral de cautela e as medidas cautelares “ex officio”. Esse o entendimento que mais se coaduna com o ordenamento jurídico, pois não há como admitir a concessão de medida cautelar sem antes ter sido provocada a atividade jurisdicional. Desse modo, enquanto não ajuizada a ação, o juiz não pode determinar medida cautelar, iniciando-se atividade jurisdicional não pleiteada pela parte ou interessado. No entanto, com o processo em curso, o juiz poderá conceder medida cautelar de ofício em casos excepcionais ou quando autorizado por lei. Assim, se o processo estiver em curso e se verificar risco para sua efetividade e também com a proteção e segurança dos direitos ameaçados, presentes os requisitos antes apontados, o juiz poderá, em razão do poder geral de cautela, conceder medida cautelar sem requerimento da parte.. REFERÊNCIAS CÂMARA, Alexandre Freitas Câmara. Lições de Direito Processual Civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2005. CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do Processo. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 3 v. MARINONI. Luiz Guilherme. Tutela Cautelar e Tutela Antecipatória. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. NETO, Luiz Orione. Liminares no Processo Civil e Legislação Processual Civil extravagante. 2. ed. São Paulo: Lejus, 2002. SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Do Processo Cautelar. 2. ed. São Paulo: Forense, 2002. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Teoria Geral do Processo e do Processo de Conhecimento. 47. ed. São Paulo: Forense, 2007. THEOTONIO, Negrão. Código de Processo Civil e Legislação Processual em vigor. 40. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de Processo Civil. Processo Cautelar e Procedimentos Especiais. 8. ed. São Paulo: RT. 2008.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 14, Ano 2008 • p. 117-128.

(13)

Referências

Documentos relacionados

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

Após a colheita, normalmente é necessário aguar- dar alguns dias, cerca de 10 a 15 dias dependendo da cultivar e das condições meteorológicas, para que a pele dos tubérculos continue

Para preparar a pimenta branca, as espigas são colhidas quando os frutos apresentam a coloração amarelada ou vermelha. As espigas são colocadas em sacos de plástico trançado sem

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

Acreditamos que o estágio supervisionado na formação de professores é uma oportunidade de reflexão sobre a prática docente, pois os estudantes têm contato

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

Neste estudo foram estipulados os seguintes objec- tivos: (a) identifi car as dimensões do desenvolvimento vocacional (convicção vocacional, cooperação vocacio- nal,

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no