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A questão da equivalência funcional em tradução juramentada - O caso do francês da Suíça

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Revista Brasileira de Tradutores

Nº. 17, Ano 2008

Maria Emília Pereira Chanut Universidade Estadual Paulista

chanut@ibilce.unesp.br

A QUESTÃO DA EQUIVALÊNCIA FUNCIONAL

EM TRADUÇÃO JURAMENTADA

O caso do francês da Suíça

RESUMO

A noção de equivalência adquire, em tradução jurídica, uma signi-ficação bem particular, na medida em que os aspectos culturais e as diversidades sociopolíticas dos sistemas jurídicos determinam o uso dos termos em documentos oficiais. A tradução e a versão ju-ramentada lidam, antes de tudo, com a necessidade de informar, esclarecer e confirmar a legalidade do ato administrativo, notarial ou jurídico. Como esclarece Antoine Berman (1991) “no caso do texto especializado, o que é transmitido é um conjunto delimitado de informações delimitadas relativas a um domínio ele próprio delimitado pertencente a este conjunto que denominamos as ‘tec-nologias’” (p. 11). É essa dimensão pragmática da noção de equi-valência que interroga o tradutor quanto à questão da “confiabili-dade” na tradução juramentada: a precisão (literalidade) exigida do tradutor jurídico ou juramentado dependeria, paradoxalmente, de termos aparentemente equivalentes na forma e no significado, mas inadequados no uso, pelo fato de estarem prisioneiros da tra-dição histórica e jurídica na qual se desenvolveram.

Palavras-Chave: Equivalência funcional, tradução jurídica, aspectos culturais, diversidades sociopolíticas, Berman.

ABSTRACT

The notion of equivalence takes on a very particular meaning in legal translations, as cultural aspects and social-political diversities of legal systems determine the use of terms in official documents. Official translations deal above all with the need to inform, clarify and confirm the legality of the administrative, notarial or legal act. As explained by Antoine Berman (1991) “in cases of specialized texts, a delimited set of delimited information regarding a delim-ited domain of what we call “technologies” (p. 11). It is this prag-matic dimension of the notion of equivalence that questions the translator as to the “reliability” of official translations: the accuracy (literality) demanded from the legal or official translator depends, paradoxally, on apparently equivalent terms both in form and meaning, but inadequate in terms of use, prisoners of the historical and legal tradition they belong to.

Keywords: Equivalence, legal translation, cultural aspects, social-political diversities, Berman.

Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato

Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181

rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação

Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original

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1.

INTRODUÇÃO

No Brasil, os cursos de Letras que oferecem Bacharelado ou Licenciatura em língua francesa têm como referência maior a variante nacional da França. Assim, quase todo o material didático para aprendizagem do idioma francês é produzido nesse país e é, portanto, marcado pela cultura que lhe é própria. Essa bibliografia veicula um vocabu-lário em uso na França e raramente oferece uma perspectiva francófona, ou seja, não prevê um estudo das variantes lingüísticas nacionais (francês da Bélgica, do Canadá, da Suíça, e outras) na formação do estudante brasileiro.

Os cursos de Tradução em nível de Graduação, Pós-Graduação e Especializa-ção com HabilitaEspecializa-ção em Língua francesa oferecidos pelas Universidades brasileiras também seguem essa tendência, de modo que o tradutor, muito freqüentemente, rece-be uma formação que privilegia o francês da França. Assim, salvo em casos específicos, em que o brasileiro que estuda a língua francesa tenha interesse particular em conhecer especificidades de outro país francófono, a grande maioria tem na França seu único re-ferencial para a aprendizagem da língua e da cultura.

A França é, sem dúvida, uma das maiores referências mundiais no que con-cerne à cultura e aos estudos científicos em diferentes áreas, porém não é exclusiva e, sobretudo, não é o único país francófono com quem o Brasil mantém relações interna-cionais de todo tipo. Essas relações fazem-se por meio de documentos, cujas traduções (sobretudo as oficiais e/ou juramentadas) são freqüentemente solicitadas, tendo como origem ou destino diferentes países de língua francesa.

É de conhecimento geral que, de um lado, há uma grande semelhança entre o francês da França e o do Quebec canadense, o da Bélgica, o de cantões da Suíça e o das diversas ex-colônias francesas; semelhanças que não permitem considerá-los idiomas distintos; por outro lado, existem diferenças marcantes no que concerne a alguns ele-mentos lingüísticos, sobretudo ao léxico e a seus usos. Esse aspecto ganha relevância ainda maior nos domínios técnicos, científicos e especializados, notadamente naqueles em que a organização social e política impõe particularismos em nível lingüístico. Es-sas singularidades, determinadas por questões culturais, exprimem-se mais fortemente nos textos oficiais e administrativos. O aspecto das variantes nacionais ganha ainda mais relevância, portanto, quando se trata da tradução, juramentada ou não, de textos legais. Cada país, cada nação e, em certos casos, cada região ou estado, têm seu próprio

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sistema político, administrativo e jurídico e estes, por sua vez, estão intimamente liga-dos aos costumes e valores socioculturais nacionais ou locais.

A Suíça tem uma particularidade importante em relação à França: é uma Con-federação (helvética), em que ocorre o plurilingüismo e a interinfluência de diferentes culturas dentro do próprio país. Na criação do Estado federal moderno, em 1848, a Suí-ça adotava quatro línguas nacionais oficiais: alemão, francês, italiano e romanche, po-rém, desde 1938, o artigo 116 da Constituição federal suíça considera o romanche “na-cional”, mas não “oficial” (ROSSILLON, 1995, p.60). As três línguas oficiais podem ser empregadas nas relações administrativas em nível federal, porém respeitando o prin-cípio da “territorialidade das línguas”, ou seja, os cantões têm o direito de fixar suas línguas oficiais e impor o uso exclusivo delas em seu território (ROSSILLON, 1995, p. 61). Dos 26 cantões, quatro são exclusivamente francófonos: Genebra, Vaud, Neuchâtel e Jura; três são bilíngües, francês-alemão: Valais, Friburgo e Berna.

O tradutor é, portanto, passível de receber a incumbência de traduzir ou ver-ter textos de ou para o francês da França ou de outro país francófono. Nesse sentido, o tradutor deverá estar preparado para enfrentar os particularismos lingüísticos da lín-gua francesa nas diferentes variantes nacionais. A tradução juramentada não é exigida sistematicamente em todos os países, como é o caso do Brasil em relação a quase todo material traduzido para fins oficiais. Porém, pelo fato de essa traduçãoter valor legal, as conseqüências de uma inadequação do texto traduzido/vertido podem ser desastro-sas para as partes envolvidas. Além disso, no Brasil, o tradutor juramentado fica ex-posto às sanções previstas pelos órgãos que regulamentam a profissão.

Outro detalhe muito importante que distingue as culturas francesa e suíça da brasileira em relação a essa especialidade dos documentos oficiais está no fato de que os certificados de registro civil são emitidos naqueles países pela administração pública (municipal, regional, departamental ou cantonal) enquanto, no Brasil, eles são expedidos e oficializados por tabelionatos ou cartórios. Essa situação colabora para aumentar os obstáculos no estabelecimento da equivalência dos termos.

Além disso, o caráter pouco freqüente da solicitação de traduções para outro país francófono parece gerar uma prática tradutória independente de consultas a bibli-ografias especializadas originalmente redigidas em francês de outros países francófo-nos. Tal situação suscitou-nos uma indagação acerca da prática da tradução de textos oficiais, juramentados ou não, tal como exposto no início desta introdução, e que só pode ser respondida mediante uma pesquisa aprofundada sobre o assunto.

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A reflexão atual se propõe a examinar a noção de “equivalência funcional”. A prática confirma que, nesse tipo de tradução, o tradutor, além de possuir profundo co-nhecimento nas duas línguas em questão e alguma familiaridade com a linguagem car-torária e jurídica, deve buscar concretamente em ambas as línguas os termos “corres-pondentes”, aqueles suficientemente semelhantes e explícitos em sua “equivalência funcional”, a fim de garantir a compreensão e a comunicação e, principalmente, a con-fiabilidade. Em outras palavras, trata-se de traçar o que é admissível e assimilável a título funcional, uma vez que se trata de cumprir um ato de comunicação pertinente e eficaz na cultura de recepção.

As dificuldades terminológicas se refletem diretamente no uso da língua, por-tanto, o que mais preocupa é que tais termos podem, algumas vezes, estar disfarçados por semelhanças terrivelmente enganosas. Há muitos termos cujos significantes apa-rentemente “equivalentes” (caso de homônimos, parônimos e outros, cuja semelhança morfológica é resultante de mera coincidência fonética ou gráfica) são relativamente próximos — às vezes, idênticos —, ao passo que seus significados ou usos são distin-tos. Sem contar que há numerosos falsos cognatos ou locuções semelhantes na expres-são significante que fazem, em cada país ou região, referências a realidades ou situa-ções legais e jurídicas distintas.

Uma das preocupações inerente a essa questão da variante regional ou nacio-nal de uma língua interroga, primeiramente, o tradutor juramentado brasileiro, pois, ainda que ele consiga superar a ausência de uma formação jurídica específica em sua atividade, indagamos se estaria eventualmente atento às possíveis diferenças que uma variante nacional pode ter em relação à língua padrão (no caso, o francês da França é considerado o padrão). Em segundo lugar, não se pode ignorar a falta de material dis-ponível e ao alcance imediato do tradutor, pois é do conhecimento geral que, muito freqüentemente, esses materiais bibliográficos nem existem, ou são muito limitados. Ainda que numa hipótese otimista exista tal material especializado, nem sempre há tempo hábil para obtê-lo, uma vez que essa prática se desenvolve, muito freqüente-mente, em situações de prazos curtíssimos, quando não emergenciais. A Internet, em-bora tenha trazido um auxílio inestimável ao trabalho do tradutor, não consegue ainda suprir todas as necessidades do tradutor e ainda estamos longe das condições ideais. De qualquer modo, além das diversidades lingüísticas, a tradução sempre impõe no-vos desafios perante as inovações sociais, técnicas e tecnológicas. Não é por acaso que a pesquisa terminológica e lexicológica é cada vez mais valorizada e tem obtido inves-timentos de grande vulto.

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2.

SOBRE OS ASPECTOS SOCIOPOLÍTICOS E HISTÓRICO-CULTURAIS

Segundo Keller (1992), no final do século XIII, três regiões do território suíço aliaram-se a fim de defender sua independência diante das potências soberanas européias que as rodeavam. Essa aliança passou a ser chamada, no final do século XIV, de “Alliance des confédérés”, constituindo uma confederação de Estados cujo sistema jurídico baseava-se em convenções escritas de princípios jurídicos, militares e políticos — as “cartas federativas”. Cada região procurava, porém, no âmbito dessa confederação, preservar sua independência e caráter específico, negando-se a se submeter a uma unidade. Por essa razão, o território da Suíça, até o final do século XVIII (Revolução francesa), não conheceu nenhuma forma de Estado unitário. Em 1803, ocupada por Napoleão, a antiga Confederação de estados foi obrigada a tornar-se uma República federativa controlada pela França. Passado o período de ocupação napoleônica, as tentativas posteriores de unificação se viram sempre frustradas diante das divergências políticas e dos interesses econômicos particulares de cada região. Embora a estrutura política tenha se beneficiado com significativas alterações desde a ocupação francesa, o modelo de administração centralizada, pouco conforme à tradição e à cultura dos povos suíços, revelou-se impróprio e dificilmente aplicável. Em 1874, com a revisão definitiva da Constituição federal elaborada em 1848, a Suíça viu nascer um Estado moderno liberal, que dotou o país de identidade nacional baseada na autonomia das minorias rurais progressistas (KELLER, 1992, p. 68-71).

Na organização federalista, a repartição dos poderes se concentra no nível dos cantões, que têm uma soberania interna e uma constituição. Cantão é cada um dos Estados que compõem a Confederação. O poder executivo é exercido, na Suíça, por um Conselho Federal, cujo presidente é também presidente da Confederação. Este Conselho é eleito pela autoridade suprema, a Assembléia federal (Parlamento), composta de um Conselho Nacional e de um Conselho dos Estados. Cada cantão tem o direito de criar instâncias jurídicas locais para regulamentar particularismos que não são de interesse federal (Petit Larousse illustré, 1991, p. 1603).

A França, por sua vez, tem na origem de sua formação uma série de invasões e imigrações que conferiu ao território uma grande variedade étnica e lingüística. A partir do século IX a.C. aproximadamente, cada região da Gália (atual França) foi sendo invadida por povos de diversas etnias: gregos, bárbaros e principalmente romanos e ibéricos alcançaram a França pela costa mediterrânea, dando origem às populações bascas e catalãs; os normandos e os bretões, no noroeste da França, têm

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origem predominantemente escandinava (vikings) e celta respectivamente. Com a conquista do Império Romano, os celtas passaram a se chamar galo-romanos; os habitantes da Alsácia (no nordeste da França) têm origem predominantemente germânica, notadamente dos francos, povos bárbaros descendentes de Clóvis que dominaram a Gália no final do século V d.C.; enfim, as invasões árabes, mais tardias, imprimiram fortes traços na cultura e na língua da região sul da França (Labrune, 1994, p.42). A evolução do povo francês é, portanto, marcada por essa pluralidade étnica complexa que lhe conferiu uma personalidade de contrastes.

Do ponto de vista de sua organização político-administrativa atual, a França Metropolitana é dividida em 22 regiões, que estão repartidas em 96 Departamentos (incluída a Córsega) que são, por sua vez, divididos em 327 distritos (arrondissements), 3694 sub-distritos (cantons) e 36.433 municípios (communes). Além disso, a França pos-sui quatro Departamentos Além-Mar (DOM) e quatro territórios Além-Mar (TOM). Labrune (1994, p.68) comenta que “o estabelecimento de departamentos e regiões é o resultado da longa história dos recortes territoriais praticados pelo enfrentamento en-tre os partidários da centralização e os do regionalismo”.

Cada região francesa tem à sua frente um governador (Préfet), nomeado pelo Conselho dos Ministros, que, além de administrar todos os negócios de interesse de-partamental, tem sob o seu controle a ação policial e o poder judiciário. A administra-ção de cada município é confiada a um prefeito (Maire) e seus vereadores (Conseillers municipaux), que compõem a Câmara eleita pelo povo. Uma importante reforma ad-ministrativa foi iniciada em 1982 visando diminuir o poder estatal e incentivar a admi-nistração local e descentralizada. A região, antes considerada simples circunscrição técnica, tornou-se coletividade territorial com poder autônomo para exercer competên-cias reservadas anteriormente ao Governo Nacional (LABRUNE, 1994, p. 68).

Verificam-se, portanto, grandes diferenças no que diz respeito à organização social, político-administrativa e jurídica entre a França e a Suíça.

No que tange à língua, a Suíça romanda (la Suisse romande) é a região da Confederação onde se fala francês, que, nesse caso, é uma variante do domínio d´oïl (uma variante românica) que se implantou na Suíça mesmo antes de chegar ao Sul da França. Desde o século XIII, essa variante de língua francesa foi progressivamente tomando o lugar do latim como língua escrita e, a partir do século XVII, dos dialetos falados, franco-provençais na maior parte. Embora a Suíça romanda se considere entidade cultural há pelo menos dois séculos, nunca se tentou oficializar esses dialetos

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restritos às comunidades locais ou regionais; ao contrário, a adoção do idioma francês por parte da Suíça romanda fez-se espontaneamente, inclusive com menos imposições do que em certas regiões da França (THIBAULT, 1997, p. 9-32). Na Suíça, a língua es-crita, que toma o lugar do latim progressivamente dede o século XIII, e a falada, que substitui os dialetos franprovençais desde o século XVII, não são normalizadas, co-mo na França, por imposições oficiais.

No que concerne à França, as diversidades étnica e lingüística começaram a se apagar a partir de 1789, pois nesse período revolucionário o sentimento de patriotismo que tomou conta da população reforçou o conceito de Nação, associando-o a uma idéia de unidade. A República que proclamou a “fraternidade, liberdade e igualdade” tinha, para todos os franceses, a tarefa de instruir as massas ignorantes e, principalmente, de difundir uma língua nacional una e sólida o bastante para combater a inconveniente fragmentação lingüística das antigas províncias. Nesse período, foi desencadeada uma verdadeira ofensiva contra os dialetos — os chamados patois ou idiomas feudais, como o bretão, o basco, o provençal e outros — e impôs-se o uso exclusivo do francês em to-do o território nacional por meio de decretos.

Embora as medidas de imposição lingüística possam ter surtido efeito imedia-to no domínio das instituições político-administrativas, houve grandes dificuldades no que diz respeito à implantação do francês junto à população. Apesar da resistência po-pular, a língua francesa consolidou-se internamente por meio de uma política de ensi-no conservadora e ensi-normativa. No final do século XIX, fixou-se a ensi-norma moderna do francês, tendo na pronúncia parisiense a referência nacional.

No âmbito jurídico, pode-se dizer que as disposições constitucionais que abordam explicitamente a língua eram inexistentes até 1992. A Lei constitucional no

92-554 de 25 de junho de 1992, notadamente no artigo 2, declara que “a língua da República é o francês” (ROSSILLON, 1995, p. 53). É possível constatar, ainda hoje, co-mo a antiga tradição que ignora as línguas regionais subsiste por meio da legislação lingüística da França. Porém, essa situação começa a mudar e desde a assinatura da Carta européia das línguas regionais e minoritárias, em 1999, há uma tendência de reco-nhecimento das especificidades das línguas regionais, da pluralidade das culturas e do direito à diferença lingüística.

Na Europa, o francês é a única língua oficial apenas na França, no principado de Mônaco e no de Luxemburgo. O francês é uma língua co-oficial na Bélgica (francês-holandês-alemão), na Suíça (francês-alemão-italiano), no Canadá (francês-inglês), etc.

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Além disso, o estatuto jurídico do francês estende-se também a vários Estados não soberanos. O francês é a única língua oficial nos cantões suíços de Genebra, de Neuchâtel, do Jura e de Vaud. É uma língua co-oficial nos cantões suíços de Friburgo (francês-alemão), do Valais (francês-alemão), de Berne (francês-alemão).

Em conformidade com seu estatuto de língua oficial, o francês é utilizado, na totalidade ou em parte, no Parlamento, na redação das leis, nos serviços governamentais ou administrativos, nos domínios da justiça, da educação, na polícia e nas forças armadas, nas mídias, no comércio, nos editais, etc. Se considerarmos o fato de que a aplicação do estatuto jurídico varia de um país para o outro ou de uma região para a outra, parece difícil descrevê-la de modo concreto no caso do francês. Como saber, por exemplo, se um edital é tão “francês” num cantão suíço quanto na França?

3.

SOBRE A NOÇÃO DE “EQUIVALÊNCIA FUNCIONAL”

O teor textual da tradução juramentada possui, como todo texto especializado, uma fi-nalidade comunicativa específica, uma forma discursiva determinada, e uma termino-logia exclusiva. Isso significa que, embora a mensagem seja transmitida por meio da língua escrita, no caso do texto especializado a língua é um instrumento de comunica-ção, uma ferramenta na transmissão da mensagem. Como esclarece Antoine Berman (1991) “no caso do texto especializado, o que é transmitido é um conjunto delimitado de informações delimitadas relativas a um domínio ele próprio delimitado pertencente a este conjunto que denominamos as ‘tecnologias’” (p. 11), Berman completa:

A transferência lingüística deste conjunto obedece a um conjunto de regras estra-tégicas determinadas: as informações devem ser transmitidas de modo claro, con-fiável e eficaz; sendo o texto de origem destinado a um público X determinado, sua transferência lingüística deve adaptá-lo a um novo público X, ele próprio de-terminado; tendo o texto de origem uma estrutura discursiva determinada, até certo ponto, pela “gramática cultural” (Gouadec) de seu local de produção, sua tradução tem a obrigação de remanejar, até certo ponto, esta estrutura discursiva, de modo a adaptá-lo à “gramática cultural” de seu local de destino, a fim de ele seja stricto sensu receptível. (p. 11).

“Essas regras são absolutas”, acrescenta Berman, afirmando que tais regras determinam, por sua vez, metodologias precisas que garantem que a transferência de in-formação poderá se desenvolver de modo satisfatório.

Embora nosso estudo não tenha o objetivo de abordar as mais variadas teorias da tradução que, desde os anos 50 (Vinay, Darbelnet, Catford e outros), buscam deter-minar as diferentes tipologias textuais, julgamos fundamental para este estudo desen-volver uma reflexão em torno da noção de “equivalência”. Convém esclarecer que a

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equivalência é um conceito pertencente ao domínio da tradutologia. A lingüística contrastiva também utiliza o conceito de correspondência, mas este designa um fenômeno diferente da equivalência. A equivalência remete mais ao grau segundo o qual um termo pode ser considerado na língua e na cultura receptora como o equivalente do texto de partida. Anthony Pym (1992), teórico da tradução, ressalta que a equivalência é uma criação necessária para estabelecer uma comunicação intercultural. A dimensão cultural da comunicação constitui o eixo central de sua abordagem.

Os teóricos que definem a tradução por meio do conceito de equivalência são numerosos. Mais especificamente no âmbito da lingüística, temos John Cunnison Catford (2000), que tenta defini-la como “a substituição de materiais textuais de uma língua por materiais equivalentes em uma outra língua”. Eugene Nida, por sua vez, propõe que “a tradução consiste em produzir na língua de chegada o equivalente natural mais próximo da mensagem da língua de partida, primeiramente quanto à significação, depois quanto ao estilo” (apud MOUNIN, 1986, p. 278). Segundo Rodrigues (2000) Gideon Toury propõe um reexame do conceito de equivalência definido por Catford fazendo uma distinção entre o “teórico” e o “descritivo” (p. 142).

A noção de equivalência em tradução jurídica adquire uma significação bem particular. Na medida em que os aspectos culturais e as diversidades sociopolíticas dos sistemas jurídicos determinam o uso dos termos em documentos oficiais, parece-nos que as dificuldades inerentes a esse tido de tradução ultrapassam as expectativas de conhecimento e habilidade lingüísticos dos tradutores. Mesmo os textos que a JUCESP denomina “comuns” - documentos civis em geral - testemunham como a tradução e a versão juramentada lidam, antes de tudo, com a necessidade de informar, esclarecer e confirmar a legalidade do ato administrativo, notarial ou jurídico.

É essa dimensão pragmática da noção de equivalência que interroga o tradutor quanto à questão da literalidade e da “traduzibilidade” na tradução juramentada.

Num artigo publicado no site Web francês Village de la Justice, Frédéric Hou-bert (Tradutor jurídico e econômico, membro da Société Française des Traducteurs, autor do Dictionnaire des difficultés de l'anglais des contrats, 2000) aborda as dificuldades ter-minológicas que um tradutor jurídico está propenso a encontrar quando os termos a traduzir são próprios a uma cultura jurídica específica e não têm equivalente direto na cultura da língua de chegada. Além dos títulos de leis, em relação aos quais ele se

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per-gunta se seria “oportuno traduzir ou não”, ele distingue: 1) os termos para os quais e-xiste um equivalente funcional, ou seja, termos que não correspondem exatamente ao original, mas apresentam semelhanças suficientes para uma tradução; 2) os termos di-tos intraduzíveis; 3) os termos sem equivalente dos quais existem, todavia, uma tradu-ção consagrada, e citaríamos à guisa de exemplo a famosa Magna Carta — Grande Char-te.

As dificuldades da tradução jurídica são, portanto, maiores porque compor-tam, além da passagem de uma língua para outra e de toda cultura onde está inserida, um componente a mais: trata-se da transposição da mensagem de um sistema de Direi-to para um outro. Ou seja, além do contexDirei-to ligado ao documenDirei-to original, um termo pode igualmente ser indissociável do contexto legal no qual ela intervém. As dificul-dades da equivalência lexical se manifestam não somente na tradução legislativa ou ju-rídica, mas também na tradução de documentos comuns de direito comercial, por e-xemplo, especialmente se estes envolvem empresas constituídas de acordo com o sis-tema de Direito de países diferentes. Ainda de modo mais geral, as dificuldades de tradução dos termos com forte conteúdo cultural não se limitam somente ao campo da tradução jurídica propriamente dita, pois nem mesmo os documentos administrativos relativamente simples estão livres de tais termos. Dependendo do tipo de tradução so-licitada, juramentada ou livre, o tradutor disporá de abordagens tradutivas mais ou menos livres, porém recomenda-se que uma tradução juramentada seja “transparente e absolutamente literal”, a ponto de ter que reproduzir até os eventuais erros do origi-nal1.

4.

OS “STATALISMES” - UMA QUESTÃO CULTURAL

Devido à diferente evolução de cada uma das variedades geográficas do francês e das relações históricas e complexas que as ligam, é praticamente impossível delimitar a no-ção de “helvetismo”, de “belgicismo”, de “quebecismo”, etc., se as considerarmos uni-camente sob o ponto de vista da exclusividade dos usos. Assim, na Europa, a exclusi-vidade de um particularismo é às vezes questionável, em razão da proximidade geo-gráfica dos países francófonos. Ainda que as fronteiras políticas e nacionais pretendam determinar arbitrariamente, ou seja, “artificialmente”, a classificação das variantes

1 Essas questões de equivalência e literalidade são complexas e vale mencionar nesse sentido o precioso trabalho

de-senvolvido pelo Tradutor Juramentado e Professor de Lingüística da FFLCH – USP, Francis Aubert, do qual destaca-mos o artigo “Tipologia da tradução: o caso da tradução juramentada” (1996), e os diversos artigos publicados na Ipsis

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xicais, a evolução histórica permite que encontremos helvetismos que são também bel-gicismos e que às vezes são regionalismos ou arcaísmos em uso na França.

Embora a terminologia oficial seja possível de ser descrita, visto que submeti-da ao rigor dos textos administrativos, muitos particularismos lexicais próprios ao vo-cabulário político, jurídico e administrativo suíço se distinguem do francês da França apenas no uso. Temos, por exemplo, o termo syndic que, na Suíça romanda, faz parte de uma terminologia oficial, e que está sendo amplamente explorado na atual pesquisa acadêmica desta autora.

Assim, o critério de distinção dos particularismos encontrados nos documen-tos pesquisados parte da pouco conhecida noção de statalismes2. O termo statalisme

de-signa, segundo Jacques Pohl (1985), “todo fato de significação ou de comportamento, observável em um país, quando ele está limitado ou claramente rarefeito na passagem de uma fronteira” (p. 10). São termos que, em seu uso, só têm sentido no interior de um Estado, porque remetem a instituições que pertencem a este Estado e a uma realidade que nele é, portanto, diferente; suas equivalências são estabelecidas pela administração local e quando ultrapassamos a fronteira política, é natural que o sentido usual do ter-mo mude. Esta noção nos serve, sobretudo, coter-mo importante critério para diferenciar e analisar os termos cuja forma remete ao francês padrão, mas cujos usos repertoriados na Suíça romanda são diferentes e às vezes ultrapassam o limite de suas fronteiras.

Os statalismes são assim encontrados, sobretudo, no domínio político. De a-cordo com André Thibault (1997, p. 164), trata-se da “conservação e oficialização em francês regional suíço romando de um emprego que subiste no francês padrão apenas como termo de história, ou de um emprego considerado antigo”. São as tradições polí-ticas que justificam certo número de expressões incontornáveis, como “canton”, “con-fédéral”, etc. Na linguagem oficial, por exemplo, bourgeois(e): personne qui a droit de cité dans une commune. O termo bourgeois, que nos dicionários só tem hoje uma co-notação política ou sociopolítica, possui na Suíça um valor institucional diferente. Por-tanto, há alguns termos da linguagem oficial que dependem da constituição, da lei.

Os statalismes são “romandismos institucionais”, ou seja, são os termos mais apropriados para designar as realidades administrativas oficiais e os fatos escolares.

Literis, uma revista da ATPIESP (Associação Profissional dos Tradutores Públicos e Intérpretes Comerciais do Estado de São Paulo) – conferir referências.

2 STAT- antepositivo, do ing. stat-, (orign. o gr. statós,ê,ón 'estacionário'), [...] dado o caráter científico e a relativa

difu-são internacional do el., e embora não sendo objeto de convenção oficial, a grafia stat- permanece sem aportuguesa-mento, mantendo-se os nomes das unidades na forma em que são internacionalmente empregados: statampère/statampere, statcoulomb, statfarad, stathenry, statohm, statsiemens, stattesla, statvolt, statweber. (Dicionário eletrô-nico HOUAISS da língua portuguesa)

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so significa que, além de apropriados, são os termos mais econômicos para designar realidades locais (regionais ou nacionais), evitando os rodeios perifrásticos e as expli-cações metalingüísticas nas traduções. Se tal economia é, por um lado, altamente dese-jável na tradução de documentos e textos oficiais, por outro lado pode dificultar am-plamente a compreensão do tradutor e a precisão de seu trabalho.

Fica evidente, pelo que aqui foi exposto, que se existe uma correspondência de uso concreta entre o léxico e a realidade à qual ele remete, as realidades relativas às concepções sócio-culturais não coincidem forçosamente com as fronteiras geopolíticas. É somente por meio dos estudos terminológicos e terminográficos, na medida em que alargam o seu repertório no âmbito da francofonia, que os particularismos poderão ter seu uso cada vez mais precisamente circunscrito e delimitado. Nesse sentido, nosso es-tudo, ao abordar os particularismos da Suíça romanda, visa a avaliar as dificuldades terminológicas para o tradutor brasileiro de documentos no interior da francofonia. Julgamos ser de valiosa contribuição o estabelecimento, no futuro, de uma lista dos “romandismos” referentes aos termos utilizados no âmbito jurídico-administrativo e impostos por uma terminologia oficial. Nessa lista estariam relacionados os termos re-feridos àqueles em uso no português do Brasil e no francês da França, e ela seria desti-nada aos tradutores brasileiros que desejassem saber o uso apropriado de um termo francês quando se trata de um texto vertido de ou para um público suíço.

Vejamos, por exemplo, a título de ilustração: Em que o francês da Suíça se dis-tingue do francês da França? No geral, o que existe de fato são “particularismos”, so-bretudo “cantonais”, seja de pronúncia, seja de construção, mas, soso-bretudo, de léxico e de fraseologia, não havendo, portanto, sentido em se falar de uma “língua romanda”. Segundo o Dictionnaire Suisse Romand, os distanciamentos se dividem em quatro cate-gorias: os arcaísmos (“heurter” para bater à porta, “frapper” na França); as inovações (“régater” para resistir, permanecer à altura, “tenir bon” na França); os empréstimos ao patois (“bedoume” para tolo(a), “sotte” na França; e os empréstimos às línguas vi-zinhas (“poutzer”, do alemão, para limpar, “nettoyer” na França). Em cada uma dessas categorias, o uso das variantes pode ser facultativo — quando há um equivalente em francês padrão (como “fœhn” para “sèche-cheveux”). Entretanto, o uso pode ser obri-gatório, porque designa uma realidade própria ao país (instituições militares, religiosas ou políticas) — como, por exemplo, “rendre les honneurs” (expressar condolências a-penas num ritual fúnebre), uso desconhecido na França (1997, p. 9-32).

(13)

Cumpre dizer que, embora o interesse maior da análise se concentre no estudo sincrônico dos termos, uma classificação diacrônica impõe-se no sentido de ilustrar a dimensão histórica na evolução de alguns dos particularismos suíços que têm relevân-cia em nosso estudo atual, esperelevân-cialmente no que se refere à fundamentação sociolin-güística.

O Centro de dialetologia e de estudo do francês regional da Universidade de Neuchâtel (Suíça) observa e descreve desde 1973 os empregos lexicais dos suíços romanos no final do século XX. As fontes que alimentam o fichário do Centro de dialetologia são os mais variados: literatura desde o final do século XIX, como, por exemplo, obras didáticas, extratos da imprensa suíça romanda, textos de lei, jurídicos e administrativos. Os maiores dicionários franceses (Trésor de la langue française, Larousse, Robert, Hachette) recorreram a essa base de dados quando decidiram incluir alguns termos suíços em suas obras.

O Dictionnaire Suisse Romand (1997) é hoje considerado uma ferramenta insubstituível para os estudiosos do assunto. André Thibault reuniu nesse volume extensamente documentado os particularismos lexicais do francês contemporâneo na Suíça romanda utilizando um corpus de textos escritos, oficiais ou de imprensa, além de transcrições de produções orais passíveis de conter regionalismos. Na Suíça, um grande projeto está sendo desenvolvido desde 1992: o Trésor des Vocabulaires Franco-phones, que prevê um banco de textos e um banco de palavras.

O que se constata de antemão neste estudo é que, se por um lado, não parece haver graves problemas de comunicação em termos gerais, ou no fato de um brasileiro que aprendeu o francês da França aterrissar na Suíça, quando se trata de traduzir tex-tos oficiais, sobretudo os jurídicos, a realidade pode ser bem outra. Primeiramente porque existe uma “língua do direito”, ou seja, a maior parte das instituições e dos conceitos jurídicos não tem denominação na linguagem corrente. Os dicionários de termos oficiais, nós o sabemos, além de descritivos são forçosamente normativos e, portanto, prescrevem o que se deve dizer ou escrever. Além disso, esse material espe-cializado, quando o acesso é possível, existe na maior parte do tempo em forma de glossário unilíngüe, ou, no caso da Suíça, privilegia os pares de línguas oficiais, portan-to é particularmente ineficaz para o traduportan-tor de língua portuguesa. Materiais lexicográ-ficos preciosos estão sendo desenvolvidos no domínio do francês regional, principal-mente no Canadá, porém sempre com correspondentes no francês padrão.

(14)

Não temos conhecimento da existência no Brasil de qualquer dicionário ou glossário jurídico bilíngüe português-francês que inclua sistematicamente particula-rismos de qualquer domínio do francês suíço ou de outras variantes francófonas.

5.

ANEXO

Entrada do termo “bourgeois” na “Base de données lexicographiques panfrancopho-ne”, onde se pode visualizar a definição do termo como “statalisme”. (Conf. em http://www.tlfq.ulaval.ca/bdlp/simple.asp?base=bdlp_suisse&lettre=m)

Vedette Définition

bourgeois, oise 01. (n.)

Personne ayant droit de cité dans une commune, ressortissant d'une commune.

Les droits (v. gaube) et devoirs des bourgeois. Naître, être, devenir, être reçu bourgeois d'une commune. Tous les habitants d'une commune n'en sont pas bourgeois. Hôpital des Bourgeois.

[État des données: avancé] Cujean se rend brusquement compte que cette lettre lui crée

une obligation. On l'avertit officiellement [d'un décès], lui,

syndic, parce que François était bourgeois de la commune.

1961, S. Chevallier, Le Silence de la terre, p. 97. [littérature]

Le Conseil bourgeoisial de Sion vient d'éditer un livre à l'intention des quelque 3500 bourgeois sédunois. Ce livre est une sorte de vade-mecum du bourgeois. Il constitue un document, donne des renseignements sur les droits et devoirs du bourgeois et dresse l'inventaire des biens et de l'administration de la bourgeoisie de Sion.

1971, La Tribune de Lausanne, 7 mai, p. 17. [presse, journaux, périodiques]

Lors d'une récente réunion à la «Bise», bourgeoises et bourgeois de la commune de Cortébert, ont entouré et fêté M. R. G., leur consciencieux et méticuleux secrétaire-caissier [= secrétaire-trésorier], pour quarante années de fidélité et de bons et loyaux services.

1971, Le Jura bernois, 19 mai, p. 1. [presse, journaux, périodiques]

Les bourgeoises et bourgeois d'Ayer sont cordialement invités à se rendre au bureau de vote à Ayer les 1er et 2 décembre et de répondre, en plus des votations fédérales, à la question suivante [...]. Ont droit de participer au vote les bourgeoises et bourgeois âgés de plus de 20 ans et domiciliés en Valais.

1973, Bulletin officiel du Canton du Valais, 23 novembre, p. 997.

[textes administratifs ou officiels]

C'étaient donc les bourgeois, bénéficiaires d'une part de l'eau [du bisse], qui devaient, à la demande, consacrer à ces travaux communautaires quelques journées de travail.

1975, J. Montandon, Le Valais à table, p. 57. [littérature]

Jadis une partie du loyer devait être fournie en nature, fromage et beurre que les bourgeois de la commune se partageaient en automne comme droits. Cela se passait encore ainsi à Le Vaud pendant la première guerre mondiale, la jouissance des alpages restant l'apanage des bourgeois.

1975, P. Hugger, Le Jura vaudois, p. 53. [littérature]

Par contre la tradition rapporte que Le Levron a cédé [...] une forêt à quelques minutes du col du Lin [...], et qui est actuellement encore en possession des bourgeois de cette commune.

1976, Cl. Bérard, Bataille pour l'eau (1re éd. 1963), p. 188.

(15)

Les comptes acceptés sans discussion et sans opposition, on passa à la réception de huit nouveaux bourgeois – éventuellement avec leur famille – et c'est aussi sans discussion et sans opposition que ces nouveaux bourgeois et bourgeoises furent admis. M. N. précisa à ce sujet que la vague de demandes qui avait déferlé ces années dernières s'est aujourd'hui apaisée.

1977, La Liberté, 3 juin, p. 21. [presse, journaux, périodiques]

[...] le président de l'Union des bourgeois de Lausanne, L. L., attend à bras ouvert les 109 nouveaux bourgeois originaires de 37 pays et les 13 Confédérés.

1993, 24 heures, 16 juin, p. 25. [presse, journaux, périodiques] Deux petites voix ont suffi, le 20 février dernier, pour

enterrer une tradition assez récente mais qu'on croyait increvable. Cas unique en Valais, les bourgeois et les bourgeoises d'Ayer tiennent conseil séparé [...]. La formule remonte au début des années septante, lors de l'octroi du droit de vote aux femmes. Les hommes invoquèrent le manque de place dans les salles bourgeoisiales pour instituer la séparation... de corps.

1994, Le Matin, 1er mars , p. 6. [presse, journaux, périodiques]

bourgeois, oisebourgeoisial, alebourgeoisiecombourgeois, oisecombourgeoisial, alecombourgeoisie communier

bourgeois, oise (et mot(s) de même famille)combourgeois, oisecommunierconsort (et mot(s) de même famille)gaubeindigénat (et mot(s) de même famille)origine

Origine

Maintien d'un lexème, d'un syntagme ou d'une expression du français de référence. Historique

Statalisme (voir Renvois à d'autres langues). Conservation et officialisation en français régional suisse romand d'un emploi longtemps attesté en français central («assez peu fréquent dans la lang. littér. ; considéré comme ancien dep. Ac. 1932 » TLF 4, 819b). La plus ancienne attestation en français en Suisse romande date de 1285 (v. GPSR). — FrançJJRouss ; Pier ; PierSuppl ; Lar 1928 ; GPSR 2, 653b-654b ; FEW 15, II, 18b, * ; ZumthorGingolph 1962, p. 234, 263 ; TLF 4, 817b-819b s.v. bourgeois ; SchüleListeLar 1978 ; Lar 1979 ; PLi dp. 1980 ; Alpha 1982 ; PR dp. 1984 ; GR dp. 1985 ; DudenSchweiz 1989 ; Paul9 ; Lexis 1992 ; NPR 1993-2007 ; Lengert 1994 ; DSR 1999; HenryCompl 2001, p. 9 .

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AUBERT, F. Tradução juramentada: qual literalidade? Uma reiteração da consulta preliminar. Ipsis Litteris. São Paulo, p. 3 - 3, 01 jan. 2003.

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(16)

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Referências

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