CENTRO
DE
CIENCIAS
AGRÁRIAS
*DEI>ARTAMENTo
DE
ZooTEcNIA
Agricultura
ecológica:
Um
retorno
ao
passado
ou
uma
verdadeira
transferência
de poder?
. .ii-
íi
E 1- 9- I` 282 O É EJ O U) LL D.
Luiz Carlos Rebelatto
dos Santos
P
-
Relatório
de
Estágio apresentadocomo
um
dos
requisitospara
a obtençãodo
grau
de EngenheiroAgrônomo
pela Universidade Federalde Santa Catarina.
Florianópolis
(SC),
junho
de 1996.
l ,4
|DENT|F|cAçÃo
TÍTULO:
A
gn'cu/furaEcológica:
Um
retorna
ao
passado
ou
uma
verdade/'ra iransferência
de
poder?
ÁREA:
Desen
vo/vimenio
agnfco/a.ACADÊMICO:
Lu/ZzCar/os
Rebe/afio
dos
Sanios
CURSO:
Agronomia
-UFSC
A'
ORIENTADOR:
ProfiA
dem/'rAn/onio
(faze//aSUPERVISORA;
Eng
aAgra
G/aci
Campos
A/ves
LOCAL: Cooperativa
Ecológica
Coo/méia
-Porfo
A/egre/R5
qualquer
modificação
generalizada passa,em
primeiro Iugaz;por
Quem
dentre
os
sábiosviverá
para
sempre?
Cartas
e cristais, astros, rituais, estóriasna
palma da mão;
Milagres
e
sinais,promessas de
paz,
verdades demais, confusão;
Quem
é
capaz de
prolongar
os seus dias?
Quem
é-capaz de
compreender
a
simesmo?
Falsos ideais,
em
busca de
algo
mais-,que
traga sentido
ao
viver;~ ~ ~
Sao
tantas direções, castelode emoçoes,
razoes
que não
têm
nem
porquê;
Todo o
podere
ciência,todo
o
mistério
dos
tempos, a explicação
do
Universo,
Se
encontram
em
Deus
Toda
a
existênciado
homem,
toda
esperança
perdida,todo
o
milagre
da
vida,Se
encontram
em
Deus,
seencontram
em
Deus!
Tabela
l -Populações
ruraise
urbanas
do
Brasil - l940/90.Tabela
2
~Evolução
da
produçao
agrícolano
Brasil - 1960/79.Tabela
3 -Volume
comercializado
na
FAE
nos
anos
de
1993
a
l996
1.
INTRODUÇÃO
... ... ... ..sPARTE 1 ... ..10
2.
A AGRICULTURA
MODERNA
... . . . ...112.1. ACIENCIADAAGRICULTURAMODERNA ... ... .. ...14
3. AGROTÓXICQS:
ALGUNS
FATOS E CONSIDERAÇÕES ... ..193.1. OCASO VENÃNCIO AIRES-RS ... ..21
PARTE 2 ... ... ... ... ..25
4.
A
COOPERATIVA
ECOLÓGICA
COOLMÉIA... ... ..264.1. HISTÓRICO DA COOLMEIA ... ... ..26
4.2. AESTRUTURA ... ...29
4.2.1.0s associados ... ... .. ...3I 4.2.2.
0
Nücleo Técnico-Agronômico WTA) e organizações parceiras... ...324.3. ACOMERCIALIZAÇÃO ... ... ...34
4.3.1. Asfeiras livres .... . ... ..34
4.3.2. Oentreposto ... . . ... ..37
4.3.3. Expansão do mercado ... ... ... 4.4. LLMITAÇÕES E DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA COOLMÉIA - IDENTIFICAÇÕES E SUGESTÕES ... ..39
5. CONSIDERAÇÕES
À
RESPEITODA
READEOUAÇÃO
DAS PROPRIEDADES AGRÍCOLAS.RUMO A
UMA
AGRICULTURA
VERDADEIRA -UM
PROCESSO DE RECONVERSAO. ... ..415. 1. CONCEPÇÕES TEÓRICO/PRÁTICAS ADOTADAS JUNTO Aos PRODUTORES DA COOPERATIVA ECOLÓGICA COOLMEIA ... .». ... ., ... ..43
5.1.1. A teoria da trofobiose ... ... ..43
_ 5.1.2. A questão energética .... . ... ..46
5.1.3.A matéria orgânica .... . ... ..48
5. 1. 4. Os biofertilizantes ... ... ... ..5I 5.1.5. Outros insumos agroecológicos: ... ..54
5.1.6. Os “inços” na visão ecológica ... ... ..61
6. EXPERIÊNCIAS
EM
AGRICULTURA
ECOLÓGICA
... ..646.1. EXPERIÊNCIA 1 -
A
FAMÍLIA WEGNER ... ..646.2. EXPERIENCIA 2 -
O
GRUPO FAMILIAR COELHO .... ... .. ...676.3. EXPERIÊNCIA 3 - “A RECONVERSÃO DO POMAR DE CITROS” ... ..70
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... .., ... ..73
s. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA; ... ..7õ 9.
ANEXOS
... ... ... ... ... ... ..78ANEXO
1 - LISTA DE PREÇOS APLICADA NAS FEIRAS LIYRESDA
COOLIVIÉIA (FAE /FCE) ... ..791.
INTRODUÇÃO
..._
Este relatório
é
referenteao
estagio curricularde
conclusaodo
cursode
Agronomia
da
Universidade Federalde
Santa Catarina realizadona
Cooperativa Ecológica
Coolméia
situadaem
Porto Alegre - RS,no
períodode
23de
fevereiroa
30de
março
de
1996. _ AO
objetivo geraldo
estagio consistiuna
anóliseda
produçõo
e
comercializaçao
e
especificamente,na
compreensao
do
processode
reconversõode
unidades produtivaspara
o
modelo
agroecológico.Foi através
de
um
programa
de
televisaoque
escolhemos
a
Coolméia
paraa
realizaçõodo
estagio, poisa
mesma
mostrou-secom
propostas
de
trabalho, juntoa pequenos
produtores, preferencialmentereunidos
em
gruposde
cooperaçõo
agrícola,além
de
encarara
agricultura ecológica
não
como uma
alternativameramente
econômica,
mas
sim educacionale
participativa,envolvendo
agricultores, consumidorese
servidores.-As atividades desenvolvidas consistiram
na
identificaçõoda
Cooperativa
como
estrutura organizacional,no
acompanhamento
das
formas
de
comercialização, principalmente através das feiras livres; visitasa
alguns produtores
que
praticama
agricultura ecológicaa
fimde
identificaro
processode
reconversõoa
que
“foram submetidos”e
as técnicasconseqüentemente
adotadas. _'
Tivemos
a
oportunidadede
visitaro
Centrode
Agricultura Ecológica -CAE,
no
municipiode
Ipê - RSe
de
fazerum
cursode
dois dias sobreagricultura ecológica
na
pequena
propriedade, organizado pelaFundaçõo
Gaia
em
Pântano
Grande
- RS. Amloas sõo organizaçõesnao
-governamentais
que
auxiliam a.Coolméia na
difusõoda
agriculturaParticipamos
também
de
um
fórum realizadono
municípiode
Venancio
Aires-RS,que
tratouda
problematica dos altos índicesde
suicídios verificados
na
regiao, tipicamente agrícolae
produtorade
fumo
cultivado
com
doses elevadasde
agrotóxicos. Neste encontro, foidebatido
um
relatórioque
procura fazeruma
ligaçao entre os suicídioseo
uso
de
venenos
agrícolas.A
primeira parte desse relatório tratabasicamente
da
identificaçõoH
das origens
e
conseqüênciasda
chamada
agriculturamoderna".
Traza
tona
o
que
o
usode
agrotóxicos,adubos
.industriaise
maquinóriopesado
acarretou
ao
panorama
agrícola,econômico
e
socialdo
nosso país.Discute qual
é
a
ciência praticada pela agricultura“moderna” e
relatacasos absurdos
que
envolvem
osvenenos
agrícolas.A
segunda
parte discute outra maneirade
se fazer agricultura,com
base
na
experiênciada
.Cooperativa Ecológica Çoolméia.Aborda
a
Cooperativa
como
estrutura organizacionale
-identifica os principais aspectos envolvidosna
comercializaçãode
produtos ecológicos.Destaca
as transformações necessarias para
a
praticada
agricultura ecológicabem como
os princípios teórico-próticos. concebidos. Por fim, relataalgumas
experiênciasde
produtores associadosa
Coolméia, ressaltandoa
importancia
da
transferênciado
poder
aos agricultores, atravésdo
Parte 1
f
Apresentação
Êxodo
rural,desemprego,
fome, miséria, violência, poluiçõo,intoxicações, mortes, sera
que é somente
issoque
a
dita "agriculturamoderna" tem
a
nos oferecer? Seraque o
aumento da
produtividade,defendido
ferrenhamente pelaRevoluçõo Verde
e
maisrecentemente
pela Biotecnologia,
como
sendo a
"salvaçãoda
lavoura",tem
cumprido
o
papel
de
heróiou
de
vilõono
panorama.
sócio-político-econômico atual?O
que
os agrotóxicostêm causado
a saúde
de
agricultores muitas vezesvítimas
de
profissionais irresponsáveisda
areaagronômica
que
nem
sequer orientamo
seu uso? Estas sõo questõesque nõo
devem
ser ,ignoradas pelasociedade
e, principalmente, pelo1%
privilegiadoe
"pe»nsante"da
populaçao que
integrao
quadro
universitariono
nosso país. ~2.
A
AGRICULTURA
MODERNA
Jó faz
algum
tempo
que a
agricultura,de
uma
maneira geral,perdeu
a
identidade atravésda
anulaçao
d/e sua .finalidade primeira: suprira
necessidade basica
do
serhumano
atravésda
produçao
de
alimentos. Foi~
a
partirde
meados do
século XVIII,com
o
advento
da
Revoluçao
industrial,
que
a
mesmo
passoua
ser fornececlorazde matéria~primae
consumidora
de
insumos produzidos pela indústria.Fomentou o
crescimento dessa Última nas cidades pelo
aumento
dos capital investidoneste -setor,
o
qualprovocou
o deslocamento
de
um
contingentepopulacional,
que
antes encontrava-seno
ca-mpo. -- influenciados pelo
pensamento
de
JustusVon
Liebig (l803-1873)que
acreditava
que
um
dia todos oscampos do
mundo
seriam ferlilizadosartificialmente
com
adubos
saídosde
fábricas, países centraiscomo
a
Alemanha
desenvolveram
suas indústrias defertilizantes.Com
o
advento
da
PrimeiraGrande
Guerra (l9l4-l 9), estas fábricas tornaram-se produtorasde
explosivose
dos laboratóriosde
anilina,usada
como
corante artificial,saíram as mais mortíferas
armas
inventadas pelohomem
- os gasesnervosos.
No
fimda
guerra, procurou-seuma
aplicação civil para estesgases. Descobriu-se
que
eles controlavam insetos, criando-seíummercado
alternativo para essas
armas
bélicas.Com
isso, poder-se-ia,de
forma
barata, subsidiar
a
custosa indústriade
guerra,além
de
se conseguir lucrosVUIITOSOS (AURVALLE et GI,l 985).
De
acordo
com
Sebastiao Pinheiroem
entrevistaa
D'ÁVlLA et all(l985),
na
Segunda Grande
Guerra (l939-45), osalemões
possuíam~
imensas reservas
de
armas
químicas.Com
a
destruição destanaçao
pelosaliados, os
mesmos,
.principalmente atravésda
figura dos Estados Unidos,dinheiro para
que
estas fabricascomeçassem
a
funcionare
pudessem
~
treinar pessoas para
a grande
reconslruçaoda
Alemanha.
Para isso,um
grande
mercado
consumidorde
seus "produtos" precisava ser criado.Surgem, desta maneira,
fundações
norte-americanasque
projetame
financiam grandes modificações
na
agricultura planetária,a exemplo
da
Fundaçõo
Rockfellere
Fundaçõo
Ford. Kldealiza-se ci
chamada
"modernizaçõo
da
agricultura"ou Revoluçõo
Verde'
com
a
retóricade
acabar
com
a
fome
no
mundo.
Emergem
os"defensivos agrícolas", os
"adubos
fórmula" (NPK),a
intensamecanizaçõo
agrícola
e
assementes
híbridos;Surgem
também
os financiamentosagrícolas, através
do
crédito facildo
Banco
Mundiale
BID, paraa
aquisiçõo
do
pacote
tecnológico.Concomitantemente, desenvolvem-se
as estruturas
de
assistência técnicae
extensõo rural nos paísesdo
TerceiroMundo.
No
Brasil foi organizadaa
Abcar,em
1956, (Associaçao Brasileirade
Crédito
e
Assistência Técnica Rural)com
suas Acares (Associaçoesde
Crédito
e
Assistência Rural),e
depois,em
l975,a
Embrater (Em`presaBrasileira
de
Assistência Técnicae
Exiensõo Rural)lcom
suas .Emaiers(Empresas
de
Assistência Técnicae
Extensao Rural), imprescindíveis paraa
transferência
do
maisnovo
modelo.
A
nívelde
pesquisa, cria-sea
Embrapa
(Empresa Brasileirade
Pesquisa Agropecuaria), responsavel pelofomento
e
sedimentaçõo
do
ideal agrícolamoderno.
Quase
30 milhõesde
pessoas saíramdo
meio
rural brasileiro durante~
as últimas
décadas
decorrenteda adoçao
destemodelo
agrícola.A
Embrater foi extinta no Governo Collor (1990), sendo que, atualmente, a extensão rural pública é geridapor um departamento no interior da Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
TABELA
1- Po ula ões rurais e urbanas do Brasil- 1940/90 6 _ _ 1 M _, P, Ç 1 . d . . 1 ~ šãs. 4 o. %”“%”” “ . . .Fontes: FERRARI (1985) e Censos demográficos IBGE 1980 e 1991. .
Na década de
40,a
população
rural perfazia- 74,8%da população
brasileira. Apresentou
quedas
percentuaisã
partirda
década de
60com
o
advento
da
modernização-da
agricultura,mas
ainda cresciaem
números
absolutos. Foia
partirde
l970que o
meio
ruralperdeu a
maior parcelade
sua
população
pela intensificaçãodo
êxodo
.e desenvolvimentodas
grandes cidades.
Chegou,
em
1990, 'aapenas
24,4%da
população
totaldo
nosso país. ~
, »
As
cidades incharam,a mão-de-obra
acumulou-se,houve
diminuiçãodos níveis salariais
e
concentração
de
renda
e
da
propriedade fundiaria.Em
termos nutricionais, ocorreu diminuição
da
disponibilidadede
caloriase
proteínas por habitante, resultado
do
direcionamentode
políticasde
estímulo as culturas
de
exportação (BRACAGGIOLI
NETO, l996).TAABELA
2 - Evolução da Produção Agrícola no Brasil (1960/79)._ c c __ _ f
Mercqdg
Bdfdict ' _+,4,34% , + 3,73%Memo
reijõo + 5,37% Í _ 1,90% Mandioca + 6,05% - 2,09% _ ~ Milho + 4,74% + 1,75% Cana-de-açúcar + 3,63% + 6,30%Mercgdg
_ FUmO. + 5,30% 1 + 6,16% Externo ~ Larania + 6,01% + 57,0% *_ A Soja ,g ` + 13,01% gp A 1 + 22,5% Aírozw +"3,âo% +1,4è% `$Fome;
Homem
de Meio ditado por Ferrari (1936), adaptado por |_.c.R.s;_A 'R
Segundo
FERRARI (1986),do
total- dos financiamentos agrícolas, osalimentos destinados
ao mercado
internopassaram
de
40,5%em
1969para 37,5%
em
l980.Enquanto
isso, os produtosde
exportação
receberam
39,0%
em
l9ó9, percentualque
em
1980 elevou-se para 45,3%.Considerando
públicos os recursos parao
crédito agrícola,podemos
~
obsen/ar
que
a
naçao
brasileira subsidiou produtosconsumidos
em
outrospaíses. Talvez por estas disparidades
que
o
Brasilocupe
o
quarto lugardentre os países exportadores
e
o
sexto dosque
apresentam
os maioresíndices
de
desnutriçõo.H
O
que
seraque
estaacontecendo
com
a
verdadeira proposta"da
modernização
da
agriculturade
acabarcom
a
fome
do mundo?
2.1.
A
Ciência da AgriculturaModerna
Segundo
LUTZENBERGER
(1992),a
praticada
agriculturamoderna
~ ~
consiste,
quase
que
exclusivamente,na observaçao
e
modificaçaode
fatores
que
influenciama
produçao
agrícola, taiscomo
solo, lavraçaoe
preparo
do
mesmo, adubação,
controlede
pragas,competição
de
en/as~
invasoras
com
a
cultura principal, seleçao genética das plantas cultivadas,etc. Esta analise ocorre
de
uma
maneira reducionistae
compariimentalizada,
ou
seja,cada
fatoré
encarado
de
forma
independente
sem, praticamente, ter ligaçõescom
os demais.Aparecendo
os problemas,apenas
os sintomas sao tratados. _O
fator soloé
vistocomo
se fosseum
mero
substratomecânico
com
a
funçõo
de
sustentara
plantae
sen/ircomo
veiculode
transportede
substancias solúveis aplicadas por
meio
de
fertilizantes sintéticos.Em
analises
de
solocom
o
intuitode
determinara quantidade
de adubo
a
ser aplicada., partem-sede
métodos
que
nem
sempre
refletemo
que
de
fatopressupõe-se
que
a
planta só absorva esteelemento no
forma solúvelou
facilmente solubilizovel. Para isso, lixivio-se
a
amostrade
solocom um
acidosuave
e
analiso-seo
lixiviado. Esquece-seda
vidano
solo.De
acordo
com
SCHALSCHA
e BENTJERODT
(i9ó8) citados porVIVAN
(i995), experimentostêm
demonstrado
que
reciclodores,como
o
fungo Asperg/7/us niger,tem
uma
capacidade
extratorade
Fósforo 30 vezes superiora
dos ócidos usados nesses procedimentos laboratoriais, levando-nosa
questionar' os baixos teores desteelemento
relatados nos analises.Com
relaçao as pragase doenças
-itodo
e
qualquer insetoou
moléstia
que
pode
causardono
aos cultivos -sõo
vistoscomo
se fosseminimigos arbitrarios
que
aparecem
como
que
por milagre,tendo
condiçõesde
dizimara
lovouro,sempre
que
nelaconseguem
se instalar. Muitas vezes,basta a. presença
de
certos insetosou
sintomasde
ataque
de
doenças
nosplantas para
que
se taxe as pragascomo
organismosfundamentalmente
ruins.
Sempre
que
possíveldevem
ser exterminados ou, pelomenos,
mantidos afastados
de
nossos cultivos. Pora isso, lança-semõo
dosvenenos
agrícolas.
Sao
inseticidas, fungicidas, acaricidas, bactericidas, nematicidas,rodenticidas
e
outros agrotóxicos. Jó fozalgum
tempo
que a
indústria~
química
promove
a
mudança
do
verdadeirodenominaçao do
agrotóxicopara “defensivo agrícola"
ou
“remédio",termo popularmente
difundidoentre os agricultores. Diante
do
provavel crescimentoda
conscientizoçaoecológico
da
sociedade
com
o
intuitode
minimizaro impacto
do
nome,
promovendo,
desta forma,a
quimicaa
serviçoda
vida.Os
inçosou
ervas daninhas sõo, dos olhosda
agriculturamoderno,
plantas
que não
devem
existir, poiscompetem
com
nossos cultivos por luz,óguo, fertilizantes, espaço-
e
aindapodem
obrigar pragas. Maisuma
vezexistem instrumentos maravilhosos, prontos para mata-los - os herbicidas
ou
objetivo
é
manter o
solo nu entre as fileirase
debaixo dos plantascultivadas. Mais recentemente,
o
sistemado
plantio direto,autodenominado
sustentavel,tem
vistoo
herbicidacomo
imprescindívelpara
o
seu sucesso. .'
O
outrocompartimento
da
ciênciaagronômica
moderna
contém
osaspectos genéticos._Os geneticistas
que
fazem a
seleçao dasnovas
variedades norteiam-se pelo critério
da
eficiênciamaxima,
isto é,produtividade. É claro
que
também
levam
em
conta a
estética.A
maça
ou
o
tomate devem.
teraspecto
atrativo nasbancas
de
feirase
supermercados, afinal
de
contasa
dona de
casa
“compra
com
os olhos". É importante lembrarque
as pesquisas para seleçaode
variedadescom
~ ›...
alta produtividade sao feitas,
na
maioria das vezes, sob condiçoesde
altoemprego de
insumos industriaiscomo
adubos
sinté_ti'cose
agrotóxicos,o
que
nem
sempre
refletea
realidadedo
produtorque
futuramente fara usoda
variedade. Aindaha a questao
da
resistência as pragascomo
sendo
inerente
apenas
<`:i genéticada
variedade.Nao
se procura relacionara
suscetibilidade
da
plantae
o
ambiente
em
que
ela teraque
viver,a
nao
ser
o ambiente
de
nossas lavourasmodernas
- solo mortoe
muito quimica.Quase nunca
sepensa
em
suscetibilidadeda
cultura devidoao
seuestado
nutricio'nal.iE por isso
que
algumas
das gigantescas corporações .daindústria dos
venenos
compram
ascompanhias
de
produçao
de
se_mentes,-monopolizando
osbancos
genéticos para controlara
seleçao genética.a
fim
de
promover
somente
variedadesque
dao
respostamaxima a
seusinsumos químicos. '
z
É
também
visívelo
crescimentoda
Biotecnologiae
Engenharia~ ~
Genética
nos dias atuais. Bilhoesde
dólares estaosendo
investidosna
Na
agricultura, inúmerassõo
as suas promessase
perspectivas,principalmente
no
que
se refereao aumento de
produtividade. Nestesentido, varios sao os processos biotecnológicos utilizados para tornar as
cultivares mais produtivas.
Exemplos reais ja
podem
ser observados.A
Unilever,uma
transnacional
que
controlaum
terçodo mercado
mundialde
Óleose
gorduras vegetais, desenvolveu
uma
técnica de. culturade
tecidosdo
dendezeiro
que
permitiua
criaçaode
cópias fiéisdasmelhores
plantasem
tubos
de
ensaio.A
técnica foipatenteada
e,segundo
a
empresa,O
aumento da
produçao
foide
30%
secomparado
com
os outrosdendezeiros (HOBBELINK, l 996).
Segundo
YOXEN
(l983) citado porGOODMAN
(1990), cientistas britônicos obtiveram sucessona
dissociaçõode
célulasde
embriõesde
ovelhas
em
desenvolvimento,sendo
que
cada
célulapode
'ser induzidaa
se desenvolver
em
embrião
próprio,e
daía
uma
ovelha adulta.O
resultado sao animaisgeneticamente
idênticos.Pesquisas
também
estaosendo
desenvolvidascom
o
objetivode
seobter plantas resistentes
ao
usode
herbicidase
as pragas, variedadesde
cereais mais nutritivos
e
culturas maisadequadas
ao
processamento
industrial
de
alimentos. '_
~
O
interessanteé
que
basicamente
tudo isto estaacontecendo
nospaíses
do
l°Mundo
patrocinado porempresas
transnacionaisdo
Norte,a
exemplo
da
'_'Revoluçõio Verde".O
3°Mundo
praticamente assiste esta com'da biotecnológica,o
que nao
se aplicaao
seu impacto!Segundo
HOBBELINK
(l990),a
questaonao
é
sea
biotecnologiachegara
ou
não
aos pobres,
mas
simcomo
e
quais serao as suas consequências.Alguns perguntariam: “
E
com
relaçõo aos paísesem
suprir
a
demanda
alimentar destes paísesque aumentava
substancialmente nos próximos anos? "
Acontece que
as coisasnõo
saotõo simples assim. Nos países
de
3°Mundo,
na
todauma
limitaçõoe
dinamicaem
todoo
sistema agro-industrial.Além
disso,com
o
aumento
substancial
da
produtividade agrícola pela biotecnologiaem
paísesdesenvolvidos, espera-se
que
os preçosde
venda
destes' produtos sejamcada
vez mais baixos,comprometendo
possíveis iniciativas nos paísesem
desenvolvimento por
apresentarem
o
setor agricola débile
vulneravel.-
Ao
nosso ver,a
biotecnologianao
é
uma
panacéia na
agricultura,mas
sim,um
ramo
delicadoque
deve
ser exploradocom
todas asprecauções para
não
causar maioresdanos
ambientaise
sociaisdo que
os3.
AGROTÓXICOS:
ALGUNS
FATOS
E
CONSIDERAÇÕES
Como
visto anteriormente, os agrotóxicos consistemnum
dos pilaresda
agriculturamoderno.
No
entanto,dados
demonstram que
os objetivosque
se pretendiam alcançar'com
a
utilizaçõo dosvenenos
- destaca-seo
-.. ~ ~
aumento
da
produçao
e a
diminuiçaodas
perdasda
colheitanao
foram
obtidos.
De
acordo
com
dados
do
IBGE (1980) citados porPASCHOAL
(1983),o
consumo de
agrotóxicosaumentou 421%
de
1964a
1979enquanto a
produçao
das
15 principais culturasaumentou apenas
5,8%.Com
relaçãoas pragas, no.período
de
1958a
1976, surgiram,no
Brasil, 400novas
espécies
em
37 culturas.Segundo
a Organização
Mundialda
Saúde,a
cada
horae
meia
morre
uma
pessoano
Terceiro lvlundo intoxicada por agrotóxicos,num
total
de
16 por dia.Os
países subdesenvolvidos sõo responsaveis por75%
das intoxicações
no
mundo,
apesarde
consumirem
apenas 20%
do
totalde
veneno
comercializado (FERRARI, 1986).Conforme
BENATTO
(1995) citado por FALK et al (1996)_,em
16de
janeiro
de
1992,a
portaria n°03
do
Ministérioda
Saúde, ratificou os termosde
um
ato publicadono
Diario Oficialda
Uniõoem
13/12/91,SEM
NOME
OU
ASSINATURA DE
SEUS AUTORES, alterandoa
classificação toxicológicados
agrotóxicos,denominada
“Diretn'zese
orientaçoes referentesa
autorizaçõo
de
registros,renovaçõo
de
registrose
usode
agrotóxicose
afins".
Com
a
alteraçao normativa,em
média
6%
dos agrotóxicosdo
paíspermaneceram
nas classes le
ll(extremamente
e
altamente tóxico),sendo
que
94%
-passaram .as classes llle
lV(medianamente
e pouco
tóxico). Antes, pela Lei 7.802/89,
em
média 85%
dos agrotóxicosdo
paístambém
possibilitouo
aumento da
concentraçao
de
princípios ativosde
muitos
venenos
agrícolas,a
exemplo
do
Tecto lOOque
passoua
Tecto ÓOO(de classe lll passou
a
classe lV)e
do
Captan
100que
passou paraCaptan
750 (de classe l passou para classe lll).
'
No
Brasil,a
problematica dos agrotóxicos tem. se agravado, dentreoutros fatores, pela
pouca
instruçõoda
maioria dos agricultoresque
nõo
-..
sao treinados para trabalhar
com
o
veneno
e
nem
mesmo
têm
conhecimento
das atrocidadesque
o
seu usopodem
causar.O
agricultoraplica
o veneno
a
seumodo,
sem
orientações técnicas,desconhecendo
dosagens: horario
de
aplicacaoe
períodode
carência.Segundo o
agrônomo
Sebastiao Pinheiro,em
paísesdo
l°mundo
. as pessoasque
trabalham
com
agrotóxicos sõo treinadas duranteum
períodoaproximado
de
2 anos,observando
todos os procedimentose
característicasdo
veneno,
recebendo
a
habilitaçãoao
finaldo
treinamentopodendo
sercomparada
a
uma
“carteirade
motorista". _Por
que
seraque
istoacontece somente
no
i°mundo
e
aquinao?
Sera
que
devemos
esperar pelas consequências desastrosas dosvenenos
agrícolas para
tomarmos
medidas
preventivas?Recentemente,
em
viagem
realizadaao
municípiode
Campos
Novos
(SC) -grande
produtorde
grõos cujo processo produtivodemanda
da
utilizaçãode
quantidades expressivasde
agrotóxicos - nossa turmado
9° semestre
de
Agronomia
presencioua
declaração
de
um
agrônomo
dono de
um
comércio
de
insumos agrícolas, dentre eles venenos: “A maioria dos agricultoresda
regiõo,donos ou
empregados
de
propriedades agrícolas,nõo
sepreocupa
com
sua proteção durantea
manipulação
do
veneno e
isso esta diretamente ligadoa
cultura dos indivíduos,sendo
que
nada
posso fazer frente <`:i essa realidade". Imediatamente,um
colega
fezuma
colocaçõo:“Um
dos maioresproblemas
de
acidentes fataisna
construção civil,
na
algum
tempo
otras, consistiana
faltadeçuso
de
' ~
equipamento
de
proteçao pelos operórios, principalmentede
capacetes.Para solucionar
o
problema, foi feitauma
campanha
de
conscientizaçãopara estimular
a
utilizaçãode
capacetes.No
início, percebeu-seresistências,
mas
agora
os índices de- acidentestêm
diminuídosensivelmente". Isso tudo, graças
ao
bom
senso dos operariose a
dedicação
de
profissionais competentes,que
buscam
a
verdade
e
visamo
bem
estar das pessoas. Seraque o
agrônomo
entendeu?
E estesprofissionais
nem
sequereram
vendedores
de. capacetesl...3.1.
Qcaso
Venâncio Aires -RS
Município
gaúcho
distantell0km
de
Porto Alegre,Venãncio
Airesdetém
um
dos indices mais altosde
suicídiono
Brasile
aténo
mundo
- 23por 100.000 habitantes (FALK et al, 1996).
O
mesmo
é
integranteda
micro-regiãozeconômica
de
Santa
Cruzdo
Sul,.Sendoeminentemente
agrícola,sua
economia
é
sustentada por dois produtos:fumo e
erva-mate.A
culturado
fumo
é
explorada,predominantemente,
em
pequenas
propriedades familiares constitui.-se
numa
formade
servidão - tipode
escravidão - `
embora
sejaa
mais monetizado. lsto quer dizerque
o produtotem
valor,mas
o
trabalho para produzi~lo não.H
Segundo
WERNER
(l98ó) citado por FALK et al (1996), opacote
tecnológico dos
empresas
do
fumo
contém,
de
forma obrigatória,o
crédito, os insumos (fertilizantes, agrotóxicose
outros),-a comercializaçãoexclusiva,
bem como
classificaçãodo
produtoconforme
os interessesmomentãneos de
mercado.
O
agricultor tabacaleroé
submetido, juntamentecom
sua famíliae
suas organizações, aos interesses destasempresos, tornondofse
dependente e
Apossivode
monipuloçõo
cortelizodo. '
“O
coso
dos insumosé
como
o
do
cervejo”, diz Sebostiõo Pinheiro. Asfumo
eiroscom
rom-lheso
reÇ
o
de
fobricoe
vende-osoo
o
ricultoro
preço
de
“coso noturno". Pergunto-se oí quolé
o
verdodeironegócio
destos
empresos?
Ano
opós
ono
o
culturodo
/fumosegue o
mesmo
rotino.Segundo
Werner
(1986) citodo por Folk et ol (1996),de
moio o
junho ocorreo
~
esterilizoçoo
do
sementeirocom
Brometo
de
Methilo, produto estebonido
do
ogriculturo mundiol por geror polibromodos dioxinose
destruiro
comodo
de
ozônio. Uso-se,tombém,
um
herbicido,um
inseticidoe
fungicídos (contoto
ou
sistêmico),de
cincoo
seis vezes.O
tronsplonteé
feito entre julho
e
ogosto e, periodicomente, são oplicodos inseticidos,nemoticidos, ocoricidos, fungicídos, entre outros, oté 'o flnol
do
ciclo.O
uso“mois intenso
de
ogrotóxicos, principolmentede
orgonofosforodose
tombém
corbomotos, ocorrede
outubroo dezembro.
Poro evitoro
floroçõo
e
excessode
brotos, uso~seum
ontibrotontede
umo
o
três vezes.O
mesmo
outor ressoltoque
são usodos,em
médio, 60 kgde
veneno
por hectore/ono,sendo
que
em
1995, devidoo
secoe
consequente
oumento de
progos,o
médio
possou poro lOO kg por hectore.A
colheito ocorrede
dezembro
o
joneiroe
utilizo,de
formo mossivo,o
mõo-de-obro
infontil.O
toboco
é
seco
em
estufoscom
colorde
fogo
o
lenho duronte olguns dios
e
noites.De
joneiroo
morço
ocorreo
comerciolizoçõo,
sendo
que
os primeiros entregosde
toboco
sõopogos
pelos fumogeiros
com
cheques, diretomente oosboncos
credores (FALK etol, l99ó).
O
Segundo
CARVALHO
(l9`93)citdo
por FALK et 'ol (l99ó), osogrotóxicos orgonofosforodos, muito utilizodos
no
culturodo
fumo/cousom
basicamente
três tiposde
seqüelas neurológicas,após
uma
intoxicaçãoaguda
ou
devidoa
exposições crônicas: polineuropatia retardada,síndrome intermediária
e
efeitos comportamentais.Além
de
causarem
varias conseqüências físicas negativascomo:
paralisiade
músculos dosmembros
e
respiratórios, diarréias, dores fortesde
cabeça:
também
sõo
verificadas alteraçoès
comportamentais
como:
insônia, ansiedade,apatia, irritabilidade, depressão
e
esquizofrenia.De
acordo
com
o
mesmo
autor,na
década de
60, -omédico
argentino Emílio Astolfi, relacionou
o
usode
organofosforadosna
regiõodo
Chaco
(regiao fumicultorada
Argentina),com
o
incremento dos suicídiosentre aqueles agricultores. Militares ingleses afirmam
que
asarmas
químicasorganofosforadas
causam
depressãoe
alteraçõesdo
comportamento
levando
soldadosao
suicídio, até cincoanos
depoisde
expostosao
veneno
durantea
Segunda
Guerra Mundial.Todo
essepanorama
foi traçado por profissionaispreocupados
com
a
problematica
do
usode
venenos na
agriculturaem
detrimentoda saúde
pública
no
Re/ofófio Pre//'minorde
Pesquisa - .Su/'c/b'ioe
Doença
Menfo/
em
Venâncio
Aires /RS):Consequêncío
do
usode
AgrofóxícosOrgonofosforados? Este relatório foi discutido
num
fórum realizadono
último dia 30
de
março
de
1996,no
referido município. Clue contoucom
a
presença de,
aproximadamente,
800 pessoas,na
sua maioria estudantesde
2° grau,além
de
diversas autoridades municipaise
estaduais,agricultores
e
leigos.Nada de
concreto aindapôde
ser concluído pelo relatório,no
1
entanto,
espaços
como
estes saode
extrema
importancia paraque
a
populaçao,
quase sempre
ignorante sobreo
assunto, “fique por dentro”dos verdadeiros fatos cotidianos
da
nossa sociedade, principalmenteDepois
de
fanfas informaçõesque
reflefema
realidadee
os efeifosnocivos
a
níveis sociaise
ambienfais das próficas agrícolas modernas,resfa-nos saber se ha,
de
uma
forma efetiva,um modo
diferenfede
se fazer agriculfura.Parte
2
Apresentação
Socialmente justa,
economicamente
viável,tecnologicamente
adaptada e
ambientalmente
sustentavel. Estes sõo os quesitosde
um
modelo
agrícola voltado parao
futuro.Mas como,
de
forma concreta,podemos
atingí-los? Seróque
issoacontece
na
pratica? Quaissão
aspraticasrecomendadas
pelo agricultura ecológica paraa
produçao
de
alimentos mois saudáveis, baratos
e
saborosose
como
issopode
influenciarna
verdadeirabusca
da
liberdadee
cidadania; tanto para agricultoresquanto
consumidores? Quais suas dificuldades e» limitações?Estas são questões
que
serõo discutidas, nestemomento,
com
base
na
experiênciada
Cooperativa Ecológica Coolméia; situadaem
Porto4.
A
cooPERAT|vA
Eco|.ÓG|cA
cooi_|v|É|A4.1. Histórico
da
CoolméiaEm
23de
janeirode
l978,a
Cooperativa dosMembros da
Fundação
Dr. Serge
Raynaud
de
la Ferriere Ltda - ligadaa
Grande
FraternidadeUniversal (GFU),F
fundação
mística-esotéricacomprometida
com
o
“desenvolvimento mental" - hoje Cooperativa Ecológica
Coolméia
-iniciou_ suas atividades associativistas
e de
cunho
empresarial.O
nome
é
originado
de
uma
comparaçõo
com
o
trabalhomútuo
executado
pelasabelhas
rumo
a
um
objetivocomum.
Foi criadacom
o
intuitode
reunir pessoasinteressadasno
consumo
de
alimentosde
melhor qualidade,através
do
suprimentode
suas necessidadescom
alimentação integralisenta
de
agrotóxicose adubos
solúveis sintéticos;na expansõo
de
suaprópria criatividade através
da
artee do
artesanatoe
na
discussaode
assuntos
como
cooperativismo, ecolog-ismo2e
naturismo3. gA
Cooperativatem
suasede na cidade
de
Porto Alegrena Rua
José~
Bonifacio n° 675 Bairro.Bom Fim,
no
entanto, suas atividadessao
executadas
com
agricultoresou grupo
deles por todoo
estadodo
RioGrande
do
Sul. “`
-
No
início,a
Cooperativa abriaao
públicoapenas
nos finsde
tardedas
l.8 as 20 horas, acumulando.. neste horario, todas as atividadesde
cunho
comercial (setor entreposto ). Nos primeirosanosestas
atividadestinham
um
carater voluntário,nõo
remunerado, e
eram
feitasde
forma
solidória pelos fundadores
da
Coolméia.2
Ecologismo éh a defesa da (natureza
associada com a busca de uma melhor qualidade de vida humana.
3
À
partirde
l98l,a
Cooperativa iniciou até contarcom
o
trabalhoremunerado
de
um
associado parao
turnoda
tarde,ã
partirdos
15 horas,no
setor entreposto. Nestemesmo
ano,a Coolméia
passoua
funcionar asterças - feiras pela
manhã,
com
o
objetivode
receber as hortaliçasdo
produtor Pedro
Verde
- fornecedor pioneirode
alimentossem
agroquímicos para
a
Cooperativa.Ja
em
1982,o
entrepostoe o novo
setordeestoque, passaram a
abrirtodos os dias
da
semana,
manha
e
tarde. As atividadeseram
executadas
por dois, associados sen/idores
com
a
participaçãode
conselheirose
associados,
em
trabalho voluntório, para ascompras e
transporte dosprodutos, etc.
As caracteristicas deste trabalho
eram
de
democracia
participativa -reuniões
de ação
empresarial, associativista, mutirões, etc._A auto-gestão4ja era
um
embrião
com
reuniões periódicas para decisões, críticase
›..
propostas para
açao.
Em
1983,a Coolméía
passoua
dividiro
espaço
físicocom
a
AGAPAN
z ...ç _ ~ '_ _.
Associaçao
Gaúcha de
Proteçaoao
Ambiente
Naturale
a
ADFG
Açao
Democratica
Feminina.Gaúcha.
Um
salto qualitativoe
quantitativo. Simultaneamente, ocorriamdebates na sociedade
que
culminaram
na
proibiçao
do
usode
biocidas organocloradosna
agriculturagaúcha.
No
ano
de
l984,a Coolméia
ganha
um
novo espaço
no
qualiniciaram-se as atividades
da
lancheria.Surgem
novos setores: entreposto,estoque, compras, lancheria
e
quitanda.A
ampliação
do
número
de
associados criou
uma
nova
realidadena
Cooperativa.A
comunicação e o
bom
entendimento
entre as funçõese
as pessoas tornaram-se vitais paraa
4 Entende-se por autogestão, a administração da cooperativa
em
que todos os indivíduos atuamcomo colaboradores de si mesmos, no sentido de que os objetivos coletivos determinam a
atuação individual, que, por sua vez,, é auto-administrada
em
conjunto. A autogestão leva codaindividuo a uma auto-educação, exige uma reeducação de valores e perspectivas, leva a uma
descoberta pessoal cotidiana, revelada nos afazeres grupais
em
permanente cooperaçãopresen/açõo
e o
desenvolvimentodo
projeto Coolméia.O
instrumentalpara
o
exercícioda
Democracia
Participativa ficaramsendo
as reuniõesgerais, setoriais, os mutiroes dos associados servidores
em
seuespaço
de
trabalho* produtivo. Nesta
época
a Coolméia
ampliouo
seu horariode
funcionamento
das 9 as 20 horas.Em
l98ó,a
'Cooperativa lançaa
lTupambaéfi,
um
espaço
na praça
pública para
promoçao de
atividades alternativascomo:
teatro, danças,~
exposiçoes
de
tecnologias alternativase
venda-de
produtos orgânicos.Nos dois
anos
seguintes continuou se realizando- estaprogramacao.
Em
l989,um
antigo projeto concretizou-se -a
Feira dos AgricultoresEcologistas (FAE). Este fato consistiu
na ampliação e
consolidaçãodo
trabalho
da
Cooperativa junio c`1comunidade.
`
Em
l99l,a Çoolméia
novamente
muda
sua sede,agora
paraa
ruaJosé Bonifacio
no
bairroBom
Fim, juntoao
Parque
da Redenção onde
localiza-se até
o
presente ano. Este fatocoloca
para todoo
grupo
varios desafios,com
a
necessidadede
manter
os resultados alcançados.Ao
mesmo
tempo, aponta
paraum
novo
ciclode
crescimentoe
›...
reestruturaçao organizacional
e
empresarial.À
partirde
1995, inicia-seo
trabalhocom
a
segunda
feira,a
da
›...
Cultura Ecológica (FCE),
no
bairroMenino
Deus,com
uma
propostanao
somente
de
vendas
de
alimentos orgânicos",mas
simcom
atividadesalternativas
como:
artesanato, teatro, trabalhode
colagens,educaçõo
ecológica, dentre outros.
Ao
longo dos seus l8anos
de
existência,a
Cooperativa EcológicaCoolméia
desenvolveu junto aos produtorese
consumidoresa
consciênciada
importanciaem
se produzire
consumir alimentos mais saudaveise
Nome indígena que designa as coisas de Deus, entendido aqui, como algo que pertence a todos, num ideal
cooperativo.
isentos
de
agroquímicos. Isto foi conquistado graçasa
um
processoeducativo
e
participativocom
a
populaçõo,nõo
se resumindoa
uma
simples questõo
de
mercado.
Neste
ano
de
1996,d
Cooperativa EcológicaCoolméia
continuano
aprimoramento das
suas atividades,no
entanto, sõo visíveis as variasdificuldades
e
limitações enfrentadas, principalmenteno
que
diz respeitoa
~ j 1 ~ ~
sua organizaçao i
processo auto gestionario,
capacitaçao e
valoiizaçaode
servidorese
insuficiênciade
corpo
técnico paraacompanhamento
dosprodutores; dificuldades estas
que
devem
sersanadas
para que,cada
vez mais,a
Cooperativa seja sinônimode
credibilidadee
satisfação junioa
todos
que
dela se beneficiam.Hoje,
a Coolméiaconta
com
ló85 associadosnasua
maioriaconsumidores, em; torno
de
50 servidorese
30 produtores (individuaise
associações), beneficiando
em
tornode
200 famíliasdo
meio
rural.4.2.
A
EstruturaCooperativa
é
a
institucionalizaçãoda
cooperação, ou
seja,supõe
a
organizaçõo objetiva
de
pessoasque
se auto-administramem
vistade
finscomuns.
Numa
Cooperativa,o
Trabalhoe
os benefíciosdo
mesmo
sao compartilhados por todosde
modo
igual, as funçõesindependem
de
titulos
e
podem
ser múltiplas,em
rodízioou
mutirõo.O
alvodo
trabalhoé
a
cooperaçõo e nõo
a
competiçõo
ou
o
lucro.A
Coolméia
é
uma
Cooperativa diferente das demais, poisreúne
no
seu
quadro
de
associados, três categorias: associados servidores,associados produtores
e
associados consumidores.O
ingressona
Cooperativaé
livrea
todas as pessoasque
desejaremutilizar seus serviços,
desde
que
aceitem
asnormas
propostasno
seu estatuto.`
'
~ ~
Além
dos órgaos decisóriosque
compoem»
uma
cooperativa“comum”
como
assembléia geral, conselho fiscale
conselhoadministrativo,
a Coolméia
apresenta, dentro deste último,o
conselho educativo - responsavel peloplanejamento das
atividades educativasda
~
Cooperativa,
promoçao de
cursose
treinamentosde
cunho
cooperativista,
e
divulgação dos objetivosda
Cooperativa juntoao
quadro
sociale
Õ comunidade,
e o
conselho
de
representantes -composto
por três representantes eleitos,um
de cada
categoria,tendo
q
incumbência
de
levar às outras instânciasda
Cooperativa' suasreivindicações
e
propostas.A
Coolméia
aindaé
subdivididoem
setorese
núcleos (Anexo i).Os
setores caracterizam-se por sera
“unidadede
gestõoadministrativa
e
política mais próximado
servidor”,ou
seja,compreende
osserviços
que a
mesma
oferece: confeitaria, entreposto, escritório, estoque,refeitório, secretaria
e
sítio.Os
núcleos organizam as atividadesexecutadas
pela Cooperativa
como
cursos, feira, jornale
núcleo técnico-agronômico(NTA).
No
entreposto naturistada
Coolméia
é
oferecidauma
gama
de
produtos, tais
como:
arroz integral, farinóceos, grõos, biscoitos, queijos, iogurtes, chimias, sucos, chós, temperos, en/a-mate,xampús,
sabonetese
livros.
.
Na
quitanda ecológicapodem
ser encontradas frutas, verduras,raízes
e
legumes, produzidossem
veneno,
diretamente dos associadosA
Cooperativapromove
periodicamente cursosde
culinaria, pões,doces
e
outros. Oferece,tambem,
o
plantõode
uma
associadanutricionista
que
orienta os consumidoresquanto
,aos produtos oferecidos.4.2.1l.Os associados
A
Cooperativa EcológicaCoolméia conta
hojecom
ió85 associados,sendo
que 40%
podem
ser considerados “ativos". ,A
maioria destes,em
tornode
ló00, são consumidores.O
restanteé
composto
por 50 servidorese
30 produtores. __
Os
associadospagam uma
anuidade
ao
FATES-
Fundo
de
Apoio
Técnico, Educativo
e
Socialda
Cooperativa,que
giraem
tornode
R$ l i,00(onze reais
ao
ano), para auxiliarna
execução
das atividadesque
envolvem
as area supracitadas.Todos eles
recebem
descontosde
15%
sobre todos os produtoscomercializados
na
Coolméia,exceto
nos preços praticados nas feiraslivres,
que
são iguais para sóciose
não-sócios. :.z› Associados ProdutoresFazem
parte dessa categoria agricultores individuaise
associaçõesde
produtoresfi'
que
comercializam seus produtos juntoa
Coolméia, seja nasfeiras-
ou
no
entreposto. . .A
Coolméia
procura trabalhar, prioritariamente,com
agricultoresque
reunem-se
em
tornode
um
propósito cooperativo/associativo. isso conferemaior viabilidade
e
coerênciaao
discursoda
organizaçãoque
objetivaa
integraçõo entre as pessoas
e
a
consciência ecológica.6
Os agricultores que fazem parte de uma associação sócia, não são automaticamente sócios. caso queiram
A
maioria destes agricultores sõo tradicionais(em
tornode
95%),ou
seja,
têm
sua origemno meio
rural.Os
outros5%
são tipicamente urbanos -agrônomos,
biólogose
outros profissionais.Os
associados produtores sao.ao
todo,em
número
de
30. Eles estaodistribuídos
da
seguinte forma:N°
aproximado
de
famílias beneficiadas:› Assentamento: Oi 20 :> Associações: O8 100 :> Cooperativas: 02 45 :.> Famílias: i5 15 - ::>
Grupos
coletivos: 04. 20A
CooperativaCoolméia
beneficia, -aproxirnadvamente, 200 famíliasde
agricultores (1: 800 pessoas)que
se constituemem
pólos sociaise
políticos
de
próiticas associativistas, utilizam tecnologias brandas e irradiama
educaçao
ambiental.4.2.2.
O
Núcleo Técnico-Agronômico (NTA) e organizações parceirasEste núcleo
é
responsavel pelofomento
do
associativismoe
das
técnicas agrícolas ecológicas junto aos produtores rurais. É
composto
porprofissionais
da
areaagronômica
que
fazem
visitas periódicas aosfornecedores
da
Cooperativa'e
aqueles interessadosna
produçõo
de
alimentos mais sadios.
É
verdade
* ' ^-
. - .
que, ultimamente,
a
frequencia dessas visitastem
diminuído sensivelmente frente
ao
número
limitadode
pessoalcapacitad
_
› ~
O
POVO exercer
a
extensao, envolvidos muitas vezesem
outros afazerese
o
alto custo
que
a
atividadedemanda.
Cabe
ressaltarque
essetem
sido,indubitavelmente,
o
ponto
de
estrangulamento das atividadesda
Coolméia
junto aos associados produtores.Essa situação
é atenuada
com
a
parceriacom
outras organizaçõesde
difusaoda
agricultura ecológica. Assim,a Coolméiq
consegue
viabilizara
comercializaçãode
alimentoscomprovadamente
integraise
isentosde
VGHGHOS.A
Fundação
Gaia.é
uma
dessas parceiras. Constitui-senuma
organizaçãonão-governamental
que
objetivaa
promoção
e
divulgaçãoda
agricultura ecológica'no
RioGrande
do
Sul. Entre suas atividades,organiza cursos
em
que
produtores ruraise
técnicos multiplicadorestrocam
experiências
e
adquirem
conhecimentos
teóricose
próticosda
órea.Além
»
disso, assessora grupos organizados
de
pequenos
agricultores,~
consolidando núcleos
de
irradiaçaoda
agricultura ecológicaem
diferentes regiões
do
RioGrande
do
Sul._
Outra organizaçao parceira
é
o
Centrode
Agricultura Ecológica Ipê(CAE-Ipê). Essa
ONG
iniciou seus trabalhosem
l985com
o
objetivode
viabilizar
a
adoção de
tecnologias alternativasna
produção
agrícola,orientadas pela filosofia
da
proteção ambientale
justiça social. Entre asatividades desenvolvidas pelo
CAE
Ipê estãoa
assessoria aos agricultoresda
regiãode
Ipê, Antônio Pradoe
municípios vizinhos, atravesde
visitas ãspropriedades, reuniões
de
organização,planejamento
de
produção
ecológica
de
alimentos e- sua comercialização, incentivoã
agroindústriacaseira, trabalho
com
ervas medicinaios, alimentaçãoe saúde
em
geral.Em
algumas
regiões,como
a
SerraGaúcha,
a EMATER
- RS prestaassessoria aos agricultores ecologistas.
Ao
nosso ver,o
apoiode
setoresgovernamentais
é
de
fundamental
imporlãncia paraa
consolidaçãoda
agricultura verdadeirode
formaabrangente
e não somente
restritaa
um
pequeno
nú,erode
produtores “privilegiados”sem
ultrapassara
barreirado
“alternativo”7 .-
4.3.
A
comercializaçãoFeiras livres, entreposto
e
vendas o
outros estados - estassõo
aspossibilidades-
dadas
aos agricultores /parao
comercializaçãode
seusprodutos agroecológicos via Cooperativa Coolméia.
4.3.1. As feiras livres '
Na
cidade
de
Porto Alegre,a Coolméia
realizasemanalmente
(aossabados),
duas
feiras paraa
comercialização dos produtos dos agricultoresecologistas diretamente aos consumidores.
Nessas feiras,
o
consumidorpode
encontrar verduras, frutas, legumes,l
z I . ~
aticinlos, paes, mel, produtos
da
agroindústria caseira,além
de
conhecer
novos produtos
da
agriculturagaúcha.
Os
associados produtoresque
expoem
nas feiravêm
de
diversospontos
do
estado: Alvorada, Antônio Prado,Bom
Retiro,Camaqua,
CerroGrande
do
Sul, Eldoradodo
Sul, Encruzilhadado
Sul, Feliz, Floresda
Cunha,
ipê,
Novo
Hamburgo,
Taquara, Torres,Viamõo e
outros. 'Os
preços praticados nas feiras sao semelhantes aos dossupermercados
da
regiao. Todas as sextas feiras,um
técnicoda
Cooperativa visita
de
3a
4 locaisde
comercializaçaode
hortifrutigranjeiros.7
Entendemos por altemativo, um processo que surge para atuar nas “ brechas “ de um sistema vigente,