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O papel do catador de material reciclável como agente social econômico: o protagonismo cidadão na livre iniciativa e a defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado

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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

MESTRADO EM DIREITO CONSTITUCIONAL

LINHA 1 – CONSTITUIÇÃO, REGULAÇÃO ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO

ANA LUIZA FÉLIX SEVERO

O PAPEL DO CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL COMO AGENTE SOCIAL ECONÔMICO: O PROTAGONISMO CIDADÃO NA LIVRE INICIATIVA E A DEFESA

DO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO

NATAL/RN 2018

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O PAPEL DO CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL COMO AGENTE SOCIAL ECONÔMICO: O PROTAGONISMO CIDADÃO NA LIVRE INICIATIVA E A DEFESA

DO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO

Trabalho de Dissertação apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como pré-requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Profa.º Dra. Patrícia Borba Vilar

Guimarães

Coorientador: Prof. Dr. Fernando Joaquim

Ferreira Maia

Natal / RN 2018

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recicláveis do Brasil que lutam diariamente pela consolidação da gestão de resíduos sólidos.

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Primeiramente a Deus, cuja força faz mover montanhas.

Aos meus pais, Jessé e Lourdes, em especial a minha mãe que lutou a cada dia para tornar os meus sonhos realidade, bem como aos meus irmãos, George e Jéssica, por serem estarem presentes em minha vida.

À sobrinha, Júlia, pelos momentos lúdicos.

À cunhada, Mayara, pelas leituras e revisões de tudo que tenho escrito.

Ao mais novo membro da família, Otto Iberê, por trazer leveza nos momentos finais da dissertação.

À orientadora, Dra. Patrícia Borba Vilar Guimarães, por ter sido fonte de inspiração acadêmica, pelo apoio motivacional e por toda orientação para o desenvolvimento dos trabalhos ao longo do mestrado.

Ao coorientador, Dr. Fernando Joaquim Ferreira Maia, pelas orientações.

Aos amigos do mestrado Andréa Neiva, Evilásio Galdino e Victor Barros por toda solidariedade durante os dois anos de mestrado.

À Dra. Marise Costa por ter me acolhido na disciplina de Direito Ambiental para realizar o estágio docente.

Ao professor Dr. Yanko Xavier por todo o ensinamento nas disciplinas do mestrado e pelas considerações na Banca de Qualificação.

Ao professor Dr. José Orlando pela disponibilidade em participar da Banca de Qualificação e por suas considerações.

Ao meu amigo, Diágoras, por todas as vezes que me distraiu, socorreu-me, fez ou revisou meu

abstract.

Às minhas amigas, Luciana, Thaysa, Anne e Rafaela por toda a amizade.

Aos amigos da República mais charmosa e amorosa de toda Natal Andrea, Emenson, Isabel, Jéssica, Kenno e Murilo por todo o convívio.

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lo que está unificado no es uniforme, lo que es igual no tiene que ser idéntico, lo que es diferente no tiene que ser injusto.

Tenemos el derecho a ser iguales cuando la diferencia nos inferioriza, tenemos el derecho a ser diferentes, cuando la igualdad nos descaracteriza”.

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O presente trabalho tem como objeto analisar o papel do catador de material reciclável como agente social e econômico a partir do protagonismo cidadão baseado na livre iniciativa e, consequentemente, na defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado. O interesse pela temática se trata de continuidade em pesquisa que envolve os atores do instituto jurídico dos resíduos sólidos urbanos, neste caso, do catador de material reciclável. Além disso, o descarte correto, a escassez e a poluição causada pelo acúmulo de resíduos em mares, espaço exterior e até mesmo disposição final ilegal em outros continentes são temas palpitantes no atual cenário mundial. No Brasil, a figura do catador se torna proeminente pela adoção do princípio dos “três erres” (3Rs) – reduzir, reciclar e reaproveitar, do ciclo de vida dos produtos, da economia circular e de estabelecimentos solidários, o que inclui a coleta seletiva e exclui completamente as usinas de incineração do sistema brasileiro de descarte ambientalmente correto. O objetivo principal do trabalho é examinar o catador de material reciclável na função de agente socioeconômico ambiental diante do protagonismo cidadão e da livre iniciativa porque para que o catador possa exercer a sua atividade de forma digna é necessário que seja organizado coletivamente por meio de associação ou cooperativa. Além disso, para que o catador se torne atuante se faz relevante ter conhecimento em diversos assuntos até para ser capaz de administrar uma associação ou cooperativa, por causa disso, é importante ser protagonista tanto de sua própria atividade quanto da elaboração legislativa no que diz respeito à gestão de resíduos sólidos. Para que isso ocorra, a Política Nacional de Resíduos Sólidos traz a obrigatoriedade aos entes federados da criação e fomento de associação e/ou cooperativa de catadores de recicláveis para receber o incentivo da União referente à gestão de resíduos sólidos com vistas à inclusão social e emancipação econômica. Para isso o presente estudo se dividiu entre o método bibliográfico e empírico. Neste, encontram-se visitas realizadas em associação e cooperativas de catadores nas cidades de João Pessoa, Natal e Recife a fim de averiguar de acordo com o princípio da especialidade, portanto, afastando-se do método comparativo, quais locais são considerados independentes e protagonistas da própria administração. Além disso, verificou-se documentos locais para compreender qual a principal relação entre a formalização de um documento necessário para obter recursos da União, ou seja, a lei no papel e a prática da atividade do catador. A questão a ser respondida é a de que o catador de reciclável é parte integrante do mercado a partir da livre iniciativa, mas como garantir a permanência solidária e de baixo poder aquisitivo desta atividade diante da ordem econômica brasileira. Logo, a hipótese é de que o catador organizado coletivamente tende a ser mais politizado, portanto, torna possível o exercício do protagonismo cidadão para a sua realidade de agente socioeconômico ambiental.

Palavras-chave: Catador de material reciclável. Protagonismo cidadão. Livre iniciativa. Política

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The present work aims at analyzing the role of waste picker as a social and economic agent based on the citizen's role based on free initiative and, consequently, on the ecologically balanced environment. The interest in the subject is a continuity in research that involves the actors of the legal institute of urban solid waste, in this case, the waste picker. In addition, the correct disposal, scarcity and pollution caused by the accumulation of waste in seas, outer space and even illegal final disposal in other continents are throbbing themes in the current world scenario. In Brazil, the figure of the picker becomes prominent by adopting the "three erres" (3Rs) principle - reduce, recycle and reuse, continuity throughout the product life cycle, circular economy and solidary establishments, which includes selective collection and completely excludes the incineration plants of the Brazilian environmentally sound disposal system. The main objective of the work is to examine the waste picker as an environmental socioeconomic agent in the face of citizen protagonism and free initiative, because in order for the picker to carry out his activity in a dignified manner, it must be organized collectively through association or cooperative. Also, in order for the taster to become active it becomes relevant to have knowledge in various subjects even to be able to manage an association or cooperative, because of this, it is important to be protagonist of both his own activity and the participation of the legislative elaboration in which solid waste management. For this to happen, the National Solid Waste Policy obliges federated entities to create and promote an association and / or cooperative of waste pickers to receive the Union's incentive for solid waste management with a view to social inclusion and emancipation economic development. Thus, the present study was divided between the bibliographic and empirical method. In this, there are visits made in association and cooperatives of pickrs in the cities of João Pessoa, Natal and Recife in order to ascertain according to the principle of specialty, therefore, moving away from the comparative method, in which places the picker is independent economically and self-managing. Besides, local documents have been verified to understand the main relationship between the formalization of a document needed to obtain Union resources, ie the law on paper and the practice of the taster's activity. The question to be answered is that if the waste picker is an integral part of the market based on free initiative, how to guarantee the solidarity and low purchasing power of this activity in the face of the Brazilian economic order. Therefore, the hypothesis is that the picker organized collectively tends to be more politicized, therefore, it makes possible the exercise of citizen protagonism for its socioeconomic environmental agent reality.

Keyword: Wast picker. Citizen protagonism. Free initiative. National Policy on Solid Waste.

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Tabela 1- Lei ordinária de proteção à saúde humana e combate à poluição...37

Tabela 2- Resoluções de proteção à saúde humana e combate à poluição...37

Tabela 3- Acórdãos do Superior Tribunal de Justiça...47

Tabela 4- Comparação da implantação da coleta seletiva e do aterro sanitário após a PNRS...71

Tabela 5- Decretos Federais que prorrogam o prazo da Política Nacional de Saneamento Básico ...72

Tabela 6- Descrição da Lei ou Projeto de Lei e dos prazos...73

Tabela 7- Indicadores qualitativo de classificação de cooperativa ou associação de catadores de recicláveis...81

Tabela 8- Indicadores qualitativo de classificação da Associação de catadores de recicláveis Acordo Verde...102

Tabela 9- Indicadores qualitativo de classificação da Cooperativa de Catadores de Material Reciclável de Natal (Coopcicla)...111

Tabela 10- Indicadores qualitativo de classificação da Cooperativa de Catadores de Material Reciclável Ecovida Palha de Arroz...118

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ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas Ancat - Catadoras de Materiais Recicláveis

BCZM - Biblioteca Central Zila Mamede

Braseco SA - Aterro Sanitário Metropolitano de Natal Brencorp - Consultoria de Meio Ambiente Ltda

CAGED - Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CBO - Classificação Brasileira de Ocupação

CEAEPGIRS - Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de João Pessoa CELPE - Companhia Energética de Pernambuco

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho CNM - Confederação Nacional dos Municípios

Coopcicla - Cooperativa de Catadores de Material Reciclável de Natal COMPESA - Companhia Pernambucana de Saneamento

Conama - Conselho Nacional do Meio Ambiente

Conpedi - Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

DIRPF - Declaração do Imposto de Renda de Pessoa Física DOU - Diário Oficial da União

EAD - Ensino à Distância

EcoSam - Consultoria em Saneamento Ambiental Ltd Emlur - Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana EPI - Equipamento de Proteção Individual

ESMA - Escola Superior de Magistratura

FIERN - Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

MMA - Ministério do Meio Ambiente

MNCMR - Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis MTE - Ministério do Trabalho e Emprego

OIT - Organização Internacional do Trabalho OMS - Organização Mundial da Saúde

ONU - Organização das Nações Unidas

PANGEA - Centro de Estudos Socioambientais PE - Pernambuco

PEGIRS - Plano Estadual De Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Rio Grande do Norte PERS - Plano Estadual de Resíduos Sólidos

PET - Polietileno tereftalato PEV - Ponto de Entrega Voluntária

PGRCC - Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil PGRS - Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos

PGRSS - Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde

PMGIRS - Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Município de Natal PNEA - Política Nacional de Educação Ambiental

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PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos PNSB - Política Nacional de Saneamento Básico

PPGCJ/UFPB - Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas da Universidade Federal da

Paraíba

PPGD/UFPE - Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Pernambuco PPGD/UFRN - Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte

PROEX - Pró-Reitoria de Extensão

Pronacoop - Programa Nacional de Fomento às Cooperativa de Trabalho RAIS - Relação Anual de Informações Sociais

RESOLPE - Sistema Estadual de Informações sobre Resíduos Sólidos SEDIS - Secretaria de Educação à Distância

Sescoop - Sistema Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Sigaa - Sistema Integrado de Gestão Acadêmica

SINE - Sistema Nacional de Empregos STJ - Superior Tribunal de Justiça

TAC - Termo de Ajustamento de Conduta UFPB - Universidade Federal da Paraíba

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INTRODUÇÃO...13

2. O CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL NA POLÍTICA SOCIOAMBIENTAL BRASILEIRA...26

2.1 AS TRÊS DIMENSÕES DO CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL...27

2.1.1 O catador de material reciclável e o seu papel social...27

2.1.2 O catador de material reciclável como principal ator ambiental na coleta seletiva...32

2.1.3 O catador de material reciclável e o valor econômico da sua atividade...38

2.2 O ESTIGMA SOCIOAMBIENTAL DA ATIVIDADE DO CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL...41

2.2.1 O estigma social do catador de material reciclável...43

2.2.2 O estigma do trabalho do catador de material reciclável...45

2.2.3 A reprodução do estigma em Tribunal brasileiro...46

3.1 “SEM CATADOR NÃO HÁ COLETA SELETIVA” NO BRASIL...51

3.1.1 A coleta seletiva e a cooperativa de catadores...56

3.1.2 A coleta seletiva e a associação de catadores...60

3.1.3 A coleta seletiva por catadores individuais...63

3.2 A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUO SÓLIDO E OS DESAFIOS PARA O FIM DOS LIXÕES, ATERRO CONTROLADO E A IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA...67

4. AS ASSOCIAÇÕES OU COOPERATIVAS DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS: a livre iniciativa para o desenvolvimento sustentável...75

4.1 METODOLOGIA APLICADA NA PESQUISA EMPÍRICA: visita às cooperativa e associação de catadores de materiais recicláveis e levantamento bibliográfico nos títulos de Direito Ambiental da Biblioteca Central Zila Mamede...75

4.2 AS DIMENSÕES SOCIAL, ECONÔMICA E AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL...85

4.3 O CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL E O DESENVOLVIMENTO DA LIVRE INICIATIVA: O AGENTE SOCIOECONÔMICO AMBIENTAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS ...89

4.4 RESULTADOS...92

4.4.1 João Pessoa: Associação Acordo Verde...92

4.4.2 Natal: Cooperativa de Catadores de Material Reciclável de Natal (Coopcicla)...103

4.4.3 Recife: Cooperativa de Catadores de Material Reciclável Ecovida Palha de Arroz. .111 4.4.4 Pesquisa no acervo disponível de Direito Ambiental na Biblioteca Central Zila Mamede da Universidade Federal do Rio Grande do Norte...118

5. AS POLÍTICAS E OS PLANOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS: DOCUMENTOS NECESSÁRIOS PARA IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA E INCENTIVO ÀS ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS DE CATADORES...126

5.1 DOCUMENTOS OFICIAIS RELACIONADOS À GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CIDADE DE JOÃO PESSOA...128

5.2 DOCUMENTOS OFICIAIS RELACIONADOS À GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CIDADE DE NATAL...135

5.3 DOCUMENTOS OFICIAIS RELACIONADOS À GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CIDADE DE RECIFE...140

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REFERÊNCIAS...150 ANEXO I - Figuras da Associação Acordo Verde dos galpões do Jardim Cidade Universitária e Mangabeira IV de João Pessoa / Paraíba...162 ANEXO II - Figuras da Cooperativa de Catadores de Material Reciclável de Natal (Coopcicla) de Natal / Rio Grande do Norte...167 ANEXO III – Figuras da Cooperativa de Catadores de Material Reciclável Ecovida Palha de Arroz de Recife / Pernambuco...171

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INTRODUÇÃO

A coleta seletiva no Brasil tomou força a partir de duas vertentes, a primeira com a quantidade de lixo depositados nos aterros controlados e lixões a céu aberto, os quais se tornavam cada vez mais insuficientes, gerando, por sua vez, a necessidade de locais para depósitos de rejeitos. A segunda, com o desperdício do espaço urbano causado para o funcionamento de aterro controlado ou lixão a céu aberto, cujo espaço está cada vez mais a ser disputado por causa do crescimento populacional urbano e pela ascendente especulação imobiliária.

Os fatores do aumento da população urbana podem ser entendidos em várias facetas, desde o êxodo rural, a migração de cidadãos de países em guerra (por exemplo: Síria) e até em crise econômica (por exemplo: Venezuela). Por causa da disputa por área urbana, aumenta-se o valor do metro quadrado considerada adequada para boa moradia o que torna com que as áreas sejam cada vez mais dedicadas ao mercado imobiliário. Portanto, manter um lixão ou aterro controlado, o qual necessita de extensa área, é, de fato, desperdício territorial urbano, pois se arrecadará menos tributo, deixará de vender a área ao mercado, além de deixar a cidade e o bairro desvalorizados em todos os aspectos, sejam ambientais, imobiliário, estrutural, entre outros.

Ademais, esse tipo de depósito polui arredores, água, ar e deixa a cidade com aspecto de suja, com visão para o lixão ou uma montanha de argila. Devido a isso, grandes cidades urbanas ou capitais ao desativarem os lixões e aterros controlados adotaram municípios vizinhos para a construção do aterro sanitário por meio de consórcio entre municípios, pois aquilo que os olhos não veem, o mercado imobiliário não sente.

Logo, quando se havia menor preocupação com o lixo depositado no espaço urbano das grandes cidades, eles eram localizados nas capitais e dividiam o espaço com a população de menor poder aquisitivo ou renda. Com a explosão demográfica e o processo migratório para os centros urbanos, a urbanização acontece de forma desordenada e produz espaços de exclusão territorial na própria cidade, por exemplo, quando alguns locais são destinados para boas moradias, e, outros para péssimas habitações.

No entanto, como a disputa pelo espaço próximo aos centros urbanos está cada vez maior, o que se viu durante as construções para os megaeventos no Brasil foi uma remoção de moradores pobres de áreas de disputas imobiliárias em virtude de construções que proporcionassem uma visão do espaço limpo, de forma que a especulação imobiliária pudesse agir. Outra forma de perceber a segregação territorial é quando as residências

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populares são construídas em locais muito afastados dos bairros disputados pelo mercado imobiliário. Por causa disso, a disputa pelo espaço territorial urbano nas grandes cidades aumenta, o que acarreta em uma supervalorização dos terrenos.

A partir dessa supervalorização, ocorre a mudança dos lixões dos grandes centros urbanos para cidades menores ou vizinhas. Identifica-se isso quando se compara o local do lixão em João Pessoa/PB, no estuário do Rio Sanhauá, próximo ao Centro da cidade e da na zona oeste da cidade de Natal/RN, que era cercado por uma reserva florestal no bairro Felipe Camarão; ambos foram deslocados para outras cidades em forma de aterro sanitário. O primeiro para a cidade de Santa Rita/PB, distante entre 20 a 24 quilômetros de João Pessoa/Paraíba e o segundo para o município de Ceará-Mirim/Rio Grande do Norte em torno de 35 a 37 quilômetros de distância de Natal/Rio Grande do Norte.

Ressalta-se que, neste trabalho, o uso do termo “lixo” indica o resíduo e o rejeito juntos, mas que se mesclam ao ponto de dificultar qualquer tipo de coleta seletiva, cuja realidade é trazida nos lixões e aterros controlados que existiram e aos que continuam em pleno funcionamento. Outrossim, a terminologia passou a ser raramente utilizada com o processo de aprovação da proposta de lei que traz e conceitua os termos técnicos resíduo e rejeito. Este, como resíduos que depois de outras formas de tratamento não há outro caminho senão a disposição final. Enquanto aquele, são os resíduos que ainda passarão por um processo de tratamento e podem ser considerados como matéria, substância, gás, objeto ou bem descartado derivados de atividades da sociedade.

Metodologicamente, explica-se o uso da palavra “lixo”. Linguisticamente, o termo lixo é indicado para coisas que não se quer mais, para objetos descartados, algo que se tornou inservível. A palavra não é um termo técnico, mas popular, que é utilizada há muito tempo. Destaca-se que mesmo não sendo técnico era utilizado em leis, a exemplo da Política de Saneamento Básico; na Associação Brasileira de Normas Técnicas, para normatização das formas de acondicionamento e descarte; em livros; matérias jornalísticas e até como adjetivação da pessoa que trabalha com o que fora descartado.

Dessarte, utiliza-se o termo lixo para indicar rejeito e resíduos sem qualquer separação para o descarte correto, sem dar destinação específica a cada um deles. O lixo confunde o que é resíduo e o que é rejeito, dificilmente há como separá-los por vários motivos, e, o principal deles é pela contaminação que deteriora o resíduo.

Porém, a palavra “lixo” vai além do significado dado neste trabalho, posto que tem uma significância excludente. Lixo é qualquer objeto descartado, de forma incorreta em lixões

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ou aterros controlados, que cause poluição. A significância da palavra “lixo” é pensar em um amontoado de objetos, em local impróprio e de grande insalubridade.

Dessa forma, ao tratar erroneamente os resíduos sólidos como lixo, estar-se-á a abrir a possibilidade para indicar que todo e qualquer resíduo sólido é o acúmulo de objetos poluentes em local indevido. Assim, os materiais recicláveis, que também são resíduos sólidos, estariam classificados como lixo. Por sua vez, os profissionais que coletam os materiais recicláveis seriam denominados de catadores de lixo.

Mas, a função catador de lixo não existe! Até porque ninguém sobrevive dignamente do, e no, lixo. O catador de material reciclável é um profissional classificado no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), sob o número 5192-05, e tem como a principal função coletar, separar e vender o material reciclável. Este, no que lhe concerne, é tudo aquilo que pode ser reciclado ou reutilizado, deste modo, tudo depende da tecnologia existente. Por exemplo: há uma cooperativa de catadores em Recife/Pernambuco, que recicla o óleo de motor para gerar combustível a seus caminhões que fazem a coleta.

Tratar o catador de material reciclável como catador de lixo é perpetuar o estigma de que este profissional sobrevive de restos da população consumerista, esta, no que lhe concerne, como um mundo à parte dos catadores cujo grupo não os integra, como se não fossem pessoas consumidoras. Dessa maneira, as sobras são coisas que ninguém mais deseja e “joga fora” de qualquer forma sem a mínima preocupação e responsabilidade pelo resíduo e rejeito produzido. Afinal, quem consome é também considerado o produtor do resíduo e, portanto, responsável pela sua destinação final.

Talvez o estigma tenha surgido com o fato de a profissão de catador de material reciclável ter iniciado porta a porta, ou pela procura de material reciclável nos depósitos domiciliares, posto que não separam o reciclável do rejeito. Ao mesmo tempo, os catadores foram trabalhar em lixões ou aterros controlados por vários motivos: i) concentração de todo o descarte; ii) não sofriam represálias da população que ora os confundiam como mendigos, ora como criminosos; iii) proibições de algumas cidades, como São Paulo, a trafegar com as carroças pelas principais avenidas do Centro sob a justificativa que atrapalham o trânsito.

No entanto, nenhum catador de material reciclável dirá que o lixão ou aterro controlado são locais que desejam trabalhar. Ao contrário, em matéria veiculada, em 2017, pelo programa Globo Repórter sobre o maior lixão em atividade, localizado em Brasília, mostrou o desejo dos catadores em trabalhar em ambiente adequado, como um galpão com banheiros, água, refeitório, esteira, prensa, entre outros equipamentos. E mesmo que alegassem que sim, é dever humano, social e ambiental de todos da sociedade e do poder

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público fomentar locais dignos para cada cidadão brasileiro trabalhar. Além do que, é convenção internacional assinada junto à Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Por isso, ao trazer da memória as primeiras formas de coleta seletiva conhecidas pela pesquisadora, recorda-se que na infância haviam pessoas que vendiam sorvete ou algodão doce em troca de alumínio, garrafa de vidro ou ferro. Nesta época, os vendedores desses produtos informavam quantas peças de cada material reciclável (vidro, ferro ou alumínio) eram necessárias para trocar por um sorvete caseiro na casquinha ou um algodão doce.

Certamente, a coleta de material reciclável começou antes disso. Visto que, o escambo já foi uma forma evoluída de adquirir material em boa condição para revenda e também sem a necessidade de procurá-lo em lixões. Outrossim, havia outra possibilidade, que era a de auferir valor monetário para o sorvete ou o algodão doce e, assim, obter renda além da venda dos recicláveis.

Este estudo não pretende fazer uma análise de quando começou a atividade da coleta seletiva no Brasil, mas ressalta a importância deste estudo antropológico e sociológico para caracterizar e identificar a função do catador de material reciclável ao longo da nossa história, bem como descrever o perfil socioeconômico do atual catador de material reciclável. Logo, verificar quem foram os primeiros compradores desses materiais coletados. Quais tecnologias as indústrias utilizavam para a reciclagem? Por que reciclavam? Tendo em vista que a economia adotada era a linear e de vasta exploração dos recursos naturais e a reciclagem contraria esse método econômico adotado.

Será utilizado como corte temporal a Segunda Guerra Mundial, visto que ela modificou completamente o sistema de produção de bens e serviços, assim como a publicidade, a qual passou a incentivar o consumo e o aumento de descarte dos produtos. Para mais, a exploração dos recursos naturais chegou aos países periféricos em forma de disputa territorial de mercado. Não obstante, a Segunda Guerra Mundial foi causa de grande processo migratório no Brasil, o que provocou aumento da população e o desordenamento urbano juntamente com o desmatamento.

Por causa desse corte temporal, faz-se necessário informar que os catadores de materiais recicláveis, antes chamados de catadores de lixo passaram a exercer esta atividade como forma de sobreviver nas grandes cidades e estava longe de ser uma opção de trabalho digno na vida de qualquer cidadão, muitas vezes, confundidos como mendigos, pois alguns além de fazer a coleta, praticavam a mendicância, posto que a quantidade de material era pouca para possibilitar uma renda mínima para uma existência digna.

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Importa dizer que a quantidade de material não era suficiente para ter uma renda digna porque não existia um plano de gestão de resíduos sólidos, visto que esta expressão era inexistente. Usava-se a palavra “lixo” e esta, por sua vez, indica algo que ninguém quer. Além do que, não havia preocupação em se ter um plano de gestão, dado que a coleta e a disposição final já eram tidas como suficientes. Portanto, seria impossível sobreviver dignamente a partir dele.

Destaca-se que nesta época a coleta realizada pelos primeiros catadores era somente pela sua sobrevivência diária. Não existia a consciência de redução de lixo em aterro, até porque a maioria das cidades utilizava o lixão a céu aberto; não se entendia que este processo reduzia a busca pelos recursos naturais e proporcionava um ambiente sadio.

Por conseguinte, o instituto jurídico de resíduos sólidos no Brasil, torna-se potencialmente explícito e ensejador de mudança social, econômica e ambiental com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Por mais que existam leis ou resoluções anteriores que tragam dispositivos em atenção a este instituto, nada ainda foi fator de produção de mudança quanto a PNRS. A mudança aqui citada não é propriamente a prática da expressão do texto da lei, mas também tentativas políticas de torná-la impraticável, quando, por exemplo, criam um projeto de lei para dilatação do prazo para o fim dos lixões sob várias justificativas e, uma delas, a de que quatro anos foram insuficientes para a sua implementação.

No entanto, esta lei esteve em trâmite por volta de 20 anos e não traz qualquer conteúdo de norma técnica brasileira que impedisse aos municípios de fechar os lixões ou aterros controlados e implantar o aterro sanitário e realocar as pessoas que ali trabalhavam para galpões que passariam a receber os materiais recicláveis. Como exemplo, tem-se o município de João Pessoa/Paraíba o qual encerrou as atividades do lixão a céu aberto no ano de 2003.

Dessa forma, a mudança causada pela PNRS foi a de provocar gestores municipais para, de acordo com a lei, solucionar o problema dos lixões ou até mesmo mobilizá-los coletivamente para propor a elasticidade do prazo dado pela lei quando de sua vigência. Pela primeira vez, desde a aprovação da PNRS, a questão dos resíduos sólidos urbanos se tornou pauta no Congresso Nacional. Outra transformação é também a de que, a disposição final deixa de ser, somente, uma preocupação tributária para os gestores municipais e passa a se tornar uma responsabilidade também social e ambiental, que poderá ter consequências jurídicas se não forem observadas.

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Por outra via, distanciando-se do histórico legal sobre o assunto, o intuito da pesquisadora é pontuar documentos importantes na área ambiental, que possuem relevância internacional ou nacional e que, porventura, tenham trazido o assunto de resíduos sólidos. Mesmo que, em algum momento temporal, tenham recebido o adjetivo de poluidor. Em verdade, o que se pretende é trazer o estado da arte sobre o assunto, mas a começar pelas várias formas e leis que, ainda em vigor, tratam do objeto resíduos sólidos.

Nesse sentido, iniciar-se-á com a década de 1970 e a discussão sobre o meio ambiente que ganhou espaço internacional com o Relatório Nosso Futuro Comum (Our Common

Future) e nacional, na década 1980, com a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA).

Evidencia-se que, antes destes documentos outros documentos oficiais já demonstravam a preocupação com o meio ambiente, fossem em acordos bilaterais ou entre países de um mesmo grupo, a exemplo da Comunidade Europeia.

O Relatório Nosso Futuro Comum não traz matéria específica sobre os resíduos sólidos. Todavia, apresenta como causas de mortalidade infantil a poluição, a contaminação da água e a necessidade da potabilidade dela. De forma mais genérica, apresenta os perigos do desenvolvimento insustentável, que seria aquele em que não possui os princípios da democracia e participação cidadã como formas de pré-requisitos para a proteção do meio ambiente e, assim, de um desenvolvimento sustentável.

Além disso, apresenta como causas da degradação ambiental o consumismo, as formas de produção insustentáveis atreladas ao crescimento populacional. Entende-se como produção insustentável aquela em que o ciclo é linear, ou seja, extrai os recursos naturais, produz, vende, consome e descarta.

Destaca-se que a relação entre o desenvolvimento sustentável e o Relatório Nosso Futuro Comum não é romântica, isto é, sabe-se os desafios perante a mudança de paradigma, visto que a distorção do conceito do que seria um desenvolvimento sustentável poderá ser causa de sacrifício ambiental. Por isso, o conceito não deve ser visto como algo parado no tempo, até porque o processo de extração, fabricação e consumo está em constante mudança para acompanhar a população atual.

Em relação a PNMA, originariamente, discorre de forma genérica a questão da poluição e das atividades potencialmente poluidoras. Nesse sentido, a lei define a poluição ao tratá-la como degradação ambiental, esta, por sua vez, é a que prejudica a saúde e o bem-estar de todos os seres, bem como altera desfavoravelmente a biota natural. Ademais, conceitua o poluidor como o causador responsável pela degradação.

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Outrossim, traz o termo resíduos, porém atrelado à poluição e não como um produto que possa continuar o ciclo de vida. Por sua vez, a alteração realizada nos anos 2000, esclarece que as atividades de disposição final são potencialmente poluidoras, ou seja, mesmo que o aterro sanitário esteja integralmente de acordo com os dispositivos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), isto não garantirá que não haverá qualquer risco de poluição. Logo, a PNMA ao trazer o cuidado de uma potencial poluição, pode-se interpretá-la de modo a verificar outras formas de destinação ambientalmente correta.

Por outro lado, a PNMA ao relacionar o termo resíduos ao de poluição passa negativamente a ideia de que todos os resíduos são poluentes. Entretanto, frisa-se, que a poluição é consequência de resíduos não tratados ou descartados incorretamente. E que, além de poluir, podem causar doenças. Nesse ínterim, pesquisas realizadas em estudos de diversas áreas comprovaram que muitas doenças podem ser evitadas ou reduzidas a partir de um sistema de limpeza que cause menor impacto ambiental natural e artificial.

Além do que, o Brasil possui o dever com organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Mundial da Saúde (OMS) e a OIT, em promover aos seus cidadãos o meio ambiente sadio e a qualidade de vida. Por isso, em 2007, entra em vigor a Política Nacional de Saneamento Básico (PNSB), considerada um dos marcos regulatório de promoção de bem-estar da população, preservação do meio ambiente e salubridade das áreas urbanas e rurais. Contudo, não significa que é a primeira legislação a tratar de saneamento ou de tratamento da água para promover saúde e bem-estar.

Não obstante, um dos princípios inseridos na PNSB que é o manejo de resíduos sólidos urbanos, o qual será realizado para promover a saúde pública e a proteção do meio ambiente. Da mesma maneira, a PNSB conceitua o que vem a ser o manejo de resíduos sólidos e as atividades de reuso, reciclagem, compostagem e disposição final.

Conquanto, cumpre salientar que essa mesma Política ainda traz o termo lixo para se referir aos resíduos produzidos por atividades comerciais, industriais e de serviços. Apesar disso, a lei traz a mudança de paradigma do ciclo de economia linear para o de economia circular ao explicitar outras formas de destinação ambientalmente correta de resíduos sólidos, as quais visam dar continuidade ao ciclo de vida do produto.

A PNSB poderia vir a tratar de resíduos sólidos, visto que o saneamento básico inclui o abastecimento de água, tratamento de esgoto, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. No entanto, já havia uma lei específica de resíduos sólidos em tramitação. O documento ao qual se refere é a PNRS, que versa sobre os principais institutos jurídicos relativos à gestão e gerenciamentos de resíduos sólidos no território brasileiro.

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Foi longo o período até a aprovação, sanção e publicação com vigência automática da PNRS. Além disso, atribui-se a um desastre, ocorrido no estado do Rio de Janeiro, na cidade de Niterói, como o fato histórico para sua aprovação. Onde uma forte chuva pode ter influenciado o deslizamento do lixão desativado “Morro do Bumba”, o qual soterrou 40 casas e matou uma centena de pessoas. É óbvio que o acontecimento natural não pode ser causa suficiente para tragédia, visto que nenhuma norma técnica foi seguida para a acomodação dos resíduos e rejeitos naquele aterro controlado, como, por exemplo, a inexistência de saída apropriada para o gás metano e para o chorume.

Como se não fosse o bastante, foi construída uma comunidade em cima do “Morro do Bumba” aos olhos do poder público, que sabiam se tratar de área de risco. A fatalidade gerou ampla discussão na mídia sobre o destino final dos resíduos sólidos no Brasil e até mesmo da morosidade em aprovar a PNRS que se fazia tão necessária. Então, quatro meses após o acidente, é finalmente publicada a PNRS.

Todavia, a PNRS não é o primeiro documento a trazer de forma específica a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos. Visto que, o país não podia ficar tantos anos sem qualquer normatização dessa natureza. Portanto, a fim de suprir a necessidade inicial, o Conama editou algumas resoluções sobre resíduos sólidos para dar certa segurança aos gestores, bem como tentar promover uma isonomia sistemática às formas de tratamento de resíduos, posto que as regulações existentes eram em âmbito estadual ou municipal, sem qualquer parâmetro nacional.

Diante disso, diferentemente de legislações estrangeiras que tratam a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos do específico para o geral, do local para o nacional; o Brasil inverteu essa ordem ao trazer primeiro a PNRS e, assim, caberá aos estados e municípios construir suas Políticas e planos de acordo com a referência nacional. O modelo de construção adotado segue o de formação dos estados brasileiros, dado que a formação político-administrativa brasileira visa estados autônomos, mas com permanência da hierarquia legislativa, pois aos estados e municípios não é dada competência para legislar além do que a Carta Magna de 1988 estabelecer.

Porém, as resoluções não possuem força normativa para os estados e municípios e, portanto, os gestores as adotariam para gerenciar de forma ambientalmente correta os resíduos sólidos. Isso se deve por força do art. 37, caput da Constituição Brasileira de 1988 que dá à Administração Pública o dever de agir somente por força de lei.

Enquanto isso, às pessoas de direito privado as resoluções possuem a obrigação de observância, visto que os órgãos fiscalizadores do meio ambiente, como o Instituto Brasileiro

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do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), atuam por meio de fiscalização e podem aplicar a penalidade de advertência, apreensão, multa, entre outras.

A Constituição Brasileira de 1988 é a primeira a trazer um capítulo sobre o meio ambiente e outros dispositivos insculpidos em seu corpo. Nesse ínterim, a justificativa de o legislador originário ter inserido o art. 225 pode se dar em duas percepções: a primeira, seriam as pressões internacionais diante da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano; a segunda, as pressões internas pela preservação e conservação dos recursos e áreas naturais do país.

Outrossim, conforme dito, a Carta Magna possui outros itens como o art. 170, o qual estabelece a necessidade “Da Ordem Econômica e Financeira” proteger o meio ambiente ao conciliar o desenvolvimento como um tripé econômico, ambiental e social. Desta forma, o enquadramento constitucional desta pesquisa se dá pelo art. 225, caput concomitante ao art. 170, caput, VI cuja importância é a de defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado mesmo diante do desenvolvimento de atividade econômica, a partir da livre iniciativa, de os catadores de materiais recicláveis em assegurar a sua existência digna com o trabalho da coleta seletiva. Sendo assim, é crucial traçar a linha de raciocínio do que se entende por desenvolvimento neste trabalho.

Entende-se que é impossível viver sem explorar qualquer recurso natural existente, no entanto, há dois tipos de exploração a que deteriora e a que conserva. Por muito tempo utilizou-se da dilapidação dos bens naturais como objetos necessários para o crescimento econômico do país ou de uma única pessoa. Conquanto, há a consciência ambiental de que esse tipo de economia possui uma limitação e coloca em risco parte da humanidade, que seria a economicamente menos favorecida. Dessa forma, a Lei da seleção natural (Lei de Darwin), a qual considera que os seres mais adaptáveis são os que possuirão mais chances de sobrevivência, é modificada para a lei da seleção econômica, a qual considera que os detentores do poder econômico são os que sobreviverão. Dado que, poderão comprar água, comida e abrigo caso se tornem escassos em determinada região.

Mesmo diante dos variados conceitos existentes sobre o desenvolvimento sustentável, esta pesquisa prezará pelo tripé economia, ambiental e social. O fato de trazer a dimensão ambiental no meio é para deixar claro que as outras duas dimensões dependem da ambiental para permanecer. Posto que, o econômico depende dos recursos naturais, mesmo que seja o abundante, por exemplo a luz solar, desde a mais escassa, como os minerais. Ademais, entende-se o desenvolvimento sustentável como um processo utópico, ou seja, que não é

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impossível, mas que é algo que se deseja alcançar, cuja meta seria para um desenvolvimento equilibrado.

No tocante ao conteúdo acadêmico, especificamente na área do Direito, o instituto jurídico de resíduos sólidos apresenta poucas referências de autores brasileiros a escrever criticamente sobre o assunto e não somente dispor a lei em seus livros com pouco ou nenhum comentário pessoal. Isto será observado, no “Capítulo 4”, cujo assunto abordará os resultados da pesquisa bibliográfica realizada na Biblioteca Central Zila Mamede (BCZM), campus Central/Natal/Rio Grande do Norte, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

E, por último, um levantamento realizado nos sites de pós-graduação em Direito, de três programas de universidades federais distintas. Então, no que diz respeito às pesquisas científicas na área de Direito sobre o instituto jurídico de resíduo sólidos, a matéria será ineditamente apresentada no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGD/UFRN), na linha de pesquisa Constituição, Regulação Econômica e Desenvolvimento. Enquanto isso, no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Pernambuco (PPGD/UFPE) há uma dissertação defendida em 2004, cujo título é “Resíduos sólidos e meio ambiente: a sistematização do lixo no direito brasileiro”, de Ana Cecília Toscano Vieira Pinto.

Ao passo que, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas da Universidade Federal da Paraíba (PPGCJ/UFPB) há duas dissertações defendidas, sendo uma em 2017, intitulada “O pagamento por serviços ambientais urbanos na Política Nacional de Resíduos Sólidos: instrumento para o desenvolvimento sustentável no espaço urbano”, de Ítalo Wesley Paz de Oliveira Lima; e em 2014, sobre “Os novos paradigmas na Política Nacional de Resíduos Sólidos e os desafios do programa de coleta sustentável em João Pessoa”, de Rodrigo De Sousa Soares.

De todo modo, todas essas dissertações e teses na área de Direito, que abordam sobre resíduos sólidos não há, até o momento (12 de dezembro de 2017) nenhuma publicação que integre o catador de material reciclável como agente social econômico por meio do protagonismo cidadão ao utilizar o princípio da livre iniciativa em prol do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

O interesse pelo objeto de pesquisa se deu após uma aula da disciplina “Sustentabilidade sócio jurídico-ambiental e desenvolvimento”, na pós-graduação lato sensu em “Direitos humanos, econômicos e sociais”, pela Escola Superior de Magistratura (ESMA) e Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Como resultado, defendeu o trabalho de

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conclusão de curso intitulado “Catador de material reciclável: cidadania e o Direito social à previdência especial”, o qual foi publicado pelo XXV Encontro Nacional do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito (Conpedi), realizado em Brasília, em 2016. Após a conclusão do curso, resolve dar continuidade ao tema da pesquisa com publicações em eventos e em revistas científicas. Bem como aprofundar o estudo do objeto com a pesquisa da dissertação da pós-graduação stricto sensu, da UFRN. O mestrado em Direito Constitucional, cuja área de concentração em Constituição e Garantias Direito Constitucional do mestrado foi de fundamental importância para que a pesquisa consolidasse o viés da garantia constitucional aos catadores de materiais recicláveis. Ademais, a opção pela vinculação da linha Constituição, regulação econômica e desenvolvimento se deu por se tratar de um trabalho na área ambiental, mas com vinculação econômica tendo em vista o valor econômico dos resíduos.

Este estudo tem como objeto de pesquisa a atuação do catador de material reciclável como agente social econômico a partir do protagonismo cidadão e da livre iniciativa diante dos desafios encontrados para a defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Sendo que, o objetivo geral é analisar o catador de material reciclável na função de agente socioeconômico ambiental diante do protagonismo cidadão e da livre iniciativa.

Nesse ínterim, os objetivos específicos são:

 Descrever o papel do catador de material reciclável nas perspectivas social, ambiental e econômica, e do estigma da atividade nas dimensões social, do trabalho e em tribunal brasileiro.

 Traçar as três formas de coleta seletiva por meio do protagonismo do catador de material reciclável para o desenvolvimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos para o fim dos lixões, aterro controlado e a implantação da coleta seletiva.

 Esboçar as três dimensões escolhidas para o desenvolvimento sustentável por meio da coleta seletiva realizada pelos catadores de materiais recicláveis a partir da livre iniciativa nas cidades de João Pessoa, Natal e Recife.

 Detalhar os documentos oficiais da gestão municipal de resíduos sólidos nas cidades de João Pessoa, Natal e Recife.

Dessa forma, a problemática que reveste o tema está em entender que o catador em razão da função/papel no ciclo de vida do resíduo é parte integrante do mercado a partir da livre iniciativa. Logo, como garantir a livre iniciativa das associações e cooperativas de materiais recicláveis na conjectura atual da ordem econômica brasileira, visto que, inicialmente, são empreendedores de baixo poder aquisitivo?

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A hipótese é de que ao catador de material reciclável é possível a livre iniciativa ao partir da premissa do protagonismo cidadão em se organizarem coletivamente para, por meio da associação ou cooperativa, exercer a sua função socioeconômica ambiental, posto que, há reconhecimento legal de que o material reutilizável ou reciclável é rentável. Além disso, o mercado brasileiro de materiais recicláveis tem comprovado essa lucratividade.

Então, dado o viés constitucional a própria Carta Magna prevê no art. 170, caput que a ordem econômica deve ser fundada na valorização do trabalho humano para garantir a existência digna de todos ao seguir a justiça social e garantir a livre iniciativa a partir de vários princípios, o qual um deles é a proteção ao meio ambiente. Este, por sua vez, deve ser protegido e conservado para as presentes e futuras gerações, conforme o art. 225, caput. Portanto, o catador de material reciclável associado e cooperado ao exercer a atividade de coleta seletiva está inserido nos dois artigos da Constituição Brasileira de 1988.

Dessa forma, acredita-se que o caminho é seguir os princípios trazidos pela própria PNRS ao dizer que é necessário a todos (dos fabricantes aos catadores) estarem informados e educados para a coleta seletiva alcançar grandes quantitativos com qualidade. Outrossim, os catadores precisam estar informados sobre o mercado financeiro da exploração dos recursos naturais, dado que o valor do material a ser reciclado depende desse mercado.

Por isso, é importante estarem associados ou cooperativados para que possam atuar na livre iniciativa a partir do empreendedorismo no ramo de materiais recicláveis, que está em expansão no Brasil e se torna uma necessidade atual de todo o mundo tendo em vista que os recursos naturais dos países do Norte já são considerados extintos e dos países do Sul escassos.

A contribuição deste trabalho para a comunidade jurídica se dá de duas formas; a primeira, a de servir como fonte de pesquisa para a revisão dos planos e políticas municipais, estaduais e até mesmo a nacional, uma vez que aborda, primeiramente, o cenário nacional para depois partir para o específico. Além do que, no penúltimo capítulo é possível notar um viés crítico-jurídico das legislações existentes que tratam do gerenciamento dos resíduos sólidos e seus principais atores, estes, conforme ditados pela PNRS. A segunda é trazer a reflexão para o campo da pesquisa empírica, teórica e para as práxis sobre a importância de se discutir temáticas que são excluídas dos bancos das faculdades de Direito e que são necessárias para tornar o bacharelando em Direito um sujeito pensante e não somente um ator mecânico da tinta exposta no papel. Por causa disso, será possível perceber o porquê de termos excelentes leis locais sobre a gestão de resíduos sólidos, mas que quando se trata de colocá-la em prática se torna um verdadeiro fracasso.

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No que tange à metodologia desta pesquisa, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e empírica. As quais serão apresentadas em três facetas distintas. A primeira parte do levantamento bibliográfico realizada, in loco, na Biblioteca Central Zila Mamede da UFRN, que começou em junho/2017 e foi encerrada em dezembro/2017. A segunda, também bibliográfica, porém de forma virtual, na Base de pesquisa de Direito e Desenvolvimento com início em setembro/2017 e término em janeiro/2018, visto que de lá é possível ter acesso ao banco de dados do site da CAPES.

Em contrapartida, a pesquisa empírica se deu na forma de visita informal em três cooperativas, sendo uma da Paraíba (João Pessoa), outra em Pernambuco (Recife) e, por último, em Rio Grande do Norte (Natal).

Logo, após a apresentação da pesquisa, faz-se necessário mostrar os assuntos a serem tratados em cada capítulo desta dissertação.

Sendo assim, o segundo capítulo abordará o catador nas três dimensões do desenvolvimento sustentável defendidos neste trabalho, quais sejam, econômico, ambiental e social e do estigma dessa atividade na sociedade jurídica brasileira.

Enquanto que, o terceiro capítulo trará a importância do protagonismo do catador para o exercício da atividade nas três modalidades conhecidas, que são o cooperativado, o associado e o avulso ou individual diante da construção do socioambientalismo brasileiro.

O quarto capítulo discorrerá toda a metodologia das pesquisas desenvolvidas para este trabalho e os resultados da pesquisa bibliográfica e de campo, esta, no que lhe concerne, realizada nas capitais João Pessoa, Natal e Recife ao visitar uma cooperativa em cada um desses municípios para pontuar como se dá em cada uma delas a coleta seletiva de materiais recicláveis, bem como caracterizar a prática do instituto jurídico de resíduos sólidos no Brasil a partir da livre iniciativa dos catadores de materiais recicláveis.

Ao passo que o quinto capítulo comentará sobre os documentos oficiais atuais das gestões e gerenciamento administrativos de resíduos sólidos dos três municípios onde foram realizadas as pesquisas de campo, quais sejam, João Pessoa, Natal e Recife.

O último capítulo desenvolverá as considerações finais da pesquisadora sobre o objeto da pesquisa.

Em seguida, as referências bibliográficas utilizadas para a fundamentação deste trabalho e os anexos contendo imagens da pesquisa empírica.

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2. O CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL NA POLÍTICA SOCIOAMBIENTAL BRASILEIRA

Pela primeira vez na história da legislação brasileira, o catador de material reciclável, é trazido como a figura proeminente na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). É certo que ele não é o único ator, contudo um dos principais. Ademais, torna-se o mais importante para que a coleta seletiva e a reciclagem existam no país, dado que a população brasileira está a ser educada a passos estreitos para compreender que é responsável por tudo o que consome, desde a embalagem ao produto nele contido, da retirada da loja até a destinação final, esta, por sua vez, deveria ser a ambientalmente adequada.

Então, legalmente, o catador de material reciclável é reconhecido por ter um papel fundamental na continuidade do ciclo de vida dos produtos. Claro que, tudo isso não aconteceu de forma benevolente, no entanto a partir de movimentos organizados coletivamente pelos próprios catadores para que a sua atividade fosse reconhecida e também garantida em forma de lei.

Antes de dar continuidade ao trabalho, é elementar fazer uma ressalva a respeito do termo “catador de material reciclável” utilizado nesta pesquisa e não conforme a lei “catador de material reciclável e reutilizável”. Optou-se por utilizar a expressão “catador de material reciclável” por economia textual, sem intenção de excluir os materiais que são possíveis para a reutilização, muitas vezes usados por artesãos, decoradores, designs, paisagistas, entre outros e, geralmente, coletados pelos catadores. Portanto, o termo “catador de material reciclável” deve ser entendido de forma ampla “catador de material reciclável ou reutilizável”. Dessa forma, mesmo que os processos e conceitos dados pela PNRS em relação à reciclagem e ao reaproveitamento sejam distintos, a coleta seletiva de ambos é realizada pelos catadores. Dessarte, decidiu-se pela economia textual, posto que a atividade da catação é realizada por um único ator. A fim de dirimir dúvidas em relação ao processo e o conceito, trouxe-se a definição dada em lei tanto da reciclagem quanto do reaproveitamento nos arts. 3º, XVI e XVIII da PNRS.

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

[…] XIV - reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa; […] XVIII - reutilização: processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação biológica, física ou físico-química, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa; […]1.

1BRASIL. Lei Federal nº 12.305/2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 10 jan. 2018.

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Pode-se notar que, por meio do conceito acima, que são processos distintos. O inciso XIV que trata da reciclagem diz que é um processo cuja alteração ocorre na forma física, físico-química ou biológica e, no qual, o produto originário gera outro objeto. Por exemplo, várias garrafas plásticas, do tipo Polietileno tereftalato (PET), podem se transformar em para-choque de automóvel.

Enquanto que, o inciso XVIII versa sobre a reutilização, que ao contrário da reciclagem, não altera a forma física, físico-química ou biológica do produto original. Para saber a diferença, basta olhar o material produzido e tentar identificar o produto original. Se for de fácil percepção será reutilização, por exemplo, um vaso de planta feito de garrafa PET.

Por conseguinte, para compreender o viés jurídico desta pesquisa se faz necessário abordar as três dimensões categorizadas do catador de material reciclável, que são o seu papel social, ambiental e o valor econômico de sua atividade. Outrossim, o estigma será abordado na dimensão social, do exercício do trabalho e jurídica, esta, por sua vez, ao questionar a nomenclatura usada pelo Superior Tribunal de Justiça.

2.1 AS TRÊS DIMENSÕES DO CATADOR DE MATERIAL RECICLÁVEL

A PNRS visa ao desenvolvimento sustentável ao dar continuidade ao ciclo de vida do produto, para que os recursos naturais sejam cada vez menos explorados, ou para que a extração não cause severa degradação do meio ambiente natural. Além disso, insere-se também o desenvolvimento social, humano e ambiental, pela busca incessante do crescimento econômico a todo custo, é que abordar-se-á o catador de material reciclável também na perspectiva econômica, ambiental e social.

2.1.1 O catador de material reciclável e o seu papel social

O catador de material reciclável possui relevância social no aspecto educacional, informacional, políticas públicas e organização de classe. Por meio do exercício de sua atividade, ao catador é possível exercer todas essas características. Também por meio dela, pode-se notar de qual forma o catador exerce esta atividade, se cooperado/associado ou avulso/individual.

No que se refere à educação, é “[…] um mecanismo basilar para dar efetividade social ao direito fundamental ao ambiente, já que só com a consciência político-ambiental tomará a forma desejada pelo constituinte do Estado Socioambiental de Direito”2. Portanto, para o

2 FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos Fundamentais e proteção do ambiente: a dimensão ecológica da dignidade humana no marco jurídico-constitucional do Estado Socioambiental de Direito. Porto Alegre:

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catador de material reciclável manter a sua atividade e coletar material reciclável de qualidade, faz-se necessário formar o consumidor para a coleta seletiva, o qual “[…] cumpre a missão de conscientização da sociedade sobre os problemas ambientais contemporâneos […]”3, posto que a educação ambiental forma a consciência ecológica que, por sua vez, firma

o princípio da participação por meio do princípio da informação4 ao reservar aquilo que há

possibilidade de prosseguir com o ciclo de vida dos produtos. Não é essencialmente o papel dele, se considerada a interpretação literal da PNRS e da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), Lei Federal nº 9.795/1999.

Em relação à atividade laboral, o catador participa da PNEA a partir da educação não-formal e de ações voltadas a demonstrar à coletividade sobre as questões ambientais e formas de participação na defesa e qualidade do meio ambiente. Visto que, a atividade do catador de material reciclável depende de ações gratuitas de acordo com o conhecimento ambiental e o nível crítico de cada pessoa, seja ela física ou jurídica. As atitudes podem partir de uma simples separação do que é reciclável até a implantação da logística reversa por meio do acordo setorial.

Entretanto, além do interesse pela permanência da atividade, o catador de material reciclável, seja ele cooperado/associado ou avulso/individual faz parte da coletividade e, para isso, a PNEA aduz que todos devem “manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais”5.

Nada obstante, ressalva-se que ao catador de material reciclável deve ser passada a instrução necessária para o exercício da atividade, pois podem saber a respeito do que seja reciclável ou do valor atribuído a certo material naquele momento, mas atuarem de forma não ambientalmente correta, como será visto no “capítulo 4” ao descrever a pesquisa de campo. E, por causa disso, o catador de material reciclável perderia o papel social de agente ambiental enquanto educador.

Como dito, o processo de educação entre o catador de material reciclável e a população ocorre de modo informal e por meio do diálogo de saberes, o qual visa “a

Livraria do Advogado Editora, 2008, p. 129.

3 FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos Fundamentais e proteção do ambiente: a dimensão ecológica da dignidade humana no marco jurídico-constitucional do Estado Socioambiental de Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2008, p. 129-130.

4 NOBRE, Regeane Andreza Araújo de Brito. Lixão do Aurá: perspectivas ambientais, sociais e econômicas. In: MORAES, Raimundo; BENATTI, José Helder; MAUÉS, Antonio Moreira (orgs.). Direito ambiental e Políticas Púbicas na Amazônia. Cursos II e III. Belém: ICE, 2007.

5 BRASIL. Lei Federal nº 9.795/1999. Política Nacional de Educação Ambiental. Art. 3º, VI. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm>. Acesso em: 08 mar. 2018.

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valorização dos saberes locais”6, como também prevê a PNRS com o princípio da

especialidade, ou seja, é o local que formará um plano específico para gerir os resíduos sólidos produzidos na região.

O agente ambiental é a pessoa que exerce a atividade laboral com a finalidade de educar a população local e para alguma finalidade específica. No caso dos catadores de materiais recicláveis, seriam a de ensinar e solicitar a separação dos resíduos ao mesmo tempo em que recolhe para ser vendido, reciclado ou reaproveitado e, assim, continuar o ciclo de vida desse material.

Diferentemente de outras atividades laborais, a do catador de material reciclável depende de ações de políticas públicas, do princípio da informação e da educação ambiental como prática constante para que a população passe a saber o que é consciência crítica ambiental, qual a importância para o meio ambiente e a relevância para o local em que vivemos e, assim, para toda a coletividade e seres vivos.

No entanto, para que o catador de material reciclável possa atuar como agente ambiental, são necessários outros elementos como a informação, políticas públicas e organização de classe, além da transmissão de conhecimento em educar a população para a responsabilização sobre o resíduo que produz.

A informação, vem do princípio à informação sobre o processo de coleta realizada no município; transparência dos valores do material reciclável no mercado; ampla divulgação sobre a PNRS, a qual diz que os municípios são os responsáveis em incentivar a organização das cooperativas e associações de catadores; bem como o processo de informação instrucional sobre a atividade, gerenciamento de uma organização coletiva, elementos de empreendedorismo e gestão.

O princípio da informação é assegurado na Constituição Brasileira de 1988 e apresenta formas de sua concretização, as que se enquadram neste trabalho são a da obrigatoriedade dos órgãos públicos fornecer informações de interesse particular, coletivo ou geral, ressalvada matérias relativas à segurança nacional7; como princípio a ser observado pela Administração

Pública8; ao acesso sobre registros e atos de governo9.

6 LEFF, Enrique. Discursos sustentáveis. Tradução de Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Editora Cortez, 2010, p. 95.

7 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Art. 5º, XXXIII. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 07 mai. 2018. 8 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Art. 37, caput. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 07 mai. 2018. 9 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Art. 37, XXII, §3º, II. Disponível em:

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Do princípio à informação, advém o princípio da participação popular, necessário para democratizar o Estado Socioambiental. A participação popular só é possível quando há conhecimento suficiente para que o cidadão se torne ativo em assuntos de seu interesse, neste caso, a necessidade e o cumprimento da lei em materializar a PNRS ao promover a inclusão social e a emancipação econômica dos catadores de material reciclável. Estes, no que lhes concernem, ao exigir a implantação da coleta seletiva cujo empenho, atualmente, é necessário, mas que deveria ser preocupação maior do Estado e da própria sociedade.

Constante na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrido em 1992, o princípio à informação é necessário

[…] uma vez que submete as instituições estaduais a um alto grau de exigência democrática, indicando como caminho instrumentalizador das soluções a proteção das bases de uma democracia ecologicamente sustentada, a partir da qual as decisões sobre os riscos poderão ser tomadas sempre pelo público e, em público10.

Portanto, a reivindicação pela socialização das informações e das tomadas de decisões devem partir sempre de uma ativa participação popular, e não de forma representativa, pois descaracterizaria a atuação na seara ecológica, que necessita, muitas vezes, demonstrar apoio quantitativo para que sejam tomadas medidas e concretizadas. Apesar disso, não descaracteriza que a participação de cada cidadão deve se dá também de forma qualitativa, isto é, precisa ser informado e estar consciente desse processo político. Então, presume-se uma sociedade civil política, protagonista e dinâmica, que se distancia da submissão estatal e do poder econômico11 para perquirir práticas contra o bem ambiental coletivo e pleitear

resposta proporcional ao dano.

Nesse sentido, poluir a água, ar e solo com o lixo depositado sem qualquer cuidado é uma das causas de requerer presteza na tomada de decisão pelos órgãos públicos. A falta de implantação da coleta seletiva pode ser interpretada como ausência de políticas públicas nesse sentido. Pior ainda quando esta ação é aplicada em bairros nobres, esquecendo-se dos bairros populares, a este, cabendo, muitas vezes, o alojamento das cooperativas de catadores de materiais recicláveis.

No que tange as políticas públicas, são programas, ações e atividades desenvolvidas pelo poder público, as quais podem ser governamentais ou de Estado, mas devem possuir a finalidade difusa e coletiva, para grupos minoritários, como indígenas, mulheres, idosos, criança e adolescente. Assim, os resíduos sólidos se enquadram nos bens difusos e coletivos, 10 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Transdisciplinariedade e a proteção jurídico-ambiental em sociedades de risco: Direito, Ciência e Participação. In: LEITE, José Rubens Morato; BELLO FILHO, Ney de Barros (org.). Direito ambiental contemporâneo. Barueri/SP: Manole, 2004, p. 116.

11 FENSTERSEIFER, Tiago. Direitos Fundamentais e proteção do ambiente: a dimensão ecológica da dignidade humana no marco jurídico-constitucional do Estado Socioambiental de Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2008.

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