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João Pernambuco

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Academic year: 2021

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JOAO

PERNAMBUCO

Arte de urn povo

(3)

Ministra da Educa9ao e Cultura Esther Figueiredo Fe"az Secretario da Cultura Marcos Vinicios Vifara Presidente do CNDA Jose Carlos Costa Netto

Fund~ao Nacional de Arte Diretora-Executiva

Maria Ed mea Saldanha de Arruda Falcao lnstituto Nacional de Musica

Dire tor Edino Krieger

Diretor-Adjunto da Divisao de Musica Popular Hermfnio Bello de Carvalho

Monografia vencedora do concurso sobre a vida e obra do compositor Joiio Pernambuco promovido pela Consultoria para Projetos Especiais, atual Divisilo de Musica Popular/INM da Funarte.

Comissilo Julgadora: Ary Vasconcelos, Paulo Tapajos, Tdrik de Souza, Lygia Santos, Ana Maria Bahiana e Albino Pinheiro.

(4)

Cole9~o MPB-6

JOAO PERNAMBUCO

Arte

de urn povo

Jose de Souza Leal

Artur

Luiz Barbosa

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Projeto gnifico e produ9ao

Departamento de Editoraplo da Funarte

LEAL, Jose de Souza & BARBOSA, Artur Luiz. Joiio Pernambuco, arte de um povo. Rio de Janeiro. Funarte, 1982. 72p., il. (Cole9ao MPB, 6). I. Guimaraes, Joao Teixeira - Biografia. 2. Com-positor popular - Brasil. 3. Milsica popular - Brasil. 4. Violonista. I. Barbosa, Artur Luiz, colab. II. &hie. III. Titulo.

CDU 78.071.1(81)

Ficha catalografica preparada pelo Centro de Documenta<;ao da Funda<;ao Nacional de Arte.

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Sumario

APRESENTAf;AO 9

INTRODUf;AO 11

0 HOMEM E SUA REALIDADE 13

A NOVA REALIDADE

RIO DE JANEIRO 1904

16

NASCE JOAO PERNAMBUCO

18

E AS MAOS CONTINUAM SOFRENDO

21

0 GRUPO CAXANGA

26

DESMISTIFICA-SE 0 ACASO

JOAO PERNAMBUCO EM OS OITO BATUTAS 30 A PRIMEIRA CONTROvERSIA:

CABOCA Dl CAXANGA 37

OLUARDOSERTAO

PAIRA SOBRE 0 RIO DE JANEIRO 39 SEP ARANDO 0 JOIO DO TRIGO

44

VIOLAO: 0 INSTRUMENTO

46

JOAO PERNAMBUCO

0 POET A DO VIOLAO

48

0 SONHO:VILA VIOLA

51

CORAf;AO: A GRANDE CICATRIZ

56

ANEXO

DISCOGRAFIA E MUSICOGRAFIA

61

Ronoel Similes

iNDICE ONOMASTICO 70

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Agradecimentos

A todos os amigos que foram mobilizados em torno de Joao Pernambuco: Barbara Magalhaes, Valerio Vilas Boas, Elza, Jandyr, Joca, Cecy, Armando, Jose Augusto, lderlinda, Sonia Maciel, Teresinha, Denise, Eliane, Tania, Justino, Alice, Luiz Rodolfo, Cecilia, Lena Frias, Lygia Santos, Moacyr Andrade, Athayde, Cirino, Rafael, Luciana Rabello, Turibio Santos, Joao Pedro, Celso Mendes, Meira, Neide, Orlando Silveira, Luiz Ferreti, Silvia, Carlos Roberto, Cinara, Kazue, Vitor, Romao, Mozart de Araujo, Coentro, Rogeria, Mario, Andre, Zilmar, Joao, Celso Cruz, Luiz Moura, Rossini Ferreira, Jorginho, Maria Amelia, Odete, Rose e Claudio Guimaraes.

Minha homenagem comovida a Juarez Barroso. ben~o,

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Apresenta~ao

Villa-Lobos, como e notorio, era dado a arroubos e exageros. Mas sabia do que falava. Certa vez disse ele (a fonte da cita9a0 e 0 incansavel pesquisador Joao Luis Ferrete ), referindo-se aos estudos para violao de Joao Teixeira Guimaraes, o Joao Pernambuco: "Bach nao teria vergonha de assina-los como seus".

A frase e defmitivamente consagradora. Mas num pais que prima por nao cuidar de sua memoria, o inspirador dessa consagra9ao continuou depois dela urn sernidesconhecido - urn popular tao

desconhecido que poderia ter sido incluido por Bricio de Abreu na reabilitadora rela9ao que fez (Esses populares tao desconhecidos) de artistas brasileiros criminosamente condenados ao esquecimento.

De fato, esse extraordinario artista do nosso povo so rarissimamente tern sido lembrado. Sua propria morte teria passado de todo desapercebida, se Ari Barroso,

a

epoca ( 194 7) vereador no en tao Distrito Federal, nao tivesse arrancado da Camara Municipal, e ja "como Ultimo orador do expediente", urn voto de pesar pelo falecimento "do autor do Luar do sertfio". Toda uma decada de silencio fez-se sobre Joao Pernambuco, ate que a Associa¢o Brasileira de Violao, com a colabora9i£o de Alrnirante e Jacob do Bandolim, dois imbativeis garimpeiros da memoria musical, promovesse uma noitada de cordas rememorando a obra consistente do violonista, na execu9ao de sete especialistas de seu instrumento. Mais 10 anos de aprobriosa indiferen9a e, em 1967, o nome de Joao Pernambuco e dado a uma rua hurnilde - mas a partir dai glorificada - do sub6rbio de Vila Kennedy. E seria tudo, se ja agora em 1980,"no dia da morte do grande poeta do violao, o Clube do Samba nao tivesse realizado uma romaria musical ao seu tumulo, para depositar ali uma coroa de flores. A

(9)

0 homem e sua realidade

N

o Nordeste, mais particularmente em Per-nambuco, as feiras nascem, primeiramente, como fato economico. Com seu poder de aglutina~ao, passam a funcionar como veiculo de ex-pressao cultural do povo onde se organizam. Por isso mesmo as feiras assumem urn papel de difusoras de cultura e ao mesmo tempo formam os continuadores das tradi~es e expressoes desta mesma cultura. Nao seria exagero dizer que tudo quanto acontece no Nor-deste, toda a maneira de viver de seu povo, suas cren-~s, sua mtisica, suas esperan~as, sua vida, enfim, en-contram-se reunidas no interior das feiras. Vende-se de tudo: frutas, verduras, cestos, galinhas, rapadura, j6ias, ervas medicinais, folhetos de cordel, ceramica, talhas, rendas, etc. Em meio a tudo isso surgem canta-dores e violeiros q!Je captam toda essa realidade e a reinventam musicalmente. Para refor~ar a importan-cia das feiras na forma~ao e preserva~ao da cultura popular nordestina podemos citar varios expoentes que tiveram como palco de seu aprendizado e apareci-mento a feira de Caruaru, a maior e mais importante de tantas quantas tern Iugar no Nordeste brasileiro.

E

precisamente em meio as feiras de Recife que, em 1895, Joao Teixeira Guimaraes, urn menino de doze anos, aprendeu a forma com que seu povo ex-pressa sua vida musical. Atraves de Ugulino do Teixei-ra, Romano da Mae d'Agua, Ina~io da Catingueira, Mane do Riachao, cantadores, e Manuel Cabeceira, Cirino da Guajurema, Bem-Te-Vi, Madapolao, Serra-dor, Cego Sinfronio e Falcao das Queimadas, mestres nos ensinamentos de violllo.

Joao Teixeira Guimaraes, residente no bairro de Torre no Recife, recem-chegado do sertao pernambu-cano, nasceu em Jatoba a 2 de novembro de 1883, ter-ceiro ftlho de uma familia de onze irmaos nascidos do primeiro casamento de sua mae Teresa Vieir.a com Manuel Teixeira Guimaraes. Ate entao os registros so-bre Joao Teixeira Guimaraes davam conta de que se-ria filho de india da tribo dos Caetes. Mas fruto de pesquisa em fonte primaria, realizada no Rio Grande do Sui em 12 de julho de 1980, constatou-se, a partir de consulta a arvore geneal6gica confeccionada por Jandyr Teixeira Guimaraes (popular Didi) - sobrinho de Joao Teixeira Guimaraes - que sua mae era filha do casal descendente de portugueses, Domingos Viei-ra BViei-raga e Herminia Guedes Lacerda. Alem disso, a tribo dos Caetes foi extinta como tal no ano de 1565

E

nas feiras do Recife, junto aos cantadores que, em 1895, Joiio Teixeira Guimariies, menilw de doze anos,

aprende a forma com que seu povo expressa sua vida musical.

pelo exercito pernambucano, numa campanha que te-ve seu inicio em 1560, durante o gote-verno do donata-rio Duarte Coelho de Albuquerque.

Em Jatoba, Joao Teixeira Guimaraes perdeu o pai e, ainda em Jatoba, sua mae contraiu seu segundo matrimonio com Eugenio Alves Mendes, vindo com toda a familia para Recife em busca de melhores con-di~es de vida. Oeste segundo matrimonio nasceram mais onze irmaos dos quais apenas tres sobreviveram, entre estes Joao Elpidio Alves Mendes (Joca), atual-mente com 84 anos e que assim constitui-se o (mico irmao vivo de Joao Teixeira Guimaraes. Reside no bairro de Vila da Penha, no Rio de Janeiro, e confir-mou tais informa~oes por ocasiao da entrevista con-cedida em 20 de julho de 1980 em sua residencia.

Passados sete anos da decreta~ao da aboli~ao da escravatura, as terras de Pernambuco haviam perdido, de ha muito, suas matas, destruidas pela explorayao da monocultura latifundiaria canavieira, periodo em que a cana dominou o homem ao inves de servi-lo. Seu povo, contudo, ainda guarda lembran~s de seu& componentes nativos; o arvoredo mais grosso da terra: a baraima, o pau d'arco, o angelim, a sucupira, o ama-relo, o visgueiro, o pau-ferro, o indaia, o imbi~uru, o oiticica, a gameleira e a taquara; as aves e animais: urutau, chorao ja~na, quartau, quice, guaxinim, gua-ra, sabias, gurinhatas e pintassilgos.

Foi quando as cidades come~aram a crescer pu-xando os homens do interior para trabalharem nas oficinas, industrias e servi~s. Era tempo em que os fazendeiros se transformavam em administradores e os colonos preparavam-se para se adaptarem as novas condi~oes.

Dentro dessa realidade, Joao Teixeira Guimaraes segue o exemplo de seu irmao Jose Teixeira Guima-raes, que aprendera 0 oficio de ferreiro, trabalhando durante seis meses sem receber nenhum salario, tendo ainda a obriga~ao de limpar os banheiros das oficinas e que, ap6s aprender o oficio, passou a ganhar quatro-centos reis por mes. Joao, alem de trabalhar como fer-reiro, ap6s o trabalho participava de reunioes de can-tadores, repentistas e violeiros no Mercado e Patio de Slio Pedro, mantendo e desenvolvendo suas tenden-cias musicais. Joao gostava tambem de jogar "vinte e urn" e pelo fato de ganhar sempre colocaram-lhe o apelido de Joao Pe Frio.

(10)

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0 seculo XIX carninhava para o seu fmal pro-movendo transforma~es de suma importancia: subs-titui~ao do trabalho escravo pelo trabalho assalariado, os bangues eram substituidos por usinas e engenhos mais modernos, a agricultura ja nao era a (mica ativi-dade economica marcando o inicio das ativiativi-dades in-dustriais. Era o advento do capitalismo no Brasil. As mudan~s sociais acompanhavam as mudan~ econo-micas, gerando novos interesses e novas esperan~s. Os centros urbanos concentravarn a maior parte da popula~ao de 14 milhoes de habitantes, existindo nes-sa epoca cerca de 600 indilstrias no pais, localizadas nos principais centros urbanos, que por sua vez cons-tituirarn-se em polo de atra~ll'o para a corrente migra-t6ria do Nordeste para a regiao Centro-Sui do pais.

0 afluxo destas correntes migrat6rias do inte-rior para os centros mais desenvolvidos era motivo de grande preocupa~O para OS analistas da epoca, pois provocava urn grande aumento na popula~ao desses mesmos centros e consequentemente o desemprego e a miseria de quantos os buscassem para solucionar seus problemas economicos. ~ o que podemos consta-tar na se~ao "A Carteira", do Ditirio de Pernambuco

de 25 de mar~ de 1856 assinada por Antonio Pedro de Figueiredo onde o jornalista analisa as migra~oes internas em Pernambuco:

" ... Com uma popula~ao de menos de seis mi-lhoes de habitantes para urn territ6rio de quase 700 milleguas quadradas, ja possuimos,

a

maneira das ve-lhas na~oes europeias, uma fra~o notavel da nossa popula~o cujos meios de subsistencia sao tao preca-rios que apresenta evidente perigo para o resto da so-ciedade. E esta fra~o tende a aurnentar todos os dias. No momento em que escrevemos estas linhas, ha cer-tamente, mais de Urn. solicitador de emprego publico, mais de urn operario sem trabalho, os quais nao sa-bern de que meios lan~ mao para manter-se a si e as suas familias ... a fecundidade das unioes e espanto-sa ... Examinemos o que vern a ser esse acrescimo de popula~ao primeiro no Recife, depois no interior.

14

... As ftlhas sobrecarregam as farnilias, ocasio-nando-lhes novas necessidades, que no comercio se traduzem por falimentos, alias por uma insaciavel sede de empregos publicos; e entre os pobres por via de resultados ainda mais deploraveis para a opiniio publica. Quanto aos mancebos, se os pais sll'o remedia-dos, estudam e, por fim, reclamam tambem empregos; se os pais sao pobres, aprendem urn oficio e destarte, aumentam o numero, ja desmesurado, dos nossos al-faiates, sapateiros, pedreiros, carpinas, etc., e esta-belecem entre si uma concorrencia que os arruina, e muitas vezes se acham· sem trabalho. Alguns vao esta-belecer-se no interior, mas em pequeno numero, e a causa deste fen6meno vern de mais longe.

Que destino tern o acrescimo continuo da po-pula~o no interior? Dar-se-a o caso de que se empre-gue na agricultura? Nao, a parte mais esclarecida vern aqui para o Recife procurar fortuna, solicitar urn ridi-culo emprego; o resto aflui para as vilas e outros cen-tros de popula~o, e ai passa uma vida miseravel, por-que entre n6s nao ha indilstria por-que ofere~ ao traba-lhador livre, urn servi~ certo e regularmente retri-buido.

E por que raziio, em vez de aprenderem os ofi-cios de alfaiate, carpina, pedreiro, etc., os ftlhos das familias pouco favorecidas nao retrocedem para o in-terior, porque tambem se nao vao fazer agricultores? Por que os habitantes do mato nao cultivam o solo se-nao constrangidos? Por que seus ftlhos buscam as vi-las? Para tudo isso ha apenas uma resposta e desgra~­ damente ela e cabal.

No estado social em que vivemos, os meios de subsistencia do pai de familia nao aumentarn em pro-por~o ao numero de ftlhos, donde resulta que, em geral, os ftlhos sao mais pobres que os pais e possuem menos capitais.

Ora, a agricultura esta cercada por uma barreira inacessivel para o homem pouco favorecido, para to-do aquele que nao possui certo numero de contos de reis . . . E qual e essa barreira? A grande propriedade territorial ...

(11)

Se possuirdes trinta ou quarenta contos de rcHs, entao podereis comprar ou arrendar urn engenho, mas se sois pobre e quiserdes comprar ou arrendar alguns bra~s de terra, nao achareis.

E

isto que faz que a popula~o improdutiva das cidades aurnente todos os dias ... "

Com as terriveis secas ocorridas no Nordeste, estagnado economicamente, a situa~o se agravava: de 1877 a 1879 morreram cerca de 300 mil pessoas, e as secas se repetiram em 1888 e 1889, 1900 e 1915. Do is caminhos restavam aos trabalhadores: migrar pa· ra AmazOnia e o Centro-Sui do Brasil ou o ingressar no canga~ e movimentos misticos. "Em 1896, ha de rebanhos mil correr da praia para o sertao; entao o sertao virara praia e a praia virara sertao" (Antonio Conselheiro ).

Destes dois caminhos Joao Teixeira Guimaraes opta pela migra~o, escolhendo o Rio de Janeiro onde se encontrava sua irma Maria Teixeira e seu irmao Jose Teixeira Guirnaraes, competente ferreiro, que o antecedera urn ano antes.

Em 1904, com vinte anos de idade, Joao Teixei-ra Guimariies, com seus conhecimentos de ferreiro de-cide migrar para o centro cultural do Brasil - Rio de Janeiro - levando em sua bagagem seu instrurnento, o violao. E os conhecimentos tecnicos adquiridos em meio aos mercados e feiras de Recife, pelos quais nao teve de pagar, da mesma forma que seus mestres. Joao Teixeira Guimaraes nao levava instru~ao escolar, era analfabeto; levava porem a cultura adquirida parte no sert!'o pernambucano, parte no Recife.

(12)

. I

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A nova realidade: Rio de Janeiro 1904

T

ranscorria a Primeira Republica. Rio de Ja-neiro, sua capital, era o espelho de toda a 'modernizayiio' que ocorria no Brasil. Cons-tituia-se em p6lo de concentrayiio de miio-de-obra es-crava recem-liberada e de rnigrantes atraidos pelo pe-riodo de expansiio cafeeira do Vale do Paraiba, cen-tro da econornia brasileira de 1830 ate 1870, ano que inicia seu declinio.

No inicio do declinio do cafe", inicia-se o segun-do surto industrial e o Rio de Janeiro torna-se seu grande centro. Surgem pequenas fabricas de artefatos de ferro, fundiyeies de ferro e bronze, caldeiraria, ser-ralheria, fabricas de m6veis, estaleiro, etc.; aumentam tambem os servicos publicos. Em 1900 o Rio de Ja-neiro ainda nao tinha 600 mil habitantes; em 1904 a populayiio era de 700 mil habitantes. Os que chega-vam em busca de emprego iam morar nos bairros po-bres, onde proliferavam os cortiyos; os trabalhos nas fabricas apresentavam uma jomada de doze a dezes-seis horas incluindo os sabados e pelo menos dois do-rningos por mes quando niio todos OS dorningos para

obter urn salario de 50$000 por mes; para comprar urn litro de feijao preto gastava-se $200, o arroz in-gles $220 e o aluguel em urn cortiyo era de 40$000 por mes.

A situayao da saUde publica era pessima, tanto que no inverno de 1904 morreram 3.566 pessoas com variola. E o comercio prosperava, conforme descreve Luis Edmundo, urn jornalista da epoca: "A cidade e urn monstro onde as epidernias se albergam danyando 'sabats' magnificos, aldeia melanc6lica de predios ve-lhos e acayapados, a descascar pelos rebocos, vielas s6rdidas cheirando mal, exceyao feita da que se cha-ma Rua do Ouvidor, on de ... o homem do 'burro-sem-rabo' cruza com o elegante da regi!io tropical, que traz no mes de fevereiro sobrecasaca preta de lii inglesa, e ... dilui-se em cachoeiras de su6r ...

. . . 0 povo esta sem instruyao. A industria des-protegida. Os serviyos publicos, de molas perras ... S6 0 comercio progride, 'o honrado comercio desta praya' com 0 comendador

a

frente, 0 quilo de 800g, 0 metro de 70cm".

No que diz respeito

a

cultura o quadro apresen-tava-se bastante heterogeneo. No teatro, as 6peras predorninavam, recebendo companhias europeias, ocorrendo assim toda uma transplantayao de cultura. Estas companhias se apresentavam nos varios teatros

16

Em 1904, vindo do Recife a bordo do navio Para, Joiio Teixeira Guimariies desembarca 1W porto do Rio

de Janeiro trazendo pouca bagagem e seu violao.

existentes na epoca, entre OS quais figuram desde 0

Polytheama em Siio Paulo, passando pelo Teatro Siio Pedro em Porto Alegre e Teatro da Paz no Para, in-cluindo o Teatro Amazonas em Manaus ate o Lyrico e posteriormente oMunicipal, ambos no Rio de Janeiro. Alem das 6peras, esses teatros recebiam tam-bern peyas de escritores brasileiros serios, revistas mu-sicadas e comedias-operetas, sendo que essas Ultimas tinham como seu grande publico a burguesia e a cres-cente pequena burguesia da epoca. Nas artes plasticas o fenomeno de transplante cultural repetia-se pois to-da sua produyiio artistica era baseato-da naquilo que se fazia fora de nossas fronteiras, embora com urn atraso de alguns anos.

A imprensa serviu de base para o desenvolvi-mento da literatura veiculando o romantismo em ter-ras bter-rasileiter-ras e atraves de uma de suas correntes, o indianismo, apresentava a saida liteniria da sociedade brasileira. Entre OS muitos jornais da epoca que se

consolidaram, podemos citar o Didrio de Pernambu-co, no Recife, o Co"eio Paulistano, em Sao Paulo e o Jornal do Commercio, no Rio de Janeiro.

Era tempo de maxixe, tipo de m(lsica muito po-pular, resultado da rnistura da polca como lundu, que por sua sensualidade e 'obscenidade' foi alvo de in-tensa repressiio por parte dessas mesmas classes que, embora a apreciassem quando restrita aos palcos dos teatros de revista, condenavam-na quando danyada nas ruas. Outros ritmos populaces executados na epo-ca eram a marcha, a modinha, o choro, que nasceu pela forma '.chorada' com que alguns musicos inter-pretavam os generos em voga. Nos saloes danyava-se a valsa, a polca, o xote; e nas reunioes da intelectuali-dade ouviam-se as modinhas e as cantigas. Entre os compositores que se destacavam figuram Chiquinha Gonzaga com suas valsas e que ja fizera sucesso com a marcha Abre Alas; Emesto Nazareth que, aliando o choro

a

valsa, criou uma forma brasileira de interpre-tar o tango.

Este e, enfim, o panorama que Joao Teixeira Guimariies, vindo do Recife em 1904, a bordo do na-vio Para, encontra ao desembarcar no porto do Rio de Janeiro.

E

assim que Joiio Guimar!ies trava contato com a situayao calarnitosa do Rio de Janeiro atraves de seu porto, conforme descriyiio do mesmo Luis Edmundo:

(13)

" ... Eo salao de visitas da cidade, ... ponto de " referencia, a mostra e a ideia perfeita de quatro se-culos de civiliza~ao e sujeira. Nao raro, o 'touriste' que chega, mal p6e o

pe

em terra, vai logo pondo tambem, o len~ no nariz. Por cautela ... "

Diante dessa realidade desembarca o ferreiro Joao Teixeira Guimaraes, trazendo junto a sua pouca bagagem, seu violao e todas as caracteristicas das pes-soas vindas do interior. Uma dessas caracteristicas e proveniente da proximidade das pessoas que, embora residam em cidades localizadas em areas territorial-mente grandes, se conhecem mais intimaterritorial-mente, nos habitos, nos locais que freqiientam e na forma simples e objetiva de viver. Por esta razao, no interior era e ainda e mais facil encontrar as pessoas, mesmo que delas nao tenhamos o endere~. E e assim que Joao Teixeira Guimaraes ao chegar no porto, sem o endete-~o de sua irma Maria, come~a a perguntar as pessoas que por ali circulavam, se tinham visto ou conheciam seu irmao Jose. Nesta epoca, Jose trabalhava como condutor de bonde numa linha que tinha como ponto de retorno o porto do Rio. Aqui, Joao o avista e, de-pois de conversarem, Jose lhe da o endere~ de sua irma que residia no Rio Comprido ( conforme depoi-mento de sua sobrinha Cecy, fllha de Jose Teixeira Guimaraes).

Sempre chorando na lira. Joiio Pernambuco com Maur(cio Medeiros (de temo branco) e um amigo. Rio de Janeiro,

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"

.

.. E

o salao de visitas da cidade, ... ponto de ,.. · referencia, a mostra e a ideia perfeita de quatro

se-culos de civiliza~ao e sujeira. Nao raro, o 'touriste' que chega, mal p6e o

pe

em terra, vai logo pondo tambem, o len~o no nariz. Por cautela ... "

Diante dessa realidade desembarca o ferreiro Joao Teixeira Guimaraes, trazendo junto a sua pouca bagagem, seu violao e todas as caracteristicas das pes-soas vindas do interior. Uma dessas caracteristicas e proveniente da proxirnidade das pessoas que, embora residam em cidades localizadas em areas territorial-mente grandes, se conhecem mais intimaterritorial-mente, nos habitos, nos locais que freqtientam e na forma simples e objetiva de viver. Por esta raziio, no interior era e ainda e mais facil encontrar as pessoas, mesmo que delas nao tenhamos o endere~. E e assim que Joao Teixeira Guimaraes ao chegar no porto, sem o endete-~o de sua irmlr Maria, come~a a perguntar as pessoas que por ali circulavam, se tinham visto ou conheciam seu irmao Jose. Nesta epoca, Jose trabalhava como condutor de bonde numa linha que tinha como ponto de retorno o porto do Rio. Aqui, Joao o avista e, de-pois de conversarem, Jose lhe da o endere~ de sua irma que residia no Rio Comprido (conforme depoi-mento de sua sobrinha Cecy, fllha de Jose Teixeira Guimaraes).

Sempre chorando na lira. Joiio Pernambuco com Mauricio Medeiros (de temo bronco) e um amigo. Rio de Janeiro,

1906.

(15)

j

I

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Nasce Joao Pernambuco

D

epois de instalado na casa da irma Maria, ca-sada e a primeira a vir para o Rio de Janeiro, Joao sai

a

procura de trabalho conseguindo-o em uma fundi9ao localizada la mesmo no Rio Com-prido.

Ap6s uma jornada de trabalho de doze a dezes-seis horas, retornava ~ sua casa onde ainda encontrava tempo para dedicar duas a tres horas ao violao. Poste-riormente Joao transfere-se para a Lapa, passando a trabalhar na rua Frei Caneca, numa outra fundi9ao. Das rela9oes com os companheiros de trabalho e por falar freqiientemente de sua realidade pernambucana, Joao nao escapa

a

caracteristica carioca de apelidar as pessoas a partir do que se acentua em cada personali-dade. Nasce entao Joao Pernambuco.

Nos fins de semana, Joao Pernambuco come9a a freqiientar os pontos de reunioes rilusicais muito co-muns no centro da cidade, especialmente na Lapa, acompanhado de companheiros de trabalho que, alem de admini-lo como pessoa, come9am a perceber e ad-mirar suas qualidades musicais e instrumentais. Ho-mem hurnilde, apesar de corpulento (media urn metro e oitenta e quatro de altura) e possuidor de grande forya fisica, mantinha-se afastado de bagun9as e con-fusoes, coisa comum nos meios boemios. Era de tem-peramento d6cil e falava pouco, mas nas poucas vezes que o fazia seu senso de humor estava sempre presen-te. Devido a sua simpatia e destreza ao violao, era cada vez mais requisitado nas rodas musicais e pas-seios dominicais, como a excursao realizada ao Corco-vado em 1910 ao lado de Quincas Laranjeiras sobre a qual encontramos uma fotografia em seu album de famt1ia.

Segunda{eira hem cedo, JoO.o Pernambuco, ferreiro de profissiio, forjava e malhava o ferro com as mesmas

miios que antes haviam percorrido suavemente os trastes de seu violiio.

Quando de suas participay()es nessas reunioes, Joao Pernambuco se apresentava muito espontanea-mente, mostrando de forma aberta toda sua arte, con-servando assim a mesma liberdade que caracterizava o ambiente de seu aprendizado no Recife junto a violei-ros e cantadores. No en tanto, esta sua forma de apre-sentayao confrontava-se com a realidade de entiio, pois nesta epoca ja existia urn esquema comercial na musica atraves de teatros e cinema mudo, os t)_uais contratavam grupos musicais para entretenimento de seus espectadores. Em muito contribuiu para o desen-volvimento deste esquema o surgimento da ind6stria fonografica.

Ap6s estas reunioes, segunda-feira bern cedo, Joao ja forjava e malhava o ferro com as mesmas maos que antes haviam percorrido suavemente os trastes de seu inseparavel violao. Fato que nao ocorria com seu irmao Jose Teixeira Guimaraes, que onde quer que fosse tocar, tinha sempre que levar cordas S9bressalentes no bolso, pois as mesmas arrebenta-vam com extrema freqiiencia quando em contato oom suas pesadas maos de ferreiro (segundo relato de Jandyr Teixeira Guimaraes, seu filho ).

Tempos depois Joao passa a trabalhar na Fun-diyao lndigena, localizada na rua Nova Leopoldo, de propriedade da famt1ia Guinle, e muda de residencia, indo morar numa republica da rua do Riachuelo, on-de residiam estudantes, jogadores on-de futebol - a maioria do Vasco e do Flamengo - e musicos. Com ele passou a morar tamoom seu irmao Pedro, recem-chegado de Recife.

E

nesta mesma pensao que Joao Pernambuco conhece Pixinguinha e Donga que ai residiam e outros que os visitavam como Satiro Bi-lhar, Catulo da Paixao Cearense e Afonso Arinos que costumava organizar reunioes em sua residencia.

(16)

Aprendizes (criizn(:as) e opertirios com as fe"amentas de uma fundiftfo. AquiJotfo Pernamwco (assinalado com uma seta) obteve seu segundo emprego como fe"eiro. Ao centro, de gravata, o patrtfo. Rio de Janeiro, 1906.

(17)

Excursiio ao Corcovado. Joiio Pernambuco (primeiro

a

direita) e Quincas Laranjeiras, agachado. Rio de Janeiro,

(18)

E

as

maos continuam sofrendo

0

s conhecimentos de Joao Pernambuco seam-pliam atraves das reunioes e junto com isso cresce o numero de admiradores que, vendo a habilidade de suas ma-os ao passearem tranquilas pelas cordas do violao, sensibilizaram-se com o fato de que sua atividade profissional de ferreira viesse a prejudicar seu desempenho no instrumento. E e assim que, em 1908, conseguem-lhe urn emprego de calce-teiro, profissao esta que consiste em cal~ar com para-lelepipedos as ruas da cidade. Esta nova profissao nao resolveu aquila que parecia ser a grande preocupa~o de seus admiradores, ou seja, a de que suas maos so-fressem a a~o malefica de empunhar grandes tenazes, malhar o ferro e ati~ar a forja. Assim e que suas maos continuaram expostas aos mesmos riscos, uma vez que mudara apenas a materia-prima e as ferramentas: agora Joao empunhava a marreta para escarear e assen-tar os paralelepipedos nas ruas cariocas, exposto ao sol e as chuvas. Parece que apenas duas faces do pro-blema foram resolvidas, posto que agora Joao ganha-va urn pouco mais e dispunha de mais tempo (ajorna-da de trabalho girava em torno de dez a doze horas) para dedicar-se a m6sica ( conclusao a partir do de poi-menta de Joao Elpidio Alves Mendes, irmao de Joao Pernambuco, em 20 de julho de 1980).

Somente mais tarde e que 0 problema viria a ser resolvido, conforme nos conta seu irmao Joca: "Joao era calceteiro na Prefeitura, entao urn dia Pinheiro Machado convidou Joao t>ara tocar em sua casa. De-pais se entenderam Ia e Pinheiro Machado mandou que ele fosse trabalhar de continuo numa escola no largo do Estacio, esquina de Machado Coelho. Alias nao era escola nao, era uma especie assim de almo-xarifado".

Dispondo de mais tempo, Joao Pernambuco au-menta sua frequencia nos meios musicais, participa assiduamente nos bailes nos clubes Democraticos, Fe-nianos e Tenentes do Diabo, alem da tradicional festa da Penha realizada durante todo o mes de outubro, para onde acorriam fami1ias inteiras que aos domin-gos realizavam piqueniques que se estendiam ate ao anoitecer. Abrilhantavam a festa as diversas rodas mu-sicais formadas por cantores, instrumentistas e com-positores. Era ai que muitas das vezes se fazia o lan-~mento das m6sicas para o Camaval do ano seguinte. E e precisamente ai que, em 1912, registramos a

par-Agora Joiio empunhava.a marreta para escarear e assentar os paralelepfpedos 1UlS ruas cariocas, exposto

ao sol e as chuvas.

ticipa~o de Joao Pernambuco acompanhado dena-mes que se tornariam celebres na m6sica popular bra-sileira, dentre os quais flguram Pixinguinha, Caninha e Patricio Teixeira, conforme atestam fotograflas da epoca. Passa tambem a ser cada vez mais requisitado para se apresentar em 'cenas sertanejas' muito co-muns entao.

Alem disso Joao Pernambuco costumava ir tam-bern a Teres6polis onde morava seu irmao Jose, levan-do consigo seus amigos. Em 1912, fez-se acompanhar de Patricio Teixeira por ocasiao das comemora~es do evento promovido e realizado por seu irmao Jose que, junto com outros quatro operanos, foram os primeiros brasileiros a escalarem o Dedo de Deus, conforme registro fotogrffico e jornalfstico:

Correia da Manha, 11 de abril de 1912.

Titulo: "A Bandeira Brasileira Tremula no Alto do De do de Deus".

Subtitulo: "Interessante excursao de cinco ope-rarios brasileiros: America de Oliveira Filho, Paulo Carneiro, Alexandre de Oliveira (irmao do primeiro) e Jose Teixeira Guirnaraes".

Correia da Manha, 12 de abril de 1912. Titulo: "Ainda a Ascen~o ao Dedo de Deus" Dirigido aos cinco: Telegrarna do Barao Homem de Mello, presidente da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro:

"Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, aplaudindo a vossa arrojada iniciativa, congratula-se pelo feliz exito na ascen~o que realizastes, no ponto culminante do Dedo de Deus, na Serra dos 6rgaos".

(19)

Integrantes de um clube camavalesco. Da esquerda para a direita, sentados, Ratinho, Joiio Pernambuco; o quarto

e

Jararaca. Os demais niio joram identijicados. Rio de Janeiro,

(20)

I

I

L

0 grupo que escalou o Dedo de Deus. Ao centro, Jose

Teixeira Guimartfes, irmtfo de Jotfo Pernambuco. Teresbpolis,J912.

(21)

0 grupo Caxanga

p

assaram-se mais ou menos dez anos desde que Joao Pernambuco transferira-se do Reci-fe para o Rio de Janeiro. As lembran~s de sua terra continuavam em sua mem6ria, tanto que Joao, ja reconhecido, admirado e com inumeros co-nhecimentos nas rodas musicais, idealiza o Grupo Ca-xanga, com Caninha (Jose Luis de Moraes), Raul Pal-mieri e outros que apesar da existencia de uma foto-grafia de seu album de familia, nao foi possivel iden-tificar. Esta foi a primeira forma~o do Grupo Caxan-ga, assim batizado como forma de homenagear sua terra natal, pois Caxanga e urna localidade do Nordes-te. Seus integrantes eram em numero de sete, sendo que Raul Palmieri exercia as funyees de secretario. Mantinham vestimenta tipica senaneja com sandalias de couro, len9os no pescoyo e chapeus de palha nos quais se escreviam os nomes daqueles que foram seus mestres.

e.

assim que encontramos no chapeu de Joao Pernambuco o nome de Guajurema ( o violeiro Cirino da Guajurema) e no de Cariinha o de Mane do Ria-cha:o ( cantador de feiras ).

Dai para a frente, o Grupo Caxanga come9a a ganhar popularidade e novas adesoes, tanto que no Carnaval de 1914, 0 Malho publica uma fotografia registrando urn grande aumento no numero de inte-grantes do grupo entre os quais figuram Pixinguinha, Jacob Palmieri, Borboleta (Henrique Manuel de Sou-za), Bomfiglio de Oliveira, Manuel da Costa Nola, Quincas Laranjeira,

ze

Fragoso, Lulu Cavaquinho, Nelson Alves, Vidraya (Augusto do Amaral), Jaime Ovalle, Jose Correia Mesquita, Osmundo Pinto e Donga.

Sobre esta epoca registramos a descri~o feita por Almirante (Henrique Foreis Domingues) em seu livro Nos tempos de Noel Rosa:

"Era de grande efervescencia o movimento ar-tistico daquela epoca e, em 1914, varias revistas tea-trais do ano referiam-se

a

nova moda musical.

Nos tres dias do Carnaval, animado conjunto, sob o titulo de Grupo de Caxanga, percorreu os prin-cipais pontos da Avenida Rio Branco. Seus compo-nentes, orientados por Joao Pernambuco, usavam mascaras ou grandes barbas, empunhando seus instru-mentos tipicos, com nomes de guerra nas palas dobra-das dos chapeus, conforme foto no "0 Malho" de 28/02/1914: Joao Pernambuco (Guajurema), Jacob Palmieri (Zeca Uma), Donga (Ze Vicente), Caninha

Em 1915, dado o sucesso do Grupo Caxanga, Jofio

Pernambuco

e

convidado por Afonso Arinos a encerrar urn ciclo de coriferencias sobre temas folcloricos no

Teatro Municipal de Siio Paulo.

(Mane do Riachii:o ), Pixinguinha (Chico Dunga), Hen-rique Manuel de Souza (Mane Francisco), Manuel da Costa (Ze Porteira), Osmundo Pinto (Inacio da Ca-tingueira). No Ultimo dia de Carnaval, alguns presti-tos exibiam letreiros em carros especiais sob o titulo de A Embolada do Norte.

Findo o periodo carnavalesco, dado o sucesso alcan9ado pelo grupo e o crescente interesse pelos movimentos folcl6ricos, Joao Pernambuco e convida-do a participar no Teatro Municipal de sao Paulo da festa de encerramento de urn ciclo de conferencias sobre temas folcl6ricos organizado por Monso

Ari-nos. E assim, a 28 de dezembro de 1915, o ciclo se encerra com a conferencia Lendas e Tradi9oes Brasi-leiras patrocinado pela Sociedade de Cultura Artis-tica, conforme registro da imprensa:

"Para essa parte veio do Rio urn grupo de exi-mios artistas nacionais, reunidos para esse fim pelo senhor Joao Guimaraes, conhecido pelo cognome de Pernambuco, sua terra natal, que ele honra pelo seu talento artistico, exuberante e espontaneo.

Fo-ram companheiros de Pernambuco, o grande tocador de viola e de violao, os nossos instrumentistas popu-lares por excelencia, os senhores Otavio Lessa, Luis Pinto da Silva e Jose Alves de Uma".

E o espetaculo se repete no dia 30 de dezem-bro de 1915 e em janeiro de 1916. A partir dai Joao Pernambuco cria a Troupe Sertaneja, que se apresen-ta em Sao Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Nos carnavais dos anos seguintes, o Grupo Ca-xanga continua fazendo suas apari9oes sempre com o maior sucesso. No Carnaval de 1919, o grupo se apre-senta no Coreto dos Tenentes do Diabo, ao mesmo tempo em que o gerente do Cine Palais, Isaac Frankel, estava

a

procura de musicos para se apresentarem na sala de espera de seu cinema. 0 grupo, formado de eximios artistas, ficou sendo a possivel soluyao de seu problema.

Enquanto Joao Pernambuco ampliara a partici-pa~o de integrantes no grupo formado de m6sicos profissionais e trabalhadores que se dedicavam

a

mil-sica, o processo comercial, representado pela figurl! do gerente Isaac Frankel, impede o grupo de conti-nuar existindo. 0 senhor Isaac conversa com Donga e Pixinguinha convidando-os a escolherem mais seis membros para formarem urn conjunto que tambem por sua ideia se chamaria Os Oito Batutas.

(22)

Joao Pernambuco continuava sua vida de ser-vente da Prefeitura e freqtientando as rodas musicais junto com Quincas Laranjeira, Patricio Teixeira, Sa-tiro Bilhar e outros, enquanto seus velhos parceiros agora faziam sucesso no conjunto Os Oito Batutaso

Nesta epoca, Joao freqtientava o Cavaquinho de Ouro, onde seu companheiro, Quincas Laranjeira (Joaquim Francisco dos Santos) se constituiu no pre-cursor do ensino de violao por musicao La Joao Per-nambuco e seus companheiros trocavam informac;:oes musicais e instrumentaiso 0 Cavaquinho de Ouro era reduto de verdadeiros monstros sagrados de nossa musica, como se encontra registrado em urn folheto confeccionado pela casa na ocasiao da Primeira Feira de Amostras do Distrito Federal, com data de 30 de junho de 1928, intitulado Hist6rico do Cavaquinho

de Ouro e o ressurgimento do violiioo 0 Cavaquinho de Ouro era uma tradicional casa de instrumentos musicais, na rua da Alfandega, 168-A e depois na rua Uruguaiana, 1370 Neste folheto encontramos o regis-tro fotografico de Joao Pernambuco ao lado de Quin-cas Laranjeira e Agustin Barrios (violonista uru-guaio )o A respeito deste o escritor Coelho Neto diz no folheto: "Quando Agustin Barrios encostou ao pei-to o perfido instrumenpei-to, como se nele quisesse fazer passar o corac;:ao, esperei as vozes condenadas, os sons lascivos das serenatas, as melodias liinguidas que ine-briavam as vitimas de todos estes desnaturados demo-lidores da honrao Mas as cordas vibravam suaves e eu tive como a revelac;:ao de uma nova harmonia 0 0 0 sob OS dedos prodigiOSOS desse adrninivel artista, que e 0

maior que, no seu genero, tenho visto, o violao vive e diz toda a sua hist6ria" 0

No Cine Palais Os Oito Batutas; no Cavaquinho de Ouro Joao Pernambuco toea junto a Barrios que, sensibilizado com seu talento musical e instrumental, logo ap6s ouvir urn jongo de Joao, compoe, na bora, o Choro da saudadeo Tal informacao foi confirmada por Meira (Jayme Florencio), violao de centro, mes-tre de Baden Powell, em enmes-trevista concedida em sua casa em 29 de julho de 19800

Com toda sua simplicidade Joao Pernambuco continua recebendo homenagens como a que !he pres-ta a publicac;:ao do Cavaquinho de Ouro:

"0 0 0 E que diremos, como parte integrante des-te grupo, de Joao Teixeira Guimaraes, ou "Joao Per-nambuco", o inspirado poeta do violao, que faz deste magico instrumento urn apaixonado interprete de sua propria fantasia artistica da imaginac;:ao, instrumento maravilhoso que maneja com a naturalidade com que os passaros can tam na floresta, nas madrugadas claras, ou nas tardes esquivas, ou nas noites enluaradas do sertao" 0

Da esquerda para a direita, de pe: Ottivio Lessa e Joiio Pernambuco; sentados: Luiz Pinto da Silva e Jose Alves de Lima; na apresenta(:iio de encerramento da conferencia

Lend as e Tradi~oes Brasileiraso Sao Paulo, 19150

(23)

Primeira fonnfl{:ao do Grupo Caxangti. Da esquerda para a direita, sentados: lotio Pernambuco (Guajurema)

empunhando uma viola caipira, Raul Palmieri (secretizrio) e Caninha (Mane Riachao). Os demais nao foram identificados. Rio de Janeiro, 1912.

(24)

Jotfo Pernambuco, de

pe a

esquerda, Augustin Barrios, sentado e Quincas Laranjeira,

a

dire ita, na loja 0 Cavaquinho

(25)

Desmistifica-se o acaso,

Joao Pernambuco em Os Oito Batutas

E

m 1919 Joao Pernambuco ingressa em Os Oi-to Batutas, conforme nos revela S6rgio Ca-bral em seu livro Pixinguinha vida e obra (Editora Lidador, 1980), baseado em depoimento de Donga prestado ao MIS (Museu da Imagem e do

Som): ·

"Se nao fossem o lrineu Marinho e o Arnaldo Guinle nao haveria OS Oito Batutas . . . 0 Dr.

Arnal-do, como born brasileiro que era, simpatizou com a gente. Pensou e combinou com o Coelho Neto uma antologia, recolhendo o material atraves de pessoas idoneas. Ele, junto com o Floresta de Miranda, nos procurou e disse:

'Amanha voce vai a minha casa em Copacaba-na'. Eu fui junto com o Pixinguinha. Estavamos ha vinte dias sem funylio eo dinheiro tinha acabado. Ele explicou o que queria e perguntou o que achavamos. N6s dissemos que irfamos fazer uma excursao ao nor-te eo Dr. Arnaldo pediu que inclufssemos o Joao Per-nambuco, porque assim ele faria algumas coisas para ele. Assim foi feito, nos fomos a Pernambuco, Bahia, etc. e o Joao Pernambuco recolheu uma porylio de coisas e trouxe. Mas nao era o bastante. 0 Dr. Arnal-do disse para o Joao Pernambuco que ia prosseguir na colheita," mas s6 que desta vez levaria urn musico para escrever, porque ele s6 havia trazido letras e mtisicas de memoria. Disse ainda que pagaria tudo. Eu nao sei o que eles arranjaram, ele e o Pixinguinha, que o Dr. Arnaldo ficou zangado e nao quis s~ber de mais nada. 0 Joao Pernambuco era meio egofsta e parece que pe-diu demais. Eu nao sabia de nada. Depois de alguns dias o Patricio Teixeira me deu urn recado que o Dr. Arnaldo queria falar comigo. Eu fui e ele disse: 'Nao quero mais saber de hist6rias com o J oao Pernambuco e o Pixinguinha'. Eu entao combinei tudo com ele, que exigiu a presenya de urn musico na viagem. Eu comecei a enrolar urn pouco e toda vez que o Flores-ta de Miranda me procurava para informar ao Dr. Ar-naldo, eu dava sempre uma desculpa: 'Olha eu queria o Zeze, mas ele para escrever musica de folclore e dificil e como tern o Pixinguinha, este seria melhor'. Parece que o Floresta de Miranda disse isso ao Dr. Arnaldo e ele amoleceu urn pouco com respeito ao Pixinguinha. Com o Joao Pernambuco ele nunca mais falou ate morrer. Nas proximidades da viagem eu

0 esp{rito agregador, fruto daformafiio de Joiio Pernambuco no sertiio e nas feiras do Recife, levou-o,

no Rio de Janeiro, a cercar-se de amigos e 'amigos'.

disse ao Dr. Arnaldo: 'Eu acho que vou levar o Pixin-guinha'. Ele respondeu: 'Voce leva quem quiser. Apa-nha o dinheiro 1a na Sete de Setembro'. Era tudo pago. Estivemos entao em Morro Velho, Minas, Bahia, etc. Pixinguinha trouxe tudo escrito, tudo bern feito e o Dr. Arnaldo ficou satisfeito ... "

"0 que Donga nao disse", diz sergio Cabral, "e que Joao Pernambuco participou das duas viagens ... Como incluir Joao Pernambuco nos Oito Batutas? 0 conjunto teria que mudar o nome para Os Nove Ba-tutas. A soluylio, para manter o nome original, foi transformar Jose Alves de lima em 'secretario', indo Pernambuco para o seu lugar como urn dos integran-tes do grupo".

Segundo informayaes obtidas junto a parentes de Joao Pernambuco e de analises de fatos, conclui-se que o depoimento de Donga da margem a inumeras duvidas, as quais procura-se esclarecer a seguir:

Deixou de ser registrada a viagem que Joao Per-nambuco, Pixinguinha, Donga e outros fizeram em Pernambuco em 1913, que teria sido financiada por Arnaldo Guinle, epoca em que Joao Pernambuco trouxe seu irmao Joca (Joao Elpfdio Mendes). Sobre isso e Joca quem nos fala em seu depoimento conce-dido em 20 de julho de 1980:

"Em 1913 Joao foi a Recife enos trouxe a mim e a mana Francisca. Ele tinha ido com Donga, Pixin-guinha e outros que eu nao me lembro. Ele nos trou-xe porque nos viu naquela situaylio penosa. Falou com meu pai enos trouxe. Viemos no navio Belem. Chegando aqui num domingo, Francisca ficou na casa de Joana e na segunda-feira fui para a casa de Jose em Teres6polis. Joana morava na Rua do Ouro, no Largo do Pedregulho. A situaylio no Recife era muito ruim, meu pai era muito pobre. Me lembro que as vezes a gente comia caranguejo cozido e daquela agua amarela fazia pirao".

0 ingresso de Joao Pernambuco em Os Oito Batutas se da atraves de Arnaldo Guinle que pedira que o incluissem, pois "s6 assim Joao faria algumas coisas para ele" ( depoimento de Donga, ja citado ). Desta forma parece que o homem de elite, Arnaldo Guinle, esquecera-se de que Joao nao era mais seu em-pregado, fato que se deu ao chegar no Rio de Janeiro, quando trabalhou na Fundi9lio lndigena, de proprie-dade do Sr. Guinle.

(26)

0 fato

e

que Joao nao ingressou em Os Oito Batutas a convite de seus amigos e nao por ordem do Sr. Arnaldo Guinle. Estava ali como a pessoa mais capacitada a servir de guia para o trabalho que se que-ria realizar, pois toda sua vida e formayao musical se deu em meio as manifestay<>es folcl6ricas que deve-riam ser registradas. Alem disso, o fato de Os Oito Ba-tutas terem se originado e gerado a dissoluyao do gru-po formado gru-por Joao Pernambuco (Caxanga),

e

in-concebivel como fato de o mesmo nao ter sido convi-dado a integrar Os Oito Batutas. Se o criterio de sele-yao feito entre os m6sicos do Grupo Caxanga para a formayao de Os Oito Batutas foi a qualidade, o que estaria devendo Joao Pernambuco aos outros m6sicos que justificasse sua exclusao?

Causa estranheza o Sr. Arnaldo Guinle nao ter aproveitado o material recolhido e registrado pela prodigiosa mem6ria de Joao Pernambuco, mesmo porque o Sr. Guinle sabia que Joao nao s6 desconhe-cia a pauta musical como era analfabeto. Se o proble-ma era trazer o proble-material escrito, por que Donga e Pi-xinguinha nao 0 fizeram, uma vez que viajaramjuntos para a realizayao do trabalho?

Oaf nasce a divergencia entre o Sr. Arnaldo Guinle e Joao Pernambuco, posto que, segundo Don-ga, os trabalhos prosseguiram, desta vez com a presen-ya de urn m6sico para escrever. 0 que equivale a dizer que, na concepyao do Sr. Arnaldo Guinle, Joao Per-nambuco nao era m6sico. lsso teria magoado Joao Pernambuco profundamente, levando-o a se afastar do Sr. Guinle; nao o fa to de Joao ser egofsta e ter pe-dido demais, como afirma Donga. Alias, que egoismo

e

esse que trouxe Jararaca e Ratinho para 0 Rio de Janeiro e com o baixo salario de servente da Prefeitu-ra muitas vezes dividia o pouco que ganhava com seus companheiros? (Dados a partir dos :.lepoimentos de Joca, Jandyr, Armando Teixeira Guimaraes e Cecy, respectivamente irmao e sobrinhos de Joao Pernam-buco).

Os Oito Batutas, tendo agora Joao Pernambuco como integrante, realizam na ABI em outubro de 1919, no Rio de Janeiro, urn show que antecede sua viagem para apresentay<>es em Sao Paulo. No dia 26 deste mesmo mes apresentam-se no Salao do Conser-vat6rio Dramatico e Musical de Sao Paulo em urn show como titulo de Uma Noite no Sertao, alcanyan-do grande sucesso conforme registrou o Co"eio Pau-/istano:

"Foi urn verdadeiro sucesso o primeiro sarau da troupe Os Oito Batutas, ontem realizado no Salao do Conservat6rio Dramatico e Musical, ja pelo nume-roso publico que acorreu a essa reuniao, ja pela

exe-cuyao do programa, cuja segunda parte teve que ser inteiramente repetida, tal a insistencia dos aplausos no fmal de cada urn dos numeros.

Com efeito, era de prever esse exito, pois nao ha nada como esses cantos e musicas sertanejas, in-genuas e bizarras, estuante de vida e melancolia que tanto fala a nossa alma, que faz vibrar tanto os nossos nervos de gente da cidade . . . foram cantos e sambas, lundus e sapateados de gente do sertao, cantados por urn grupo autentico sertanejo, que se ouviram e viram ontem no Salao do Conservat6rio, com seus caracte-risticos trajes e acompanhamento de flauta, violao e chocalho".

No dia 27 voltam a se apresentar no mesmo local como seguinte programa:

Os oito batutas, tango de Alfredo Viana (Pixin-guinha)

Eu vi vov6, samba cantado pelo grupo Cade ele, samba cantado pelo grupo

Sofres porque queres, tango de Alfredo Viana Seu Coitinho pegue o boi, embolada do Norte cantada por Joao Pernambuco

Em ti pensando, choro, pelo grupo

Bemtevi, poesia de Catulo Cearense, cantada por Otavio Viana

Luar do Sertiio, cantada por Joao Pernambuco a pedidos)

Os dois que se gostam, tango de Alfredo Viana Remelexo, choro de Alfredo Viana, pelo grupo Cabocla bunita, poesia de Catulo Cearense, por 0. Viana

0 poeta do sertiiO, cantada por Joao Pernambu-co (a pedidos)

0 capim mais mimoso, poesia cantada por Ota-vio Viana

Sentindo, choro de Catulo Cearense, por J. Per-nambuco

0 samba do urubu, de Alfredo Viana, sapateado sertanejo

Seguiram-se as apresentay<>es de Os Oito Batu-tas em Santos, nos teatros Guarani e Coliseu; em Campinas, no Teatro Cassino; em Ribeirao Preto, no Cinema Polytheama. Neste ultimo Os Oito Batutas cederam, em uma de suas apresentay<>es, vinte por cento da renda em beneficio das vftimas da seca do Nordeste.

Em Cravinhos, quando de sua apresentayao, o grupo e homenageado 'com uma poesia de autoria de Ghritta, publicada no jornal 0 Albor:

(27)

"Urn sortao teve Cravinhos Recebemos esse pessoal Que tern feito em toda parte Urn sucesso colossal

Com seu belo repert6rio De cantigas do sertao Nos arrebatam, fascinam Enos enchem de emo9ao. E depois que bons artistas! Como sa bern trabalhar! Nesse genera caipira Sao mesmo de arrebatar! Entre o grupo dos Batutas Nao se ve nenhuma falha Tudo ali sabe o que faz E como, gente, trabalha! Joao Pernambuco, leitores, Fartamente conhecido ~ por todos consagrado E urn batuta sacudido E a flauta de Alfredo Viana Que prodigio, que colosso Nao

e a

toa que Pixinguinha Provocou grande alvoro9o Simpatico e born no pinho 0 Ot:ivio Viana alcan9ou Muitos aplausos e palmas Todas as vezes que cantou Ainda no pinho quem nega Elogios tantos, tantos Ao caboclo destorcido 0 Donga, Ernesto dos Santos Mas nao

e

Ernesto somente Urn turuna no violao 0 mo9o Raul Palmieri Nao fica atr:is dele, nao Temos falado de flauta Temos falado de pinho Agora vamos contar Do mo9o do cavaquinho

Chama-se Nelson Alves E tern premia por tocar Somente com cinco cordas Faz coisas de admirar E por fim Jacob Palmien No pandeiro alegra a gente Enquanto no reque-reque 0 Luis Silva e urn exigente".

Ainda em Sao Paulo apresentam-se no Cinema Chic, indo em seguida para Juiz de Fora, tendo como palco o Teatro Polytheama. Em Belo Horizonte, em 21 de janeiro de 1920, Os Oito Batutas apresentam-se no Cine America, dia 23 estrtHam no Teatro Munici-pal e simultaneamente realizam apresenta96es vesper-tinas no Cinema Comercio, contratados pela Empresa Gomes Nogueira. Dessa feita a imprensa destaca a par-ticipa~o de Joao Pernambuco na interpreta9ao de Bem-te-vi e 0 poeta do sertiio. Fazia parte deste circui-to de apresenta9<>es o trabalho de pesquisa que havia sido encomendado pelo Sr. Arnalda Guinle a Os Oito Batutas.

Terminadas as apresenta96es em Minas, Os Oito Batutas voltam para Sao Paulo fazendo uma serie de apresenta96es, destacando-se sua apari~o no Teatro Sao Jose na pe9a Sol do sertiio, de Viriato Correia. As viagens continuam pelo interior de Minas e Sao Paulo, durante o mes de abril. E, finalmente, em maio estao de volta ao Rio de Janeiro.

0 grande sucesso alcan9ado por Os Oito Batu-tas, alem da qualidade dos musicos, se dava em virtu-de virtu-de granvirtu-de parte virtu-de seu repert6rio musical ser com-pasta de milsicas sertanejas e folcl6ricas, alem de se apresentarem com vestimentas tipicas, coadunando-se com o interesse crescente pelos movimentos folcl6ri-cos. Com isso Os Oito Batutas mantinham na forma e conteudo o que de mais forte existira no Grupo Ca-xang:L

Os Oito Batutas voltam aos palcos do Rio de Janeiro, em 16 de junho de 1920, por ocasiao da apresenta9ao da opereta sertaneja Flor Tapuya, de Alberto Deodato e Dantos Vampre, no Teatro Joao Caetano (antigo Teatro Sao Pedro). Nesta opereta registra-se a participa9ao da estrela Abigail Maia, jun-to com os jovens Jaime Costa e Proc6pio Ferreira.

Posteriormente, em agosto de 1920, apresen-tam-se no Teatro Lirico em homenagem a Leopoldo Fr6es. Voltam ao palco do mesmo teatro no dia 24, desta feita ilustrando a conferencia de Alberto Deo-dato intitulada Alma Sertaneja. Em seguida Os Oito

(28)

Batutas sao convidados para se apresentarem para os reis da Belgica, entao em visita ao Brasil, em setem-bro de 1920. Este convite gerou protestos, sobretu-do por parte de Catulo da Paixao Cearense.

Com todo despeito, com ou sem protesto, Ia estavam Os Oito Batutas apresentando e represen-tando a m6sica brasileira.

Fato interessante e que no Carnaval de 1919 foi a Ultima apresentayao do Grupo Caxanga, no co-reto de Os Tenentes do Diabo, que deu origem a Os Oito Batutas. Passados dois anos, Os Oito Batutas, mantendo o estilo 'caxanga', desflla com Os

Tenen-tes do Diabo em urn carro aleg6rico sobre o qual foi montada, pelo core6grafo Jaime Silva, uma casa de sape.

Ap6s apresentayoes em Curitiba, Os Oito Batu-tas regressam ao Rio de Janeiro. Arnaldo Guinle pa-trocina nova viagem de pesquisas nas cidades de Reci-fe e Salvador. 0 grupo viaja com nova formayao, pois Luis Pinto da Silva (bandola e reco-reco) e Jose Alves de Lima, sao substituidos por Joao Thomaz (reco-reco) e Jose Monteiro (ganza). Alem das pesquisas o grupo se apresenta inicialmente no Cine Teatro Olym-pia, em Salvador, no mes de junho de 1921. Em ju-lho Os Oito Batutas estreiam em Recife no Cine Tea-tro e no Cassino Moderno. Em uma de suas apresen-tayoes, o grupo foi antecedido pela apresentacao do fllme 0 ciclone e do conjunto Bloco dos Boemios; deste faziam parte Romualdo Miranda (irrnao de Lu-perce Miranda), Severino Rangel (Ratinho) e Jose Calazans (Jararaca).

De volta ao Rio de Janeiro, Os Oito Batutas es-tn!iam a 5 de agosto no Cine Teatro America com a revista musical de autoria de Pixinguinha, China e Dias Pino, 0 que o rei nilo viu. No dia 29 apresen-tam-se no Cinema Americano, no espetaculo Um bati-zado na favela; na mesma noite se apresentam Mane Pequeno, cantor caipira, o querido cantor, voz de ve-ludo, Patricio Teixeira, e os atores Asdrubal Miranda,

Irene Nascimento e Artur de Oliveira. Ainda no Rio de Janeiro Os Oito Batutas se apresentam no dia 9 de setembro para· urn grupo de intendentes argentinos, em seguida no Cinema Central, Teatro Eden em Nite-r6i, e Cinema Govern 1dor, localizado na praia do Je-quia. Oeste ultimo participam Patricio Teixeira, Mane Pequeno e Zilda Cortes (Araci Cortes), que veio a se constituir na principal estrela do teatro de revista. De-pois se apresentam no Teatro Lirico, em homenagem ao Fluminense Futebol Clube, que tinha como presi-dente o Sr. Arnaldo Guinle. No dia 14 de outubro tocam no Palacio Guanabara, dia 21 novamente no Teatro Eden em Niter6i. Encerrando as apresentayoes do ano de 1921, Os Oito Batutas deram show no

Tea-tro Recreio, no TeaTea-tro Lirico e no Cabare Assirio, por ocasiao dos festejos de fim de ano. Encerra-se ai tambem a participayao de Joao Pernambuco em Os Oito Batutas.

Durante o periodo em que Joao Pernambuco foi parte integrante de Os Oito Batutas, nao encontra-mos nenhuma entrevista ou declarayao sua

a

impren-sa. Este fato reforya os depoimentos que dao conta de que Joao era urn homem simples, humilde e de poucas palavras. Por outro lado, poe

a

mostra o pi-lar basico sobre o qual se edificou a caracteristica

mais marcante do grupo, ou seja, a sertaneja.

Na verdade Joao Pernambuco constituiu-se em guia, quando por ocasiao das pesquisas encomendadas por Arnaldo Guinle e, ao mesmo tempo, em elo de li-gayao entre a cultura sertaneja e a urbana, promoven-do assim a preservayao e a divulgayao de suas origens. E a partir dai que se entende os dizeres de Augusto Calheiros em cartao enviado a Joao Pernambuco em 3 de abril de 1939 (ver ilustrayao p.35).

Querido e respeitado por amigos de trabalho, de rodas musicais, solidario, homem puro, sua arte era aberta, onde quer que chegasse tocava e cantava para quem quer que fosse. Contudo, era exigente: quando tocava nao admitia barulho ou mesmo cochichos. As palavras de Joca (irmao de Joao) confirmam esse fato: ". . . Ele saia do trabalho e ia tocar. Mas se al-guem ficasse falando enquanto estava tocando ele da-va uma desculpa qualquer e ia embora. Porque ou as pessoas ouviam m6sica ou entao conversavam; de mo-do que esse neg6cio de conversar, arrastar cadeiras, com ele nao dava

pe.

Isso eu sei porque vi muitas vezes . . . Ele tocava na Radio Nacional em ondas curtas. Ele sempre procurou tocar em ondas curtas porque nas ondas longas o barulho era muito e ele se contrariava muito sobre esse ponto de vista".

Completando, urn de seus amigos e conterrii-neos nos fala. Trata-se de Meira, mestre de violao e compositor:

"Joao era muito bonachao, ele ensinava as coi-sas que sabia para as outras pessoas. Ele nao vivia de violao. Trabalhava na Prefeitura".

Joao Pernambuco conserva o espirito agregador de sua formayao do sertao e das feiras do Recife. Seu senso coletivo era grande e proprio da vida simples e humilde de sua gente, ainda mais quando se tern mu-sica e violao: ai as coisas ficam num ambiente natural, espontiineo e alegre. Dessa forma, Joao Pernambuco sempre viveu entre amigos, porem essa sua maneira de ser contrastava com a forma de vida 'malandra' e de 'ginga cabocla' existente nos centros urbanos, princi-palmente no Rio de Janeiro. Aqui, urn fato novo: Joao cercara-se de amigos e 'amigos'.

(29)

Forma~iio de Os Oito Batutas a partir de 1919. Da esquerda para a direita, de pe: primeiro (niio identificado),

Pixinguinha, Luls Silva, Jacob Palmieri; sentados: Ottivio Viana (China), Nelson Alves, Joiio Pernambuco, Raul Palmieri e Donga.

(30)

Da esquerda para a direita: Donga, musico ntfo identificado, Joffo Pernambuco, Jose, irmtfo de Jotfo (arras) e Pixinguinha.

Teresopplis, 1913.

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0 reconhecimento de Patativa do Norte (Augusto Calheiros).

(31)

Joiio Pernambuco sempre viveu entre amigos, levando uma vida simples e humilde em meio a muita musica e violiio. Teresbpolis, 1924.

(32)

A

primeira controversia: Caboca di Caxanga

J

oao Pernambuco, ferreiro de profissao, po-bre e analfabeto por condi~ao, aprendera a conquistar melhores condi~6es de vida por suas pr6prias rnaos e essas mesmas rnaos responderam

a

sensibilidade de seu cora~ao, captando a genialida-de das esquinas e das ruas que foram sua grangenialida-de esco-la, tornando-se sfntese de toda a for~a de cria~ao em-botada no seio de seu povo. Oaf toda sua naturalidade e espontaneidade ao exprimir as qualidades de instru-mentista (violonista), musico e compositor. Natu-ralidade e espontaneidade porque tudo passava por ele mas nao era dele. Por assim sentir e que Joao Per-nambuco procurava dar a todos o que era para todos e entendia que era assim que devia receber. Foi assim no sertao pernambucano, no Recife e no Rio de Ja-neiro. Mas as coisas por aqui eram diferentes; como foi dito anteriormente, o processo de comercializa-~ao da m6sica era crescente, aliado

a

sede de proje-~o social tao comum nos intelectuais da classe me-dia da qual Joao Pernambuco foi alvo mas nao presa flicil.

E

dentro deste quadro que Joao Pernambuco encontra verdadeiros amigos como Patricio Teixeira, seu conterraneo Quincas Laranjeira, Satiro Bilhar, Ro-gerio Guimaraes (violonista canhoto, falecido durante a realiz~ao deste trabalho ), Caninha, etc. Porem hou-ve quem com ele convihou-vesse, como Catulo da Paixao Cearense, e lhe trouxesse grandes dissabores.

No ano de 1913 e composta a musica que iria se transformar na primeira controversia entre Joao Pernambuco e Catulo da Paixao Cearense. Trata-se

de Caboca di Caxangd, grande sucesso no Carnaval

de 1914, interpretada pelo Grupo Caxanga em suas apari~es publicas. Esta obra foi registrada em nome de Catulo da Paixao Cearense mas, segundo pessoas que mantiveram rela~ao com Joao Pernambuco, a mil-sica seria deste e Catulo teria feito apenas a letra.

Em 1930 a autoria de Caboca di Caxangd passa a ser discutida como parte integrante de urn proces-so movido por Martins Guimaraes (Jose Martins de Moraes Guimaraes, cessionario das obras de Catulo ), contra o maestro Heitor Villa-Lobos sob a acusa~ao de que este harrnonizara sem autoriza~ao e vendera ilicitamente a propriedade comercial desta musica e mais Charas n9 10, com subtitulo de Rasga cora(:iio (de autoria de Catulo da Paixlro Cearense e Anacleto

''Quando COffle(:aVa minha obra poetica mais importante apareceu-me o Joiio Pernambuco, que

vinha do norte e que, soube tocar muito bern o viol&J,

me trouxe urn vocabultirio ainda niio pervertido pela lfngua culta''.

de Medeiros) e Tu passaste par este jardim, letra de Catulo e musica de Alfredo Dutra,

as

Editions Max Eschig, de Paris.

Tal questlro e tratada por Carlos Maul em seu livro intitulado A gloria escandalosa de Heitor

Villa-Lobos (Livraria Imperio Editora, 1960).

Em resposta as noticias veiculadas no Boletim da SBAT de maio-junho de 1954, e publicado neste livro urn documento datado de 17 de abril de 1953 dando o parecer de cinco professores catedraticos da Escola Nacional de M6sica da Universidade do Brasil, no qual consta:

". . . que o tema e as palavras da can~ao brasi-leira "Caboca di Caxanga", harrnonizada por Heitor Villa-Lobos e edit ada pe1as "Editions Max Eschig", de Paris, sao, como a propria partitura indica, de au-toria de Catulo da Paixao Cearense, tendo sido em-pregado o mesmo compasso e substituida a tonalida-de original".

Carlos Maul tece comentarios sobre a contes-ta~ao do maestro Villa-Lobos:

" que de inicio cumpria salientar que Catulo nao era o autor das musicas das duas pri-meiras can~6es referidas ("Tu Passaste por este Jar-dim" e Rasga Cora~ao"), mas apenas de suas letras, pois como reconhece o proprio autor, tais musicas eram de Anacleto de Medeiros e de Alfredo Dutra, verificando-se o mesmo em relayffo a ultima (Caboca di Caxanga), baseada em urna melodia popular do Nordeste, atribuida a urn seresteiro local, de nome Joao Pernambuco; que ademais Catulo nunca fora compositor musical, necessitando sempre de uma mil-sica pre-existente para sobre ela formular os seus ver-sos; que deste modo, em rela~ao a tais musicas, ne-nhum direito autoral nem qualquer outra providencia pode tomar o autor, uma vez que e apenas cessionario das obras de Catulo; que, mais ainda, em rela~ao a can~ao "Caboca di Caxanga", os direitos autorais de Catulo sobre ela, antes da cessao feita ao autor, ja h<.viam sido cedidos a Livraria Quaresma, em docu-mento datado de 3 de abril de 1913; ... que assim, tinha Catulo pleno conhecimento do procedimento do suplicado (Villa-Lobos) e jamais formulou qual-quer protesto ou reclamou contra o mesmo; que as-sim, nas tres obras apontadas de Catulo, cujas letras teriam sido parcialmente aproveitadas e adaptadas

37

(33)

pelo contestante (Villa-Lobos) nas suas obras musi-cais dos mesmos nomes e cedidas a terceiros em 1930, eram meras canroes populmes (grifo nosso ), para as quais ideou ele, milsica erudita ... "

Com rela~o ao processo do qual transcrevemos algumas partes acima, o parecer ftnal da Justi~a foi o seguinte:

"0 reu, Maestro Heitor Villa-Lobos, foi conde-nado a pagar ao autor Jose Martins de Moraes Guima-raes ( cessionano das obras de Catulo) as perdas e da-nos que se apurarem na execu~ao, inclusive juros de mora e honorarios de advogado arbitrados em 20% so-bre o total da condena~o, por for~ de uso e aliena-~lio, sem a devida autoriza~ao, da musica e letra das can~es "Tu Passaste por este Jardim" e "Caboca di Caxanga".

Como seve, durante todo o processo, o milsico, instrumentista e compositor Joao Pernambuco e cita-do apenas como sencita-do urn "seresteiro local", a quem se atribuia, como forma de defesa de uma das partes, a autoria da melodia de Caboca di Caxangd. A isso se contrap5e o parecer de Almirante (Henrique Foreis Domingues) em seu livro Nos tempos de Noel Rosa (Uvraria Francisco Alves Editora), cujas palavras dis-pensam comentarios:

" . . . Anos depois Joao Pernambuco conheceu o poeta Catulo da Paixao Cearense, que desde 1900 publicava versos e modinhas e, ate 1912, nao havia produzido nada, absolutamente nada, em poemas sertanejos, especialmente dos costumes nordestinos. Certa vez Joao Pernambuco p6s-se a cantar uma

toa-dinha com versqs populares de sua terra, mas com-pondo melodia inedita exclusivamente de sua autoria:

Nega voce me da (o till) Nega voce nao da nao Nega se voce me da

e ta na faca, na madeira e no quice Cinco pataca,

dois tostoes mile quinhento minha casa mobiada

gas aceso e o povo dento . . . etc.

. . . Da amizade com Joao Pernambuco, que lhe exibiu sua melodia, resultou a cria~ao da primeiia can~ao sertaneja de cunho folcl6rico. Entusiasmado com a novidade do ooco das emboladas, Catulo ano-tou as expressoes tipicas e saborosas do Nordeste, apontadas pelo violonista. Catulo ja nao se recordava dos interessante& vocabulos e estranhava 0 pr6prio ti-tulo que Joao Pernambuco indicara - "Caboca di Caxanga" - sendo Caxanga o lugar em que vivera. Da origem desta famosa cantiga serve como prova defmi-tiva as palavras do poeta em entrevista ao Didrio de Noticias, de Usboa, em 30 de janeiro de 1935:

'. . . quando come~ava a minha obra poetica mais irnportante apareceu-me o Joao Pernambuco, que vinha do norte e que, soube tocar muito bern o violao, me trouxe urn vocabulano ainda nao perverti-do pela lingua culta .. .'".

Sem a menor duvida, Catulo aproveitou os prin-cipais elementos mel6dicos de Joao Pernambuco para o estribilho citado pelo violonista:

"Caboca di Caxanga

Minha Caboca venha

ca ... "

E veio, assirn, a versalhada repleta de vocabulos colhidos no repert6rio de Joao Pernambuco, como .Caxanga, Pajeu, Jaboatao, Santo Amaro (lugares e ad-jacencias do estado de Pernambuco); indaia, imbi~u­ ru, oiticica, gameleira, taquara (arvores e madeiras do nordeste); urutau, chorao, ja~ana, quartau, quice (aves, animais, expressaes), usados na nova can~o:

"Em Pajeu, em Caxanga, Em Cariri, em Jaboatao Eu tenho a fama de canto I valentao ... " etc.

A cantiga despertou interesse no povo, sen do pu-blicada em 1913, em Lyra dos saloes (Edi~ao Quares-ma, Rio de Janeiro, 1913):Como testemunho de gra-tidao ao seu indiscutivel colaborador e parceiro, Catu-lo imprimiu com esta dedicat6ria: Caboca di Caxanga (pag. 232) - "Ao Pernambuco, o insigne violonista".

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