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Nº COMARCA DE TEUTÔNIA RENIANE MAGDA HEINZ ACÓRDÃO

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Academic year: 2021

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Apelação cível. Direito privado não especificado. Revisional. Factoring. Fomento comercial. Incidência do denominado fator de compra. A empresa que recebe os títulos para faturização tem o direito de cobrar pelos serviços prestados. Descabida a limitação dos juros. Apelo desprovido.

APELAÇÃO CÍVEL SEXTA CÂMARA CÍVEL – REGIME

DE EXCEÇÃO

Nº 70010295475 COMARCA DE TEUTÔNIA

JAIME MAGDO HEINZ APELANTE

PERLA SCHNEIDER APELANTE

RENIANE MAGDA HEINZ APELANTE

CREDFACTOR FOMENTO COMERCIAL LTDA.

APELADA

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Magistrados integrantes da Sexta Câmara Cível - Regime de Exceção do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, negar provimento à apelação.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DES. OSVALDO STEFANELLO (PRESIDENTE E REVISOR) E DES. ANTÔNIO CORRÊA PALMEIRO DA FONTOURA.

Porto Alegre, 23 de novembro de 2006.

DR. NEY WIEDEMANN NETO, Relator.

(2)

R E L A T Ó R I O

DR. NEY WIEDEMANN NETO (RELATOR)

JAIME MAGDO HEINZ, PERLA SCHNEIDER E RENIANE MAGDA HEINZ ajuizaram ação revisional de contrato de fomento mercantil cumulada com repetição de indébito e com declaratória de impossibilidade de protesto de título contra CREDFACTOR FOMENTO COMERCIAL LTDA. alegando, em síntese, que o primeiro requerente firmou com a requerida um contrato de fomente comercial através de promessa de transferência de títulos de crédito por endosso, prestação de serviços e outras avenças, no qual a requerida cobrava juros abusivos, além de IOF e CPMF. Requereram a revisão de todos os contratos firmados entre o primeiro requerente e a requerida, para o fim de reduzir a taxa de juros para 12% a.a., afastando-se a cobrança do IOF e CPMF, bem assim como a capitalização de juros, com a repetição em dobro de todos os valores cobrados a maior.

O réu contestou, fls. 75-84, alegando que a diferença entre o valor do título e o valor realmente pago pela faturizadora ao faturizado se refere ao denominado fator de compra, que varia de acordo com as condições de mercado, em especial, a situação cadastral da pessoa física ou jurídica que consta no título como emitente, inexistindo qualquer cobrança de encargos abusivos. Pugnou pela improcedência do pedido.

A sentença, fls. 150-153, julgou improcedente o pedido, tanto do principal como das cautelares, e condenou os autores ao pagamento de custas processuais de todos os feitos e honorários advocatícios, estes em 20% sobre o valor da ação.

(3)

Contra-razões, fls. 173-178.

Subiram os autos, com distribuição ao Exmo. Sr. Des. Cacildo de Andrade Xavier, que determinou a redistribuição, em 13.07.2005, em virtude do Ato nº 09/2005, que instaurou Regime de Exceção nesta Câmara.

Após tal determinação, vieram-me os autos conclusos.

Naquele momento, em julgamento da 6ª Câmara Cível, em 24.08.2005, restou decidido pela declinação da competência.

O processo, então, foi redistribuído para a 12ª Câmara Cível, tendo a eminente Desa. Naele Ochoa Piazzeta, fls. 192-196, suscitado o conflito de competência, que acabou sendo julgado procedente, fls. 205-207, com determinação do retorno dos autos para este relator.

É o relatório.

V O T O S

DR. NEY WIEDEMANN NETO (RELATOR)

Estou em negar provimento ao apelo.

Com efeito, em relação ao presente julgamento, para evitar tautologia, transcrevo aqui o brilhante voto do eminente Desembargador Cláudio Baldino Maciel quando do julgamento da Apelação cível nº 70010373165, Décima Segunda Câmara Cível, julgada em 14.07.2005, de cujo entendimento comungo e cujas conclusões incorporo ao presente voto como razões de decidir:

“Entretanto, na matéria de fundo assiste razão ao apelante.

(4)

Muito embora não tenha sido juntado aos autos, pela parte requerida, o contrato originário de fomento mercantil, entendo que não há cogitar da incidência do estatuído no artigo 359, inciso I do CPC na hipótese, e tampouco das disposições do Código de Defesa do Consumidor.

Explico. O contrato de factoring tem natureza mercantil, pois consiste na compra e venda de ativos financeiros, não se configurando relação de consumo e, portanto, o demandante não pode ser tido como parte hipossuficiente. Assim, incumbia a ele a juntada dos documentos relativos a contratualidade, o que inocorreu.

A documentação trazida aos autos nas fls. 28/37 e fls. 113/117, consistente em aditivo contratual e confissão de dívida, logra demonstrar que houve genuína operação de factoring, o que afasta a pretensão revisional, pelos motivos que se exporá adiante.

Nos contratos de factoring não há incidência de juros propriamente ditos, mas sim do Fator de Compra (fator mensal), em que a remuneração é constituída pela diferença na compra dos direitos (créditos), ou seja, do resultado entre o preço de compra e o valor nominal dos títulos.

A empresa que recebe os títulos para faturização tem o direito de cobrar pelos serviços prestados. É o chamado deságio, o qual se justifica em virtude dos riscos por ela assumidos na transação.

Dos documentos que instruíram a inicial, observa-se que houve cessão dos créditos com deságio, que nada mais é do que a remuneração constituída pela diferença na compra dos créditos, no caso, denominado de fator mensal. Esse não tem natureza de juros, mas sim de remuneração, especialmente porque o contrato de factoring é atípico, de gênese complexa, não consistindo em negócio jurídico bancário.

A respeito do tema, insta referir o que diz Fábio Ulhoa Coelho in Manual de Direito Comercial, Ed. Saraiva, 11ª ed., p. 447:

(5)

“Faturização é o contrato pelo qual uma instituição financeira (faturizadora) se obriga a cobrar os devedores de um empresário (faturizado), prestando a este os serviços de administração de crédito.

‘...

‘O contrato de faturização tem a função econômica de poupar o empresário das preocupações empresariais decorrentes da outorga de prazos e facilidades para pagamento aos seus clientes. Por esse negócio, o banco presta ao empresário o serviço de administração do crédito, garantindo o pagamento das faturas por ele emitidas. A instituição financeira faturizadora assume, com a faturização, as seguintes obrigações: a) gerir os créditos do faturizado, procedendo ao controle dos vencimentos, providenciando os avisos e protestos assecuratórios do direito creditício, bem como cobrando os devedores das faturas; b) assumir os riscos do inadimplemento dos devedores do faturizado; c) garantir o pagamento das faturas objeto de faturização.

‘...

‘O Banco Central já considerou a faturização um contrato bancário pela Res. BC n. 703/82, que foi revogada pela Res. BC n. 1.359/89. Atualmente, portanto, inexiste ato infralegal que vede a exploração da atividade de faturização de créditos a não-exercentes de atividade bancária. A legislação tributária, por sua vez, conceitua factoring como sendo “a prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a receber, compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços” (Lei n. 8.981/95, arts. 28, § 1º, c.4, e 48, parágrafo único, c.4). Tomando esta definição por base, a Res. BC n. 2.144/95 esclarece que a prática de quaisquer atos financeiros pela faturizadora, estranhos à definição legal, caracteriza infringência à LRB e à Lei n. 7.492/86.”

Na lição de Arnaldo Rizzardo1, factoring é “uma relação jurídica entre duas empresas, em que uma

1

RIZZARDO, Arnaldo. Factoring. 2ªed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 11.

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delas entrega à outra um título de crédito, recebendo, como contraprestação, o valor constante do título, do qual se desconta certa quantia, considerada a remuneração pela transação”.

Para Fran Martins2 factoring ou faturização é “o contrato em que o comerciante cede a outro os créditos, na totalidade ou em parte, de suas vendas a terceiros, recebendo o primeiro do segundo o montante desses créditos, mediante o pagamento de uma remuneração”.

Acerca da matéria, o STJ assim decidiu:

“COMERCIAL - "FACTORING" - ATIVIDADE NÃO ABRANGIDA PELO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL - INAPLICABILIDADE DOS JUROS PERMITIDOS ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS.

I - O "FACTORING" DISTANCIA-SE DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA JUSTAMENTE PORQUE SEUS NEGÓCIOS NÃO SE ABRIGAM NO DIREITO DE REGRESSO E NEM NA GARANTIA REPRESENTADA PELO AVAL OU ENDOSSO. DAÍ QUE NESSE TIPO DE CONTRATO NÃO SE APLICAM OS JUROS PERMITIDOS ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. E QUE AS EMPRESAS QUE OPERAM COM O "FACTORING" NÃO SE INCLUEM NO ÂMBITO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL.

...

III - RECURSO NÃO CONHECIDO.”

(RESP 119705/RS; Min. WALDEMAR ZVEITER; J. 07/04/1998)

No mesmo sentido já se pronunciou este Tribunal de Justiça:

“FACTORING. REVISÃO CONTRATUAL. DUPLICATAS. DESÁGIO. JUROS. RECOMPRA. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ENDOSSO. CESSÃO DE CRÉDITO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. DESCABIMENTO. 1 - O contrato de factoring

2

(7)

não constitui negócio jurídico bancário, razão pela qual descabe acolher-se a pretensão que visa a revisão das cláusulas relativas aos juros. Inaplicabilidade da limitação constitucional. A empresa faturizadora possui o direito de cobrar pelos serviços prestados ao faturizado, em percentual sobre os créditos, na modalidade de deságio, o que não revela a incidência de juros. Vedação inexistente na lei. 2 ¿ Ausência de descaracterização da natureza do negócio de factoring, que difere da operação de desconto bancário. 3 ¿ Títulos endossados. Recompra. Possibilidade. Previsão legal. 4 ¿ Prestação dos serviços de assessoria. Ausência de solicitação no período contrato. Previsão contratual de cobrança dos títulos endossados. 5 - Inexistência de valores a restituir, razão pela qual descabe o pedido de repetição de indébito. Ação julgada improcedente em primeiro grau. Apelo improvido.” (Apelação Cível Nº 70007931553, Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Antônio Kretzmann, Julgado em 25/03/2004) "FACTORING" - O CONTRATO DE "FACTORING" É DE CESSÃO DE CRÉDITO, NÃO SE LHE APLICANDO AS NORMAS DA LEI DA USURA, NEM PRECEITOS RELATIVOS A NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. NÃO HÁ QUE SE FALAR EM LIMITAÇÃO DE JUROS ISSO PELAS PARTICULARIDADES DO NEGÓCIO. EXAME DA PRELIMINAR PREJUDICADA. PRECEDENTE DO TRIBUNAL DE ALÇADA. RECURSO PROVIDO.” (APC Nº 598059194, SEXTA CÂMARA CÍVEL, TJRS, RELATOR: DES. DÉCIO ANTÔNIO ERPEN, JULGADO EM 12/08/1998)

"FACTORING". RECOMPRA DE TÍTULOS. ADMISSIBILIDADE. INEXISTINDO NORMA

LEGAL IMPEDITIVA, NÃO DESCARACTERIZA A OPERAÇÃO DE

"FACTORING" A RECOMPRA DE TÍTULOS, QUANDO AVENÇADA CONTRATUALMENTE. MANTIDA A NATUREZA DA OPERAÇÃO, TORNA-SE INVIÁVEL A REVISÃO PARA EXPURGAR JUROS EXCESSIVOS, EIS QUE INEXISTENTES. APELO IMPROVIDO.” (APC Nº 197200199, DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, TARGS, RELATOR: DES. ULDERICO CECCATO, JULGADO EM 25/06/1998)

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“FACTORING. COMISSÃO. A OPERAÇÃO DE "FACTORING" DISTINGUE-SE DA OPERAÇÃO BANCÁRIA DE DESCONTO, POR ISSO A REMUNERAÇÃO DA CESSIONÁRIA NÃO ESTÁ LIMITADA A 12% AO ANO. NEGARAM PROVIMENTO.” (APC Nº 197223753, QUINTA CÂMARA CÍVEL, TARGS, RELATOR: DES. RUI PORTANOVA, JULGADO EM 04/12/1997)

Saliente-se que, da documentação juntada ao processo, há unicamente referência à incidência de ‘fator mensal’ no percentual de 2,9649%, patamar esse que se mostra aquém das taxas praticadas pelo mercado financeiro, não havendo, tanto no aditivo contratual como na confissão de dívida, previsão de cobrança de juros, de capitalização e de cumulação de comissão de permanência com correção monetária, e, portanto, afigura-se descabida a pretendida revisão contratual, especialmente no que toca à limitação de juros.

Os autores, quando da contratação, estavam cientes das cláusulas contratuais, em especial dos valores que seriam cobradas pela empresa ré pelos riscos assumidos, tendo, inclusive, sido beneficiados pelo negócio firmado com essa visando fomentar suas atividades, sequer havendo alegação dos apelados de que teriam sido induzidos em erro, dolo ou coação.

Destarte, descabe a pretensão de limitação constitucional acerca do desconto efetuado sobre os títulos faturizados, especialmente porque hígido o contrato de factoring, nada havendo de abusivo em suas cláusulas e, como tal, nada há a restituir aos requerentes, impondo-se o decreto de improcedência da ação.

...”

Sinalo que entendo que não pode ser acolhida a argumentação no sentido de que estaria caracterizada agiotagem por parte da requerida, tendo em vista que os documentos acostados comprovam a existência do

(9)

Transcrevo, por oportuno, a seguinte doutrina:

“A “empresa factor” tem como finalidade adquirir créditos provenientes de vendas mercantis a prazo, com pagamento imediato ou no vencimento dos mesmos, assumindo o risco do não-pagamento. Já, o faturizado, em regra, é empresa mercantil de pequeno e médio porte, com dificuldade para operar com bancos, pelo nível de reciprocidade e exigências, garantias e outros, que deseja transferir para o faturizador os seus créditos, referentes a vendas efetuadas com seus clientes, sacados. Nessa linha, estabelece-se um contrato de faturização entre “factor” e faturizado, a título oneroso, criando obrigações para ambas as partes. Várias cláusulas deverão estar expressas no contrato de factoring, precipuamente cláusula de exame de contabilidade e de legitimidade dos créditos adquiridos, onde a faturizada assegura a legitimidade dos títulos adquiridos ao faturizado, além da cláusula de notificação, onde o faturizado deverá informar ao seu cliente, sacado, que o crédito foi vendido à empresa de “factor”, bem assim cláusula de pagamento, onde se estipulam as comissões, dentre outras cláusulas (LUIS ALEXANDRE MARKUSOSNS, Factoring, Porto Alegre, Livraria do Advogado Editora, 1997, pp. 43 e seguintes).

Sinalo que, ao contrário do exposto pelo apelante, a diferença do valor do título e o realmente pago pela faturizadora ao faturizado não se refere a juros abusivo e ilegais, mas apenas a um deságio, que corresponde ao preço cobrado pelo serviço.

A improcedência do pedido contido nas demandas cautelares, por outro lado, é corolário lógico do presente julgamento.

Ante o exposto, estou direcionando meu voto no sentido do desprovimento do apelo e manutenção da sentença em sua íntegra, inclusive no que atine aos ônus sucumbenciais.

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VOTO PELO DESPROVIMENTO DO APELO.

DES. OSVALDO STEFANELLO (PRESIDENTE E REVISOR) - De acordo. DES. ANTÔNIO CORRÊA PALMEIRO DA FONTOURA - De acordo.

DES. OSVALDO STEFANELLO - Presidente - Apelação Cível nº 70010295475, Comarca de Teutônia: "NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME."

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