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Aula 24 TEORIA DO INADIMPLEMENTO OBRIGACIONAL

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Academic year: 2021

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Curso/Disciplina: Direito Civil – Obrigações

Aula: Obrigações: Teoria do Inadimplemento (Parte VII).

Professor (a): Rafael da Mota Mendonça Monitor (a): Lívia Cardoso Leite

Aula 24

TEORIA DO INADIMPLEMENTO OBRIGACIONAL

Antes de a CF/88 entrar em vigor, já havia a Lei nº 4595/64, a Lei de Mercado De Capitais. O Governo Militar privilegiou muito as instituições financeiras, para trazer investimentos ao país e fazer com que o progresso escondesse as coisas que aconteciam.

A lei prevê que, no que diz respeito às instituições, entes, integrantes do Sistema Financeiro Nacional, não há limites para a cobrança de juros compensatórios. Os bancos começaram a cobrar juros compensatórios astronômicos.

O mutuário, que ainda não era considerado consumidor, pois o CDC só veio em 90, ia ao Judiciário. Este dizia que havia lei permitindo a cobrança de juros compensatórios em tal monta.

A Constituição cidadã, a fim de proteger o mutuário, reconhecendo grande desigualdade em concreto, trouxe o teor do art. 192, §3º, que dizia que os juros compensatórios, inclusive os cobrados por instituições financeiras, não poderiam ultrapassar 12% ao ano, ou seja, 1% ao mês. Com isso, a CF deveria não ter recepcionado, nesse ponto, a Lei nº 4595/64.

O que aconteceu com o §3º do art. 192 da CF?

Uma orientação doutrinária muito forte, capitaneada pelo Prof. Ives Gandra, defendeu a tese de que esse §3º não era norma autoaplicável, precisando de regulamentação.

O grande opositor nessa discussão foi José Afonso da Silva, constitucionalista. Este foi um dos autores do §3º.

Começou uma discussão muito grande e o Judiciário cada hora se posicionava de uma forma. O Congresso, devido a um lobby fortíssimo das instituições financeiras, retirou o §3º do texto constitucional pela EC nº 40/2003 e determinou a aplicação da legislação anterior. A legislação anterior que disciplina juros compensatórios é a Lei nº 4595/64.

A EC é do ano de 2003. Já estava em vigor o CC/2002.

CC, art. 591 - Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.

CC, art. 406 - Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

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Com a retirada do texto constitucional do §3º do art. 192 da CF, havia 2 leis anteriores, a de 1964 e o CC de 2002, trabalhando com os juros compensatórios. O CC diz que esses juros encontram limite na SELIC ou em 1% ao mês. A lei de 64 diz que não há limites na cobrança desses juros pelos entes que integram o Sistema Financeiro Nacional.

O CC impõe limitação geral. A não pode celebrar mútuo com B e cobrar juros compensatórios superiores ao que diz o CC.

A lei de 64 afirma que não há limites apenas para os entes que integram o Sistema Financeiro Nacional.

STJ e STF: se posicionaram pela aplicação de que taxa?

Entenderam que para disciplinar o Sistema Financeiro Nacional, a Lei de Mercado de Capitais é específica e, portanto, no que diz respeito aos entes que o integram, há lei especial frente ao CC. Logo, não há limites na cobrança de juros compensatórios.

STF, S. 596 - As disposições do Decreto 22.626/33 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional.

STJ, S. 382 - A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade.

Houve súmulas posteriores que confirmaram essa orientação.

STJ, S. 422 - O art. 6º, e, da Lei n. 4.380/1964 não estabelece limitação aos juros remuneratórios nos contratos vinculados ao SFH.

STJ, S. 283 - As empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da Lei de Usura.

STJ, S. 530 - Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetivamente contratada - por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor.

Não há limite nenhum então? O banco que resolve? A autonomia privada, na questão dos juros, assume esses contornos excessivos, absolutos?

De acordo com o que dizem as súmulas, sim. Porém, o STJ, sobretudo com parâmetros estabelecidos pela Min. Nancy Andrighi, diz que a Lei nº 4595 é especial e deve ser aplicada, não havendo limites na cobrança de juros compensatórios por instituições que integram o Sistema Financeiro Nacional.

No entanto, essa instituição tem de obedecer a uma taxa média de mercado, um patamar médio aplicado pelo mercado.

Quem diz qual é a taxa média de mercado?

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Outro problema. O STJ tentou limitar o caráter absoluto da autonomia da vontade dos bancos.

Não há limites, mas tem de ser respeitada a taxa média cobrada pelo mercado. O BACEN costuma divulgar essa taxa média de mercado, que chega a 90%.

O STJ acha normal o cidadão pegar 10 mil em um banco e este cobrar de juros compensatórios 9 mil reais. A dívida passa a ser de 19 mil reais. Isso é autorizado pelo Judiciário e pela lei.

O Judiciário deveria realizar uma intervenção mais violenta para preservar o equilíbrio contratual. Juros compensatórios de 90%, que eleva para quase o dobro do valor que foi tomado emprestado, que foi pego, são super excessivos. Isso quebra o equilíbrio contratual.

Teoria do Direito Civil-Constitucional: há 3 grandes princípios.

- Função social do contrato;

- Boa-fé objetiva;

- Equilíbrio contratual.

A questão debatida viola o equilíbrio contratual.

É possível a capitalização de juros compensatórios? Podem-se cobrar juros compensatórios sobre juros compensatórios, um sobre o outro?

Imagine-se que C pegou 10 mil reais no Santander para pagar em 2 anos. O banco cobrou 20%

ao ano de juros compensatórios. No 1º ano, os juros devidos são de 2 mil reais, ficando a dívida em 12 mil.

No 2º ano há mais 20% de juros, aplicados em cima de 12 mil reais, e não de 10 mil.

CC, art. 591 – É possível a capitalização anual.

E a Lei da Usura?

Proíbe o anatocismo, que é a cobrança de juros sobre juros. Porém, o art. 591 do CC revogou o art. 4º do D. 22626/33.

D. 22626/33, art. 4º - É proibido contar juros dos juros: esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano.

Esse art. fala da capitalização, proibindo o anatocismo.

Obs: o Judiciário tem muitas decisões contrárias ao anatocismo, mas elas se referem aos juros moratórios. Juros moratórios não podem ser cobrados sobre juros moratórios.

No que diz respeito aos juros compensatórios, o art. 4º da Lei da Usura foi revogado pelo art.

591 do CC.

Assim, é possível que se pegue 10 mil reais no Santander para pagamento em 2 anos, e ele cobre 20% de juros compensatórios. No 1º ano ele vai cobrar 20% em cima de 10 mil reais. No 2º ano ele cobrará 20% em cima de 12 mil reais. Se fosse para pagar em 20 anos, todo ano seria assim. Por isso que

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muitas vezes isso supera 90% se essa for, por exemplo, a taxa média de mercado. Às vezes essa taxa média de mercado, cuja obediência é determinada pelo STJ, é superada, por força do que diz o CC sobre capitalização anual.

Quando se pega um empréstimo no banco para a compra da casa própria, para pagamento em 35 anos, no final das contas paga-se de 3 a 4 vezes o valor pego.

MP nº 2170-36/2001, do final do Governo FHC. Ela é anterior à EC nº 32/2001. Esta determinou que todas as MPs deveriam ser convertidas em lei no prazo de 60 dias. As MPs anteriores à EC nº 32/2001 têm caráter definitivo.

A MP nº 2170-36/2001 está em vigor até hoje. Ela diz que para os entes que integram o Sistema Financeiro Nacional a capitalização de juros compensatórios pode ser mensal.

MP nº 2170-36/2001, art. 5º - Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano.

Parágrafo único. Sempre que necessário ou quando solicitado pelo devedor, a apuração do valor exato da obrigação, ou de seu saldo devedor, será feita pelo credor por meio de planilha de cálculo que evidencie de modo claro, preciso e de fácil entendimento e compreensão, o valor principal da dívida, seus encargos e despesas contratuais, a parcela de juros e os critérios de sua incidência, a parcela correspondente a multas e demais penalidades contratuais.

Os juros compensatórios são altíssimos.

Qual foi a urgência para que esse tema fosse tratado por MP?

Nenhuma. À época o PT moveu a ADI nº 2316-1. Foi questionado vício, inconstitucionalidade, de forma. Não é tema para ser trabalhado por MP, em razão da ausência de urgência.

A ADI tramitou no STF por 15 anos. Teori Zavascki decidiu dizendo que tudo relacionado ao Sistema Financeiro Nacional tem urgência, ainda mais em 2001, em que se estava em transição de governo e havia tensão no mercado sobre o que iria acontecer. Havia crises internacionais. Então, essa MP se fez necessária. Assim, o Min. declarou a constitucionalidade do art. 5º da MP nº 2170-36/2001.

Algumas Defensorias Públicas costumam tentar o controle difuso de constitucionalidade, alegando que a capitalização mensal de juros compensatórios quebra a igualdade material pretendida pela CF. Não há violação da decisão do STF na ADI porque nesta houve manifestação exclusivamente acerca de vício no aspecto formal da elaboração da MP. Não houve manifestação sobre suas questões materiais.

Assim, é possível contestar a questão da violação material de dispositivos constitucionais – princípio da igualdade material. Os juízes não têm acolhido e a capitalização mensal tem sido permitida.

No Governo Lula foi editada a Lei nº 11977/2009, lei do Programa Minha Casa, Minha Vida. Esta lei é extremamente importante para quem está se preparando para concursos da área federal. Ela não fala apenas do Programa Minha Casa, Minha Vida, que é um projeto macro, nacional, de habitação, mas também

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sobre instrumentos de regularização fundiária em áreas da União. Ela traz, por exemplo, a legitimação de posse e a demarcação urbanística. É importantíssima para concursos da DPU, da AGU e da Magistratura e do MP Federais.

A lei determinou que no SFH a capitalização dos juros compensatórios também pode ser mensal. Antes não podia? O SFH não integra o Sistema Financeiro Nacional?

Todos os mutuários de empréstimos concedidos no âmbito do SFH passaram a propor ações revisionais em face das instituições financeiras, sob a alegação de impossibilidade. Pediram a devolução em dobro do que foi cobrado, em razão da capitalização mensal, antes da Lei nº 11977/2009. As cobranças teriam sido indevidas, já que apenas a partir de 2009 elas foram autorizadas.

A questão chegou ao STJ no âmbito de REsp Repetitivo.

STJ, REsp nº 1095852/PR – 2ª Seção – Min. Maria Isabel Gallotti – Julgamento em 14.03.2012.

RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. SFH. CAPITALIZAÇÃO ANUAL DE JUROS.

POSSIBILIDADE. ENCARGOS MENSAIS. IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO. ART. 354 CC 2002. ART. 993 CC 1916.

1. Interpretação do decidido pela 2ª Seção, no Recurso Especial Repetitivo 1.070.297, a propósito de capitalização de juros, no Sistema Financeiro da Habitação.

2. Segundo o acórdão no Recurso Repetitivo 1.070.297, para os contratos celebrados no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação até a entrada em vigor da Lei 11.977/2009 não havia regra especial a propósito da capitalização de juros, de modo que incidia a restrição da Lei de Usura (Decreto 22.626/33, art. 4º). Assim, para tais contratos, não é válida a capitalização de juros vencidos e não pagos em intervalo inferior a um ano, permitida a capitalização anual, regra geral que independe de pactuação expressa. Ressalva do ponto de vista da Relatora, no sentido da aplicabilidade, no SFH, do art. 5º da MP 2.170-36, permissivo da capitalização mensal, desde que expressamente pactuada.

3. No Sistema Financeiro da Habitação, os pagamentos mensais devem ser imputados primeiramente aos juros e depois ao principal, nos termos do disposto no art. 354 Código Civil em vigor (art. 993 Código de 1916).

Entendimento consagrado no julgamento, pela Corte Especial, do Recurso Especial nº 1.194.402-RS (Relator Min.

Teori Albino Zavascki), submetido ao rito do art. 543-C.

4. Se o pagamento mensal não for suficiente para a quitação sequer dos juros, a determinação de lançamento dos juros vencidos e não pagos em conta separada, sujeita apenas à correção monetária, com o fim exclusivo de evitar a prática de anatocismo, encontra apoio na jurisprudência atual do STJ. Precedentes.

5. Recurso especial provido.

O STJ podia entender que a capitalização mensal, no âmbito do SFH, é permitida desde 2001, com base em aplicação analógica da MP nº 2170, ou apenas a partir de 2009, pela Lei nº 11977.

A anual sempre pôde, desde o CC.

O STJ decidiu que a capitalização mensal, inclusive no âmbito do SFH, é permitida desde 2001, com base em aplicação analógica da MP nº 2170-36. A partir de 2009, o fundamento legal para a capitalização mensal no SFH passou a ser a Lei nº 11977. Antes dela era possível capitalizar com base na MP.

Os lucros astronômicos das instituições financeiras no Brasil são permitidos com base em fundamentação jurídica e no posicionamento dogmático do Judiciário na aplicação das normas. Poderia, de

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alguma forma, com base em princípios e dispositivos constitucionais, se tentar equilibrar um pouco as relações contratuais.

Ganha-se muito, há um lucro excessivo das instituições financeiras, os consumidores pagam muito caro, e o serviço do sistema bancário do Brasil é muito ruim.

Referências

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