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Luiz Antonio Miguel Ferreira DIREITOS DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA. Volume 1

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DIREITOS DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA

Volume 1

Presidente Prudente – SP 2001

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Série: DIREITOS DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA - volume 1.

Obra publicada pelo autor em prol da AFIPP – Associação de Apoio ao Fissurado Lábio Palatal de Presidente Prudente e Região. Disponibilizada em suporte eletrônico: http://www.pjpp.com.br

Normalização bibliográfica e editoração:

Normalização bibliográfica e editoração de textos científicos

http://planeta.terra.com.br/servicos/lumarte lumarte@terra.com.br

(0XX14) 433-1346 – Marília – SP

Distribuído no Brasil ISBN:

Copyright 2001 – Luiz Antônio Miguel Ferreira Ficha catalográfica

Ferreira, Luiz Antônio Miguel

Direitos da pessoa portadora de deficiência / Luiz Antônio Miguel Ferreira. – Presidente Prudente , 2001.

v.1 ; 21cm. – (Direitos da pessoa portadora de deficiência, 1).

Conteúdo: v.1 – Direitos da pessoa portadora de deficiência

I. Título

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APRESENTAÇÃO

Este livro, composto por vários artigos, inicia uma série que busca retratar a questão da pessoa portadora de deficiência e seus direitos. O primeiro artigo apresenta a definição do portador de deficiência com base no Decreto n.º 3.298 de 20 de dezembro de 1999, que regulamentou a Lei n.º 7.853 de 24 de outubro de 1989. Quando se discute direitos da pessoa portadora de deficiência, mister se faz compreender aqueles que integram este segmento, para a correta aplicação da lei.

O segundo texto trata da inclusão do portador de deficiência, estabelecendo uma relação com a função institucional do Ministério Público. A evolução da proteção legal do portador de deficiência e das atribuições que foram confiadas ao Promotor de Justiça, acarretou mecanismos de agir na defesa dos interesses dos deficientes, visando proporcionar-lhes a cidadania que foi garantida na Constituição.

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concentração de pessoas nas cidades, proporcionando o surgimento de loteamentos, cada vez mais freqüentes, tornando-se indispensável que os mesmos já venham concebidos, visando a inclusão social do portador de deficiência. Esta postura contempla uma nova forma de atuação do Promotor de Justiça, no sentido de garantir ao portador de deficiência seus direitos elementares, antes mesmo do surgimento do problema. Assim, os loteamentos são tratados de forma específica, com uma atuação preventiva no sentido de se garantir a inclusão e o direito de locomoção do portador de deficiência. Este foi o tema abordado no terceiro artigo do livro.

Por fim, o último texto apresenta algumas considerações a respeito da escola inclusiva, no sentido de garantir o direito à educação ao portador de deficiência.

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SUMÁRIO

Apresentação

Tema 1: Análise conceitual da pessoa portadora de

deficiência ... 1 1.1 Introdução ... 1 1.2 Nomenclatura ... 4 1.3 Conceito doutrinário... 7 1.4 Conceito legal... 11 1.4.1 Considerações a respeito do conceito legal ... 18 1.5 Considerações finais ... 19 1.6 Deficiente físico ... 21

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1.7 Deficiente visual ... 24

1.8 Deficiente auditivo... 27

1.9 Outras deficiências ... 27

1.10 Considerações finais ... 31

Referências bibliográficas... 33

Tema 2: A inclusão da pessoa portadora de deficiência e o Ministério Público... 34

2.1 Introdução ... 34

2.2 Proteção legal do portador de deficiência ... 37

2.3 O Ministério Público e a PPD... 44

2.4 A atuação do Promotor de Justiça na defesa do portador de deficiência ... 49

2.5 Considerações finais ... 53

Referências bibliográficas... 55

Tema 3: Os loteamentos e a pessoa portadora de Deficiência... 56

3.1 Introdução ... 56 3.2 Legislação aplicada aos loteamentos

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e a pessoa portadora de deficiência – Constituição

– Lei de Parcelamento do solo urbano

– Leis sobre Pessoa Portadora

de Deficiência e Normas da ABNT ... 58 3.3 A atuação do Promotor de Justiça

em relação aos loteamentos... 70 3.4 O Promotor de Justiça e a defesa da

pessoa portadora de deficiência... 78 3.5 A eliminação das barreiras

arquitetônicas como expressão maior do direito à igualdade, liberdade de locomoção e dignidade da pessoa humana... 83 3.6 Os loteamentos e os portadores de deficiência ... 88 3.7 Considerações finais ... 99 Referências bibliográficas... 102

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Deficiência... 104 4.1 A cidadania do portador de deficiência ... 104 4.2 O direito à educação do portador

de deficiência e a cidadania... 107 Referências bibliográficas... 114

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Tema 1: Análise conceitual

da pessoa portadora de deficiência

1.1 Introdução. 1.2 Nomenclatura. 1.3 Conceito doutrinário. 1.4 Conceito legal. 1.5 Considerações a respeito do conceito legal. 6. Considerações finais.

1.1 Introdução

Um dos grandes problemas que a pessoa portadora de deficiência enfrenta, refere-se a sua própria definição ou caracterização. Quem é o portador de deficiência? A ausência de um dedo da mão ou a utilização de óculos caracteriza uma deficiência? Utilizando cadeiras de rodas, mas tendo uma vida social e familiar, considerada normal dentro dos padrões estabelecidos pela sociedade, mesmo assim é deficiente?

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conhecimento básico, surgem problemas sérios para o portador de deficiência e para a sociedade em que vive. Com efeito, muitos portadores deixam de pleitear direitos que lhe são garantidos, face à ausência desse conhecimento, ou seja, não sabe se é portador de deficiência para efeito legal e que o direito lhe assegura. Quando não, de forma diversa, aproveitam-se da interpretação equivocada da designação para usufruírem benefícios, previdenciários ou não, que não teriam direito, em prejuízo daqueles que seriam merecedores.

De outro lado, a própria comunidade em que o portador de deficiência vive também lhe nega direitos básicos como a acessibilidade, lazer, transporte, educação e trabalho, por desconhecer a amplitude dos casos que caracterizam a pessoa portadora de deficiência. Como regra geral, refere-se a tais pessoas, independente da deficiência que possuam, como “deficientes físicos”, generalizando na categoria, outras deficiências que não são propriamente físicas,

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revelando com isso o desconhecimento da questão.

Quando não, Ministério Público, União, Estado, Município e Distrito Federal, associações constituídas há mais de um ano, nos termos da lei civil, autarquias, empresas públicas, fundações ou sociedade de economia mistas que incluam, entre suas finalidades institucionais a proteção das pessoas portadoras de deficiência (Art. 3º - Lei n. 7.853/89) deixam de promover medidas judiciais para proteção dos direitos difusos e coletivos dos portadores de deficiência e para qual possuem legitimidade ativa, em face da ausência da perfeita identificação do beneficiário do direito a ser pleiteado.

Em síntese, torna-se indispensável, para garantir o efetivo cumprimento dos direitos Constitucionais que são assegurados aos portadores de deficiência conhecer quem é e como se caracteriza essa pessoa.

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1.2 Nomenclatura

Segundo esclarece Luiz Alberto David Araújo (1994, p. 20), várias foram as expressões utilizadas pela legislação para a designação da pessoa portadora de deficiência. Foram tachados como indivíduos de capacidade limitada, impedidos, minorados, descapacitados, excepcionais, minusválidos e deficientes. É certo que a essas designações, somam-se outras de cunho pejorativo como “aleijado” para o deficiente físico ou “louco” ao deficiente mental, mais utilizadas popularmente.

Lembra o citado professor que as designações acabaram ficando centradas em três expressões básicas:

• Excepcional: termo utilizado na Emenda Constitucional de 1969. Tem o conteúdo restritivo, posto que não se apresenta adequado para designar determinadas pessoas portadoras de deficiência;

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à idéia da própria deficiência, sem considerar a pessoa;

• Pessoa portadora de deficiência: atualmente a expressão mais aceita, pois centra a questão na pessoa e não na deficiência.

A designação de pessoa portadora de deficiência, apesar de ser a utilizada atualmente, ainda encontra opiniões contrárias, como a expressada por Frei Beto, que propõe a designação de pessoas portadoras de direitos especiais. Esclarece o eminente escritor sua opinião a respeito da questão:

O substantivo “deficiência” encerra o significado de falha ou imperfeição, bem como o adjetivo “deficiente”. Atento ao peso das palavras, apontei a deficiência do termo e, sobretudo, sua impropriedade para a auto-estima dos que assim

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são qualificados. É preciso deslocar a designação da dimensão individual para o direito social.

Por que definir uma pessoa por aquilo que lhe falta ?

Minha proposta é que pessoas portadoras de deficiência sejam tratadas como portadoras de direitos especiais (Pode). A sigla exprime capacidade. Apesar de suas restrições físicas e mentais, elas podem exercer múltiplas atividades e, como todos aprimorar seus talentos. O que as caracteriza como grupo social é serem cidadãos portadores de direitos especiais (Frei BETO, 2001, p. 2) .

Não obstante reconhecer a propriedade dos argumentos, é certo que a expressão “pessoa portadora de deficiência”, mostra-se mais

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completa e adequada àqueles assim qualificados. Até porque, o portador de deficiência não quer ser um cidadão com direitos especiais. Na verdade, ele quer os mesmos direitos que são garantidos aos demais cidadãos, como decorrência do princípio da igualdade.

Assim, quando se trata de analisar a pessoa portadora de deficiência em relação os direitos que lhe são reservados pela lei, melhor seria designá-la como cidadão portador de deficiência, ligando a expressão à cidadania, que a Constituição apresenta como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito (art. 1º, II da CF.).

1.3 Conceito doutrinário

Uma vez identificada a nomenclatura a ser utilizada, cumpre verificar o que a mesma significa.

Os conceitos extraídos dos dicionários, apresentam uma relação direta da pessoa portadora de deficiência com a ausência ou falha

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sensorial, motora ou mental. No entanto, Luiz Alberto David Araújo, com muita propriedade, ressalta que esta falta ou falha, por si só, não é suficiente para designar o portador de deficiência.

Esclarece o ilustre doutrinador:

O que define a pessoa portadora de deficiência não é a falta de um membro, nem a visão ou audição reduzidas. O que caracteriza a pessoa portadora de deficiência, é a dificuldade de se relacionar, de se integrar na sociedade. O grau de dificuldade para a integração social é que definirá quem é ou não portador de deficiência (ARAÚJO, 1994, p. 24).

Em outras palavras:

A deficiência, portanto, há de ser entendida levando-se em conta o grau de dificuldade para a integração social e não apenas

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a constatação de uma falha sensorial ou motora, por exemplo.

As considerações bem demonstram a dificuldade de se estabelecer um conceito uniforme para a pessoa portadora de deficiência, posto que se somam a tal situação outras questões que também influem na caracterização e integração do deficiente. Com efeito, os recursos tecnológicos, as próteses mecânicas, cadeiras de rodas motorizadas, sensores, etc., bem como o grau (leve, médio ou grave) ou estágio (inicial ou avançado) da deficiência da qual é portador, a acessibilidade do meio em que vive, as condições de trabalho ofertadas pelas empresas, o tipo de trabalho que desenvolve, são fatores que não podem ser desconsiderados quando da identificação da pessoa portadora de deficiência, posto que podem influir diretamente na integração do portador de deficiência.

Como decorrência desse posicionamento, há necessidade de se avaliar cada caso concreto,

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para poder tipificar determinada pessoa como portadora de deficiência.

Isso porque, a deficiência pode ser até fácil de ser identificada (física, visual, auditiva, múltipla), mas a integração social do portador é variável em cada caso. Decorre ainda deste posicionamento, que a questão principal relativa a definição da pessoa portadora de deficiência, está mais relacionada a sua capacidade e/ou incapacidade de integração social do que à própria deficiência da qual é portadora. Até porque a incapacidade de movimentos, de ouvir ou de falar, não quer significar uma pessoa incapaz.

Decorre do exposto, que o conceito de pessoa portadora de deficiência vai depender de cada caso concreto, com uma análise individual da situação vivenciada pelo portador diante da relação: integração social – deficiência (visual, auditiva, mental ou física).

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1.4 Conceito legal

Não obstante a definição doutrinária de pessoa portadora de deficiência, a legislação no âmbito internacional e nacional, estabelece uma definição, para efeitos jurídicos.

Para a ONU, a definição de pessoa portadora de deficiência vem externada na Resolução 33/347, que estabelece:

[...] o termo pessoas deficientes refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência, congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais (ONU apud SÉGUIN, 1999, p. 17).

Na esfera nacional o conceito não é uniforme. A Lei Orgânica da Assistência Social – Lei

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n.º 8.742 de 7 de dezembro de 1993, define a pessoa portadora de deficiência, para fins de concessão de benefício de prestação continuada, da seguinte forma:

Art. 20. ... § 2º - Para efeitos de concessão deste benefício, a pessoa portadora de deficiência é aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho.

O Decreto n.º 1.744 de 08 de dezembro de 1995, que regulamentou o benefício de prestação continuada devido à pessoa portadora de deficiência, complementou a definição dada pela Lei Orgânica da Assistência Social, estabelecendo:

Art. 2º. Para os fins deste regulamento, considera-se: II – pessoa portadora de deficiência aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho

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em razão de anomalias ou lesões irreversíveis de natureza hereditário, congênitas ou adquiridas, que impeçam o desempenho das atividades da vida diária e do trabalho.

O Decreto n.º 3.298 de 20 de dezembro de 1999, que regulamentou a Lei n.º 7.853 de 24 de outubro de 1989, procurou definir para efeitos legais quem pode ser considerado portador de deficiência. Trata-se de uma definição mais completa, com o detalhamento de cada tipo de deficiência.

Inicialmente, especifica o que vem a ser deficiência, deficiência permanente e incapacidade. A seguir, estabelece como pessoa portadora de deficiência, a que se enquadrar nos padrões mencionados para deficiência física, auditiva, visual, mental e múltipla.

O artigo 3º, I do citado decreto, considera:

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ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano1. Deficiência permanente: aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir a recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos. Incapacidade: uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou

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transmitir informações necessárias ao seu bem estar social e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida.

A seguir, o artigo 4º do Decreto n. 3.298/00, estabelece que “é considerada pessoa portadora de deficiência, a que se enquadra nas seguintes categorias”:

a) Deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralesia cerebral,

de 06 de setembro de 1993.

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membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzem dificuldades para o desempenho de funções; b) Deficiência auditiva: perda parcial ou total das possibilidades auditivas, variando de graus e níveis na forma seguinte:

de 25 a 40 decibéis (db) - surdez leve; -de 41 a 55 db – surdez moderada; -de 56 a 70 db – surdez acentuada;

-de 71 a 90 db – surdez severa; -acima de 91 db – surdez profunda; e

-anacusia (surdez completa). c) Deficiência visual: acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo

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visual inferior a 20º (tabela de Snellen) ou ocorrência simultânea de ambas as situações.

d) Deficiência mental: funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: -comunicação; -cuidado pessoal; -habilidades sociais; -utilização da comunidade; -saúde e segurança; -habilidades acadêmicas; -lazer e -trabalho. e) Deficiência múltipla: associação de duas ou mais deficiências.

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As definições, contidas no citado Decreto, seguiram os parâmetros técnicos anteriormente estabelecidos pela CORDE – Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, quando da realização de câmara técnica destinada a fixação de critérios a serem tomados pela Administração Pública, para dar cumprimento ao comando constitucional constante do artigo 37, VIII 2.

1.4.1 Considerações a respeito da definição legal

Diante das definições da ONU e do Decreto n. 3.298/99, surgem alguns questionamentos referentes a situações que podem caracterizar ou não a deficiência, que merecem uma análise mais detalhada.

2 O Prof. Dr. Luiz Alberto David Araújo, em artigo intitulado

“Conceito de Pessoa Portadora de Deficiência”, disponível em

http://www.oabsp.org.br detalha quais foram os parâmetros estabelecidos pela Câmara Técnica da CORDE para a conceituação da pessoa portadora de deficiência.

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Nesta análise, exclui-se a definição dada pela Lei Orgânica da Assistência Social, posto que a mesma é limitada e enfoca o portador de deficiência apenas em relação ao benefício de prestação continuada, não considerando os demais direitos da qual é portador.

No entanto, deve ficar consignado que o conceito dado pelo Decreto n. 1.744 de 8 de dezembro de 1995, que regulamentou o benefício de prestação continuada é mais abrangente e completo, considerando não só a deficiência (que não detalhou, mas definiu como toda anomalia ou lesões irreversíveis de natureza hereditária, congênitas ou adquiridas) mas a relação com o trabalho e a atividade da vida diária, fazendo assim a ligação defendida pelo conceito doutrinário referente a integração social do portador de deficiência.

1.5 Definição da ONU

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Ao tecer considerações a respeito da definição da ONU para a pessoa portadora de deficiência, esclarece Elida Séguin que:

Dentro deste conceito, inegavelmente enquadram-se muitos idosos, pois a velhice acarreta uma redução em várias capacidades físicas, integrando-os no grupo de pessoas vulneráveis. A obesidade, atualmente é considerada doença, pode limitar as atividades e a locomoção da pessoa (SÉGUIN, 1999, p. 17).

A definição dada pela ONU é abrangente e mais completa, pois afasta àquelas situações pontuais, como na legislação brasileira, para apresentar um padrão que contempla várias hipóteses. Ademais, apresenta um caráter mais inclusivo, a fim de contemplar todo indivíduo que

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se mostre “incapaz de assegurar, por si mesmo, as necessidades de uma vida individual e social normal”. 1.6 Deficiente físico

O legislador brasileiro, apresentou um rol de hipóteses que caracterizam o portador de deficiência física, no artigo 4º, I do Decreto n. 3.298/99. São elas:

• Paraplegia: paralisia dos membros inferiores;

• Paraparesia: paralisia parcial das extremidades inferiores;

• Monoplegia: paralisia de um único membro, músculo ou grupo muscular. É denominado branquial, crural ou facial, quando atinge, respectivamente, o braço, a perna ou a face;

• Monoparesia: paralisia parcial de uma parte isolada do corpo, como a de um membro;

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• Tetraplegia: quadriplegia – paralisia dos quatros membros;

• Tetraparesia: enfraquecimento de todos os quatro membros;

• Triplegia: hemiplegia com a paralisia adicional de um membro do lado oposto;

• Triparesia: paralisia parcial de três membros;

• Hemiplegia: paralesia de um lado do corpo;

• Hemiparesia: fraqueza muscular de um lado do corpo;

• Amputação de membro: retirada, geralmente cirúrgica, da totalidade ou parte de um membro;

• Ausência de membros: ausência de uma das extremidades ligadas ao tronco e usada para preensão ou para locomoção.

• Paralisia cerebral: qualquer comprometimento de funções

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neurológicas, datando do nascimento ou da primeira infância, geralmente sem indícios clínicos de progressão e caracterizado por evidentes déficits motores, como uma quadriplegia espástica, ou por transtornos da percepção e do comportamento, quando devido a uma disfunção cerebral pequena ou mínima;

• Membros com deformidade congênita ou adquirida: estado de ser malformado; desvio pronunciado do normal no referente ao tamanho ou à forma do corpo ou de alguma parte;

Verifica-se que tais deficiências estão ligadas ao:

• Sistema nervoso central

• Sistema nervoso periférico

• Sistema muscular

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Observa-se que o legislador, ao definir o portador de deficiência física, não demonstrou preocupação com a sua integração social, como elemento para a sua caracterização, e sim com o tipo deficiência que lhe acomete. Desta forma, uma pessoa com hemiparesia, independente de estar integrado na sociedade e desenvolver atividades dentro de sua limitação, é considerado portador de deficiência.

1.7 Deficiente visual

Para determinados efeitos, os deficientes visuais são divididos em dois grupos: cegos e portadores de visão subnormal. Esta divisão é feita a partir da acuidade visual, ficando assim estabelecido:

• Cego: aquele que dispõe de 20/200 de visão no melhor olho, após a correção;

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• Portador de visão subnormal: aquele que dispõe de 20/70 de visão no melhor olho, após correção (MASSINI, 1994, p. 40).

O Decreto n.º 3.298/99 tratou da questão relativa ao cego, no entanto, não estabeleceu qualquer regulamentação quanto a visão subnormal, que em muitos casos, também pode caracterizar a pessoa como portadora de deficiência. Melhor seria, que a deficiência visual fosse graduada ou escalonada da mesma forma que foi a deficiência auditiva.

Esta solução mostra pertinente, uma vez que existem situações em que o portador de deficiência visual é discriminado em razão da visão apresentada, e que não se encontra dentro do parâmetro estabelecido pelo decreto em comento. A título de exemplo, pode ser citada a Resolução n. 51 de 21 de maio de 1998 do Conselho Nacional de Trânsito, que dispõe sobre os exames de aptidão física e mental para obtenção da carteira da carteira nacional de habilitação.

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• Para dirigir veículos da categoria “A” (veículo motorizado de 2 ou 3 rodas, com ou sem carro lateral), a acuidade visual deve ser igual a 20/25 (Tabela Snellen), no olho de melhor visão.

• Para a direção de veículos categoria “B” (veículo motorizado, não abrangido pela categoria A, cujo peso bruto total não exceda a três mil e quinhentos quilogramas e cuja lotação não exceda a 8 lugares, excluído o do motorista) a acuidade visual deve ser igual a 20/30 (Tabela Snellen) nos dois olhos.

• Para a direção de veículos da categoria “C”, “D” e “E” (transporte de carga, transporte de passageiros, reboque, semi-reboque) a acuidade visual deve ser igual a 20/30 em cada um dos olhos.

Assim, nas situações apontadas, a pessoa não é considerada portadora de deficiência visual nos termos do Decreto n. 3.298/99, no entanto, pela

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deficiência apresentada, não podem exercer as referidas atividades.

1.8 Deficiente auditivo

A deficiência auditiva, foi bem equacionada no Decreto n. 3.298/99, sendo que desde a surdez leve até a surdez completa, a pessoa é considerada portadora de deficiência. Este situação se justifica, posto que a surdez:

[...] é uma deficiência não visível fisicamente e se limita a atingir uma pequena parte da anatomia do indivíduo. Suas conseqüências, no entanto, são extraordinárias no que diz respeito ao desenvolvimento emocional, social e educacional do surdo (FINE, 1977, apud BARROS et.al., 1997, p. 9).

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1.9 Outras deficiências

Como enquadrar o portador de deficiência orgânica interna, sem mutilação ou deformidade aparente? O deficiente renal crônico, a cardiopatia grave, o hanseniano, o aidético e o portador de LER/DORT, podem ser considerados portadores de deficiência?

Sob o ponto de vista doutrinário, não vislumbro muito problema para o enquadramento de tais pessoas como portadoras de deficiência, dependendo sempre, do grau de comprometimento da doença e da integração social do portador. Assim, o cardiopata ou o portador de LER/DORT que em razão da anormalidade orgânica apresentada, não consiga se integrar ou se relacionar socialmente, pode ser caracterizado como portador de deficiência. Na definição apresentada pela ONU, também não há dificuldade para a sua caracterização.

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A questão mostra-se mais delicada, quando analisada com base na definição inserida no Decreto n.º 3.298/99.

A interpretação literal das definições contidas no referido Decreto exclui parcialmente a deficiência orgânica interna, sem mutilação ou deformidade aparente ou outra que não se enquadre como física, visual, auditiva, mental e múltipla. Esta situação revela que o deficiente orgânico (com anormalidade anatômica interna) para ser considerado pessoa portadora de deficiência, nos termos do Decreto, necessita de ter, concomitantemente, um comprometimento da função física, visual, auditiva, mental ou múltipla. O fato de possuir uma anormalidade anatômica séria de um órgão (coração, rins, etc.), por si só, não o habilita a ser designado como portador de deficiência.

No entanto, o mesmo decreto ao definir o que vem a ser deficiência para efeitos legais, acaba por incluir o deficiente orgânico, posto que se refere a “toda perda ou anormalidade de uma

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estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade”. Desta forma, no decreto em análise, o artigo que define a deficiência, inclui o orgânico e outras deficiências3

(art. 3º, I do Dec. n.º 3298/99), mas não o consideram como pessoa portadora de deficiência (art. 4º).

A interpretação, neste caso, deve contemplar o deficiente orgânico como pessoa portadora de deficiência, desde que a anormalidade apresentada gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano.

Seria mais conveniente se o referido Decreto também abordasse a questão das deficiências orgânicas interna, de forma específica, incluindo-a expressamente entre as hipóteses em que as pessoas são consideradas portadoras de deficiência, fechando assim o rol apresentado.

3 Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, deficiências do

metabolismo, esclerose múltipla, talassemia, insuficiência renal crônica, etc.

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1.10 Considerações finais

É inegável que a legislação relativa à pessoa portadora de deficiência evoluiu consideravelmente, após o advento da atual Constituição, sendo que a edição do Decreto n.º 3.298/99 foi muito pertinente para caracterização desta categoria de pessoa. Até porque, diante da competência concorrente da União, Estado e Município para legislar em relação à proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência (art. 24, XIV da CF), havia a necessidade de se uniformizarem os conceitos, ou pelo menos apresentar um padrão que pudesse servir de base para outras legislações.

E o processo de inclusão social objetivado pela legislação, passa primeiramente pela caracterização e definição da pessoa portadora de deficiência. Como decorrência, com o entendimento correto da legislação, torna-se mais fácil concretizar os objetivos por ela pretendidos.

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É certo, porém, que as questões levantadas, como adverte Luiz Alberto David Araújo, apresentam “áreas fronteiriças, de solução num primeiro momento difícil” (ARAÚJO, 2001), pois os portadores de deficiência não formam um grupo homogêneo, diante da natureza e grau de suas afecções, sendo que “sempre que surgir um caso concreto, quer diante de um exame médico, quer diante de uma dúvida plausível de aplicação dos conceitos fixados, o critério utilizável será o inclusivo, sob pena de desprezo aos princípios constitucionais” da dignidade da pessoa humana e promoção do bem de todos, sem discriminação.

Referências bibliográficas

ARAÚJO, L.A.D. A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência. Brasília: Coordenadoria

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Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 1994.

ARAÚJO, L.A.D. Conceito de pessoa portadora de deficiência. Disponível em: http://www.oabsp.org.br . Acesso em: 10 ago. 2001.

BETO (Frei). Deficientes físicos ? Pode ? O Estado de S. Paulo, São Paulo, 2 maio 2001, Caderno A, p. 2.

DICIONÁRIO MÉDICO BLAKSTON. 2.ed. São Paulo: Andrei, 1979.

FINE, P. La sordera en la primera infancia. Buenos Aires: Ed.Médica Panamericana, 1977. In: BARROS, A.L. D.; SILVA, D.T.C.; LOUREIRO, V.R. A criança surda em idade pré-escolar e a investigação da classificação de objetos.. Brasilia: CORDE, 1997.

MASINI, E.F.S. O perceber e o relacionar-se do deficiente visual: orientando professores especializados. Brasilia: CORDE, 1994.

SÉGUIN, E. Justiça é diferente de direito. In: ROBERT, C. (org.). O direito do deficiente. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1999.

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Tema 2:

A inclusão da pessoa portadora de deficiência e o Ministério Público

2.1 Introdução. 2.2 Proteção legal do portador de deficiência. 2.3 O Ministério Público e a PPD. 2.4 A atuação do Promotor de Justiça na defesa do portador de deficiência. 2.5 Considerações finais.

2.1 Introdução

A história da humanidade revela, desde os tempos mais remotos, a existência de pessoas portadoras de deficiência, com relatos sobre suas dificuldades na vida cotidiana. A Bíblia, dá vários exemplos de tais situações, como a deficiência da fala de Moisés (Êxodo, 4:10) ou da visão e física do apóstolo Paulo (Coríntios, cap. 12:7). Na era clássica, esclarece Áurea Ribeiro:

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Homero – aquele a quem Platão denominou na República, o maior de todos os poetas - deixou lavrado em seus versos, a tarefa estratégica legada ao deus Hefesto, que era coxo, ou seja, portador de deficiência física, o mesmo ocorrendo com Platão, que tinha uma desproporcionalidade física de seus ombros e fontes. A estas pessoas somam-se inúmeras outras, como Ludwig Van Beethoven, ou o Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que assim ficou conhecido devido à deficiência que portava (RIBEIRO, 1999, p. 81).

A trajetória histórica, revela que a pessoa portadora de deficiência sempre foi marginalizada, vivendo num verdadeiro apartheid social, sendo vítima da própria deficiência e da exclusão

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proporcionada pela sociedade, dita perfeita ou de homens fictícios.

Esta situação é menos gritante nos países que experimentaram os horrores de uma guerra, com a presença de mutilados, e portanto deficientes, acarretando maior sensibilização e mobilização da sociedade para atender aos seus direitos, já que assim ficaram para defender a pátria.

Nos países que não passaram por esta experiência, como o Brasil, o deficiente ainda é ignorado, sendo certo que a evolução da sociedade não foi suficiente para afastar a exclusão e as dificuldades experimentadas, sendo necessário estabelecer, por meio de lei, regras que pudessem buscar a igualização entre as pessoas, portadoras de deficiência ou não.

Estas normas, por si só, também não garantiram a efetividade da igualdade, diante da nossa cultura de sociedade perfeita. Assim, os portadores de deficiência continuaram marginalizados e excluídos do contexto social. Foi

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necessário estabelecer mecanismos assecuratórios para garantir a cidadania da pessoa portadora de deficiência, com a previsão de ações judiciais e instituição que assumisse a defesa deste segmento da sociedade.

Neste contexto, surge o Ministério Público como instituição designada para fazer valer os interesses dos portadores de deficiência, visando a garantir a sua cidadania, inclusão social e dignidade.

As leis elaboradas passaram a dar respaldo à atuação Ministerial, possibilitando o início de uma verdadeira revolução para retirar o portador de deficiência da condição de marginalizado e excluído, elevando-o a cidadão com dignidade e respeito.

2.2 Proteção legal do portador de deficiência

São inúmeras as leis que buscam regulamentar os direitos da pessoa portadora de

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deficiência. Tais leis não se apresentam como um todo harmonioso, dificultando a sua aplicação, uma vez que regulamentam a matéria leis esparsas, na esfera federal, estadual e municipal, além de decretos regulamentares, portarias e resoluções específicas para cada tipo de deficiência.

O certo é que, dentro deste complexo de proteção legal, merece análise o contido nas Constituições, bem como nas leis n.º 7.853 de 24 de outubro de 1989, Decreto n.º 3.298 de 20 de dezembro de 1999 e a Lei n.º 10.098 de 19 de dezembro de 2000, que de forma mais efetiva tratam dos direitos dos portadores de deficiência e sua inclusão.

Quanto às Constituições, esclarece o Prof. Luiz Alberto David Araújo (1994, p. 66-73), que somente com a Emenda n.º 01 à Constituição de 1967, é que surgiu uma vaga referência a pessoa portadora de deficiência, quando tratou da “educação dos excepcionais”.

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Posteriormente, com a Emenda n.º 12, de 17 de outubro de 1978, à Constituição de 1967, novo avanço ocorreu para os portadores de deficiência, uma vez que foi estabelecido que:

Artigo único: É assegurado aos deficientes a melhoria de sua condição social e econômica especialmente mediante:

I - educação especial e gratuita;

II – assistência, reabilitação e reinserção na vida econômica e social do Pais;

III – proibição de discriminação, inclusive quanto à admissão ao trabalho ou ao serviço público e a salários;

IV – possibilidade de acesso a edifícios e logradouros públicos.

A partir daí, a inovação mais significativa ocorreu com a atual Constituição de 1988. Ela foi pródiga ao tratar da pessoa portadora de

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deficiência, estabelecendo não somente a regra geral relativa ao princípio da igualdade (art. 5º, “caput”), mas também:

a) a competência comum da União, Estado, Distrito Federal e Município para cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência (art. 23, II).

b) a competência concorrente para legislar visando à proteção e integração do portador de deficiência (art. 24, XIV).

c) a proteção ao trabalho, proibindo qualquer discriminação no tocante ao salário e admissão do portador de deficiência (art. 7º, XXXI) e a reserva de vagas para cargos públicos (art. 37, VIII);

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d) a assistência social – habilitação, reabilitação e benefício previdenciário (art. 203, IV e V),

e) a educação – atendimento especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208, III),

f) a eliminação das barreiras arquitetônicas, adaptação de logradouros públicos, edifícios, veículos de transportes coletivos. (art. 227, II, parágrafo 2º).

g) preocupação com a criança e adolescente portadores de deficiência, com criação de programas de prevenção e atendimento especializado, além de treinamento para o trabalho (art. 227, II).

A Lei n.º 7.853, de 24 de outubro de 1989, estabeleceu o apoio à pessoa portadora de

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deficiência, sua integração social, a tutela jurisdicional de interesses coletivos e difusos dessas pessoas, disciplinou a atuação do Ministério Público e definiu crimes. Objetivou esta lei, assegurar as pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, principalmente no que diz respeito à saúde, à educação, ao trabalho, lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade.

A partir desta Lei, foi atribuída, de forma específica ao Ministério Público a defesa dos interesses das pessoas portadoras de deficiência, com a possibilidade de se ingressar com ação civil pública e instaurar inquérito civil. Também foi especificado o crime quanto ao preconceito em relação ao portador de deficiência e reestruturado a Coordenadoria Nacional para a Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE.

Significou um avanço em termos legislativos, posto que possibilitou o ingresso de medidas judiciais para garantir a efetividade dos direitos fundamentais ao portador de deficiência, além da

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possibilidade de responsabilizar criminalmente os infratores.

O Decreto n.º 3.298, de 20 de dezembro de 1999, regulamentou a lei supra citada, detalhando as ações e diretrizes referentes ao portador de deficiência, especificamente em relação à saúde, ao acesso à educação, habilitação e reabilitação profissional, acesso ao trabalho, cultura, desporto, turismo e lazer. Na verdade, buscou tornar mais efetivos aqueles direitos que já tinham sido contemplados na lei n.º 7.853/89.

Finalmente, para regulamentar os critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, foi editada a lei n.º 10.098 de 19 de dezembro de 2000, que tratou da eliminação das barreiras arquitetônicas para a inclusão do portador de deficiência. Assim, trata dos elementos de urbanização, com os mobiliários urbanos, estacionamentos públicos, acessibilidade dos edifícios públicos e os de uso privado, transporte

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coletivo e da acessibilidade nos sistemas de comunicação.

É certo que, a par destas leis, outras que não se referem especificamente à pessoa portadora de deficiência também tratam da questão da inclusão do deficiente, como por exemplo o Estatuto da Criança e do Adolescente, no que se refere à educação (art. 54, III) ou a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96 – Capítulo V, artigos 58 a 60).

Todas estas leis procuram dar cumprimento ao que estabelece a Constituição como fundamento do Estado Democrático de Direito, ou seja a cidadania e a dignidade da pessoa humana (art., 1º, II e III), que representa o desejo de toda pessoa portadora de deficiência: ser cidadão com dignidade.

2.3 O Ministério Público e a pessoa portadora de deficiência

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Da mesma forma que o portador de deficiência foi ignorado na nossa legislação constitucional, que somente veio a contemplá-lo com a emenda n.º 01 à Constituição de 1967, também se verificou tal situação junto ao Ministério Público, até certo ponto justificável, em razão de sua vocação penal. No entanto, a partir do momento em que o Ministério Público foi ganhando novas atribuições, principalmente na área dos direitos difusos e coletivos, também surgiu a preocupação com a pessoa portadora de deficiência, mesmo diante da ausência de mecanismo legal de proteção.

Tanto é verdade, que em artigo intitulado “O Deficiente e o Ministério Público”, o eminente doutrinador Hugo Nigro Mazzilli (1988, p. 55-68), no início de 1988, já defendia a atuação do Promotor de Justiça nesta área, como decorrência do princípio da igualdade, tendo como fundamento legal para a intervenção o disposto no artigo 82, III do Código de Processo Civil, que tratava do “zelo de um interesse público evidenciado pela

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qualidade de uma das partes”, bem como a criação de uma Coordenadoria, nos moldes das pessoas, disciplinou a atuação do Ministério Público existentes na época para o consumidor, meio ambiente, acidentes do trabalho.

Esclarece o citado autor:

No campo interventivo, assim, é perfeitamente compatível que o Ministério Público, ampliando seu campo de atuação dentro do próprio ordenamento jurídico ainda em vigor, possa encaminhar-se para a atuação protetiva das pessoas que ostentem qualquer forma de grave deficiência, seja intelectual, motora, sensorial, funcional, orgânica, de personalidade, social ou meramente decorrente de fatores outros, como a idade avançada. A tanto o legitima o artigo 82, inciso III do CPC.

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No campo da propositura da ação civil pública, além das já tradicionais iniciativas nessa área, como ocorre na interdição e noutras medidas de proteção a incapazes, a recente Lei n.º 7347 de 24 de julho de 1985 conferiu ao Ministério Público legitimidade para propor ação civil pública na defesa de alguns interesses difusos. Ora, dentro da interpretação mais larga que temos preconizado, é desejável que o conceito de consumidor seja visto de forma abrangente, para alcançar hipóteses como a de iniciativa de ações visando à defesa dos direitos dos deficientes físicos na aplicação de leis como as que dispõem sobre lugares especiais em ônibus, aquisição de veículos adaptados, acesso ao ensino, etc.(MAZZILLI ,1988, p. 55-68).

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Esta interpretação se mostrava necessária, uma vez que “o veto presidencial ao artigo 1º, inciso IV da lei n.º 7.347/85, retirou do corpo legal a norma de extensão que daria ao Ministério Público legitimidade para tutelar “outros interesses difusos, entre eles os das pessoas portadoras de deficiência” (BENJAMIN, 1997, p. 35). Somente com o advento da Constituição de 1988, é que foi possível a interpretação inicial que se pretendia, posto que no artigo 129, III, incluiu, entre as atribuições do Ministério Público, a defesa de outros interesses difusos e coletivos.

Assim, a legitimidade do Ministério Público na defesa dos direitos das pessoas portadoras de deficiência ganhou novo referencial com a Constituição de 1988, sendo que a Lei n.º 7.853/89 acabou por consolidar tal legitimidade, estabelecendo as regras para ação civil pública e inquérito civil nesta área.

A partir de então, o Ministério Público do Estado de São Paulo tratou de se organizar para

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possibilitar o efetivo cumprimento das novas atribuições. No Estado de São Paulo, em 05 de março de 1990, foi editado o ato n.º 01/90 da Procuradoria Geral de Justiça, criando o Centro Operacional das Promotorias de Justiça das Pessoas Portadoras de Deficiência, com a designação de um Promotor de Justiça, em cada comarca do Estado, responsável pelo trabalho, nesta área, a ser desenvolvido junto a comunidade.

2.4 A atuação do promotor de Justiça na defesa do portador de deficiência

Tendo a legislação lhe conferido legitimidade para atuar junto à pessoa portadora de deficiência, cumpre verificar como deve ser desenvolvido este trabalho.

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A atuação do Promotor de Justiça se resume na busca da inclusão do portador de deficiência na sua comunidade4. Esta inclusão deve ser:

a) inclusão econômica – proporcionando a garantia do trabalho à pessoa portadora de deficiente com habilitação e reabilitação (ex. fiscalizando a reserva de vagas aos portadores de deficientes, tanto na realização de concurso público como no preenchimento das vagas junto às empresas)

b) inclusão social – diminuindo o preconceito em relação ao portador de deficiência, com a plena integração na sociedade, inclusive na área da cultura e lazer.

c) inclusão educacional – que vem a ser o processo de inclusão dos portadores de deficiência na rede comum de ensino em todos

4 A atuação do Promotor de Justiça no Estado de São Paulo

está regulamentada nos artigos 494 e 495 do Ato n.º 168/98, de 21 de dezembro de 1998, da Procuradoria Geral de Justiça e Corregedoria Geral do Ministério Público, que instituiu o “Manual de Atuação Funcional”.

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os seus graus.

d) inclusão ambiental no sentido mais amplo do termo – que representa a queda das barreiras arquitetônicas.

e) inclusão na saúde com um trabalho de prevenção, reabilitação e acesso aos estabelecimentos de atenção à saúde.

Em síntese, o trabalho do Promotor de Justiça deve ser no sentido de buscar a efetividade dos direitos fundamentais consignados na constituição e garantidos pela legislação ordinária, com vista à aplicação do princípio da igualdade, como expressão máxima da cidadania e dignidade da pessoa humana.

A inclusão em análise não pode ser aplicada de forma isolada, ou seja, a inclusão escolar sem a preocupação com a inclusão ambiental ou econômica. Ao contrário, o trabalho deve ser articulado e realizado em conjunto. Com efeito. De nada adianta garantir a vaga na escola ao

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portador de deficiência, se esta escola não se encontra devidamente adaptada a recebê-lo. A mesma situação se verifica com a inclusão econômica, ou no lazer. Pode-se garantir o trabalho e até o lazer, mas se o portador de deficiência não tiver meios para se descolar até estes locais, restará incompleta a sua inclusão.

Verifica-se pois que a inclusão não pode ser setorial e sim global, residindo nesta questão o principal desafio do Promotor de Justiça.

Por outro lado, deve o Promotor de Justiça lançar um olhar multifocal para os problemas enfrentados pelos portadores de deficiência. Isto porque, com uma sociedade construída para a exclusão do deficiente, torna-se necessário travar uma luta incessante, no sentido de se buscar a sua restruturação, trabalhando com as situações já existentes. Em outras palavras, na questão da inclusão ambiental, buscar a eliminação das barreiras arquitetônicas junto aos prédios existentes.

Deve também se preocupar com a situação presente, no sentido de não permitir que o

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desenvolvimento da sociedade, continue a excluir a pessoa portadora de deficiência. Assim, na questão da inclusão ambiental, trabalhar no sentido de garantir que a construção de novos prédios já venha adaptada ao deficiente.

A idéia de exclusão está intimamente ligada à pessoa portadora de deficiência, sendo que as leis que tratam da questão, visam possibilitar a inclusão do deficiente.

Conferindo ao Ministério Público a tarefa de proporcionar, facilitar e agir no sentido de garantir esta inclusão, concluí-se que a sua inércia também pode configurar uma outra forma de exclusão desta parcela da comunidade. Daí porque, a atuação do Promotor de Justiça nesta área é de extrema importância, para o restabelecimento de uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva.

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Numa sociedade de perfeitos ou do homem ideal, a pessoa portadora de deficiência é ignorada e excluída, restando confinada na própria família ou em uma instituição, como tradução da expressão “o que os olhos não vêem o coração não sente”.

A reversão deste quadro é lenta, mas possível diante de uma atuação eficiente do Promotor de Justiça. Para tanto, mister se faz compreender que:

a) a ausência de sensibilidade, não significa a ausência de sentimentos;

b) a incapacidade de movimentos, não significa uma pessoa incapaz;

c) a deficiência de um

sentido, não quer significar uma vida sem sentidos (OKAMOTO, 1990, p. 102).

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Uma sociedade mais justa e igualitária, pressupõe a inclusão da pessoa portadora de deficiência. Atualmente, a “situação do deficiente numa sociedade urbana, pela forma como são desatendidas suas necessidades mais elementares, o transforma em vítima social” (SÉGUIN, 1999, p. 26). O Ministério Público, como instituição encarregada de zelar pela efetividade dos direitos consagrados à pessoa portadora de deficiência, assume, dentro deste contexto, o papel de agente transformador, para tornar a sociedade inclusiva, elevando o deficiente à condição de cidadão.

Referências bibliográficas

ARAÚJO, L.A.D. Proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência. Brasília: Coordenadoria Nacional para Integração da pessoa portadora de deficiência, 1994.

BENJAMIN, A.H.V. A tutela das pessoas portadoras de deficiência pelo Ministério Público. In: FIGUEIREDO, G.J.P. (org.) Direitos da pessoa portadora de deficiência. São Paulo, Max Limonad, 1997.

MAZILLI, H.N. Revista Justitia. O deficiente e o Ministério Público. São Paulo, v. 141, p. 55-68, jan./mar. 1988. OKAMOTO, G A. Medicina física e reabilitação. São Paulo: Manoele, 1990.

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RIBEIRO, A. O cidadão portador de deficiência. In: ROBERT, C. (org.). O direito do deficiente. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1999.

SÉGUIN, E. Justiça é diferente de direito: a vitimização do portador de necessidades especiais. In: ROBERT, C. (org.). O direito do deficiente. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1999.

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Tema 3:

Os loteamentos e a pessoa portadora de deficiência

3.1 Introdução. 3.2 Legislação aplicada aos loteamentos e a pessoa portadora de deficiência. – Constituição. Lei de Parcelamento do solo urbano. Leis sobre Pessoa Portadora de Deficiência e Normas da ABNT. 3.3 A atuação do Promotor de Justiça em relação aos loteamentos. 3.4 O Promotor de Justiça e a defesa da pessoa portadora de deficiência. 3.5 A eliminação das barreiras arquitetônicas como expressão maior do direito à igualdade, liberdade de locomoção e dignidade da pessoa humana. 3.6 Os loteamentos e os portadores de deficiência. 3.7 Considerações finais.

3.1 Introdução

O processo de concentração de pessoas nas cidades, com o gradativo abandono da zona

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rural, acarretou, via de conseqüência, uma crescente preocupação em termos de urbanização, entendida numa concepção mais ampla de caráter social e humanístico, com a organização dos espaços para melhoria da qualidade de vida.

O processo migratório, que traz consigo problemas de ordem econômica, financeira, administrativa e estética, também proporciona uma preocupação a mais, de caráter social, referente à pessoa portadora de deficiência, pois, segundo dados da ONU, dez por cento da população total possui algum tipo de deficiência. Com a concentração maior da população nas cidades, não se pode mais concebê-la de forma a discriminar a pessoa portadora de deficiência que nela convive. Não é possível admitir que todos os munícipes sejam perfeitos e sadios, compondo uma sociedade de perfeitos ou do homem ideal.

Há necessidade de se reconhecerem às diferenças nas pessoas e buscar minorá-las dentro do espaço urbano. Nesse contexto é que devem

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ser analisadas as questões referentes aos loteamentos e à pessoa portadora de deficiência. Decorre dessa assertiva, que a efetividade dos direitos constitucionais relativos à dignidade da pessoa humana, igualdade e liberdade de locomoção, passa pela questão da acessibilidade do meio urbano onde convive a pessoa portadora de deficiência, como fundamento básico para a sua inclusão social.

Assim, dentro da questão urbanística que envolve o tema, levando-se em consideração a implantação de loteamentos novos ou daqueles já comercializados, verifica-se que devem os mesmos serem analisados de forma a contemplar o portador de deficiência, reconhecendo as suas diferenças para proporcionar-lhe a igualdade.

3.2 Legislação aplicada aos loteamentos e à pessoa portadora de deficiência

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Ao analisar a legislação referente aos loteamentos e a pessoa portadora de deficiência, observa-se uma efetiva garantia legal da inclusão do portador de deficiente na vida cotidiana, que está longe da realidade experimentada pelos mesmos. No entanto, tais instrumentos são úteis e indispensáveis para fazer diminuir ou encurtar esta distância, tornando realidade a sua participação comunitária. Com uma breve análise da referida legislação, é possível compreender tal assertiva.

• Constituição Federal

A atual Constituição de 1988 foi pródiga ao tratar da pessoa portadora de deficiência, estabelecendo não somente a regra geral relativa à dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), como o princípio da igualdade (art. 5º, “caput”) e o direito de locomoção (art. 5º, XIV), mas também:

h) a competência comum da União, Estado, Distrito Federal e Município para cuidar da saúde e assistência pública, da

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proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência (art. 23, II); i) a competência concorrente para legislar visando a proteção e integração do portador de deficiência (art. 24, XIV);

j) a proteção ao trabalho, proibindo qualquer discriminação no tocante ao salário e admissão do portador de deficiência (art. 7º, XXXI) e a reserva de vagas para cargos públicos (art. 37, VIII); k) a assistência social – habilitação, reabilitação e benefício previdenciário (art. 203, IV e V);

l) a educação – atendimento especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208, III);

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m) a eliminação das barreiras arquitetônicas, adaptação de logradouros públicos, edifícios, veículos de transportes coletivos. (art. 227, II, parágrafo 2º);

n) preocupação com a criança e adolescente portadores de deficiência, com criação de programas de prevenção e atendimento especializado, além de treinamento para o trabalho (art. 227, II).

A nova ordem constitucional foi a base para a edição de novas leis que visam garantir a efetivação de tais direitos.

• Leis relativas à pessoa portadora de deficiência.

Várias são as leis que buscam dar proteção legal ao portador de deficiência, variando inclusive, de acordo com o tipo de deficiência que se analisa. No entanto, algumas são relevantes e

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merecem destaque. A primeira, a Lei nº. 7.853 de 24 de outubro de 1989, estabeleceu o apoio à pessoa portadora de deficiência, sua integração social, a tutela jurisdicional de interesses coletivos e difusos dessas pessoas, bem como disciplinou a atuação do Ministério Público e definiu crimes. Objetivou a lei, assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, principalmente no que diz respeito à saúde, à educação, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e maternidade.

A partir dessa lei, foi atribuída, de forma específica ao Ministério Público a defesa dos interesses das pessoas portadoras de deficiência, com a possibilidade de se ingressar com ação civil pública e instaurar inquérito civil. Também foram especificados os crimes quanto ao preconceito em relação ao portador de deficiência e reestruturado a Coordenadoria Nacional para a Pessoa Portadora de Deficiência – CORDE.

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As medidas significaram um avanço, posto que possibilitaram o ingresso de ações judiciais para garantir a efetividade dos direitos fundamentais ao portador de deficiência, além da possibilidade de responsabilizar criminalmente os infratores.

A seguir, o Decreto n.º 3.298 de 20 de dezembro de 1999, regulamentou a lei supra citada, detalhando as ações e diretrizes referentes ao portador de deficiência, especificamente em relação a saúde, acesso à educação, habilitação e reabilitação profissional, acesso ao trabalho, cultura, desporto, turismo e lazer. Na verdade, buscou tornar mais efetivos aqueles direitos que já tinham sido contemplados na lei n.º 7.853/89.

Finalmente, para regulamentar os critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, foi editada a lei n.º 10.098 de 19 de dezembro de 2000, que tratou da eliminação das barreiras arquitetônicas para a inclusão do portador de deficiência. Refere-se aos elementos

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de urbanização, a mobiliários urbanos, a estacionamentos públicos, à acessibilidade aos edifícios públicos ou de uso privado, ao transporte coletivo e à acessibilidade aos sistemas de comunicação.

Na questão relativa aos loteamentos, esta última lei é de suma importância, posto que proporcionou a análise dos mesmos quanto à questão da acessibilidade.

• Lei de Parcelamento do solo

A legislação sobre parcelamento do solo urbano é regulada pela Lei n. 6.766 de 19 de dezembro de 1979, que revogou o Decreto-Lei n.º 58 de 10 de dezembro de 1937 e o Decreto-Lei n.º 271 de 28 de fevereiro de 1967.

A legislação trata da questão dos loteamentos e desmembramentos, estabelecendo regras de caráter administrativo, civil, penal e referentes ao próprio registro, assumindo relevante papel quanto ao ordenamento territorial.

A respeito dessa Lei, João Lopes Guimarães Júnior esclarece com muita propriedade:

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A Lei Federal 6.766/79, que disciplina o parcelamento do solo urbano, é tipicamente um diploma de Direito Urbanístico. Sua relevante preocupação é de evitar a ocupação desordenada de glebas urbanas. É garantir a racionalidade da vida urbana no que tange à segurança das habitações, à salubridade, ao meio ambiente equilibrado, aos espaços de lazer, ao adensamento e às vias de circulação. Em outras palavras, busca a melhoria “das condições de vida coletiva, sob o aspecto físico e social (GUIMARÃES JR., 1999, p. 110).

Sendo uma norma de direito urbanístico, sua aplicação deve “atender ao bem comum, sobrepondo o interesse público ao privado, pois o urbanismo tem uma missão social a cumprir na

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ordenação dos espaços habitáveis, para assegurar à população as melhores condições de vida” (FREITAS, 1999, p. 287). É óbvio que ao tratar do tema da pessoa portadora de deficiência, a legislação tem que ser interpretada e aplicada visando a integração social do portador, para garantir-lhes melhores condições de vida, assim compreendida como a adaptação de todos os espaços às suas necessidades.

A importância social da legislação que trata dos loteamentos já era concebida por Miguel Maria de Serpa Lopes (1996, p. 56), que apontava o bem estar da população como objetivo a ser alcançado. Assim, é natural que se interprete a legislação em comento, com vista ao bem estar do portador de deficiência.

• Normas técnicas da ABNT

Fundada em 1940, “a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – é o órgão responsável pela normalização técnica no país, fornecendo a base necessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro. É uma entidade privada,

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sem fins lucrativos, reconhecida como Fórum Nacional de Normalização – ÚNICO – através da Resolução n.º 07 do CONMETRO, de 24.08.1992”. Esta normalização está presente em vários campos da atividade humana, como na “fabricação dos produtos, na transferência de tecnologia, na melhoria da qualidade de vida através de normas relativas à saúde, à segurança e à preservação do meio ambiente”, tendo relação direta com a questão referente ao portador de deficiência5.

Assim, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

[...] propõe-se a elaborar normas técnicas e a fomentar seu uso nos campos científico, técnico, industrial, comercial e agrícola, promovendo a participação das comunidades técnicas no desenvolvimento da normalização no país, representando-o junto às

5 Fonte: http://www.abnt.org.br

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entidades internacionais de normalização e organização similares estrangeiras, bem como conceder marcas de conformidade e outros certificados referentes à aplicação de normas e a colaborar com o Estado no estudo e solução de problemas relacionados com a normalização técnica em geral (cfr. PEDROSO, 1990 FILOMENO, 1999, p. 46).

Na aplicação da legislação específica, relativa aos loteamentos e o portador de deficiência, existe a necessidade imperiosa de se socorrer a normas técnicas que complementam e integram referida legislação, fornecendo-lhes subsídios indispensáveis para a sua efetiva aplicação, posto que regulamentam, por exemplo, a adaptabilidade do mobiliário e equipamento urbanos às suas necessidades. Na verdade, a lei n.º

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10.098 de 19 de dezembro de 2000, quando trata da acessibilidade do portador de deficiência, faz expressa referência a aplicação das normas técnicas.

As normas que têm relação direta com o problema do portador de deficiência são: NBR 9050 – que trata da acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência a edificações, espaços, mobiliário e equipamento urbanos; NBR 9283: referente ao mobiliário urbano – classificação; NBR 9284 – equipamento urbano - classificação.

Todas essas leis e normas, não sobrevivem de forma isolada, ao contrário, integram um sistema jurídico, que deve ser interpretado de maneira harmônica, visando um fim comum.

Aliás, Carlos Maximiliano bem esclarece tal situação:

O direito objetivo não é um conglomerado caótico de preceitos; constitui vasta unidade, organismo regular, sistema, conjunto harmônico de normas coordenadas, em

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interdependência metódica, embora fixada cada uma no seu lugar próprio. De princípios jurídicos mais ou menos gerais deduzem corolários; uns e outros se condicionam e restringem reciprocamente, embora se desenvolvam de modo que constituem elementos autônomos operando em campos diversos (MAXIMILIANO, 1991, p. 157).

Na questão do portador de deficiência, tanto a norma Constitucional, como as legislações específicas referente aos loteamentos, a pessoa portadora de deficiência e as normas técnicas da ABNT., integram este sistema jurídico que deve ser interpretado de forma conjunta, tendo por escopo a dignidade da pessoa humana e a inclusão social desta parcela da comunidade.

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relação aos loteamentos

A atuação do Promotor de Justiça na questão dos loteamentos e desmembramentos, antes da lei n.º 6.766 de 19 de dezembro de 1979, era tímida, limitando-se aos procedimentos de dúvida. Com o advento da referida lei e posterior alteração do perfil institucional, verificou-se maior participação do Promotor de Justiça nesta área.

Gilberto Passos de Freitas ao analisar essa questão, aponta as seguintes hipóteses justificadoras da intervenção do Promotor de Justiça quanto aos loteamentos:

a) Procedimento de dúvida que o Oficial de Registro poderá suscitar quando o pedido de registro do loteamento ou desmembramento, no seu ver, não estiver em condições de ser registrado (art. 18, § 2º).

b) Intervenção no processo do pedido de registro, quando

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houver impugnação de terceiros (art. 19, § 2º). c) Procedimento relativo ao cancelamento do registro de loteamento ou desmembramento (art. 23, § 2º). d) Cancelamento parcial do loteamento registrado ou de sua alteração impõe a intervenção do Ministério Público (art. 28). e) Legitimidade do Ministério Público para notificar o loteador, a fim de que o mesmo providencie o registro ou a regularização do loteamento ou desmembramento (art. 38, § 2º). f) Intervir no procedimento formulado pelo loteador para levantamento das importâncias que foram depositadas em cartório pelos adquirentes dos lotes (art. 38, § 3º).

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g) Por fim, tratando a lei de aspectos penais relacionados com o parcelamento do solo e sendo os crimes de ação pública, é o Ministério Público a parte legítima para propor a ação penal (FREITAS, 1983, p. 145-150).

Nessas situações ventiladas, merece análise específica aquela referente à impugnação do registro do loteamento. Não resta dúvida de que em todos o procedimentos desta natureza requeridos por terceiros, a intervenção Ministerial é obrigatória.

A questão é saber se o Ministério Público tem legitimidade para propor a referida impugnação, ou seja, não atendendo o loteador às determinações contidas na legislação, pode o Promotor de Justiça impugnar o registro do loteamento ou até mesmo, exigir de forma complementar, via ação judicial, a regularização do loteamento para que observe determinadas regras, não só relativas ao regular registro, mas as

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referentes a questão ambiental ou mesmo da pessoa portadora de deficiência.

A resposta a tal indagação é formulada por Gilberto Passos de Freitas:

A resposta, a nosso ver, tem de ser afirmativa. Uma vez que se trata de matéria referente a registros públicos, cujo ato de registro de loteamento ou desmembramento constitui-se numa exigência de ordem legal, não só no interesse dos adquirentes dos lotes, mas também da Administração Pública, não resta dúvida que ocorre um interesse público. Esse, no dizer de Alcides Mendonça Lima “muito se aproxima do interesse social ou da ordem pública (Atividades do Ministério Público no processo civil. Revista do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, vol. 9/10, p.

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25). E consoante preleciona Washington de Barros Monteiro, as leis de ordem pública são aquelas cuja observância se torna necessária ao interesse geral (público). São aquelas, no dizer do abalizado mestre, que interessam mais diretamente à coletividade que aos particulares. Por isso mesmo, qualquer disposição que as contraria será destituída de validade (JUSTITIA, 87/280). Portanto, uma vez que, como já assinalado, o registro do loteamento ou desmembramento é um registro imobiliário, regido que é por normas de ordem pública, sendo obrigatória a intervenção do Ministério Público, tem ele legitimidade para impugná-lo, caso esteja em desacordo com

Referências

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