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TRABALHO E GÊNERO: DISCUSSÕES ACERCA DA MULHER TRABALHADORA E SUA INTERFACE COM A POBREZA

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Academic year: 2021

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TRABALHO E GÊNERO: DISCUSSÕES ACERCA DA MULHER TRABALHADORA E SUA INTERFACE COM A POBREZA

Área temática: Trabalho Autores (as): Ivna de Oliveira Nunes1,

Qelli Viviane Dias Rocha2 Iohana. Cristina Moreira Santos3 Coordenador (a): Ivna de Oliveira Nunes4 RESUMO: O projeto de extensão denominado de “Trabalho e Gênero: discussões acerca da mulher trabalhadora e sua interface com a pobreza” teve o objetivo de contribuir com análises e reflexões da relação entre trabalho e gênero, com vistas a desvelar os impactos do movimento de exponenciação da feminização da pobreza. O público alvo consistiu em açambarcar o corpo acadêmico, bem como movimentos sociais e mulheres da comunidade do Chumbo em Poconé/MT. Para tal alcance, a proposta metodológica utilizada abordou através de debates sobre a temática técnicas de rodas de conversa, mesas temáticas, bem como oficinas. Considera-se que o projeto foi de extrema relevância, pois compreendeu-se que as condições de pobreza rebatem diretamente sobre a vida e trabalho das mulheres, ocasionando situações de baixos rendimentos, trabalhos precários, e violência sobre o gênero feminino.

Palavras-chave: Divisão Sexual do Trabalho; Gênero; Pobreza. 1 INTRODUÇÃO

O aumento e permanência do trabalho feminino a partir de 1980, dado com as transformações no mundo do trabalho, apresenta-se não apenas como fruto da pressão do movimento feminista por maior acesso ao espaço público e igualdade, mas, também, como necessidade do capital em explorar mão de obra mais barata e na busca por qualidades humanas adequadas a sua reprodução. Contudo, esse processo não foi acompanhado de uma melhora nas condições de trabalho e de vida dos trabalhadores, ao contrário, resultou em maiores contingentes de trabalhadores explorados e na compressão salarial.

Diante deste cenário, o projeto de extensão em questão, finalizado no ano de 2018, denominado de “Trabalho e Gênero: discussões acerca da mulher trabalhadora e

1 Docente Curso Serviço Social UFMT 2 Docente Curso Serviço Social UFMT 3 Discente Curso Serviço Social UFMT

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sua interface com a pobreza” foi apresentado com o objetivo de contribuir com análises e reflexões da relação entre trabalho e gênero, mais especificamente das mulheres no Estado de Mato Grosso, com vistas a desvelar os impactos do movimento de exponenciação da feminização da pobreza. Para tal alcance, os objetivos específicos desmembraram-se em: 1) sensibilização sobre a questão de gênero, trabalho e pobreza, 2) publicizar as ações de grupos, coletivos, frentes, fórum, movimentos sociais, políticos, de mulheres, gênero e feministas que fazem a discussão das questões de gênero em Cuiabá; além de 3) propiciar fórum de debate por meio de reflexão e discussão através de minicursos, palestras, oficinas, rodas, passeatas, audiências dentre outros. Outra proposta era de realizar 4) um grupo de estudo que envolvam a problemática de gênero, trabalho e pobreza.

Compreende-se teoricamente que a absorção no mercado de trabalho é realizada de forma diferenciada para os sexos e que o capital se apropria das assimetrias entre os gêneros para auferir maiores lucros, bem como naturalizar as atividades desempenhadas pelo sexo feminino a fim de que se possa extrair maiores vantagens. As condições sociais em que os homens e mulheres vivem não são produtos do destino biológico, mas das relações patriarcais de gênero. Estas possuem uma base material, que é o trabalho, e se mostram através da divisão social do trabalho entre os sexos, diferenciando-se e sendo intensificada quando articulada as relações étnico-raciais e de classe. (KERGOAT, 2003) No que concerne ao trabalho das mulheres temos que a elas são designados os trabalhos precários e informais, além dos afazeres domésticos e o cuidados com filhos e parentes, ou seja cabe a elas o trabalho reprodutivo, considerado invisível e socialmente desvalorizado; já aos homens o trabalho produtivo, dotado de valor, poder e saber. (CISNE, 2012) Ainda que a mulher tenha conquistado avanços significativos no campo dos direitos e do trabalho, a exemplo de ocupações em postos antes nunca alcançados a partir de 1980, observa-se que elas estão marjoritariamente em trabalhos flexíveis, em tempos parciais, pois tem que se dividir entre os afazeres em casa e no mercado de trabalho, o que gere uma sobrecarga exaustiva de dupla ou tripla jornada. (HIRATA, 2004)

Entretanto, compreendemos que o fenômeno é multifacetado e inscreve condições materiais, econômicas, sociais, culturais e políticas e subjetivas (cultura, costumes e educação). Desta forma, o projeto de extensão ora apresentado, objetivou corroborar através de ações integradas entre instituições, organizações sociais e políticas, movimentos de mulheres, o debate sobre as discussões de trabalho, gênero e pobreza, a

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partir da realidade vivenciada no estado de Mato Grosso, compreendendo que os rebatimentos destas categorias, obedecem impactos particulares pela sua regionalidade, cultura, aspectos econômicos, sociais e políticos.

2 METODOLOGIA

Por se tratar de um projeto de extensão de construção coletiva e formação e organização dos sujeitos sociais e coletivos, compreendemos que metodologicamente o alcance dos objetivos seriam dados através de atividades diversas no lócus da Universidade e em espaços que congregassem mulheres, estudantes, profissionais e movimentos sociais. Como técnicas metodológicas foram propostas: as rodas de conversa; apresentação e analise e reflexão discussão de filmes, oficina” e “minicursos, com o fito de propiciar um melhor ambiente de síntese do pensamento, sentir e pensar, participação e aprendizagem.

Entende-se que estas metodologias possibilitam espaço de interação e troca de saberes, por meio de dinâmicas, atividades coletivas e individuais. Também se materializa enquanto pratica democrática e dialógica uma vez que a figura do “docente” e subsumida a do educador, dada a partir da valorização das ações cotidianas dos sujeitos envolvidos poderá propiciar momentos de reflexão – ação, de modo a superar a dicotomia entre teoria e pratica.

A proposta inicial do projeto era desenvolver atividades sobre gênero, trabalho e pobreza, açambarcando as múltiplas temáticas que imbricassem a temática geral, dentre elas foram pensadas: violência, privação de liberdade, sexualidades, a realidade da mulher no Brasil.

As atividades, inicialmente, centrou-se inicialmentena realização de rodas de conversa serem realizadas no campus da Universidade em Cuiabá e em espaços de construção coletiva, como sindicatos e movimentos sociais. Todavia, apenas uma roda de conversa conseguiu ser efetivada na Universidade que se tratou sobre a condição da mulher na realidade brasileira, abordando temas como gênero e violência. A limitação ocorreu, pois durante a execução do projeto fomos convidados pelo Centro Burnier Justiça e Fé para realizarmos atividades com a mesma temática no município de Poconé/MT e resolvemos ampliar o público alvo para a comunidade Chumbo no município. Compreendemos a importância deste local, pois se tata de um locus com mulheres quilombolas que buscam realizar a produção de seu trabalho para sair da condição de empobrecimento e de violência.

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Deste modo, o locus para a realização de algumas atividades foi replanejado, bem como as estruturas das oficinas, visto que o público alvo também modificara, sendo agora mulheres da Comunidade Chumbo, ampliando o nosso olhar para a imbricação de gênero, raça, etnia e classe. Neste espaço ocorreram três oficinas, como momentos de debates e documentários. O primeiro momento ocorreu com a oficina sobre “trabalho de mulheres e autonomia”. A oficina ocorreu em dois dias e contou com a participação de 30 mulheres da comunidade, além do grupo do Centro Burnier, movimentos sociais e uma equipe da Organização Internacional do Trabalho. Durante a oficina foram realizados debates a a partir da realidade das mulheres, além disso utilizamos vídeos, documentários músicas para ilustrar o concreto. As discussões centraram-se nessa temática e ao final produzimos “fanzines” confeccionados pelas mulheres, onde elas puderam demonstrar o que tinha sido apreendido e relacionar com a realidade vivenciada.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observamos que na primeira oficina, houve uma demanda para discussão acerca da violência contra mulher. Desta feita, foi elaborado uma roda de conversa sobre esta temática para a comunidade e contou com a participação de em torno de 50 mulheres, dentre elas a participação do grupo da OIT e do Centro Burnier. A roda de conversa centrou-se em uma exposição sobre violência contra mulher, os tipos de violência e apresentação de dados de Mato Grosso e Instituições e Politicas Públcas. Compreendeu-se que a violência contra as mulheres é um fenômeno que não apenas as atinge o Compreendeu-sexo feminino, mas a sociedade na sua totalidade e, portanto, não pode ser compreendido de forma fragmentada. Ao contrário, requer um entendimento das múltiplas dimensões, das relações de gênero, patriarcado e opressão/exploração.

O segundo momento na comunidade Chumbo, Poconé/MT foi dado com a necessidade, das mulheres do Chumbo, de aprofundar o debate sobre violência física e psicológica. Assim, foi realizada com a participação de um número maior de mulheres, contando com entorno de 60 participantes. Destaca-se que neste momento, para a integração fizemos uma aula de dança de músicas latinas para iniciar o debate sobre a temática, visto a complexidade do tema. Conforme Hirigoyen (2006), na origem da violência contra a mulher encontram-sefatores sociais e psicológicos, ao entender que o perfil psicológico de um sujeito é construído pela educação e pelo ambiente social no qual esteve e/ou está inserido. A violência física e a violência psicológica estão interligadas,

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pois nenhum homem começa a espancar sua companheira sem iniciar a violência no âmbito psicológico com ofensas e difamações, com exceção, como defende a autora, dos casos de crise de loucura momentânea. Neste sentido, este momento foi crucial para explanação de casos e a necessidade de articulação da comunidade com as redes de atendimento.

Quanto ao espaço da Universidade, que era nosso locus inicial, realizamos a uma roda de conversa. A mesa aconteceu com a presença das professora Renata Gomes (UFMT) e Bruna Irineu (UFMT) com tema: relações sociais patriarcais de gênero que discutiu as vertentes teóricas atuais do feminismo, as categorias patriarcado, sexualidade, relações sociais de gênero e violência. Inicialmente foi apresentado dados da pesquisa sobre o tema, estabelecendo relação entre o sistema patriarcal de gênero e a violência estrutural, sua incidência de modo particular sobre as mulheres, após, estabeleceu-se mediações com a sexualidade e a questão da estigmatização e violência sobre a população LGBT. Abordou também a necessidade de maior apropriação sobre as teorias pós-coloniais e depós-coloniais. Contou com a participação de estudantes e movimentos sociais.

Em suma, as atividades propostas foram realizadas em sua parcialidade, visto que o debate sobre privação de liberdade não ocorreu, tampouco o grupo de estudos. Destaca-se de modo êxitos as atividades realizadas, levando em conta o número de participantes e o retorno nos locais para os diálogos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreende-se que a feminização do trabalho, explícita numa análise crítica da divisão sexual do trabalho, implica em determinações para a produção e reprodução do capital, que desenvolve uma superexploração sobre o trabalho feminino, tanto nas esferas públicas como nas privadas. Na esfera privada, pela utilização/responsabilização das mulheres na reprodução social, o que possibilita a produção social ser realizada a um menor custo, e, na esfera pública, pela desvalorização, exploração e subordinação no mundo produtivo. Para Hirata e Le Doaré (1999), ao se falar em divisão sexual do trabalho tem que se ir além da acepção de desigualdade entre homens e mulheres. A categoria tem que estar embasada em dois pontos: o primeiro é mostrar que essas desigualdades são sistemáticas, e articular essa descrição do real como uma reflexão sobre os processos

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mediante os quais a sociedade utiliza essa diferenciação para hierarquizar as atividades, e, portanto os sexos.

No que concerne à relação entre gênero e pobreza, conclui-se que as mulheres são as mais atingidas pelo modelo econômico e cultural vigente, pois são exploradas, oprimidas e discriminadas tanto pelo sexo como pela classe, estando no limite da sobrevivência com relação às suas necessidades básicas. Gilberto Dupas (1999) ao tratar dos efeitos do modelo econômico capitalista no agravamento da desigualdade econômica e social descreve mais uma dessas consequências, o fenômeno específico, designado internacionalmente de “feminização da pobreza”, considerando que o maior número de pessoas que vivem com um dólar ou menos por dia, são mulheres.

Considera-se que a temática de extrema relevância, visto que as condições de pobreza rebatem diretamente sobre as mulheres, ocasionando situações de baixos rendimentos, trabalhos precários, e violência, relatados em todos os espaços em que o projeto foi efetivado.

REFERÊNCIAS

CISNE, M. Gênero e divisão sexual do trabalho e Serviço Social. 1 ed. São Paulo: Outras Expressões, 2012.

DUPAS, Gilberto. Economia global e exclusão social: pobreza, emprego, estado e o futuro do capitalismo. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

HIRATA, H. Globalização e Divisão Sexual do Trabalho.In: Cadernos Pagu (pp 139-136). 2001.

______. Nova divisão sexual do trabalho? São Paulo, Boitempo, 2004.

HIRATA, H. & LÊ DOARÉ, H. Os paradoxos da globalização. São Paulo. Cadernos Sempreviva. Sempreviva Organização Feminista (SOF). 1999.

KERGOAT, D. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. In: EMÍLIO, M.; GODINHO, T.; NOBRE, M.; TEIXEIRA, M. (Orgs). Trabalho e cidadania ativa para as mulheres: desafios para as Políticas Públicas. São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, 2003. 152p. (Coleção Caderno da Coordenadoria Especial da Mulher. )

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