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Mundo terá pior recessão desde o pós-guerra

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Academic year: 2021

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Veículo: Folha de S. Paulo Caderno: Mercado Seção: Não Especificado -Assunto: Economia - Página: A18,A19 - Publicação: 12/07/20

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Mundo terá pior recessão desde o pós-Guerra

Mundo terá pior recessão desde o pós-Guerra PIB do Brasil terá maior queda em ao menos 120 anos Eduardo Cucolo

SÃO PAULO

Uma crise como nenhuma outra, uma recuperação incerta. É dessa forma que o FMI (Fundo Monetário Internacional) resume o impacto da Covid-19 sobre a economia mundial. A Folha selecionou uma série de dados econômicos que mostram as dimensões históricas da crise atual no mundo e também no Brasil.

Nas palavras do Banco Mundial, a economia global sofreu um golpe devastador que levará à recessão mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial. A contração esperada para a economia só fica abaixo do que foi verificado na Grande Depressão dos anos 1930 e nos períodos relacionados às duas grandes guerras do século 20.

No Brasil, prevê-se a recessão mais profunda em pelo menos 120 anos, período para o qual há dados, segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

A contração seria ainda maior não fosse a decisão do país de injetar expressivos recursos na economia, que levarão o Brasil a registrar um déficit histórico nas contas públicas e vão elevar seu endividamento a um patamar inédito, como mostram as projeções da Instituição Fiscal Independente, órgão do Senado, e do próprio governo federal.

Segundo o ministro Paulo Guedes (Economia), o mundo foi atingido por um meteoro, que eliminou qualquer chance de recuperação do crescimento brasileiro neste ano.

Entenda o que aconteceu na economia brasileira com a crise do coronavírus

A crise desencadeada pela paralisação da economia começou com os fechamentos dos estabelecimentos comerciais e as medidas de isolamento. No dia 17 de março, com a morte da primeira pessoa, o país começou a parar Primeiro mês da pandemia no Brasil, março já apresentou resultados negativos nos diferentes setores da economia. Segundo os dados do IBGE (atualizados em junho de 2020), naquele mês a queda do setor de serviços chegou a 6,9%, enquanto a indústria recuou 9,2% e o comércio 2,8% Uma das saídas dos estabelecimentos para se manterem ativos durante o distanciamento social foi o uso do WhatsApp. O app passou a funcionar como balcão para o comércio de empresas de todos os portes. O uso da plataforma aumentou 50% na crise de Covid-19, de acordo com pesquisa da consultoria Kantar em 30 países. No Brasil, foi o aplicativo que mais cresceu. Com estabelecimentos comerciais, bares e restaurantes fechados, o consumo caiu e empresários ficaram sem fonte de renda. A saída de muitos foi enxugar os custos fixos, cortando funcionários. Foi o que ocorreu com a vendedora Helena Torres (foto), que estava trabalhando em uma loja de roupa no Shopping Iguatemi O impacto foi maior para aquela atividade que vinha sustentando o mercado de trabalho, os informais. José Cícero Lima da Silva trabalha como ambulante vendendo chapéu na praia de Copacabana, no Rio, e já em março sentia a queda do movimento. Dados do fim de junho do IBGE apontam para a perda de 5,8 milhões de empregos na informalidade Mais vulneráveis à paralisação das atividades, os informais receberam um auxílio emergencial do governo no valor de R$ 600. O pagamento da ajuda, porém, sofreu alguns entraves, com demora em depósitos e fraude no sistema. A instabilidade trazida pela doença também derrubou a Bolsa brasileira a 63.569 pontos no dia 23 de março -um número bem distante dos 119.527 pontos de dois meses antes, em 23 de janeiro O isolamento social também derrubou as vendas de automóveis no país. Isso fez com que a produção de veículos leves e pesados caísse 50,5% no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019, segundo dados da Anfavea (associação do setor) A queda do setor automotivo acabou ajudando a amargar a situação da indústria que perdeu em 3 meses a produtividade conquistada em 2 anos, segundo dados de junho da CNI Sem poder sair de casa, os brasileiros também não puderam alugar carros. Dados da Abla (associação que reúne as locadoras) mostram que entre a segunda quinzena de março e a primeira semana de maio 43% da frota das locadoras no Brasil estava parada.

A crise desencadeada pela paralisação da economia começou com os fechamentos dos estabelecimentos comerciais e as medidas de isolamento. No dia 17 de março, com a morte da primeira pessoa, o país começou a parar Eduardo Knapp/Folhapress

Reflexos dessa crise podem ser vistos em todos os grandes setores: no comércio e nos serviços, que vinham puxando a economia brasileira havia décadas, e na indústria, que já vinha operando em níveis modestos havia anos.

A queda na produção de veículos aos níveis da década de 1950 é um exemplo do impacto das necessárias medidas de distanciamento social, que ajudaram a mitigar a crise.

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A inflação em níveis baixos tem permitido ao Banco Central reduzir os juros para o menor patamar da história recente, mas a reação da atividade a esse novo piso ainda é incerta.

Citando mais uma vez o Banco Mundial, a pandemia e as medidas de isolamento social afetaram bilhões de vidas e estão prejudicando décadas de progresso econômico e desenvolvimento. Devem também ter impacto profundo sobre os níveis de pobreza.

Por ser a primeira recessão global desencadeada por uma pandemia, a crise atual gera ainda mais desafios aos formuladores de políticas, segundo a instituição, e tornam a sua profundidade e sua recuperação mais incerta.

Países da Ásia deverão sair da crise antes dos ocidentais

Boas condições fiscais permitiram adoção de medidas de suporte à economia Eduardo Cucolo

SÃO PAULO

asiáticos, em especial a China, devem sair da crise econômica atual mais cedo do que a maioria das economias do Ocidente. Segundo projeções recentes do FMI (Fundo Monetário Internacional) para 30 países selecionados, só dois devem fechar 2020 com crescimento: China e Egito. Outros sete devem ter em 2021 crescimento suficiente para compensar a queda deste ano e fechar o biênio no azul: Índia, Indonésia, Cazaquistão, Coreia do Sul, Malásia, Paquistão e Filipinas.

Com exceção do Egito, todas são economias asiáticas, região onde o novo coronavírus surgiu —até onde se sabe— e que foi a primeira a adotar medidas de isolamento social.

Veja cenas da vida na Ásia após auge da pandemia

Três mulheres posam para foto em frente ao Templo da Literatura em Hanói, no Vietnã, que voltou a receber turistas com o relaxamento do lockdown nacional decretado pelo governo

Na Yagntze River Bridge, em Wuhan, chineses usam máscaras e dançam depois de a cidade onde a pandemia começou completar mais

de um mês da reabertura, iniciada em 8 de abril  Em Wuhan, na China, berço da pandemia, criança usa chapéu

durante tempestade em local de testagem; após cidade registrar novos casos de Covid-19, autoridades iniciaram um plano de fazer exames

em todos os 11 milhões de habitantes 

Homem corta o cabelo em barbearia em Singapura, depois que governo aliviou as medidas de isolamento social e permitiu a reabertura desses estabelecimentos 

Aluno do ensino primário de Ho Chi Minh, no Vietnã, tem sua temperatura medida no primeiro dia de volta às aulas após governo

relaxar restrições do lockdown nacional Jogadores realizam aquecimento antes de jogo da liga de futebol sul-coreana entre Jeonbuk Hyundai e Suwon Samsung Bluewings, em estádio de Jeonju 

Na Yagntze River Bridge, em Wuhan, chineses usam máscaras e dançam depois de a cidade onde a pandemia começou completar mais de um mês da reabertura, iniciada em 8 de abril Aly Song - 14.mai.20/Reuters/Aly Song - 14.mai.20/Reuters A explicação para o desempenho superior ao de países desenvolvidos da Europa e da América vai além da questão temporal. Deve-se também à estrutura dessas economias, ao ritmo anterior de crescimento e à forma como reagiram ao vírus a partir de experiências passadas.

Três dos nove países citadas têm as projeções beneficiadas por considerarem para 2020 o ano fiscal que começou em abril, o que exclui os dados do primeiro trimestre, período em que o vírus provocou forte retração econômica nessas regiões. São eles, Egito, Índia e Paquistão.

Quando se considera a diferença entre o crescimento acumulado em 2018-2019 e o desempenho médio do PIB (Produto Interno Bruto) previsto para 2020-2021, a desaceleração verificada na Malásia, nas Filipinas e no Cazaquistão se aproxima da esperada para o Brasil.

Para o Banco Mundial, a maioria dos países do Leste da Ásia está mais bem preparada para lidar com a crise atual, devido ao histórico recente de forte crescimento e às boas condições fiscais, que permitiram adotar fortes medidas de suporte à economia. A economista Fabiana D'Atri, do Bradesco, especialista na região, afirma que uma diferença importante no caso da China é a dependência do setor de serviços, menor do que a verificada nos países ocidentais da amostra. Outra questão é o espaço para investimentos em infraestrutura, setor menos afetado pela questão do distanciamento.

"Quando você faz exercícios sobre a trajetória de retomada, mesmo assumindo que alguns setores vão continuar operando abaixo de 100% da capacidade, você consegue ver a China retornando em meados de 2021 [ao patamar anterior à crise]", afirma.

"O país tem capacidade de resposta, seja porque a queda foi menos intensa, seja por depender menos dos serviços ou pela capacidade de resposta em infraestrutura, que é onde a China está colocando o programa de estímulos de forma mais evidente."

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Ela afirma que não se pode desprezar o tamanho da desaceleração econômica na região. A China cresceu 6,7% em 2018, 6,1% em 2019 e deve avançar 1% neste ano. Estatisticamente, seria muito difícil ter uma retração em 2020.

Outros países da região que também têm conseguido reduzir a propagação do vírus e, consequentemente, seu impacto econômico, também se beneficiam da resistência chinesa.

"A Ásia não foi tão impactada pela pandemia, e há o efeito de respingo da melhora da China em outros países, por causa da cadeia industrial e também pela demanda de commodities", diz Fabiana.

Marcel Balassiano, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) e autor de estudo baseado nas projeções do FMI, afirma que um crescimento de apenas 1% para China é algo que pode ser considerado praticamente como uma recessão para o país.

Diz, porém, que esse é um dos poucos países em que será possível falar em recuperação em "V", referência à volta rápida ao nível anterior à crise.

"É preciso colocar no contexto que a China crescer 1% pode se considerar recessão, um desempenho muito aquém dos últimos anos. Mas foi o primeiro país a sair da crise, e a recuperação para o ano que vem será forte", diz Balassiano.

"Essa crise pegou economias avançadas muito fortemente, que vão ter perdas muito grandes neste ano e no próximo."

Balassiano afirma que dois países (China e Índia), que correspondem a quase metade do peso das economias emergentes e 27% do peso da economia mundial, estão com um crescimento muito baixo em 2020. A situação, segundo ele, é completamente diferente da última crise (2008/2009), quando, apesar de o peso dos dois países emergentes ser menor na economia mundial (19%), ainda apresentaram taxas de crescimento próximas de 10%.

Para o professor do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV (FGV NPII) Leonardo Paz, países do Ocidente poderiam ter aprendido com a experiência da Ásia, atingida antes pela crise, mas demoraram a reagir, vão ter mais dificuldade para se recuperar e devem perder parte do mercado internacional para quem já está retomando a produção.

"Dado que vários países vão demorar mais a sair desse processo, vão ter por mais tempo empresas produzindo abaixo do que elas podem, a China e a Coreia do Sul estarão mais bem capacitadas para suprir um aumento de demanda", afirma.

Autor de estudo sobre a Coreia do Sul, Paz destaca a efetividade dos pacotes econômicos desses dois países, que ajudaram suas empresas a lidar melhor com a situação. Lembra ainda que houve um engajamento da sociedade, incluindo empresas, em adotar medidas de distanciamento e investir testagem e monitoramento.

"A retomada será mais rápida porque eles vão sair primeiro da crise. O desemprego é recorde, mas não é tão pesado, e eles estão investindo. As empresas estão conseguindo lidar melhor."

Ele afirma que a crise deve levar a uma reorganização das cadeiras globais de valor, com a necessidade de diversificar mais os fornecedores. Isso, somado ao elemento de grande desgaste da China por ter se tornado o epicentro da crise sanitária, pode beneficiar os sul-coreanos, na avaliação de Paz.

“A Coreia pode se dar muito bem, se reposicionar. Já é um país muito competitivo, quase tão competitivo quanto a China. Ela pode ser uma alternativa como fornecedor.”

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Na China, robôs auxiliam no combate ao coronavírus

Empregado em fábrica de robôs em Beibei, no sudoeste da China, testa equipamento; companhias retomaram produção de autômatos em meio à crise do novo coronavírus Homem faz checagem matinal ao chegar à empresa onde trabalha, no distrituo de Kaifu; companhias de tecnologia criaram ou adaptaram equipamentos para atuar no controle da Covid-19, checando temperatura, registrando informações e até mesmo promovendo a higienização das mãos No distrito de Kaifu, as empresas desenvolveram diferentes modelos de robôs para as checagens matinais de seus funcionários Homem monta robô que seria empregado em checagem matinal de funcionários Robôs também são usados para tarefas não médicas, na foto, vemos um que faz as vezes de garçom em restaurante em Xangai, na China

Empregado em fábrica de robôs em Beibei, no sudoeste da China, testa equipamento; companhias retomaram produção de autômatos em meio à crise do novo coronavírus Qin Tingfu/Xinhua/

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