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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

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Academic year: 2021

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Registro: 2017.0000307080

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 2008274-26.2017.8.26.0000, da Comarca de Pirapozinho, em que é agravante TIAGO JACINTHO TOLEDO CESAR, é agravado FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores DONEGÁ MORANDINI (Presidente), BERETTA DA SILVEIRA E EGIDIO GIACOIA.

São Paulo, 5 de maio de 2017. Donegá Morandini

Relator Assinatura Eletrônica

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3ª Câmara de Direito Privado

Agravo de Instrumento n. 2008274-26.2017.8.26.0000 Comarca: Pirapozinho

Agravante: Tiago Jacintho de Toledo César

Agravado: Facebook Serviços Online do Brasil Ltda.

Voto n. 37.708

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA E DETERMINADA.

I. Perda superveniente do objeto do recurso. Não configuração. Satisfação da providência que resultou de antecipação da tutela recursal deferida por este Relator. Caráter provisório e precário da decisão. Imperativo decreto de tutela definitiva sobre o recurso. Cumprimento da garantia do artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal. Avaliação, no mais, do efetivo e satisfatório cumprimento da medida que demanda apuração na origem.

II. Tutela de urgência. Indeferimento. Irresignação. Cumprimento dos requisitos do artigo 300 do Código de Processo Civil. Concessão que é medida de rigor.

III. Evidência, por um lado, da probabilidade do direito. Ordem constitucional que veda o anonimato no exercício da liberdade de pensamento (artigo 5º, inciso IV, CF). Direito do autor de conhecer a identidade de seu interlocutor. Provedores de aplicações da internet, como o réu, que possuem o dever de fornecer os registros de acesso e cadastro dos usuários. Inteligência do artigo 15 do Marco Civil da Internet. Precedentes. Possibilidade, ainda, de perda dos dados com o transcurso do tempo, o que revela o perigo da demora.

DECISÃO REFORMADA. AGRAVO PROVIDO.

1. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra a r. decisão transcrita em fls. 38/39, do MM. Juiz de Direito Alessandro Correa Leite, que, nos autos da ação de dar coisa certa e determinada, indeferiu o

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Opostos embargos de declaração (fls. 42/46), foram rejeitados (fl. 53), com recebimento da inicial apenas com relação ao pedido cominatório, rejeitando-a no que tocante ao pedido de indenização de danos morais.

Pretende o agravante, pelas razões de fls. 01/10, o provimento recursal afim de “que seja DETERMINADO À EMPRESA AGRAVADA QUE

AO MENOS GUARDE ATÉ O FINAL DA DEMANDA todas as informações

cadastrais da do criador da página

https://www.facebook.com/sandova.felisbela?fref=ts em especial RG, CPF e endereço, e em especial o IP utilizado e a hora do acesso utilizados para a criação” (fl. 09).

O recurso foi processado, com antecipação da tutela recursal (fls. 60/63), e respondido (fls. 66/79).

Não houve oposição das partes ao julgamento virtual do recurso (fl. 80).

É O RELATÓRIO.

2. De saída, analisa-se as questões prefaciais arguidas pelo agravado.

Por um lado, não há perda superveniente do objeto do recurso interposto: o cumprimento da obrigação por parte do recorrido se deu em razão de antecipação de tutela recursal editada monocraticamente por este Relator, de caráter evidentemente provisório e precário, sendo necessária e adequada a conferência de provimento final à insurgência recursal, cumprindo-se a garantia do artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal, e o duplo grau de jurisdição instaurado pelo interessado.

Quanto ao mais, a questão relativa ao satisfatório cumprimento da ordem deve ser objeto de apreciação na origem, inclusive diante da

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exigência do efeito contraditório, nada cabendo deliberar nesta sede.

Superadas as questões prefaciais, no mérito, o agravo comporta acolhida, respeitado o entendimento do Douto Magistrado.

Saliente-se, por primeiro, que não se ignora a possibilidade de antecipação da tutela jurisdicional inaudita altera parte. Contudo, para a concessão da tutela, medida de natureza excepcional, exige-se a comprovação inequívoca da alegação, isto é, a prova sobre a qual “não mais se admite

qualquer discussão” (STJ, 1ª Turma, REsp 113.368-PR, Rel. José Delgado, J. 07.04.1997).

É dizer, a “antecipação da tutela sem audiência da parte

contrária é providência excepcional, autorizada apenas quando a convocação do réu contribuir para a consumação do dano que se busca evitar” (RT 764/221).

No caso em comento, os elementos probatórios pré-constituídos e carreados nos autos permitem lastrear a tutela de urgência, nos termos do artigo 300 do Código de Processo Civil.

Conforme apontado desde o início, a publicação retratada em fl. 37, que fundamenta a demanda, não apresenta cunho ofensivo à personalidade do agravante ou à extensão de seu exercício, senão se refere a questões políticas da própria localidade em que vive o recorrente e nas quais possivelmente está envolvido.

Todavia, as mensagens foram publicadas sob as vestes do anonimato, pois o interlocutor do recorrente na esfera digital se vale de perfil com nome falso para imputar ao agravante condutas e convicções, o que é expressamente vedado pela ordem constitucional, ao tratar da liberdade de pensamento (artigo 5º, inciso IV, CF), cabendo reconhecer o direito subjetivo do recorrente ao conhecimento efetivo da identidade da pessoa tratada.

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De outra parte, é inafastável a obrigação da agravada de fornecer as informações que possibilitem a identificação do usuário que criou o perfil referido na petição inicial, inclusive para garantir ao recorrente o acesso a elementos para discutir, pela via adequada, eventual lesão moral sofrida, que foge deste Juízo de cognição, nos termos do artigo 22 da Lei nº 12.965/14.

Neste particular, o próprio artigo 15 da Lei nº 12.965/12 reconhece a obrigação de guarda dos registros a aplicações de internet, in

verbis: “O provedor de aplicações de internet constituído na forma de

pessoa jurídica e que exerça essa atividade de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos deverá manter os respectivos registros de acesso a aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses, nos termos do regulamento”.

A propósito, já decidiu esta Corte em casos semelhantes:

“Agravo de instrumento. Antecipação de tutela requerida para obrigar o réu, provedor de serviço, a retirar conteúdos supostamente ofensivos de sua plataforma e a informar os dados cadastrais de seus autores. Conteúdo posteriormente retirado pelos próprios usuários. Recurso, nesse ponto, prejudicado. Obrigação de identificação dos usuários e de armazenamento de dados afeta à empresa que mantém espaço próprio para manifestações, observada a vedação constitucional ao anonimato. Decisão reformada em parte. Recurso provido na parte não prejudicada”

(Agravo de Instrumento nº 2000131-82.2016.8.26.0000, Rel. Cláudio Godoy, j. 16.09.2016). E também, desta Câmara: “INTERNET. TUTELA

ANTECIPADA. Ação de obrigação de fazer. Pedido de antecipação da tutela para exclusão de links e fornecimento de dados cadastrais de usuários responsáveis por conteúdos supostamente ofensivos publicados

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na rede social Facebook. Conteúdos que em princípio não caracterizam ofensa à honra do autor ou abuso de direito. Autor pessoa pública que está sujeita a sátiras e críticas. Pedido de exclusão dos links indeferido. Prevalência da liberdade de manifestação de pensamento e de expressão. Fornecimento de dados cadastrais. Cabimento. Obrigação dos provedores de serviços na Internet de fornecer o número dos IPs e os demais dados cadastrais disponíveis (arts. 5º, VIII, 15 e 22 da Lei nº 12.965/14). Precedentes do TJSP e do STJ. Decisão parcialmente reformada. AGRAVO PARCIALMENTE PROVIDO” (Agravo de

Instrumento nº 2074726-52.2016.8.26.0000, Rel. Alexandre Marcondes, j. 10.05.2016).

De mais a mais, carecem de lastro legal as alegações do agravado acerca de limites da obrigação reconhecida, que não abrangeria o dever de fornecer dados pessoais do usuário. Isso porque, da dicção legal, nota-se que a obrigação se estende às informações sejam suficientes à identificação do usuário em questão, suficiência essa que será avaliada pelo Juízo a quo. A propósito, nesse sentido: “AGRAVO DE INSTRUMENTO Ação de

obrigação de fazer Tutela antecipada Agravante que é compelido a apresentar dados de usuário do Facebook Admissibilidade Relação de consumo Agravante, fornecedora de serviços, que é obrigada a armazenar dados, como forma de prevenção a danos que sua atividade eventualmente venha a causar a terceiros Não é necessário, contudo, fornecimento de todos os dados reclamados na exordial, mas daqueles de que dispõe a recorrente e que sejam suficientes à identificação do usuário

- Recurso parcialmente provido” (Agravo de Instrumento nº

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Por fim, aperfeiçoando-se por completo os requisitos da tutela provisória tratada, ratifica-se o cumprimento do requisito do perigo da demora, “tendo em vista que o transcurso do tempo superará o prazo legal

pelo qual a agravada tem obrigação de armazenamento das informações tratadas disposto no artigo 15 do Marco Civil da Internet ensejando a impossibilidade irremediável de identificação do usuário apontado” (fl. 61).

3. De todo o exposto, de rigor que se proveja parcialmente o recurso, a fim de que, reformada a r. decisão recorrida, determine-se que o recorrido forneça todas as informações cadastrais disponíveis do criador da página (https://www.facebook.com/sandova.felisbela?fref=ts em especial), em especial dados documentais, endereço e o IP do terminal utilizado, sob pena de multa diária, outrora arbitrada, com fundamento no artigo 537 do Código de Processo Civil, em R$ 1.000,00 (mil reais) por dia de descumprimento, respeitado o limite máximo de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

DÁ-SE PROVIMENTO AO RECURSO.

Donegá Morandini Relator

Referências

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