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Natureza e direções das mudanças de alinhamento ocorridas no tronco Tupí

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Academic year: 2021

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Natureza e direções das mudanças de alinhamento

ocorridas no tronco Tupí

Ana Suelly Arruda Camara CABRAL

Lali/UnB

1. Nesta comunicação será mostrado que a divisão do tronco Tupí em dois ramos principais (Cabral e Rodrigues 2001), fundamentada em dados puramente lingüísticos, como os sistemas de alinhamento, pode ser tomada como favorável à hipótese levantada por Rodrigues (1964 [1958], 2000) de que o centro de dispersão Tupí teria sido na região entre o Guaporé e o Aripuanã. São também discutidas outras diferenças lexicais e morfossintáticas entre os dois ramos que podem servir de indicações adicionais para o fortalecimento da hipótese do centro de dispersão Tupí naquela região.

2. Características lingüísticas favoráveis à hipótese do centro de dispersão Tupí entre o Guaporé e o Aripuanã. Cabral e Rodrigues (2001) mostraram que, nas orações independentes, as línguas do tronco Tupí compartilham ou de um padrão absolutivo, ou de um padrão nominativo, embora várias dessas línguas apresentem, nesses tipos de orações, várias cisões motivadas por fatores de diferentes naturezas – semântica, pragmática, sintática, entre outras –, como são os casos de várias línguas Tupí-Guaraní, e embora usem diferentes estratégias para distinguir A de S ou S de O – prefixos verbais, pronomes independentes, prefixos relacionais, posposições e partículas, processos fonológicos e sintáticos. As línguas que compartilham um alinhamento absolutivo na codificação dos argumentos internos de verbos transitivos e

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intransitivos pertencem às cinco famílias situadas na região Guaporé/Aripuanã (Arikém, Tuparí, Ramaráma, Puruburá, Mondé), enquanto que as línguas que apresentam padrões mais divergentes pertencem às famílias encontradas fora dessa região (Tupí-Guaraní, Awetí, Mawé, Juruna e Mundurukú). Essas diferenças foram tomadas por Cabral e Rodrigues como base para uma primeira divisão do tronco Tupí em dois ramos principais, o ramo I e o ramo II. Como há nos dados de línguas representativas de todas as famílias indicações de um padrão absolutivo, foi aventada a possibilidade de que a forma morfossintática dos verbos no proto-Tupí tivesse um alinhamento absolutivo. Com base nessa possibilidade, a maioria das línguas do ramo I seria mais conservadora com respeito ao padrão de alinhamento original do que as línguas do ramo II. Tendo sido esse o caso, as línguas do ramo II teriam desenvolvido várias cisões a partir de um alinhamento absolutivo. Línguas como o Mundurukú teriam sofrido modificações moderadas, línguas como o Juruna teriam mudado de um sistema absolutivo para um sistema nominativo e línguas como as da família Tupí-Guaraní teriam desenvolvido um maior número de cisões.

3. Discussão. A existência de duas séries de formas pessoais nas línguas Tupí de Rondônia é um traço a ser considerado como característico dessas línguas. Nelas (com exceção da família Mondé), as formas dependentes - clíticos ou afixos flexionais – codificam o argumento interno de verbos intransitivos e o argumento interno de verbos transitivos, uma manifestação morfológica de um padrão absolutivo. As línguas de Rondônia diferem quanto à função de suas formas pronominais independentes. Em línguas como o Karo, elas codificam o argumento externo de verbos transitivos, mas em línguas como o Karitiana e o Tuparí as formas independentes têm uma função enfática. O Suruí apresenta inovações em seu sistema de alinhamento: (a) cognatos do que nas demais línguas do ramo têm função enfática, nessa língua codificam os argumentos internos de intransitivos e de transitivos, enquanto que as formas dependentes são marcas correferenciais.

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4. Conclusão

Sete formas pessoais podem ser reconstruídas para o proto-Tupí com base em formas cognatas encontradas através das famílias do tronco. Estas formas encontram-se distribuídas em dois conjuntos, chamados aqui de conjunto I e conjunto II, como mostrado nos quadros abaixo:

Conjunto I

PT Ar Tp Ra Mo Pu Ju Mu Mw Aw TG

‘1’ *o - o- o- o- o- o o o- o- o-

‘2’ *e a- e- e- e- e- e e e- e- e-

‘13’ *orje ta- ote-/ osé te- (?) ot∫e oré

‘13’ *orjo tój- (?) ulu ~ ul uru- &o- oro-

‘23’ *ej- aj- ejat- méj (?) ej e- e/i-

Conjunto II

PT Ar Tp Ra Mo Pu Ju Mu Mw Aw TG

‘1’ *on n on õn on /on una,

na

on uito -

‘2’ *en en an e)n en /en ena en en /en ené

‘13’ *orje, ˆta oté té - - - ot∫e(dji) oré

‘13’ *orjo uruto

&o- ‘23’ *ej ajtxa ejat ei(dji) eipé e/ipe

O padrão absolutivo é encontrado em todas as línguas do tronco e é também o que prevalece nas orações dependentes da maioria das famílias. O padrão nominativo-absolutivo parece ser uma inovação do Suruí (família Mondé) de Rondônia e da maioria das línguas de fora de Rondônia. Embora esse padrão seja encontrado nas línguas dos dois ramos, há indicações de uma história em comum apenas na minifestação desse sistema no Mawé, no Awetí, no Tupí-Guaraní e no Mundurukú.

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Referências

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