Macroevolução
Cronologia evolutiva, Extinções em Massa, Princípios e
Padrões Gerais e Tendências Evolutivas
Professor Fabrício R Santos fsantos@icb.ufmg.br Departamento de Biologia Geral, UFMG
2011
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Strata
Datação de fósseis (relativa, absoluta)
• radioisótopos
• taxa de declínio
Fossilização
• registro incompleto
• organismos
(partesduras/moles)
• hábitat
• acesso
Crânios de Australopithecus e Homo erectus (África) Árvores petrificadas (EUA)
Impressão de folhas Pegadas de Dinossauros
Vale dos dinossauros Sousa (Paraíba)
EUA
Interpretando o registro fóssil
Células foto-sensíveis Fibras nervosas Células foto-sensíveis Olho em taça Fibras nervosas Cavidade cheia de fluido Olho em forma de taça Nervo ÓpticoOlho simples do tipo câmera pinhole Camada de células foto-sensíveis (retina) Nervo Óptico Tecido transparente protetor
(córnea) Lentes Córnea Retina Nervo Óptico Olho com lentes primitivas Olho complexo do tipo câmera
Nautilus Caracol marinho Lula
Área de células foto-sensíveis
Abalone Lapa
Macroevolução: Como evoluem os órgãos?
Macroevolução: Como evoluiu a
biodiversidade na Terra?
Copyright 2001 by Harcourt, Inc.
Ao redor de 1,7 milhões de espécies estão catalogadas... A maioria destas são insetos. Acredita-se que somos 30 milhões de espécies ao todo. Provavelmente o número de espécies de microrganismos é bem maior do que imaginado.
Cronologia do aparecimento de grupos
Todos os fósseis encontrados apresentam um padrão cronológico consistente com a origem de grupos inferida não apenas pela paleontologia, mas também pela morfologia, fisiologia e genética de táxons atuais.
Divergência evolutiva
Existe um padrão de divergência genética consistente com a história de ancestralidade comum inferida por distintas disciplinas.
A filogenia basal da biodiversidade indica que a vida era simples e unicelular nos primeiros 3 bilhões de anos. O aumento da complexidade é uma tendência passiva, já que a vida só pode ter iniciado como formas celulares/orgânicas muito simples
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Macroevolução e
biogeografia
Como a evolução e
distribuição atual
das espécies se
correlaciona com a
tectônica de placas?
Macroevolução
Como as espécies se diversificaram nos Continentes? Como as espécies se diversificaram nos Continentes?Por exemplo, o istmo da América Central se formou há ~3-4 m.a. entre Américas do Norte e do Sul, funcionando como uma ponte de terra: esta foi uma rota de dispersão de muitas espécies de ambos continentes chamado de “O grande intercâmbio
americano” (G.A.I.)
Questões macroevolutivas
1. O que eram e como surgiram as
primeiras formas de vida?
2. Como e quando surgiram os
eucariotos?
3. Como surgiu a multicelularidade e
quais vantagens adaptativas estão
associadas a isto?
Eras
e
Períodos
• Pré-Cambriano
3,8 b.a.a. a 544 m.a.a.
– Hadeano|Arqueano|Proterozóico|Vendiano
• Era Paleozóica
544 a 245 m.a.a.
– Cambriano|Ordoviciano|Siluriano Devoniano|Carbonífero|Permiano
• Era Mesozóica
245 a 66 m.a.a.
– Triássico|Jurássico|Cretáceo
• Era Cenozóica
66 m.a.a. até hoje
– Terciário |Quaternário
Cronologia evolutiva
Os primeiros 3 bilhões de vida na Terra possuem um registro fóssil precário, já que organismos multicelulares, com estruturas maiores fossilizáveis, apenas começaram a surgir ao redor de 800 milhões de anos atrás (m.a.a.)
Pré-Cambriano
(4.500 a 544 m.a.a.)
Vendiana Cianobactérias
Estromatólitos (colônias de cianobactérias que depositam calcário) estão entre as primeiras formas de vida reconhecidas no registro fóssil. Os registros mais antigos datam de em torno de 3,5 bilhões de anos atrás
(b.a.a.) na Austrália A partir de 2 b.a.a. O O2
aumentou na atmosfera pela atividade fotossintetizante
destas cianobactérias.
Cianobactérias
Cianobactérias de Bitter Springs (Austrália) de ~850 milhões de anos.
Forma
chroococcaleana Forma filamentosa
Palaeolyngbya
Fóssil - Austrália Atual - RJ
Estromatólitos
Os estromatólitos (e as cianobactérias) foram
as primeiras formas de vida?
Certamente que não!
Mas foram as primeiras a deixar restos fossilizados.
Estromatólitos atuais
As primeiras formas de vida evoluíram em um meio redutor, sem oxigênio.
Estas formas de vida seriam autotróficas
ou heterotróficas?
Os primeiros fósseis indicam estruturas muito semelhantes a estromatólitos atuais, que são autotróficos. Os organismos fotossintetizantes modificaram o meio liberando oxigênio que forma o ambiente aeróbico atual.
Evolução atmosférica da Terra
Origem dos Eucariotos
Associações coevolutivas
provavelmente originaram
as células eucarióticas.
Endossimbiose (cloroplastos)
Nos primeiros 3 bilhões de anos, eventos de transferência horizontal eram comuns, podendo envolver organismos dos 3 domínios.
2 hipóteses
Orig
e
m
dos
Euc
ar
iot
os
Primeiras formas de vida multicelular
• As primeiras algas multicelulares aparecem há 800 m.a. quando
a atmosfera já era oxidante (rica em O2)
• Explosão Cambriana (~580 e 500 m.a.a.). Apareceram três
faunas multicelulares completamente distintas: Ediacara
(Vendiana), Tommotianae a de Burgess Shale.
• Últimos 500 m.a. : enorme diversidade de espécies, mas quase nenhum Filo* novo (o número de Filos diminuiu).
*um Filo em Metazoários corresponde a um plano corporal diferenciado.
Organismos Multicelulares
A. Vantagens da multicelularidadeB. Desafios da multicelularidade C. Os primeiros organismos multicelulares:
1. Plantas — algas marinhas “primitivas” 2. Animais — invertebrados marinhos
Colônias
Multicelularidade
• Todas células são idênticas, sem diferenciação
funcional;
• Há uma relação de cooperação entre células;
• Aglomerados globosos e filamentos são tipos
de colônias com alguma diferenciação;
• Talvez favoreça “flutuação” e outras funções;
• Ex: Volvox e várias outras.
Flutuação é possível com formas coloniais
Multicelularidade
Colônias
Multicelularidade
Colônias
Corpos complexos
Multicelularidade
• Permite corpos maiores e ocupação de diversos nichos;
• Divisão de funções acompanhada da diferenciação de
células, tecidos, órgãos;
• Requer desenvolvimento mais complexo;
• Apareceu várias vezes:
• Algas marinhas – 3 linhagens, uma deu origem às plantas; • Fungos;
• Animais. Vendiana650 m.a.a.
Tomotiana 530 m.a.a. Burgess 530 m.a.a.
em Metazoários
Pré-Cambriano CambrianoMulticelularidade
Fauna Vendiana ou Ediacara
Filos extintos? Cnidários? Vermes rastejando na lama?
650 a 544 milhões de anos atrás (Pré-Cambriano)– Sibéria, Austrália
Fauna Tommotiana
Animais com pequenas conchas (1 - 5 mm)
Fauna do Burgess Shale
530 milhões de anos atrás (Cambriano) – CanadáA Explosão de Vida do CAMBRIANO
Enorme diversificação que se deu no início do Cambriano (entre 580 e 500 m.a.a.)
Este período é marcado pelo aparecimento dos Filos animais modernos com estruturas fossilizáveis.
Por exemplo: Artrópodes, Braquiópodes, Moluscos, Esponjas, Equinodermos e os primeiros Cordados
Muitos planos corporais (Filos) surgiram durante a Explosão Cambriana, mas muito poucos após este evento, sugerindo que esta talvez tenha sido um fenômeno único.
Or
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dos
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O Folheto Burgess
(Burgess Shale)
Canadá
Fósseis do Burgess Shale
Fauna do Burgess Shale
Hallucigenia
Marrella
Onicóforo ArtrópodeCanadapsis
CrustáceoPikaia
Primeiro fóssil do Filo Chordata
Opabinia
Filo desconhecidoWiwaxia
Filo desconhecidoAnomalocaris
Filo desconhecidoEra Paleozóica (544 a 245 m.a.a.)
Ordoviciano
Era Paleozóica (544 a 245 m.a.a.)
Siluriano e Devoniano
Carbonífero e Permiano
Metazoários terrestres
Era Mesozóica
(245 a 65 m.a.a.) Triássico (245 a 208 m.a.a.) Jurássico (208 a 146 m.a.a.) Cretáceo (146 a 65 m.a.a.)140 m.a.a.
Angiospermas
Era Cenozóica
(65 m.a.a. até hoje)
Terciário (65 a 1,8 m.a.) Paleoceno (65 a 54 m.a.a.) Eoceno (54 a 38 m.a.a.) Oligoceno (38 a 23 m.a.a.) Mioceno (23 a 5 m.a.a.) Plioceno (5 a 1,8 m.a.a.)
Era Cenozóica
Quaternário (1,8 m.a.a. até hoje)
Pleistoceno (1,8 m.a.a. a 11.000 a.a.) Holoceno (11.000 a.a. até hoje)
Extinção
• EXTINÇÃO E TAXA DE EVOLUÇÃO
– É estimado que muito mais do que 99%de todas as
espécies que já habitaram a Terra estão agora extintas, a maioria há milhões de anos.
– Causas de extinção?
– Extinções em Massa – 5 grandes extinções
– Atualmente: natureza antrópica – a 6agrande extinção
Classes de Extinção
Extinção Global Extinção Local Extinção EcológicaClasses de Extinção
Extinção na Natureza Extinção Comercial– A taxa de extinção tem sido relativamente
constante desde o Cambriano com exceção de
5
eventos de extinção em massa.
– Durante cada um destes eventos, distintos grupos
de organismos desapareceram repentinamente
no registro fóssil.
Extinções em Massa
Geocronologia e mega-extinções
Extinções em massa marcam o fim da
maioria dos períodos geológicos
Tempo (milhões de anos atrás) 500 400 300 200 100 0 P e rc e nt ag e m de fa m íl ia s que s e e xt ing ui ra m 60 50 40 30 20 10 0
1.440 m.a.a.ORDOVICIANO 4.200 m.a.a.TRIÁSSICO
2.360 m.a.a.DEVONIANO 5.65 m.a.a. CRETÁCEO
3.250 m.a.a.PERMIANO 6.Hoje ? HOLOCENO
Extinções em Massa
Extinções em Massa
As mais drásticas mega-extinções podem incluir a possível extinção em massa do final do Pré-Cambriano –devido aos níveis
aeróbicos (O2) como os de hoje e fenômenos de resfriamento global (snowball earth).
• Ordoviciano
(440 m.a.a.) -- 50% das famílias
de metazoários foram extintas.
– Glaciação, diminuição do nível do mar. – 25 milhões de anos para recuperação.
500 400 300 200 100 hoje
Extinções em Massa
Extinções em Massa
• Devoniano
(360 m.a.a.) -- 30% das famílias
de metazoários foram extintas
– Glaciação, meteoritos?
– 30 milhões de anos para recuperação
500 400 300 200 100 hoje
Extinções em Massa
500 400 300 200 100 hoje
• Permiano
(250 m.a.a.) -- 50% das famílias de
metazoários, incluindo 95% das espécies marinhas, foram
extintas.
-
Glaciação, tectônica de placasErupções vulcânicas
100 milhões de anos para recuperação
(combinada com Triássico)
• Triássico
(200 m.a.a.) –
35% das famílias de
metazoários foram
extintas.
• Cretáceo
(65 m.a.a.) -- 60% das espécies animais
se extinguiram.
– Impacto de Meteorito, erupções vulcânicas. – 20 milhões de anos para recuperação
.
Extinções em Massa
500 400 300 200 100 hoje
Extinção dos dinossauros
A mais famosa e controversa extinção ocorreu há 65 m.a. no final do Cretáceo.
-Resultou na extinção dos Dinossauros e metade de todas as espécies de plantas e animais.
Impacto do Asteróide na Península de Yucatán no
final do Cretáceo
Em 2010, chegou-se a um consenso entre cientistas que esta é a única explicação plausível até o momento para a extinção no final do Cretáceo.
Dinossauros extintos???
Archaeopteryx
Evolução das aves
Dinossauro de quatro asas
Possível evolução das penas
Vários dinossauros com penas foram descobertos, mas todos encontrados com penas típicas eram mais recentes que o Archaeopteryx, a ave mais antiga já encontrada.
Deinonychus
Uma reconstrução de um dinossauro Theropode emplumado chamado Anchiornis huxleyi, descoberto no nordeste da China em 2009.
Este fóssil mais antigo que o Archaeopteryx indica a existência de penas típicas nos dinossauros, antes das aves.
• Extinções do Pleistoceno
(12.000 anos atrás)
Extinção da Megafauna
– América do Norte: 73% dos grandes mamíferos (mamutes, tigres dentes de sabre)
– América do Sul: 80% dos grandes mamíferos e aves. – Austrália: 80% das espécies da Megafauna. – Nova Zelândia: 100% de perda da Megafauna. – Hipótese da caça pelos humanos no final do
Pleistoceno + mudanças climáticas.
Extinções recentes
Extinção da Megafauna
Holoceno
A taxa com que as espécies estão se extinguindo é muito maior que a taxa com que novas espécies se originam. Alguns cálculos sugerem que a taxa de extinção está entre 1000 a 10.000 x mais rápida que 500 anos atrás. Principais causas apontadas são todas de natureza antrópica,
intensificadas pela superpopulação humana mundial, hoje acima de 6,7 bilhões de pessoas (mais de 30 x maior do que seria considerado em teoria, ecologicamente sustentável).
Extinção em Massa Atual?
A sexta Megaextinção
Causa mais provável: antropismo
Declínios registrados desde 1970 nas populações e espécies de vertebrados terrestres, marinhos e de água-doce (UNEP – CDB). Este declínio estimado é significativamente maior do que nas outras megaextinções, como a do Cretáceo, associada à extinção dos dinossauros.
Macroevolução
Princípios e padrões recorrentes:
gradualismo, estase, especiação e tendências
Evolução é frequentemente gradual
Mudança na forma está geralmente associada a
uma mudança na função
Estase e evolução rápida são comuns
Briozoários
Muitos clados apresentam
radiação evolutiva
Outros Carduelinos Abelheiros do Hawai
Tendências evolutivas
Tendências evolutivas (1)
• No registro fóssil aparecem algumas
tendências (em direção ao tamanho maior,
especialização, complexidade etc.);
• Uma tendência não significa que a evolução
seja orientada a uma meta;
• Nenhum direcionamento intrínseco a um
estado específico de caráter é indicado por
uma tendência evolutiva.
• A Seleção Natural contínua está associada
com a maior parte das tendências observadas.
Evolução da cabeça de machos de Zygothrica (Drosophilidae).
Tendências evolutivas são evidentes
Tendências Evolutivas
• Regra de Cope
– Tamanho corporal aumenta durante a evolução de alguns grupos animais. – Limitações estruturais no tamanho.• Adaptações
especializadas limitam a
evolução
– Elefantes – Sirênios (peixes-bois)Tendências Evolutivas
• Baleias
– Origem terrestre • ~50 M anos atrás • Pequenos mamíferos (2 m) com patas. – Adaptação marinha • 40 M anos atrás • Perderam os membros posteriores • Sem ossos pélvicos • Até 20 mEvolução dos equinos
Uma tendência Tendências evolutivas na evolução dos equinos ativa é observada em direção ao aumento de tamanho, diminuição do número de dedos, e dentes maiores e adaptados ao pastoreio. Equus é atualmente o único gênero existente de uma árvore evolutiva muito mais complexa.Estas reconstruções estendem de
55 m.a.a. (A) a 35 m.a.a. (D).
A causa da tendência de aumento
dos cornos não é óbvia. Pode ser um
subproduto da seleção para
aumento do tamanho corporal, e/ou
talvez seja resultada da seleção
direta relacionadas aos cornos:
indivíduos com grandes cornos
poderiam ter uma vantagem na
disputa pelas fêmeas.
Tinanotherios
Tendências evolutivas (2)
• Seleção de Espécies (equilíbrio pontuado)
– Espécies ou grupos que persistem por mais tempo
e que geram o maior número de novas espécies
determinam (relativamente) a direção das
principais tendências evolutivas;
– Especiação diferencial pode exercer um papel na
macroevolução similar ao papel da reprodução
diferencial (seleção natural) na microevolução.
Tendências evolutivas (3)
• Uma tendência pode cessar ou ser
revertida sob condições ambientais
oscilantes.
– Durante o Mesozóico, os grandes répteis
eram aparentemente favorecidos, mas no
fim desta era, espécies menores
prevaleceram.
Tendência à encefalização
• Algumas tendências evolutivas não são tão consistentes entre diferentes linhagens. Por exemplo, muitas linhagens animais independentes (marcadas acima) sofreram a encefalização, que envolve a concentração de neurônios no cérebro em uma extremidade do animal, onde também se concentram órgãos sensoriais. Artrópodes, nematódeos, platelmintos e cordados sofreram uma crescente encefalização, mas muitos outros grupos não apresentaram esta mesma tendência.
Existem tendências globais?
• Versatilidade evolutiva?
• Adaptatividade?
• Complexidade?
Ao que tudo indica, algumas tendências são registradas, mas não podem ser consideradas globais ou observadas ao longo de toda a evolução ou em todos os táxons.
Por exemplo: não parece ter havido um aumento em complexidade da vida na Terra nos últimos 300 milhões de anos. . . e atualmente, há inúmeras espécies unicelulares e multicelulares com planos corporais simples.