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FORTALECENDO LAÇOS HUMANOS NA EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL: PRÁTICAS EM DIREÇÃO À EDUCAÇÂO INTEGRAL?

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FORTALECENDO LAÇOS HUMANOS NA EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL: PRÁTICAS EM DIREÇÃO À EDUCAÇÂO INTEGRAL?

Marcio Bernardino Sirino Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Resumo: Partindo da compreensão de que, atualmente, as relações humanas se encontram num estágio de liquefação (Bauman, 2004), propomos, neste ensaio, promover uma maior reflexão acerca da educação integral e da educação em tempo integral enquanto possibilidade de se repensar o impacto da sociedade consumista que objetifica o indivíduo e fragiliza os seus laços humanos. Tendo como base os pressupostos do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, apresentamos o projeto“Roda do Abraço”, desenvolvido num Centro de Educação e Horário Integral (CEHI) do município de Angra dos Reis/RJ, na tentativa de ampliar os olhares sobre uma nova forma de se conceber a educação pública de qualidade, bem como trazer à iluminação a possibilidade de materialização de um diferente modo de ensinar e de aprender, perspectiva esta que dialoga com o sub-eixo 3 – Modos de ensinar e aprender em experiência - do eixo-temático I deste Encontro – Didática e Práticas de Ensino no Contexto Político Contemporâneo: Cenas da educação pública. Para efeito de análise desta proposta, fizemos uso de análise documental e pesquisa bibliográfica, a saber: o Projeto Político-Pedagógico (PPP) do CEHI Monsenhor Pinto de Carvalho foi analisado, os conceitos-chave do sociólogo polonês acima apontado bem como as referências que margeiam a temática da educação integral em tempo integral. Evidenciamos que esta atividade foi realizada com sucesso e o fruto desse trabalho reverberou na aprendizagem dos alunos inseridos neste cotidiano escolar e, desse modo, sem pretensões de afirmar ser possível a sua reprodução bem como seu êxito em toda e qualquer realidade, temos a perspectiva de que a socialização desta compreensão pode contribuir na construção de práticas mais eficazes no contexto político contemporâneo. Palavras-Chave: Educação em Tempo Integral – Formação Humana – Práticas Pedagógicas.

ANGRA DOS REIS, TEMPOS E ESPAÇOS INTEGRAIS: OS CEHIS.

A partir de 2009, quatro Centros de Educação e Horário Integral (CEHIs) foram criados no município de Angra dos Reis, RJ – política pública municipal para o atendimento dos alunos em tempo integral, bem como para o desenvolvimento de uma concepção de educação integral que se materializasse por meio de ações articuladas e integradas no cotidiano dessas unidades escolares.

O CEHI que destacamos no resumo deste ensaio denomina-se Escola Municipal Monsenhor Pinto de Carvalho e se encontra localizado na Praia de Enseada das Estrelas/Ilha Grande/Angra do Reis (RJ).

Cabe reforçar que educação integral constitui-se, para nós, como numa concepção de educação que percebe o ser humano em todas as suas dimensões e que

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busca desenvolver uma formação humana mais completa para o educando. No que tange ao tempo integral, o consideramos como uma estratégia político-pedagógica, na medida em que, ao aumentar o tempo do aluno na escola, se ampliam suas possibilidades de aprendizagem. Esses, são dois conceitos que, embora não sejam sinônimos, estão inter-relacionados, como podemos perceber nos apontamentos de Coelho (2009).

Falar sobre educação integral, para nós, pressupõe falar, também, em tempo ampliado/integral na escola: com o tempo escolar ampliado, é possível pensar em uma educação que englobe formação e informação e que compreenda outras atividades – não somente as conhecidas como atividades escolares – para a construção da cidadania partícipe e responsável. (p. 93)

Neste CEHI, os alunos possuem uma jornada diária de 8h e passam, além das aulas regulares, por oficinas pedagógicas ministradas tanto por professores docentes I (regentes de turma da educação infantil e/ou anos iniciais do ensino fundamental), professores docentes II (especialistas de arte, música, educação física e ciências) e, ainda, monitores do Programa Mais Educação (oficinas escolhidas de acordo com a proposta pedagógica da escola, dentro dos macrocampos apresentados pelo referido Programa).

Enquanto escola de tempo integral, prevê-se nos CEHIs que os conhecimentos trabalhados em cada oficina estejam articulados a um projeto pedagógico e que as diferentes áreas do conhecimento possam contribuir na formação e no desenvolvimento do educando, de forma com que o tempo ampliado não seja “mais da mesma coisa” (Paro, 2009, p. 13) para os alunos.

RODA DO ABRAÇO DO CEHI MONSENHOR: Desenvolvimento integral do educando.

O projeto “Roda do Abraço” foi criado pelo corpo docente do CEHI Monsenhor Pinto de Carvalho, no ano de 2010, pois os educadores percebiam um alto índice de indisciplina e de agressividade entre os alunos da escola. Segundo o PPP dessa escola,

O projeto é desenvolvido semanalmente no pátio da escola após a execução dos Hinos Nacional e Municipal, onde todos: professores, alunos e funcionários da escola, de mãos dadas, formam uma grande roda. Os participantes têm a oportunidade, se assim desejarem, de pontuar os acontecimentos positivos ou negativos ocorridos na semana de trabalho. Após as colocações, o grupo é levado a refletir sobre os fatos destacados e, quando necessário, contribuir na busca de soluções para os problemas apontados. Ao final, ainda em círculo, acontece o

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abraço coletivo, onde um abraça o outro, e assim, passando o abraço sucessivamente. (Carvalho, 2011, p. 19)

Esta prática pedagógica foi incorporada à dinâmica escolar, pois os alunos não se permitiam ao toque, não se olhavam, não se valorizavam, não expressavam carinho nem afetividade uns com os outros. Eram crianças que se agrediam, que se excluíam e que viviam num espaço-tempo escolar repleto por muitas fragilidades - indivíduos inseridos num mundo individualista, “um mundo que desvaloriza e denigre a confiança e a lealdade mútuas, a cooperação desinteressada e a amizade pela simples amizade” (Bauman, 2015, p.93)– ou seja, o mundo líquido moderno.

Destacamos que esse mundo se relaciona, dentre outros aspectos, com a forma de se estabelecer relação com o outro pois, na medida em que essa relação vem sendo amparada pelos ambientes virtuais e se fragilizado a cada dia mais, ela vai se modificando e perdendo a capacidade de fortalecimento dos laços humanos.

As pessoas encontram-se distanciadas umas das outras, envoltas em um cenário individualista e egoísta, envolvidas com o ambiente virtual, adeptas do consumo exacerbado, competitivas e sem disposição para construir relações fortalecidas.

Essas observações evidenciam a mudança de pensamento e do próprio comportamento dos indivíduos na sociedade, como podemos perceber nos apontamentos de Bauman (2005):

Em aeroportos e outros espaços públicos, pessoas com telefones celulares equipados com fones de ouvido ficam andando para lá e para cá, falando sozinhas e em voz alta, como esquizofrênicos paranoicos, cegas ao ambiente ao seu redor. A introspecção é uma atitude em extinção. Defrontadas com momentos de solidão em seus carros, na rua ou nos caixas de supermercados, mais e mais pessoas deixam de se entregar a seus pensamentos para, em vez disso, verificarem as mensagens deixadas no celular em busca de algum fiapo de evidência de que alguém, em algum lugar, possa desejá-las ou precisar delas. (p.31)

Esse comportamento caracteriza a modernidade líquida e o encontramos em todos os espaços sociais. Uma postura que revela um bloqueio ao que cerca o indivíduo, ao que está externo a ele próprio e, ainda, à sua inserção num ‘mundo’ construído e projetado por ele mesmo.

Neste sentido – em que caracterizamos essa modernidade líquida e a aparente forma imposta de ser socialmente, buscando novas possibilidades de confrontar essa lógica – ressaltamos, de acordo com o Projeto Político-Pedagógico do CEHI Monsenhor que a Roda do Abraço é

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Um momento de respeito para com o outro, já que os alunos têm exercitado a capacidade de ouvir o colega e respeitar sua vez e voz, de levantar o braço e esperar sua vez de falar e de entender a importância de não falar ao mesmo tempo que o outro, demonstrando a compreensão da importância de regras para um convívio social mais harmônico e democrático. (Carvalho, 2011, p. 19)

Este projeto representa a complexidade do papel social da escola, na medida em que a mesma percebe que sua função vai para além da instrução e do desenvolvimento cognitivo dos alunos, ou seja, busca uma formação integral que contemple todas as dimensões formadoras dos educandos.

LAÇOS INTEGRALMENTE FORTALECIDOS

Na escola de tempo integral em destaque, as relações humanas são muito intensificadas, na medida em que os alunos e professores passam mais tempo no cotidiano escolar. Esse aumento de tempo tem o potencial de ampliar as possibilidades de aprendizagem e, ainda, favorece no desenvolvimento de ações humanistas que prezem por valores universais como solidariedade, companheirismo, capacidade de se trabalhar em grupo, respeitar a diversidade, colocar-se no lugar do outro, dentre outros valores importantes para um bom convívio social, ou seja, investindo na integralidade do educando. Como nos afirma Paro (2009)

É preciso investir num conceito de educação integral, ou seja, um conceito que supere o senso comum e leve em conta toda a integralidade do ato de educar. Dessa forma, nem se precisará levantar a bandeira do tempo integral porque, para fazer-se a educação integral, esse tempo maior terá que ser levado em conta. (p. 19)

As escolas de tempo integral podem constituir-se como um espaço de fortalecimento dos vínculos inter-humanos (Bauman, 2015, p. 92), uma vez que oportunizam a percepção do educando em todas as suas dimensões e cognitivamente. Um olhar sobre o aluno por completo.

A dimensão afetiva aparenta ser uma das mais complexas no cotidiano escolar para se ajudar a desenvolver, pois lida com valores, tradições e as distintas formas de se compreender e de perceber a/na sociedade.

No entanto, com um trabalho ampliado de valorização cultural da diversidade e de respeito a todas as especificidades presentes na escola enxerga-se a possibilidade de problematizar a relação com o outro e o fortalecimento da mesma o tempo todo. Identificamos que a sociedade líquido-moderna não tem contribuído para o

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fortalecimento dos laços humanos, mas acreditamos que a prática pedagógica desenvolvida nas escolas de tempo integral, voltadas para o desenvolvimento integral do educando, muito contribui para que os alunos diminuam a indisciplina, a agressividade, a intolerância e passem a construir um olhar mais humano sobre o outro.

A educação assumiu muitas formas no passado e se demonstrou capaz de adaptar-se à mudança das circunstâncias, de definir novos objetivos e elaborar novas estratégias [...] Em nenhum momento, crucial da história da humanidade os educadores enfrentaram desafio comparável ao divisor de águas que hoje nos é apresentado. A verdade é que nós nunca estivemos antes nessa situação. Ainda é preciso aprender a arte de viver num mundo saturado de informações. E também a arte mais difícil e fascinante de preparar seres humanos para essa vida. (Bauman, 2011, p. 125)

Desse modo, buscando romper com essa lógica social fragilizada, a educação integral em tempo integral fortalece as relações e constitui-se num instrumento de emancipação da própria sociedade, na medida em que prepara os seres humanos para a vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUMAN, Zygmunt. 44 cartas do mundo líquido moderno. Rio de janeiro: Zahar, 2011.

________, Zygmunt. Amor líquido. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

________, Zygmunt. A riqueza de poucos beneficia a todos nós? Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

________, Zygmunt. Identidade: entrevista à Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

CARVALHO, Monsenhor Pinto de. Projeto Político-Pedagógico. Angra dos Reis: CEHI Monsenhor, 2011.

CAVALIERE, Ana Maria Cavaliere. Notas sobre o conceito de educação integral. In: COELHO, Lígia Martha C. da Costa. (Org.) Educação Integral em tempo integral: estudos e experiências em processo. Rio de Janeiro, DP et Alii, 2009.

COELHO, Lígia Martha Coimbra da Costa. História(s) da educação integral. Brasília: Em Aberto, v.22, n. 80, p.83-96, abr. 2009.

PARO, Vitor Henrique. Educação integral em tempo integral: uma concepção para a modernidade. In: COELHO, Lígia Martha C. da Costa. (Org.) Educação Integral em tempo integral: estudos e experiências em processo. Rio de Janeiro, DP et Alii, 2009.

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