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Academic year: 2021

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São Leonardo da Galafura

São Leonardo da Galafura

À proa dum navio de penedos, À proa dum navio de penedos, A navegar num doce mar de mosto, A navegar num doce mar de mosto, Capitão no seu posto

Capitão no seu posto De comando,

De comando,

S. Leonardo vai sulcando S. Leonardo vai sulcando As ondas

As ondas Da eternidade, Da eternidade,

Sem pressa de chegar ao seu destino. Sem pressa de chegar ao seu destino. Ancorado e feliz no cais humano, Ancorado e feliz no cais humano, É num antecipado desengano É num antecipado desengano

Que ruma em direcção ao cais divino. Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos Lá não terá socalcos Nem vinhedos Nem vinhedos

Na menina dos olhos deslumbrados; Na menina dos olhos deslumbrados; Doiros desaguados

Doiros desaguados Serão charcos de luz Serão charcos de luz Envelhecida;

Envelhecida;

Rasos, todos os montes Rasos, todos os montes

Deixarão prolongar os horizontes Deixarão prolongar os horizontes Até onde se extinga a cor da vida. Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, é devagar que se aproxima Por isso, é devagar que se aproxima Da bem-aventurança.

Da bem-aventurança.

É lentamente que o rabelo avança É lentamente que o rabelo avança Debaixo dos seus pés de marinheiro. Debaixo dos seus pés de marinheiro. E cada hora a mais que gasta no caminho E cada hora a mais que gasta no caminho É um sorvo a mais de cheiro

É um sorvo a mais de cheiro A terra e a rosmaninho! A terra e a rosmaninho!

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Ibéria

Terra.

Quanto a palavra der, e nada mais. Só assim a resume

Quem a contempla do mais alto cume, Carregada de sol e de pinhais.

Terra-tumor-de-angústia de saber

Se o mar é fundo e ao fim deixa passar... Uma antena da Europa a receber

A voz do longe que lhe quer falar...

Terra de pão e vinho

(A fome e a sede só virão depois,

Quando a espuma salgada for caminho Onde um caminha desdobrado em dois).

Terra nua e tamanha

Que nela coube o Velho-Mundo e o Novo... Que nela cabem Portugal e Espanha

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Quando em silêncio passas entre as folhas

Quando em silêncio passas entre as folhas, uma ave renasce da sua morte

e agita as asas de repente;

tremem maduras todas as espigas como se o próprio dia as inclinasse, e gravemente, comedidas,

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Em Lisboa com Cesário Verde

Nesta cidade, onde agora me sinto mais estrangeiro do que os gatos persas; nesta Lisboa, onde mansos e lisos

os dias passam a ver as gaivotas, e a cor dos jacarandás floridos

se mistura à do Tejo, em flor também, só o Cesário vem ao meu encontro, me faz companhia, quando de rua em rua procuro um rumor distante de passos ou aves, nem eu sei já bem. Só ele ajusta a luz feliz dos seus

versos aos olhos ardidos que são os meus agora; só ele traz a sombra dum verão muito antigo, com corvetas lentas ainda no rio e a musica,

o sumo do sol a escorrer da boca, ó minha infância, meu jardim fechado, ó meu poeta, talvez fosse contigo que aprendi a pesar silaba a sílaba cada palavra, essas que tu levaste quase sempre, como poucos mais, à suprema perfeição da lingua.

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O texto poético do século XX

A emergência da poesia contemporânea deve ser procurada na revolução estética operada pelo Romantismo e passa, já no início do século, pelo influxo de correntes finisseculares, como o Simbolismo, o Decadentismo ou o Neogarretismo, que, nascidas da reação antinaturalista, confluirão em novas tendências, como o Saudosismo e o Modernismo.

O século XX tem como referência na poesia portuguesa a experiência da Geração de Orpheu e mais concretamente o universo de Fernando Pessoa. O alcance revolucionário do Modernismo irá ser reencontrado várias vezes ao longo do século, a ponto de se poderem encontrar certos fios condutores numa modernidade que, partindo das primeiras datas do século, continua a condicionar, enquanto marco incontornável, a produção poética até ao início da década de 70, data a partir da qual seria já oportuno falar em "pós-modernidade".

A produção poética da década de quarenta reflete o antagonismo entre duas tendências

teóricas opostas, o Presencismo (também designado Segundo Modernismo) e o Neorrealismo, que coexistem com uma terceira via, a dos autores que encontram em Cadernos de Poesia a possibilidade de afirmar a isenção e essencialidade da palavra poética. Na década de 50, convergem várias tendências estéticas, afirmadas em publicações como Távola Redonda, Árvore, Notícias do Bloqueio, Cancioneiro Geral ou Cadernos do Meio-Dia, que, apontando quer para a consideração da existência de uma segunda geração neorrealista e de uma segunda geração surrealista quer para o influxo do existencialismo, confluem no que, de um modo lato, é usual designar de Geração de 50.

A década de 60 inaugura, com o projeto de Poesia 61 e com os manifestos de poesia concreta ou experimental, um período caracterizado por uma maior atenção ao significante e à

corporalidade da palavra poética.

 Poesia Experimental

O conceito de poesia experimental remete-nos para A Proposição 2.01. Poesia Experimental de E. M. de Melo e Castro, um verdadeiro manifesto que define as proposições básicas deste tipo de poesia vanguardista.

Este autor define o "poema experimental" como um "Objeto criado para através dele se estudarem e se surpreenderem as fases do processo criador e a sua evolução e projeção no futuro tanto da poesia como do Homem".

A poesia experimental valoriza as potencialidades visuais e fónicas do significante linguístico, isto é, os signos não funcionam tanto como significados ou conceitos, mas mais como

significantes como uma parte material ou imagem acústica. Entre os nomes mais representativos ou influenciados pela poesia experimental contam-se ainda os de Ana Hatherly, António Aragão, António Barahona da Fonseca ou Salette Tavares.

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 Alguns poetas do século XX

Miguel Torga

Nome: Adolfo Correia da Rocha

Nascimento: 12-8-1907, S. Martinho de Anta, Vila Real Morte: 17-1-1995, Coimbra

Época literária: Época contemporânea. Geração de “Presença”

Depois de ter trabalhado no Brasil, entre os 13 e os 18 anos (experiência que viria ser evocada na série de romances de inspiração autobiográfica Criação do Mundo), regressou a Portugal, vindo a licenciar-se em Medicina. Durante os estudos universitários, em Coimbra, travou conhecimento com o grupo de escritores que viriam a fundar a Presença, chegando a publicar nas edições da revista o seu segundo volume de poesia, Rampa. Em 1930, depois de assinar, com Edmundo de Bettencourt e Branquinho da Fonseca, uma carta de dissensão enviada à direcção da publicação coimbrã, co-funda as efémeras revistas Sinal e Manifesto. Não obstante a passagem pelo grupo presencista, no momento da suas primícias literárias, Miguel Torga assumirá, ao longo dos cerca de cinquenta títulos que publicou –

frequentemente em edições de autor e à margem de políticas editoriais – uma postura de independência relativamente a qualquer movimento literário.

Na poesia, depois de algumas colectâneas ainda imbuídas de certo dramatismo retórico editadas no início dos anos trinta, a publicação dos volumes onde ostenta já o pseudónimo Miguel Torga – segundo Pilar Vásquez Cuesta (cf. Revista de Ocidente, Agosto de 1968), esta invenção pseudonímica simboliza, pela analogia com a urze, a obrigação de constância, firmeza e beleza que o artista deve manter, por mais adversas que sejam as estruturas pessoais e

históricas em que se move, ao mesmo tempo que “a escolha do nome Miguel responde ao propósito de acrescentar um novo elo lusitano a toda uma cadeia espanhola (Miguel de Molinos, Miguel de Cervantes, Miguel de Unamuno) de pensamento combativo e rebelde” – como Lamentação (1934), O Outro Livro de Job (1936), Libertação (1944), Odes (1946), Nihil Sibi (1948), Cântico do Homem (1950), Penas do Purgatório (1954), Orfeu.

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Eugénio de Andrade Nome: José Fontinhas

Nascimento: 19-1-1923, Póvoa de Atalaia, Fundão

Época literária: Época contemporânea. Segunda metade do século: poesia

Poeta, sob o pseudónimo Eugénio de Andrade, foi funcionário dos Serviços Médico-Sociais. Manteve sempre uma postura de independência relativamente aos vários movimentos literários com que a sua obra coexistiu ao longo de mais de cinquenta anos de actividade

poética. Revelando-se em 1948, com As Mãos e os Frutos, a que se seguiria, em 1950, Os

Amantes sem Dinheiro, o seu nome não se encontra vinculado a nenhuma das publicações que marcaram, enquanto lugar de reflexão sobre opções e tradições estéticas, a poesia

contemporânea, embora tenha editado um dos seus volumes, As Palavras Interditas, na colecção “Cancioneiro Geral” e tenha colaborado em publicações como Árvore, Cadernos do Meio-Dia ou Cadernos de Poesia. É, aliás, nesta última publicação, editada nos anos quarenta, que se firmam algumas das vozes independentes, como Ruy Cinatti, Sophia de Mello Breyner Andresen ou Jorge de Sena, que inaugurariam, no século XX, essa linhagem de lirismo

depurado, exigente, atento ao poder da palavra no conhecimento ou na fundação de um real dificilmente dizível ou inteligível, em que Eugénio de Andrade se inscreve. Sendo actualmente um dos poetas portugueses vivos mais lidos e traduzidos e mantendo ao longo de uma longa e fecunda carreira uma certa unidade de temas e de recursos formais, a poesia de Eugénio de Andrade tem sido, curiosamente, objecto das críticas mais díspares na voz de grandes nomes da crítica contemporânea.

É assim que, desde o momento da aparição de Os Amantes sem Dinheiro, David Mourão -Ferreira não se coibiu de denunciar a precipitação do seu autor, acusando um “descuido formal”, num poeta que se assumira pela beleza da forma, crítica que seria ampliada, na publicação de Até Amanhã, no epíteto de “poeta lírico menor”, autor de poesia

“corajosamente superficial”, tentada pela “facilidade” (cf. Vinte Poetas Contemporâneos, 2.ª ed. Lisboa, Ática, 1980, pp. 180-185). Numa perspectiva diametralmente oposta, Óscar Lopes, naquela que é reconhecida como uma das mais rigorosas e exemplares obras ensaísticas sobre poesia contemporânea, Uma Espécie de Música (cf. LOPES, Óscar – Uma Espécie de Música (A Poesia de Eugénio de Andrade). Três Ensaios, Lisboa, INCM, 1981), colectânea de três ensaios, ao longo dos quais a obra do autor de As Mãos e os Frutos é analisada em profundidade

através de todos os seus níveis significativos (prosódico, sintáctico, enunciativo, temático), vê em Eugénio de Andrade um paradigma do conhecimento e funcionamento da palavra poética. Óscar Lopes chama aí a atenção, entre outros aspectos, para o uso da hipálage enquanto instrumento privilegiado na construção de uma expressão maximamente densa e depurada; para o modo como nesta poesia, que oscila entre a brevidade epigramática e a discursividade, o versilibrismo atinge o amadurecimento, no recurso a regularidades frásicas e intonacionais; para certas marcas estilísticas muito próprias, como a criação de um “pretérito imperfeito absoluto”,a metaforização obtida por processos de equivalência como falsos disjuntivos ou aposição; para o modo como a relação entre o eu e o tu vivem da “tensão com que

reciprocamente se definem”, significando, no limite, que “toda a comunicação a dois é

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e o desejo, o telurismo; para, finalmente, a maneira como a sua poesia, excluindo o lirismo da dor e da auto-reflexividade, da frustração e da negação, se assume como poesia da

“plenitude”, “lírica de amor [...] lírica da natureza [...] poesia materialista, no sentido da sua total imanência à realidade possível e única” (id., ibi., p. 32).

Sem esgotar todas as pistas de acesso à poesia de Eugénio de Andrade concentradas nos ensaios acima referidos, entre um apelo para o concreto e para o deslumbramento dos sentidos, recebidos quer da influência de Lorca quer de apego umbilical à terra – Eugénio de Andrade descende de camponeses e a realidade rural marcou indelevelmente a sua infância; e a liberdade de imaginação surrealista, para Óscar Lopes, conhecer a “poesia límpida”, “poesia sem metafísica”, de Eugénio de Andrade é, em suma, “descobrir nalguns dos ritmos e das palavras mais correntes da língua (por exemplo: dedos, água, cabelos, beber; ou se preferes...; e contudo...) uma bela intenção desconhecida que tinham mas se perdia.” (id. ibi., p. 22). O carácter solar, epifânico na evocação da realidade dos corpos e dos sentidos, esse sentimento de absoluto da expressão que impõe uma adesão quase encantatória à sua palavra poética, tem dado também espaço, sobretudo a partir de volumes como Obscuro Domínio ou Limiar dos Pássaros, à expressão da disforia pressentida numa melancolia que a lenta morte dos corpos adensa. É nesta medida que Joaquim Manuel Magalhães apresenta algumas reservas quanto a interpretações que sublinham a luminosidade ou a plenitude como marcas de uma obra onde, segundo este autor, “a mágoa é a trípode donde sobe a invocação da alegria, onde a repressão é o pedestal onde assenta a estátua de um Eros coberto de cautelosas roupagens, onde a catástrofe espreita um quotidiano que se quereria visível e transformável”

(MAGALHÃES, Joaquim Manuel – Entre Dois Crepúsculos, Lisboa, A Regra do Jogo, 1981, p. 111.).

Eugénio de Andrade é ainda tradutor de vários autores, cujas obras recriou poeticamente (García Lorca, Safo, Borges) e organizador de várias antologias poéticas. Em 1991, foi criada, no Porto, a Fundação Eugénio de Andrade. Em 2001, Eugénio de Andrade foi distinguido com o Prémio Camões.

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O texto poético do século XX

Etimologicamente, o termo poesia provém do grego e significa criar. A poesia é, neste sentido, a criação por excelência e o poeta o seu criador.

O texto poético espelha um trabalho criativo da linguagem, definindo-se pela sua natureza estética e dimensão literária. Aqui existe uma preocupação em ultrapassar o imediatismo, a utilidade prática da língua e o mundo objetivo e exterior. Na verdade, o texto poético exprime o estado de alma do poeta, isto é, o seu mundo interior. O seu discurso é claramente emotivo e redundante, isto é, repetitivo, pois pretende intensificar a emoção, em vez de acrescentar informação.

O texto poético distingue-se do texto narrativo, entre outros aspetos, por ser estático. Como diz Clara Rocha, "Ao contrário da narrativa que nos conta uma história e é dinâmica, o poema lírico exprime emoções.".

Proposta de análise de um texto poético

1) Compreensão do texto

a) Ler atentamente o poema

 – percebendo a ligação entre os versos quando ela existe. b) Delimitar o poema em partes lógicas:

 – identificando o conteúdo de cada parte através de expressões-chave; escolhendo as marcas linguísticas ou discursivas que sustentam essa divisão; apreendendo a relação existente entre cada uma das partes (ex.: causa/efeito, presente/passado, presente/futuro, contraste, etc.). Nota: Esta divisão em partes lógicas não é necessariamente aplicável a todos os poemas. c) Identificar o assunto do poema:

 – indicando o essencial do texto num pequeno parágrafo. d) Definir o tema do poema:

 – indicando a ideia que é comum a todas as partes do poema: por exemplo o amor, a infância, a saudade, a eternidade, etc.

2) Análise linguística do texto

a) Reconhecer a originalidade do texto, aquilo que o torna único. b) Perceber o uso expressivo da linguagem literária:

 – identificando recursos expressivos;

 – reconhecendo o ritmo e a musicalidade de poemas;

 – captando os sentidos conotativos evocados pela linguagem utilizada; compreendendo a simbologia da linguagem.

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3) Análise de aspetos formais do texto a) rima; b) métrica; c) organização de versos.

Versificação

► Métrica

Para eterminar o número de sílabas métricas de um verso – a sua métrica – contam-se as sílabas gramaticais até à sílaba tónica da última palavra do verso.

Ó | meu | co | gu | me | lo | pre | to1

Quando duas ou mais vogais da mesma ou de palavras diferentes podem ser pronunciadas numa só emissão de som, as sílabas gramaticais a que pertencem formam uma única sílaba métrica.

Mi | nha es | pa | da | sem | ba | i | nha1

1Soneto do Guarda-Chuva, de Sebastião da Gama

► Classificação dos versos quanto à métrica

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► Estrofes

► Rima

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► Soneto

O soneto possui uma estrutura lógica e rígida, com uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. É por isso considerado um género de poesia que permite transmitir

eficazmente uma ideia ou pensamento. Na última estrofe encerra-se a ideia desenvolvida, sendo por vezes designada 'chave de ouro'.

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Camões

Nem tenho versos, cedro desmedido, Da pequena floresta portuguesa! Nem tenho versos, de tão comovido Que fico a olhar de longe tal grandeza. Quem te pode cantar, depois do Canto Que deste à pátria, que to não merece? O sol da inspiração que acendo e que levanto Chega aos teus pés e como que arrefece. Chamar-te génio é justo, mas é pouco. Chamar-te herói, é dar-te um só poder. Poeta dum império que era louco, Foste louco a cantar e a combater. Sirva, pois, de poema este respeito Que te devo e professo,

Única nau do sonho insatisfeito Que não teve regresso!

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Orfeu Rebelde

Orfeu rebelde, canto como sou: Canto como um possesso

Que na casca do tempo, a canivete, Gravasse a fúria de cada momento;

Canto, a ver se o meu canto compromete A eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinóis... Eu ergo a voz assim, num desafio: Que o céu e a terra, pedras conjugadas Do moinho cruel que me tritura,

Saibam que há gritos como há nortadas, Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte No corpo dum poeta que a recusa, Canto como quem usa

Os versos em legítima defesa. Canto, sem perguntar à Musa Se o canto é de terror ou de beleza.

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Um adeus Português

Nos teus olhos altamente perigosos vigora ainda o mais rigoroso amor a luz de ombros puros e a sombra de uma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo à roda em que apodreço

apodrecemos

a esta pata ensanguentada que vacila quase medita

e avança mugindo pelo túnel de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira onde passo o dia burocrático o dia-a-dia da miséria

que sobe aos olhos vem às mãos aos sorrisos

ao amor mal soletrado

à estupidez ao desespero sem boca ao medo perfilado

à alegria sonâmbula à vírgula maníaca do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta cama comigo em trânsito mortal até ao dia sórdido canino

policial

até ao dia que não vem da promessa puríssima da madrugada

mas da miséria de uma noite gerada por um dia igual

Não podias ficar presa comigo à pequena dor que cada um de nós traz docemente pela mão

a esta pequena dor à portuguesa tão mansa quase vegetal

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Não tu não mereces esta cidade não mereces esta roda de náusea em que giramos

até à idiotia

esta pequena morte

e o seu minucioso e porco ritual esta nossa razão absurda de ser Não tu és da cidade aventureira

da cidade onde o amor encontra as suas ruas e o cemitério ardente

da sua morte

tu és da cidade onde vives por um fio de puro acaso

onde morres ou vives não de asfixia

mas às mãos de uma aventura de um comércio puro sem a moeda falsa do bem e do mal

* Nesta curva tão terna e lancinante

que vai ser que já é o teu desaparecimento digo-te adeus

e como um adolescente tropeço de ternura por ti.

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Feira desmanchada

Num frouxo de riso, desmonto o barraco; vida é outra loiça, que não este caco.

Rio como pode rir um português

ao ouvir, ocioso:- Será para outra vez...

 _ Aqui há talento!Dizem.me os védores. Seja para alívio das nossas dores!

Mas que remédio senão ser talentoso quando tudo anda tão nervoso

e não há licença de porte dessa arma que é a palavra não desfigurada!

Talento manejado a meu talante,

sê modesto, já que és, afinal, o circunstante,

e eu, o teu dono, se tiveres lazer,

sem disparos verbais andava era aos pardais,

por esses trigais e milheirais que lhes dão de comer...

Referências

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