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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.081.530 - SC (2008/0176668-4)

RELATORA

: MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI

RECORRENTE

: ITAÚ SEGUROS S/A

ADVOGADO

: SÉRGIO ALEXANDRE SODRÉ E OUTRO(S)

RECORRIDO

: ALBERTO DÁRIO SIQUEIRA

ADVOGADO

: EDISON PINTO FILHO

INTERES.

: VIDACOR CORRETORA E AGENCIAMENTO DE SEGUROS

LTDA

ADVOGADO

: HENRIQUE R WERMINGHOFF E OUTRO(S)

DECISÃO

Trata-se de recurso especial interposto por Itaú Seguros S/A, com

base nas alíneas "a" e "c" do art. 105 da Constituição, contra acórdão proferido pela

3ª Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça do Estado de Santa que,

reformando a sentença, fixou em 5 anos o prazo de prescrição para o ajuizamento

de ação de indenização do segurado contra o segurador, com base no art. 27, da

Lei 8.078/90 (fls. 297-307).

Afirma a recorrente violação aos arts. 219, 269, 330, 333, 420, 458,

474, 515, caput e § 3º e 535, todos do CPC; 81, 131, 172, 178, § 6º, II, 939, 940,

1434, 1435 e 1460 do Código Civil de 1916; e 27 do Código de Defesa do

Consumidor, bem assim que o entendimento do acórdão recorrido encontra-se em

divergência com a orientação do STJ sobre o tema, consolidada nos enunciados

das Súmulas 101 e 278.

Assim delimitada a questão, anoto que não se discute a aplicação do

Código de Defesa do Consumidor ao contrato de seguro. Essa circunstância,

todavia, não significa que a regra especial do Código Civil de 1916, em vigor na

época dos fatos, e também as do Código Civil de 2002 (art. 206, §1º, II, prazo de

um ano, para ações entre segurado e seguradora e art. 206, § 3º, IX, prazo de 3

anos, para ações do beneficiário contra o segurador e do terceiro prejudicado, no

caso do seguro obrigatório) não sejam aplicáveis em decorrência do disposto em

seu art. 27.

O prazo de prescrição do art. 27 do CDC (5 anos) aplica-se apenas

aos casos de defeito do produto ou serviço.

No sistema do Código de Defesa do Consumidor, são vícios as

características de qualidade ou quantidade que tornem os produtos ou serviços

impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam, ou lhes diminuam o

valor, ou apresentem divergência com as indicações constantes da embalagem ou

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publicidade (CDC, art. 18). Como exemplo de serviço viciado, menciona Júlio Cesar

Bacovis aqueles que apresentam características com funcionamento falho ou

inadequado e que, portanto, não correspondem às expectativas de quem contratou;

assim a aplicação de veneno para matar o mato que não atinge tal objetivo, o

telhado que em vez de ser consertado continua com infiltração de água em outro ou

no mesmo lugar (Prescrição e Decadência no Código de Defesa do Consumidor -

Análise Crítica, publicado na Revista Jurídica, n. 379, maio de 2009). Já o defeito

ocorre, segundo o art. 12, §1º, do CDC, quando o produto não oferece a segurança

que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias

relevantes, entre as quais, sua apresentação, o uso e os riscos que razoavelmente

dele se esperam e a época em que foi colocado em circulação. Portanto, defeito é a

combinação de vício e dano ao patrimônio ou a própria pessoa, conclui o

mencionado autor.

Nem todos os conflitos de interesse ocorridos no âmbito de relações

contratuais regidas pelo Código de Defesa do Consumidor podem ser enquadrados

como dizendo respeito a vício ou defeito do produto ou serviço, de modo a ensejar a

incidência dos prazos de decadência (art. 26) ou de prescrição (art. 27)

estabelecidos no referido diploma legal. Estando fora dos conceitos legais de vício

ou defeito, aplica-se o prazo de prescrição do Código Civil.

A propósito do tema, Leonardo de Medeiros Garcia disserta:

"Indagação importante é se a norma disposta no art. 27 estaria limitada ao 'acidente de consumo', ou seja, à ocorrência de vícios de qualidade por insegurança; ou se poderia ser aplicada a toda e qualquer ação indenizatória (porquanto, prescricional) oriunda de relação de consumo, como por exemplo, indenização por inadimplemento contratual ou por danos morais sem que haja potencialidade de causar acidente.

Ao que parece, o CDC não desejou disciplinar toda espécie de responsabilidade. Somente o fez em relação àquelas que entendeu ser específicas para as relações de consumo. Nesse sentido é que deu tratamento diferenciado para a responsabilidade pelo fato e por vício do produto e serviço, deixando outras modalidades de responsabilidade serem tratadas em normas específicas ou no Código Civil. (...)"

O art. 27 é claro no sentido de delimitar sua aplicação às situações concernentes à 'reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo,' ou seja, a aplicação da norma é restrita às hipóteses de acidente de consumo.

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(...)"

Assim, com a devida vênia dos que entendem em sentido contrário, entendo que as demais ações condenatórias (que não envolvam acidente de consumo) oriundas das relações de consumo têm os respectivos prazos estabelecidos pelo Código Civil ou leis específicas, cuja aplicação é subsidiária.

Corroborando a tese exposta, destaca a Minª. Nancy Andrighi que 'importa ponderar que o fato de o CDC ter regulado duas novas categorias de responsabilidade: do vício e do fato do produto, não exclui aquelas previstas no CC. Ao contrário, havendo multifárias formas de se gerar dano, a coexistência de diferentes responsabilidades é medida que se impõe como pressuposto de justiça (...) Assim, ainda que haja relação de consumo, podem haver outras espécies de responsabilidade (legal, contratual, extracontratual) que não tratou o CDC. Com esta consideração, ao exegeta não se impõe o trabalho de tentar subsumir toda e qualquer situação fática danosa às responsabilidades regradas no código consumerista. Não reunidos os pressupostos destas, há que se invocar por extensão o Código Civil para que se cumpra o postulado ético 'onde há dano deve haver reparação."

(GARCIA, Leonardo de Medeiros. DIREITO DO CONSUMIDOR: código comentado, jurisprudência, doutrina, questões, Decreto nº 2.181/97. 6ª ed. rev., ampl. e atual.. Niterói: Impetus, 2010.)

No âmbito da 4ª Turma do STJ, a partir do voto do Ministro Sálvio de

Figueiredo Teixeira, no REsp 232.483-RJ firmou-se o entendimento de que o prazo

prescricional do CDC tem aplicação apenas em caso de ação de responsabilidade

civil por "fato do serviço" decorrente dos chamados "acidentes de consumo", o que

não se confunde com a responsabilidade por inadimplemento contratual:

"(...) 4. Tenho que a ação de responsabilidade civil por fato de serviço, de que cuida o Código de Defesa, não se identifica com a responsabilidade civil decorrente do inadimplemento contratual. Logo, este último caso estaria disciplinado pela norma específica do Código Civil, que trata da prescrição ânua em todas as outras ações do segurado contra a seguradora, e vice-versa.

Com efeito, a ação de reparação de danos por fato de serviço decorre dos chamados "acidentes de consumo", ou seja, quando a deficiente prestação do serviço é capaz de gerar danos ao consumidor. No caso de cobrança de indenização securitária, no

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entanto, a responsabilidade civil decorre do inadimplemento contratual, que não tem qualquer relação com o vício do serviço (...) a lei nova, no caso o Código de Defesa do Consumidor, estabeleceu disciplina especial apenas quanto à ação de reparação de danos por fato de serviço, não revogando o art. 178, § 6º, II do Código Civil, que é mais amplo, pois engloba toda e qualquer ação entre segurador e segurado. Ademais, como se viu, não há qualquer incompatibilidade entre as normas e nem houve regulamentação integral na questão da prescrição, pela lei posterior (CDC).

7. É de acrescentar-se, por fim, que a jurisprudência que veio a consolidar-se no âmbito deste Tribunal, retratada no enunciado n. 101 da Súmula/STJ, posterior inclusive ao Código de Defesa do Consumidor, é no sentido de que a ação do segurado contra a seguradora, decorrente do contrato de seguro, prescreve em um ano, mesmo nos contratos de seguro em grupo" (REsp 232483/RJ, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 15/02/2000, DJ 27/03/2000, p. 113)

No mesmo sentido, entre muitos outros, cito os seguintes precedentes

mais recentes da 2ª Seção deste Tribunal:

DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE COBRANÇA DE VALOR COMPLEMENTAR. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. INADIMPLEMENTO. PAGAMENTO A MENOR. PRAZO PRESCRICIONAL.

- O não cumprimento das obrigações por parte do segurador consistentes no ressarcimento dos danos sofridos pelo segurado constitui inadimplemento contratual, e não fato do serviço.

- Caracterizada a inexecução contratual, é ânuo o prazo prescricional para ação de cobrança de valor complementar de indenização securitária.

Recurso especial parcialmente provido.

(RESP 574.947/BA, Rel. Min. Nancy Andrigui, DJ 28.6.2004)

DIREITO CIVIL. CONTRATO DE SEGURO. COBRANÇA DA DIFERENÇA ENTRE O VALOR DE MERCADO DO BEM SEGURADO E O MONTANTE FIXADO NA APÓLICE. PRESCRIÇÃO ÂNUA.

Incide a prescrição ânua, cujo termo inicial é contado a partir da data em que o segurado tomar ciência do pagamento incompleto efetuado pela seguradora, na hipótese de cobrança de diferença entre o quantum estipulado no contrato de seguro e o valor de

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mercado do bem segurado, pago pela embargante, afastando-se a prescrição vintenária e aquela prevista no Código de Defesa do Consumidor.

Todavia, na espécie, a ação foi proposta antes de escoado o prazo, mesmo considerando a prescrição ânua.

Embargos de divergência conhecidos, mas improvidos.

(ERESP 474.147/MG, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 13.9.2004)

No caso em exame, alega o autor da ação (segurado)

descumprimento, pela seguradora, do dever contratual de honrar a cobertura do

sinistro. Não se cuida de defeito do serviço, na acepção do art. 27, do CDC, sendo o

prazo de prescrição regido pelo Código Civil em vigor na época dos fatos e do

ajuizamento da ação.

Com efeito, o prazo de prescrição das ações que têm por objeto

cobrança de indenização do segurado contra a seguradora não comporta mais

discussão no âmbito desta Corte, nos termos do enunciado das Súmulas 101, 229 e

278 deste Tribunal, assim redigidas, respectivamente:

A ação de indenização do segurado em grupo contra a seguradora prescreve em um ano.

O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão. O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral.

O prazo prescricional de um ano, portanto, conta-se, não a partir do

evento danoso ou da negativa de pagamento da indenização pela seguradora, mas

da data em que o segurado teve ciência inequívoca de sua invalidez permanente e,

na hipótese de ter sido formulado requerimento para pagamento à seguradora, o

referido prazo permanecerá suspenso no período compreendido entre a

comunicação do sinistro e a resposta da seguradora, dispondo o interessado do

prazo restante para o ajuizamento da ação em caso de recusa ao pagamento,

conforme antigo e consolidado entendimento de ambas as turmas que compõem a

2ª Seção, como demonstram, entre muitos outros, os seguintes acórdãos:

Nesse sentido, entre muitos outras, cito as seguintes ementas:

CIVIL. SEGURO EM GRUPO. PRESCRIÇÃO ÂNUA. SÚMULAS/STJ. ENUNCIADO Nº 101. PRAZO PRESCRICIONAL.

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TERMO INICIAL. EFETIVA CIÊNCIA. DATA DA NOTÍCIA DA CONCESSÃO DA APOSENTADORIA. POSSIBILIDADE. SUSPENSÃO DO PRAZO ATÉ RESPOSTA DEFINITIVA DA SEGURADORA EM REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. APLICAÇÃO DO DIREITO À ESPÉCIE. ART. 257, RISTJ. PRECEDENTES. RECURSO ACOLHIDO.

I - A ação de indenização do segurado em grupo contra a seguradora prescreve em um ano (enunciado nº 101 da Súmula/STJ).

II - O termo inicial de fluência do prazo prescricional é a data em que o acidentado teve efetiva ciência de sua enfermidade, podendo ser considerada para tanto a data da notícia da concessão da aposentadoria.

III - Nos termos da jurisprudência desta Corte, o prazo prescricional fica suspenso até resposta da seguradora à pretensão que lhe foi endereçada.

(RESP 167.335/SP, 4ª Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 29.6.1998)

SEGURO DE VIDA EM GRUPO. SÚMULA N° 101 DA CORTE. SUSPENSÃO DO PRAZO DE PRESCRIÇÃO.

1. Nos termos da Súmula n° 101 da Corte, a ação do segurado em grupo contra a seguradora prescreve em um ano.

2. O prazo tem início da data em que o segurado tomou conhecimento da incapacidade, permanecendo suspenso entre a comunicação do sinistro e a resposta da recusa do pagamento. Não suspende o prazo eventual pedido de reconsideração.

3 .Recurso especial conhecido e provido.

(RESP 247.295/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 4.6.2001)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. INDENIZAÇÃO DECORRENTE DE CONTRATO DE SEGURO. PRAZO PRESCRICIONAL. TERMO INICIAL. CONCESSÃO DA APOSENTADORIA. ERRO DE FATO CONFIGURADO.

1. A prescrição da pretensão reparatória decorrente de contrato de seguro possui como termo inicial a data do deferimento da aposentadoria. No período compreendido entre a comunicação do sinistro e a recusa de cobertura pela seguradora ocorre suspensão do prazo.

(...)

(AR 3.057/MG, 2ª Seção, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, DJ 13.3.2013)

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Anoto que, conforme delineado pelas instâncias de origem, o ora

recorrido aposentou-se por invalidez permanente em 13.8.1999, o seu requerimento

de cobertura securitária foi indeferido em 19.10.2000 (fls. 227 e 277), mas a

presente ação somente foi ajuizada quase 3 anos depois da ciência inequívoca da

incapacidade laboral, em 26.6.2002, após o transcurso do prazo prescricional de um

ano.

Em face do exposto, com base no art. 557, § 1º-A, do CPC, dou

provimento ao recurso especial para restabelecer a sentença.

Brasília (DF), 07 de agosto de 2013.

MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI

Relatora

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