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Criança e Família no Bloco Operatório Reflexão I O acolhimento da criança e família no Bloco Operatório

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Academic year: 2021

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Reflexão I – O acolhimento da criança e família no Bloco Operatório

A necessidade de realizar uma cirurgia à criança/jovem é um factor de stress para toda a unidade familiar, pelo que o enfermeiro “pediátrico” (reporto-me quer ao contexto de enfermaria, como do Bloco Operatório) deve ajudá-los a compreender o sentido da experiência de doença e consequente hospitalização. Durante a minha prática de cuidados sou confrontada com crianças que estão na sala de transfer para realizarem uma cirurgia e têm comportamentos de choro, ansiedade e rejeição do contacto com os profissionais de saúde (enfermeiros, anestesistas, cirurgiões), querendo ficar ao pé dos pais, que durante aquele momento sentem dificuldade em gerir os seus próprios sentimentos e incapazes para tranquilizar a criança e transmitir-lhe afecto e segurança. Assim, considero importante reflectir sobre a temática da hospitalização, da preparação da criança para cirurgia e o seu acolhimento no Bloco Operatório.

A hospitalização corresponde a uma fase de transição para a família, onde os cuidados de enfermagem, como refere Meleis (1991), devem procurar maximizar as forças, recursos e potenciais do cliente ou contribuir para o restabelecimento dos níveis de saúde, conforto e realização pessoal, para ultrapassarem essas fases de transição. Neste sentido, implica a necessidade de potenciar o desenvolvimento das competências parentais e de intervenções na criança e, em todo o meio que a rodeia, ajudando-a a responder favoravelmente à doença e à hospitalização.

O enfermeiro “pediátrico” ao cuidar da criança não a pode dissociar da sua família, principalmente dos seus cuidadores, indo ao encontro da definição de Cuidados de Enfermagem da Ordem dos Enfermeiros (2002): onde as intervenções de Enfermagem serão optimizadas se a família for incluída nos cuidados. Deste modo, o comportamento de cada elemento reflectir-se-á no funcionamento da família e no desenvolvimento da criança. O contexto pediátrico exige dos enfermeiros a adopção de uma filosofia de cuidados centrados na família para conseguirem assegurar a saúde e o bem-estar das crianças e de todos os seus membros, respeitando as suas forças inatas, encarando a necessidade de cuidados de saúde como uma possibilidade de desenvolvimento e de apoio às famílias nas suas decisões (Eichner e Johnson, 2003). A família é entendida como a força e o suporte primário da criança, sendo a perspectiva e informações desta, essenciais à decisão clínica (Eichner e Johnson, 2003). Esta filosofia está assente numa relação entre o enfermeiro e a família baseada no respeito, na honestidade, comunicação aberta (Hutchfield, 1999), colaboração e apoio (Hockenberry et al.., 2006). Os princípios do cuidado de Enfermagem centrado na família são:

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Estabelecer uma relação com a família baseada no respeito, cooperação e comunicação aberta e honesta;

Respeitar a família pelo conhecimento que tem da criança e como constante na sua vida;

Respeitar a diversidade familiar;

Dar e receber informação de modo a facilitar tomadas de decisão informadas da família e dos profissionais;

Promover a participação e envolvimento voluntário e negociado dos pais nos cuidados;

Planear cuidados tendo como objectivo promover a autonomia e normal funcionamento familiar;

Considerar o bem-estar de toda a família, aceitando que a doença da criança pode não ser a única preocupação;

Promover apoio físico, psicológico e de educação para a criança e família durante o processo de cuidados. (Hutchfield, 1999) Importa também reflectir sobre os factores de stress identificados na criança, que de acordo com a sua faixa etária e fase de desenvolvimento são: separação, perda de controlo, lesão corporal e dor (Marçal, 2006). Segundo Sacharin (1989) o hospital tem a função de proporcionar um meio adequado, para a criança recuperar, ajudando-a a melhorar o seu estado físico e mental. Deverá ser criado um “(…) ambiente seguro e flexível capaz de

permitir à criança sentimentos de competência e controle, permitindo-lhe alterar o ambiente de acordo com os seus gostos e situação (...) que envolvam a criança e promovam a sua participação” (Marçal, 2006, p.36).

A preparação das crianças e dos pais para uma hospitalização programada tem grandes benefícios para ambos, pois conseguem adaptar-se melhor à situação, diminuindo as fontes de stress e de ansiedade (Bennet, 2002). Em caso de cirurgia, a distribuição de panfletos informativos, visualização de filmes ou fotografias, o jogo com fantoches, visitas prévias ao hospital entre outros, permitem uma familiarização da criança com o ambiente e sensação de maior controle, aceitando mais facilmente alguns equipamentos necessários durante a hospitalização (Martins, 1999). A partir do momento em que a criança é hospitalizada a presença dos pais é uma necessidade vital, pois o vínculo já estabelecido vai permitir que a ruptura com o que lhe é familiar, não seja tão lesiva (Cavaco, 2006).

O primeiro contacto dos enfermeiros com a família é essencial para todo o processo de cuidados, uma vez que se obtêm informações dos hábitos e comportamentos da criança, como a forma do decorrer das refeições, o sono, e os brinquedos preferidos (Brito, 2006).

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Durante a hospitalização é importante que estes espaços de acolhimento se repitam com regularidade fortalecendo a relação de confiança.

O primeiro contacto pode ocorrer através da realização da visita pré-operatória de enfermagem realizada pelos enfermeiros do Bloco Operatório para “(…) melhorar a

informação e preparar os pais e a criança para a intervenção cirúrgica. (…) Deverá esclarecer todas as dúvidas, tranquilizar os pais e crianças, fazendo-os sentir que se interessam verdadeiramente por eles e pelos seus problemas” (Rocha, 2001, p.21).

Segundo o mesmo autor, a visita pré-operatória dos enfermeiros perioperatórios tem os seguintes objectivos:

o

Respeitar a individualidade de cada pessoa como ser único;

o

Familiarizar criança/família com os profissionais do Bloco Operatório;

o

Responder às questões sobre a cirurgia e anestesia, proporcionando confiança e diminuindo a ansiedade da criança/família;

o

Estabelecer a comunicação entre os profissionais do Bloco Operatório e a unidade de internamento, promovendo uma comunicação efectiva;

o

Informar a criança/família sobre requisitos pré-operatórios (jejum, roupa, terapêutica pré-anestésica, circuito do dia da cirurgia, …).

No meu contexto de trabalho a preparação cirúrgica e anestésica é realizada pelas enfermeiras do internamento, numa sessão semanal às quartas-feiras, no mesmo dia da consulta de anestesia e da consulta de enfermagem. Previamente decorre a consulta com as cirurgiãs pediátricas que fazem a referenciação para a cirurgia. A sessão consiste na apresentação de diapositivos sobre as rotinas no dia da cirurgia e na manipulação de algum material pelos pais e crianças, os objectivos definidos para a sessão são:

Esclarecer dúvidas das crianças e dos pais;

Permitir a visualização e manuseamento de algum material;

Transmitir informações importantes (regras e rotinas do serviço de Cirurgia Pediátrica e do Bloco Operatório; o que trazer para o hospital; presença de acompanhantes; outras);

Descrever o que acontecerá no dia da cirurgia.

De acordo com a minha opinião e, confrontada com a inexistência de estudos comparativos entre as duas modalidades de preparação pré-operatória, considero que o fundamental é a existência de um momento de preparação e que este consiga atingir os seus objectivos, através da partilha de informações entre os enfermeiros do Bloco Operatório e do internamento. Neste sentido, o objectivo major que ressalta é termos

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crianças e famílias mais preparadas para o dia da cirurgia, menos ansiosas, promovendo uma relação de confiança entre todos os intervenientes e que os factores negativos da situação de crise vivenciada sejam diminuídos.

O acolhimento do utente pediátrico e sua família deve assentar nas premissas de individualidade, humanidade e qualidade, assumindo que a comunicação com a criança e família é a chave para o estabelecimento da relação terapêutica. “As condições

fundamentais de humanização à criança e família, estão relacionadas directamente com a comunicação eficaz, desde a admissão e acolhimento da criança; ao apoio; e à informação fornecida, através da clareza das normas e protocolos de actuação de enfermagem, pois só assim se consegue, estimular o envolvimento da família na equipa, quer nos procedimentos quer no planeamento para a alta da criança” (Sérgio, 2002,

p.22). Neste sentido, o enfermeiro deve conseguir identificar os sinais de comunicação verbal e não-verbal, pois é principal meio para um verdadeiro cuidar (Esteves, 2011). A preparação da criança/família para cirurgia passa pelo enfermeiro perioperatório, enfermeiros do internamento, e pela sensibilização da equipa multidisciplinar de saúde, para a necessidade de estabelecer um diálogo prévio com a criança/família, tanto nas cirurgias programadas como de urgência (Rocha, 2001). Segundo Esteves (2011), o acolhimento pediátrico no Bloco Operatório, em todas as situações, deve respeitar os seguintes objectivos:

Aumentar a auto estima da criança / família; Melhorar a comunicação terapêutica;

Facilitar a expressão de sentimentos e duvidas; Fornecer informação;

Identificar e clarificar dúvidas e problemas;

Proporcionar à criança / família a vivência de uma experiência positiva.

Atendendo à individualidade de cada criança, o enfermeiro deve conhecer as características de cada fase de desenvolvimento infantil e adequar a sua intervenção àquela criança específica. Assim sendo, o quadro seguinte procura resumir as características fundamentais da teoria do desenvolvimento de Freud, Piaget, Erickson, Kolhberg e identificar o medo mais expressivo que ocorre em cada uma dessas etapas.

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Estágio/ Idade Teoria Psicossexual (Freud) Teoria Psicossocial (Erickson) Estágios Cognitivos (Piaget) Estágios do Julgamento Moral (Kohlberg) Medos I Infância nascimento ao 1º ano

Orossensorial Confiança versus

Desconfiança Sensório-motor (nascimento até aos 2 anos) --- Separação II Pré-Infância 1-3 anos

Anal-uretral Autonomia versus

Vergonha/ dúvida Pensamento pré-operacional (fase pré-conceitual) Nível pré-convencional (pré-moral) Separação/ Dependência forçada III Primeira Infância 3-6 anos Fálica-locomoção Iniciativa versus culpa Raciocínio pré- operacional Nível pré-convencional (pré-moral) Separação /Mutilação do Corpo IV Meia Infância 6-12 anos

Latência Esforço versus

inferioridade

Operações

concretas Nível convencional

Desconhecido / Mutilação do Corpo /Desempenho inadequado V Adolescência 12-18 anos Genitalidade Identidade versus confusão de identidades Operações formais Nível pós-convencional (Orientação do contrato social / Orientação do princípio da ética universal) Imagem corporal alterada /Morte

O enfermeiro perioperatório deve conseguir personalizar o acolhimento, estando desperto para as necessidades da criança e família e se necessário antecipar as suas intervenções (Esteves, 2011). Quando as acções de enfermagem no acolhimento são as

“(…) correctas existe uma maior facilidade da criança para compreender o que vai vivenciar ao nível da dor e ao mesmo tempo ter capacidade de elaborar estratégias alternativas de adaptação” (Sérgio, 2001, p.23). Do mesmo modo, o enfermeiro

perioperatório deve conseguir desenvolver um plano de cuidados, em colaboração directa com a criança e família, eficaz e eficiente, adequando-o à criança no seu todo (ser bio-psico-social). Contudo, neste processo de planeamento o enfermeiro tem de estar sensibilizado para possíveis factores condicionantes, como podem ser a: idade de desenvolvimento, maturidade, estado de consciência, capacidade de autocuidado, relação social, relação ajuda (Sérgio, 2002) e experiências anteriores.

“Para acolher ou cuidar de uma criança é necessário conhecê-la, saber quem ela é, quem a rodeia, quais os seus poderes/limitações e necessidades, pois só assim, é possível compreender o que contribuiu para o seu crescimento e aprendizagem ao experienciar a hospitalização e cirurgia” (Sérgio, 2001, p.22).

Referências

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