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PESQUISA EM EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL: O LÚDICO NO CONTEXTO DA ERA VARGAS

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Academic year: 2021

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PESQUISA EM EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL:

O LÚDICO NO CONTEXTO DA ERA VARGAS

Ensaio

Síntese do Projeto de Iniciação Científica apresentado ao Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional da Universidade Anhanguera. 2011.

Michelle Marcondes

RESUMO

Este projeto visa investigar, por meio de revisão bibliográfica e emprego de fontes impressas, a disseminação e aplicação das idéias de Pestalozzi e Froebel no Brasil sobre a educabilidade da criança antes dos sete anos de idade e a importância do lúdico no processo de aprendizagem. Em especial, a pesquisa se deterá em identificar mudanças e permanências na experiência dos parques infantis paulistas, em dois momentos diferenciados. O primeiro deles refere-se à gestão de Mario de Andrade (1935-1938), durante o governo de Getúlio Vargas. O segundo momento corresponde ao período de edição do Boletim Interno da Divisão de Educação, Assistência e Recreio da Secretaria de Educação e Cultura (1947-1957).

Palavras-chave: Educação Lúdica, Parques Infantis, História da Educação, Psicologia da

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INTRODUÇÃO

Ao tentar delinear a História da Educação Infantil através do trabalho de pesquisadores de diversos países, percebe-se que a concepção de infância é uma construção histórica e social. A ideia de infância foi sendo alterada ao longo dos anos, pois cada época e cultura caracterizavam a criança de uma forma. Rocha (2004) diz que não é possível definir precisamente o que é infância, pois se partimos do pressuposto que as crianças não vivem a infância de forma homogênea, considerando a diversidade dos aspectos: econômico, social, cultural, lúdico, alimentar, podemos então entender que o que identifica a criança é o fato de constituir-se num ser humano de pouca idade.

Durante séculos pensou-se que as crianças fossem como uma página em branco, na qual a cada dia era preenchida uma folha, preparando-as para a vida adulta. A discussão sobre a escolaridade obrigatória da criança se intensificou em vários países europeus nos séculos XVIII e XIX, quando as revoluções burguesas introduziram a necessidade de elaboração de novos métodos educacionais, adequados à nova ordem social, enfatizando a importância da educação para o desenvolvimento social. Esse clima influiu no trabalho dos pioneiros da Educação Infantil. Autores como Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Decroly, Froebel e Montessori, estabeleceram as bases para um ensino mais centrado na criança, principalmente as crianças em idade pré-escolar.

No delineamento da educação da criança, pode-se destacar Jean Jacques Rousseau (1712-1772); suas idéias muito influenciaram na educação da modernidade. Foi ele quem centralizou a questão da infância na educação, evidenciou a necessidade de romper com a concepção que definia a criança como um homem pequeno, mas que se deveria considerar que ela vive em um mundo próprio e que cabe ao adulto estudá-la para compreendê-la. Rousseau criou uma proposta educacional que combatia preconceitos, autoritarismos e todas as instituições sociais que pudessem violar a liberdade característica da natureza. Ressaltava que a criança deveria aprender por meio da experiência, de atividades práticas, da observação, da livre movimentação. Ao destacar a emoção sobre a razão e defender a curiosidade e a liberdade buscadas pelo homem, criou condições para posteriores discussões sobre a brincadeira infantil.

Ainda no século XVIII, no ápice da Revolução Francesa, pode-se destacar a figura de Pestalozzi (1746-1827), que também reagiu contra o intelectualismo excessivo da educação tradicional. Pestalozzi acreditava que a força vital da educação estaria na bondade e no amor.

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Para a mentalidade contemporânea, amor talvez não seja a primeira palavra que venha à cabeça quando se fala em ciência, método ou teoria. Mas o afeto teve papel central na obra de pensadores que lançaram os fundamentos da pedagogia moderna. Nenhum deles deu mais importância ao amor, do que o suíço Johann Heinrich Pestalozzi, que sustentava a ideia de que a educação deveria cuidar do desenvolvimento efetivo da criança. Educar deveria ocorrer em um ambiente mais natural possível, num clima de disciplina estrita, mas amorosa. "A criança, na concepção de Pestalozzi, era um ser puro, bom em sua essência e possuidor de uma natureza divina que deveria ser cultivada e descoberta para atingir a plenitude", diz Alessandra Arce, professora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto. (ARCE-2002). A escola que Pestalozzi idealizou deveria ser não só uma extensão do lar e sim inspirar-se no ambiente familiar, para que se pudesse oferecer a criança segurança e afeto de que necessitavam. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, o pensador suíço não concordava que a educação deveria ocupar toda a atenção da criança com informações. O que importava para Pestalozzi não era a conteúdo, mas o desenvolvimento das habilidades e dos valores. Portanto, a aprendizagem para ele seria conduzida pelo próprio aluno, com base na experimentação, na prática e na vivência sensorial, emocional e intelectual do conhecimento. Para ele, a aprendizagem da criança, deveria partir do concreto para o abstrato, em tese é a idéia do "aprender fazendo", amplamente incorporada pela maioria das escolas pedagógicas posteriores a Pestalozzi. As concepções de Pestalozzi foram levadas adiante por Froebel.

O alemão Friedrich Froebel (1782-1852) foi um dos primeiros educadores a considerar o início da infância como uma fase de importância decisiva na formação das pessoas, e, por essa razão, passou então a se preocupar com a educação dessas crianças pequenas. Essas ideias acarretaram mudanças significativas para os dias de hoje, e foram consagradas pela psicologia, ciência da qual Friedrich Froebel foi precursor. Para Froebel, a educação deveria basear-se na evolução natural das atividades da criança, pois o verdadeiro desenvolvimento advém de atividades espontâneas. O objetivo do ensino é sempre extrair mais do homem do que colocar mais e mais dentro dele. Os currículos escolares deveriam basear-se nas atividades e interesses de cada fase da vida da criança.

Com sua preocupação com as crianças pequenas, e em idade pré-escolar, Froebel em 1840, funda o primeiro jardim-de-infância (Kindergarten), um espaço para orientar e cultivar nas crianças menores de 6 anos, suas tendências divinas e seus talentos. O nome Kindergarten (em alemão, kind significa criança e garten significa jardim) reflete um dos princípios de Froebel, o de que a criança é como uma planta em sua fase de formação, exigindo cuidados

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periódicos para que cresça de maneira saudável. Para ele, a infância, assim como uma planta, deveria ser objeto de cuidado atencioso: receber água, crescer em solo rico em nutrientes e ter a luz do sol na medida certa. O jardim é um lugar onde essas plantas recebem os cuidados do jardineiro. Mas o jardineiro deveria saber as necessidades de cada planta e respeitar seu processo de desenvolvimento natural. “Ele procurava na infância o elo que igualaria todos os homens, sua essência boa e divina ainda não corrompida pelo convívio social”, diz Alessandra Arce (2002).

O Jardim de Infância de Froebel caracteriza-se por atividades como: canto, jogos, pinturas, palestras, jardinagem, modelagem, observação, gravuras e ouvir histórias. Froebel criou um material pedagógico rico, constituído por sólidos geométricos, gravuras coloridas, trabalhos manuais que consistiam em exercícios sensório-motores (pintura, desenho, recorte, colagem, tecelagem, bordados, etc.), valorização de histórias, mitos, lendas, contos de fadas e fábulas. O pensador acreditava, ainda, que as brincadeiras se constituíam no principal recurso para a aprendizagem, não estando àquelas limitadas simplesmente à diversão, visualizava nos jogos e atividades lúdicas o aprendizado autônomo, construído pela própria criança levando ao processo de auto-educação. Froebel adotava, assim, a idéia contemporânea do “aprender a aprender”. Froebel faleceu em 1852, tendo seus jardins-de-infância proibidos em seu país, mas isso não impediu que de suas ideias fossem disseminadas pelo mundo por diversos admiradores de seu trabalho.

A história da educação infantil em nosso país acompanhou, de certa forma, a história europeia, havendo, é claro, características que lhe são próprias. Até meados do século XIX, o atendimento de crianças pequenas, longe da mãe, em creches ou parques infantis praticamente não existia; o crescimento populacional e a industrialização e, posteriormente, a inserção feminina no mercado de trabalho, abriram espaço para uma importante e determinante questão pra se pensar em educação da criança pequena: a quem caberia o cuidado da infância enquanto os pais estivessem trabalhando?

Com a finalidade de atender aos filhos dos trabalhadores surgem as primeiras instituições voltadas ao atendimento da infância no Brasil com a ideia de oferecer “assistência” e “amparo”. Assim, as creches, estiveram, durante muito tempo vinculadas a instituições filantrópicas ou órgãos de assistência e bem-estar social, e não aos órgãos educacionais. O Jardim de Infância foi a primeira instituição pública de atendimento à criança criada no Brasil. Os primeiros Jardins de Infância brasileiros receberam forte influência de Froebel, que pleiteava o desenvolvimento de um trabalho sistemático com as crianças pequenas, fundamentado em jogos e brincadeiras, seguindo rotina de atividades que tinham

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sobretudo um caráter disciplinador, visando promover uma boa formação moral. Um dos primeiros jardins de infância implantados no país foi criado no ano de 1896, como anexo à antiga Escola Normal do Estado, Caetano de Campos, localizada na cidade de São Paulo. (KUHLMANN JR., 1998).

O LÚDICO

Com a finalidade de atender aos filhos dos trabalhadores, em 1935 foram criados os primeiros Parques Infantis, distribuídos em bairros de grande concentração de operários na cidade de São Paulo. Estes parques estavam ligados ao Departamento de Cultura do município de São Paulo e não vinculado ao Departamento de Educação da cidade. Tendo Mário de Andrade como principal idealizador, além de diretor. A partir da década de 1940, os parques infantis difundiram-se pelo Brasil. (FARIA, 1999). Durante os três primeiros anos de funcionamento (1935-1938), na gestão de Mário de Andrade, os parques infantis integravam projeto governamental de educação não-escolar para as crianças pequenas de família operária. Para os idealizados desse projeto, os parques seriam um meio de garantir às crianças o direito à infância; o direito a brincar, a não trabalhar, a expressarem-se das mais variadas formas e intensidades, promovendo o exercício em suas diversas dimensões, com atividades lúdicas, artísticas e do imaginário. Atividades que possibilitariam a construção do conhecimento espontâneo, da cultura infantil e seu intercâmbio com os adultos e suas culturas.

O lúdico sempre teve um papel essencial no processo de ensino-aprendizagem da criança. Essa teoria do lúdico praticamente surgiu junto com a concepção e o entendimento da importância da Educação Infantil para o desenvolvimento do ser humano até a fase adulta, hoje comprovada pela psicologia, mas que deve o agradecimento às teorias de Froebel. Os parques infantis, criados por Mário de Andrade em 1935, podem ser considerados como a origem da rede de educação infantil paulistana (FARIA, 1995) – a primeira experiência brasileira pública municipal de educação (embora não-escolar).

Portanto, esse levantamento bibliográfico levará a compreender melhor a legislação atual referente à educação infantil, bem como a criação de instituições voltadas ao atendimento da infância, tendo como referência o estado de São Paulo. E, contudo, destacar a importância deste estudo como forma de compreender a importância atual do lúdico na

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educação de 0 a 7 anos, e em especial pelo ingresso das crianças com 6 anos no ensino fundamental.

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo: Moderna, 2006.

ARCE, Alessandra. A pedagogia na “Era das Revoluções”: uma análise do pensamento de Pestalozzi e Froebel. Campinas: Autores Associados, 2002.

ARCE, Alessandra. Friedrich Froebel: o pedagogo dos jardins de infância. Petrópolis: Vozes.

ARCE, Alessandra. O Jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no

pensamento educacional de Friedrich Froebel. Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 9-25, abril 2004 .

BASTOS, Maria Helena Câmara. Apresentação. In FROEBEL, Friedrich W.A. A Educação do Homem. Passo Fundo, RS : UFP, 2001.

Boletim Interno da Divisão de Educação, Assistência e Recreio da Secretaria de Educação e Cultura. Disponível em www.fcc.org.br/pesquisa/jsp/educacaoInfancia/index.jsp

FARIA Ana Lucia Goulart. A contribuição dos parques infantis de Mário de Andrade para a construção de uma pedagogia da educação infantil. In: Educação e Sociedade, ano XX, n.69, dezembro 1999, p.60-89.

FROEBEL, Friedrich W.A. A educação do Homem. Passo Fundo, RS: UFP, 2001.

KUHLMANN JÚNIOR, Moysés. Infância e Educação Infantil: uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998.

LIMA, Náfren Ferreira. História e sentimento da criança, Encontro Estadual de Didática e Prática de Ensino, 2011. Disponível em www.ceped.ueg.br/anais/ivedipe/resumos.htm. OLIVEIRA, ZILMA RAMOS. Educação Infantil - Fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2011.

RAU, Maria Cristina Trois de Dorneles. A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica. Curitiba: Ibpex, 2011.

ROCHA, Eloísa A. C.A Pesquisa em Educação Infantil no Brasil: Trajetória Recente e Perspectivas de Consolidação de uma Pedagogia. Campinas: UNICAMP, tese de doutorado, 1999.

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