Universidade Federal da Bahia
Instituto de Matem´
atica
Curso de P´os-Graduac¸˜ao em Matem´atica
Dissertac
¸˜
ao de Mestrado
Hipersuperf´ıcies Completas tipo Espac
¸o com Curvatura
M´
edia Constante no Espac
¸o de De Sitter
Ricardo Luiz Queiroz Freitas
Salvador-Bahia
Hipersuperf´ıcies Completas tipo Espac
¸o com Curvatura
M´
edia Constante no Espac
¸o DE SITTER
Disserta¸c˜ao apresentada ao cole-giado do curso de P´os-Gradua¸c˜ao em Matem´atica da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obten¸c˜ao do T´ıtulo de Mestre em Matem´atica em 14 de mar¸co de 2008.
Banca examinadora
Prof. Dr. Jos´e Nelson Bastos Barbosa (Orientador)
Prof. Dr. ´Ezio de Ara´ujo Costa
Freitas, R.
“Hipersuperf´ıcies Completas tipo Espac¸o com Curvatura M´edia Cons-tante no Espac¸o DE SITTER” / Ricardo Luiz Queiroz Freitas. Salvador-Ba, 2008.
Orientador: Dr. Jos´e Nelson Bastos Barbosa (UFBA).
Disserta¸c˜ao de Mestrado apresentada ao curso de P´os-gradua¸c˜ao em Matem´atica da UFBA, 39 p´aginas.
Palavras-Chave: Espa¸co de De Sitter, Hipersuperf´ıcies, Curvatura m´edia
“Na vida, n˜ao vale tanto o que temos nem tanto im-porta o que somos. Vale o que realizamos com aquilo que possu´ımos e, acima de tudo, importa o que fazemos de n´os”.
Agradecimentos
A todos os professores respons´aveis por esta vit´oria e em especial, aos professores: Enaldo Silva Vergasta, Marco Antˆonio Nogueira Fernandes, Isaac Costa L´azaro, Carlos Eduardo Nogueira Bahiano, David Arneson Hill, Augusto Armando de Castro J´unior, todos da Universidade Fed-eral da Bahia.
A todos os amigos e colegas que torceram por mim e que de alguma forma contribu´ıram para essa minha vit´oria, especialmente aos colegas Elias, Eliseu, Mariana, Jarbas, Yuri, Kleyber e B´arbara e ao grande amigo Paulo Henrique.
A meus pais e irm˜aos por toda a for¸ca nos momentos de dificuldades.
Gostaria tamb´em de agradecer a todos os colegas e funcion´arios do Instituto de Matem´atica e aos professores: ´Ezio de Ara´ujo Costa e Abdˆenago Alves de Barros, os quais compuseram a banca examinadora e que verificaram com tanto zelo esta disserta¸c˜ao. Um agradecimento especial ao Professor Jos´e Nelson Barbosa pela orienta¸c˜ao no desenvolvimento e pelo tema escolhido para esta disserta¸c˜ao.
Resumo
Seja Mn uma hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa com curvatura m´edia constante H no espa¸co de Sitter Sn+11 . Usaremos o operador φ = A− HI, onde A ´e o tensor de Weingarten associado `a segunda forma fundamental de M , e as ra´ızes BH− ≤ BH+ de um certo polinˆomio de grau dois, para mostrar que ou |φ|2 ≡ 0 e M ´e totalmente umb´ılica, ou BH− ≤ sup |φ|2 ≤
BH+. Para o caso H ≥ 2
√ n− 1
n mostramos os seguintes resultados: para cada n´umero B
no intervalo
max{0, BH−}, BH+
existe uma hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa com curvatura m´edia constante tal que sup|φ|2 = B; se sup|φ|2 = BH− ´e atingido em algum ponto, ent˜ao a hipersuperf´ıcie M correspondente ´e um cilindro hiperb´olico.
Sum´
ario
Resumo vii
Introdu¸c˜ao 1
1 Preliminares 5
2 O Modelo do Hiperbol´oide n-dimensional Hn−1
r2 para o Espa¸co Hiperb´olico 15
3 O Produto Hk−1 r2 × S
n−k(√1 + r2) 19
4 As Hipersuperf´ıcies Rotacionais 24
Introdu¸
c˜
ao
Seja Ln+2 o espa¸co euclidiano (n + 2)-dimensional com a m´etrica de Lorentz ( , ) dada por
(p, q) =−p0q0+ p1q1+ . . . + pn+1qn+1. Definimos o Espa¸co de De Sitter por
Sn+11 ={p ∈ Ln+2; (p, p) = 1}.
Dessa forma, Sn+11 ´e uma variedade de Lorentz com curvatura seccional constante igual a 1. Uma hipersuperf´ıcie Mn imersa emSn+11 ´e dita tipo espa¸co se a m´etrica induzida em Mn pela imers˜ao em Sn+11 ´e riemanniana.
O estudo desses tipos de hipersuperf´ıcies foi inspirado, em particular, por uma conjectura apresentada por A. J. Goddard [7] afirmando que toda hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa com curvatura m´edia constante em Sn+11 deve ser totalmente umb´ılica. O primeiro resultado nesta dire¸c˜ao foi obtido por J. Ramanathan [15] em 1987. Ele mostrou que se a curvatura m´edia
H de uma hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa em S13 ´e constante e satisfaz H2 < 1, ent˜ao a hipersuperf´ıcie ´e totalmente umb´ılica. Independentemente, e ainda em 1987, K. Akutagawa [1] provou a conjectura de Goddard para o caso H2 < 4(n− 1)
n2 , com n ≥ 2. Por outro lado, S.
Montiel [10] provou a conjectura para o caso compacto. Esses resultados levaram `a conclus˜ao de que a conjectura geral era falsa, como mostrado pela existˆencia dos ent˜ao chamados cilindros hiperb´olicos, os quais s˜ao completos, n˜ao umb´ılicos e isom´etricos a um produto H1( senh t)×
Sn−1( cosh t) de um ramo hiperb´olico com uma esfera (n− 1)-dimensional. Esses cilindros ser˜ao definidos e descritos neste trabalho.
Nos restringiremos `as hipersuperf´ıcies tipo espa¸co completas com curvatura m´edia constante n˜ao nula porque as hipersuperf´ıcies m´aximas (H = 0) no Espa¸co de De Sitter s˜ao totalmente geod´esicas.
Dada uma hipersuperf´ıcie tipo espa¸co Mn com curvatura m´edia constante H, para cada
p∈ Mn, definimos φ : TpM → TpM por
em que A ´e o operador associado `a segunda forma fundamental de M . Observe que
φ = A− HI
φ· φ∗ = (A − HI)(A ∗ −HI) = AA ∗ −2HAI + H2I
tr(φφ∗) = tr(AA∗) − 2H tr(A) + nH2 = tr(AA∗) − nH2=|A|2− nH2 =|φ|2 Verifica-se, facilmente, que tr(φ) = 0 e que |φ|2 = 1
2n
i,j
(ki− kj)2, onde os n´umeros ki,
i = 1, ..., n, s˜ao os autovalores de A. Dessa forma, |φ|2 = 0 se, e somente se, M ´e totalmente umb´ılica.
O operador φ mostrou-se ´util no estudo das hipersuperf´ıcies com curvatura m´edia constante no ambiente riemanniano. Por exemplo, H. Alencar e M. do Carmo [2] provaram um “teorema de gap” para hipersuperf´ıcies compactas com curvatura m´edia constante na esfera euclidiana unit´aria Sn+1, caracterizando o H(r)-toro por uma condi¸c˜ao sobre |φ|2.
1.1 Teorema (Alencar, do Carmo). Seja Mnuma hipersuperf´ıcie compacta e orient´avel imersa em Sn+1 com curvatura m´edia constante H > 0. Suponha que |φ|2 ≤ BH para cada p ∈ M,
onde BH ´e o quadrado da raiz positiva do polinˆomio PH(x) = x2+ n(n− 2)H
n(n− 1)x− n(H
2+ 1).
Ent˜ao, |φ|2 ≡ 0 e M ´e totalmente umb´ılica ou |φ|2 ≡ BH e Mn ´e isom´etrico ao H(r)-toro
Sn−1(r)× S1(√1− r2), onde r2 < n− 1
n .
U. H. Ki, H. J. Kim e H. Nakagawa [8] usaram uma vers˜ao de Lorentz do polinˆomio PH
para encontrar um limite superior para|φ|. Eles mostraram que uma hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa em Sn+11 com curvatura m´edia constante H ≥ 2
√ n− 1
n e |φ| constante e igual a este
limite superior ´e um Cilindro Hiperb´olico.
Nesta disserta¸c˜ao apresentaremos os teoremas contidos no artigo de A. Brasil, G. Colares e O. Palmas [3], intitulado “complete spacelike hypersurfaces with constant mean curvature in the de Sitter space: a gap theorem”, que estendem alguns resultados mencionados acima. No primeiro teorema, usa-se PH para obter uma estimativa para|φ|, com limites inferior e superior.
1.2 Teorema. Seja Mn uma hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa imersa emSn+11 , n≥ 3, com curvatura m´edia constante H > 0. Ent˜ao sup|φ|2 <∞ e
(i) |φ| ≡ 0 e M ´e totalmente umb´ılica; ou
(ii)BH− ≤ sup |φ|2 ≤ BH+, onde BH− ≤ BH+ s˜ao as ra´ızes do polinˆomio PH(x) = x2−n(n− 2)H
n(n− 1)x + n(1− H
Verifica-se que PH tem ra´ızes reais se, e somente se, H ≥ 2
√ n− 1
n . Como uma conseq¨uˆencia
do Teorema 1.2, n˜ao existe nenhuma hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa com curvatura m´edia constante H ≥ 2
√ n− 1
n tal que 0 < sup|φ|2 < B
−
H. Diremos que para cada constante H ≥
2√n− 1
n , existe uma lacuna entre uma hipersuperf´ıcie umb´ılica (|φ| ≡ 0) e uma hipersuperf´ıcie
com sup|φ|2 = BH−, com curvaturas m´edias H. O ”gap”para 0≤ H < 2
√ n− 1
n foi provado
por Akutagawa [1], conforme citado anteriormente. Para o caso H ≥ 2
√ n− 1
n tamb´em mostraremos que n˜ao existe ”gap”entre as ra´ızes de PH, isto ´e, provaremos que para cada n´umero B no intervalo
max{0, BH−}, BH+
existe uma hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa com curvatura m´edia constante H tal que sup|φ|2 = B. Estes exemplos constituem uma classe de novas hipersuperf´ıcies de rota¸c˜ao com curvatura m´edia constante em Sn+11 . Mais precisamente, apresentaremos a prova do seguinte teorema:
1.3 Teorema. Dado um inteiro n ≥ 3 e uma constante H tal que H ≥ 2
√ n− 1
n , sejam BH− ≤ BH+ as ra´ızes do polinˆomio PH . Ent˜ao,
(i) Para qualquer valor B no intervalo
max{0, BH−}, BH+
existe uma hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa em Sn+11 com curvatura m´edia constante H e sup|φ|2 = B.
(ii) Se, al´em disso, H = 2 √
n− 1
n , existe uma hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa em S
n+1
1
com curvatura m´edia constante H e sup|φ|2 = BH+ que n˜ao ´e um Cilindro Hiperb´olico.
Apresentaremos tamb´em o teorema abaixo que ´e uma generaliza¸c˜ao de um resultado provado por Montiel [11]. No trabalho de Montiel esse resultado ´e provado para o caso H = 2
√ n− 1
n .
1.4 Teorema. Seja Mn uma hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa imersa emSn+11 , n≥ 3, com curvatura m´edia constante H de modo que 2
√ n− 1 n ≤ H < 1 e sup |φ|2 = B − H. Este supremo ´
e atingido se, e somente se, M ´e isom´etrico ao Cilindro Hiperb´olico H1( senh t)× Sn−1( cosh t).
Nossos resultados podem ser interpretados graficamente pela figura seguinte, onde associ-amos a cada hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa Mn com curvatura m´edia constante H, o par de coordenadas
H, sup|φ|2
no primeiro quadrante de um 2-plano.
1
H
1 empty new rotation hypersurfaces hypersurfaces umbilic x (cylinders) x xφ
2 + c c− n 2 n n 1<k<2n H x S 1<k< H S H S H S n 2 n 2 2sup
n− n− <k<n− k k n− n− n− n− 2 k k 1 n−1 k(n− )k k 2 n 1 1 1Nosso trabalho ´e constitu´ıdo de cinco cap´ıtulos. No cap´ıtulo 1 trataremos de alguns con-ceitos b´asicos que ser˜ao utilizados nas demonstra¸c˜oes dos resultados principais. Analisaremos, tamb´em os tensores curvatura e de Ricci para as hipersuperf´ıcies imersas emSn+11 , encontrando um limite inferior para a curvatura de Ricci de M . Al´em disso, faremos uma demonstra¸c˜ao da F´ormula de Simmons usando c´alculo tensorial. Essa f´ormula, que j´a foi usada em diversos artigos, ´e de extrema importˆancia para as provas dos teoremas centrais do nosso trabalho.
No cap´ıtulo 2 faremos uma descri¸c˜ao do espa¸co Hn−1 r2
o qual denotaremos como o modelo do Hiperbol´oide n-dimensional para o Espa¸co Hiperb´olico. Veremos que este se constitui numa hipersuperf´ıcie do Espa¸co de Lorentz Ln+1.
Analisaremos, no cap´ıtulo 3, as hipersuperf´ıcies do tipo Hk−1 r2 × S
n−k(√1 + r2) → Sn+1
1 , a
partir das quais definiremos o cilindro hiperb´olico. Essas hipersuperf´ıcies aparecer˜ao em di-versos resultados do nosso trabalho e mostraremos que a curvatura m´edia e a segunda forma fundamental das mesmas s˜ao constantes.
Finalmente, antes de demonstrarmos nossos resultados principais no cap´ıtulo 5, faremos, no cap´ıtulo 4, uma breve explana¸c˜ao das hipersuperf´ıcies rotacionais, que correspondem a uma fam´ılia de hipersuperf´ıcies completas em Sn+11 com curvatura m´edia constante H ≥ 2
√ n− 1
n e
sup|φ|2 = B para cada B∈
max 0, BH− , BH+ conforme teorema 1.3.
Cap´ıtulo 1
Preliminares
Nesta se¸c˜ao abordaremos algumas defini¸c˜oes e resultados importantes que ser˜ao utilizados nas demonstra¸c˜oes dos teoremas contidos no nosso trabalho.
Seja Mn uma hipersuperf´ıcie completa tipo espa¸co de dimens˜ao n imersa no Espa¸co de De Sitter de dimens˜ao n + 1, que denotaremos porSn+11 . Representamos por B sua segunda forma fundamental
B(X, Y ) =∇XY − ∇XY
onde X, Y s˜ao campos de vetores em M , e ∇ e ∇ s˜ao as conex˜oes m´etricas de Sn+11 e M , respectivamente. Se N ´e um campo normal unit´ario local em M , temos
B(u, v) =−Au, v N
onde u, v ∈ T M e A ´e o operador de forma associado `a segunda forma fundamental de M. Como A ´e uma aplica¸c˜ao linear sim´etrica, existe uma base ortonormal{e1, . . . , en} de TpM tal
que Aei = kiei, i = 1, . . . , n. Temos, por defini¸c˜ao, que a curvatura m´edia H de M ´e dada por
H = 1 n
i
ki.
Primeiramente, vamos encontrar um limite inferior para a curvatura de Ricci. Seja a curvatura R de M dada por
R(X, Y )Z =∇X∇YZ− ∇Y∇XZ− ∇[X,Y ]Z.
Ent˜ao a equa¸c˜ao de Gauss ser´a dada por
R(u, v)w, z = −R(u, v)w, z − B(v, z), B(u, w) + B(u, z), B(v, w) ,
com u, v, w, z∈ T M e R o tensor curvatura de Sn+11 .
Observe que R(u, v)w, z = u, w v, z − u, z v, w pois Sn+11 tem curvatura seccional constante igual a 1. Dessa forma, temos
R(u, v)w, z
= − (u, w v, z − u, z v, w ) − −Av, z N, −Au, w N + −Au, z N, −Av, w N = −u, w v, z + v, w u, z + Au, w Av, z − Av, w Au, z
= −u, w v + v, w u + Au, w Av − Av, w Au, z (1.1) que ´e o tensor curvatura de M .
Usando a defini¸c˜ao de tensor de Ricci e o resultado obtido acima, teremos para x, y∈ T M e {ei} um referencial ortonormal de T M Ric(x, y) = i R(ei, x)y, ei = i
(x, y ei, ei − ei, y x, ei − Ax, y Aei, ei + Aei, y Ax, ei )
= nx, y − x, y − Ax, y i Aei, ei + i ei, Ay Ax, ei
= nx, y − x, y − Ax, y trA + Ax, Ay
= (n− 1)x, y − nHAx, y + A2x, y .
Calculando a curvatura de Ricci de M na dire¸c˜ao de um vetor ei de uma base ortonormal{ei}
de TpM obtemos
Ric(ei) = (n− 1)ei, ei − nHAei, ei + A2ei, ei
= n− 1 − nHki+ k2i = n− 1 + ki2− nHki+n 2H2 4 − n2H2 4 = n− 1 + ki−nH 2 2 −n2H2 4 ≥ n − 1 − n2H2 4 , ou seja, Ric(ei)≥ n − 1 + ki−nH 2 2 − n2H2 4 ≥ n − 1 − n2H2 4
Assim, temos que a curvatura de Ricci de M ´e limitada inferiormente, uma vez que a mesma n˜ao depende da base ortonormal escolhida.
Apresentaremos, agora, uma demonstra¸c˜ao da f´ormula de Simmons utilizando ferramentas do c´alculo tensorial. Essa f´ormula j´a foi usada em diversos artigos e ser´a fundamental para as demonstra¸c˜oes dos resultados principais deste trabalho. Vejamos, antes, algumas defini¸c˜oes e proposi¸c˜oes.
1.1 Definic¸ ˜ao. Sejam f : Mn→ Qn+1c uma hipersuperf´ıcie onde Qn+1c tem curvatura seccional
constante c e A : T M → T M o tensor de Weingarten. Definimos a derivada covariante de A, como sendo a aplica¸c˜ao ∇A dada por
∇A : T M × T M → T M
1.2 Proposic¸˜ao. A aplica¸c˜ao ∇A ´e bilinear, isto ´e, para todo X, Y , Z ∈ T M e para todo
f ∈ C∞(M ),
(i) ∇A(X + fY , Z) = ∇A(X, Z) + f∇A(Y , Z) (ii) ∇A(X, Y + fZ) = ∇A(X, Y ) + f∇A(X, Z).
Prova. (i):
∇A(X + fY , Z) = ∇X+fYAZ − A (∇X+fYZ)
= ∇XAZ + f∇YAZ− A∇XZ− fA∇YZ
= ∇A(X, Z) + f∇A(Y , Z) (ii):
∇A(X, Y + fZ) = ∇XA(Y + f Z)− A (∇X(Y + f Z))
= ∇XAY +∇Xf AZ − A (∇XY )− A (∇Xf Z)
= ∇A(X, Y ) + f∇XAZ + X(f )AZ− Af∇XZ− AX(f)Z
= ∇A(X, Y ) + f∇XAZ− A (f∇XZ)
= ∇A(X, Y ) + f {∇XAZ− A (∇XZ)}
= ∇A(X, Y ) + f∇A(X, Z)
1.3 Proposic¸˜ao. A aplica¸c˜ao ∇A ´e sim´etrica, isto ´e, ∇A(X, Y ) = ∇A(Y , X), para todo
X, Y ∈ T M.
Prova. Como Qn+1c tem curvatura seccional constante e f tem codimens˜ao 1, a equa¸c˜ao
de Codazzi de f se reduz a
∇X(AY )− ∇Y(AX) = A ([X, Y ]) = A (∇XY )− A (∇YX) ,
Logo
∇X(AY )− A∇XY =∇YAX− A∇YX,
provando assim a proposi¸c˜ao.
1.4 Definic¸ ˜ao. A segunda derivada covariante de A ´e definida como sendo a aplica¸c˜ao
∇2A : T M× T M × T M → T M
∇2A(X, Y , Z) = ∇X(∇A(Y , Z)) − ∇A (∇XY , Z)− ∇A (Y , ∇XZ)
1.5 Proposic¸˜ao. A aplica¸c˜ao∇2A satisfaz∇2A(X, Y , Z) =∇2A(X, Z, Y ), para todo X, Y , Z ∈
T M .
Prova. Segue da proposi¸c˜ao 1.3.
1.6 Proposic¸˜ao. A aplica¸c˜ao ∇2A satisfaz ∇2A(X, Y , Z) =∇2A(Y , X, Z) + R(X, Y )(AZ)−
A (R(X, Y )Z), para todo X, Y , Z ∈ T M.
Prova. Temos que
∇2A(X, Y , Z) = ∇X(∇A(Y , Z)) − ∇A (∇XY , Z)− ∇A (Y , ∇XZ)
= ∇X∇YAZ− ∇XA (∇YZ)− ∇∇XYAZ + A (∇∇XYZ) −∇YA (∇XZ) + A (∇Y∇XZ) e ∇2A(Y , X, Z) = ∇Y∇XAZ− ∇YA (∇XZ)− ∇∇ YXAZ +A (∇∇YXZ)− ∇XA (∇YZ) + A (∇X∇YZ) .
Assim, usando a f´ormula (1.1) do tensor curvatura de M conclui-se que
∇2A(X, Y , Z)− ∇2A(Y , X, Z) = R(X, Y )(AZ)− A (R(X, Y )Z)
1.7 Definic¸ ˜ao. Dado um tensor sim´etrico ϕ : T M× T M → T M, definimos o tra¸co de ϕ como
sendo o campo tr ϕ dado por
tr ϕ =
n
i=1
ϕ(Ei, Ei),
onde {Ei, . . . , En} ´e um referencial ortonormal.
1.8 Observa¸c˜ao. Da teoria da ´Algebra Linear, podemos concluir que a defini¸c˜ao anterior inde-pende do referencial ortonormal escolhido.
1.9 Proposic¸˜ao. Nas condi¸c˜oes anteriores tr(∇A) = grad(tr A).
Prova. Escolha {E1, . . . , En} referencial principal, isto ´e, A · Ei = λiEi. (1) grad(tr A), Y = Y (tr A) = Y i AEi, Ei = i ∇YAEi, Ei + i AEi,∇YEi , para todo Y ∈ T M.
De fato, ∇A e , s˜ao sim´etricos e ∇A(X, Y ), Z = ∇XAY − A (∇XY ) , Z = ∇XAY , Z − A (∇XY ) , Z = XAY , Z − AY , ∇XZ − ∇XY , AZ = XY , AZ − Y , A (∇XZ) − ∇XY , AZ = XY , AZ − Y , A (∇XZ) − {X Y , AZ − Y , ∇XAZ } = Y , ∇XAZ − Y , A (∇XZ) = Y , ∇A(X, Z) = ∇A(X, Z), Y .
(3) Como∇A(X, Y ), Z n˜ao muda com as permuta¸c˜oes de X, Y e Z, temos para todo Y , que
tr(∇A), Y = i ∇A(Ei, Ei), Y = i ∇A(Ei, Ei), Y = i ∇A(Y , Ei), Ei = i ∇YAEi− A (∇YEi) , Ei = i ∇YAEi, Ei − i AEi,∇YEi .
(4) Temos ainda que
AEi,∇YEi = λiEi,∇YEi = λiEi,∇YEi = λi·1
2· Y Ei, Ei = 0. Logo de (1), (2), (3) e (4) segue que
tr(∇A) = grad(tr A).
1.10 Definic¸ ˜ao. Seja X ∈ T M . Definimos o tensor ΓX como
ΓX : T M× T M → T M
ΓX(Y , Z) = ∇2A(X, Y , Z).
Pela proposi¸c˜ao 1.5 temos que ΓX ´e sim´etrico.
1.11 Proposic¸˜ao. Para cada X ∈ T M , tr ΓX = n∇Xgrad H, onde H ´e a curvatura m´edia de f : Mn→ Qn+1c .
Prova. Escolha {E1, . . . , En} um referencial geod´esico em p ∈ M, isto ´e, um referencial
ortonormal que satisfaz (∇EiEj) (p) = 0 com i, j = 1, . . . , n. Assim, tr ΓX = i ∇2A(X, Ei, Ei) = i ∇X(∇A(Ei, Ei))− 2 i ∇A (∇XEi, Ei) = ∇X i ∇A(Ei, Ei) − 2 i ∇A (∇XEi, Ei) = ∇X(tr∇A) − 2 i ∇A (∇XEi, Ei) = ∇X(grad(tr A))− 2 i ∇A (∇XEi, Ei) = n∇X(grad H)− 2 i ∇A (∇XEi, Ei) . Vamos mostrar, agora, que∇A (∇XEi, Ei) = 0 em p.
Se X = j xjEj, temos ∇A (∇XEi, Ei) = ∇A ∇ j xjEjEi, Ei = ∇A j xj∇EjEi, Ei = j xj∇A ∇EjEi, Ei .
Como∇A ´e um tensor, temos que ∇A
∇EjEi, Ei
(p) depende apenas dos valores de∇EjEie de
Eiem p. Como
∇EjEi
(p) = 0, segue que∇A
∇EjEi, Ei
(p) = 0 e, portanto,∇A (∇XEi, Ei) (p) =
0. Logo, tr ΓX(p) = n (∇Xgrad H) (p). Como p ´e arbitr´ario, temos o resultado desejado.
1.12 Definic¸ ˜ao. O Laplaciano de A ´e o 1-tensor dado por
ΔA : T M → T M ΔA(X) = tr (Y , Z)→ ∇2A(Y , Z, X) . Assim, se {E1, . . . , En} ´e um referencial ortonormal, temos que
ΔA(X) = i ∇2A(Ei, Ei, X) = i ∇2A(Ei, X, Ei) = i
∇2A(X, Ei, Ei) + R(Ei, X)AEi− AR(Ei, X)Ei
,
para X ∈ T M. Como a curvatura m´edia H da imers˜ao ´e suposta constante, segue da proposi¸c˜ao 1.11 que
i
Dessa forma, obtemos ΔA(X) = i R(Ei, X)AEi− i AR(Ei, X)Ei =
(X, AEi Ei− Ei, AEi X − AX, AEi AEi+AEi, AEi AX)
−A
i
(X, Ei Ei− Ei, Ei X − AX, Ei AEi+AEi, Ei AX)
.
Uma vez que X =
i
X, Ei Ei e
i
AEi, Ei = tr A = nH, conclu´ımos que
ΔA(X) = AX− nHX − A3X + (tr A2)AX− AX + nAX + A3X− nHA2X
= nAX− nHX + (tr A2)AX− nHA2X, (1.2) para cada X ∈ T M.
Veremos, agora, alguns conceitos e resultados que s˜ao conseq¨uˆencias imediatas da ´Algebra Linear.
1.13 Definic¸ ˜ao. Seja Mn uma variedade riemanniana. Dados A : T M → T M e B : T M →
T M 1-tensores em M , definimos o produto interno de 1-tensores como sendo a aplica¸c˜ao A, B : M → R
A, B (p) = A(p), B(p) = tr (A(p) · B(p)∗) ,
onde B(p)∗ denota o operador adjunto de B(p).
Por simplicidade , escreveremos
A, B = tr (A · B∗) .
1.14 Definic¸ ˜ao. Sejam C : T M × T M → T M e D : T M × T M → T M 2-tensores em M .
Definimos o produto interno desses 2-tensores como sendo a aplica¸c˜ao C, D : M → R
C, D (p) = C(p), D(p) =
i,j
C(p)(ei, ej), D(p)(ei, ej) ,
onde {e1, . . . , en} ´e base ortonormal de TpM .
´
E f´acil verificar que o produto interno acima est´a bem definido, ou seja, independe da base ortonormal escolhida. As normas de 1-tensores e 2-tensores s˜ao as normas provenientes do produto interno que denotaremos sempre por | , |. Para simplificar a nota¸c˜ao, n˜ao faremos distin¸c˜ao dos s´ımbolos de laplaciano de tensor e de laplaciano de fun¸c˜oes reais.
1.15 Proposic¸˜ao. Sejam A : T M → T M e B : T M → T M 1-tensores em M . Ent˜ao, ΔA, B = ΔA, B + A, ΔB + 2∇A, ∇B ,
em que ∇A ´e a derivada covariante de A.
Prova. Seja {E1, . . . , En} um referencial geod´esico em p ∈ M. Temos que A, B = tr (B∗· A) = j (B∗A)(Ej), Ej = j AEj, BEj Assim, ΔA, B (p) = i (EiEiA, B ) (p) = i EiEi j AEj, BEj (p) = i,j EiEiAEj, BEj (p) = i,j Ei(∇EiAEj, BEj + AEj,∇EiBEj ) (p) = i,j {∇Ei∇EiAEj, BEj + ∇EiAEj,∇EiBEj +∇EiAEj,∇EiBEj + AEj,∇Ei∇EiBEj } (p) = i,j ∇Ei∇EiAEj, BEj (p) + i,j AEj,∇Ei∇EiBEj (p) +2 i,j ∇EiAEj,∇EiBEj (p)
Vamos mostrar, nesta ´ultima express˜ao, que a primeira parcela ´e igual aΔA, B , a segunda, a A, ΔB e a terceira a 2∇A, ∇B .
Temos que ΔA, B = j ΔA(Ej), BEj = j i ∇2A(Ei, Ei, Ej), BEj = i,j
∇Ei∇A(Ei, Ej)− ∇A (∇EiEi, Ej)− ∇A (Ei,∇EiEj) , BEj .
Como∇EiEi e ∇EiEj se anulam em p (referencial geod´esico), conclu´ımos que
ΔA, B (p) =
i,j
∇Ei∇A(Ei, Ej), BEj (p).
Mas,
∇Ei∇A(Ei, Ej) =∇Ei(∇EiAEj − A (∇EiEj)) =∇Ei∇EiAEj− ∇EiA (∇EiEj) .
Usando a equa¸c˜ao de Codazzi, obtemos
∇Ei∇A(Ei, Ej) =∇Ei∇EiAEj−
∇∇EiEjAEi+ A ([Ei,∇EiEj])
. Como o referencial utilizado ´e geod´esico, temos, finalmente, que
Portanto,
ΔA, B (p) =
i,j
∇Ei∇EiAEj, BEj (p).
De modo an´alogo,
A, ΔB (p) =
i,j
AEj,∇Ei∇EiBEj (p).
Agora, vamos calcular ∇A, ∇B . Lembrando a defini¸c˜ao 3.13,
∇A, ∇B = i,j ∇A(Ei, Ej),∇B(Ei, Ej) = i,j ∇EiAEj− A (∇EiEj) ,∇EiBEj− B (∇EiEj) = i,j ∇EiAEj,∇EiBEj .
Isto conclui a prova da proposi¸c˜ao.
1.16 Corol´ario. Se A ´e auto-adjunta ent˜ao 1 2Δ
tr A2
=|∇A|2+A, ΔA .
Prova. Temos que
tr
A2
= tr (AA) = tr (AA∗) =A, A . Portanto, 1 2Δ tr A2 = 1 2ΔA, A = 1
2(ΔA, A + A, ΔA + 2∇A, ∇A ) = 1
2
2A, ΔA + 2|∇A|2
= |∇A|2+A, ΔA .
A partir da equa¸c˜ao 1.2, obtemos
A, ΔA =
A, nA− nHId + (tr A2)A− nHA2
= nA, A − nHA, Id + tr A2A, A − nHA, A2 = n tr A2− n2H2+
tr A2
2− nH tr A3
e pelo Corol´ario 1.16, teremos a f´ormula 1 2Δ tr A2 =|∇A|2+ n tr A2− n2H2+ tr A2 2− nH tr A3 , conhecida como a F´ormula de Simmons.
Ao inv´es do tensor de Weingarten A usaremos o tensor sim´etrico φ = A− HI , onde H ´e a curvatura m´edia de M . Dessa forma, teremos que trφ = 0. Al´em disso, a base {ei} tamb´em
diagonaliza φ, com autovalores μi = ki− H e
|φ|2 = i μ2i = 1 2n i,j (ki− kj)2.
De fato, i,j (ki− kj)2 = i,j ((ki− H) − (kj − H))2 = i,j (ki− H)2− 2 i,j (ki− H)(kj− H) + i,j (kj − H)2 = n|φ|2− 2 · 0 + n|φ|2 = 2n|φ|2
Desta forma, |φ|2 ≡ 0 se, e somente se, Mn ´e totalmente umb´ılica. Portanto, a f´ormula de Simmons com o tensor φ se escreve
1 2Δ tr φ2 =|∇φ|2+ tr φ2 2 − nH tr φ3+ n 1− H2 tr φ2.
Cap´ıtulo 2
O Modelo do Hiperbol´
oide
n-dimensional H
n
−1
r2
para o Espa¸
co
Hiperb´
olico
Neste cap´ıtulo descreveremos o Espa¸co Hiperb´olico Hn−1 r2
que ´e uma hipersuperf´ıcie do Espa¸co de Lorentz Ln+1, ou seja, o espa¸co Rn+1 munido da m´etrica pseudo-riemanniana, a qual definiremos a seguir.
Seja Q :Rn+1→ R a forma quadr´atica Q(x0, . . . , xn) =−x02+ x21+ . . . + x2n eLn+1o espa¸co Rn+1 com a m´etrica pseudo-riemanniana induzida por Q, a qual denotaremos por (·, ·). Ent˜ao,
teremos:
(u, v) = 1
2{Q(u + v) − Q(u) − Q(v)}. (2.1) Esta m´etrica pseudo-riemanniana ´e chamada m´etrica de Lorentz. Conv´em observar que para n = 3 ela aparece na teoria de relatividade.
Seja Hn−1 r2
= {x = (x0, . . . , xn); (x, x) = −r2, x0 > 0 e r > 0}. Observe que,
geometrica-mente Q(x) = −r2 ´e um hiperbol´oide de duas folhas e Hn−1 r2
´
e a folha contida no semi-espa¸co
x0 > 0. Claramente, Hn−1
r2
´e uma hipersuperf´ıcie de Ln+1, pois, ´e uma componente conexa da imagem inversa de−r2 por Q.
2.1 Proposic¸˜ao. Segundo a m´etrica de Lorentz, o vetor η = x
r ´e ortogonal ao espa¸co tangente TxHn−1 r2 , para todo x∈ Hn−1 r2 . Prova. Seja v ∈ TxHn−1 r2
. Ent˜ao v = α(0), onde α ´e uma curva regular em Hn−1 r2
com
α(0) = x. Assim, α(t) = (x0(t), . . . , xn(t)), com x0(t) > 0. Logo,
Segue que,−2x0(t)x0(t)+2x1(t)x1(t)+. . .+2xn(t)xn(t) = 0. Para t = 0, temos que (α(0), α(0)) =
0, ou seja, (x, v) = 0. Assim x⊥ v e portanto η ⊥ v.
2.2 Proposic¸˜ao. (η, η) = −1. Prova. (η, η) = x r, x r = 1 r2(x, x) = 1 r2(−r 2) =−1.
2.3 Proposic¸˜ao. β = {b0, . . . , bn}, com b0 = η, (bi, bj) = δij para i, j = 1, . . . n e (bi, b0) = 0,
para i = 1, . . . n, ´e uma base de Ln+1. Al´em disso, a m´etrica induzida por Ln+1 em Hn−1
r2
´e riemanniana.
Prova. Para ver que β ´e uma base de Ln+1, basta observar queLn+1 = [η]⊕ TxHn−1 r2
, com [η]⊥ TxHn−1
r2
.
Para a segunda parte usamos o fato de que o ´ındice de uma forma quadr´atica independe da base escolhida. Escolhendo a base canˆonica {e0, . . . , en} de Ln+1, vemos que o ´ındice de Q ´e
igual a 1. Logo, como Q(η) = (η, η) = −1 < 0, temos que Q(bi) > 0, ∀ i = 1, . . . , n. Portanto,
Q|TxHn −1 r2
´
e positiva definida. Assim, a m´etrica induzida por Ln+1 em Hn−1 r2
´
e riemanniana.
2.4 Proposic¸˜ao. A segunda forma fundamental de Hn−1 r2
→ Ln+1 ´e dada por Sη =−1
rId. Al´em disso, a curvatura seccional de Hn−1
r2 ´ e constante e igual a K =−1 r2. Prova. Sejam x ∈ Hn−1 r2 ,{b1, . . . , bn} uma base de TxHn−1 r2 e η = x r ∈ (TpM ) ⊥.
Considere-mos o campo N normal aHn−1 r2
dado por N (p) = p
r. Como N (x) = η e (N , N )p =−1 para todo p∈ Hn−1 r2 temos que (Sη(bi), bj) = −(∇biN )T, bj = −∇biN , bj . Calculemos ∇vN
(x), para um vetor qualquer v∈ TxHn−1 r2 . De N (p) = 1 r · n i=0 piei = n i=0 1 rpi ei,
temos que as coordenadas de N (p) na base canˆonica{e0, . . . , en} de Ln+1s˜ao dadas por Ni(p) =
1 r · pi. Seja v∈ TxHn−1 r2 . Ent˜ao v = α(0) = (α0(0), . . . , αn(0)) = (v0, . . . , vn) e α(0) = x, onde α(t) = (α0(t), . . . , αn(t)). Portanto v(Nk)(x) = d dt(Nk◦ α)(t)|t=0= d dtNk(α(t))|t=0= d dt 1 r · αk(t) t=0= 1 r · α k(0).
Usando a express˜ao da conex˜ao e lembrando que Γkij(Ln+1) = Γkij(Rn+1) = 0 teremos: ∇vN (x) = k v(Nk)(x) + i,j viNj(x)Γkij(x) ek = n k=0 v(Nk)(x)ek = 1 r n k=0 αk(0)ek = 1 r n k=0 vkek = 1 rv.
Segue, portanto, que
Sη(bi) =−∇biN =− 1 rbi ⇒ Sη =− 1 rId. Da´ı, B(X, Y ) =−(B(X, Y ), η)η = −(SηX, Y )η = 1 r(X, Y )η = η r(X, Y ).
Finalmente, usando a f´ormula de Gauss e tomando{X, Y } ortonormal,
K(X, Y )− ¯K(X, Y ) = (B(X, X), B(Y , Y ))− (B(X, Y ), B(X, Y )).
Como Γkij(Ln+1) = Γkij(Rn+1) = 0, temos que ¯K(X, Y ) = 0. Logo, K(X, Y ) =−1 r2(X, X)(Y , Y )− 1 r2(X, Y ) 2 =−1 r2. Para o que se segue denotaremos O1(n + 1) ={T ´e linear ; T preserva a m´etrica } e ˜Hn−1
r2
=
{x = (x0, . . . , xn); (x, x) =−r2, x0< 0 e r > 0}.
2.5 Lema. Seja T ∈ O1(n + 1). Se para p ∈ Hn−1 r2 temos T (p) ∈ Hn−1 r2 (resp. H˜n−1 r2 ), ent˜ao T (x)∈ Hn−1 r2 (resp. ˜Hn−1 r2 ), para todo x∈ Hn−1 r2 . Prova. Se T ∈ O1(n + 1) e x ∈ Hn−1 r2
, ent˜ao (T x, T x) = (x, x) = −r2. Dessa forma,
T x∈ Hn−1 r2 ou T x∈ ˜Hn−1 r2 . Seja p ∈ Hn−1 r2 tal que T (p) ∈ Hn−1 r2 . Suponha que ∃ q ∈ Hn−1 r2 , com T (q) /∈ Hn−1 r2 , isto ´e, T (q) ∈ ˜Hn−1 r2
. Seja, ainda, α uma curva em Hn−1 r2
que liga p a q. Ent˜ao, T ◦ α ´e uma curva em
Q−1(−r2) ligando T (p) a T (q).
Sendo α(t) = (x0(t), . . . , xn(t)), x0> 0 temos que T ◦ α(t) = (y0(t), . . . , yn(t)) ´e cont´ınua. Como T (p)∈ Hn−1
r2
, isto ´e, T (α(0))∈ Hn−1 r2
ent˜ao y0(0) > 0 e uma vez que T (q)∈ ˜Hn−1 r2
(i.e.,
T (α(1))∈ ˜Hn−1 r2
) teremos y0(1) < 0. Pela continuidade de y0,∃ t∈ (0, 1) tal que y(t) = 0 o que implicaria em T◦α(t) /∈ Q−1(−r2), uma contradi¸c˜ao, pois, (T (α(t)), T (α(t))) = (α(t), α(t)) =
−r2.
2.6 Proposic¸˜ao. Se T ∈ O1(n + 1) e det(T ) > 0, ent˜ao T Hn−1 r2 =Hn−1 r2 . Prova. Seja x = (r, 0, . . . , 0) ∈ Hn−1 r2 e {b1, . . . , bn} base de TxHn−1 r2 . Considere, ainda, e0 = x
r = (1, 0, . . . , 0). Como T preserva a m´etrica, temos que {T (e0), T (e1), . . . , T (en)} ´e base
ortonormal de Ln+1 e sendo Q uma forma quadr´atica de ´ındice 1, teremos T (e0) paralelo a
e0. Logo, T (e0) = ±e0. Como det(T ) > 0, T e0 = e0. Pelo lema anterior T
Hn −1 r2 = Hn−1 r2 . 2.7 Proposic¸˜ao. Hn−1 r2 ´ e completa.
Antes de apresentarmos a prova da Proposi¸c˜ao 2.7 veremos o conceito de variedade ho-mogˆenea e, em seguida, mostraremos que toda variedade homogˆenea ´e completa.
Dizemos que uma variedade riemanniana M ´e homogˆenea se dados p, q ∈ M existe uma
isometria de M que leva p em q.
2.8 Lema. Toda variedade homogˆenea ´e completa.
Prova do Lema 2.8. Se, por absurdo, M n˜ao ´e completa, existem p ∈ M e uma geod´esica normalizada γ : [0, t0]→ M com γ(0) = p que n˜ao se estende al´em de t0. Sejam ε > 0 suficientemente pequeno tal que q = γ(t0 − ε/2) e Bε(p) e Bε(q) s˜ao bolas normais em p e q, respectivamente. Sejam ϕ : M → M uma isometria com ϕ(p) = q e v ∈ TpM , |v| = 1, tal que
dϕpv = γ(t0− ε/2). Como γ ´e normalizada, ´e claro que |v| = |dϕpv| = |γ(t0− ε/2)| = 1. Por outro lado, considere a geod´esica α : [0, ε)→ M dada por α(t) = expp(tv). Temos ent˜ao que
(ϕ◦ α)(0) = ϕ(p) = q = γ(t0− ε/2) e
(ϕ◦ α)(0) = dϕpα(0) = dϕpv = γ(t0− ε/2) .
Conclui-se que ϕ◦ α ´e uma geod´esica que parte de q = γ(t0− ε/2) com velocidade γ(t0− ε/2) na bola normal Bε(q). Por unicidade, ϕ◦ α = γ|[t0−ε/2,t0], o que significa que podemos estender
γ na bola normal Bε(q) e, portanto, al´em de t0. Contradi¸c˜ao.
Prova da Proposi¸c˜ao 2.7. Dados p, q ∈ Hn−1 r2 e bases ortonormais {vi} ⊂ T pHn−1 r2 e {wi} ∈ T qHn−1 r2
, i = 1, . . . , n, vamos mostrar que a restri¸c˜ao a Hn−1 r2 da transforma¸c˜ao linear T : Ln+1 → Ln+1 tal que T p r = q r e T (vi) = wi, i = 1, . . . , n ´e isometria de H n −1 r2 . Como p r, p r = q r, q r
=−1, (vi, vj) = (wi, wj) = δij e (p, vi) = (q, wi) = 0, ent˜ao ´e claro que existe
uma transforma¸c˜ao linear T :Ln+1 → Ln+1que preserva a m´etrica. Como p, q ∈ Hn−1 r2 e T p r = q r ⇔ T (p) = q ∈ H n −1
r2. Ent˜ao, pelo lema 2.5, T
Hn −1 r2 =Hn−1 r2 . Segue que, T|Hn −1 r2 ´e isometria de Hn −1 r2 . Portanto, Hn−1 r2
´e homogˆenea. Desta forma, conclu´ımos, pelo lema 2.8, que ela ´e completa.
Cap´ıtulo 3
O Produto
H
k
−1
r2
× S
n−k
(
√
1 + r
2
)
Neste cap´ıtulo, definiremos o cilindro hiperb´olico que ´e uma hipersuperf´ıcie do espa¸co de De Sitter Sn+11 . Calcularemos as suas curvaturas principais, a curvatura m´edia e a segunda forma fundamental. Faremos, inicialmente, algumas considera¸c˜oes sobre variedade produto e sobre produto de imers˜oes. Sejam M , N , M e N variedades tais que N ´e riemanniana. Suponha que
M ´e uma variedade diferenci´avel com uma m´etrica pseudo-riemanniana (·, ·) induzida por uma forma quadr´atica Q. Sejam as imers˜oes isom´etricas f : M → M e g : N → N, onde a m´etrica induzida por f em M ´e riemanniana e Q(η, η) < 0,∀ η ∈ χ(M)⊥, (ou seja, o ´ındice de Q ´e igual a codimens˜ao de f ). Considerando em M× N e em M × N as m´etricas produtos, teremos que a imers˜ao
f× g : M × N → M × N
tamb´em ´e isom´etrica.
Denotemos por ∇M,∇N e ∇N as conex˜oes riemannianas de M , N e N , respectivamente, e por ∇M a conex˜ao pseudo-riemmaniana de M . Assim a conex˜ao riemanniana de M × N e a conex˜ao pseudo-riemmaniana de M × N s˜ao tais que
∇M×NX Y =∇MXMYM +∇NXNYN
e
∇M×NU V =∇MUMVM+∇NUNVN.
Sendo X = (XM, XN) e Y = (YM, YN) campos de vetores tangentes a M × N, U =
(UM, UN) e V = (VM, VN) campos de vetores tangentes a M × N, XM, YM ∈ χ(M), XN, YN ∈
χ(N ), UM, VM ∈ χ(M) e UN, VN ∈ χ(N).
Sejam Bf e Bgas segundas formas fundamentais de f e g, respectivamente. Para η ∈ χ(M)⊥ e μ ∈ χ(N)⊥, consideremos os operadores de forma Afη : T M → T M e Agμ : T N → T N, associados a Bf e Bg, respectivamente. Para u e v tangentes a M e w, z tangentes a N , temos:
A segunda forma da imers˜ao produto f× g, denotada por Bf×g, ´e dada por
Bf×g(X, Y ) = (Bf(XM, YM), Bg(XN, YN)) .
Seja N = (η, μ) em M × N normal a M × N, com η em M normal a M, μ em N normal
a N , (η, η) +|μ|2 = −1 e (η, η) = −ρ2, ρ > 0. Vamos encontrar o operador de forma Af×gN associado a f × g. Sabemos que
Af×gN X, Y = Af×gN (XM, XN), (YM, YN) = Bf×g((XM, XN), (YM, YN)), N = (Bf(XM, YM), Bg(XN, YN)), (η, μ) = Bf(XM, YM), η + Bg(XN, YN), μ = ρ · Afη ρXM, YM + |μ|A g μ |μ|XN, YN = ρAfη ρXM +|μ|A g μ |μ|XN, Y .
Dessa forma, para a imers˜ao produto f × g o operador de forma na dire¸c˜ao normal N ´e
Af×gN X = ρAfη ρXM +|μ|A g μ |μ|XN = ρ· Afη ρ ◦ πM+|μ|A g μ |μ| ◦ πN · X, (3.1)
onde πM ´e a proje¸c˜ao sobre M e πN ´e a proje¸c˜ao sobre N .
Vejamos agora o caso em que f e g s˜ao as inclus˜oes canˆonicas Hk−1
r21 ⊂ Lk+1 e Sn−k(r2) ⊂ Rn−k+1, ou seja, f :Hk−1 r21 → Lk+1; f (p) = p g :Sn−k(r2) → Rn−k+1; g(q) = q
Observe que f ´e isometria porque, pelo cap´ıtulo 2, a m´etrica induzida emHk−1 r2 por L
k+1 ´e
Riemmaniana.
Consideremos o produto dessas imers˜oes
f × g : Hk−1 r21 × S n−k(r 2) → Ln+2. Sejam p ∈ Hk−1 r21 e q ∈ Sn−k(r2), isto ´e, (p, p) = −r21 e |q|2 = r22. Assim, (p, q) ∈ Hk−1 r21 × Sn−k(r2) e ((p, q), (p, q)) = (p, p)+|q|2 =−r2 1+r22. Se−r12+r22 = 1 e r = r1teremos r2 =√1 + r2.
Neste caso os pontos (p, q) deHk−1 r2 × S
n−k(√1 + r2) estar˜ao no espa¸co de De Sitter
Sn+1
1 ={(p, q) ∈ Ln+2; ((p, q), (p, q)) = 1}.
Consideremos, agora, a hipersuperf´ıcie
ϕ = f× g : Hk−1 r2 × S
n−k( 1 + r2) → Sn+1
Nosso objetivo, a partir de agora, ´e encontrar as curvaturas principais de ϕ, que denotaremos por λ1, . . . , λn. Para as inclus˜oes Hk−1
r2
f
→ Lk+1,Sn−k(√1 + r2) → Rg n−k+1 e Sn+11 → Li n+2, n´os temos os operadores de forma associados Af˜η = 1
rId, A g ˜μ = 1 √ 1 + r2Id e A i Γ = Id, com ˜ η(p) = −p r , ˜μ(q) = −q √
1 + r2 e Γ(p, q) = (p, q). Observe que Γ(p, q) = (p, q) ´e normal a S
n+1
1
e a Hk−1 r2 × S
n−k(√1 + r2). Precisamos de um campo N (p, q) = (ap, bq), unit´ario, normal a
Hk
−1 r2 × S
n−k(√1 + r2) e tangente a Sn+1
1 , ou seja, que cumpra as seguintes condi¸c˜oes:
(i) ((ap, bq), (p, q)) = 0, isto ´e, a(p, p) + b|q|2 = 0; (ii) a2(p, p) + b2|q|2=−1.
De (i), temos −ar2+ b(1 + r2) = 0, o que implica b =
! r2
1 + r2
" a.
De (ii), temos −a2r2+ b2(1 + r2) =−1, isto ´e, −a2+ b2
! 1 + r2 r2 " = −1 r2 . Assim, a2 = 1 + r 2 r2 .
Portanto, podemos escolher
a =− √ 1 + r2 r e b =−√ r 1 + r2. Logo, o vetor normal ´e dado por
N (p, q) = ! − √ 1 + r2 r · p, − r √ 1 + r2 · q " . Considerando os valores de η =− √ 1 + r2 r · p e o de μ = − r √ 1 + r2 · q, obtemos # # (η, η) = 1 + r 2 r2 (p, p) = 1 + r2 r2 · (−r 2) =−(1 + r2) =−ρ2 |μ| = √ r 1 + r2 · 1 + r 2= r.
Aplicando-se em 3.1 os dois ´ultimos resultados, temos
AN = 1 + r2· Af−p r ◦ πM + r· A g −q √ 1+r2 ◦ πN Assim, # # AN(XM, 0) = √1 + r2· Af−p r XM = √ 1 + r2 r XM AN(0, XN) = r· Ag√−q 1+r2 XN = √ r 1 + r2XN
Tomando-se uma base ortonormal de vetores {(e1, 0), . . . , (ek, 0), (0, hk+1), . . . , (0, hn)}, em que
{ei} diagonaliza Af˜η e{hi} diagonaliza Ag˜μe considerando que senh (t) = r e cosh (t) =√1 + r2, temos que as curvaturas principais do produtoHk−1
r2 × S n−k(√1 + r2) s˜ao λ1= . . . = λk= √ 1 + r2 r = coth(t) e λk+1 = . . . = λn= √ r 1 + r2 = tgh t. Portanto a curvatura m´edia H de ϕ ´e dada por
H = 1 n $ k· √ 1 + r2 r + (n− k) · r √ 1 + r2 % = k + nr 2 nr√1 + r2.
Escreveremos |A|2 em fun¸c˜ao da tgh (t) e da coth(t). Multiplicando-se ambos os membros da igualdade n· H = k · √ 1 + r2 r + (n− k) · r √ 1 + r2 por coth(t), obtemos a equa¸c˜ao
k coth2(t)− nH coth(t) + n − k = 0, cujas ra´ızes s˜ao coth(t) = nH± n 2H2− 4k(n − k) 2k , desde que n2H2− 4k(n − k) > 0. Portanto, S = |A|2 = n 1 λ2i = k· coth2(t) + (n− k) · tgh2(t) = (n− k) 4k2 (nH± n2H2− 4k(n − k))2 + k· (nH± n2H2− 4k(n − k))2 4k2 .
Utilizando o operador φ = A− HI e os resultados anteriores, temos que
|φ|2 =|A|2− nH2= k(n− k)
n (coth(t)− tgh (t))
2.
Substituindo-se tgh (t) = nH− k coth t
n− k na express˜ao anterior, obtemos |φ|2 =|A|2− nH2= k(n− k) n coth(t)−nH− k coth t n− k 2 = k n(n− k)[n(coth(t)− H)] 2.
Uma vez que coth(t) = nH ± n
2H2− 4k(n − k) 2k , teremos que |φ|2 = k n(n− k) & 'n nH± n2H2− 4k(n − k) 2k − H ( ) 2 = n 4k(n− k) * (n− 2k)H ± n2H2− 4k(n − k) + 2 .
Logo, |φ|2 = √ n 2√k√n− k , , ,(n− 2k)H ± n2H2− 4k(n − k) , , ,. Quando k = 1, |φ|2 = √ n 2√n− 1 , , ,(n− 2)H ± n2H2− 4(n − 1) , , , e a hipersuperf´ıcieH1−1 r2 × S
n−1(√1 + r2) ´e denominada Cilindro Hiperb´olico.
Cap´ıtulo 4
As Hipersuperf´ıcies Rotacionais
Neste cap´ıtulo, descreveremos uma fam´ılia de hipersuperf´ıcies completas emSn+11 com cur-vatura m´edia constante H ≥ 2
√ n− 1
n e sup|φ|2 = B, para cada B ∈ max 0, BH− , BH+
conforme o teorema 1.3. Tais hipersuperf´ıcies s˜ao chamadas de rotacionais e faremos, a seguir, uma breve discuss˜ao das mesmas baseando-se no artigo de M. do Carmo e M. Dajczer [5].
Sabemos que uma transforma¸c˜ao ortogonal emLn+2 ´e uma aplica¸c˜ao linear que preserva a m´etrica. Estas transforma¸c˜oes ortogonais induzem todas as isometrias deSn+11 .
Seja Pkum subespa¸co vetorial de dimens˜ao k doLn+2. Pk´e dito lorentziano (resp. rieman-niano, degenerado) se a restri¸c˜ao da m´etrica a Pk´e uma m´etrica lorentziana (resp. riemanniana, degenerada). Denotaremos por O(Pk) o conjunto das transforma¸c˜oes ortogonais de Ln+2 com determinante positivo que deixam Pk fixado.
4.1 Definic¸ ˜ao. Escolha P2, P3 tais que P2 ⊂ P3 e C uma curva regular tipo espa¸co em Sn+11 ∩(P3−P2). A ´orbita de C sob O(P2) ´e chamada a hipersuperf´ıcie rotacional esf´erica (resp.
hiperb´olica, parab´olica) M emSn+11 gerada por C, quando P2´e Lorentziano (resp. Riemanniano, degenerado).
Neste trabalho, precisaremos apenas do caso esf´erico. Pela m´etrica de Lorentz emLn+2, a base canˆonica e0, . . . , en, en+1 satisfaz
ei, ej = iδij,
onde 0 =−1 e, do contr´ario, i = 1. Tome P2 o plano gerado por e0 e e1 e P3 gerado por e0, e1
e e2. Seja (y0(s), y1(s), y(s)) a parametriza¸c˜ao pelo comprimento de arco da curva C. A partir dessas escolhas, podemos tomar uma parametriza¸c˜ao de uma hipersuperf´ıcie rotacional M por
f (s, u1, . . . , un−1) = (y0(s), y1(s), y(s)Φ(u1, . . . , un−1)) ,
de acordo com M. do Carmo e M. Dajczer [5]. Aqui Φ(u1, . . . , un−1) = (Φ1, . . . , Φn) ´e uma parametriza¸c˜ao ortogonal da esfera unit´aria no subespa¸co vetorial gerado por e2, . . . , en+1. Uma
vez que a curva C pertence aSn+11 e o parˆametro s representa o seu comprimento do arco teremos
−y02(s) + y21(s) + y2(s) = 1 e
−y02(s) + y21(s) + y2(s) = 1
e, portanto, as fun¸c˜oes y0(s), y1(s) podem ser calculadas em termos de y(s) atrav´es das rela¸c˜oes
y0 = y2− 1 cosh ϕ
e
y1 = y2− 1 senh ϕ,
para y > 1.
Derivando as express˜oes anteriores com rela¸c˜ao `a s, teremos
y0= yy y2− 1 cosh ϕ + y2− 1 senh ϕϕ e y1= yy y2− 1 senh ϕ + y 2− 1 cosh ϕϕ e, portanto, y12− y02=− y 2y2 y2− 1+ (y 2− 1)ϕ2.
Assim, ϕ(s) fica determinada por
1 =−y20(s) + y12(s) + y2(s) =− y 2y2 y2− 1+ (y 2− 1)ϕ2+ y2⇒ ϕ = y2+ y2− 1 y2− 1 , ou seja, ϕ(s) = -s 0 y2+ y2− 1 y2− 1 ds.
O caso 0 < y < 1 pode ser tratado de forma similar, mas n˜ao o usaremos no nosso trabalho. Usamos a parametriza¸c˜ao acima para calcular as curvaturas principais de M as quais s˜ao dadas por ki = y 2+ y2− 1 y e kn= y + y y2+ y2− 1, com i = 1, . . . , n− 1.
Desta forma, temos que a curvatura m´edia de M ´e dada por
nH = n i=1 ki = (n− 1) y 2+ y2− 1 y + y+ y y2+ y2− 1. (4.1)
4.2 Lema. Sendo H constante, uma integral primeira da equa¸c˜ao diferencial de segunda ordem 4.1 ´e dada por y2= 1− y2+ a yn−1 + Hy 2 , com a constante. (4.2)
Prova. Pondo v = y2+ y2− 1 temos
vv = y(y + y)⇒ v= y
(y + y)
v . (4.3)
Da equa¸c˜ao 4.1, conclu´ımos que
y+ y
v = nH− (n − 1) v y
e substituindo este resultado na equa¸c˜ao 4.3 obtemos
v = y
y [nyH− (n − 1)v] .
Pondo f = v− Hy, temos que f = v− Hy. Como H ´e constante, o resultado acima implica que
fy = vy− Hyy = (n− 1)y(yH− v) = −(n − 1)fy. Assim, f f =−(n − 1) y y ⇒ (ln f) =−(n − 1)(ln y) ⇒ ln f = −(n − 1)ln y + ln a ⇒ f = a yn−1,
onde a ´e uma constante. Segue que v2 = (f + Hy)2 = y2+ y2− 1 o que nos d´a a equa¸c˜ao 4.2. Escrevendo a integral primeira como
G(y, y) = yn−1( y2+ y2− 1 − Hy) = a ≥ 0
vemos que que as curvas de n´ıvel de G est˜ao associadas `as hipersuperf´ıcies rotacionais tipo espa¸co. Para nossas finalidades, ´e suficiente analisar as curvas de n´ıvel de G contidas no conjunto
(y, y)/y > 0, y2+ y2− 1 ≥ 0, G(y, y)≥ 0
. Estudaremos a seguir os pontos cr´ıticos de G.
4.3 Lema. Seja H ≥ 0 e G(y, y) = yn−1( y2+ y2− 1 − Hy). Ent˜ao:
1. Se 0≤ H < 2 √
n− 1
n , G n˜ao tem pontos cr´ıticos. 2. Se H = 2
√ n− 1
n , G tem apenas um ponto cr´ıtico do tipo degenerado. 3. Se 2
√ n− 1
4. Se H ≥ 1, G tem apenas um ponto cr´ıtico.
Prova. Os pontos cr´ıticos de G ao longo dos eixos y e y s˜ao tais que
∂G ∂y = (n− 1)y n−2 y2+ y2− 1 − Hy + yn−1 1 2 · 2y y2+ y2− 1− H = 0 e ∂G ∂y = y n−1 y y2+ y2− 1 = 0.
Da segunda equa¸c˜ao, temos que y = 0 e substituindo na primeira, temos que os pontos cr´ıticos de G satisfazem a equa¸c˜ao
y2− nHy y2− 1 + (n − 1)(y2− 1) = 0.
Fazendo a substitui¸c˜ao y = cosh (r) e dividindo a express˜ao resultante por senh2(r), obtemos coth2(r)− nH coth(r) + (n − 1) = 0.
Resolvendo a equa¸c˜ao para coth(r), temos
coth(r) = nH± n
2H2− 4(n − 1)
2 .
Como y = cosh (r) = coth(r) coth2(r)− 1
podemos substituir a express˜ao para coth(r) nesta ´ultima equa¸c˜ao obtendo, finalmente, que
y = nH ± n 2H2− 4(n − 1) . nH ± n2H2− 4(n − 1) 2 − 4 .
O lema segue, ent˜ao, diretamente dessa ´ultima equa¸c˜ao.
Observe que esses pontos cr´ıticos correspondem exatamente aos cilindros hiperb´olicos. Tomando y = cosh (r) vemos, facilmente, que as curvaturas principais desses cilindros s˜ao
ki= y 2− 1 y = 1 coth r = 2 nH ± n2H2− 4(n − 1), para i = 1, . . . , n− 1, e kn= y y2− 1 = coth(r) = nH ± n2H2− 4(n − 1) 2 .
Conforme resultados do cap´ıtulo 3, |φ|2 ´e dada por
|φ|2 = n 4(n− 1) * (n− 2)H ± n2H2− 4(n − 1) + 2 .
A natureza dos pontos cr´ıticos pode ser determinada por uma an´alise da Hessiana de G. Um c´alculo direto, mostra que, se H = 2
√ n− 1
n , o ´unico ponto cr´ıtico de G ´e do tipo degenerado.
Um outro c´alculo direto, por´em mais extenso e uma subseq¨uente an´alise da Hessiana mostra, tamb´em, que:
1. Quando 2
√ n− 1
n < H < 1, o ponto cr´ıtico com menor coordenada y ´e um ponto de sela,
enquanto o outro ´e um centro. A express˜ao para y mostra que o centro tende para infinito quando H → 1−.
2. Se H ≥ 1, temos apenas um ponto cr´ıtico do tipo sela. A figura seguinte mostra as curvas de n´ıvel de G para H ≥ 2
√ n− 1
n com as indica¸c˜oes dos
respectivos pontos cr´ıticos ao longo do eixo y.
No cap´ıtulo seguinte usaremos alguns desses resultados sobre as hipersuperf´ıcies rotacionais tipo espa¸co para a prova do teorema 1.3.
c -1 0 1 d -1 0 1 a -1 0 1 b -1 0 1
Cap´ıtulo 5
Demonstra¸
c˜
oes dos Resultados
Tendo visto os conceitos mais importantes necess´arios `as demonstra¸c˜oes dos resultados do nosso trabalho, estamos prontos para desenvolvˆe-las.
Para a demonstra¸c˜ao do teorema 1.2, usaremos alguns resultados. O primeiro ´e um lema cuja prova se deve a M. Okumura [13] e fornece uma estimativa para tr φ3, onde φ = A− HI e
A ´e o operador de forma associado `a segunda forma fundamental de M .
5.1 Lema. Sejam μi, i = 1, 2, 3, . . . , n, n´umeros reais tais que i μi = 0 e i μ2i = β2 ≥ 0. Ent˜ao, − n− 2 n(n− 1)β 3 ≤ i μ3i ≤ n− 2 n(n− 1)β 3
e a igualdade ´e v´alida se, e somente se, (n− 1) dos n´umeros μi s˜ao iguais a β
n(n− 1) e μ1=−
/ n− 1
n β ou (n− 1) dos n´umeros μi s˜ao iguais a − β
n(n− 1) e μ1 = /
n− 1 n β.
Prova. Se β2 = 0, n˜ao temos o que provar. Suponha ent˜ao β2 = 0. Usaremos o m´etodo dos multiplicadores de Lagrange para encontrar os pontos cr´ıticos de g : Rn → R dada por
g(μ1, . . . , μn) =
i
μ3i, submetida `as condi¸c˜oes
i μi = 0 e i μ2i = β2. Sendo ϕ1(μ1, . . . , μn) = i μi= 0 e ϕ2(μ1, . . . , μn) = i μ2i = β2 temos, ∇g = 3α∇ϕ1+3 2λ∇ϕ2, ou seja, (3μ21, . . . , 3μ2n) = (3α, . . . , 3α) + (3λμ1, . . . , 3λμn) .
Segue que os pontos cr´ıticos de g s˜ao dados pelos valores de μi que satisfazem `a equa¸c˜ao
quadr´atica
Isto implica que 0 = i μ2i − i λμi − i α = β2 − nα e portanto α = β 2 n ≥ 0. Assim,
os discriminantes das equa¸c˜oes em 5.1, δ = λ2+ 4α = λ2 + 4β
2
n , s˜ao positivos e as equa¸c˜oes
possuem duas ra´ızes distintas, sendo que uma delas ´e positiva e a outra negativa, uma vez que
μi= λ± √ λ2+ 4α 2 e √ λ2+ 4α = 0 λ2+4β 2 n ≥ |λ| ≥ λ, ∀λ ∈ R.
Depois de reordenar, se necess´ario, os pontos cr´ıticos s˜ao dados por:
μ1= μ2. . . = μp = a > 0
μp+1= μp+2= . . . = μn=−b < 0.
Desde que, nos pontos cr´ıticos temos
β2 = i μ2i = pa2+ (n− p)b2 0 = i μi = pa− (n − p)b g = i μ3i = pa3− (n − p)b3 Conclu´ımos que a2 = (n− p) pn β 2, b2 = p (n− p)nβ 2 e g = (n− p) n a− p nb β2. Segue que
g decresce quando p cresce. Portanto, g alcan¸ca um m´aximo quando p = 1 e o m´aximo de g ´e dado por:
a3−(n−1)b3= [(n−1)b]3−(n−1)b3 = [(n−1)3−(n−1)]b2b = (n−2)n(n−1)b2b = n− 2 n(n− 1)β
3
Isto prova o lema, uma vez que g ´e sim´etrica. O caso da igualdade ´e obtido substituindo p por 1 , a por (n− 1)b e o valor m´aximo de g na express˜ao de g. Assim, teremos
n− 2 n(n− 1)β 3 = b ! (n− 1)2 n − 1 n " β2 = b(n− 2)β2, de onde conclu´ımos que b = β
n(n− 1). Portanto, μ1 = a = /
n− 1
n β e μ2= μ3 = . . . = μn = −b = − β
n(n− 1). A outra parte do caso igualdade ´e obtida de forma an´aloga, usando o valor
m´ınimo de g.
O polinˆomio PH surge, analiticamente, no lema a seguir, cuja prova utiliza a f´ormula de
Simmons.
5.2 Lema. Seja Mn uma hipersuperf´ıcie tipo espa¸co completa imersa em S1n+1, n ≥ 3, com
curvatura m´edia H constante n˜ao negativa. Ent˜ao,
1 2Δ|φ| 2≥ |φ|2· P H(|φ|), onde PH(|φ|) = |φ|2−n(n− 2)H n(n− 1)|φ|+n(1−H