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GRUPO DE ECONOMIA / FUNDAP

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Academic year: 2021

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DESEMPENHO DO MErcaDO DE caPITaL NO BraSIL

1

Maria Cristina Penido de Freitas

Doutora em Economia. Consultora da Fundap

1. A autora agradece os comen-tários da equipe do Grupo de Economia / Fundap. Na elabo-ração desta nota, foram utiliza-das informações disponíveis até o dia 31 de maio de 2012.

Introdução

O propósito deste artigo é analisar o desempenho do mercado de capitais em 2011. Além dessa breve introdução, o artigo está organizado em quatro seções. Na primeira seção, apresenta-se um panorama geral desapresenta-se mercado, com ênfaapresenta-se nos principais determinantes do apresenta-seu deapresenta-sem- desem-penho enquanto lócus de captação de poupança financeira voluntária pelo setor corporativo não financeiro. Na segunda seção, o foco da análise recai sobre o segmento de títulos de renda fixa. Na terceira seção, examina-se o comportamento do segmento de renda variável, com destaque para o mercado acionário primário. Na quarta e última seção, discutem-se as perspectivas para o ano de 2012.

Panorama geral do mercado de caPItaIs em 2011

Em 2011, o desempenho do mercado de capitais doméstico frustrou as expectativas otimistas dos que esperavam um ano tão positivo como o de 2010. As turbulências nos mercados financeiros internacionais, associadas ao aprofundamento da crise na área do euro, e a desaceleração da eco-nomia brasileira foram os principais determinantes da evolução das emissões de títulos e ações. O aumento da incerteza, sobretudo ao longo do segundo semestre, anulou parte dos efeitos positivos da queda da meta da taxa Selic para a dinâmica do mercado de capitais doméstico.

O volume total de recursos obtidos pelas empresas nesse mercado foi bem menor em 2011 (-41,8%, em relação ao montante verificado em 2010), em razão do fraco dinamismo do mercado

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acionário (Tabela 1). Em contraste, no segmento de títulos de renda fixa houve forte crescimento não só do número de ofertas como também do volume de recursos captados, que registraram recor-des históricos. Por meio da emissão de debêntures, notas promissórias e títulos de securitização de dívida, o setor corporativo captou R$ 122,3 bilhões em 2011, o que correspondeu a 2,9% do PIB e a 86,4% do montante total de recursos obtido no mercado doméstico de capitais.

Tabela 1. Volume de recursos capTados no mercado domésTico de capiTais

Período Títulos de Renda Fixa

1 Títulos de Renda Variável2 Total Mercado de

Capitais

Nº de Oferta R$ bilhões % do PIB Nº de Oferta R$ bilhões % do PIB Nº de Oferta R$ bilhões % do PIB

2008 163 70,9 2,3% 13 34,5 1,1% 176 105,4 3,5%

2009 260 54,3 1,7% 24 47,1 1,5% 284 101,5 3,1%

2010 373 89,2 2,4% 25 152,2 4,0% 398 241,3 6,4%

2011 543 123,4 2,9% 25 19,2 0,5% 568 142,6 3,4%

Fonte: CVM.

1. Refere-se a debêntures, notas promissórias, títulos de secutirização de crédito. Inclui debêntures emitidas por empresas de leasing, empresas estatais e Bndespar.

2. Ações e certificados de ações. Incluem ofertas públicas de empresas estatais e bancos públicos.

No segmento de renda variável, o cenário de forte volatilidade dos preços das ações e de capitalização em baixa no mercado secundário, aliado à deterioração das expectativas dos investido-res, desestimulou tanto as ofertas públicas iniciais como as emissões subsequentes de ações pelas empresas já presentes nesse mercado. Embora o número de ofertas tenha permanecido estável, o volume de recursos captados mediante emissão de ações caiu fortemente em comparação ao de 2010 (-87,4%). Mesmo se for excluída a vultosa captação (R$ 120 bilhões) da Petrobras naquele ano, a comparação segue desfavorável em 2011 (-40,6% ante o ano anterior).

À semelhança das principais bolsas de valores do mundo, a BMF&Bovespa registrou forte desvalorização em 2011(-20,7% em dólares e -10,7% em reais)2, o que se traduziu na queda de participação das ações no estoque de poupança financeira doméstica (Tabela 2). Além do pes-simismo com o cenário internacional desfavorável (desaceleração do crescimento da economia global, desequilíbrio fiscal dos EUA e aprofundamento da crise da área do euro), o desempenho da Bovespa foi afetado pelo baixo dinamismo da economia brasileira e pela redução dos fluxos líquidos dos investimentos estrangeiros em carteira. No acumulado do ano, o saldo líquido des-ses investimentos foi negativo em US$ 9,1 bilhões ante ao saldo positivo de US$ 34,6 bilhões em 20103.

Em razão da instabilidade nos mercados financeiros internacionais, em inúmeros momentos ao longo de todo o ano de 2011, os investidores estrangeiros liquidaram suas posições no mercado acionário brasileiro, o que contribuiu para a sua forte oscilação. Embora a maior parte da carteira dos estrangeiros esteja aplicada em ações, a participação relativa desse tipo de instrumento declinou para 61,8% em 2011, com redução de 4,0 pontos percentuais em comparação com os dados do ano anterior. Em contrapartida, em virtude da ampliação do diferencial entre os juros interno e externo associado à contínua elevação da meta da Selic entre janeiro e julho, os títulos de dívida mobiliária federal atingiram 28,6% da carteira dos não residentes.

2. Em 2011, de acordo com as estatísticas divulgadas pela Fe-deração Mundial das Bolsas de Valores (WFE, na sigla em inglês), a capitalização do mercado acio-nário global encolheu 13,6%, declinando de US$ 54,9 trilhões para US$ 47,9 trilhões. Dentre as dez maiores bolsas por capi-talização, a BMF&Bovespa foi a que registrou a maior perda de valor em dólares.

3. Os determinantes da redu-ção dos fluxos líquidos de in-vestimento estrangeiros foram discutidos na seção Conjuntura Econômica em Foco do Boletim

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Tabela 2. parTicipaçãodosinsTrumenTosdomercadodomésTicodecapiTaisna poupançafinanceiraVolunTária

Posição do saldo

Poupança financeira voluntária Mercado de capitais Ações Títulos privados

R$ bilhões dez/2011 Participação Relativa % % PIB R$ bilhões dez/2011 Participação Relativa % % PIB R$ bilhões dez/2011 Participação Relativa % % PIB R$ bilhões dez/2011 Participação Relativa % % PIB dez./2008 4.242 100,0 118,9 1.776 41,9 49,8 1.618 38,1 45,4 158 3,7 4,4 dez./2009 5.541 100,0 151,6 2.818 50,9 77,1 2.633 47,5 72,1 184 3,3 5,0 dez./2010 5.953 100,0 148,3 2.958 49,7 73,7 2.726 45,8 67,9 232 3,9 5,8 dez./2011 5.800 100,0 140,0 2.590 44,7 62,5 2.294 39,6 55,4 296 5,1 7,2 Fonte: Cemec (2012).

Gráfico 1. composiçãodacarTeiradeinVesTidoresnãoresidenTesem 2011

0 20 40 60 80 100 120 0 50 100 150 200 250 300 350 400

Total Ações Títulos RF

-Públicos Fundos de RV Fundos de RF Títulos RF-Privados Depósitos bancários 0utros

% U S$ B ilh õe s

Volume (eixo esquerdo) Participação (eixo direito)

Fonte: CVM.

desemPenho do mercado de títulos PrIvados de renda fIxa

Em 2011, mais uma vez, no segmento de títulos privados de renda fixa, houve predomínio das emissões com esforço restrito, cuja oferta pública é direcionada aos investidores qualificados (Instrução CVM n. 476 de 15/1/2009)4. Aproximadamente 85% das ofertas totais, 95% das ofertas de debêntures, 71% de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e 100% das emissões de notas promissórias e de cotas de FDIC, FIPs/ FIC-FIP e FII foram realizadas sob essa modalidade.

As captações com títulos de renda fixa alcançaram R$ 123,4 bilhões, um recorde histórico. Em razão das alterações promovidas na lei das Sociedades por Ações (S.As.) no âmbito do pacote de estímulo ao financiamento de longo prazo5, as debêntures lideraram as captações no mercado de tí-tulos privados de renda fixa em 2011 no que se refere ao número de ofertas, bem como ao volume de recursos (Gráfico 2 e Tabela 3). Ocorreu igualmente ampliação da emissão de produtos estruturados, como FDIC (410%) e CRI (61%). Todavia, os volumes ainda são baixos quando comparados com os demais instrumentos de renda fixa.

4. Para essa modalidade de emissão de títulos de renda fixa, não há exigência de elaboração de prospecto para emissão nem de registro da distribuição junto à CVM.

5. Foi revogado o limite de emis-são de títulos de renda fixa, o qual passou a ser determinado pela assembleia de acionistas e não mais pelo capital social da empresa. Para incentivar o investimento em títulos privados de longo prazo (prazo médio de seis anos ou duration de quatro anos), o governo também conce-deu isenção de imposto de renda para os investidores estrangeiros e para pessoas físicas (Medida Provisória n. 517, 15/12/2010, convertida na Lei n. 12.431, 27/6/2011). Para maiores deta-lhes sobre o pacote de estímulo ao financiamento voluntário de longo prazo, ver Freitas (2011).

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Gráfico 2. númerodeoferTasnomercadodeTíTulospriVadosderendafixaporTipodeinsTrumenTo 36 67 141 170 42 80 53 95 85 97 128 167 16 51 111 163 260 373 543 2008 2009 2010 2011 N úm er o de o fe rt as

Debêntures Notas promissórias CRI Outros1 Total RF

Fonte: CVM

1. Certificados de Recebíveis de Agronegócios, quotas de FIDC, quotas de FIPs/ FIC-FIP, quotas de FII.

Tabela 3. VolumecapTadonomercadopriVadodeTíTuloscorporaTiVosderendafixa (r$ milhões)

Meses Debêntures PromissóriasNotas CRI FDIC Outros* Total

Dec-10 10.169 3.876 956 700 938 16.640 Jan-11 2.290 1.002 1.096 0 182 4.570 Feb-11 1.862 2.404 2.664 41 301 7.271 Mar-11 4.289 2.350 758 4 11.264 18.665 Apr-11 2.982 990 262 3.699 318 8.251 May-11 3.738 807 874 146 860 6.425 Jun-11 20.433 729 584 184 1.670 23.600 Jul-11 6.103 1.657 246 81 30 8.117 Aug-11 3.969 2.118 1.046 438 601 8.171 Sep-11 2.067 755 677 16 501 4.016 Oct-11 2.600 92 2.210 54 533 5.489 Nov-11 1.836 2.671 773 2.578 0 7.858 Dec-11 9.838 4.088 2.186 1.686 2.030 19.828 Acumulado: 2011 62.285 19.663 13.496 9.640 18.363 123.447 1º Semestre 35.595 8.282 6.238 4.074 14.594 68.783 2º Semestre 26.413 11.381 7.137 4.853 3.695 53.479 Para memória: 2010 51.964 19.238 7.721 1.750 8.478 89.151 1º Semestre 20.927 8.864 2.695 821 3.973 37.280 2º Semestre 31.036 10.374 5.027 927 4.505 51.870 Fonte: CVM.

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A captação de recursos pelo setor corporativo mediante a emissão de debêntures alcançou R$ 62 bilhões (R$ 52 bi em 2010), volume recorde nos últimos cinco anos. Desse total, R$ 13 bilhões foram captados por empresas de leasing (Gráfico 3). Controladas pelas grandes instituições bancárias, essas empresas retornaram ao mercado de debêntures após dois anos de ausência, em razão de medidas de controle do crédito adotadas no final de 2010, que incluíram a elevação do adicional do compulsório sobre os depósitos bancários e da exigência de capital mínimo para os empréstimos com prazo superior a 24 meses. Primeira empresa de leasing a voltar ao mercado de debêntures, a Bradesco Leasing cap-tou recursos da ordem de R$ 9,5 bilhões por meio de uma oferta de esforço restrito realizada em junho.

Gráfico 3. VolumederecursoscapTadoViaoferTadedebênTuresporTipodeemissor

15,2 13,0 8,9 27,6 52,4 49,3 2008 2009 2010 2011 R $ B ilh õe s

Empresas de leasing Empresas não financeiras

T = 24,1

T = 27,6

T = 52,4

T = 62,3

Fonte: CVM e Anbima.

Desconsiderando as emissões das empresas de leasing, consideradas como títulos de captação bancária, o principal destino dos recursos captados via emissão de debêntures foi o refinanciamento de passivos (55,2%), seguido por capital de giro (Tabela 4). Em 2011, apenas 15,7% dos recursos capta-dos foram destinacapta-dos ao financiamento de projetos de investimento. Empresas capta-dos setores de energia elétrica (18,0%), tecnologia de informação (TI) e telecomunicações (12,8%) e construção civil (12,0%), logística e transporte (10,2%) foram os principais emissores dessa modalidade de título de renda fixa.

Tabela 4. desTinaçãoderecursocapTadosmedianTeemissãodedebênTuresporempresasnãofinanceiras

Destinação dos recursos captados 2008 2009 2010 2011

Refinanciamento de Passivo1 21,8% 56,9% 49,2% 55,2%

Capital de Giro 46,7% 38,5% 18,9% 22,4%

Investimento Imobilizado 0,5% - 0,7% 2,2%

Investimento em Infraestrutura 2,2% 0,2% 3,8% 2,4%

Investimento ou Aquisição de Participação Societária 19,8% - 20,1% 12,2%

Implantação de Projetos 5,5% 3,1% - 1,1%

Recompra ou Resgate de Emissão Anterior 3,5% 1,3% 7,3% 4,5%

Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: Boletim Anbima, Mercado de Capitais, vários números . 1. Inclui Alongamento do Perfil do Endividamento e Redução do Passivo.

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Em reflexo das medidas de estímulo ao financiamento voluntário de longo prazo, observa-se igualmente uma ampliação dos prazos médios das debêntures (Tabela 5). Em 2011, o prazo médio subiu para 5,3 anos e aumentou o percentual de debêntures com prazos de 7 a 9 anos. Porém, não ocorreu nenhum lançamento de debêntures relacionadas a projetos de investimento de longo prazo ou em pesquisa e inovação, que oferecem isenção tributária aos investidores estrangeiros e às pes-soas físicas6. Não obstante esses incentivos, a participação dos títulos privados de renda fixa nos investimentos estrangeiros de portfólio (IEP) permanece extremamente modesta: apenas 0,9% em 2011 (Gráfico 1).

Tabela 5. prazodasdebênTuresdeempresasnãofinanceiras

Ano da Emissão Prazo Médio (em anos) Distribuição em %

até 3 anos de 4 a 6 anos de 7 a 9 anos mais de 10 anos

2009 4,0 57,1 36,3 2,2 4,4

2010 4,9 25,0 56,8 10,9 7,3

2011 5,3 22,4 56,6 14,3 6,7

até mar./2012 6,0 26,0 47,9 17,8 8,2

Fonte: Boletim Anbima, Mercado de Capitais, vários números .

Após um fraco desempenho em 2010, o volume de recursos captados mediante a emissão de quotas de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FDIC) registrou fortíssimo aumento em 2011. Para a reativação desse segmento, contribuiu o lançamento, em abril, pela Caixa Econômica Federal (Caixa) e o BTG Pactual, do fundo de recebíveis Caixa BTG Pactual Multisegmentos NP, com patrimônio da ordem de R$ 3,5 bilhões, lastreados na carteira de crédito em atraso do banco PanA-mericano (COTIA, 2011). Um impulso adicional a esse tipo de instrumento de securitização foi a entra-da em funcionamento, em agosto de 2011, entra-da Câmara de Cessão de Crédito (C3)7, na qual passaram a ser registrados os FDIC (LIMA, 2011).

A oferta pública de distribuição de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), títulos lastre-ados em créditos imobiliários, também cresceu de forma expressiva, impulsionada pelo programa Minha Casa Minha Vida e pelo forte crescimento do financiamento habitacional. Em 2011, foram captados R$ 13 bilhões por meio desse título de securitização, específico do segmento imobiliário, o que representou um aumento da ordem de 69% na comparação com os dados de 2010.

Emitidos com valor unitário superior a R$ 300 mil, os CRI são vendidos, em geral, a fundos de investimentos e bancos privados. Porém, em maio de 2011, pela primeira vez, uma emissão de CRI foi vendida no varejo, ou seja, para pessoas físicas. Com valor unitário de mil reais e com lastro em con-tratos de financiamento imobiliários cedidos pela Caixa, os papéis emitidos pela Brazilian Securities atraíram mais de 1.600 pessoas físicas, que absorveram aproximadamente 42% da oferta, cujo valor total foi da ordem R$ 262 milhões8. Metade da emissão foi adquirida pela Caixa, que deverá atuar como market maker no mercado secundário de CRI, e o restante da emissão foi comprado por fundos de investimento e pessoas jurídicas (BELLOTTO, 2011).

Nos dados sobre o volume de captação no mercado primário de títulos de renda fixa (Tabela 3), chama atenção, igualmente, o desempenho atípico dos instrumentos classificados como Outros (quo-tas de FIPs/FIC-FIP, quo(quo-tas de FII) em março de 2011. Naquele mês foram captados R$ 7,5 bilhões 6. Para a concessão do

benefí-cio fiscal, exige-se igualmente que os títulos de renda fixa não tenham rendimento atrelado a taxas de juros pós-fixadas.

7. Criada para evitar a duplici-dade na venda de ativos, fraude descoberta por ocasião da fa-lência do banco PanAmericano em 2010, a C3 é operada pela Câmara Interbancária de Paga-mentos (CIP), ligada à Febraban (LIMA, 2011). Por determinação do Conselho Monetário Nacio-nal (Resolução n. 3.998, de 28/7/2011), todas as opera-ções de cessão de crédito rela-cionadas a empréstimos con-signados e financiamentos de veículos, incluindo os ativos que estão em FIDC, deverão ser obri-gatoriamente registradas na C3.

8. Com vencimento final em 2018, esses papéis ofereceram retorno de 10% ao ano, mais Taxa Referencial (TR). Para as pessoas físicas, que contam com isenção do IR, essa renta-bilidade é líquida.

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via quotas de Fundos de Investimento Imobiliário (FII) e R$ 3,3 bilhões via quotas de Fundo de Inves-timento de Participação (FIP) em ofertas com esforço restrito de colocação. Aproveitando a redução (de 6% para 2%) da alíquota do IOF sobre as operações de câmbio para aquisição de quotas desses fundos por investidores não residentes9, os agentes econômicos começaram a utilizar esses fundos para burlar as restrições impostas à entrada de investimento estrangeiro de portfólio com o intuito de conter a apreciação do real. Como essa arbitragem regulatória foi contida pela CVM por meio da Instrução n. 496, de 11/5/2011, os volumes de recursos captados por meio da emissão de quotas desses fundos retornaram aos patamares históricos.

desemPenho do mercado acIonárIo

Em 2011, o volume de recursos captados no mercado acionário primário foi o menor dos úl-timos cinco anos: R$ 19,2 bilhões. Contudo, o número total de oferta de ações se manteve pratica-mente inalterado na comparação com o de 2010, assim como sua composição. Em termos do volume captado, predominaram as ofertas subsequentes (OPA), que absorveram R$ 11,5 bilhões (60% da captação total) e as emissões mistas (R$ 11,3 bilhões e 59% do total de recursos), nas quais parte dos recursos se destina ao caixa da empresa e parte aos sócios.

Tabela 6. VolumederecursoscapTadosmedianTedisTribuiçãopúblicadeações, porTipodeoferTaedeemissão

Distribuição Pública de Ações

2008 2009 2010 2011

Nº de oferta R$ bilhões Nº de oferta R$ bilhões Nº de oferta R$ bilhões Nº de oferta R$ bilhões

Por tipo de oferta

Inicial (IPO) 4 7,6 5 10,8 11 11,9 11 7,5

Subsequente 11 27,3 19 36,3 13 140,2 12 11,7

Total 15 34,9 24 47,1 24 152,2 23 19,2

Por tipo de emissão

Primária 10 32,4 10 26,4 13 131,9 10 6,7

Secundária 3 1,7 8 15,6 1 1,6 2 1,1

Mista 2 0,4 6 5,1 10 18,7 11 11,3

Total 15 34,5 24 47,1 24 152,2 23 19,2

Fonte: CVM .

As emissões subsequentes da Gerdau (R$ 5,5 bi) e da TIM (1,7 bi) e as ofertas iniciais da em-presa petrolífera QGEP (R$ 1,5 bi) e da Qualicorp (R$1,1 bilhões) foram as maiores ofertas realizadas no ano passado. Em termos de setores de atividade econômica, o setor de metalurgia e siderur-gia concentrou 30,7% do volume captado, seguido por TI e telecomunicação (9,1%), construção civil (8,7%) e assistência médica (8,2%), petróleo e gás (8,0%) e comércio varejista (8,0%).

O mercado acionário brasileiro ainda é extremamente dependente dos fluxos de investimento estrangeiro. Em 2011, os investidores estrangeiros, sobretudo dos EUA, absorveram 55,9% das distri-buições públicas de ações (Tabela 7). Como grande parte da emissão da Petrobras em 2010 foi des-tinada aos investidores residentes, os estrangeiros tinham perdido participação relativa no mercado acionário primário brasileiro.

9. Além da redução da alíquota sobre essas operações de cbio, o governo concedeu, no âm-bito do pacote de estímulos do financiamento de longo prazo, desoneração do IOF incidente sobre a entrada de recursos estrangeiros em fundos de

pri-vate equity (Decreto n. 7.412,

de 30/12/2010), tais como os fundos de investimento em par-ticipação (FIP).

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Tabela 7. parTicipaçãodosinVesTidoresnasoferTaspúblicasbrasileiras1 Investidores 2008 2009 2010 2011 Investidores Estrangeiros 37,1 58,2 17,3 55,9 Estados Unidos 78,6 68,4 63,0 65,7 União Europeia 17,1 27,2 28,3 27,1 Outros 4,3 4,4 8,6 7,2 Investidores Institucionais 54,6 33,4 78,3 35,8 Pessoas Físicas 8,3 8,4 4,5 8,3 Fonte: Anbid/Anbima

1. Não inclui os volumes das emissões de renda variável no exterior.

Os investidores estrangeiros também ampliaram sua participação no mercado secundário, que subiu de 29,6% em 2010 para 34,7% em 2011 (Gráfico 4). Essa ampliação ocorreu em contrapartida à redução da presença das pessoas físicas, as quais tendem a sair do mercado quando esse opera em baixa por um período relativamente prolongado.

Gráfico 4. parTicipaçãodosinVesTidoresna bm&fboVespa

26,7% 30,5% 26,4% 21,4% 27,1% 25,7% 33,3% 33,3% 35,5% 34,2% 29,6% 34,7% 2,8% 2,1% 2,3% 1,7% 7,8% 7,4% 8,4% 8,7% 2008 2009 2010 2011

Pes.Físicas Institucionais Estrangeiros Empresas Inst.Financ.

Fonte: BMF&Bovespa.

PersPectIvas

Em 2012, as captações com títulos privados de renda fixa permanecem na liderança no mer-cado doméstico de capitais. Incentivadas pela contínua redução da meta da taxa básica de juros, os emissores de títulos de renda fixa captaram um volume de recursos da ordem de R$ 33 bilhões nos quatro primeiros meses do ano, o que representa 83% da captação doméstica total.

Nesse segmento, as debêntures continuaram registrando maior dinamismo, respondendo por 41,7% das ofertas e por mais de 69% das captações realizadas no período. Na comparação com os dados do primeiro quadrimestre de 2011, o volume captado mediante emissão de debêntures cresceu 82,8% (ante o aumento de 9,9% do total da captação privada de renda fixa no mesmo período). Além das emissões da Brasil Telecom e do BNDESpar, que mobilizaram montantes superiores a R$ 2 bilhões

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cada, destaca-se a oferta da Cemig, a primeira realizada no Novo Mercado de Renda Fixa (NMR), cria-do por iniciativa da Anbima. Em contraste, observa-se forte desaceleração na emissão de produtos estruturados, como CRIs e FDICs, cuja participação no volume total de recursos captados no segmento de renda fixa declinou de 35,7% para 11,4% nos quatro primeiros meses de 2012 em relação a igual período de 2011 (Tabela 8).

Tabela 8. mercado de capiTais no 1º quadrimesTre de 2012

Segmentos Captação

(R$ bilhões) Nº de ofertas por Emissor

Renda Fixa1 32,9 127 Debêntures2 22,9 53 FIDCs 2,0 13 Notas Promissórias 6,3 25 CRI 1,8 36 Renda Variável 6,6 5 Total Geral 39,5 132

Para memória (1º quadrimestre de 2011)

Renda Fixa1 30,0 132

Renda Variável 11,8 12

Total Geral 41,8 142

Fonte: Anbima Boletim Mercado de Capitais nº 72, maio 2012. 1. Exclui as quotas de FIPs/FIC-FIP e de FII.

2. Exclui as emissões das ofertas das empresas de leasing.

No primeiro quadrimestre do ano, havia a expectativa de que finalmente fosse iniciada a emis-são de debêntures com benefício fiscal associada a projetos de investimento de longo prazo, com o lançamento de títulos com prazo de 12 anos pela concessionária Rodovias do Tietê. Porém, como a maior parte dos recursos seria usada para pagar uma emissão de notas promissórias (o que, na ava-liação dos investidores, conflitaria com as disposições da Lei n. 12.431), a empresa se viu obrigada a cancelar a operação (PINHEIRO, 2012a).

De acordo com a imprensa, o governo já estuda alterações na legislação, de modo a permitir que empresa emissora possa pagar despesas e dívidas realizadas antes da captação de recursos por meio das debêntures incentivadas10. Isso porque é muito frequente que, para iniciar seus proje-tos de investimenproje-tos, as empresas captem recursos mediante empréstimo-ponte ou por emissão de títulos de dívida direta de curto prazo. Segundo Pinheiro (2012b), a revisão na lei deverá igualmente estender a isenção de IR e IOF à captação de CRI de longo prazo. Se isso ocorrer, é bastante provável que esse segmento de renda fixa ganhe dinamismo. Afinal, o potencial estimado para emissões de debêntures de infraestrutura seria, de acordo com o BNDES, entre R$ 400 bilhões e R$ 500 bilhões para o período 2012 e 2015.

No mercado de renda variável, após cinco meses consecutivos sem novas operações, foram realizadas cinco emissões em abril de 2012, com captação da ordem de R$ 6,6 bilhões. Esse volume de recursos é 44,1% inferior ao montante captado nos quatro primeiros meses de 2011.

De acordo com informações disponíveis no sítio da BMF&Bovespa, do total de ofertas públicas de ações efetuadas em abril de 2012, três foram ofertas públicas iniciais, que movimentaram R$ 4,4

10. Em dezembro de 2011, o governo reduziu de 2% a zero da alíquota do IOF sobre os inves-timentos externos em debêntu-res com duration acima de qua-tro anos e em ações (Decreto n. 7.632, de 1º/12/ 2011).

(10)

bilhões, com destaque para a abertura de capital do banco BTG Pactual, com captação de R$ 3,2 bi-lhões (dados preliminares). Essa foi a maior captação obtida em uma operação de abertura de capital desde a oferta realizada pelo banco Santander Brasil, no final de 2009. As duas ofertas subsequen-tes, uma da Fibria Celulose e a outra da Qualicorp, alcançaram R$ 2,2 bilhões.

Diante do baixo dinamismo da economia brasileira, a despeito das recentes iniciativas do go-verno, e da nova rodada de agravamento da crise na área do euro, dificilmente o mercado acionário brasileiro terá desempenho favorável em 2012. Iniciada no mês de abril, essa nova rodada, cujo epi-centro agora é o sistema bancário da Espanha, tem um potencial de transbordamento muito maior e mais devastador para a economia mundial e para os mercados financeiros internacionais do que uma eventual moratória da Grécia.

referêncIas

ANBIMA – Associação Brasileira de Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais. Boletim Mercado

de Capitais, vários números, 2011/12. Disponível em http://www.anbima.com.br/

______ Tabelas de registro das emissões. Disponível em http://portal.anbima.com.br/informacoes-tecnicas/boletins/mercado-de-capitais/Documents/Tabelas%20de%20Registros_052012.pdf

BELLOTO, Alexandra. CRI com lastro em contratos da Caixa atrai mais de 1,6 mil pessoas físicas. Valor

Econômico, 13/5/2011.

CEMEC – Centro de Estudos de Mercados de Capitais, Contas Financeiras – Retrospecto 2000-2011, São Paulo: Cemec-Ibmec, março de 2012. Disponível em http://www.cemec.ibmec.org.br/

COTIA, Adriana. À sombra do crédito. Valor Econômico, 11/7/2011.

CVM – Comissão de Valores Mobiliários. Informativo CVM: série estatística. Rio de Janeiro: CVM, maio de 2012. Disponível em http://www.cvm.gov.br/

FREITAS, M. Cristina P. de. Desafios do financiamento de longo prazo no Brasil. Boletim de Economia

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GRUPO de Economia/Fundap. Os fluxos de capitais para a economia brasileira em 2011. Boletim de

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LIMA, Aline. Venda de carteira de crédito entre bancos passa a ser monitorada. Valor Econômico, Finanças, 22/8/2011.

PINHEIRO, Vinícius. Rodovias do Tietê negocia dívida e nova debênture. Valor Econômico, Finanças, 31/5/2012.

______ Governo mudará regra de debênture com isenção fiscal. Valor Econômico, Finanças, 25-05-2012.

Referências

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