Destaques Semanais e Projeções Macroeconômicas
São Paulo, 4 de março de 2016Tatiana Pinheiro Adriana Dupita
Departamento de Pesquisa Econômica
Luciano Sobral Everton GomesMatheus Rosignoli Rodolfo Margato
Destaques da Semana
Um (relativo) alívio inflacionário
A primeira queda da inflação acumulada nos 12 meses deve ser a principal mensagem da divulgação
do IPCA de fevereiro, destaque entre os indicadores da agenda econômica da próxima semana.
Esperamos que a inflação ceda de 10,71% para 10,46% a/a, sendo a menor alta de preços
administrados o principal componente de alívio inflacionário. A inflação dos bens comercializáveis,
contudo, deve continuar em trajetória ascendente, refletindo a forte depreciação cambial observada no
final do ano passado. Em termos mensais, projetamos alta de 0,99% m/m, taxa bastante abaixo da
registrada em janeiro (quando a variação de preços foi de 1,27% m/m) por causa de três fatores. Em
primeiro lugar, diversos alimentos tem mostrado inflação menos pressionada em fevereiro, principalmente in
natura e carnes. Além disso, a redução da tarifa adicional cobrada nas contas de luz
– que passou de R$4,50
para R$3,00 apesar de a bandeira permanecer na cor vermelha
– deve puxar o grupo Habitação para o
terreno deflacionário. Por fim, para o grupo Transportes, é esperada uma desinflação da taxa mensal, em
consequência da dissipação dos efeitos de diversos reajustes nas tarifas de transporte público anunciados no
começo do ano.
Ainda sobre os índices de inflação, também deve ser divulgado o IGP-DI de fevereiro. Para tal,
projetamos alta de 1,05% m/m, o que representa inflação de 12,23% acumulada nos últimos 12 meses.
Comparado com a o último IGP-M, quando a alta foi de 1,30% m/m, o arrefecimento da inflação deve ser
puxado pela menor alta do IPA
– os produtos industriais devem exercer menor pressão sobre a inflação ao
atacado. O IPC também é um fator que auxilia nesse sentido. O componente, já divulgado, cedeu de 1,19%
m/m para 0,76% m/m.
Na quinta-feira será publicada a ata da última reunião do COPOM. Naquela oportunidade o BCB
manteve a taxa Selic em 14,25% p.a., em linha com a nossa projeção e com o consenso de mercado, e
trouxe poucas alterações no comunicado pós-decisão. Contudo, como antecipado por nós, mais uma
vez houve dissenso entre os membros do comitê. Há três decisões, dois dentre os oito diretores votam a
favor da alta de 0,50 p.p.. Mas o que tem prevalecido nas decisões de política monetária é a parcimônia na
definição da taxa de juros devido às incertezas domésticas e, principalmente, externas. Assim, sinalizações na
ata sobre mudanças na avaliação do crescimento econômico tanto doméstico como global, bem como sobre a
expectativa de evolução dos preços das principais commodities serão muito relevantes para indicar qual a
estratégia pretendida pela autoridade monetária. Provavelmente, a autoridade monetária apresentará um
prognóstico para a atividade econômica doméstica e global bem mais negativo do que o apresentado no
último relatório de inflação, em que a projeção para crescimento do PIB em 2016 era -1,9%. Diante do atual
quadro recessivo e da expectativa de um processo desinflacionário para os próximos meses, acreditamos que
o Banco Central irá manter a taxa Selic em 14,25% a.a. ao longo da primeira metade de 2016, e esperamos o
início de um ciclo de afrouxamento monetário no final do 2º semestre.
No campo da atividade econômica, o destaque da próxima semana será a divulgação da Pesquisa
Mensal do Comércio (PMC) de janeiro. Esperamos queda de 0,4% m/m (-8,5% a/a) para o volume de
vendas reais do varejo no conceito restrito, após a expressiva contração de 2,7% m/m registrada em
dezembro. Em relação ao varejo ampliado
– inclui veículos, motos, partes e peças, além de materiais de
construção -, estimamos declínio de 1,9% m/m (-13,9% a/a) no primeiro mês deste ano, em linha com a
significativa retração das vendas de veículos no período, conforme divulgado pela Fenabrave
– Federação
Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores. Acreditamos que os resultados do comércio varejista
continuarão fracos nos próximos meses, tendo em vista a piora do mercado de trabalho, as condições
apertadas do mercado de crédito e a baixa capacidade de endividamento das famílias. De fato, o nosso
cenário base considera alguma estabilização do consumo doméstico somente no final deste ano. Projetamos
recuo de 3,5% e 6,0% para o volume de vendas reais do varejo nos conceitos restrito e ampliado em
2016, respectivamente.
No cenário internacional, a reunião de política monetária na Zona do Euro atrai as atenções do
mercado. Tendo em vista a aparente fragilidade da atividade econômica no bloco, é esperado que o
Banco Central Europeu corte mais uma vez as taxas e depósitos e acelere o programa de
afrouxamento quantitativo. As medidas devem visar à aceleração do crescimento e evitar que as recentes
turbulências internacionais comprometam o desempenho da economia europeia. Na China, os dados de
produção industrial e de vendas no varejo, destaques entre os indicadores da agenda, devem mostrar como
evoluiu a atividade econômica da economia chinesa na passagem do ano até fevereiro.
Agenda
Segunda-feira Brasil BCB Boletim Focus 04/mar - - -
-07/03/16 MDIC Balança Comercial Semanal 04/mar US$ Milhões - -
-Internacional EUA Índice de Condições do Mercado de Trabalho fev/16 - - 1,0 0,4
EUA Crédito ao Consumidor jan/16 US$ Bilhões - $16,500 $21,267
Terça-feira Brasil FGV IGP-DI fev/16 m/m 1,05% 0,98% 1,53%
08/03/16 FGV IPC-S (1ª quadri) mar/16 m/m - - 0,76%
Internacional Z. do Euro PIB (revisão) 4T t/t a.s. - 0,3% 0,3%
Quarta-feira Brasil FIPE IPC (1ª quadri) mar/16 m/m - - 1,00%
09/03/16 FGV Indicadores do Mercado de Trabalho fev/16 - - -
-IBGE PIM: Produção Industrial Regional jan/16 - - -
-IBGE IPCA fev/16 m/m 0,99% 0,99% 1,27%
BCB Fluxo Cambial Semanal 04/mar - - -
-Internacional EUA Estoques no Atacado jan/16 m/m - -0,2% -0,1%
China CPI fev/16 a/a - 1,8% 1,8%
China PPI fev/16 a/a - -4,9% -5,3%
Quinta-feira Brasil FGV IGP-M (1ª prévia) mar/16 m/m - 0,70% 1,23%
10/03/16 BCB Ata do COPOM - - - -
-IBGE PMC: Vendas no Varejo jan/16 m/m a.s. -0,4% -0,6% -2,7%
IBGE PMC: Vendas no Varejo Ampliado jan/16 m/m a.s. -1,9% -1,7% -0,9%
ABCR Fluxo Pedagiado de Veículos fev/16 total a.s. - -
-Internacional Z. do Euro Reunião BCE - taxa de juros - - - 0,05% 0,05%
Z. do Euro Taxa de Depósitos - - - -0,40% -0,30%
EUA Pedidos de auxílio desemprego mar/16 milhares - 275 278
Sexta-feira Brasil IBGE PMS: Volume de Serviços jan/16 a/a - -
-11/03/16 Internacional EUA Preços de Exportações/Importações fev/16 m/m - -0,8% -1,1%
China Produção Industrial fev/16 a/a - 5,6% 6,1%
China Vendas no Varejo fev/16 a/a - 10,9% 10,7%
China Investimento em ativos fixos urbanos fev/16 a/a - 9,4% 10,0%
Na semana Brasil ABPO Expedição de Papel Ondulado fev/16 - - -
-Internacional China Balança Comercial Mensal fev/16 US$ Bilhões - $50,75 $63,29
Obs: Tabela completa de projeções no final do documento
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Cenário Econômico
Internacional: Os sinais de recuperação da economia americana levaram o Federal Reserve a iniciar o processo de normalização de juros nos
Estados Unidos em dezembro de 2015. Os próximos passos de política monetária, segundo declarações de membros do FOMC, devem ser lentos, graduais e dependentes da evolução da economia. Contudo, caso as condições internacionais se mostrem menos favoráveis, a retomada da alta de juros deve ficar para o médio prazo. Enquanto isto, a economia europeia segue apresentando uma tendência positiva de crescimento, apesar de um pouco aquém do esperado pelo BCE ao iniciar o programa de injeção de recursos (o chamado afrouxamento quantitativo). Por esse motivo, o BCE tem adotado medidas adicionais arrojadas de estímulo monetário. O impasse remanescente na Grécia ainda deve trazer algum reflexo negativo para a atividade local. Na China, a expectativa é que se mantenha o novo padrão de crescimento mais moderado, a despeito das medidas expansionistas (de política monetária e fiscal) adotadas pelo governo a fim de estimular a aceleração econômica. Nessas três economias citadas, a queda no preço internacional das commodities tem dificultado a consolidação da inflação em terreno positivo, exigindo cautela por parte das autoridades nas decisões de política monetária.
Câmbio e juros: A forte depreciação do real observada no último ano não deve se repetir no médio prazo, embora uma moderada deterioração
do câmbio seja esperada à medida que as perspectivas para a evolução da economia doméstica não melhorem. Para o curtíssimo prazo, as incertezas no cenário político, as quais afetam diretamente a consolidação das reformas pretendidas pelo governo, devem manter a volatilidade do câmbio em alta. Com relação à política monetária, a taxa de juros deve seguir em patamar elevado por todo o ano. No terceiro trimestre de 2016, com a atividade econômica bastante fraca, o Banco Central deverá iniciar um ciclo de corte de juros.
Atividade econômica: Os indicadores de consumo interno, produção industrial e investimentos seguem apontando para um aprofundamento da
recessão ao longo do primeiro semestre deste ano. Destaque para a deterioração do mercado de trabalho, com intensa elevação da taxa de desemprego e retração dos salários reais, e também para as condições mais apertadas do mercado de crédito, estoques ainda elevados na indústria e níveis deprimidos da confiança do empresariado e do consumidor, refletindo o ambiente econômico marcado por incertezas. Pelo lado positivo, a desvalorização cambial tende a continuar estimulando os setores exportadores e promovendo algum grau de substituição de importados na indústria de transformação (a um ritmo lento e gradual). Portanto, a estabilização da atividade econômica deve ocorrer apenas no segundo semestre deste ano, seguida por um crescimento bastante moderado em 2017. Uma recuperação mais contundente da atividade, com o crescimento do PIB acima do potencial, deve ficar apenas para 2019, com o retorno da taxa desemprego para a NAIRU (taxa de desemprego que estabiliza a inflação).
Inflação: Apesar do patamar elevado da taxa de juros, a inflação fechou o ano de 2015 bastante acima do teto da meta, refletindo diretamente o
realinhamento de preços administrados e a pressão do câmbio sobre os produtos importados, além dos efeitos indiretos, como o aumento de custos de produção, sobre preços livres. Para 2016, a menor alta de preços administrados e a contração da atividade econômica devem ser fatores decisivos para a queda da taxa de inflação. A inércia inflacionária, a depreciação cambial de 2015 e o impacto de aumento de impostos sobre os preços, contudo, não devem permitir que a inflação ceda para próximo da meta.
Balanço de pagamentos: Os últimos meses foram marcados pela queda do déficit em transações correntes acumulado em 12 meses, efeito
direto da desvalorização do real e do baixo crescimento da demanda doméstica. A perda do grau investimento tende a afetar o acesso ao financiamento externo, tornando o crédito internacional mais caro e mais curto e limitando o ingresso líquido principalmente do investimento estrangeiro em carteira. No entanto, dado o recuo no déficit em transações correntes e o elevado patamar de reservas internacionais, não se espera que o acesso mais limitado a financiamento externo resulte em pressões significativas e sustentadas sobre o câmbio ou risco de insolvência externa.
Política fiscal: O resultado primário deve permanecer negativo em 2016, uma vez que a melhora das contas fiscais vem sendo limitada pela
queda na arrecadação tributária decorrente do fraco crescimento doméstico, com reflexos na dinâmica da dívida pública. O efeito da desvalorização cambial observada em 2015 sobre a dívida pública líquida (dado que o setor público é, correntemente, credor líquido em moeda estrangeira), contudo, é um fator positivo nas contas fiscais.
Projeções Macroeconômicas
Projeções de Longo Prazo
2012 2013 2014 2015 2016 2017
PIB
Crescimento real (%) 1,0 3,0 0,1 -3,8 -3,7 1,2
PIB em US$ bilhões 2.252 2.464 2.416 1.780 1.532 1.599
PIB per capita anual (US$) 11.305 12.299 11.974 8.759 7.490 7.768
Mercado de Trabalho
Taxa Média de Desemprego. (% of PEA) 5,5 5,4 4,8 6,8 9,8 9,5
Massa Salarial (real % YoY) 6,3 2,8 2,6 -5,2 -3,9 1,1
Inflação (% a.a.)
IPCA (IBGE) 5,8 5,9 6,4 10,7 7,0 6,0
IGP-M (FGV) 7,8 5,5 3,7 10,5 7,5 6,0
Taxa de Câm bio
R$/US$ - final de período 2,04 2,34 2,66 3,90 4,10 4,20
R$/ € - final de período 2,70 3,21 3,21 4,25 4,84 4,92
Taxa de Juros (% a.a.)
Taxa básica em final de ano 7,25 10,00 11,75 14,25 13,00 11,50
Taxa de Juros Real s/ Inflação - IPCA 2,4 2,0 4,1 2,3 6,4 5,3
Contas Externas
Exportações (% a.a.) -5,3 -0,3 -7,2 -15,2 4,9 12,8
Importações (% a.a.) -1,4 7,3 -4,4 -25,3 -15,9 5,2
Balança em Conta Corrente (% do PIB) -2,4 -3,0 -4,3 -3,3 -1,4 -0,4
Contas Públicas
Resultado Primário (% do PIB) -2,4 1,8 -0,6 -1,9 -1,0 0,0
Dívida Líquida do Setor Público (% do PIB) 35,1 30,6 33,1 36,0 42,7 42,0
Cenário Internacional
Crescimento Real (%) EUA 2,2 1,5 2,4 2,4 2,8 3,0
Inflação CPI (%) EUA 1,7 1,5 0,8 0,7 2,1 2,5
Taxa Fed Funds (%a.a.) EUA 0,1 0,1 0,1 0,2 1,25 1,50
Crescimento Real (%) Zona Euro -1,0 0,4 0,9 1,5 2,0 2,0
Inflação (%) Zona do Euro 2,2 0,8 -0,2 0,2 1,2 1,8
Taxa Básica de Juros (%a.a.) Zona do Euro 0,8 0,3 0,1 0,1 0,1 0,1
Cenário Realizado
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