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ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca da Capital 2ª Vara Cível

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Autos n° 0324833-09.2014.8.24.0023 Ação: Cautelar Inominada/PROC

Requerente: Associação dos Servidores Civis da Segurança Pública de santa

Catarina - ASSESP/SC

Requerido: IBBCA 2008 Gestão em Saúde Ltda e outro

Vistos etc.

Cuida-se de AÇÃO CAUTELAR INOMINADA ajuizada pela ASSOCIAÇÃO DOS SERVIDORES CIVIS DA SEGURANÇA PÚBLICA DE

SANTA CATARINA ASSESP/SC, contra IBBCA GESTÃO EM SAÚDE LTDA.

ADMINISTRADORA DE SERVIÇOS e UNIMED GRANDE

FLORIANÓPOLISCOOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO, objetivando a

concessão de liminar para que as requeridas se abstenham de aplicar o reajuste de 76,80%, mantendo aos associados da requerente o valor da última prestação, relativa ao mês de julho/2014, bem assim seja determinada a manutenção do atendimento à saúde dos associados, até o julgamento final da demanda principal, com a emissão de novos boletos bancários referente ao mês de agosto/2014, com nova data de vencimento e sem a incidência de juros, multa ou outros encargos.

Relatou que, em 01/02/2012, firmou contrato de prestação de serviços de saúde com a empresa Viva Administração de Benefícios Ltda, com o intuito de ofertar aos seus associados a contratação de plano de saúde junto a requerida UNIMED Grande Florianópolis. No entanto, em 01/08/2012, a empresa Viva Administração de Benefícios Ltda. transferiu à primeira requerida a gestão e administração dos planos de assistência a saúde dos associados da requerente, junto a UNIMED Grande Florianópolis.

Explicou que no referido contrato há previsão de reajuste anual do plano de saúde, com aplicação na data base do mês de agosto. Ressaltou que o percentual de reajuste deverá ser negociado entre a requerente e a primeira requerida.

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Todavia, asseverou que em 29/07/2014 foi surpreendida pela correspondência nº 079/2014/DPCOM, remetida pela segunda requerida, UNIMED Grande Florianópolis, e pelo informativo encaminhado pela primeira requerida, impondo unilateralmente aos associados da requerente o reajuste anual de 76,80% (setenta e seis vírgula oitenta por cento) sobre os valores já acordados.

Sustentou que o reajuste é totalmente abusivo, desproporcional e injustificável, além de tornar a contratação do plano de assistência à saúde absolutamente inviável.

Afirmou que não foi consultada sobre a intenção do reajuste, tampouco foi oportunizada a chance de negociação de percentual justo e suportável por seus associados, inclusive atendendo às disposições acordadas junto ao contrato de prestação de serviços.

Aduziu que as requeridas agiram de má fé, eis que notificaram a requerente sobre o reajuste apenas em 29/07/2014, enquanto os boletos para pagamento pelos associados da requerente, já com os valores reajustados, possuem vencimento em 05/08/2014.

Juntou documentos de fls. 19/47. É o necessário relato.

DECIDO.

Sabe-se que que o artigo 804 do CPC estabelece os pressupostos à tutela cautelar, sobretudo quando pretendida liminarmente, tal como sucedido nos presentes autos. Com efeito, o deferimento da liminar cautelar é condicionado à presença do fumus boni juris e do periculum in mora.

De tal modo, cumpre ressaltar, que para concessão da liminar cautelar é necessária, além do perigo da demora, apenas a plausibilidade do direito invocado e não a comprovação inequívoca do respectivo direito.

É cediço que a certeza inequívoca do direito invocado pela requerente será objeto de análise somente na ação principal, na qual a sua efetiva existência será averiguada de forma apropriada e exauriente.

A presente ação tem como objeto a manutenção do contrato de plano de saúde coletivo, afastando-se o índice de reajuste de 76,80% (setenta e seis vírgula oitenta por cento) imposto pelas requeridas.

De acordo com as alegações da requerente, em 29/07/2014, foi surpreendida por correspondências remetidas pelas requeridas impondo unilateralmente aos seus associados o reajuste anual do plano de saúde

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em 76,80% (setenta e seis vírgula oitenta por cento) sobre os valores já ajustados. Analisando os documentos juntados pela requerente, verifica-se que em correspondência encaminhada pela segunda requerida (fls. 37), foi informado o índice de reajuste de 76,80% (setenta e seis vírgula oitenta por cento), correspondente ao resultado operacional negativo de 70,55% (setenta vírgula cinquenta e cinco por cento) no período contratual, acrescido de 6,25% (seis vírgula vinte e cinco por cento) correspondente ao IGPM-FGV acumulado nos últimos doze meses.

Além disso, na referida correspondência, verifica-se a informação de que os reajustes dos planos UNIFLEX, de acordo com a Lei n. 9.656/98, não estão condicionados ao índice estabelecido pela ANS (Agência Nacional de Saúde), que estabelece o percentual de reajustes somente para contratos de pessoa física.

Com efeito, ao tratar do reajuste das mensalidades, a Lei n. 9.656/98, não dispõe acerca dos contratos de plano coletivo, apenas referindo no seu artigo 35-E, §2º, que "nos contratos individuais de produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o desta Lei, independentemente da data de sua celebração,

a aplicação de cláusula de reajuste das contraprestações pecuniárias dependerá de prévia aprovação da ANS".

Assim, é possível concluir que em relação aos planos de saúde coletivos, como no caso dos autos, não há um percentual previamente estabelecido pela ANS, devendo os reajustes apenas serem comunicados à Agência.

Outrossim, conforme informações disponíveis no sítio eletrônico da ANS, tem-se que o reajuste dos planos de saúde coletivo é feito com base na livre negociação entre as operadoras e os grupos contratantes ( http://www.ans.gov.br/component/content/article/48-perguntas-frequentes/754-como-saber-se-o-aumento-de-preco-da-mensalidade-do-plano-de-saude-esta-correto):

Nos planos de saúde coletivos empresariais, contratados por intermédio de uma pessoa jurídica (ex: a empresa onde você trabalha), os reajustes não são definidos pela ANS. Nesses casos, a Agência apenas acompanha os aumentos de preços. Eles são reajustadosatravés de livre negociação entre a operadora do plano de saúde e o representante do grupo contratante (empresa, fundação ou associação) e a ANS não interfere nessa negociação. Todos os demais aspectos referentes aos planos coletivos (redes conveniadas, qualidade dos serviços assistenciais prestados, etc) são regulados pela ANS.

No entanto, embora a ANS não fixe os índices de reajuste, estes não podem ser aplicados sem a observância dos princípios de boa-fé vigente no momento da contratação, nos termos dos artigos 421, 422 e 423 do

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Código Civil.

De tal modo, o reajuste da mensalidade baseado nos argumentos expendidos pelas requeridas não observa o necessário equilíbrio e equidade contratual, podendo ocasionar inclusive a impossibilidade de a parte requerente dar continuidade ao cumprimento do pacto.

Cabe esclarecer que ainda que se reconheça a abusividade dos índices de reajuste pretendido, não se nega o direito das operadoras de plano de saúde em reajustar anualmente os contratos. Todavia, diante da abusividade do aumento, a busca pelo equilíbrio na relação contratual é feita por meio da manutenção apenas dos reajustes anuais autorizados pela ANS, nos casos de contrato de plano de saúde individual.

Sobre o tema, já decidiu a jurisprudência:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL CUMULADA COM MANUTENÇÃO OU RESTABELECIMENTO DO PLANO DE SAÚDE. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE ANTECIPOU OS EFEITOS DA TUTELA, DETERMINANDO A MANUTENÇÃO DA AVENÇA. RESILIÇÃO DO PACTO. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO. INDÍCIOS CONSISTENTES DO ROMPIMENTO UNILATERAL POR PARTE DA OPERADORA DO PLANO EM RAZÃO DA NEGATIVA DA CONTRATANTE EM REAJUSTAR AS MENSALIDADES NO PATAMAR PROPOSTO (40%). PRESENÇA DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. DECISÃO MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. REAJUSTE DA MENSALIDADE. SINISTRALIDADE. ABUSIVIDADE. [...] 2. Em que pese a ANS não defina teto para os planos coletivos, é abusivo o reajuste anual dos planos de saúde coletivo nos índices propostos pela ré, sob a alegação do aumento da sinistralidade. Inteligência dos arts. 421,422 e 423 do CCB. 3. Reajuste que deve atentar aos ditames legais e contratuais, no caso utilizando-se o INPC, consoante aditivo contratual. 4. A pretensão de rescisão imotivada e unilateral do contrato contraria todos os princípios do Direito Brasileiro, uma vez que, nada obstante os contratos não sejam perpétuos, ainda mais quando se trata de contrato de direito privado, devem ser protegidos os direitos básicos do contratante hipossuficiente, parte reconhecidamente vulnerável, relacionados à saúde e à vida, garantindo-se a vida daqueles que dependem do plano de saúde, como forma de fazer valer as disposições do CCB nos artigos 421, 422 e 423 do CCB. APELO PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70050740091, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel Dias Almeida, Julgado em 31/10/2012). (TJSC, Agravo de Instrumento n. 2013.038210-8, de Joinville, rel. Des. Jorge Luis Costa Beber, j. 24-04-2014).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. REAJUSTE DA MENSALIDADE. SINISTRALIDADE. ABUSIVIDADE. 1. São inaplicáveis as disposições atinentes ao

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Código de Defesa do Consumidor, porquanto a parte autora contratou o seguro no intuito de fomentar a sua atividade econômica, melhorando a qualidade de saúde dos funcionários, e não como "destinatária final". 2. Em que pese a ANS não defina teto para os planos coletivos, é abusivo o reajuste anual dos planos de saúde coletivo nos índices propostos pela ré, sob a alegação do aumento da sinistralidade. Inteligência dos arts. 421,422 e 423 do CCB. 3. Reajuste que deve atentar aos ditames legais e contratuais, no caso utilizando-se o INPC, consoante aditivo contratual. 4. A pretensão de rescisão imotivada e unilateral do contrato contraria todos os princípios do Direito Brasileiro, uma vez que, nada obstante os contratos não sejam perpétuos, ainda mais quando se trata de contrato de direito privado, devem ser protegidos os direitos básicos do contratante hipossuficiente, parte reconhecidamente vulnerável, relacionados à saúde e à vida, garantindo-se a vida daqueles que dependem do plano de saúde, como forma de fazer valer as disposições do CCB nos artigos 421, 422 e 423 do CCB. APELO PROVIDO. (TJRS, Apelação Cível Nº 70050740091, Quinta Câmara Cível, Relator: Isabel Dias Almeida, Julgado em 31/10/2012)

Assim, de fato, é verossímel o direito invocado pela requerente no intuito de ver concedida a liminar cautelar para determinar que as requeridas se abstenham de aplicar o reajuste de 76,80%, mantendo aos associados da requerente o atendimento à saúde até o julgamento final da demanda principal. Vislumbra-se, pois, a presença do fumus boni iuris, no direito alegado pela requerente.

Outrossim, o periculum in mora reside no fato de que, caso as requeridas apliquem os índices de reajuste pretendido, a requerente pode ficar impossibilitada de dar continuidade ao cumprimento do pacto.

Por todo o exposto, presentes o fumus boni juris e o periculum in mora, DEFIRO medida cautelar para que as requeridas se abstenham de aplicar o reajuste de 76,80%, bem assim mantenham o atendimento à saúde dos associados da requerente, até o julgamento final da demanda principal. Autorizo às requeridas, a aplicação de reajuste no máximo permitido pela ANS aos planos de saúde individuais, com a emissão de novos boletos bancários referentes ao mês de agosto/2014, com nova data de vencimento, e sem a incidência de juros, multa ou outros encargos.

Fixo multa diária às requeridas, para o caso de descumprimento desta decisão, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

INTIME-SE as requeridas, com urgência, para darem

imediato cumprimento a esta decisão, CITANDO-AS para, querendo, oferecerem resposta no prazo de lei.

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Florianópolis (SC), 01 de agosto de 2014.

Leone Carlos Martins Junior Juiz de Direito

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