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marco zero da indús-tria automobilística brasileira precisa de ajuda técnica para ser estabelecido. Na opinião de alguns o minúsculo Romi-Isetta, para apenas motorista e acompa-nhante, teria sido o primeiro automóvel a ser fabricado em série no País. O minicarro - que tinha apenas uma porta, fron-tal - deixou a linha de monta-gem de Santa Bárbara d'Oeste, em 5 de setembro de 1956, fora dos planos governamentais. Mas, mesmo que tivesse mais portas, seu começo também não teria sido muito digno, pois o Isetta fracassou no seu país de origem, a Itália, tendo todas as máquinas de produção sido en-viadas ao Brasil.
Mas, de acordo com as re-gras estabelecidas pelo Geia, Grupo Executivo da Indústria
Automobilística, e admitido pela maioria dos historiadores, a camioneta DKW-Vemag, cha-mada hoje de station wagon ou perua, com duas portas e espa-ço para cinco passageiros, foi o primeiro veículo convencional brasileiro. Fabricado em 19 de novembro de 1956, em São Pau-lo, tinha 60% de nacionaliza-ção em peso – o conceito atual considera o valor. Possuía tra-ção dianteira e motor de dois tempos de 900 cm³ e 38 cv, em um mundo dominado na épo-ca pela tração traseira e moto-res de quatro tempos.
A camioneta originou o primeiro automóvel brasileiro, o sedã DKW Vemag para seis passageiros, em 1958. Entre suas características estava o assoalho plano, ótima idéia es-quecida durante décadas até ser redescoberta pelo Honda Civic em 2000. A Volkswagen
Os avanços
Romi-Isetta,
DKW-Vemag, Kombi,
Fusca, Simca, Willys
e Ford Galaxie estão entre
os pioneiros automóveis
e comerciais leves
produzidos no Brasil.
Kombi, um veículo de uso mis-to que tinha sido lançado em 1957, além do motor arrefeci-do a ar, destacava-se pela capa-cidade de carga líquida prati-camente igual ao seu próprio peso, fenômeno até hoje não igualado. O próprio Fusca, em 1959, chegou com motor trasei-ro arrefecido a ar e suspensões independentes nas quatro ro-das. Também utilizava barras de torção no lugar das molas tra-dicionais.
O Simca Chambord, de 1959, embora desatualizado, foi o primeiro sedã com a clás-sica arquitetura de motor di-anteiro e tração traseira, segui-do em 1960 pelo FNM 2000 JK, baseado num modelo Alfa Romeo de 2 mil cm³. Enquan-to o Simca possuía um moEnquan-tor V8 de 2.350 cm³ e 90 cv, o FNM conseguia 108 cv por dispor de motor de quatro cilindros em
sua linha mais sofisticada. O JK utilizava um exclusivo e raro, na época, câmbio manual de cinco marchas. E o primeiro carro esporte de série, o Willys Interlagos, surgiu em outubro de 1961.
O Ford Galaxie, em 1966, causou rebuliço por se tornar o primeiro automóvel sem defa-sagem com relação ao modelo em produção no país de ori-gem. E 1968 foi um bom ano, com o lançamento do Chevrolet Opala, do Ford Corcel e do VW 1600. O Corcel, sobre a arqui-tetura do Renault R12, marcou o começo de uma era ao con-tar com uma carroceria especí-fica para o Brasil. Não chegou a ser uma primazia porque a Vemag anteriormente fabrica-ra o Fissore, porém deu origem ao importante centro de pes-quisa idealizado pela Willys e consolidado pela Ford em 1969.
88 • Indústria Automobilística Brasiliera - 50 anos
A engenharia automobilís-tica nacional começou a se fir-mar nos anos 70. A Volkswagen utilizou as antigas instalações da Vemag para ampliar o departa-mento de projetos, e de suas pranchetas saiu o Brasília em 1973, só produzido no Brasil. A General Motors também come-çava a investir na capacitação técnica e a inauguração em Indaiatuba, do primeiro campo de provas da América Latina, em 1974, significou um importante marco. A Ford abriu seu campo de provas em Tatuí cinco anos depois. Em 1978, a Fiat lançou a picape 147, inaugurando uma categoria única até hoje no mundo: pequenos veículos de carga derivados de automóveis. Um caso de sucesso na his-tória dos projetos brasileiros foi o Gol, de 1980. Conquistou a li-derança de mercado em 1987 e nunca mais saiu de lá, mesmo sem ser o modelo mais barato. É líder também na Argentina e foi para o México com o nome de Pointer - neste caso a família:
hatch, perua e picape. A versão
GTI do Gol, em 1988, tornou-se o primeiro automóvel com inje-ção eletrônica analógica. Aliás, as dificuldades com relação à lei de reserva de mercado de informática foram um dos moti-vos para a estagnação técnica no
final dos anos 80. O Omega, de 1992, marcou novo patamar de atualização, porém só chegou seis anos depois de lançado na Alemanha.
João Gurgel foi o responsá-vel, em 1988, pelo primeiro e único subcompacto brasileiro completo, o BR 800, resultado do ambicioso projeto Carro Eco-nômico Nacional. A empresa fundada em 1975 sobreviveu por vinte anos. Por razão des-conhecida Gurgel nunca o sub-meteu a um crash test.
Condomínios industriais
A grande virada da indústria ocorreu a partir dos acordos setoriais de 1992, do programa do carro popular de 1993 e da polí-tica industrial de 1995. Permitiu dobrar a produção em cinco anos, alcançando a escala necessária para a evolução tecnológica que se seguiu. Plantaram-se condições econômicas para o rápido pro-gresso também em manufatura, em razão dos condomínios indus-triais e de fábricas bastante pro-dutivas, mesmo afastadas do nú-cleo pioneiro do ABC.
Já neste século 21 o limiar técnologico superou a simples maturidade. Vieram os primei-ros modelos projetados no Bra-sil e de aceitação mundial. São os casos de Meriva, EcoSport e Fox, que abriram perspectivas bem mais amplas do que ape-nas criar versões de modelos existentes. O Brasil capacitou-se a exportar serviços de engenha-ria, a preços de trabalho inte-lectual extremamente competi-tivos, em todas as etapas de de-senvolvimento, inclusive do ve-ículo completo, bom e barato.
Sustentar esse nível eleva-do é o grande desafio daqui para frente, tendo que enfren-tar a onda de competição de chineses, europeus do Leste e indianos.
Os avanços
Volkswagen Brasília, projeto pioneiro da engenharia brasileira,
só produzido no País.
A grande virada
da indústria ocorreu
a partir dos acordos setoriais
de 1992, 1993 e 1995,
do programa
do carro popular de 1993
e da política industrial de
1995. Permitiu dobrar
a produção em cinco anos,
alcançando escala
necessária para a evolução
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Os avanços
Avanços em motores
Linha de montagem da fábrica de motores Volkswagen em São Carlos, SP.
O surgimento em 1975 do Proálcool propiciou o desenvolvi-mento de pesquisas mais profundas na área de motores. O Bra-sil alcançou o estado-da-arte em motores a álcool e chegou a produzir mais de 90% dos automóveis exclusivamente para o combustível vegetal em meados dos anos 80. Os avanços origi-naram-se no laboratório de pesquisa de motores do Centro Téc-nico Aeroespacial, em São José dos Campos, SP, graças à de-terminação sacerdotal do professor Urbano Stumpf. A indústria conseguiu superar os obstáculos mais difíceis à custa de pes-quisas e exaustivos testes de campo.
Nos anos 90 os desafios continuaram. Quando o mercado foi artificialmente direcionado para carros com motor de 1 mil cm³ de cilindrada as engenharias das fábricas tiveram muito trabalho. Começou a escalada de potência e torque, de início para propiciar a instalação de sistemas de ar-condicionado e direção assistida, até chegar ao motor com turbocompressor de Gol e Parati com nada menos que 112 cv. Os primeiros motores de 1 litro alcançavam apenas 48 cv e hoje atingem potências específicas de quase 80 cv/litro em configurações simples - as-piração normal, comando único, oito válvulas - sem paralelo no mundo nessa faixa de preço.
Essa especialização também facilitou o rápido desenvolvi-mento dos motores flexíveis álcool-gasolina, que surgiram pela primeira vez nos Estados Unidos em 1991. No Brasil só chega-ram em 2003, porém com tecnologia bem superior, a ponto de o País ter se transformado em referência mundial. A inclusão do gás associado à tecnologia flex trouxe mais uma alternativa, prin-cipalmente para frotas. Outro exemplo de capacitação foi a su-peração das metas do Proconve, Programa de Controle da Po-luição do Ar por Veículos Automotores, iniciado em 1976. Novas exigências começarão nos próximos anos, e será necessário investir na melhora da gasolina e muito mais do diesel para atin-gir os objetivos.
Os primeiros motores
de 1 litro alcançavam
48 cv e hoje atingem
potências específicas
de quase 80 cv/litro.
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