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Centro de Desenvolvimento Sustentável

Universidade de Brasília

Primeiro semestre de 2008

Conflito em torno da liberação e

comercialização de Organismos Geneticamente

Modificados no Brasil – Um olhar sobre a

Instância da CTNBio.

Alessandra Bortoni Ninis

(aleninis@unb.br)

Disciplina:

Análise de Conflitos socioambientais

Professores responsáveis:

Elimar Pinheiro do Nascimento (elimar.nascimento@uol.com.br)

Luis Tadeu Assad (assadmar@iabs.org.br)

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Universidade de Brasília Centro de Desenvolvimento Sustentável

Análise de Conflitos socioambientais

Conflito em torno da liberação e comercialização de Organismos Geneticamente Modificados no Brasil – Um olhar sobre a Instância da CTNBio.

ALESSANDRA BORTONI NINIS

Resumo:

Nas últimas décadas tem-se intensificado a discussão em relação aos organismos geneticamente modificados tanto por compreenderem tecnologias capazes de gerar grande inovação no sistema agroalimentar e farmacológico, quanto pelo fato de não apresentarem segurança sobre suas implicações em longo prazo, principalmente no que concerne aos efeitos destas técnicas em seu uso intergeracional e na biodiversidade. Diante deste quadro, este artigo visa apresentar os primeiros achados referentes ao conflito em relação à liberação de OGMs no Brasil a partir do acompanhamento das sessões plenárias da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio entre os meses de agosto de 2007 a abril de 2008, confrontando as diferentes visões e interesses que permeiam o conflito interno dessa instância.

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Introdução

Este artigo trata de um estudo do conflito em torno da liberação de organismos geneticamente modificados no âmbito da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNbio. Esta instância é o local institucionalizado do conflito em torno dos organismos transgênicos. A pesquisa foi realizada a partir do acompanhamento das sessões plenárias da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio entre os meses de agosto de 2007 a abril de 2008, confrontando as diferentes visões e interesses que permeiam o conflito interno dessa instância. Também se utiliza de uma entrevista com o membro da CTNBio, Rubens Nodari, realizada em abril de 2008.

A Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105 de 2005) define organismo geneticamente modificado (OGM) como o organismo cujo material genético (ADN/ARN) tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética.

Segundo Altieri (2004) os organismos geneticamente modificados são vegetais ou animais que contêm material genético alterado de modo permanente por meio de engenharia genética de forma a conter genes diferentes a sua estrutura genética natural.

De acordo com Nodari1 os organismos geneticamente modificados ou transgênico resultam da introdução de DNA recombinado in vitro, pela tecnologia do DNA recombinante, técnica denominada de engenharia genética. Esta técnica é diferente da recombinação entre DNAs que ocorre naturalmente durante o processo sexual.

A engenharia genética, por sua vez, pressupõe o uso da biotecnologia que pode ser definida como a combinação de bioquímica, genética, microbiológica e engenharia, para desenvolver produtos e organismos de valor comercial. (ALTIERI, 2004) Segundo Nodari2 a biotecnologia representa muitas técnicas úteis ao ser humano, sendo a transgenia apenas uma delas.

A pesquisa de Chataway e Tait (1992) com cerca de 120 atores ligados à empresas de biotecnologia e aos procedimentos de regulamentação no Reino Unido e na Comunidade européia indicaram duas formas distintas de abordagens em relação aos organismos geneticamente modificados: a abordagem americana, e a européia.

Segundo estes autores a abordagem americana é baseada no produto, ou seja, pressupõe que não há necessidade de se tratar os organismos transgênicos como uma categoria especial, pois eles não causam uma ameaça diferente dos produtos similares já existentes. Essa abordagem dispensa uma conformação institucional específica para tratar dos OGMs; seu enfoque é vertical e reativo. Segundo Altieri (2004, pág. 12) o modelo norte-americano considera os cultivos modificados geneticamente “substancialmente equivalentes” aos

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cultivos tradicionais, o que leva a uma ausência da necessidade de um marco regulatório específico.

A abordagem européia (como a brasileira), ao contrário, é baseada no processo e pressupõe que todo organismo geneticamente manipulado pode, potencialmente causar danos ambientais e, por isso, envolve a implementação de órgãos exclusivos com conhecimento especializado para liberar, controlar e revisar produtos oriundos de OGMs; seu enfoque é horizontal e preventivo.

Essas duas abordagens refletem as distintas representações sociais que nossa sociedade tem a respeito de organismos transgênicos. Tidos como uma inovação agrícola milagrosa representa a promessa de se atingir consideráveis aumentos de produtividade, aliados à significativa redução de custos de produção e menores impactos ambientais devidos ao suposto menor uso de agrotóxicos (BICKEL, 2004). Também possui um apelo social de contribuir para resolver o problema da fome nos países em desenvolvimento, além de propor uma revolução nas ciências biomédicas.

Wilkinson (1989, pág. 121) afirma que os OGMs representam uma oportunidade para aumentar a “intercambiabilidade” entre os produtos agrícolas e diminuir a rigidez na sua localização, abrindo novos mercados e criando usos alternativos da terra. Além disso, para esse autor, os transgênicos poderiam transformar as funções de insumos agrícolas e aumentar a competitividade de produtos domésticos, acelerando o processo de substituição do sistema alimentar atual.

Segundo Altieri (2004, pág. 13) as corporações agroquímicas defendem que a engenharia genética melhorará a sustentabilidade da agricultura diminuindo a dependência de insumos químicos, aumentando a produtividade, reduzindo os problemas ambientais, a pobreza e a fome dos países em desenvolvimento.

Porém, apesar de revestido da máscara do “economicamente viável e socialmente justo”, a produção de transgênicos sofre rejeição por parte dos consumidores devido ao risco de efeitos negativos para a saúde e o meio ambiente (BICKEL, 2004).

Os principais riscos alegados pela sociedade civil e científica (BICKEL, 2004; VARELLA e PLATIAU, 2005; NODARI e GUERRA, 1999) são:

(i) à saúde humana, a ingestão dos grãos geneticamente modificados pode provocar aumento de alergias, resistência a antibióticos e elevação do índice de substâncias tóxicas nos alimentos;

(ii) ao meio ambiente, o risco da erosão e poluição genética, afetando a biodiversidade, pela contaminação dos bancos naturais de sementes, o aumento

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da monocultura e o aumento do uso de pesticidas; Além do efeito adverso aos organismos não alvos e aos processos ecológicos;

(iii) à soberania alimentar do País, em razão da perda do controle das sementes e dos seres vivos pelo patenteamento dos mesmos, tornados propriedade exclusiva e legal de grupos transnacionais que só visam fins comerciais; e

(iv) a possibilidade de ocorrer total dependência e/ou desaparecimento da pequena e até da média agricultura, por causa do monopólio mundial da produção e comercialização das sementes.

Desde que as primeiras técnicas de transgenia começaram a ser realizadas a questão dos organismos geneticamente modificados (OGMs) tornou-se polêmica. Vários setores da sociedade civil passaram a questionar os riscos e incertezas técnicas e morais da utilização de sementes transgênicas para a saúde humana e para o meio ambiente, deflagrando conflitos de caráter socioambiental que representam interesses de cunho material, política, moral e ideológico.

O conflito em torno dos OGMs possui dimensões globais, nacionais e locais. Ele se apresenta institucionalizado internacionalmente, por meio do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, acordo firmado no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica, do qual o Brasil é signatário.

O artigo 10 Protocolo de Cartagena prevê que a tomada de decisão sobre o uso de organismos transgênicos deve levar em consideração a ausência de certeza científica devida à insuficiência das informações e dos conhecimentos científicos relevantes sobre a dimensão dos efeitos adversos potenciais de um organismo vivo modificado na conservação e no uso sustentável da diversidade biológica, levando também em conta os riscos para a saúde humana, a fim de evitar ou minimizar esses efeitos adversos potenciais.

Já o artigo 15 do referido protocolo prevê que devem ser realizadas avaliações de risco conduzidas de maneira cientificamente sólida e baseadas em evidências científicas a fim de identificar e avaliar os possíveis efeitos adversos dos organismos vivos modificados na conservação e no uso sustentável da diversidade biológica, levando também em conta os riscos para a saúde humana. Além disso, o protocolo prevê, no artigo 18, a rotulagem e identificação de produtos transgênicos nas embalagens tanto em caso de importação e exportação de produtos como no consumo humano ou animal.

Ainda no espaço internacional articulam-se como principais atores os diversos estados-nação com suas normas nacionais, as empresas transnacionais de biotecnologia, entidades como a Organização Mundial do Comércio e organizações não-governamentais internacionais de proteção ao meio ambiente, de defesa do consumidor e entidades religiosas.

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No Brasil o conflito está institucionalizado por meio do Conselho Nacional de Biossegurança, pela Lei de Biossegurança (Lei 11.105, de 2005) e pela CTNBio, instância colegiada multidisciplinar, criada com a finalidade de prestar apoio técnico consultivo e de assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança.

Dentro da CTNBio representantes de diferentes setores (com maior representatividade do Ministério de Ciência e Tecnologia e do Governo Federal e menor representatividade da sociedade civil organizada) assumem posicionamentos e atitudes polarizadas em relação à análise de risco, ao princípio da precaução e à liberação de OGMs. Estes posicionamentos causam tensões, conflitos e disputas entre os dois grupos que representam interesses sociais divergentes.

Varella e Platiau (2005, pág. 27-30) citam como grupos de interesse em relação à discussão sobre os transgênicos, as autoridades públicas que participam do mecanismo de tomada de decisão; as multinacionais; os agricultores; os consumidores; as cadeias de distribuição das grandes marcas e os cientistas. É importante ressaltar, ainda, o papel das organizações não-governamentais de proteção ao meio ambiente e ao consumidor, dos movimentos sociais e das entidades religiosas na arena de disputa e interesse.

Como ilustração, podemos citar algumas entidades que apóiam a liberalização de transgênicos: Governo Federal (exceto os Ministérios do Meio ambiente, Desenvolvimento Agrário e Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, que querem mais rigor na avaliação de risco), Embrapa, Fiocruz, grandes agricultores, deputados da bancada ruralista do Congresso Nacional e empresas de biotecnologia (Monsanto, Bayer, Du Pont, Basf, Dow AgroSciences, Syngenta, para citar apenas as seis maiores). Por outro lado, algumas entidades ativas no combate aos OGMs são: Greenpeace, Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra - MST, Pastoral da Terra; Confederação Nacional dos Bispos - CNBB; Via Campesina, Promotoria Federal, os Ministérios do Meio ambiente e Desenvolvimento Agrário, Ministério da Saúde3, etc.

Além das esferas institucionalizadas, os conflitos podem ser deflagrados em outros espaços sociais como em comunidades ameaçadas pela expansão da fronteira agrícola, ou quando ocorre invasão da espécie transgênica afetando a diversidade biológica em uma região ou contaminando plantações convencionais.

Os embates e conflitos em torno do uso, produção e consumo de produtos transgênicos, se dão, portanto, em diferentes campos e diferentes atores, e envolve diferentes áreas do conhecimento, tais como biotecnologia, agroecologia, ecologia, direito, economia, relações

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De acordo com Nodari (Entrevista realizada em 17 de abril de 2008) os referidos ministérios não se opõem aos OGM, mas a maneira como está sendo realizada a liberação de OGMs pela CTNBio, sem a realização de avaliação de risco.

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internacionais, ciências sociais, ética. Para se compreender a dimensão dos conflitos relacionados ao uso de organismos geneticamente modificados é necessário, portanto, utilizar-se de uma abordagem sistêmica e transdisciplinar.

Neste trabalho usaremos a metodologia de análise de conflitos proposta no curso de “Análise de conflitos socioambientais” do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB. Porém, a metodologia proposta é mais aplicável em conflitos socioambientais localizados, que envolvam comunidades, empresas e estoque, uso ou degradação de recursos naturais. No caso do estudo da CTNBio, veremos um conflito já institucionalizado em um espaço próprio, onde apenas atores selecionados e com mérito, têm o direito a voz e decisão. Um conflito que “se esconde” da sociedade. Por esse motivo, a metodologia original foi adaptada para a singularidade do conflito estudado.

O trabalho consta de 5 partes. A primeira traz uma base conceitual sobre conflitos e conflitos socioambientais; a segunda trata dos riscos inerentes à Revolução Verde e à biotecnologia; a terceira apresenta uma caracterização do espaço onde se desenrola o conflito; o quarto apresenta a dinâmica do conflito e a interação entre atores sociais; o quinto faz uma breve análise do conflito.

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1. Referencial Teórico: conflitos socioambientais

Os conflitos podem ser caracterizados por um conjunto de elementos que influenciam sua evolução e intensidade (NASCIMENTO, 2001). Nesse sentido, os seguintes elementos dos conflitos se destacam: sua natureza, os atores sociais envolvidos, o campo específico, o objeto de disputa (material ou/e simbólico), a dinâmica de evolução, os mediadores e sua tipologia (Ibid.).

Da mesma forma que no espaço social, na relação entre sociedade e meio ambiente atuam diferentes forças de interesses e necessidades entre atores sociais, que divergem entre si quanto aos meios de apropriação, transformação e controle dos recursos naturais (ARIAS, 1999). Os conflitos que envolvem o homem e o meio ambiente podem ter denominações distintas como: conflitos socioambientais, conflitos ecológico-distributivos, conflitos ecológicos ou conflitos ambientais.

O campo de estudo dos conflitos socioambientais se constitui em uma recente área de conhecimento derivada dos conflitos sociais, e é denominado por muitos autores de Ecologia Política. Este novo campo de estudos nasce das áreas de Geografia e Antropologia rural a partir da década de 1970 e torna-se especialmente atenta para os conflitos socioambientais a partir da década seguinte (MARTINEZ-ALIER, 2007).

Segundo Little (2006), a Ecologia Política emergiu há cerca de vinte anos em meio ao agravamento da crise ambiental e da expansão da globalização como um novo campo de pesquisa transdisciplinar. Esta ramificação da ecologia cultural se ocupa das (inter)relações que as sociedades humanas mantêm com os seus respectivos ambientes biofísicos, buscando compreender as relações estruturais de poder que permeiam a esta interação. A ecologia política tem na análise dos conflitos socioambientais seu elemento central. Esta análise vai para além dos embates políticos e econômicos, abrangendo uma gama de elementos como ética, cultura, qualidade de vida, saúde, educação e sustentabilidade (LITTLE, 2006). Ainda segundo este autor, esta linha de pesquisa requer uma abordagem espaço temporal que possa abrigar as temporalidades geológicas, biológicas e sociais.

Por se constituir em um campo de saber ainda em formação, as conceituações e marcos metodológicos dos estudos dos conflitos socioambientais ainda estão em construção. Uma dificuldade encontrada pelos estudiosos do conflito socioambiental deve-se ao fato de os conflitos se constituírem de aspectos complexos e multidimensionais, onde as dimensões econômica, política, ideológica, cultural, territorial e simbólica perpassam as relações entre os diversos atores e o meio ambiente.

Alguns autores têm trabalhado nesta construção conceitual e metodológica, principalmente no que diz respeito à delimitação do campo de estudo dos conflitos socioambientais. Este recorte teórico sobre o tema resulta extremamente oportuno, haja vista que a dimensão

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ambiental encontra-se presente nos mais diversos tipos de conflitos, que não necessariamente enquadram-se na categoria dos conflitos socioambientais.

Neste aspecto, Libiszewski (1992) ressalta que os conflitos ambientais possuem especificidades próprias que os distinguem de outros tipos de conflitos. Para o autor, a delimitação desta tipologia de conflito deve levar em consideração as interferências humanas no meio ambiente que desestabilizam o equilíbrio do ecossistema e suas repercussões que levam a mudanças nas relações entre seres humanos e entre estes com o seu meio. Quando esta mudança ambiental causa um impacto social negativo, implicando em perda de qualidade de vida da sociedade, esta é vista como degradação. Ante o exposto, o autor considera como conflito ambiental todo o conflito causado pela escassez de recursos naturais renováveis, que é induzido por uma degradação ambiental. A degradação ambiental se configura na causa ambiental do conflito ambiental (LIBISZEWSKI, 1992).

A degradação ambiental pode se converter em conflito ambiental quando associada a um ou mais dos seguintes fenômenos sociais adversos: diminuição da produção agrícola, declínio econômico, migração populacional e enfraquecimento das instituições e relações sociais. As respostas de uma dada sociedade à degradação ambiental e seus efeitos sociais adversos influenciam a intensidade e evolução do conflito ambiental (LIBISZEWSKI, 1992).

Por outro lado, existem definições alternativas de conflitos socioambientais que não necessariamente envolvem problemas de degradação ambiental. Este é o caso do diagnóstico sobre conflitos socioambientais realizado pelo Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico no Acre, onde estes conflitos podiam ou não envolver problemas de degradação ambiental.

Devido à crise ambiental estar intimamente vinculada a aspectos sociais, Little (2001) faz referência à uma crise socioambiental e ao conflito socioambiental que deriva desta (LITTLE, 2001). O conceito socioambiental engloba o mundo biofísico, o mundo humano, o relacionamento dinâmico entre eles e a complexidade que o engloba (Ibid.). Com respeito ao conflito socioambiental entende-se que é um tipo específico de conflito humano, característico da sociedade moderna e inerente à própria formação do modelo atual da sociedade. Little (2001) define os conflitos socioambientais como disputas entre grupos sociais oriundas dos diferentes tipos de relação que eles mantêm com seu meio natural. Além da dimensão social e ambiental, este tipo de conflito pode ter dimensões políticas, geográficas e jurídicas. Para o autor, os conflitos socioambientais podem ser classificados como: (i) conflito em torno do controle sobre os recursos naturais; (ii) conflito em torno dos impactos ambientais e sociais gerados por ação antrópica e natural; (iii) conflito em torno do uso dos conhecimentos ambientais.

Com respeito a este campo de estudo, Martinez-Alier (2007, pág. 113) define o termo

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espaciais e temporais em relação ao acesso e benefícios obtidos através dos recursos naturais e serviços ambientais (importantes para a manutenção da vida).

Martinez-Alier (2005), apresenta uma tipologia bastante detalhada dos conflitos ecológicos-distributivos, classificando-os em:

• conflitos na extração de materiais e energia: englobam os conflitos de contaminação e degradação derivados da extração de minérios e petróleo; degradação e erosão do solo por meio da agricultura; plantação de florestas para indústria de celulose; biopirataria; defesa dos mangues contra a indústria camaroneira; usos da água; e direitos nacionais ou locais de pesca.

• conflitos sobre o transporte; englobam acidentes com oleodutos e gasodutos; construção de hidrovias e autopistas; ampliação de portos e aeroportos; sobre resíduos e contaminação; sobre segurança dos consumidores e cidadãos; exportação de resíduos tóxicos; contaminação transfronteiriça; e direitos iguais aos sumidouros de carbono

Martinez-Alier (2005), salienta também que há outros tipos de conflitos socioambientais que se expressam com outras linguagens, tais como a segurança alimentar; as exportações subvencionadas do Norte e as monoculturas de exportação do Sul; o racismo ambiental; os refugiados ecológicos; o ecofeminismo social; e o ecologismo dos pobres.

Para Acserald (2004), o conflito ambiental opõe entre si diferentes formas de adaptação dos atores sociais ao mundo natural, juntamente com suas diferenças ideológicas e modos de vida. Estes conflitos podem ser classificados de duas maneiras: por distribuição de externalidades e por acesso e uso dos recursos naturais. Eles decorrem da natureza da interação entre diferentes grupos sociais em unidades territoriais determinadas e pressupõe uma apropriação simbólica, uma apropriação material; durabilidade e interatividade espacial das práticas sociais.

Observamos, portanto, que o estudo dos conflitos socioambientais pressupõe uma análise da complexidade sistêmica da interação do ser humano com a natureza. Podem ser descritos como uma disputa de poder entre diferentes modos de uso e de apropriação dos recursos naturais e dos serviços ambientais em um determinado espaço e tempo. Envolve tanto a degradação do meio ambiente e a redução da qualidade de vida, como também embates em relação ao acesso e uso dos recursos naturais. Ademais, os conflitos socioambientais são permeados tanto por aspectos subjetivos como ideologias, apropriações simbólicas e representações culturais, quanto por aspectos objetivos como necessidades humanas e disputas econômicas e políticas.

Para melhor compreensão do conceito “conflito socioambiental”, é proposto, como componente fundamental para sua identificação, o reconhecimento, por parte de um ou mais atores sociais envolvidos, de um conflito predominantemente ambiental, ou seja, que a

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dimensão ambiental seja tão ou mais relevante que as dimensões econômicas, políticas ou culturais e que, justamente por isso, seja compreendida pelos atores como um conflito de cunho ambiental.

2. Desenvolvimento tecnológico, riscos e ideologia

O conceito de progresso, de acordo com Dupas (2006) pressupõe que uma civilização se mova para uma direção entendida como benévola ou que conduza a um maior número de “indivíduos felizes”, ou seja, com maior bem-estar social. Ainda de acordo com este autor, a partir do Renascimento a idéia de progresso se alia aos conceitos de razão e da evolução da ciência do conhecimento. Mais tarde, os conceitos “razão e ciência”, passam a ser os pilares da era industrial que se consolida com uma visão de progresso aliada ao ciclo de produção, consumo e capital.

Essa perspectiva de progresso, como um fim único a ser alcançado, foi adotado pelos países que escolheram seguir o modelo ocidental de desenvolvimento. Para se atingir o objetivo proposto pelo progresso, os países teriam que adotar modelos de produção agrícola e industrial ofertados pela comunidade técnica e científica.

Na busca do progresso tecnológico durante os séculos XIX e XX o mundo vivenciou três revoluções agrícolas. A primeira, até a segunda guerra mundial, caracterizou-se por uma distribuição mais eqüitativa de terras, pelas primeiras migrações da população rural para os centros urbanos, pelo fim dos pousios agrícolas e pela introdução das primeiras tecnologias como a mecanização, fertilização, refrigeração e técnicas de conservação de alimentos. Inicia-se neste momento o surgimento das primeiras empresas agroquímicas. (VEIGA, 1991). A segunda, a partir de 1940, é marcada pela a introdução de tecnologias agroquímicas de defensivos, fertilizantes e herbicidas de vários graus de sofisticação tecnológica; O uso destas substâncias, que inicialmente foram utilizadas como armas químicas, tornou-se a base da Revolução Verde que associou o conhecimento produzido em laboratório pelas grandes empresas à extrema especialização, incentivando a disseminação da adoção de modelos de monocultura e de irrigação intensiva (VEIGA, 1991).

Na terceira, a partir da década de 1970, intensifica-se a Revolução Verde, com a utilização de técnicas agroquímicas associadas à biotecnologia, com o melhoramento genético de plantas e animais culminando nas técnicas de clonagem animal e produção de Organismos Geneticamente Modificados a partir de cruzamento genético entre espécies. (VEIGA, 1991). De acordo com Hobbelink (1990, pág. 33) por revolução verde entende-se a “introdução, em grande escala, de cultivares modernos de alta produtividade, a partir dos anos cinqüenta”. Para este autor o maior sucesso da revolução verde são as “sementes milagrosas”, que por sua vez necessitam de mecanização e alta tecnologia e do uso intensivo de fertilizantes e

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pesticidas. Os organismos geneticamente modificados (OGM) são resultados da última etapa evolutiva da Revolução Verde:

Longe de significar uma revolução tecnológica voltada para o desenvolvimento da agricultura, a experiência vem mostrando que as sementes transgênicas representam um novo ciclo de aprofundamento do modelo de revolução verde, modelo no qual se forja uma padronização global da agricultura e uma dependência total do agricultor em relação a um grupo reduzido de empresas multinacionais. (FERNANDES,2007)

Para Porto Gonçalves (2004) a revolução verde gerou profundas mudanças ecológicas, sociais, culturais e políticas no mundo rural. Também aumentou o poder das indústrias de alta tecnologia sobre os produtores. Para o autor, este modelo ocasionou a expansão da área cultivada, o aumento do volume da produção, a concentração de capital, a diminuição do trabalho e a queda do preço dos grãos.

Porto Gonçalves (2004) afirma que esse modelo agrícola que se apresenta como o mais moderno e produtivo favorece alianças oligárquicas e a acumulação de capital, ao mesmo tempo em que ameaça a diversidade biológica, a saúde dos corpos hídricos, a fertilidade dos solos.

Durante o período de interseção entre a indústria e a agropecuária surgiram muitos conflitos derivados do avanço tecnológico como a substituição de mão-de-obra agrícola pela mecanização causando êxodo rural; a contaminação pelo uso de DDT, alertada por Rachel Carson em seu livro Silent Spring de 1962; a contaminação e eutrofização de mananciais de água; vários relatos de intoxicação pelo uso e manuseio destas substâncias agroquímicas; a erosão genética de espécies agrícolas etc.

Moreira (2000) faz três críticas à revolução verde. A primeira é a crítica da técnica que nos leva a questionar a relação homem x natureza e é responsável pela poluição, envenenamento dos recursos naturais, perda de biodiversidade, destruição de solos e de recursos hídricos, que suscita a questão quanto a prudência ambiental de sua prática.

A segunda é a crítica social, ou a crítica ao próprio capitalismo que norteia a formação social e as políticas públicas brasileiras, ou seja, uma crítica ao modelo concentrador e excludente da modernização tecnológica da agricultura.

A terceira crítica é de natureza econômica, devido à escassez de recursos naturais e ao processo de crescente elevação dos custos do pacote tecnológico da revolução verde a partir da crise do petróleo na década de 1970. O autor ressalta que este aumento crescente dos custos oriundos deste modelo de produção é derivado também do modelo de matriz energética adotado, do uso intensivo de fertilizantes químicos e agrotóxicos e à deterioração dos recursos do solo e hídricos.

Acrescenta-se a estes três elementos o fato de que a revolução verde não ter sido capaz de solucionar o problema da fome mundial. Conforme salienta Rosset (2002), a promessa

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original da revolução verde era acabar com a fome por meio do emprego de sementes milagrosas e uso de agroquímicos. Porém esta fórmula fracassou, pois o aumento da produção de alimentos não respondeu satisfatoriamente diante concentração do poder econômico e, especialmente, do acesso à terra.

Rosset (2002), afirma que o Banco Mundial chegou à conclusão, num importante estudo realizado em 1986, que a fome mundial só pode ser aliviada por meio da "redistribuição do poder de compra e dos recursos em favor dos que estão desnutridos". Em poucas palavras, “se os pobres não têm o dinheiro para comprar alimentos, o aumento da produção não os ajudará”.

Assim, apesar das décadas de rápida expansão da produção de alimentos, ainda existem 786 milhões de pessoas que passam fome no mundo. Cerca de dois terços delas vivem na Ásia, precisamente onde as sementes da Revolução Verde contribuíram para o maior êxito produtivo.

Atualmente, a terceira etapa da Revolução Verde está em curso com a inserção da engenharia genética na produção de sementes e animais geneticamente modificados. Os entusiastas desta nova etapa tecnológica reafirmam o slogan de que o aumento da produção agrícola por meio de produtos transgênicos é a solução para se acabar com a fome mundial. Mas essa solução não resolve a questão da falta de poder aquisitivo da população e, certamente, constitui apenas mais uma falácia que visa enaltecer a engenharia química e genética.

A história de Revolução Verde nos mostra a necessidade de se questionar a confiança cega da humanidade no progresso tecnológico. O conceito de sociedade de risco, proposto por Ulrich Beck (1986) relaciona-se com a atual fase do desenvolvimento da sociedade moderna. Nesta etapa, os riscos sociais, políticos, ecológicos e individuais são criados pela ocasião em que uma inovação tecnológica escapa das instituições de controle e proteção da sociedade industrial (LEITE e AYALA, 2004, pág. 12).

Segundo Beck (1997) a transição do período industrial para o período de risco da modernidade ocorre de maneira despercebida e compulsiva com efeitos colaterais latentes. Os riscos são produzidos a partir de certezas da sociedade industrial (consenso para o progresso ou abstração de seus efeitos ecológicos) que dominam e pensamento e as ações dos indivíduos e instituições sociais.

Na sociedade de risco, o reconhecimento da imprevisibilidade das ameaças provocadas pelo desenvolvimento técnico-industrial exige a auto-reflexão em relação às bases da coesão social e o exame das convenções e dos fundamentos predominantes da “racionalidade”. (BECK, 1997, pág. 19)

Neste processo de modernização autônoma os conflitos em relação à distribuição de bens são encobertos pela distribuição de malefícios que irrompem sobre o modo como os riscos

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acompanham a produção de bens (tecnologia nuclear e química, pesquisa genética, militarização e miséria) e são distribuídos e legitimados (BECK, 1997).

Desta forma, o risco é analisado atualmente como parte inerente da sociedade industrial e da sociedade de conhecimento e resulta da potência revolucionária da tecnologia derivada do processo de dominação técnico-científico da racionalidade instrumental. A potência destrutiva das técnicas avançadas da química, do desenvolvimento nuclear e da engenharia genética se caracteriza por seu caráter espaço-temporal ilimitado e indeterminado. Assim, “a sociedade torna-se destrutível por suas próprias tecnologias e pelas conseqüências indesejáveis de sua dinâmica reprodutiva”. (ACSELRAD e MELLO, 2003, pág. 293-298)

Para Demajorovic (2003, pág. 33-52), desde o reconhecimento dos problemas de degradação ambiental decorrentes da intensificação dos processos tecnológicos e industriais, os debates sobre riscos têm sido primazia daqueles que detêm o conhecimento técnico. Porém, de acordo com esse autor, não é possível desenvolver tecnologias para controlar problemas ambientais ainda desconhecidos. Assim a consciência do risco está mais conectada no futuro do que no presente e as incertezas decorrentes de um futuro desconhecido são manipuladas pelo conhecimento científico desprovido de neutralidade, que se baseia mais na racionalidade técnico-científica do que em valores morais.

Dentro do paradigma da ciência moderna, a moral está contida na própria ciência e os problemas gerados pela tecnologia devem ser tratados à luz da razão. Nesse sentido, as dúvidas geradas pelos riscos são analisadas e julgadas pela própria tecnociência, que por sua vez está a serviço daqueles que controlam o poder político e as grandes corporações globais.

Para Mészarós (2004) a ideologia do cientificismo é assimilada pelo modo de produção dominante que detém o poder das mais diversas práticas manipuladoras. Esta ideologia, presente em todos os espaços da vida cotidiana, dita a ascensão da sociedade tecnológica determinando as formas dominantes de pensamento que moldam quase todos os aspectos da vida cotidiana e controlam efetivamente as instituições culturais, políticas e econômicas da sociedade.

Para Guattari (2006) as formações políticas e estâncias executivas se mostram incapazes de apreender os fenômenos ecológicos gerados pelas intensas transformações técnico-cientificas e, por sua vez, regulam as atividades científicas baseadas de maneira unívoca para uma economia de lucro e por relações de poder. Segundo este autor a sociedade é guiada cegamente pelos tecnocratas dos aparelhos do Estado que controlam as evoluções técnico-científicas e analisam os riscos nesses domínios, regidos no essencial pelos princípios da economia e do lucro.

De acordo com Dupas (2006, pág. 234), a gravidade desse quadro de danos e riscos ambientais remete necessariamente à discussão sobre o princípio da responsabilidade, o princípio da precaução e o gerenciamento de riscos. Para esse autor, apesar do consenso de

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que a ciência é uma conquista da humanidade, as dúvidas geradas pelo seu avanço remetem a inúmeras contradições que impedem uma análise crítica da questão dos caminhos do progresso dominado pela tecnologia.

Veiga (2003), alerta para os riscos que podem advir do modelo de progresso agrícola quando utilizado de forma intensiva e não controlada. Para ele os métodos de produção da agricultura moderna são perigosos e podem gerar conseqüências de longo prazo e irreversíveis. Desta forma, ele salienta que o modelo agrícola de uso intensivo de tecnologia tem se mostrado insustentável em longo prazo.

Observa-se, portanto, a importância do estudo acerca dos riscos inerentes ao desenvolvimento técnico-científico, principalmente no que concerne à liberação e consumo de Organismos Geneticamente Modificados e da necessidade de aplicação do princípio da precaução como aporte e instrumento para a tomada de decisão e para nortear ações políticas.

3. Caracterização do espaço do conflito

O conflito em torno dos organismos geneticamente modificados (OGMs) se apresenta institucionalizado internacionalmente, por meio do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança e nacionalmente por meio da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio e do Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS.

Para Sands (2004), o Protocolo de Biossegurança da Convenção da Biodiversidade Biológica apóia-se amplamente no enfoque da precaução. Esse protocolo afirma que a ausência total de certeza científica devido à insuficiência de informações científicas e à falta de conhecimentos relevantes relacionados à amplitude dos potenciais efeitos adversos de um organismo geneticamente modificado (OGM), na conservação e no uso sustentável da diversidade biológica, não impede um Estado-Membro de proibir o uso e a importação desses organismos.

O princípio foi aplicado também pela Corte de Justiça das Comunidades Européias e pela Corte da Agência Ambiental Européia que decretaram que, em casos de efeitos de determinados produtos sobre a saúde humana, e em que possa haver incerteza prática e científica relacionada à questão considerada, a aplicação do princípio da precaução é justificada, tornando-se necessária uma avaliação detalhada sobre o risco à saúde humana baseada em informações científicas recentes.

No Brasil a primeira Lei de Biossegurança (Lei 8.974/95) data de 1995. Com amparo nos princípios constitucionais essa Lei fixava regras para o uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de OGMs e impunha normas de segurança e mecanismos de fiscalização nas atividades de: construção, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo e descarte de OGMs. Também instituía a CTNBio como instância

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com finalidade de prestar apoio técnico e consultivo em temas pertinentes à manipulação genética. (SILVA, 2001).

Em setembro de 1998 a CTNBio liberou a soja modificada denominada RR. No mesmo ano o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e o Greenpeace entraram com ação na justiça, alegando que, por ser uma atividade potencialmente causadora de danos ambientais, como se prevê na Constituição, seria preciso realizar o Estudo de Impacto Ambiental antes de sua liberação. O juiz, Antonio de Souza Prudente, da 6ª Vara Federal de Brasília, acatou a ação e decidiu neste sentido (RIOS, 2000), criando a primeira jurisprudência da área de biossegurança no Brasil, proibindo a produção de transgênicos para consumo ou comércio de 1998 a 2005.

Nos anos seguintes várias entidades se organizaram e criaram, em 1999, a “Campanha por um Brasil livre dos transgênicos”. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tomou a questão dos transgênicos como uma bandeira central de luta. Em 2003, várias entidades do campo montaram um acampamento em Brasília, com mais de mil pessoas, para lutar contra a decisão do Governo Federal de liberar os transgênicos.

Em 2005 uma nova Lei de biossegurança (Lei 11.105/05) foi aprovada. Esta Lei prevê a criação do Conselho Nacional de Biossegurança, composto por representantes de diversos ministérios, que decidem sobre a conveniência socioeconômica da liberação comercial de OGMs (VARELA e PLATIAU, 2005).

A nova Lei assegura a existência da CTNBio, que tem como objetivo estabelecer normas técnicas de segurança e pareceres técnicos conclusivos referentes à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, para atividades que envolvam a construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização, consumo, armazenamento, liberação e descarte de OGM e derivados.

A CTNBio é composta por 27 membros sendo assim distribuídos:

• 12 Indicados pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, divididos em 3 especialistas da Área de Saúde Humana; 3 especialistas da área animal; 3 especialistas da área Vegetal e 3 especialistas da área de meio ambiente;

• 9 indicados pelos respectivos ministérios: Ciência e Tecnologia; Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Saúde; Meio Ambiente; Desenvolvimento Agrário; Indústria e Comércio Exterior; Relações Exteriores; Defesa; e Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca.

• 6 representantes da sociedade civil organizada: especialista em defesa do consumidor; especialista na área de saúde, especialista em meio ambiente, especialista em biotecnologia, especialista em agricultura familiar e especialista em saúde do trabalhador.

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As reuniões são realizadas mensalmente, em Brasília, com trabalhos nas áreas específicas: saúde humana, animal, vegetal e meio ambiente em um dia e uma sessão plenária de deliberação no dia seguinte. A Comissão tem seguido a orientação do governo federal para a liberalização dos organismos geneticamente modificados e, nos últimos três anos, liberou variedades de soja, algodão, eucalipto, milho e algumas vacinas transgênicas para cultivo, produção e consumo no Brasil.

4. Caracterização do conflito

O estudo dos conflitos socioambientais pressupõe uma análise da complexidade sistêmica da interação do ser humano com a natureza. Podem ser descritos como uma disputa de poder entre diferentes modos de uso e de apropriação dos recursos naturais e dos serviços ambientais em um determinado espaço e tempo. Envolve tanto a degradação do meio ambiente e a redução da qualidade de vida, como também embates em relação ao acesso e uso dos recursos naturais. Ademais, os conflitos socioambientais são permeados tanto por aspectos subjetivos como ideologias, apropriações simbólicas e representações culturais, quanto por aspectos objetivos como necessidades humanas e disputas econômicas e políticas. (LIBISZEWSKI, 1992; LITTLE, 2001 e 2006; MARTINEZ-ALIER, 2005)

No conflito em torno da liberação de OGMs no âmbito da CTNBio ocorre a interseção entre os aspectos subjetivos e objetivos. As ideologias por trás do sentimento de poder e infalibilidade da ciência, as disputas econômicas e políticas confrontam-se com questões éticas, com a mudança do paradigma científico da incerteza e com representações sociais ambíguas. Diante deste quadro, a Comissão constitui uma arena de disputa de poder político e ideológico entre as diferentes representações sociais sobre OGMs, onde sempre prevalece a decisão do poder econômico hegemônico camuflado de ideologia científica.

Foucault (1996, pág. 11-12) salienta que muitas vezes o cientista, “em nome de uma verdade científica” faz intervenções nas lutas políticas que lhes são contemporâneas. Segundo ele a extensão das estruturas técnicos-científicas na ordem econômica da estratégia cria a importância do “cientista absoluto” que detém o poder de favorecer ou matar definitivamente a vida. Assim, Foucault salienta que o papel do cientista se torna cada vez mais importante a partir do momento em que ele é obrigado a assumir “responsabilidades políticas enquanto físico atômico, geneticista, informático, farmacologista etc” e que serve aos interesses do capital e do estado, veiculando uma ideologia cientificista. Para Foucault a verdade não existe fora do poder ou sem poder.

Essa dimensão entre o poder e a ciência pode ser observada na carta encaminhada ao Ministro da Ciência e Tecnologia, à Ministra do Meio Ambiente e ao Presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança pela Dra. Lia Giraldo, médica e pesquisadora da Fiocruz, ex-membro da CTNBio, na qualidade de representante das organizações socioambientais, no

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A referida doutora afirma em sua carta que a Lei 11.105/2005 que criou a CTNBio fez um grande equívoco ao retirar dos órgãos reguladores e fiscalizadores os poderes de analisar e decidir sobre os pedidos de interesse comercial relativos aos transgênicos, especialmente sobre as liberações comerciais.

Segundo a pesquisadora, a CTNBio está constituída por pessoas com título de doutorado, a maioria especialistas em biotecnologia e interessados diretamente no seu desenvolvimento. Há poucos especialistas em biossegurança, capazes de avaliar riscos para a saúde e para o meio ambiente.

Giraldo afirma, ainda, que o comportamento da maioria de membros da CTNBio é de crença em uma ciência da monocausalidade, incapazes de considerar as questões complexas, as incertezas e as conseqüências sobre as quais não há controle, especialmente quando se trata de liberações de OGMs no ambiente.

Para Giraldo, nem mesmo o Princípio da Incerteza, que concedeu o Prêmio Nobel à Werner Heisenberg (1927), é considerado pela maioria dos denominados cientistas que compõe a CTNBio. Assim, também na prática da maioria, é desconsiderado o Princípio da Precaução, um dos pilares mais importantes do Protocolo de Biossegurança de Cartagena que deve nortear as ações políticas e administrativas dos governos signatários.

Estes problemas estruturais da Comissão, cerne do conflito socioambiental aqui estudado, podem ser exemplificados a partir dos diálogos entre os membros da CTNBio colhidos nas reuniões plenárias de agosto e setembro de 2007:

• Membro 1: “a pressa para fazer essa votação em 30 minutos é do presidente, porque o Brasil acredita que as questões de biossegurança e biorisco estão sendo discutidos por essa Comissão”

• Membro 2: “ora, se a visão do risco é negligenciada, é essa a posição dessa Comissão”;

• Membro 1: “os 30% de produção de sementes crioulas são irrelevantes para o parecer desta comissão?”

• Membro 2: “não sei se é economicamente relevante. (...) 30% de produção para consumo interno é minoritário e os outros 70% tem valor econômico”;

• Membro 1: “... também não foram contemplados os riscos ambientais. Não há controvérsia científica? O mundo da ciência não tem riscos? (...) A maioria da Comissão não se interessa em ouvir argumentos contrários. Acontece que a ciência hoje não tem mais certeza” (risos na plenária!)

• Membro 1: “eu entendo o posicionamento do grupo divergente, mas não vamos discutir questões irrelevantes como produção familiar e meio ambiente. As apresentações da última reunião foram uma ode ao subdesenvolvimento”

• Membro 2: – “agradeço à Dra. por mostrar a sua posição sobre o desenvolvimento. A Dra. se posiciona como se fosse premissa que o modelo de desenvolvimento é a destruição dos biomas, da agrobiodiversidade e da agricultura familiar. O contrário das

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premissas do desenvolvimento sustentável. Esses cientistas que deveriam representar a sociedade falam como se sustentabilidade estivesse lado a lado com o subdesenvolvimento”;

• Membro 3: – “o meu ministério foi atingido em sua integridade. Existem programas de governo para a agrobiodiversidade e para a conservação da biodiversidade como preconizado no artigo 225 da CF. Esse posicionamento ataca o patrimônio genético que não temos dimensão do valor. Agride a segurança alimentar e o Protocolo de Cartagena. Biossegurança é para todos e não só para o segmento comercial”;

Como pode ser observado a partir da análise das frases acima, os membros da CTNBio se dividem em dois grupos, que possuem visões antagônicas. O Grupo A conta com os 12 especialistas da área de saúde humana, animal, vegetal e de meio ambiente, indicados pelo MCT; 7 representantes de Ministérios: Ciência e Tecnologia, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Saúde, Indústria e Comércio Exterior, Defesa, Aqüicultura e Pesca, Relações Exteriores e 2 representantes da sociedade civil: Especialistas da Área de Saúde (presidente da Comissão) e em Biotecnologia

O Grupo B, minoritário, conta com 2 Representante de Ministérios: Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário; e 4 representantes da sociedade civil: Especialistas em Defesa do Consumidor, em Meio Ambiente, em Agricultura Familiar, em Saúde do Trabalhador.

Estes dois grupos divergem entre si em vários aspectos referentes à liberação e comercialização de OGMs, conforme podemos visualizar no quadro 1 a seguir:

Quadro1: Pontos de divergências sobre OGM na CTNBio

Grupo A (convergente) Grupo B (divergente)

embasamento no principio de equivalência (contestam a definição do principio da precaução)

visão da racionalidade e certeza científica princípio de progresso

planos de monitoramento e de coexistência brandos

a comissão não é lugar e espaço para considerar questões éticas e sociais confiança total nas publicações e

experiências das empresas – risco mínimo postura defensiva e se coloca de forma

o embasamento no principio da precaução

uma visão de ciência baseada na incerteza princípio da sustentabilidade

planos de monitoramento e de coexistência mais rigorosos

consideram questões éticas e sociais nas deliberações

maior discussão sobre riscos para a agrobiodiversidade e minorias sociais postura de afronta e muitas vezes é agressivo

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grupo Fonte: pesquisa da autora.

Os atores que compõem os dois grupos podem ser considerados atuantes no conflito, comparecem às reuniões e se dedicam na formulação de pareceres. O grupo A é mais influente que o grupo B e representa a vontade do governo federal e das empresas. O Grupo B tem baixa influência e não consegue mobilizar a mídia. Os grupos têm posturas conflitantes e muitas vezes ocorrem ameaças, agressões verbais, posturas cínicas. O grupo A tende ser indiferente (fazer vistas grossas) ao conflito, já que detém o poder de decisão. O grupo B tende a promover o conflito como oportunidade para discussão e abertura de diálogos (embora sempre frustrados) para uma mudança de paradigma da visão da Comissão. O grupo B é o vetor da mudança institucional; é aquele que tem o papel de incomodar a comissão e alertar a população.

O quadro 2 a seguir resume os dados sobre a percepção dos grupos e as alianças entre eles e com os demais setores envolvidos e os recursos por eles utilizados.

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Quadro2: Dinâmica social

Grupo A Grupo B

Percepção do grupo

Grupo hegemônico: acreditam na ciência sem risco; priorizam o desenvolvimento econômico; priorizam o desenvolvimento da biotecnologia

Grupo minoritário: acreditam na incerteza científica; priorizam a precaução e as minorias; priorizam a biossegurança.

Alianças internas

Todos os especialistas da área de saúde humana, animal, vegetal e de meio ambiente, indicados pelo MCT; representantes de 7 Ministérios: Ciência e Tecnologia, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Saúde, Indústria e Comércio Exterior, Defesa, Aqüicultura e Pesca, Relações Exteriores e representantes da sociedade civil: Especialistas da Área de Saúde e de Biotecnologia

Representante de 2

Ministérios: Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário; e 4 representantes da sociedade civil: Especialistas em Defesa do Consumidor, em Meio Ambiente, em Agricultura Familiar, em Saúde do Trabalhador.

Alianças externas

Governo Federal, empresas de biotecnologia, entidades de caráter científico como EMBRAPA e centros universitários de pesquisa, grandes produtores rurais e grande mídia. Organizações não-governamentais de proteção ao meio ambiente, ao consumidor, e de caráter religioso (CNBB), pesquisadores da sustentabilidade, pequenos produtores familiares e consumidores. Recursos utilizados

Alianças, lobbys, articulação com atores políticos como deputados, senadores, presidência da república e agências reguladoras.

Pressões e manifestações. Encaminhamento dos

problemas para promotorias e procuradorias, mobilização de agricultores familiares e sem-terra, mobilização de ONGs e organizações religiosas. Fonte: pesquisa da autora.

Observamos que o conflito aqui estudado caracteriza-se como um conflito socioambiental por envolver a manipulação genética de seres vivos, que por sua vez envolve a disputa de poder entre diferentes modos de uso e de apropriação dos recursos genéticos com riscos potenciais à vida humana e à diversidade biológica.

5. Análise e considerações finais

O conflito em análise pode ser caracterizado como crônico, longo, algumas vezes intensos, noutros momentos parcimoniosos. Nele, as posições ideológicas antagônicas entre os dois grupos dificultam o diálogo e entendimento.

A disputa entre os dois grupos gera duas estruturas corporativistas enrijecidas com posturas de afronta entre si. O posicionamento, ações e falas dos membros são carregados de sentimentos de raiva e rivalidade.

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Neste espaço também é bastante visível a sobreposição entre verdade científica a vontade política. A ideologia científica é claramente trespassada pela ideologia política e econômica, conforme salienta Giraldo (2007):

A razão colocada em jogo na CTNBio é a racionalidade do mercado e que está protegida por uma racionalidade científica da certeza cartesiana, onde a fragmentação do conhecimento dominado por diversos técnicos com título de doutor, impede a priorização da biossegurança e a perspectiva da tecnologia em favor da qualidade da vida, da saúde e do meio ambiente.

Para Sadeleer (2004), o fim do século XX foi marcado pelas crises ecológicas que emergiram simultaneamente à liberalização progressiva do comércio mundial. O princípio da precaução surge como uma linha divisória entre a liberalização do comercio mundial e a proteção do meio ambiente, dos consumidores e da saúde pública. Na nova sociedade de risco, esse princípio é chamado para exercer um papel emblemático, direcionado pelo caminho da prudência. No mesmo sentido, Machado (2005) afirma que a precaução age no presente para impedir o prejuízo ambiental decorrente de omissões humanas e que somente pode ser aplicado sem pressa, precipitação, improvisação ou rapidez insensata. Diante de uma sociedade de “cultura do risco”, a precaução torna-se uma medida inteligente que visa assegurar a continuidade da vida.

Desta maneira, as investigações sobre o conflito da liberação dos OGMs no Brasil necessitam ser mais aprofundadas. Os alimentos transgênicos já estão na nossa mesa e há pouco espaço de discussão na sociedade. Faltam transparência e ética nas decisões.

O conflito pode ser caracterizado também, conforme salienta Martinez-Alier (2007), como um conflito dos pobres. Há pressão internacional para que os países periféricos introduzam cultivos transgênicos em seu território e a população afetada não conseguem, nem mesmo, ter conhecimento sobre a qualidade e procedência dos alimentos que consome.

Assim, o conflito aqui estudado está sendo gerido de forma “apartada” do controle social em detrimento de interesses políticos e comerciais. A CTNBio é um espaço interessante de recorte do conflito, pois coloca em discussão o novo paradigma científico ao mesmo tempo que salienta a dificuldade da academia em se comunicar com a sociedade. É um campo de reflexão sobre os princípios da bioética como um mecanismo de mediação do conflito moral pertinente à manipulação genética e aos riscos futuros que essa prática pode gerar à sociedade e ao meio ambiente.

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