Controladoria-Geral da União Ouvidoria-Geral da União
PARECER
Referência:
02680.000042/2015-59
Assunto:
Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Restrição de
acesso:
Sem restrição
Ementa:
Meio ambiente – Inspeção – Interesse social – Incompetência –
Informação inexistente – Análise CGU: Acata-se argumentação
do recorrido / Súmula CMRI nº 6/2015 – Não conhecimento –
Recomendações CGU: Indicar a autoridade que tomou a decisão
em instância recursal / Indicar a possibilidade de recurso, prazo
correlato e autoridade para a qual é dirigido / Rever os fluxos
internos com vistas a responder o pedido de informação (e/ou)
os recursos no prazo determinado em Lei.
Órgão ou
entidade
recorrido (a):
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –
IBAMA
Recorrente:
D. F. M.
Senhor Ouvidor-Geral da União,
1.
O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação, com base na Lei nº
12.527/2011, conforme resumo descritivo abaixo apresentado:
RELATÓRIO
Ação
Data
Teor
Pedido 10/01/2015
“Requer informação de quantos animais registrados como patrimônio da União, da espécie Panthera leo, Leão existem no Brasil;
Considerando a morte de um leão no zoológico de Americana-SP, por ingerência da administração do parque, requer informação se o IBAMA tem controle dos parques municipais e estaduais que possuem animais selvagens e recebem relatórios quando ocorre falecimento dessas espécies;
Requer informação da autorização e visitas técnicas do IBAMA no Zoológico de Americana, quando houve visita do órgão federal nesse local.”
Resposta Inicial 20/01/2015 “Informamos que a gestão e o controle dos empreendimentos que criam ou mantêm fauna é de responsabilidade do ente federativo no qual o empreendimento está localizado. No caso do Zoológico de Americana/SP, as informações relacionadas aos animais mantidos devem ser solicitadas à Secretaria do meio Ambiente no Estado de São Paulo, bem como a fiscalização de eventuais irregularidades, conforme Lei Complementar nº
140, de 8 de dezembro de 2011, publicada no D.O.U. em 09/12/2011.”
Recurso à
Autoridade Superior 20/01/2015
“Considerando que a informação esta incompleta, remeta-se a autoridade hierarquicamente superior;
Requer informação de quantos animais registrados como patrimônio da união, da espécie Panthera leo, Leão existem no Brasil;
Requer informação se o IBAMA tem controle dos parques municipais e estaduais que possuem animais selvagens e recebem relatórios quando ocorre falecimento dessas espécies;”
Resposta do Recurso à
Autoridade Superior 27/01/2015
“1. Desde a edição da Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011, os órgãos ambientais estaduais passaram a ser os responsáveis pelo ‘controle dos parques municipais e estaduais que possuem animais selvagens’.
2. No caso do estado de São Paulo, esse controle está a cargo do Departamento de Fauna DeFau/CBRN/SMA-SP.
3. Adicionalmente, fica o esclarecimento de que não há ‘animais registrados como patrimônio da união’ junto ao Ibama.”
Recurso à
Autoridade Máxima 27/01/2015
“Considerando que os animais selvagens estão dentre os patrimônio natural de responsabilidade da União, o pedido de informação foi direcionado para obter informação se o IBAMA tem controle desse número, notável, o total descontrole da coisa pública e da própria finalidade do órgão federal. Restou incompleta a informação, de quantos animais da espécie citada possui no país.”
Resposta do Recurso à
Autoridade Máxima 05/02/2015
“1. Reiteramos que não há animais da espécie Panthera Leo registrados no Brasil como ‘patrimônio da União’.
2. Nesse sentido, ressalta-se que a Constituição da República Federativa do Brasil – CRFB,de 1988, define como bens da União aqueles elencados em seu art. 20.
3. Adicionalmente, o § 4º, do art. 225, da CRFB, define como patrimônio nacional “A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira”. Esclarecemos que a espécie Panthera Leo não pertence a nenhum desses biomas e que, atualmente, indivíduos desta espécie podem ser encontrados na África Subsaariana e na Ásia (seu habitat natural).
4. Quanto ao controle e o monitoramento de empreendimento que utilizam fauna, é de responsabilidade dos órgãosestaduais de meio ambiente, conforme Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011, como já informado anteriormente.
5. Finalmente, informamos que em cativeiro autorizado pelo Ibama (anteriormente à LC 140/2011) existem hoje 19 animais desta espécie, e que dados mais preciso poderão ser fornecidos após o final do recadastramento desses empreendimentos, conforme IN Ibama nº 14/2014, alterada pela IN 17/2014.” (grifos contidos no original)
Recurso à CGU 05/02/2015
“Considerando que é responsabilidade do IBAMA o controle dos estabelecimentos que abrigam animais silvestres, conforme sistema operado pelo órgão. O Sistema Nacional de Gestão da Fauna Silvestre – SisFauna – é um sistema eletrônico de gestão e controle dos empreendimentos e atividades relacionadas ao uso e manejo da fauna silvestre em cativeiro em território nacional.
Diante do exposto, o IBAMA tem controle e informação de quantos animais da espécie citadas possui no território nacional, como patrimônio biológico da união.
s Empreendimentos sujeitos ao controle e cadastro no SisFauna são aqueles previstos na Instrução Normativa Ibama 169/2008
Diante do exposto, encaminha-se para CGU para diligências e informações completas.”
Análise
2.
Registre-se que o Recurso foi apresentado perante a CGU de forma tempestiva e
recebido na esteira do disposto no capute §1º do art. 16 da Lei nº 12.527/2011, bem como em
respeito ao prazo de 10 (dez) dias previsto no art. 23 do Decreto nº 7724/2012, in verbis:
Lei nº 12.527/2011
Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder Executivo Federal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da União, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se:
(...)
§ 1o O recurso previsto neste artigo somente poderá ser dirigido à Controladoria Geral da União depois de submetido à apreciação de pelo menos uma autoridade hierarquicamente superior àquela que exarou a decisão impugnada, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias.
Decreto nº 7724/2012
Art. 23. Desprovido o recurso de que trata o parágrafo único do art. 21 ou infrutífera a reclamação de que trata o art. 22, poderá o requerente apresentar recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à Controladoria-Geral da União, que deverá se manifestar no prazo de cinco dias, contado do recebimento do recurso.
3.
Quanto ao cumprimento do art. 21 do Decreto n.º 7.724/2012, observa-se que não
consta da resposta que a autoridade que proferiu a decisão, em primeira instância, era a
hierarquicamente superior à que adotou a decisão. Todavia, consta que a autoridade que
proferiu a decisão, em segunda instância, foi o dirigente máximo do órgão/entidade.
Observa-se, conjuntamente, não ter havido atenção aos prazos para o envio de resposta aos recursos
de primeira e de segunda instância.
4.
Preliminarmente, verifica-se que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis – Ibama informou ser autoridade incompetente para prestar as
informações de interesse do cidadão, indicando o órgão responsável pela matéria objeto do
pedido, isto é, a Secretaria do Meio Ambiente no Estado de São Paulo. Tal informação não foi
satisfatória aos olhos do interessado, o qual destacou o recebimento de informações
incompletas e ratificou os três pontos de questionamento existentes em seu pedido.
5.
De fato, a resposta inicial apresentada pelo Ibama não contemplou todos os pontos
levantados no pedido, deixando a entidade de prestar informações acerca dos animais da
espécie Panthera leo registrados como patrimônio da União, questão sanada nas respostas aos
recursos impetrados pelo postulante, havendo declaração expressa de que não há animais de
tal espécie registrados como patrimônio da União. Isto posto, nota-se que o Ibama respondeu
satisfatoriamente ao pedido, adotando os procedimentos descritos nos incisos III e IV do Art. 15
do Decreto nº 7.724/2012:
Art. 15. Recebido o pedido e estando a informação disponível, o acesso será imediato. § 1o Caso não seja possível o acesso imediato, o órgão ou entidade deverá, no prazo de até vinte dias:
I - enviar a informação ao endereço físico ou eletrônico informado;
II - comunicar data, local e modo para realizar consulta à informação, efetuar reprodução ou obter certidão relativa à informação;
III - comunicar que não possui a informação ou que não tem conhecimento de sua existência; IV - indicar, caso tenha conhecimento, o órgão ou entidade responsável pela informação ou que a detenha; ou
V - indicar as razões da negativa, total ou parcial, do acesso.
6.
Tal entendimento, consignado em casos precedentes já avaliados pela CGU, foi
corroborado pela Comissão Mista de Reavaliação de Informações – CRMI na Súmula CRMI nº
6/2015:
Súmula CMRI nº 6/2015
“INEXISTÊNCIA DE INFORMAÇÃO – A declaração de inexistência de informação objeto de solicitação constitui resposta de natureza satisfativa; caso a instância recursal verifique a existência da informação ou a possibilidade de sua recuperação ou reconstituição, deverá solicitar a recuperação e a consolidação da informação ou reconstituição dos autos objeto de solicitação, sem prejuízo de eventuais medidas de apuração de responsabilidade no âmbito do órgão ou da entidade em que tenha se verificado sua eliminação irregular ou seu descaminho.”
7.
Dessa forma, entende-se que o presente recurso não seja conhecido por esta
Controladoria, haja vista o pedido tratar de informações inexistentes e também de informações
que fogem à competência da entidade demandada, não sendo possível aferir, no caso
concreto, a ocorrência de negativa de acesso à informação, requisito primário de
admissibilidade do recurso.
Conclusão
8.
De todo o exposto, opina-se pelo não conhecimento do recurso, uma vez que parte das
informações perquiridas é inexistente e outra refere-se a matéria de competência de órgão
componente da estrutura do Governo do Estado de São Paulo.
9.
Por fim, observamos que o recorrido descumpriu procedimentos básicos da Lei de
Acesso à Informação. Nesse sentido, recomenda-se orientar a autoridade de monitoramento
competente que reavalie os fluxos internos para assegurar o cumprimento das normas
relativas ao acesso à informação, de forma eficiente e adequada aos objetivos legais, em
especial:
a)
Informar em suas respostas ao cidadão a autoridade que tomou a decisão, a
possibilidade de recurso, o prazo para propor o recurso e a autoridade competente
para apreciar o recurso;
b)
Que a Autoridade responsável por decidir o recurso de primeira instância seja
diferente e hierarquicamente superior àquele que adotou a decisão inicial;
c)
Observar os prazos definidos no art. 21 do Decreto n.º 7.724/2012.
ISABELLA BRITO
D E C I S Ã O
No exercício das atribuições a mim conferidas pela Portaria n. 1.567 da Controladoria-Geral da União, de 22 de agosto de 2013, adoto, como fundamento deste ato, o parecer acima, para decidir pelo não conhecimento do recurso interposto, nos termos do art. 23 do Decreto nº 7.724/2012, no âmbito do pedido de informação nº 02680.000042/2015-59, direcionado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.
LUÍS HENRIQUE FANAN Ouvidor-Geral da União
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Controladoria-Geral da UniãoFolha de Assinaturas
Referência: PROCESSO nº 02680.000042/2015-59
Documento: PARECER nº 262 de 10/02/2015
Assunto: Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação.
Ouvidor
Assinado Digitalmente em 10/02/2015 GILBERTO WALLER JUNIOR
Signatário(s):
aprovo.
Relação de Despachos:
Assinado Digitalmente em 10/02/2015 Ouvidor
GILBERTO WALLER JUNIOR