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Títulos de Crédito - material de apoio.

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DIREITO COMERCIAL III – Este é um material de apoio em sala de aula e que não dispensa a leitura de doutrina

recomendada em bibliografia indicada pela FDSBC. Página 1

FDSBC – 2012 – DIREITO COMERCIAL III

TÍTULOS DE CRÉDITO 1. INTRODUÇÃO.

Os títulos de crédito são considerados, pelos doutrinadores e estudiosos, um dos institutos mais importantes do Direito Comercial, por permitir de forma eficaz a mobilização da riqueza e a circulação do crédito.

A palavra crédito provém do latim creditum, credere, e significa confiança, crença, ter fé, a partir de conotação moral, de conteúdo religioso.

No aspecto jurídico o crédito é a faculdade que o credor tem de haver de determinado devedor, um direito ou uma prestação de obrigação. Os títulos de crédito surgiram como forma ágil e segura de circulação do crédito na economia.

São ágeis porque, consubstanciadas em papel, propiciam circulação de riquezas de forma mais rápida do que aquela permitida pela moeda manual. Sua segurança advém do fato de que o direito ao crédito nele representado somente pode ser exercido por credor legítimo, aquele que tenha seu nome aposto no título na qualidade de credor, ou que seja credor em razão do endosso, cessão cambiária do crédito contido no título.

Os títulos de crédito genericamente estão definidos na legislação brasileira através do Código Civil de 2002, no artigo 887: “O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.”

Para cada espécie de título de crédito, existe legislação especial que cuida de regular não só os requisitos gerais como os aspectos típicos de cada espécie.

Determinados títulos possuem característica de relevante importância no âmbito processual, qual seja a força executiva. Conferida pelo Código de Processo Civil, ao tratar dos títulos executivos extrajudiciais, no artigo 5851, como é o caso das letras de câmbio, notas promissórias, duplicatas, debêntures e os cheques, ou outorgada por legislação específica regulamentadora de cada espécie de título.

A força executiva dos títulos de crédito possibilita ao credor do título o manejo de Ação de Execução contra o devedor para cobrança de valores que lhe são devidos.

2. O CRÉDITO

No aspecto moral, crédito é a confiança que uma pessoa deposita em outra se baseando em seus atributos morais. Sob o prisma econômico, crédito é entendido como a permissão de usar o capital alheio, conferindo poder de compra a quem não dispõe de recursos para realizá-lo. Portanto, é a troca de prestação atual por prestação futura.

Na economia moderna há excepcional velocidade nas operações mercantis, fazendo surgir a necessidade de circulação de riquezas mais rápida do que aquele permitida pela moeda manual. Isso se torna possível através do crédito, que permite a imediata mobilização da riqueza produzida. A acepção jurídica da palavra crédito é a faculdade que o credor tem de haver de determinado devedor, um direito, prestação de obrigação.

1 Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; (Redação dada pela Lei nº 8.953, de 13.12.1994)

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3. ELEMENTOS DO CRÉDITO.

Existem dois elementos básicos do crédito, confiança e tempo. A confiança se desdobra em dois aspectos, no subjetivo que é a na crença que o credor deposita na pessoa do devedor de que preenche os requisitos morais básicos necessários à efetivação do negócio de crédito, ou seja, que o devedor aplicará a sua capacidade econômica no cumprimento de sua obrigação, correspondente ao pagamento do empréstimo no prazo fixado, e o no aspecto objetivo compreendido pela certeza que o credor tem de que o devedor possui capacidade econômico-financeira para lhe restituir a importância mutuada no termo final do prazo, resultando essa confiança do conhecimento da renda e do patrimônio do devedor. O elemento tempo constitui o intervalo, o lapso temporal existente entre a prestação presente e atual e a prestação futura.

4. ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA.

Para podermos analisar a evolução histórica dos títulos de crédito temos que fazer uma viagem as origens do direito ocidental traduzido pela Lei das XII Tábuas (Lex Duodecim Tabularum), mais precisamente na Tábua III2, onde encontramos as primeiras relações de crédito positivadas. Segundo as disposições da Tábua III a execução se efetivava na pessoa do devedor per manum injectionem, pois na ocasião patrimônio e pessoa eram inseparáveis, sendo os bens tidos como um acessório da pessoa. No início, esta actio só era possível para aqueles que continham uma sentença de condenação não cumprida (devedores iudicati) ou uma confissão de dívida feita pelo devedor perante o magistrado (devedores confessi), mas com o tempo, outros também podiam manejar a iudicatio, como o fiador que havia pagado o débito. Este podia manejar actio per manus injectio pro iudicato contra o condenado. Apenas com o advento da Lex Poetelia Papiria, diploma sobre o qual há divergência doutrinária quanto ao momento da edição, possivelmente entre 428 e 441 a.C., as obrigações deixaram de ser pessoais e se tornaram patrimoniais, dando fim à execução pessoal.

Não obstante o inegável progresso trazido pela Lex Poetelia Papiria, na garantia do crédito, estes ainda não eram facilmente transmitidos à terceiros, permanecendo o princípio do crédito individual.

Com o fim do império romano a Europa ingressa num período denominado feudalismo, baseado nas relações servis/contratuais, onde as pessoas passam a ter uma relação de servidão com os feudos em troca basicamente de proteção ocasionando uma retração da economia onde as moedas perderam seu espaço de circularização e a produção agrícola ganha caráter de subsistência.

2 Lei das XII TÁBUAS - TÁBUA TERCEIRA - Dos direitos de crédito

1. Se o depositário, de má fé, pratica alguma falta com relação ao depósito, que seja condenado em dobro.

2. Se alguém coloca o seu dinheiro a juros superiores a um por cento ao ano, que seja condenado a devolver o quádruplo.

3. O estrangeiro jamais poderá adquirir bem algum por usucapião.

4. Aquele que confessa dívida perante o magistrado ou é condenado, terá 30 dias para pagar. 5. Esgotados os 30 dias e não tendo pago, que seja agarrado e levado à presença do

magistrado.

6. Se não paga e ninguém se apresenta como fiador, que o devedor seja levado pelo seu credor e amarrado pelo pescoço e pés com cadeias com peso até o máximo de 15 libras, ou menos, se assim o quiser o credor.

7. O devedor preso viverá à sua custa, se quiser; se não quiser o credor que o mantém preso dar-lhe-á por dia uma libra de pão ou mais, a seu critério.

8. Se não há conciliação, que o devedor fique preso por 60 dias, durante os quais será

conduzido em 3 dias, de feira ao comitium, onde só proclamará em altas vozes, o valor da divida. 9. Se são muitos os credores, é permitido, depois do terceiro dia de feira, dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quantos sejam os credores, não importando cortar mais ou menos*; se os credores preferirem, poderão vender o devedor a um estrangeiro, além do Tibre (rio de Roma).* Interpretação simbólica do crédito de cada credor, pois um corpo em pedaços em nada

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O feudalismo vai vigorar do século V ao XIII, quando o aprimoramento das técnicas de produção agrícolas e o crescimento populacional proporcionaram melhores condições para o reavivamento das atividades comerciais e os centros urbanos voltam a florescer e com eles o comércio.

Com o renascimento do comércio, surge o direito cambiário que para efeitos didáticos pode ser dividido em quatro fases em relação à criação dos títulos de crédito, sobre as quais expomos a seguir.

Período Italiano. A partir do século XIII, o direito cambiário teve a preciosa e decisiva influência dos mercadores italianos na evolução do título de crédito, pois nas cidades marítimas italianas ocorriam transações comerciais bastante significativas, e havia diversidade monetária, já que cada feudo possuía uma moeda.

Esse período também foi marcado por saques e violência, tornando o deslocamento de comerciantes com valores entre as cidades bastante arriscado, fazendo surgir o Câmbio Trajectício, que era uma carta de crédito onde o comerciante poderia sacar o valor nela descrito na cidade que necessitasse, evitando carregar valores em espécie nos seus caminhos. O Câmbio Trajectício tornou a circulação de moedas mais segura, pois, difundiu o uso de carta de “banqueiros” conhecidos, representando os valores da transação e servindo como moeda (moeda-documento-moeda).

Esta carta de autorização de crédito vai evoluir na mesma velocidade do comércio e surge a lettera di pagamento ou simplesmente lettera de cambio, (letra de câmbio), que passa a adotar uma relação trilateral e não mais só bilateral. O período italiano vai até 1643.

Período Francês. No Período Francês, a letra de câmbio consagrada na Ordenação do Comércio Francesa de 1673, passa a ser utilizada nas mais diversas situações comerciais, como meio de pagamento, inclusive de mercadorias a crédito, e deixa de estar vinculada ao contrato de câmbio para ser utilizada como instrumento de crédito.

Nesse período é criada e incorporada aos títulos a cláusula “à ordem”, e conseqüentemente o nascimento do endosso que é a condição que permitia o tomador ou beneficiário transmitir a titularidade do crédito a quem desejasse.

Ainda nesse período surge o aceite da letra como condição obrigatória de validade, que era reconhecimento formal da dívida pelo sacado (pessoa que deve saldar a obrigação), todavia esta letra ainda permanecia vinculada a um contrato.

Período Alemão. No Período Alemão, que tem início com o surgimento da Ordenação Geral do Direito Cambiário (Algemeine Deutsche Wechsel Ordnug) em 1848, a letra de câmbio se torna título autônomo, motivo pelo qual passou a haver inoponibilidade das exceções pessoais3 (ou inopolibilidade das exceções aos terceiros de boa fé) e abstração4 dos títulos de crédito.

Período Uniforme. Por fim chegamos ao Período Uniforme, onde em 1930 na Convenção de Genebra, muitos países com a finalidade de unificar formalidades e procedimentos ligados às Letras de Câmbio e Nota Promissórias, criam a Lei Uniforme de Genebra – LUG (ratificada pelo Brasil em 1966 por intermédio do Decreto 57.663/66). Este período corresponde ao período de uniformização definitiva da legislação cambiária.

5. DOS TÍTULOS DE CRÉDITO.

3 INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES AOS TERCEIROS DE BOA FÉ: significa que o obrigado em um título de crédito, não pode recusar o pagamento ao portador do título, alegando as suas relações pessoais com outros obrigados anteriores do mesmo título. Este referido princípio decorre da garantia da circulação dos títulos de crédito. O terceiro de boa fé recebe o título PURIFICADO, livre de qualquer vício ou defeito que o negócio anterior por acaso possua.

4 ABSTRAÇÃO: os direitos decorrentes do título não dependem do negócio que deu origem ao nascimento do título de crédito, quando o título de crédito encontra-se em circulação, em mãos de possuidor de boa fé.

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O direito de crédito na esfera dos direitos disponíveis possui grande circulação no mundo atual, na medida em que é indicativo de um valor de ordem pecuniária.

Visando iniciar nosso estudo podemos entender o título de crédito como um documento que se destina a representar um crédito, facilitando assim a sua circulação entre diversos titulares distintos, em substituição à moeda propriamente dita, propiciando segurança à circulação de valores. Não obstante termos uma grande quantidade de títulos de crédito em circulação vamos dedicar especial atenção às letras de câmbio, notas promissórias, cheques e duplicatas.

A justificativa da existência de um título de crédito está baseada em duas necessidades, sendo a primeira a promoção e facilitação de créditos e seus respectivos valores e a segunda a segurança traduzida pela substituição do dinheiro vivo.

No estudo dos títulos de crédito, devemos destacar que um título de crédito é um documento representativo de um direito de crédito e não propriamente originário deste, na medida em que a existência de um direito de crédito não exige a criação de um título, mas o contrário, a existência de um título, exige a preexistência de uma obrigação (direito de crédito) a ser pelo título representado.

O comercialista italiano CESARE VIVANTE5 imaginou a melhor definição para expressão título de crédito até hoje, que, no seu entendimento, é o documento necessário ao exercício de um direito literal e autônomo que nele se contém (no original “Il titolo di credito è um documento necessário per esercitare il diritto letterale ed autonomo che vi è mencionato”).

Do conceito de VIVANTE vamos buscar as características essenciais dos títulos de crédito: cartularidade, autonomia, e literalidade.

6. CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO.

Temos abaixo as características essenciais ou princípios dos títulos de crédito que são CARTULARIDADE, AUTONOMIA E LITERALIDADE.

6.1. Cartularidade - A cartularidade se baseia na existência física do título, ou seja, o título de crédito existe enquanto existir a sua cártula, que tem por finalidade a representação de um direito de crédito preexistente. Para o exercício do direito de crédito nele existente é necessário a apresentação do documento original, admitindo-se um juízo a juntada de cópias autenticadas.

Ao tratarmos da cartularidade alguns autores6 entendem que ao constatarmos a existência física do título ocorre o fenômeno da incorporação do direito ao documento, ou seja, o direito de crédito se materializa na cártula.

Com o avanço da tecnologia, especialmente no que se refere à facilidade e rapidez na transmissão de dados por meios eletrônicos e armazenamento dos mesmos em ambientes virtuais, esta característica começa a ser discutida ou pelo menos vista sob nova ótica.

Um exemplo disso são os boletos (que não são títulos de crédito por não possuírem as características essenciais dos títulos de crédito e por não ter sua existência fundamentada em lei) para pagamentos que recebemos de nossas contas, onde na maioria das vezes o credor ordena que a instituição bancária inicie uma cobrança baseada numa obrigação lastreada por uma nota fiscal de compra e venda ou de prestação de serviços. No boleto temos uma referência de uma duplicata, todavia na maioria das vezes ela sequer foi emitida, ficado somente num ambiente virtual sendo materializada somente quando de eventual inadimplemento do devedor, e em geral para instruir o protesto extrajudicial.

5 CESARE VIVANTE:Comercialista Italiano – 1855 -1944.

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A Lei nº 9.492/977 já estabelece no seu artigo 8º que poderão ser recepcionadas as indicações a protestos das duplicatas mercantis e de prestação de serviços, por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, sendo de inteira responsabilidade do apresentante regularidade dos dados enviados.

6.2. Autonomia - A autonomia dos títulos de crédito verifica-se em função de que cada obrigação a eles relacionada não guarda relação de dependência com as demais. Significa dizer que aquele que adquire o título de crédito passa a ser titular autônomo do direito creditício ali mencionado, sem que exista qualquer interligação com os adquirentes anteriores. Essa característica do título de crédito é o que torna apto a circular entre inúmeras pessoas, mantendo hígido o direito que dele emerge.

Em decorrência desse princípio, surgem dois outros subprincípios: o da inoponibilidade das exceções ao terceiro de boa-fé e o da abstração.

A inoponibilidade das exceções ao terceiro de boa-fé quer significar que, quando o devedor principal venha a ser instado a pagar o valor ao qual se obrigou, quando da emissão do título, não poderá alegar, para se esquivar do pagamento, possíveis exceções relacionadas com a relação causal que deu origem à dívida consubstanciada no título; ou seja, se o título se originou de um negócio de compra e venda, o emitente do título – devedor, portanto – não poderá alegar ao terceiro de boa-fé, ao vir este lhe apresentar esse título para pagamento, que o objeto adquirido apresentou-se em desconformidade com as qualidades que dele se esperavam.

Nesse caso o pagamento deverá ser feito, podendo o adquirente procurar o vendedor para obter ressarcimento dos danos que foi obrigado a suportar. Por outro lado, nesse caso, se o título de crédito não circular, permanecendo nas mãos vendedor/credor, quando da apresentação para pagamento poderá o comprador/devedor excepcionar o pagamento com base no descumprimento da obrigação assumida em decorrência da relação causal, qual seja a entrega, pelo vendedor/credor, de um bem da forma prometida, justamente porque o vendedor/credor não é terceiro, mas sim um dos partícipes da relação causal ensejadora do título.

A inoponibilidade das exceções está positivada na Lei Uniforme (Dec. 57.663/66) em seu art. 17, que estabelece: “As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que um portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor”. O Código Civil, em seu artigo 916, igualmente determina: “As exceções fundadas em relação ao devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé”.

O subprincípio da abstração, derivado da autonomia da obrigação cambial refere-se ao fato de que, quando o título passa a circular, encontrando-se nas mãos de alguém que não participou da relação causal-base que lhe deu origem, ele se desvincula por completo do negócio que ensejou sua criação. Em decorrência disso, o título de crédito não depende de nenhum outro documento para que seu titular exerça o direito creditício dele emergente, bastando sua apresentação. Essa característica acaba por gerar a segurança necessária a respeito do titulo de crédito, podendo esse circular livremente, sem a necessária investigação das causas de seu surgimento.

6.3. Literalidade - A literalidade, enquanto característica essencial de um título de crédito reveste-se de um caráter eminentemente formal, na medida em que por literalidade reveste-se entende aquela obrigatoriedade de o título de crédito estar devidamente preenchido, explicitando assim, de forma literal, a obrigação por ele representada. Podemos resumir que o direito do credor é aquele descrito no título, nem mais nem menos.

Todas as ocorrências que orbitam um título de crédito somente produzirão efeitos se forem literalmente traduzidos no título como, por exemplo, o aval (mesmo que parcial), que deve constar no

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corpo do título, sob pena de não produzir efeito algum. Outro exemplo é a quitação parcial que para produzir os efeitos perante terceiros deve estar descrita no título, pois se a quitação for em documento apartado somente produz efeitos entre credor e devedor original.

A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem. Isto significa dizer que o título perderá seu caráter cambiário, porém não se torna uma obrigação inexistente, ou juridicamente ineficaz, pois o documento está viciado, mas continua valendo como prova de uma obrigação comum escrita anteriormente, porém destituída de rigor cambiário, estando tutelada pelo direito comum, pois o negócio jurídico que originou o título não se torna inválido, continua existindo.

7. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO.

A doutrina comercialista clássica usualmente atribui aos títulos de crédito diversas classificações, das quais as mais comuns são aquelas que têm por base a sua forma, natureza, estrutura e o seu modo de circulação.

7.1 Classificação quanto ao Modelo ou Forma.

Quanto ao modelo podem ser vinculados ou livres. No primeiro caso somente produzem efeitos cambais os documentos que atenderem ao padrão exigido em Lei, como por exemplo, os cheques e duplicatas. No segundo caso são os títulos que não obedecem a um padrão pré-determinado para sua validade, como por exemplo, as Letras de Cambio e Notas promissórias. Destaque-se que neste caso que mesmo não tendo um modelo ou forma pré-determinada de apresentação, os títulos têm a obrigatoriedade de apresentar determinadas grafias sob pena de não ser reconhecido legalmente. 7.2 Classificação quanto à Natureza ou Emissão

Títulos de crédito causais. São aqueles títulos cuja emissão depende da ocorrência de determinada causa específica, prevista na respectiva norma que os regule, constituindo tal causa requisito indispensável à sua emissão. Podemos tomar como exemplo a duplicata mercantil, que somente tem a sua existência se houver a emissão de uma nota fiscal fatura de compra e venda de produtos ou de serviços.

Títulos de crédito abstratos. Estes títulos por sua vez não dependem da ocorrência de determinada hipótese ou causa para a sua emissão. A existência dos títulos de crédito abstratos não nega, em hipótese nenhuma, a existência de um direito de crédito anterior à criação do título, mas relega a um plano secundário a explicação sobre a causa de sua emissão.

7.3 Classificação quanto à Estrutura.

Os títulos de crédito podem estar estruturados no contorno de promessa ou ordem de pagamento. Promessa de pagamento. O titulo de crédito que tem a estrutura de promessa de pagamento possui uma relação jurídica bilateral entre o emitente/sacador que pelo título promete pagar o beneficiário/tomador, e como exemplo temos a nota promissória.

Ordem de pagamento. São títulos de crédito que possuem uma relação jurídica trilateral ou triangular, envolvendo o sacador que cria o título e que dá a ordem ao sacado para saldar a dívida, a segunda com o sacado que é a pessoa que deve pagar a obrigação contida no título, e a terceira relação é que é a pessoa que receberá o crédito originado na obrigação cambial. O exemplo clássico é a letra de câmbio.

7.4 Classificação dos títulos de crédito quanto ao seu modo de circulação.

Títulos de crédito ao portador. Em síntese, os títulos ao portador são aqueles títulos de crédito que circulam por intermédio de quem os portar. Devem, por conseguinte, ser pagos a quem os portar, pelo

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fato de neles não constar o nome expresso de seu credor titular, tornando-se o portador, assim, credor do título. Não é necessário o endosso para sua transferência, podendo ser transferidos, indeterminadamente, pela simples tradição, considerado o seu prazo prescricional. O Código Civil de 2002 dedicou os artigos 904 a 909 para tratar dos títulos ao portador.

Na análise dos diversos títulos ao portador existentes devemos considerar também que as ações ao portador foram praticamente extintos pela Lei nº 8.021, de 12.4.1990 (inciso II do art. 2º).

Títulos de créditos à ordem

São aqueles cuja titularidade se transfere mediante a indicação, por meio de endosso efetuado pelo atual beneficiário, em nome de nova pessoa a quem deva ser paga a quantia expressa no título. Pode-se dizer que a maioria dos títulos de créditos utilizados atualmente se classifica como título à ordem. O endosso é específico dos títulos de crédito à ordem, constituindo um método translativo da sua propriedade ou titularidade. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título, podendo o endossante designar o endossatário, e para validade do endosso, dado no verso do título, é suficiente a simples assinatura do endossante.

A transferência por endosso completa-se somente com a tradição do título, pois sem o título o novo credor não pode fazer uso do direito nele representado. O endosso cancelado, total ou parcialmente, não possui valor e considera-se não escrito.

O art. 911 do Código Civil considera legítimo possuidor o portador do título à ordem com série regular e ininterrupta de endossos, ainda que o último seja em branco. Destaque-se que, aquele que paga o título está obrigado a verificar a regularidade da série de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas. O Código Civil de 2002 dedicou os artigos 910 a 920 para tratar dos títulos ao portador.

Títulos de créditos nominativos

São aqueles cujo nome do respectivo credor fica registrado em um livro próprio, e circulam a partir da transferência de sua titularidade no livro próprio de registro e temos como exemplo as ações nominativas das sociedades por ações.

A transferência acima citada do título nominativo opera-se mediante termo, em registro do emitente, assinado pelo proprietário e pelo adquirente. O título nominativo foi tratado no Código civil de 2002 nos artigos 921 à 926.

8. CATEGORIAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO.

Os títulos de crédito podem ser distribuídos, quanto aos direitos que incorporam, em várias categorias. As mais comuns e importantes, por dizerem respeito à natureza do crédito de que se revestem , são as que os classificam em títulos de crédito próprios, impróprios, de legitimação e de participação.

8.1 Títulos de crédito próprios - São chamados títulos de crédito próprios aqueles que encerram uma verdadeira operação de crédito, subordinada a sua existência à confiança que inspiram os que dele participam. São esses os genuínos e mais puros títulos de crédito; neles é preponderante o elemento pessoal já que é baseada na confiança que merecem os que deles participam que sua circulação se faz com maior ou menos facilidade.

Exemplos de títulos de crédito próprios são a letra de câmbio e a nota promissória. Ordem e promessa de pagamento, respectivamente, de uma importância certa a uma pessoa determinada ou à sua ordem, a circulação de tais títulos se faz levando-se me conta os que neles se obrigam. É arrimado nessa consideração que o terceiro recebe esses títulos e os transfere a outros, muitas vezes coobrigando-se pelo seu pagamento. São os títulos de crédito próprios os mais perfeitos desses papéis.

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8.2 Títulos de crédito impróprios - Impróprios são os títulos que não representam uma verdadeira operação de crédito, mas que, revestidos de certos requisitos dos títulos de crédito propriamente ditos, circulam com as garantias que caracterizam esses papéis. É o caso, por exemplo, do cheque, ordem de pagamento à vista, em favor do subscritor ou de outra pessoa, que, por ter requisitos dos títulos de crédito, propriamente ditos, circulam como esses e tem garantias semelhantes ou bastante aproximadas dos títulos de crédito próprios. No entanto, só serão legitimamente emitidos cheques quando os emitentes possuírem provisão, isto é, depósito em mãos do sacado, no caso a instituição financeira contra a qual os cheques são sacados.

Os títulos de crédito impróprios, apesar de não expressaram uma autêntica operação de crédito, são bastante difundidos, com larga aceitação. Isso se deve sobretudo às garantias que os revestem, com a aplicação aos mesmos de vários princípios inerentes aos títulos de crédito próprios, dando ao portador uma relativa segurança quanto aos seus direitos.

8.3 Títulos de Legitimação - Por muitos incluídos entre os títulos de crédito impróprios, e, assim, não tratados isoladamente, mas dentro dessa categoria, os títulos de legitimação são aqueles que dão ao portador não um direito de crédito propriamente dito, mas o de receber uma prestação de coisas ou de serviços. È o caso de bilhetes de espetáculos públicos, de passagens, conhecimentos de frete ou de depósito e outros que tais, com os quais o portador tem o direito de exigir a prestação de uma coisa ou de um serviço.

Dada a sua grande difusão, os títulos de legitimação merecem fazer parte de uma categoria especial. Não são, de fato, verdadeiros títulos de crédito; mas, já que a prestação a ser feita é futura, absorvem eles certas qualidades dos títulos de crédito, sendo, por isso, amparados por muitos dos princípios desses.

8.4 Títulos de Participação - Por último, constituem uma categoria especial dos títulos de crédito aqueles papéis que dão ao portador um direito de participação. É o caso, por exemplo, das ações das sociedades anônimas. O portador de uma desses papéis tem o direito de participar dos interesses sociais, não só na fiscalização como nos resultados financeiros obtidos pelas sociedades. Revestindo-se, em regra, de forma especial, esses documentos tomam a natureza de título de crédito, podendo, inclusive, circular mediante endosso (ações endossáveis) ou simples tradição manual (ações ao portador).

Com o desenvolvimento do chamado mercado de capitais, os títulos de participação tiveram grande incremento, sobretudo em virtude de sua fácil negociação nas Bolsas de Valores. Inscrevem-se eles, na realidade, entre os “valores mobiliários”, como as debêntures e as partes beneficiárias.

9. CONSIDERAÇÕES DO CÓDIGO CIVIL SOBRE OS TÍTULOS DE CRÉDITO.

No estudo dos títulos de crédito devemos considerar as disposições do Código Civil e das legislações específicas que regulam cada título, todavia quando houver conflito de regras valerá sempre a regra mais especifica não só devido ao princípio da especificidade das leis, mas pela própria disposição do art. 903 do CC que reza: “Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código”.

Dentre as orientações do CC o título de crédito deve conter, independentemente de demais requisitos previstos em lei própria: a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente.

Um título de crédito será considerado à vista caso não contenha indicação de data de vencimento e considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente. O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos em lei própria.

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O código civil prevê uma evolução do princípio da cartularidade, pois, se antes o título somente era válido quando em papel, hoje já começa a ser admitido, pelo menos em lei, na forma virtual. Admitindo essa possibilidade passamos a enfrentar outra discussão que é a questão das assinaturas das partes envolvidas num título, especialmente do emitente.

Neste caso temos que nos socorrer da assinatura eletrônica ou digital é fator indispensável para a eficácia dos documentos no mundo eletrônico. Os títulos de crédito eletrônicos serão operados através de senhas eletrônicas, ou por assinaturas digitais, favorecendo a celeridade das práticas comerciais. A definição de assinatura eletrônica digital é atualmente dada pelo art. 2º, da Lei Modelo sobre Assinatura Eletrônicas da Comissão das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional – Uncitral, versão de 2001: "Por assinatura eletrônica se entenderão os dados em forma eletrônica consignados em uma mensagem de dados, ou incluídos ou logicamente associados ao mesmo, que possam ser utilizados para identificar que o signatário aprova a informação reconhecida na mensagem de dados”.

Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a excludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de termos e formalidade prescritos, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos e obrigações. O Decreto 2044/19088 (regula a letra de câmbio e a nota promissória e regula as Operações Cambiais), que é legislação ainda vigente e concorrente a LUG e CC/02, em seu artigo 44, já tratava das possibilidades previstas acima, todavia ninguém pode olvidar que na prática as partes ajustando cláusula de juros estas podem ser executadas judicialmente, bem como a adequação de cláusula “não à ordem”.

O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade com os ajustes realizados. O descumprimento dos ajustes pelos que deles participaram, não constitui motivo de oposição ao terceiro portador, salvo se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.

Entende-se por criação o ato de dar vida ao título, com a sua feitura material, cujo momento decisivo é aquele em que o sacador lança sua assinatura, e por emissão ou saque o ato em que o título entra em circulação, com a sua transferência para o beneficiário. Em resumo, diremos que criar é dar forma escrita ao título, e emitir é fazer o título já criado entrar em circulação.

O referido artigo (art. 891 CC) determina que o título de crédito que estiver incompleto ao tempo de sua emissão, ou seja, no momento em que entra em circulação, deverá ser preenchido conforme o que foi ajustado na época de sua criação. Porém, se as pessoas intervenientes no título descumprirem o que foi ajustado anteriormente, e o título estiver preenchido contrariamente ao que foi estabelecido entre as partes, não constituirá motivo de oposição ao terceiro portador, a não ser que este tenha adquirido o título agindo de má-fé.

O terceiro de má-fé será aquele que agiu com maldade, servindo a interesses ocultos ou que tinha conhecimento de vícios anteriores com relação ao título.

O terceiro de boa-fé será toda pessoa que, com a qualidade de terceiro, promova um ato jurídico sem qualquer maldade, ou sem estar servindo a interesses ocultos e prejudiciais a outrem mancomunado com a outra parte.

8 Art. 44. Para os efeitos cambiais, são consideradas não escritas: l. a cláusula de juros; II. a cláusula proibitiva do endosso ou do protesto, a excludente da responsabilidade pelas despesas e qualquer outra, dispensando a observância dos termos ou das formalidades prescritas por esta Lei; III. a cláusula proibitiva da apresentação da letra ao aceite do sacado; IV. a cláusula excludente ou restritiva da responsabilidade e qualquer outra beneficiando o devedor ou o credor, além dos limites fixados por esta Lei.

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Em regra, a boa-fé de terceiro resulta do desconhecimento de fato anterior, que se atenta, ou se prejudica com o ato, de que participa, posteriormente. Portanto se o terceiro portador recebeu o título em boa-fé não poderá se opor ao seu preenchimento.

O Código Civil no seu art. 892 prevê que aquele, sem ter poderes, ou excedendo os que têm, lança a sua assinatura em título de crédito, como mandatário ou representante de outrem, fica pessoalmente obrigado, e, pagando o título, tem ele os mesmos direitos que teria o suposto mandante ou representado.

Esse artigo diz respeito a falta ou excesso de poder de alguém que lança a sua assinatura em um título de crédito, sem ter poderes para isso ou excedendo os que tiver.

Segundo o novo Código Civil, em seu artigo 653, “Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato”.

O que caracteriza o mandato é a representação, isto é, o fato de uma pessoa agir em nome de outra, representando-a e praticando todos os atos como se eles fossem praticados pelo mandante.

Mandante ou Outorgante é aquele que confere os poderes a outrem para a prática dos atos em seu nome. Mandatário ou Procurador é aquele a quem tais poderes são conferidos.

Se o representante de alguém ou o seu mandatário vier a assinar um título de crédito sem ter poderes, ou exceder os que tiver, ficará pessoalmente obrigado, e, caso venha a pagar o título, passará a ter os mesmos direitos que teria o suposto mandante ou representado.

O direito brasileiro sempre privilegiou o terceiro de boa fé. E na abordagem dos títulos de crédito temos que este não pode ser reivindicado do portador que o adquiriu de boa-fé e na conformidade das normas que disciplinam a sua circulação.

A boa-fé deve ser entendida no sentido de quem, confiantemente, com intenção pura, pratica por erro o ato que julgava conveniente e lícito, mas cujo resultado pode ser contrário aos seus interesses. A boa fé sempre é presumida e a má fé deve ser provada.

10. DO ENDOSSO.

Os títulos de crédito podem ser transferidos por endosso ou por cessão de crédito e esta transferência implica a de todos os direitos que lhe são inerentes.

Primeiramente devemos esclarecer que o endosso translativo seguido da tradição, se constitui no meio natural pelo qual o endossante ou endossador transfere a propriedade de um título de crédito ao endossatário, revelando-se num ato típico de circulação cambial.

Tratando-se de uma declaração acessória e unilateral, o endosso deve ser lançado no verso do título e, para a sua validade, basta a assinatura de próprio punho do endossante.

Além de transferir o título de crédito ao endossatário, o endosso também vincula o endossante, salvo cláusula em contrário, à sua aceitação ou ao seu pagamento.

Podemos dizer que, enquanto o endossatário se torna o novo credor do título de crédito, o endossante passa a ser um de seus co-devedores.

Assim, ao se transferir um título de crédito estão se transferindo também todos os direitos nele contido, constituindo, igualmente, uma garantia de pagamento, já que o endossante se torna responsável pela garantia do pagamento do título, assumindo a posição de coobrigado da dívida cambiária.

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Apesar do tratamento genérico dado pelo CC/02, a LUG9 trata do endosso das Letras de Câmbio e Nota Promissória entre os artigos 11º ao 20º e o Decreto 2.044/1908 no art. 8º.

O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que ele seja subordinado considera-se como não escrita e o endosso parcial é nulo, pois fere o princípio da unicidade dos títulos de crédito.

Espécies de endosso: 1. ENDOSSO PRÓPRIO.

a) Endosso em branco - quando não identifica o nome do beneficiário transformando o título nominativo em ao portador, transferindo o crédito por mera tradição - a assinatura é feita no verso acrescida ou não da expressão “pague-se”. Esta deve ser sempre no verso, pois se for no anverso pode ser confundida com o aval em branco.

b) Endosso em preto - indica o nome do endossatário (novo beneficiário) - pode ser feito no verso ou no anverso.

2. ENDOSSO IMPRÓPRIO (aquele que não transfere a titularidade do título, mas, somente a posse do título) - Tipos:

a) Endosso Mandato - é aquele em que, por cláusula especial, o portador do título o transfere a outra pessoa, que passa a exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode endossá-la na qualidade de procurador. Por exemplo: um credor não pode no dia do vencimento do título efetuar a cobrança do devedor, mas incumbe outra pessoa para fazê-lo em seu nome e para tanto o credor deve legitimar no título a pessoa incumbida de efetivar a cobrança. O sacado (devedor) sem essa formalidade pode recusar-se a pagar o título, pois todos os direitos devem estar devidamente inscritos no título (lembremos da LITERALIDADE). Nas LC e NP a LUG faz menção expressa no art. 18.10

No título o endosso mandato expressa-se pela assinatura do endossante mandante sob a rubrica “ pague-se, por procuração, a fulano de tal...”

b) Endosso Caução - Na qualidade de bens móveis os títulos de crédito podem ser objeto de penhor, garantindo uma determinada obrigação. Cumprida a obrigação pelo devedor, deve o título dado em garantia deve retornar à posse do endossante. Nas LC e NP a LUG faz menção expressa no art. 19.11 No título o endosso caução expressa-se pela assinatura do endossante mandante sob a rubrica “ pague-se, em garantia, a fulano de tal...”

9 Decreto nº 57.663/66

10 Art. 18. Quando o endosso contém a menção "valor a cobrar" (valeur en recouvrement), "para cobrança" (pour encaissement), "por procuração" (par procuration), ou qualquer outra menção que implique um simples mandato, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode endossá-la na qualidade de procurador.

Os coobrigados, neste caso, só podem invocar contra o portador as exceções que eram oponíveis ao endossante. O mandato que resulta de um endosso por procuração não se extingue por morte ou sobrevinda incapacidade legal do mandatário.

11Art. 19. Quando o endosso contém a menção "valor em garantia", "valor em penhor" ou qualquer outra menção que implique uma caução, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas um endosso feito por ele só vale como endosso a título de procuração. Os coobrigados não podem invocar contra o portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais deles com o endossante, a menos que o portador, ao receber a letra, tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.

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c) Endosso Sem Garantia - O endossante transfere a titularidade da letra sem se obrigar com o seu pagamento. Essa condição é exceção a regra da responsabilidade cambial onde o endossante é via de regra co-responsável pelo título. É admitida para as LC e NP nos termos do art. 15 da LUG.12

3) ENDOSSO TARDIO, POSTERIOR OU PÓSTUMO.

O endosso tardio ou póstumo é aquele realizado depois do título já ter sido protestado (nas suas modalidades) ou após decurso do prazo definido em lei para efetivar o seu protesto por falta de pagamento. Nas LC e NP está regulamentado no art. 20 da LUG13.

Ocorre que neste caso os efeitos são de cessão de crédito, ou seja, o endossante neste caso garante apenas a existência do título e não responde pela sua solvência.

10.1 Da Cessão de Crédito.

Quanto o titulo contiver uma cláusula “não a ordem” o único meio eficaz de transferência é a formalização de uma cessão de crédito que é o meio pelo qual, de forma bilateral, o credor de determinada obrigação transfere a terceiro sua posição na relação obrigacional.

Destaque-se que é ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1º do art. 654 do CC/0214.

Na cessão de crédito o cedente responde apenas pela existência do crédito e não pela sua solvência (art. 296 cc/02)15, ou seja, em regra o cedente não se torna co-responsável perante o cessionário enquanto em regra o endossante, no endosso, é devedor indireto da obrigação. E na cessão de crédito exigem-se as formalidades do art. 290 do CC/02.16

Destaque-se que na cessão de crédito o devedor, por se tratar de um direito derivado, pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente; já no endosso adquiri-se um direito originário não onde vigora a inoponibilidade das exceções.

A cessão de crédito pode ser Convencional, legal ou judicial: A convencional é a que decorre da livre e espontânea declaração de vontade manifestada entre cedente e cessionário. A legal resulta da lei, independentemente de qualquer declaração de vontade, determinando a mesma a substituição do

12 Art. 15. O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamento da letra.

O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for posteriormente endossada.

13 Art. 20. O endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos que o endosso anterior. Todavia, o endosso posterior ao protesto por falta de pagamento, ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, produz apenas os efeitos de uma cessão ordinária de créditos. Salvo prova em contrário, presume-se que um endosso sem data foi feito antes de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto.

14 Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante.

§ 1º O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação

do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos.

15 Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor. 16 Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita.

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credor (por exemplo; nas sub-rogações legais: art 34617 CC/02). O sub-rogado adquire os direitos do credor original. A judicial advém de decisão que supra a declaração de vontade do devedor. Exemplo: sentença que supra a declaração de vontade em determinada cessão de crédito em face de quem se encontrava obrigado a manifestá-la, mas recusou-se.

Quanto a forma de satisfação da obrigação cedida ela pode ser: pro soluto ou pro solvendo: cessão pro soluto é aquela em que há quitação plena do débito do cedente para com o cessionário, operando-se a transferência do crédito com a exoneração do cedente. O cedente transfere seu crédito com a intenção de extinguir imediatamente uma obrigação preexistente.

A cessão pro solvendo é a transferência de um direito de crédito, feita com o intuito de extinguir uma obrigação, o que não acontecerá de imediato, mas apenas na medida em que o crédito cedido for definitivamente solvido.

11. DO AVAL

O título de crédito normalmente tem no aval a forma mais comum de garantia. O aval juntamente com a fiança18, são tipos de garantias pessoais, sendo que a segunda está vinculada a contratos civis e o aval é típico dos títulos de crédito.

O aval é o ato cambiário pelo qual uma pessoa (avalista) se compromete, unilateral e espontaneamente, a pagar o título nas mesmas condições do devedor (avalizado), ou seja, um avalista torna-se devedor solidário da obrigação contida no título.

Para que a garantia se efetive é necessário que o avalista declare sua vontade por escrito no próprio título, por meio de assinatura no anverso ou excepcionalmente no verso. O avalista poderá ser representado por procurador com poderes especiais, e caso o procurador não tenha poderes para dar o aval, este responderá pessoalmente pelo aval dado.

Considera-se não escrito o aval cancelado. A finalidade deste dispositivo é não permitir ao avalista desonerar-se livremente das obrigações cambiárias assumidas no titulo.

Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu avalizado e demais coobrigados anteriores, todavia por ser uma obrigação pessoal ela se transfere aos herdeiros dentro das forças da herança (art 1792 CC/02)19, ou seja, a obrigação do avalista não se extingue automaticamente pela sua morte.

Na fiança temos um instituto acessório onde o acessório segue o principal. Se o principal é nulo, a fiança também é nula, no aval temos uma instituição autônoma e se o título de crédito é inválido, o aval não o é.

Tendo em vista o princípio da independência das assinaturas e da autonomia das relações cambiárias, o aval não é atingido pela ineficácia do título que ele garante. O avalista não pode opor nenhuma das exceções que aproveitaria o avalizado.

17 Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:

I - do credor que paga a dívida do devedor comum;

II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro

que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel;

III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou

em parte.

18 A fiança é uma modalidade de garantia pessoal prestada pelo fiador, pessoa física ou jurídica, que se obriga pelo afiançado (devedor), assumindo, total ou parcialmente, obrigação pecuniária contraída pelo afiançado com base em contratos.

19Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança;

incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demostrando o valor dos bens herdados.

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A obrigação do avalista mantém-se, mesmo no caso em que a obrigação garantida seja nula por qualquer outra razão que não um vício de forma do título (não atendimento do preenchimento correto do título de crédito).

Assim, por exemplo, um menor preenche uma nota promissória e entrega ao seu pai para assinar como avalista, este aval é valido mesmo que a obrigação do título seja considerada nula, ou um aval dado a uma assinatura falsa de um título não é atingido pela nulidade decorrente da falsificação.

O aval não contém o benefício de ordem como no instituto da fiança. O credor de um título de crédito pode optar por cobrar, segundo a sua vontade, do devedor ou o avalista.

Se constar uma assinatura na face do título de alguém que não é nenhum dos personagens, credor e devedor (emitente ou beneficiário) será considerado aval.

A lei determina que o aval póstumo, ou seja, aquele prestado mesmo após o vencimento do título produzirá os mesmos efeitos do aval prestado anteriormente.

O avalista estará garantindo o pagamento do título e se responsabilizando da mesma maneira que a pessoa por ele avalizada, produzindo os mesmos efeitos como se o aval tivesse sido prestado antes do vencimento da dívida.

Porém deve-se considerar que o aval deverá ser prestado após o vencimento do título, mas antes do seu protesto, isso porque a lei, com o protesto, paralisa a circulação do título, não havendo sentido em apor-se o aval em documento já protestado.

O CC/02 não admitiu o aval parcial para os títulos de crédito, todavia essa regra somente valerá para eventuais títulos criados e que façam uso da lei civil para sua regulamentação, pois tanto na LUG (que regula as LC e NP), (art. 30)20, Lei do Cheque Lei nº 7357/85 (art. 29)21 temos a autorização expressa para a concessão do aval parcial.

Nas duplicatas esta questão é controversa, pois o artigo 12 da Lei das Duplicatas admite o aval, mas é silente quanto a este poder ser ou não parcial, e no artigo 25 consigna que se aplicam as Duplicatas as regras da LUG. Alguns autores entendem que a LUG deve ser aplicada às duplicatas e assim seria admitido o aval parcial e outros autores entendem que deve ser adotada a regra geral do Código Civil. Fica validamente desonerado o devedor que paga título de crédito ao legítimo portador, no vencimento, sem oposição, salvo se agiu de má-fé. Pagando, pode o devedor exigir do credor, além da entrega do título, quitação regular.

Não é o credor obrigado a receber o pagamento antes do vencimento do título, e aquele que o paga antes do vencimento, fica responsável pela validade do pagamento.

No vencimento, não pode o credor recusar pagamento, ainda que parcial. No caso de pagamento parcial, em que se não opera a tradição do título, além da quitação em separado, outra deverá ser firmada no próprio título.

Ainda na esteira das introduções trazidas pelo Código Civil aos institutos dos títulos de crédito, temos a questão da necessidade de outorga uxória pelo avalista no aval dado. A redação é a prevista no inciso III

20 Art. 30. O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval. Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário da letra.

21 Art. 29. O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo por signatário do título.

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do art 164722 do Código Civil, e tem reflexos distintos sobre o patrimônio do casal a ausência de outorga do outro cônjuge, senão vejamos:

O regime de bens, regulado pelo direito de família, traz normas aplicáveis às relações de interesse econômico resultantes do casamento.

De acordo com o regime de bens escolhido pelo casal, e considerando a atual redação do art. 1.647 do Código Civil, o aval prestado sem autorização conjugal pode gerar efeitos bem distintos. Em regra, a meação do cônjuge ficará preservada; porém, se o regime for o de separação de bens, não há que se falar em proteção, pois não existem bens comuns, apenas bens individualizados, que não se comunicarão em momento algum.

Já em relação ao regime de comunhão universal, existe outra particularidade. Todos os bens podem responder pela garantia prestada, até mesmo aqueles adquiridos antes da constância do casamento, visto que todo o patrimônio, presente e futuro do casal, formam uma só massa.

Os regimes de bens previstos no Código Civil são quatro, a saber:

1.COMUNHÃO PARCIAL – regulada pelos arts. 1.658 a 1.666: Aqui, somente os bens que sobrevirem ao casamento poderão ser atingidos. Os bens adquiridos individualmente por cada um, antes do casamento, não se comunicam, ficando excluídos da comunhão. Este regime é identificado por três tipos de patrimônios: o comum, o pessoal do marido e o pessoal da mulher. Somente o patrimônio comum e o daquele que prestou a garantia poderão vir a ser atingidos, em decorrência da ausência de autorização conjugal. A meação daquele que não anuiu à cártula, em regra, ficará intacta.

Aqueles bens recebidos isoladamente por doação ou sucessão, assim como aqueles sub-rogados em seu lugar, mesmo adquiridos na vigência do casamento, também não se comunicam, mas podem ser penhorados em sua totalidade, na hipótese de pertencerem exclusivamente ao consorte que prestou o aval, ou ainda, melhor sorte, não sofrerá nenhum embaraço, se pertencer àquele que não autorizou a garantia.

2. COMUNHÃO UNIVERSAL – regulada pelos arts. 1.667 a 1.671: Esta espécie de regime implica na formação de uma única massa de bens indivisíveis. Tantos os bens presentes como os futuros se comunicam, ficando todos eles sujeitos a responder pela obrigação contraída unilateralmente pelo parceiro, salvo as exceções previstas no art. 1.668 do CC [17], que têm efeitos personalíssimos.

3. PARTICIPAÇÃO FINAL DOS AQUESTOS – regulada pelos arts. 1.672 a 1.686: Regime quase não utilizado e muito semelhante à comunhão parcial. Cada cônjuge possui um patrimônio próprio, e mesmo aqueles bens adquiridos no alento do casamento, continuarão sob seu domínio e administração. Só haverá comunicação destes no momento da dissolução conjugal. Consequentemente, os cônjuges sujeitos a este regime, prestando o aval sem a autorização do companheiro, podem ter seu patrimônio penhorado totalmente. Porém, ocorrendo a dissolução da sociedade, e ficando comprovado que aquele bem constrito pertencia à massa comum do casal, o cônjuge prejudicado poderá pedir reparação de danos, decorrente do ato deliberado de seu companheiro que lhe causou prejuízo.

4. SEPARAÇÃO DE BENS – regulada pelos arts. 1.687 a 1.688: Neste regime, cada um responde e administra seu patrimônio livremente. Não existe um patrimônio comum, salvo estipulação contrária

22

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:

I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; III - prestar fiança ou aval;

IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação.

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em pacto antenupcial. Assim, em regra, o aval prestado por qualquer um dos nubentes não prescinde de autorização. Também não há que se falar em preservar a meação daquele que não prestou a garantia.

Conclui-se, portanto, que a proteção conferida à meação depende necessariamente da espécie de regime de bens adotada pelos nubentes. Deve-se tomar como base que o aval prestado unilateralmente não torna o outro nubente devedor; portanto, não tem este obrigação de saldar com sua meação os credores daquele. Logicamente, isto tudo é regra geral que admite exceções; assim, devemos ficar atentos as diversas particularidades de cada caso concreto, observando qual regra melhor se aplica ao litígio.

Sob o mesmo prisma, os bens comuns indivisíveis, seja pela condição de co-proprietário ou condômino necessário, terão a mesma proteção patrimonial. Os Tribunais têm decidido, de forma pacífica nestas situações, por preservar a fração correspondente a terceiros, que não fizeram parte da relação cambiária, inclusive podendo exercer seus direitos de preferência

12. DO ACEITE

Todos os títulos que se estruturem nos contornos de ordem de pagamento para seu aperfeiçoamento devem conter o reconhecimento formal da obrigação por parte do sacado/devedor denominado ACEITE.

Nos títulos de crédito as obrigações são assumidas mediante declarações de vontade, e sem o aceite não existe a formalização da vontade do devedor. Esta formalização ocorre com a assinatura do devedor no título.

Excepcionalmente, o aceite poderá ser prestado no verso do título acompanhado da expressão “por aceite” para que não haja a conflito com o endosso.

Nas LC e NP a LUG regula o aceite entre os artigos 21 à 29 e a Lei das Duplicatas23 entre os artigos 6º e 8º. A formalização do aceite passa remessa do título ao sacado para apor sua assinatura.

12.1 Do aceite qualificado.

A pessoa não está vinculada a aceitar integralmente a obrigação, neste caso teremos o aceite parcial ou qualificado e este pode ser de duas espécies: modificativo e limitativo.

O aceite modificativo, por exemplo, é aquele em que a obrigação inicial é modificada; o aceitante (sacado ) aceita, mas não nos moldes propostos. Pode mudar a data de vencimento, por exemplo. O limitativo é o que limita o valor da obrigação quando o sacado limita a quantia da obrigação a ser paga.

Nos dois casos o efeito é o mesmo, ou seja, o vencimento antecipado do título. 12.2 Da cláusula não aceitável

Caso o aceite seja recusado total ou parcialmente o título, no caso da LC e NP, vence antecipadamente, facultando ao beneficiário a cobrança do título de forma antecipada também.

A fim de evitar tal situação o sacador pode emitir o título proibindo expressamente a sua apresentação para aceite antes do vencimento por meio da cláusula não aceitável. Está previsto na LUG, art. 22.24

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Pela cláusula não aceitável, o sacador proíbe a apresentação da letra de câmbio ao sacado antes do dia designado para o seu vencimento. Sua utilidade é preservar os coobrigados do título contra a antecipação do vencimento, que decorreria de eventual recusa do aceite.

O devedor que não aceitar a duplicata poderá ser protestado para apor o aceite na mesma, mas não haverá o vencimento antecipado da obrigação como nas LC e NP.

13. DO PROTESTO

O protesto de um título de crédito é o ato solene pelo qual se certifica publicamente o exercício de um direito de crédito por parte do credor, titular do crédito representado pelo título e, em contrapartida, o inadimplemento por parte do obrigado cambiário, em relação à obrigação de pagar representada pelo título. Atualmente os procedimentos de protesto estão regulados pela Lei nº 9.492/97 (anexo III). O protesto de um título, como regra geral, está sujeito a duas etapas. Primeiramente ocorre o apontamento do título para protesto, com a notificação do devedor a fim de efetue o pagamento do título no prazo especificado, e decorrido o prazo sem o devido pagamento, ocorre então a lavratura do protesto, com a sua efetivação perante os registros existentes no respectivo cartório de protesto. A existência de protesto de título em nome de determinada pessoa gera presunção de inadimplemento que ocasiona inegáveis restrições na esfera creditícia àquele devedor cujo título seja protestado, além da publicidade da dívida que se torna pública, pois, qualquer certidão extraída em nome do devedor contará com todos os dados do protesto.

O protesto é de responsabilidade do credor que figura como beneficiário no título e as motivações mais comuns são a falta de pagamento e de aceite no título.

O protesto por falta de aceite somente podem ocorrer naqueles títulos que admitem aceite, por exemplo, letra de câmbio e duplicata e somente podem ser remetidos a protesto dentro do prazo para colocação do aceite pelo devedor.

Para o protesto de títulos de crédito e outros documentos de dívida, não há custos para o credor/apresentante, exceto se o mesmo desistir do protesto e retirar antes da sua lavratura (Lei Estadual de SP nº 10.710 de 29/12/2000). Os valores devidos pelo protesto, decorrentes de custas e emolumentos e demais despesas, são da responsabilidade do devedor, quando do pagamento do título em cartório ou do cancelamento do protesto. Neste último caso, serão somados os valores do protesto e do cancelamento.

13.1. Modalidades de Protesto - O protesto pode ter as seguintes modalidades:

a) O protesto por ser necessário, quando tem por finalidade resguardar o direito de regresso do endossatário contra os demais coobrigados na cadeia cambiária ou quando é obrigatório para o exercício de determinado direito como no caso de pedido de falência.

b) O protesto também pode ser probatório, tem o caráter de notificação, na medida em que constitui mera faculdade do credor, e sua finalidade principal é a constituição do devedor em mora, bem como a interrupção da prescrição.

24 Art. 22. O sacador pode, em qualquer letra, estipular que ela será apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo.

Pode proibir na própria letra a sua apresentação ao aceite, salvo se se tratar de uma letra pagável em domicilio de terceiro, ou de uma letra pagável em localidade diferente da do domicílio do sacado, ou de uma letra sacada a certo termo de vista.

O sacador pode também estipular que a apresentação ao aceite não poderá efetuar-se antes de determinada data. (grifo nosso)

Todo endossante pode estipular que a letra deve ser apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo, salvo se ela tiver sido declarada não aceitável pelo sacador.

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