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PODER JUDICIÁRIO. ESTADO DO RIO DE JANEIRO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Vigésima Sétima Câmara Cível/Consumidor

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__________________________________________________________________________________________________ 1 APELAÇÃO CIVIL

Processo nº 0178995-13.2012.8.19.0001 Origem : 2ª Vara Cível da Capital Apelante : DEUTSCHE LUFTHANSA A.G.

Apelado : CAMILA MONTE DE OLIVEIRA LIMA E IVAN LUÍS GONÇALVES DE OLIVEIRA LIMA Relator : Des. Antonio Carlos dos Santos Bitencourt

EMENTA

APELAÇÃO CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. EMPRESA DE TRANSPORTE AÉREO. ATRASO NO VOO INTERNACIONAL E EXTRAVIO DE BAGAGEM. ATRASO DE 10 HORAS PARA CHEGAR AO DESTINO FINAL E DE TRÊS DIAS PARA ENTREGA DA BAGAGEM EXTRAVIADA. ALEGAÇÃO DECORRENTE DE PROBLEMA TÉCNICOS E OPERACIONAIS INESPERADOS QUE CONSTITUEM EM FORTUITO INTERNO, QUE NÃO TEM O CONDÃO DE AFASTAR O DEVER DE INDENIZAR. DANO MORAL FIXADO À APELADA EM R$ 10.000,00 EM OBSERVÂNCIA AO

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PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. DANO MORAL POR RICOCHETE, COM RELAÇÃO AO APELADO. PRESENTE. DESPROVIMENTO DO APELO.

A C O R D ÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Civil, processo nº 0178995-13.2012.8.19.0001 em que são partes como Apelante Deutsche Lufthansa A.G. e Apelados Camila Monte de Oliveira Lima e Ivan Luís Gonçalves de Oliveira Lima.

A C O R D A M

, os desembargadores que integram a 27ª Câmara Civil/Consumidor do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em julgamento nesta data, por unanimidade de votos, em NEGAR PROVIMENTO ao recurso, nos termos do voto do Desembargador Relator.

Rio de Janeiro, 09 de outubro de 2013.

DES. ANTONIO CARLOS DOS SANTOS BITENCOURT RELATOR

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RELATÓRIO

Trata-se de Ação de Indenização por Danos Morais movida por Camila Monte de Oliveira Lima e Ivan Luís Gonçalves de Oliveira Lima, em face de Deustche Lufthansa Ag em virtude de atraso no voo, o que atrasou sua chegada em 10 horas ao destino final e pelo extravio temporário de bagagem que lhe foi entregue três dias após sua chegada, com violação e subtração de objetos e dano moral ricochete em relação ao segundo apelado.

A sentença proferida pelo MM Juiz de Direito, às fls. 126/129, julgou procedente o pedido contido no inicial para condenar a ré no pagamento de quantia à título de danos morais de R$ 10.000,00 para a primeira apelada e R$ 5.000,00 para o segundo apelado, condenando, ainda, a ré a pagar as despesas judiciais e honorários advocatícios de 10% do valor da causa.

Inconformada, a parte ré interpôs recurso de apelação, às fls. 130/146, pugnando pela reforma da sentença, alegando a ilegitimidade ativa do segundo apelado, face a ausência de relação contratual com apelante e a improcedência do pedido de indenização por dano moral da primeira apelada e, subsidiariamente, requer a revisão do valor indenizatório.

Contrarrazões, às fls. 150/160, no sentido de manter a sentença atacada na íntegra, por seus próprios fundamentos.

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É o relatório. Passa-se a decidir.

Conheço do recurso interposto, porquanto preenchidos os pressupostos de admissibilidade recursal.

As convenções internacionais, embora tenham validade, não podem prevalecer em detrimento do Código de Defesa do Consumidor, que constitui lei especial. A Suprema Corte, no julgamento do RE nº 80.004, firmou entendimento no sentido de que as Convenções Internacionais de Transporte Aéreo, não se sobrepõem às leis do país.

A apelada fez uma viagem com destino a Split na Croácia, com a rota Rio de Janeiro/Garulhos/Frankfurt/Split, com o atraso no voo no aeroporto de Guarulhos por mais de uma hora, ao chegar em Frankfurt perdeu de embarcar para Split (Croácia), sendo reacomodada ao próximo voo disponível, o que acarretou um atraso de 10 horas em sua chegada ao destino.

Alega, ainda que ao desembarcar em Split (Croácia) sua bagagem foi extraviada, sendo entregue 03 dias após a chegada final de seu destino, com violação da mesma e subtração de objetos.

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A alegação da empresa aérea de que o atraso decorreu de problema técnicos e operacionais inesperados não tem o condão de elidir a sua responsabilidade.

Registre-se que a responsabilidade é fundada na teoria do risco do empreendimento, segundo a qual todo aquele que se dispõe a exercer alguma atividade econômica deve responder pelos eventuais defeitos nos serviços prestados, independentemente de culpa e o acontecimento não se insere no conceito de força maior ou fortuito externo, mas sim de fortuito interno, uma vez que a sua ocorrência é inerente ao transporte aéreo e tem ligação direta com a atividade desenvolvida.

Neste sentido, leia-se:

“Os modernos civilistas, tendo em vista a presunção de responsabilidade do transportador, dividem o caso fortuito em interno e externo. Entende-se por fortuito interno o fato imprevisível, e, por isso, inevitável, que se liga à organização da empresa, que se relaciona com os riscos da atividade desenvolvida pelo transportador. O estouro de um pneu de ônibus, o incêndio do veículo, o mal súbito do motorista etc. são exemplos de fortuito interno, por isso que, não obstante acontecimentos imprevisíveis, estão ligados à organização do negócio explorado pelo

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transportador. O fortuito externo é também fato imprevisível e inevitável, mas estranho à organização do negócio. É o fato que não guarda nenhuma ligação com a empresa, como fenômenos da natureza, tempestades, enchentes, etc. Pois bem, tão forte é a presunção de responsabilidade do transportador, que nem mesmo o fortuito interno o exonera do dever de indenizar; só o fortuito externo, isto é, fato estranho à empresa, sem ligação alguma com a organização do negócio.”1

A apelada perdeu praticamente um dia de viagem, chegando ao hotel de madrugada, sem bagagem e no dia seguinte pela manhã embarcaria em uma viagem de barco pela costa da Croácia com a roupa do corpo.

Fácil é imaginar, a desagradável situação experimentada pela apelada, a ver seu voo atrasado por motivos alheios à sua vontade, com isso tendo que ficar horas no aeroporto aguardando o embarque, angustiada, aflita, nervosa e ainda, para completar, quando da chegada ao seu destino, a sua bagagem foi extraviada só lhe sendo entregue três dias depois, pois segundo informações prestadas a apelada, sua bagagem ainda encontrava-se em São Paulo.

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O dano moral resta configurado toda vez que uma pessoa sofrer abalo na sua esfera subjetiva, capaz de lhe ocasionar transtornos, dores, dentre outros sentimentos negativos, abaladores da honra objetiva e subjetiva do mesmo.

E o Código de Defesa do Consumidor, buscando dar uma maior efetividade à relação consumerista, afirmou em seu art. 14 a responsabilidade civil objetiva do fornecedor de serviços pela reparação dos danos causados aos consumidores por qualquer defeito relativo aos serviços prestados, independentemente de se perquirir sobre o elemento subjetivo da culpa, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

Inegável que a apelada sofreu, portanto, dano moral.

Também deve ser desde logo rechaçada a tese de que inexiste dano moral nos casos de extravio de bagagem em voo.

A jurisprudência Consolidada do TJERJ, é no sentido de que o dano moral é in re ipsa, tanto que sedimentou o entendimento com o enunciado nº 45, in

verbis:

“É devida indenização por dano moral sofrido pelo

passageiro, em decorrência do extravio de bagagem, nos casos de transporte aéreo.”

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Estabelecida, pois, a responsabilidade da empresa apelante em indenizar a parte autora, o quantum indenizatório relativo aos danos morais fixados na sentença de primeiro grau, se mostrou correto no valor de R$ 10.000,00, em observância aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

“APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZATÓRIA. SERVIÇO DE TRANSPORTE AÉREO INTERNACIONAL. DANOS MORAIS. Relação jurídica regida pelo Código de Defesa do Consumidor, que dispõe que os serviços públicos, inclusive os prestados por concessionários, deve se dar de maneira adequada e eficaz (art. 6º, inciso X, e 22). Realocação em voo para o dia seguinte ao do contratado. Atraso de 24 horas para chegada ao destino final. Problemas mecânicos na aeronave, que se constituem em fortuito interno, que não tem o condão de afastar o dever de indenizar. Dano moral que independe de prova, pois emerge do próprio fato da demora, que excedeu o limite do tolerável, além do constrangimento daí resultante a passageiro, a afrontar a dignidade da pessoa. Assistência prestada aos passageiros, que não ilide o dever de indenizar, nem minimiza o dano moral sofrido. Quantum reparatório fixado que se mostra parcimonioso no caso, não estando em consonância com as peculiaridades fáticas e a lógica do razoável, não sendo hábil a minimizar o abalo emocional sofrido, sem perder o cunho de prevenção à ofensora, que é instituição de elevada

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reconhece, por terem os autores ficado vencidos em um dos dois pedidos, no caso, o de danos materiais. Sentença, quanto ao valor do dano moral e à sucumbência, em confronto com jurisprudência do eg. STJ. Art. 557, §1º-A do CPC. PARCIAL PROVIMENTO AO PRIMEIRO APELO e AO RECURSO ADESIVO.” (Apelação Criminal nº 0417884-23.2010.8.19.0001, Relatora Des. Celia Meliga Pessoa, 21ª Câmara Cível, julgamento 27.08.13)

“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS. COMPANHIA AEREA. ATRASO DE VÔO. O EVENTO NARRADO NOS AUTOS EVIDENCIA A OCORRÊNCIA DE FORTUITO INTERNO E POR ISSO, NÃO EXCLUI A RESPONSABILIDADE DO PRESTADOR DE SERVIÇOS PORQUANTO É SITUAÇÃO QUE FAZ PARTE DA ATIVIDADE DESEMPENHADA, LIGANDO-SE AOS RISCOS DE EMPREENDIMENTO. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO ARBITRADO EM DISSONÂNCIA COM O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. VALOR QUE DEVE SER MAJORADO DE R$ 3.000,00 PARA R$ 10.000,00. PROVIMENTO DO RECURSO, NOS TERMOS DO ARTIGO 557, § 1-A DO CPC.”(Apelação Criminal nº 0393070-10.2011.8.19.0001, Relator Des. Guaraci de Campos Vianna, 19ª Câmara Cível, 08/08/12)

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Quanto a ilegitimidade ativa do segundo apelado, alegada pelo apelante, por ausência de relação contratual com a mesma, entendo que também não lhe assiste razão.

O apelado Ivan Luís, na época do fato, se encontrava em Washington e foi acionado pela sua filha, no momento em que a mesma não conseguiu embarcar para Split (Croácia), no aeroporto em Frankfurt, quando preocupada com seus amigos em que teria que avisá-los de seu atraso, e só tendo o direito de uma ligação, fornecida pela companhia área, encarregou seu pai de avisá-los.

In casu, entendo que o mesmo também restou configurado

existindo o nexo causal a ponto de ensejar o dever de indenizar da empresa apelante. Nas lições do Professor Sérgio Cavalieri Filho, assim preleciona:

“O dano moral apenas se evidencia com a “lesão de bem integrante da personalidade, tal como a honra, a liberdade, a saúde, a integridade psicológica, causando dor, sofrimento, tristeza, vexame ou humilhação a vítima que, fugindo a normalidade tenha interferido intensamente no

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comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angustia e desequilíbrio em seu bem estar”2

O que ocorre, por reflexo, quanto ao apelado Ivan.

Por tais fundamentos, NEGO PROVIMENTO ao recurso, mantendo a sentença de primeiro grau.

Rio de Janeiro, 09 de outubro de 2013.

DES. ANTONIO CARLOS DOS SANTOS BITENCOURT RELATOR

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