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Preservação de documentos audiovisuais na era digital: o acervo do Circo Voador

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF

INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL - IACS DEPARTAMENTO DE CIENCIA DA INFORMAÇÃO – GCI CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUIVOLOGIA

BRENA FERREIRA DE ANDRADE

Preservação de documentos audiovisuais na era digital: o acervo do Circo Voador

NITERÓI 2017

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BRENA FERREIRA DE ANDRADE

Preservação de documentos audiovisuais na era digital: o acervo do Circo Voador

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense, como requisito para obtenção do Grau de Bacharel. Área de Concentração: Arquivologia.

ORIENTADOR:RENATO DE MATTOS

Niterói 2017

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A553 Andrade, Brena Ferreira de

Preservação de documentos audiovisuais na era digital: o acervo do Circo Voador / Brena Ferreira de Andrade. – 2017.

61 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Renato de Mattos.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquivologia) – Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ, 2017.

Referências bibliográficas: f. 59-61.

1. Circo Voador. 2. Documento Audiovisual. 3. Documento Digital. 4. Preservação Digital. I. Mattos, Renato de. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Artes e Comunicação Social. III. Título.

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BRENA FERREIRA DE ANDRADE

Preservação de documentos audiovisuais na era digital: o acervo do Circo Voador.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense, como requisito para obtenção do Grau de Bacharel. Área de Concentração: Arquivologia.

APROVADO EM: / / BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Prof. Dr. Renato de Mattos - Orientador

Universidade Federal Fluminense

______________________________________________ Profª. Drª. Margareth da Silva

Universidade Federal Fluminense

______________________________________________ Profª. Drª. Fátima Justiniano

Universidade Federal Fluminense

Niterói 2017

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Dedico esta conquista aos meus amados pais Francisca e Antônio, e irmãs Ana Paula e Bárbara.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor orientador Dr. Renato de Mattos, pelo apoio e dedicação em me ajudar a concluir este trabalho.

À equipe do Circo Voador, em especial à responsável pelo acervo, Nauara Morales, que sempre esteve disposta a me receber e tirar minhas dúvidas.

Às professoras Fátima Justiniano e Margareth da Silva, por aceitarem fazer parte da minha banca.

A todos os meus amigos que compartilharam comigo momentos bons e ruins ao longo desta jornada. Agradeço também aos amigos que fiz durante a graduação e levarei para a vida.

A minha família, que sempre apoiou todas as minhas decisões.

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RESUMO

A presença das ferramentas digitais na preservação de documentos é um fato que vem se tornando cada vez mais comum ao longo dos anos. Os documentos audiovisuais estão inseridos neste contexto de maneira quase inevitável, fazendo dessas ferramentas um instrumento indispensável para manter seu acesso ao longo dos anos. Entretanto, o material digital não é totalmente seguro e necessita de técnicas e políticas para garantir a autenticidade, acessibilidade e longevidade dos documentos. O presente trabalho tem por objetivo discutir a importância e a preservação de documentos audiovisuais inseridos no ambiente digital, abordando toda a problemática referente a obsolescência tecnológica que os documentos digitais estão sujeitos. Apresenta ainda uma revisão bibliográfica em torno dos documentos digitais e audiovisuais, além de um estudo de caso do acervo audiovisual do Circo Voador, reforçando a importância de se preservar o audiovisual, sobretudo seu acervo.

Palavras Chave: Circo Voador. Documento audiovisual. Documento digital. Preservação digital.

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ABSTRACT

The presence of digital tools in the preservation of documents is a fact that has become increasingly common over the years. Audiovisual documents are almost inevitably inserted in this context, making these tools an indispensable tool to maintain their access over the years. However, digital material is not completely secure and requires techniques and policies to ensure the authenticity, accessibility, and longevity of documents. This paper aims to discuss the importance and preservation of audiovisual documents inserted in the digital environment, addressing all the problems related to the technological obsolescence that digital documents are subject to. It also presents a bibliographical review on digital and audiovisual documents, as well as a case study of the audiovisual collection of Circo Voador, reinforcing the importance of preserving the audiovisual, especially its collection.

Keywords: Circo Voador. Audiovisual Document. Digital document. Digital Preservation.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Entrada principal Circo Voador...18

Figura 2: Arquivo Subterrâneo...45

Figura 3: Máquina de higienização das fitas...47

Figura 4: Fitas alocadas por ordem numérica nos armários...48

Figura 5: Deck responsável pela captura das Mini DVs...49

Figura 6: Mini DVs alocadas nas gavetas... 50

Figura 7: CD's e DVD'S alocados no armários... 51

Figura 8 Armário com materiais impressos...52

Figura 9: Cartazes do projeto “Queremos!”... 53

Figura 10: Catálogo Acervo... 54

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...10 1.1 JUSTIFICATIVA...13 1.2 OBJETIVOS...14 1.2.1 OBJETIVOS GERAIS...14 1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...14 1.3 METODOLOGIA...15

2 A HISTÓRIA DO CIRCO VOADOR...16

2.1 ONDE TUDO COMEÇOU...16

2.1 A MUDANÇA PARA A LAPA...17

3 DOCUMENTOS DIGITAIS: UMA REVISÃO DE CONCEITOS E MEDIDAS DE PRESERVAÇÃO...21

3.1 ESTRATÉGIAS DE PRESERVAÇÃO DIGITAL...27

4 OS DOCUMENTOS AUDIOVISUAIS DIANTE DA REALIDADE DIGITAL...33

4.1 PRESERVAÇÃO DE DOCUMENTOS AUDIOVISUAIS...37

5 UMA ANÁLISE AO ACERVO DO CIRCO VOADOR... 44

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...57

7 REFERÊNCIAS...59

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1 INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos, as ferramentas de tecnologia da informação se tornaram muito presentes e até mesmo essenciais na preservação de documentos, sobretudo os audiovisuais. Seu uso é recorrente no dia-a-dia das instituições, seja em projetos de automação de um acervo, na preservação dos documentos nato-digitais ou até mesmo em atividades corriqueiras de um arquivo, antes feitos de forma manual.

As tecnologias de informação permitem uma maior abrangência na disseminação de informações e, no caso do audiovisual, essa abrangência é global, uma vez que a linguagem de sons e imagens, ainda mais quando interativos, chamam muita atenção do usuário. Desde a invenção do cinema a se produz material audiovisual, a fácil multiplicação dos meios de criação fez e ainda faz com que a produção midiática aconteça de forma massiva. O grande desafio das instituições, sejam elas públicas ou privadas, é preservar seus documentos para que seu acesso seja possível através dos anos, apesar de toda a obsolescência tecnológica que os envolve. O patrimônio audiovisual deve ser salvaguardado para que seu acesso seja garantido no presente e no futuro.

O presente trabalho traz definições, problemáticas e técnicas de preservação de documentos digitais, sobretudo audiovisuais. Objetiva analisar a inserção de documentos audiovisuais no meio digital e as novas estratégias de preservação utilizadas para acompanhar as tecnologias atuais. Abrange os documentos audiovisuais em geral no que diz respeito ao seu formato, preservação e importância como um registro em tempo real do passado, sendo instrumento de pesquisa, entretenimento ou de valor cultural e histórico. Além de uma reflexão sobre formatos e suportes, considerando a constante substituição destes elementos.

O primeiro capítulo apresenta um breve histórico do Circo Voador, a instituição que servirá de modelo para o estudo deste trabalho. Será discutida toda a trajetória dos envolvidos no processo de criação do Circo Voador até a atualidade. Aborda a importância social e cultural que a instituição teve no período de redemocratização do país e sua atuação na comunidade oferecendo projetos sociais.

O segundo capítulo trata dos documentos digitais, com uma revisão da literatura em torno do assunto, onde seu conceito, sua criação e suas técnicas de

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preservação são discutidos. São apresentados os prós e contras em relação à longevidade dos documentos e os riscos que podem trazer.

O terceiro capítulo conceitua os documentos audiovisuais, fazendo um comparativo entre os documentos digitais e audiovisuais e sua inserção no meio digital, além de apresentar sua importância como registro de memória e o descaso com que estes documentos são tratados. A literatura no assunto, ainda que crescente nas últimas décadas, não é numerosa, tornando ainda mais difícil sua compreensão e reflexão. Estratégias de preservação através de ferramentas digitais também são apresentadas.

No quarto capítulo será realizado um estudo de caso do acervo audiovisual do Circo Voador, no qual dados relativos à sua organização, condições de conservação e acesso são analisados. Trata-se de uma instituição não governamental, de grande influência musical e cultural, não só no estado do Rio de Janeiro, mas de todo o país que inseriu diversos artistas no mundo musical, abrindo oportunidades para novos estilos musicais, além dos projetos sociais que já foram realizados ao longo de seu funcionamento. Os dados da pesquisa são baseados nas visitas técnicas realizadas ao local, no catálogo disponível no website da instituição, matérias publicadas online e por entrevistas e questionários com a responsável pelo acervo, Nauara Morales.

O Circo Voador é um espaço cultural localizado no bairro da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro. Apesar de existir há poucos anos, sua história é muito rica e hoje ainda é uma das casas de show mais visitadas no município. Sua inauguração ocorreu no verão de 1982, na praia do Arpoador, em Ipanema. Um grupo de teatro chamado Asdrúbal Trouxe o Trombone foi responsável por sua criação e contava com atores como Regina Casé, Evandro Mesquita, Luiz Fernando Guimarães e Perfeito Fortuna, que ainda em plena época do Regime Militar no Brasil, buscavam um espaço para que jovens artistas pudessem expressar sua arte. (VIDAL, 2006)

Dentre as atividades realizadas, eram oferecidas oficinas de teatro, artes, plásticas, dança e música. O projeto teria duração de um mês, mas devido a seu sucesso, se estendeu por mais dois meses e a lona só foi desmontada por conta da fiscalização. Apesar disso, o Circo não parou e o grupo liderado por Perfeito Fortuna seguiu atuando em creches e comunidades carentes do Rio de Janeiro, principalmente no Complexo do Alemão. Após muitas manifestações, a prefeitura

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cedeu um de seus terrenos para que o Circo fosse inaugurado e pudesse ficar de vez tendo o bairro da Lapa como escolhido para ser sua sede.

Após sua mudança para a Rua dos Arcos, a casa foi palco de diversas apresentações e festas, alavancando a carreira de muitos artistas consagrados até hoje como Blitz, Barão Vermelho, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii e muito mais, promovendo também diversos projetos sociais voltados à cultura e à educação. Tudo ocorria bem, até que no ano de 1996 a casa foi interditada e demolida pelo o então prefeito Cesar Maia, alegando haver irregularidades após ser vaiado ao celebrar a candidatura de seu sucessor, Luiz Conde em um evento do Circo. Em 2002, devido a uma ação popular movida pela produtora de diretora da casa, Maria Juçá, o Circo Voador foi reconstruído pela prefeitura do Rio de Janeiro e reinaugurado em 2004. Desde sua reabertura, o Circo vem realizando projetos sociais como cursos, creche gratuita, além de apresentações de artistas nacionais e internacionais.

A existência de seu acervo, mesmo que pouco conhecida, é de extrema importância para a memória musical e artística do Rio de Janeiro, marcando toda uma época de cultura alternativa nos anos 80, revelando vários artistas consagrados no meio musical e teatral, além de atuar enquanto instituição social, ajudando comunidades carentes, ministrando cursos para crianças e adultos e possuindo uma creche em seu próprio espaço. Considerando sua importância cultural que ultrapassa as barreiras da expressão artística e ainda, por seu acervo ser composto por documentos audiovisuais, aspecto pouco discutido no Brasil se comparado aos “documentos de arquivo tradicionais”, se dá a justificativa deste estudo de caso. Convida também novas pesquisas em torno do histórico da instituição e de seu acervo.

A metodologia adotada é a revisão da literatura, apresentando os conceitos de documento de arquivo, documento digital e audiovisual além das diferentes técnicas de preservação utilizadas por diversos autores da área. A análise qualitativa de dados, delimitando as informações relevantes e o contexto em que o tema e, sobretudo a instituição estão inseridos, fazendo possível a compreensão não só do funcionamento do acervo, como também as dificuldades de gestão e políticas que um acervo audiovisual sofre se comparado aos acervos tradicionais.

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A justificativa deste trabalho se dá pela importância do Circo Voador e sua atuação como instrumento de cultura e movimento social no período de redemocratização do Brasil, ainda pela carência de estudos direcionados aos arquivos audiovisuais e sua preservação.

É válido dizer que os meios digitais vêm mudando a história dos documentos audiovisuais no que diz respeito a sua preservação. O fluxo de produção audiovisual cresce cada vez mais e a tecnologia é uma grande aliada para garantir a longevidade destes documentos. Entretanto, é importante discutir técnicas e políticas que cheguem mais perto de uma padronização para que a preservação e acesso sejam garantidas ao longo dos anos. Deve-se analisar o contexto tecnológico de criação dos documentos para se pensar junto às ferramentas tecnológicas, aquela que melhor se encaixa as condições do arquivo.

Os estudos de Arquivologia voltados para o audiovisual são recentes, foram por muitos anos ignorados pela dificuldade de tratar suas particularidades e características, sobretudo de reconhecer seu valor como patrimônio cultural. Essa carência de literatura e práticas de políticas de preservação traz um grande risco de perda. O acervo do Circo Voador é um exemplo de instituição que sofre com a carência de recursos e políticas que preservem seu material acumulado ao longo de seus 35 anos de existência.

1.2 Objetivos.

1.2.1 Objetivos Gerais

Discutir os métodos de preservação de documentos audiovisuais através de estratégias digitais, abordando a problemática em que estão inseridos, além de apresentar o acervo do Circo Voador e os métodos utilizados para o tratamento de seu acervo audiovisual.

1.2.2 Objetivos Específicos

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problemas que colocam seu acesso e longevidade em risco;

● Analisar a inserção de documentos audiovisuais no meio digital e suas formas de produção com o advento tecnológico;

● Apresentar técnicas de preservação utilizadas para preservação digital; ● Analisar o acervo do Circo Voador, apresentando a metodologia de sua

gestão e as atividades realizadas.

1.3 Metodologia

O referencial teórico deste trabalho baseia-se em uma revisão de literatura, buscando trazer discussões gerais sobre o documento digital e audiovisual, além de um histórico do Circo Voador. Foi considerado todo o material relevante para coletar dados e conceituar elementos da pesquisa.

Conta também com a análise qualitativa de dados, delimitando as informações relevantes e o contexto em que o tema e, sobretudo a instituição estão inseridos, fazendo possível a compreensão não só do funcionamento do acervo, mas também das dificuldades de gestão e políticas que um acervo audiovisual sofre se comparado aos acervos tradicionais.

Nas ciências sociais, os pesquisadores, ao empregarem métodos qualitativos estão mais preocupados com o processo social do que com a estrutura social; buscam visualizar o contexto e, se possível, ter uma integração empática com o processo objeto de estudo que implique melhor compreensão do fenômeno. (NEVES, 1996 p.2)

Caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, pois aponta características de um ambiente específico, tendo caráter de estudo de caso, segundo Gil (2010). A coleta de dados se deu através de questionários dirigidos e entrevistas com a museóloga responsável pelo acervo do Circo Voador, Nauara Morales.

Tem como propósito proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. [...] A coleta de dados pode ocorrer de diversas maneiras, mas geralmente envolve: 1. Levantamento bibliográfico; 2. Entrevistas com pessoas que tiveram experiência prática com o assunto; e 3. Análise de exemplos que estimulem a compreensão. Gil (2010, p. 27)

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2 A história do Circo Voador

2.1 Onde tudo começou

Adam Tommy Vasques Vidal (2006, p. 65) afirma que é até uma injustiça dizer que o Circo Voador teve um fundador, quando na verdade foi o resultado de todo um movimento cultural e artístico vivenciado nos anos 1980 na cidade do Rio de Janeiro. O grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone, liderado por Perfeito Fortuna e outros grandes nomes foi na verdade o grande motivo de sua criação.

Em uma entrevista ao site Agenda Bafafá, publicada em 22 de maio de 2016, Perfeito Fortuna afirma que o grupo de teatro Asdrúbal trouxe o trombone, nasceu em época de Regime Militar quando a cena teatral no país era muito séria e abordava temas como drogas, sexo e política. “O grupo veio de maneira revolucionária, diferente, e, sobretudo irresponsável” (FORTUNA, 2016). Não imitava estilos ou atores de grande referência, era um grupo totalmente alternativo que pregava a liberdade acima de tudo. Não se prendiam apenas ao teatro, disseminavam também a dança, música, poesia e todas as possíveis formas de arte. Entretanto não tinham espaço para apresentar seus espetáculos, já que na época, os teatros apenas tinham espaço para as peças tradicionais. Foi quando o grupo montou um curso de teatro no Parque Lage, um parque público da cidade do Rio de Janeiro, localizado na Rua Jardim Botânico.

Na turma de Fortuna, havia artistas como Cazuza, Bebel Gilberto e outros nomes importantes da música brasileira, logo o grupo foi incorporando instrumentos musicais. Apesar do grande crescimento do grupo, Fortuna acreditava que o espaço ainda era algo necessário para manter os ensaios e sua identidade artística, quando então teve a ideia de criar um Circo temporário com uma estrutura e lona, junto a seus amigos Maurício Sette e Márcio Galvão, que logo concordaram. A ideia era conseguir um local emprestado para que a montagem pudesse ser feita e para isso Fortuna foi atrás de órgãos públicos.

Fortuna conseguiu um espaço na praia do arpoador por Dona Zoé Chagas Freitas, a mulher do então governador da época. No dia 15 de janeiro de 1982, o Circo foi inaugurado. Fortuna (2016) diz que as despesas iniciais foram pagas vendendo

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seis mil camisas nas três primeiras noites de estreia, mas o então sonhado Circo só durou 2 meses e meio, quando a fiscalização os fez desocuparem o espaço.

O Circo Voador, desde sua inauguração, era um espaço não só de diversão e entretenimento, mas também manifestava um interesse com por questões sociais, oferecendo diversos cursos. Vidal (2006) afirma que a organização da lona no Arpoador se deu também por artistas como Luiz Fernando Guimarães, Regina Casé, Otávio Mesquita, que integravam o Asdrúbal Trouxe o Trombone, bem como pela atuação de Alice Andrade enquanto mediadora entre o Circo Voador e a mídia.

Devemos sublinhar, por outro lado, o papel de Alice de Andrade, que atuou como o grande canal entre o Circo Voador e a mídia, conseguindo que o Jornal do Brasil e a Rádio Cidade promovessem oficialmente o Circo, esse novo espaço que se criava e estava sendo aceito com alegria e presença numerosa da população. (VIDAL, 2006 p.70)

Eram diversas as atividades oferecidas pelo Circo, e seus integrantes ministravam os diferentes cursos, como de teatro, acrobacia, saltos ornamentais, contorcionismo, poesia, música e dança. Além dessas atividades, muitos shows eram realizados trazendo artistas já renomados como Caetano Veloso e Chico Buarque, e apresentando novos grupos que construíram a cena do rock nacional, como Blitz e Barão Vermelho. Apesar do clima alternativo e revolucionário que levantou a cena musical carioca, sua estrutura não era definitiva e, além disso, o Circo não tinha verba necessária para manter suas atividades, já que não recebia nenhum patrocínio. Sua única fonte de renda era a bilheteria e as camisetas que foram vendidas em sua estreia. Após dois meses e meio da sua inauguração, sua lona foi retirada pela fiscalização. (VIDAL, 2006)

2.2 A mudança para a Lapa

Perfeito Fortuna ainda em entrevista ao site Agenda Bafafá relata que conseguiu a doação de um espaço para que o Circo Voador pudesse se instalar de vez, quando o então prefeito Júlio Coutinho, o mesmo que havia retirado a lona do

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arpoador, ofereceu um terreno no Centro da cidade ou na Barra da Tijuca. Fortuna escolheu então o terreno na região central da cidade, por ser mais acessível aos moradores das diferentes regiões do Rio de Janeiro. O terreno escolhido era localizado na Lapa junto aos Arcos e, em outubro de 1982, ocorreu sua estreia no novo local. A mudança foi fundamental para a revitalização do bairro, que se encontrava abandonado.

Figura 1: Entrada principal Circo Voador

Fonte: http://wwwo.metalica.com.br/projeto-Circo-voador-fotos-e-imagens-do-projeto

Em função da relevância adquirida junto ao cenário cultural carioca do período, no momento em que foi transferido para a Lapa, o Circo já contava com o apoio de patrocinadores. Vidal (2006) afirma que essa mudança de localização trouxe muitos benefícios para a comunidade do Rio de Janeiro, uma vez que, no período matutino, o Circo abrigava uma creche para crianças carentes, oferecendo atividades e merenda, enquanto que no período noturno eram promovidas apresentações de teatro, dança e artes cênicas, além de diversos shows e grupos de gafieira aos fins de semana. Na mesma época, a Fundição Progresso, outro centro cultural localizado no

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mesmo bairro, estava sendo demolida, e os organizadores do Circo Voador junto às autoridades interviram para que isso não ocorresse. Anos depois, a Fundição também foi cedida e Perfeito Fortuna assumiu a sua direção. O Circo Voador passou a ser dirigido por Maria Juçá, que realizou o projeto Rock Voador, alavancando a cena do rock nacional, fazendo com que o Circo se tornasse um lugar de referência musical ao longo dos anos.

Em novembro de 1996, a casa teve suas atividades encerradas pelo então prefeito César Maia. Segundo Vidal (2006), o ocorrido se deu por um evento da casa, em que César Maia e seu sucessor eleito, o prefeito Luiz Paulo Conde, foram comemorar sua vitória nas eleições. Ao chegarem no local, os políticos foram recebidos a vaias e dois dias depois o Circo teve seu alvará cassado. A sua estrutura foi então demolida pela prefeitura indignando grande parte dos moradores da cidade. Muitas foram as manifestações e eventos em prol da reconstrução e reabertura da casa. Na ocasião, a diretora Maria Juçá organizou diversos eventos pelos estados do Brasil, fazendo com que mesmo de portas fechadas, o Circo continuasse seu legado.

Perfeito Fortuna que já havia se afastado da administração do Circo, queria que a casa continuasse funcionando na Fundição Progresso, entretanto, Maria Juçá moveu uma ação para reerguer a estrutura antiga e retomar as atividades da casa.

Foi então no ano de 1999 que a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou projeto de lei que instituía o Circo Voador como Área de Proteção do Ambiente Cultural dos Arcos da Lapa. A decretação do projeto foi o passo decisivo para a iniciação do plano de revitalização do Circo que contou, também, com a ajuda de movimentos sociais e estudantis, artistas e associação de moradores da localidade da Lapa. (VELOSO, 2007)

Em 2002 a nova estrutura foi construída pela prefeitura e sua reinauguração foi em 2004. Segundo Mariana Veloso (2007), em sua reabertura foi realizado um grande evento que contou com grandes artistas que fizeram parte da história do local, além de novos nomes da música brasileira. Desde então casa se mantém como referência cultural no Rio de Janeiro. Entre as décadas de 1980 e 1990, o Circo Voador foi um grande influente na cultura e arte não só do Rio de Janeiro, mas de todo o país. Foi um local de grande expressão artística e não se resumiu apenas em atividades

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relacionadas ao meio seu meio, expandiu-se em prol da comunidade. Promoveu a arte em suas mais diversas formas, misturando diversos grupos e revolucionando toda uma sociedade. Hoje, apesar de não fornecer as antigas atividades, ainda abriga diversos concertos musicais até mesmo internacionais fazendo parte do cenário artístico do Rio de Janeiro.

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3 Os documentos digitais: uma revisão de conceitos e medidas de preservação

A revolução sociocultural se dá a partir da transmissão do conhecimento, da informação registrada, e esses registros são reproduzidos em suportes que evoluem de acordo com as tecnologias existentes no contexto em que foram produzidas. Rondinelli (2011) afirma que o pensamento e as atividades humanas vêm sendo registradas desde a Antiguidade por meios de sinais gráficos de diferentes formas e tipos de suportes. Esse registro gráfico pode ser entendido como documento e, recentemente, como informação. Sua maneira de representação e o suporte em que essas informações foram registradas muda em um ritmo acelerado, num processo de substituição constante. Considerando a finalidade inicial do documento, pode-se dizer que é um registro da atividade humana, a fim de disseminar uma informação onde a memória é materializada em qualquer suporte, a fim de provar, testemunhar uma ação realizada. Ferreira (2006) afirma que desde a invenção da escrita, o ser humano tem a necessidade de preservar o material intelectual produzido. E esse material assume vários suportes ao longo de sua existência, a partir da informação registrada, o conhecimento é passado adiante, construindo a memória cultural de uma sociedade, uma instituição ou um indivíduo. Esses registros de informação são a matéria-prima para que o desenvolvimento cultural aconteça.

Nossa sociedade preserva sua cultura através da transmissão do conhecimento e de sua consequente apropriação, sendo que essa apropriação, quando registrada e transmitida, gera um novo estado de conhecimento, ciclo que garante nossa evolução sociocultural. (INARELLI, 2011, p. 73)

É inevitável dizer o quanto os meios digitais vêm se fazendo presentes na sociedade contemporânea, onde as informações são disseminadas de forma precisa, eficaz e com uma redução de custos relevante. O papel deixa de ser o suporte principal da informação e passa a dar lugar para suportes digitais, que têm natureza dinâmica, uma vez que sua criação e disseminação são rápidas, eficientes e de baixo custo. Nesse universo tecnológico, a internet é uma grande ferramenta de disseminação da informação, em que o usuário pode buscar conteúdo de forma

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remota e sem fronteiras. Os documentos podem ser criados digitalmente, os chamados documentos nato-digitais, ou transcritos do analógico para o digital, agilizando o acesso ao documento, expandindo a possibilidade de replicação, desprendendo a informação do suporte que pode se deteriorar e podendo também ajudar na otimização de espaço físico.

Atualmente, grande parte dos registros criados são feitos digitalmente, podendo ser acessados, editados, disponibilizados e até excluídos de forma rápida, tornando as instituições cada vez mais dependentes das informações digitais que produzem. A digitalização dos documentos analógicos pode servir ainda como uma técnica de preservação para um documento analógico que venha a se deteriorar com o tempo. Esse upgrade tecnológico pode ser muitas vezes uma ameaça à longevidade da informação, quando as técnicas e a importância da preservação não são consideradas.

Mas afinal, o que é um documento digital? A Arquivologia e a noção de documento em geral são frequentemente associados por leigos a materiais antigos e empoeirados, quando na realidade a área passa por uma revolução tecnológica e se empenha para dar conta da demanda digital, sem perder informações e memórias importantes, num meio totalmente novo para a realidade arquivística. Muitas são as definições de documento digital apresentadas por pesquisadores da área, mas de uma forma geral, podem ser definidos como documentos virtuais codificados por uma sequência de bits, necessitando de um dispositivo tecnológico para a representar a informação registrada. E estes podem sim ser arquivísticos, se criados no curso de suas atividades, independente do suporte apresentado. Em uma linguagem técnica, Ferreira define da seguinte forma:

Um o b j e c t o d i g i t a l pode ser definido como todo e qualquer objecto de informação que possa ser representado através de uma sequência de dígitos binários [7]. Esta definição é suficientemente lata para acomodar tanto, informação nascida num contexto tecnológico digital (objectos nado-digitais), como informação digital obtida a partir de suportes analógicos (objectos digitalizados). (FERREIRA, 2006, p.21)

Ferreira (2006) afirma que a memória cultural e documental está direcionada cada vez mais para a era digital, que vem chamando atenção dos profissionais da

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informação, já que aparentemente representam o futuro. Esses objetos digitais podem ter vários formatos e suportes, denominando especificidades para as políticas e técnicas de preservação.

Documentos de texto, fotografias digitais, diagramas vectoriais, bases de dados, sequências de vídeo e áudio, modelos de realidade virtual, páginas Web e aplicações de software são apenas alguns exemplos do que podemos considerar um objecto digital. (FERREIRA, 2006, p.21)

A peculiaridade destes documentos ultrapassa os padrões já conhecidos no documento tradicional registrado em papel, em que o suporte tem uma relação indissociável com o mesmo. Já nos documentos arquivísticos digitais, Rondinelli (2011, p.233) afirma que “o suporte deixa de ser um dos elementos extrínsecos do documento arquivístico digital e passa a integrar seu contexto tecnológico”, no caso o contexto tecnológico é o dispositivo utilizado para reproduzir o documento desejado. Outra característica que os difere, é a intangibilidade do documento digital, que apesar de ocupar um espaço físico em seu suporte, é apenas virtual, ou seja, está imerso em um universo irreal dos bits, onde a informação se torna incompreensível aos olhos humanos sem a intervenção de um dispositivo computacional para descodificar a informação.

Essa pluralidade de suportes pode causar uma confusão no que chamamos de documento digital e documento eletrônico, onde mesmo que exista uma singularidade nas palavras, os dois são devem ser confundidos. Segundo Rondinelli (2011, p.226), apesar da literatura arquivística fazer uso da palavra documento eletrônico, "pode-se dizer que todo documento digital é eletrônico, mas nem todo documento eletrônico é digital". A autora ainda exemplifica, dizendo que uma fita cassete apesar de necessitar de um equipamento eletrônico para ser reproduzido e cumprir sua função, não se apresenta de forma virtual, codificado por uma sequência de bits.

Apesar da praticidade que o documento digital proporciona, o mesmo traz consigo grandes problemas que vão desde suas complexidades como a obsolescência tecnológica e o uso inadequado dos computadores, até a ausência de procedimentos de segurança e preservação. Esta problemática resulta uma crescente massa de documentos digitais, em uma realidade onde os métodos de preservação

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ainda não acompanham essa revolução, causando um cenário de risco onde a vulnerabilidade desses documentos é altíssima. A obsolescência dos suportes e a dependência de um contexto tecnológico (em que hardware e software devem se manter “atualizados”) são problemas que colocam em risco a longevidade destes documentos, e sua especificidade de tratamento torna ainda mais complexa e necessária a preservação digital.

É importante destacar que a obsolescência tecnológica vai além do suporte físico. Não se reduz apenas à substituição de suportes, como de disquete para CD ou VHS para DVD, mas também dos formatos que os softwares codificam os dados. Além de se pensar na preservação do suporte original da informação e no conteúdo a ser preservado, deve se pensar nas medidas de preservação dos formatos que o documento ganhará. Quando um software é desenvolvido, ganhando novas versões, seu formato também é alterado e pode interferir na produção, reprodução ou busca do objeto digital. Além disto, um mesmo documento pode ter diversos formatos e ser codificado em diversos suportes, e ainda assim ter a mesma representação, essas características são os componentes digitais do documento, são as partes do documento digital, como forma, conteúdo e composição.

Segundo Inarelli (2011), a preservação é uma política que objetiva conservar a informação em longo prazo, onde a mesma pode ser acessada ao longo dos anos. A preservação do patrimônio cultural é faz com que a memória de instituições, unidade de informação ou de uma sociedade não desapareça, garantindo que essas informações possam ser disseminadas para futuras gerações. A má gestão desses documentos pode causar uma lacuna não só na memória individual, mas na cultura de uma sociedade.

Nossa sociedade preserva sua cultura através da transmissão do conhecimento e de sua consequente apropriação, sendo que essa apropriação, quando registrada e transmitida, gera um novo estado de conhecimento, ciclo que garante nossa evolução sociocultural. (INARELLI, 2011, p.73)

Hazen separa as atividades de preservação da seguinte forma:

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principais de atividade. O primeiro tipo concentra-se nos ambientes de biblioteca e nas maneiras de torná-los mais apropriados a seus conteúdos. O segundo incorpora esforços para estender a vida física de documentos através de métodos como desacidificação, restauração e encadernação. O terceiro tipo envolve a transferência e de conteúdo intelectual ou informativo de um formato ou matriz para outro. (HAZEN, 2001, p. 7)

Para que a memória construída socialmente e disseminada por gerações seja conservada, a preservação é fundamental e deve ser aplicada em instituições públicas e privadas, principalmente as gestoras de documentos permanentes. É dever das instituições adotar medidas preventivas, contribuindo para a evolução das técnicas e a longevidade destes documentos, para que seu acesso seja possível independente do seu suporte e tempo.

Com toda esta substituição tecnológica por vezes apresentado anteriormente, o profissional da informação tem um novo desafio: a preservação digital, que ainda não é algo simples de se pensar e implemetar. No cenário onde a velocidade de consumo e tecnologia de informação é constante, percebe-se a revolução dos meios de informação e comunicação, acompanhando às necessidades da época desde a memória oral e escrita, até a analógica e digital. A mudança dessas tecnologias atinge diversos setores da sociedade, e suas ferramentas são indispensáveis nos ambientes em que atuam. Esse aumento de produção documental somado a grande obsolescência de tecnologia, causam um risco no que diz respeito a longevidade e preservação dos documentos. Arellano (2004) afirma que é cada vez mais imperiosa a necessidade de contar com mecanismos que garantam a preservação de seus documentos em formato digital. Ferreira define a preservação digital da seguinte forma:

Designa-se, assim, por Preservação Digital o conjunto de actividades ou processos responsáveis por garantir o acesso continuado a longo-prazo à informação e restante patrimônio cultural existente em formatos digitais.A preservação digital consiste na capacidade de garantir que a informação digital permanece acessível e com qualidades de autenticidade suficientes para que possa ser interpretada no futuro recorrendo a uma plataforma tecnológica diferente da utilizada no momento da sua criação. (FERREIRA et al, 2006, p. 20)

Um documento digital é criado facilmente com o acesso a computadores e os dispositivos digitais manuseados por qualquer usuário, muitas vezes até

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involuntariamente. Os dispositivos tecnológicos são hoje em dia multimídia, em que um mesmo aparelho, como o smartphone, por exemplo, pode dar origem a diversos tipos de documentos iconográficos. Entretanto, os mesmos dispositivos não garantem o acesso em longo prazo dos materiais produzidos, e mesmo que disponibilize ferramentas de guarda, deve-se ter em mente que nunca serão permanentes e definitivas e que nem todos estão cientes da importância de se preservar. Segundo Inarelli (2011) Os documentos gerados em meio digital, podem ser perdidos com a mesma facilidade que são criados, considerando toda a problemática em que se encontra. Além dos suportes e formatos digitais se tornarem ultrapassados ao longo dos anos, há uma carência de políticas de preservação que imponham uma padronização do documento digital, o deixando vulnerável para diferentes maneiras de gestão, que podem não ser suficientes para manter o acesso ou até mesmo que façam possível a sua busca. Porém, as reflexões em torno da informação em formato digital nem sempre foram consideradas, o documento digital era visto como a solução para os problemas do documento arquivístico tradicional, onde a tecnologia resolveria os problemas já existentes, segundo Inarelli:

Durante algum tempo acreditava-se (por ignorância, interesses ou negligência) que a documentação digital estaria livre de problemas tradicionais relacionados ao acondicionamento, degradação do suporte, obsolescência, falta de confiabilidade e espaço de armazenamento, porém o tempo nos ensinou que a tecnologia por si só não soluciona todos esses problemas, pelo contrário, inclui novos problemas, os quais dependem diretamente da interferência humana e de políticas de preservação digital para serem solucionados (INARELLI 2011, p.75).

Essa interferência humana citada pela autor, muitas vezes não é realizada da maneira correta por um profissional da área, não reconhecendo que o documento digital também pode ser arquivístico. Em diversas instituições o documento digital não é tratado como um documento arquivístico, sem práticas institucionais que conservam e preservam o patrimônio cultural daquela instituição. Os documentos que deveriam ter a gestão de uma equipe de profissionais da ciência da informação acabam sendo manuseados pelo próprio profissional da tecnologia da informação ou da área administrativa, acarretando danos irreversíveis para a memória digital, visto que este profissional não é preparado para pensar no acesso à longo prazo. Esta facilidade que a tecnologia traz para as instituições acaba induzindo muitos profissionais se

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considerarem aptos a lidar com ferramentas tão dinâmicas e práticas. Neste caso, dificilmente é realizado um plano de preservação, no qual o profissional deve selecionar o que e por quanto tempo deve ser preservado um documento, além de não fazer o uso de todas as técnicas necessárias para tornar aquela informação perene.

A seleção dos documentos a serem preservados é uma operação criteriosa e necessária, em que se deve observar o valor que o documento possui, seja ele cultural ou científico. Com a criação, duplicação e difusão em massa de documentos digitais, não há uma preocupação na avaliação e seleção dos documentos que realmente precisam ser preservados. Devido aos custos da automação de arquivos, não é vantajoso preservar digitalmente informações sem importância institucional. Uma atividade onde a seleção dos documentos deve ser realizada de forma racional e baseada nas necessidades da instituição é na digitalização dos acervos analógicos, onde o gestor deve fazer uma análise entre o acervo e o usuário, para que disponibilize as informações necessárias na base de dados da instituição. Arellano (2004, p. 15) afirma que “a aplicação de estratégias de preservação para documentos digitais é uma prioridade, pois sem elas não existiriam nenhuma garantia do acesso, confiabilidade e integridade dos documentos a longo prazo”.

3.1 Estratégias de preservação digital

Os desafios impostos pela preservação dos documentos digitais deu ensejo a diversos projetos dedicados à formulação de estratégias capazes de equacionar tais problemas. Pensando no contexto tecnológico em que os documentos se encontram,. Luciana Duranti, liderou o projeto INTERpares - International Research on Permanent Authentic Records in Electronic Systems (Pesquisa Internacional sobre Documentos Arquivísticos Autênticos Permanentes em Sistemas Eletrônicos), criado pela Universidade de British Columbia, no Canadá. Este projeto tem desenvolvido conhecimento teórico-metodológico essencial para a preservação de longo prazo de documentos arquivísticos digitais autênticos. (ARQUIVO NACIONAL, 2016).

No Brasil, o Arquivo Nacional criou o programa AN Digital, em que são adotadas definições e abordagens a fim de padronizar procedimentos de gestão desses

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documentos, fazendo da instituição um local apto a receber, descrever, armazenar, preservar e dar acesso aos documentos digitais sob sua custódia. “O repositório do AN Digital tem como principal objetivo a preservação dos documentos digitais nele inseridos, bem como dos metadados a eles relacionados”. (ARQUIVO NACIONAL, 2016 p. 2).

A preocupação com a preservação dos documentos digitais é o estopim para a elaboração de uma política institucional em que uma fonte de recursos é necessária para que o projeto não seja interrompido, visto que cada procedimento depende de um custo diferente. Estabelecer parcerias com o governo ou empresas é uma solução viável para investir na preservação com objetivo de preservação da memória e o acesso. Algumas estratégias de preservação digital minimizam o risco de perda da informação, não focando apenas na recuperação e acesso, mas que também seja mantida a autenticidade dos documentos tratados. A preservação digital deve ser mais completa, não sendo apenas o “ato de preservar”, mas aplicando técnicas e tecnologias a favor do acesso.

Dentre as estratégias de preservação digital existentes, diversos autores discutiram e definiram seu funcionamento, aqui serão usadas as definições de Ferreira (2006) e Cunha e Lima (2007):

a) Preservação da tecnologia: Ferreira (2006) afirma esta ser uma das primeiras técnicas de preservação digital, que consiste em preservar o contexto tecnológico, onde o hardware e software em que o objeto digital que se deseja preservar, devem ser conservados. O autor ainda define esta técnica como uma “criação de museus de tecnologia”, mantendo o documento na sua forma original. Esta, portanto, seria uma técnica aceitável apenas para o acesso a curto prazo, visto que a computação se renova constantemente, tornando as plataformas tecnológicas obsoletas, além disso, o documento estaria dependente e confinado a plataforma em que se encontra, impossibilitando sua reprodução e reutilização.

b) Refrescamento: Esta consiste em transferir a informação de um suporte físico, para outro mais atual, antes que o suporte original da informação se torne obsoleto ou se deteriore, fazendo que a informação se perca. É necessária uma avaliação periódica dos suportes, para que a técnica seja aplicada.

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c) Emulação: Basicamente, é um software capaz de imitar plataformas digitais que já se tornaram obsoletas. Sua procedência é totalmente digital, diferente das técnicas anteriores, que tem como problemática um suporte físico (hardware). Segundo, Ferreira (2006, p.33-34), a emulação é:

As estratégias de emulação baseiam-se essencialmente na utilização de um software, designado e m u l a d o r , capaz de reproduzir o comportamento de uma plataforma de hardware e/ou software, numa outra que à partida seria incompatível [18]. A grande vantagem desta abordagem está na capacidade de preservar, com um elevado grau de fidelidade, as características e as funcionalidades do objecto digital original.

d) Migração/conversão: Semelhante à técnica do refrescamento, de acordo com Ferreira (2006) a migração ou conversão, consiste na transferência de um objeto tecnológico de um suporte digital, para outro mais atual, mantendo-o compatível com as novas tecnologias. A diferença está no suporte, onde a migração visa converter documento digital, para outro mais atual, evitando o uso de outras técnicas, como a emulação. Apesar de ser uma das técnicas mais eficazes, o objeto digital corre o risco de não ser convertido por completo, devido a incompatibilidade de sistemas e formatos, além de não ser uma técnica definitiva, visto que o formato seguinte também poderá se tornar obsoleto.

e) Migração para suportes analógicos: “Consiste na reprodução de um objeto digital em suportes analógicos tais como papel, microfilme ou qualquer outro suporte analógico de longa duração” (CUNHA, LIMA, 2007 p. 6). Ferreira (2006) ressalva que esta técnica só é válida para documentos que podem ser reproduzidos em suporte tecnológicos, como textos ou imagens.

f) Atualização de versões: É a atualização de um documento gerado por um software, para uma versão mais atual do mesmo.

g) Conversão para formatos concorrentes: São objetos digitais, convertidos para novos softwares, não sendo necessariamente do mesmo fabricante do software em que o documento foi criado. Diferente da atualização de versões, que muda apenas

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da versão antiga para a mais atual de um software mesmo fabricante.

h) Normalização: A normalização é aplicada em repositórios digitais, realizando um controle de formatos, a fim de padronizar e reduzir o número de formatos existentes no repositório. Tem como consequência uma economia, Ferreira (2006, p.39) exemplifica:

Existe um leque variado de opções no que diz respeito a formatos para representação de imagens bidimensionais (e.g. BMP, GIF, JPEG, PNG, TARGA). Se durante o processo de ingestão, todas as imagens digitais forem convertidas para um único formato, futuras intervenções ao nível da sua preservação poderão ser realizadas de forma mais simples e, consequentemente, mais económica.

i) Migração a pedido: Tem por objetivo manter as propriedades de origem do objeto digital original, onde toda migração feita deverá partir do mesmo, e não de uma versão anteriormente atualizada.

j) Migração distribuída: Trata-se de conversores capazes de converter documentos digitais de diversos formatos, para um único formato. Ferreira (2006) afirma que o Lister Hill National Center for Biomedical Communications possui um serviço web de conversão de documentos digitais de 50 formatos distintos para PDF.

k) Encapsulamento: Tem por objetivo preservar não só o documento digital, mas reunir toda a informação necessária para permitir que outras técnicas possam ser aplicadas, e o documento seja acessado. “Isto pode incluir metadados, software visualizador e arquivos específicos constituintes do recurso digital;” (CUNHA, LIMA, 2007 p.6)

l) Pedra de Roseta Digital: Consiste em transcrever a codificação dos documentos digitais, a fim de decodificá-los em novos softwares, quando o primeiro for obsoleto. Esta estratégia tem por origem, a Pedra de Roseta de 1799 descoberta por soldados franceses, permitindo a tradução dos hieróglifos egípcios, e só deve ser utilizada em último caso.

m) Metadados de preservação: São responsáveis por reunir junto ao objeto digital, seus componentes e informações sendo fundamentais para a comprovar integridade,

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autenticidade e fidedignidade do documento. Muitas organizações vem propondo modelos de metadados de preservação.

A m e t a i n f o r m a ç ã o d e p r e s e r v a ç ã o tem como objectivo descrever e documentar os processos e actividades relacionadas com a preservação de materiais digitais. Ou seja, a metainformação de preservação é responsável por reunir, junto do material custodiado, informação detalhada sobre a sua proveniência, autenticidade, actividades de preservação, ambiente tecnológico e condicionantes legais. (FERREIRA, 2006, p. 54)

Thomás e Soares (2004) afirmam que estratégias são necessárias para enfrentar os desafios do mundo digital, onde estas podem ser agrupadas em estratégias estruturais e operacionais. Desta forma, o procedimento adotado na preservação de documentos digitais deixa de ser uma atividade simplesmente operacional, e ganha um viés administrativo e teórico. O aumento da demanda de documentos digitais se dá, como exposto anteriormente, devido a facilidade com que são criados, editados, excluídos e disseminados. Essa praticidade de disseminação e fácil acesso fazem com que os usuários deem preferência ao seu uso, porém acarreta outros problemas triviais no que diz respeito a sua integridade, autenticidade e as políticas de preservação.

Quando se afirma que documentos digitais podem ser mais facilmente alterados, o que está sendo comparado é a facilidade para alterar o arquivo eletrônico com a dificuldade em alterar um texto impresso. (TANSELLE, 2001, p. 134).

Seguindo por esse pensamento, o Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ), enfatiza a importância da implementação de ações para garantir a autenticidade e integridade da informação.

É necessário o estabelecimento de políticas públicas, diretrizes, programas e projetos específicos, legislação, metodologias, normas, padrões e protocolos que minimizem os efeitos da fragilidade e da obsolescência de hardware, software e formatos que assegurem ao longo do tempo, a autenticidade, a integridade, o acesso contínuo e o uso pleno da informação a todos os segmentos da sociedade brasileira. (CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS, 2006)

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Vale citar a importância de políticas e procedimentos que estudam o contexto da instituição e do tipo de material digital, para que seja definido o melhor formato e assim, possa dar início ao processo de preservação. É importante que seja mantida uma política de preservação digital, que o documento não dependa de software ou hardware específico para sua leitura e que as técnicas de migração e refrescamento sejam feitas periodicamente. Santos e Flores (2015) dizem que o uso de padrões é extremamente relevante para acervos digitais, podendo minimizar a diversidade de formatos de arquivo. Havendo um consenso de padrão a ser utilizado, este pode ser até mesmo um requisito para a entrada de novos documentos e uma norma para a produção. Nesse sentido, um formato adequado pensando na preservação a longo prazo, deve ter código aberto, ser amplamente utilizado e multiplataforma, mas é importante ressaltar que esta configuração é eficiente para o acervo, mas nunca serão técnicas definitivas, devido aos efeitos da obsolescência.

A preservação deve focar não apenas no suporte, mas também no contexto tecnológico em que o documento se encontra, onde o hardware e software necessários para a representação desses documentos também devem ser preservados. O documento arquivístico digital está inserido em um contexto onde políticas de preservação devem ser pensadas, quando ainda nem se imagina quais evoluções e mudanças a tecnologia da informação pode trazer. A evolução tecnológica é constante, onde é certo pensar que proporcionará novos softwares, formatos e recursos ainda desconhecidos, ressaltando que os métodos de preservação devem funcionar para documentos do passado, presente, e do futuro.

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4 Os documentos audiovisuais diante da realidade digital

Assim como os documentos digitais, os documentos audiovisuais também vêm sofrendo os impactos das novas ferramentas e suportes. Segundo Edmonson (2004), o documento audiovisual é objeto de várias definições, havendo a falta de uma que seja universal, englobando todas as suas singularidades). De forma geral, o documento audiovisual pode ser definido como informação correspondente ao som e/ou imagem em movimento, representada em um suporte tecnológico (fita cassete, fita Beta, CD, DVD, etc.) dependendo de um dispositivo tecnológico para ser reproduzido. Este dispositivo tecnológico deve fazer a ponte entre a informação e o usuário, o tornando indispensável para a compreensão do documento, o possibilitando de cumprir sua função.

Imagens em movimento de filmes ou eletrônicas; (b) apresentações de dispositivos; (c) imagens em movimento e/ou registros sonoros em vários formatos; (d) rádio e televisão; (e) fotografias e gráficos; (f) videogames; (g) CD ROM multimídia; (h) qualquer coisa projetada em tela; (i) ou todas elas (EDMONSON, 2004, P. 22)

Outra característica é a natureza linear do documento audiovisual, onde o mesmo tem sempre um início, meio e fim. McCatthy e Targino definem audiovisuais como documentos que demandam de equipamentos para audição e/ou visão, “Compreendem discos, fitas magnéticas, filmes, diapositivos, diafilmes, videoteipes, transparências, microformas" (McCARTHY; TARGINO, 1984, p. 304).

Em uma linguagem mais específica, a UNESCO define documentos audiovisuais:

Gravações visuais (com ou sem banda de som [soundtrack]) independente [da sua base física] do seu suporte e processo de gravação usado, como filmes, [filmstrips] diafilme, microfilmes, diapositivos, fitas magnéticas, cinescópios [kinescopes], videogramas [videograms], videotapes - fitas de vídeo (videotape, videodiscos), discos ópticos legíveis por laser (a) planeados para recepção pública quer através de televisão ou por meio de projecção em écrans ou por quaisquer outros meios (b) destinados a ser postos à disposição do público gravações sonoras independente [da sua base física] do seu suporte e processo de gravação usado, como filmes, [filmstrips] diafilme, microfilmes, diapositivos, fitas magnéticas, cinescópios [kinescopes], videogramas [videograms], videotapes - fitas de vídeo (videotape, videodiscos), discos ópticos legíveis por laser (a) planeados para recepção pública quer através de

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televisão ou por meio de projecção em écrans ou por quaisquer outros meios (b) destinados a ser postos à disposição do público. (UNESCO, 1991, p. 10-13).

A definição de audiovisual abrange também o conceito de informação que não pode ser impressa, onde não deveria ser codificado através de caracteres alfabéticos. Ainda a fim de definir o documento audiovisual, o Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística o caracteriza da seguinte forma:

Gênero documental integrado por documentos que contêm imagens, fixas ou imagens em movimento, e registros sonoros, como filmes (2) e fitas videomagnéticas. (ARQUIVO NACIONAL, 2006, p. 73).

Apesar da importância cultural que o documento audiovisual possui, a preocupação das áreas da informação com sua preservação é recente. Os documentos audiovisuais eram muitas vezes nomeados como “documentos especiais”, e recebiam, na maior parte das vezes, um tratamento diferente daquele dispensado aos documentos textuais, por fatores que envolviam desde a carência de políticas e técnicas de preservação para este material até então “especial” devido a sua singularidade até a falta de recursos.

O documento audiovisual, como documento científico participa consequentemente das mesmas notas de informação e fonte informativa e se integra igualmente no processo informativo-documental: emissor (bibliotecário audiovisual), canal ou meio de transmissão (suporte audiovisual), mensagem (documento audiovisual), receptor ou usuário da mensagem (documento audiovisual). (RUBIO, 2003, p.216)

Miranda (2010, p.15) afirma que o documento audiovisual que conhecemos tem origem norte-americana, onde as primeiras técnicas de som e imagem foram desenvolvidas. A autora ainda afirma que no Brasil, o audiovisual só foi difundido nos anos 1950, e que rapidamente o termo foi substituído por seus sinônimos, o que torna o campo de pesquisa muito amplo e até por vezes confuso. Segundo Buarque (2008, p.2) a área começou a ser expandida com padronizações e recomendações para

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gestão de documentos a partir da década de 1990, fazendo da tecnologia digital uma ferramenta essencial.

A relação entre o homem e a imagem é algo recorrente desde os primórdios da humanidade. Na sociedade contemporânea, essa ligação é ainda maior, considerando todos os recursos tecnológicos existentes e a utilização da imagem pelos meios de comunicação. A criação da fotografia, cinema, televisão, e os aparatos de comunicação, como smartphones e plataformas digitais, inserem ainda mais a imagem em nossa vida cotidiana. Com esta relação a demanda audiovisual, seja para entretenimento ou divulgação de informação e pesquisa se torna massiva.

Edmonson (1998) separa a atividade do arquivista que lida com documentos tradicionais, e aqueles que, sejam arquivistas ou não, lidam com o documento audiovisual, definindo-os como “arquivistas audiovisuais”. Segundo o autor, trata-se de uma profissão emergente desprovida de mecanismos formais que tornem de fato visíveis.

Assim como um documento digital qualquer, o documento audiovisual necessita de um aparato para ser reproduzido, seja ele digital ou eletrônico. Sua leitura não pode ser feita de forma direta, necessitando sempre de um dispositivo para fazer a intermediação entre a informação e usuário. Devido a essa complexidade, o documento audiovisual muitas vezes não é tratado da forma mais adequada pelo profissional da informação.

Os materiais audiovisuais e cartográficos apresentam quase o mesmo interesse tanto para bibliotecários quanto para arquivistas. As películas cinematográficas, por exemplo, quando produzidas ou recebidas por uma administração no cumprimento de funções específicas, podem ser considerados arquivos. (SCHELLENBERG, 2004, p.44)

Na sociedade contemporânea, a tecnologia somada à imagem, dominam os meios de comunicação. Com a invenção do cinema, fotografia e televisão o volume de material audiovisual produzido se torna extremamente alto, com um crescimento massivo. O uso da imagem se torna uma peça principal do audiovisual, tanto para disseminar informações, entretenimento ou pesquisas, oferecendo uma variedade

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visual simultânea.

As imagens são comuns a todos os seres vivos, sejam elas físicas ou abstractas. Sempre que recordamos um evento ou, simplesmente, de um lembrança antiga, o nosso cérebro dá-nos um sinal abstracto em que construímos, no nosso consciente, uma imagem dessa altura ou do sentimento desse momento. O estímulo sensorial da visão, é o que recebe e armazena mais informações para o cérebro humano, desse modo o nosso cérebro é um enorme arquivo de imagens, visões, pensamentos e estímulos. (PIRES, 2011 p. 33)

Nesse universo, a televisão tem força quase absoluta, atingindo todas as massas de diferentes níveis sociais, com uma quantidade incontrolável de informação. “O digital é mais que uma mídia: é uma tecnologia − e, principalmente uma cultura − que contamina todas as outras mídias” (CANNITO, 2010, p.15). Essas informações e acontecimentos registrados constroem a memória audiovisual da sociedade, e necessitam de políticas de preservação para que não sejam perdidas, políticas de indexação para que sejam recuperadas, e, além disso, seu conteúdo deve ser selecionado, para que não apenas as informações relevantes se tornem permanentes.

O processo de seleção é importante para que não haja um acúmulo de informações inúteis, além dos custos que podem ser evitados. Para que isso aconteça, alguns critérios devem ser seguidos, como uma avaliação do material, onde a seleção deve ser feita de acordo com os objetivos da empresa além de ser sempre realizada por um profissional da ciência da informação. Cada acervo audiovisual tem informações diferentes referentes às suas funções. O material a se tornar permanente e as técnicas para recuperá-lo quando necessário, devem ser feitas da forma mais adequada para cada tipo de documento e sistema de recuperação da informação.

Os arquivos audiovisuais de emissoras contêm principalmente um inventário de programas de rádio e/ou televisão selecionados e gravações de comerciais guardadas para propósitos de emissão. Alguns arquivos são departamentos de organizações emissoras – variando de redes principais a pequenas estações de rádio para um público pequeno, enquanto outros têm graus variados de independência. O objetivo normalmente é fornecer um recurso ativo para apoiar a produção de programas e atividade comercial, e administrar um recurso corporativo diversificado. Informação, cópias e outros serviços de acesso são oferecidos - principalmente "a clientes internos", embora também possam estar disponíveis serviços de acesso ao público. As coleções também podem incluir "material em bruto" como entrevistas e/ou

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efeitos sonoros, ou também material associado como guiões, manuscritos ou documentação dos programas. (EDMONDSON, 1998, p. 14).

Mccarthy e Targino (1984, p.302) dizem que “a cultura brasileira é fundamentalmente audiovisual”, com uma sociedade rica em crenças e costumes e que apesar disso, as bibliotecas e arquivos não dão ênfase ao tratamento desse material, lhes atribuindo muitas vezes apenas o mérito de coleções. Os autores ainda denunciam a falta de investimento pelo governo nas instituições públicas, tornando ainda mais difícil o tratamento da informação.

4.1 Preservação dos documentos audiovisuais

Quando se pensa em documento audiovisual, a primeira ideia a ser considerada é a sua importância como valor cultural, a importância e a diversidade que sua disseminação traduz na sociedade. Desde o advento da televisão, Pelo valor cultural e institucional que este documento tem, se torna necessária sua preservação. Segundo Mccarthy e Targino (1984, p. 306), O grande desafio dos acervos audiovisuais, está na preservação e manutenção dos seus documentos, uma vez que a tecnologia de informação vem revolucionando esta área e contribuindo com significativas melhorias. Deve-se ressaltar que a preservação deve ser contínua, sempre demandando a intervenção humana, devido à evolução tecnológica constante que deixa os suportes cada vez mais obsoletos.

A tecnologia é uma grande aliada dos arquivos audiovisuais pois a migração de um acervo analógico para o digital pode converter o formato do documento, assim preservando a informação mesmo que o suporte analógico original de deteriore com o tempo. Além disso, o digital permite a disseminação em massa, o tratamento arquivístico e a recuperação de forma rápida, além da restauração audiovisual. Desta forma, a informação continua existindo através de outro dispositivo, codificada por bits, e pode ter seu acesso prolongado caso sejam respeitadas e executadas técnicas para a preservação digital. Esta técnica de digitalização ou até mesmos os documentos nato-digitais, tem um resultado muito positivo no que diz respeito a conservação e

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recuperação dos documentos. A mudança é ainda mais positiva se comparadas aos documentos que já estavam em precariedade nos seus suportes originais, onde apesar da degradação que o suporte analógico terá naturalmente através do tempo, seu conteúdo ainda poderá ser acessado.

No caso dos arquivos audiovisuais, além das estratégias necessárias à preservação dos novos conteúdos, em grande parte já criados em meios e formatos digitais, é ainda de realçar o potencial que a digitalização pode representar para os meios analógicos tradicionais. Um documento audiovisual necessita sempre de um suporte (por exemplo, filme e cassetes), e mesmo nas condições de arquivo óptimas, (respeitando níveis de temperatura, humidade, e exposição à luz) estes suportes estão sempre sujeitos a um estado natural de degradação contínua com o tempo, a qual pode chegar a um ponto que torne o restauro impraticável. A preservação deste tipo de recursos é premente, por exemplo, para os vários arquivos audiovisuais, sejam de televisão, cinema ou multimédia em geral. Estes recursos podem ser de grande complexidade tecnológica, sendo já comuns a sua publicação em sítios técnicos, culturais ou de diversão na Internet, difusão por redes de televisão interactiva ou exposição em eventos técnicos e artísticos. (BORBINHA et al., 2002, p.71)

Reconhecendo a importância dos documentos audiovisuais, Buarque (2008) afirma que faz parte da preservação manter também os equipamentos em que os suportes audiovisuais são reproduzidos, não apenas sua informação ou o suporte em que a informação está representada. O equipamento que reproduz o conteúdo, e possibilita que o documento cumpra sua função de informar o usuário, também deve ser preservado. Com a revolução da tecnologia, os dispositivos são substituídos por outros mais modernos, tornando sua preservação ainda mais necessária, para que possam ser reproduzidos em dispositivos futuros. Por mais que os equipamentos analógicos possam ser preservados, o mesmo pode necessitar de peças difíceis de encontrar hoje em dia, que podem vir a se deteriorar com o tempo, além de pessoas que saibam manusear este tipo de aparato, o que também é um desafio. A instituição deve manter técnicos com conhecimentos interdisciplinares no assunto, no qual devem dominar o universo digital, e manipular os equipamentos analógicos, podendo ainda fazer intermediações entre os dois. Buarque (2008, p.2) exemplifica:

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mais fáceis, assim como são cada vez mais raros os técnicos gabaritados para fazer a manutenção e revisão nos equipamentos analógicos. E se os equipamentos vêm desaparecendo das prateleiras, consequentemente as suas peças de reposição também não são facilmente encontráveis. Portanto, diante dessa crescente obsolescência dos equipamentos analógicos, é dever das instituições de guarda manter, junto a seu corpo de profissionais, técnicos que detenham conhecimentos não só do universo digital, mas que saibam também operar com desenvoltura os equipamentos analógicos.

O documento audiovisual é um documento recente de estudo, sua pluralidade de suporte aliada a falta de familiaridade com uma informação que foge da tradicional escrita, faz com que os profissionais da informação ignorem sua importância e sua possibilidade de disseminação do conhecimento. Essa variedade nos tipos de documentos audiovisuais aumenta ainda mais sua singularidade e problemas que possam implicar na longevidade de sua informação. Problemas como o mau uso, a deterioração natural do suporte, ou o ambiente em que o acervo se encontra atingem diretamente a qualidade e o acesso àquela informação. Ainda, no meio digital, onde os analógicos podem ser digitalizados, a informação deve ser feita de forma correta, onde a qualidade dessa informação que sofreu a migração de suporte pode ser afetada através do novo formato em que o documento se encontra. É muito comum que os documentos audiovisuais sejam digitalizados para um formato compacto, podendo interferir na qualidade do som ou da imagem quando reproduzida em formato digital, por uma sequência de bits.

O público em geral, a partir do seu cotidiano, já possui uma expectativa sobre a qualidade do produto das novas mídias, faz comparações e referências baseando-se apenas na familiaridade com gravação, reprodução e na capacidade intuitiva de fazer classificações e análises. A linguagem audiovisual é acessível, mas precisamos formar profissionais com um olhar/ouvir mais preparado e atento para leituras críticas e produções enriquecedoras, para registrar, classificar, catalogar e, finalmente, colocar à disposição dos usuários a informação audiovisual. (BETHÔNICO, 2006, p. 74)

A outra etapa é a digitalização, que consiste em digitalizar todo o acervo analógico existente, passando para um novo formato constituído por uma sequencia de bits, em que a informação poderá ser acessada mesmo que seu suporte original

Referências

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