Fundo de Catástrofe do Seguro Rural
O Presidente da República submete hoje à apreciação do Congresso Nacional Projeto de Lei Complementar autorizando a constituição do Fundo de Catástrofe do Seguro Rural. Tal iniciativa visa aperfeiçoar os mecanismos que regem o seguro rural para a proteção da produção agrícola, pecuária, aqüícola e de florestas no Brasil diante de catástrofes climáticas, doenças e pragas.
2. A adoção e o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à proteção da produção agrícola decorre do fato de tal atividade estar exposta, entre outros, aos efeitos climáticos que, no decorrer dos anos podem apresentar forte oscilação, ora afetando a produtividade positivamente, ora implicando perdas excessivas ao produtor rural. A eventual ocorrência de clima adverso a determinadas culturas e, conseqüentemente, perdas excessivas, leva o produtor rural a um ciclo vicioso. Esse ciclo tem início na falta de capacidade financeira de honrar os compromissos assumidos no passado para o plantio da safra perdida e estende-se pela incapacidade financeira de arcar com os custos do plantio da nova safra, levando-o a contrair novas dívidas, sem que a antiga tenha sido quitada. Com isso, o produtor vê-se inserido em um ciclo de intermináveis renegociações, que acabam por comprometer o seu patrimônio e, principalmente, a sua capacidade de realizar novos investimentos.
3. Uma forma de romper esse ciclo vicioso é o desenvolvimento do seguro rural, cujo objetivo é proteger a produção contra perdas bruscas de produtividade decorrentes de efeitos climáticos adversos. Com o seguro rural, constatada a perda, a indenização é paga imediatamente, permitindo que o produtor rural honre os compromissos assumidos no passado para o plantio da safra perdida e tenha condições financeiras suficientes para realizar o plantio da nova safra, eliminando-se com isso o ciclo vicioso mencionado anteriormente.
4. Consciente da importância do seguro para o desenvolvimento da atividade rural, o Congresso Nacional aprovou a Lei 10.823, em 2003, instituindo a política de subvenção ao prêmio do seguro rural. Em 2005, o Governo Federal aplicou R$ 2,3 milhões para a subvenção ao prêmio do seguro rural, ampliando para R$ 31,1 milhões em 2006 e R$ 61 milhões em 2007. Para 2008, o orçamento aprovado pelo Congresso para a subvenção foi da ordem de R$ 160 milhões
5. Com isso, o volume de prêmios do seguro rural nas modalidades beneficiárias da subvenção federal (agrícola, pecuária, florestas e aqüícola), que vinha decrescendo nos últimos anos, retomou a rota de crescimento, atingindo volume recorde de R$ 88,7 milhões em 2006, de R$ 138,3 milhões em 2007 e a expectativa para 2008 é de superar R$ 300 milhões. Como conseqüência, ampliou-se a área segurada de 1,56 milhões de hectares em 2006 para 2,28 milhões de hectares em 2007, proporcionando cobertura para algo próximo a 4% da área plantada com culturas anuais e permanentes. Apesar da subvenção ao prêmio do seguro rural, há ainda um grande desafio a ser superado no que se refere às limitações que a adversidade climática e algumas doenças e pragas impõem à oferta deste seguro. 6. Para que a oferta de seguro rural continue crescendo de forma consistente, o Governo está submetendo hoje ao Congresso Nacional projeto de lei complementar autorizando as seguradoras privadas a constituírem o Fundo de Catástrofe, em substituição ao Fundo de Estabilidade do Seguro Rural (FESR).
7. O Fundo de Estabilidade do Seguro Rural (FESR), instituído pelo Decreto Lei 73, de 1966, já há algum tempo não vem contribuindo efetivamente para o desenvolvimento do seguro rural no Brasil. Isto porque a sua forma de operar inibe a participação tanto de seguradoras quanto de resseguradoras em operações de seguro rural com cobertura do FESR. No caso das seguradoras, os fatores inibidores decorrem da forma de contribuição ao FESR, que é baseado no lucro das respectivas operações, não tendo qualquer correlação com o risco, como é o padrão no setor securitário, bem como o fato do pagamento de eventuais indenizações estar condicionado à existência de dotação orçamentária, o que gera insegurança quanto à sua tempestividade. Já no caso das resseguradoras, os fatores inibidores estão associados à forma de cobertura do FESR, que garante às seguradoras proteção mesmo quando as receitas com prêmios recebidos são maiores do que as despesas com indenizações, não criando incentivos corretos para que estas realizem boas subscrições de risco, bem como o fato do FESR ser administrado por um ressegurador (concorrente), no caso, o IRB.
8. É diante desse diagnóstico e, principalmente, da baixa efetividade do FESR como fomentador do seguro rural, que se optou por propor a criação de um novo instrumento, no caso, o Fundo de Catástrofe. O Fundo de Catástrofe atuará como garantidor contra a ocorrência de catástrofes, risco para o qual o mercado privado de seguros não dispõe de mecanismos eficientes de gerenciamento e capacidade, devido à elevada correlação dos sinistros. A criação do Fundo de Catástrofe permitirá, portanto, que as seguradoras possam expandir de forma mais rápida, consistente e a menores custos, a oferta do seguro, sendo o principal beneficiário o produtor rural.
9. O Fundo de Catástrofe será constituído na forma de um consórcio privado que, se atendidos determinados pré-requisitos definidos na Lei e outros a serem estabelecidos pelo órgão regulador de seguros, no caso, o Conselho Nacional de Seguros Privados, poderá contar com subvenção pública.
10. Com a gestão privada, busca-se agilidade e eficiência operacional e, principalmente, celeridade no pagamento das indenizações, condição fundamental para a credibilidade de qualquer seguro e, no caso do setor rural, essencial para a continuidade do negócio, dado que os prazos de plantio são extremamente exíguos. O Fundo será custeado pelas contribuições das seguradoras, tomando como base o risco de suas operações de seguro rural transferidos para ele.
11. Adicionalmente, será constituída pelo Governo Federal garantia suplementar, de montante previamente definido, para fazer frente aos riscos de catástrofe não suportados pelo Fundo. O montante será definido em Lei Orçamentária Anual (LOA). Esta garantia terá caráter definitivo e será constituída por títulos da dívida pública mobiliária federal interna a serem administrados por banco público federal, favorecendo o Fundo em caso de catástrofes.
12. O Projeto de Lei prevê ainda a possibilidade de subvenção visando a capitalização do Fundo, de caráter eventual, principalmente na fase inicial, a qual poderá ser disponibilizada tanto pelo Governo Federal (via LOA), quanto por Governos Estaduais interessados em ampliar a oferta do seguro rural no respectivo Estado.
13. Embora tais recursos auxiliem no aumento da capacidade do Fundo, o projeto estabelece também a possibilidade do Fundo realizar tanto operações de resseguro, quanto operações financeiras.
14. Nesse contexto de reformulação, o projeto prevê a vinculação da subvenção ao prêmio à participação da seguradora no consórcio. Essa vinculação garantirá maior diversificação dos riscos transferidos ao Fundo e, como conseqüência, menor custo médio para os seguros adquiridos pelos agricultores.
15. Vale ressaltar que as contribuições para o FESR são feitas com base não apenas nas modalidades de seguros de que trata esta lei, mas também sobre as operações de Penhor Rural, cujo montante de prêmios arrecadados é quase três vezes superior ao das demais operações de seguro agrícola, pecuário, aqüícola e de florestas. Neste sentido, as alterações propostas representarão uma redução potencial de custos para os agricultores, tendo em vista que as contribuições para o Fundo de Catástrofe serão feitas com base nos prêmios.
16. Uma vez aprovado o PLC no Congresso, e constituído efetivamente o Fundo, espera-se que, aliado às outras políticas que vêm sendo implementadas pelo Governo Federal, ocorra um incremento significativo da oferta de coberturas para a produção agropecuária, o que contribuirá em muito ao desenvolvimento e crescimento desse importante setor da economia brasileira.
Produtor Rural
(segurado)
Seguradora
O produtor rural procura uma seguradora para proteger a sua produção contra efeitos climáticos (ex: excesso de chuva ou seca)
Fundo de Catástrofe
(consórcio de várias seguradoras)
A seguradora fica com uma parte do risco e transfere o resto para resseguradores e o fundo. A transferência de risco implica transferência proporcional do prêmio.
Resseguradores
Governo
Bco. Público
Federal
O Governo vai depositar recursos em um banco federal, em títulos públicos, para fazer frente à ocorrência de catástrofes.
O Governo pode conceder, eventualmente, subsídio para capitalizar o Fundo.
Na hipótese de catástrofe, a seguradora obtém, conforme o contrato previamente acertado, recursos tanto do Fundo quanto das resseguradoras para o pagamento da indenização ao produtor rural.
Caso o efeito climático impacte sua produção, o produtor recorre à seguradora para receber a indenização, conforme a proteção contratada.
Página 5 de 6 Quadro Comparativo entre o Fundo de Estabilidade do Seguro Rural e o Fundo de Catástrofe
Característica Fundo de Estabilidade do Seguro Rural
Fundo de Catástrofe Vantagens do Novo Modelo
Gestão do Fundo IRB Brasil Re Privado, sob a forma de consórcio de
seguradoras
Elimina as restrições existentes para
sociedades de economia mista.
Incentiva a participação de outros
resseguradores. Princípio Estabilidade da carteira das
seguradoras
Proteção contra catástrofes Melhora a subscrição das apólices.
Incentiva a participação de
resseguradores. Disponibilidades Apesar de dispor de recursos
financeiros, o pagamento da indenização está condicionado à existência de dotação orçamentária
Reservas constituídas, administradas de acordo com os parâmetros do órgão regulador. Livre para fazer frente às indenizações
Visibilidade para o segurado / seguradora
da efetiva disponibilidade de recursos para pagamento de indenizações.
Incentiva a participação de seguradoras
Contribuições Percentual sobre o lucro das operações de seguro rural,
não mantendo qualquer
correlação com o risco da operação
Percentual sobre o prêmio do seguro rural, baseado no risco da operação.
Contribuição baseada no risco transferido. Forma mais eficiente e transparente de
contribuição.
Fim do subsídio cruzado implícito.
Forma de cobertura
Garante às seguradoras proteção mesmo quando as
receitas com prêmios
recebidos são maiores do que
as despesas com
indenizações
Limita o prejuízo da seguradora (stop loss) Melhora a subscrição das apólices.
Incentiva a participação de
resseguradores.
Apoio Público Isenção de tributos nas operações de seguro rural.
Subvenção eventual visando capitalizar o
fundo.
Garantia suplementar previamente definida
para fazer frente aos riscos de catástrofes que recebam proteção do fundo.
Isenção dos tributos federais às operações
do fundo.
Sistemática mais transparente e eficiente