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BANCÁRIO PENSÃO DE REFORMA INCONSTITUCIONALIDADE

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 6834/2005-4

Relator: DURO MATEUS CARDOSO Sessão: 18 Janeiro 2006

Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: CONFIRMADA

BANCÁRIO PENSÃO DE REFORMA INCONSTITUCIONALIDADE

Sumário

A pensão de reforma dos trabalhadores bancários, prevista no respectivo ACTV, não é calculada com base na retribuição global auferida pelo

trabalhador à data da reforma, mas sim com base nas percentagens fixadas no Anexo V e retribuição fixada no Anexo VI do ACTV para o sector bancário e para o nível salarial do trabalhador.

O regime especial de segurança social previsto no ACTV dos trabalhadores bancários não viola os art. 63º nº 4, 13º, 12º, 112º nº 6 e 198º nº 1 al. c) da CRP.

Texto Integral

Acordam na Secção Social do Tribunal da Relação de Lisboa

I- (A), intentou no 1º Juízo, 3ª Secção do Tribunal do Trabalho de Lisboa, a presente acção declarativa de condenação, com processo comum, emergente de contrato de individual de trabalho, CONTRA,

BANCO SANTANDER PORTUGAL, S.A. (actualmente BANCO SANTANDER TOTTA, S.A.).

II- Pediu que se reconheça ao A. o direito de ver a sua pensão de reforma integrada, desde 1 de Junho de 1999, também com as quantias mensais

correspondentes às parcelas referentes a remuneração a título de isenção de horário de trabalho, complemento de vencimento, cartão de crédito, senhas de gasolina e utilização de viatura automóvel e, em consequência, seja o R.

condenado a pagar-lhe, a esse título, as prestações já vencidas (até 25.10.03) no valor, pelo menos, de € 40.000,00 e ainda as que se vencerem após tal data,

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até integral cumprimento, relegando-se para execução de sentença o apuramento correcto do quantitativo total devido

III- Alegou, em síntese, que:

- Trabalhou sob as ordens, direcção e autoridade do R. até ao dia 31 de Maio de 1999, detendo, nessa data, a categoria profissional de Subdirector, com o nível 17 previsto no ACTV do Sector Bancário e com o reconhecimento de 34 anos de antiguidade;

- Em 3 de Maio de 1999, A. e R. acordaram na cessação do contrato de trabalho, reportando o início dos seus efeitos à data de 1 de Junho de 1999, tendo o R. reconhecido ao A. uma situação de invalidez total e permanente para o serviço, que esteve na base do acordo celebrado;

- No âmbito do referido acordo, passou o A. a usufruir de uma pensão de reforma, auferindo ultimamente, entre outras prestações, os seguintes montantes ilíquidos: € 1.741,15, de mensalidade de reforma, € 210,00 de diutunidades/reforma/antiguidade e € 28,00 de anuidades/ reforma – antiguidade;

- Todos os meses, desde 1992 e até à data da pré/reforma, o A. auferiu uma prestação a título de isenção de horário de trabalho (correspondente a mais de 60% do vencimento-base) e de um complemento de vencimento no montante aproximado de 40% do vencimento-base, sobre a qual incidiram sempre os descontos legais;

- Pelo menos, desde 1992 e até à data da pré-reforma, o A. auferia

mensalmente, 14 vezes por ano, de um cartão de crédito no valor anual de Esc. 270.000$00 e senhas de gasolina no valor de 75.000$00/mês;

- O A. beneficiava ainda de viatura atribuída pelo Banco, sendo-lhe atribuído um plafond (por 3 anos) de Esc. 400.000$00 destinado à manutenção da viatura e a regalia de, no final desse período, poder adquirir a viatura pelo valor residual;

- O cartão de crédito e as senhas de gasolina eram atribuídos unicamente para efeitos de despesas particulares do A.;

- O acordo firmado quanto ao montante da reforma devido ao A. ofende preceitos laborais imperativos, nomeadamente os relativos ao princípio da irredutabilidade da retribuição, porquanto não inclui no pagamento da pensão de reforma atribuída a percentagem correspondente à isenção de horário, complemento de vencimento, cartão de crédito, senhas de gasolina e atribuição e utilização da viatura.

IV- O réu foi citado e, realizada Audiência de Partes em que teve lugar infrutífera tentativa de conciliação, veio a contestar após notificação para o efeito, concluindo pela improcedência.

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V- O processo seguiu os seus termos, vindo, a final, a ser proferida sentença em que se julgou pela forma seguinte: "Face ao exposto julgo a presente acção improcedente, por não provada, em consequência do que absolvo a ré do

pedido.

Custas pelo A."

Dessa sentença o autor recorreu (fols. 191 a 271), apresentando as seguintes conclusões, após convite para sintetizar as inicialmente apresentadas, nos termos do art. 690º-4 do CPC (fols. 345 e 360 a 371):

(...)

VI- O réu contra-alegou (fols. 275 a 289) pugnando pela confirmação da sentença.

Correram os Vistos legais, tendo o Digno Procurador-Geral-Adjunto do

Ministério Público emitido Parecer (fols. 374 v.) no sentido da confirmação do decidido.

VII- A matéria de facto considerada provada em 1ª instância, não impugnada e que aqui se acolhe, é a seguinte:

1- O A. trabalhou sob as ordens, direcção e autoridade do R. até ao dia 31 de Maio de 1999;

2- Detendo, nessa data, a categoria profissional de Subdirector, com o nível 17 previsto no ACTV do sector bancário e com o reconhecimento de 34 anos de antiguidade;

3- Em 3 de Maio de 1990, A. e R. anuíram em pôr fim à mencionada relação de trabalho nos termos do acordo constante do documento junto a fls. 11 e 12; 4- Do acordo referido em 4., onde o A. figura como segundo outorgante, constam, entre outras, as seguintes cláusulas:

“CLÁUSULA II

1. Pelo presente título, as partes reconhecem para os efeitos da cláusula 137.ª do ACTV do Sector Bancário, a situação de invalidez do 2.º outorgante,

conforme sua solicitação de passagem à situação de reforma e atestado médico.

2. A partir da data da produção de efeitos do presente acordo aplicar-se-á ao segundo outorgante o regime constante da Secção I do Capítulo XI do referido ACTV, contando-se, para efeitos de diuturnidades e do Anexo V da mesma convenção, 34 anos de antiguidade.

3. O segundo outorgante passará a receber, a partir de 1 de Junho de 1999, as mensalidades previstas na cláusula 137.ª, tendo em conta a sua antiguidade e o seu nível de retribuição, bem como as diuturnidades previstas na cláusula 138.ª, ambas do mesmo ACTV.

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CLÁUSULA IV

Como compensação ou prémio pela cessação do contrato de trabalho, o primeiro outorgante paga ao segundo outorgante, o montante global líquido de Esc. 11.869.642$00 (onze milhões oitocentos e sessenta e nove mil

seiscentos e quarenta e dois escudos). (...)

CLÁUSULA VII

O segundo outorgante considera-se integralmente pago de todos os créditos emergentes do contrato de trabalho e da sua extinção, dando por isso ao primeiro outorgante, e no que respeita a tais créditos, quitação total e plena. (...)”.

5- No âmbito do referido acordo, passou o A. a usufruir de uma pensão de reforma que, em Julho de 2003, se cifrava no montante global ilíquido de € 1.979,15, assim discriminado:

a) € 1.741,15, de mensalidade de reforma;

b) € 210,00 de diutunidades/reforma/antiguidade; c) € 28,00 de anuidades/reforma – antiguidade;

6- Todos os meses, desde 1992 e até à data da pré/reforma, o A. auferiu uma prestação a título de isenção de horário de trabalho (correspondente a mais de 60% do vencimento-base) e de um complemento de vencimento no montante aproximado de 40% do vencimento-base, sobre a qual incidiram sempre os descontos legais;

7- Pelo menos, desde 1992 e até à data da pré-reforma, o A. usufruiu de um cartão de crédito no valor anual de Esc. 270.000$00;

8- Bem como de senhas de gasolina no valor de 75.000$00/mês, atribuídas, pelo menos, a partir de 7.12.1992, 14 vezes por ano;

9- O A. beneficiava ainda de viatura atribuída pelo Banco, para utilização em serviço e a título pessoal, sendo-lhe atribuído um plafond (por 3 anos) de Esc. 400.000$00 destinado à manutenção da viatura;

10- A aquisição pelo A. da viatura que lhe estava distribuída, no final do período estabelecido para a sua utilização, pelo valor residual, dependia de proposta do A. e da concordância do Banco;

11- No ano de 1992, o plafond do cartão de crédito referido em 7) foi atribuído para efeitos de despesas do A. com viagens, hotelaria, restauração, livros, discos, obras de arte, computadores pessoais e bilhetes de espectáculos; 12- Sempre que o A. fazia (com tal cartão de crédito) despesas com viagens, refeições ou estadias, em serviço, os valores dispendidos eram reembolsados à parte ao A;

13- As senhas de gasolina podiam ser utilizadas pelo A. a título pessoal;

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referidas em 6) a 9);

15- Em 25 de Março de 1987, o A. celebrou com o BCI - Banco de Comércio e Indústria, o contrato de trabalho junto a fls. 8 a 10;

17- A fls. 17 dos autos, consta um extracto das remunerações do A. declaradas na Caixa de Abono de Família dos Empregados Bancários referentes ao ano de 1999;

18- O Banco Santander Portugal, S.A. foi incorporado, por fusão, no Crédito Predial Português, S.A., actualmente denominado Banco Santander Totta, S.A. VIII- Nos termos dos arts. 684º-3, 690º-1, 660º-2 e 713º-2, todos do CPC, o âmbito do recurso é delimitado pelas conclusões da alegação; os tribunais de recurso só podem apreciar as questões suscitadas pelas partes, salvo se importar conhecê-las oficiosamente.

Atento o teor das conclusões das alegações apresentadas pelo apelante, são as seguintes as questões que se colocam:

A 1ª, se a sentença, ao julgar improcedente a pretensão do autor de inclusão dos valores do subsídio de isenção de horário de trabalho, do complemento de vencimento, do cartão de crédito, das senhas de gasolina e da utilização de viatura automóvel no cálculo do valor da pensão de reforma, deve ser alterada por as clausulas 137ª e 138ª do ACTV bancário e as normas das leis de base da segurança social que mantêm a vigência transitória dos regimes especiais (art. 69º da Lei nº 28/84 de 24/8; art. 109º da Lei nº 17/2000, de 8/8 e art. 123º da Lei nº 32/2002 de 20/12), são inconstitucionais por violação do disposto nos arts. 63º, 13º, 12º, 112º-6 e 198º-1-c) da CRP e se violam o art. 23º-2 da Convenção Universal dos Direitos do Homem e a Convenção da OIT nº 11 de 1958.

A 2ª, Se houve violação do princípio da igualdade relativamente a outros colegas o autor, quanto à inclusão de complementos de retribuição base, designadamente desrespeitando usos juridicamente relevantes existentes no réu.

IX- Decidindo.

QUANTO À 1ª QUESTÃO.

Os assuntos suscitados têm sido objecto de repetida e uniforme pronúncia jurisprudencial, designadamente desta Relação de Lisboa, com especial ênfase para o Ac. do STJ de 13/7/05, disponível em http://www.dgsi.pt/jtsj, P. nº

05S1586 e os Acs. desta Relação de 9/3/2005 e de 19/10/2005, disponíveis em www.dgsi.pt/jtrl, respectivamente, P. nº 8682/2004-4 e P. nº 5025/2004-4, em sentido que tem colhido, e colhe, a nossa integral concordância, motivo pelo qual, na essência, os seguiremos muito de perto e com a devida vénia,

expondo muito sinteticamente as principais razões em que se fundam.

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de reforma, bem como aos objectivos económicos e sociais que as mesmas visam atingir, tal problemática tem sido objecto de aprofundada análise na jurisprudência de que se cita, a título meramente exemplificativo, o Ac. do STJ de 2/2/00, e o Ac. do STJ de 13/11/2002, processos, respectivamente, nºs 98S351 e 01S4274 disponíveis em http://www.dgsi.pt/ jtsj, bem como o Ac. da Rel. de Lisboa de 29/1/2003, Col. 2003, T. 1, pag. 155 (também sumariado em http://www.dgsi.pt/jtrl, com o nº convencional JTRL00047580 e Processo nº 0085794), pelo que nos dispensamos aqui de reproduzir os mesmos

considerandos.

E, como é sabido, a pensão de reforma dos trabalhadores bancários não é calculada com base na retribuição global auferida pelo trabalhador à data da reforma, mas sim com base nas percentagens fixadas no Anexo V e retribuição fixada no Anexo VI do ACTV para o sector bancário e para o nível salarial do trabalhador.

Não se verifica qualquer violação do princípio da irredutibilidade salarial uma vez que a pensão de reforma tem natureza previdencial e não salarial.

A lei da Segurança Social (Lei nº 28/84 de 14/8) prevê a existência transitória de regimes especiais entre os quais se conta o dos trabalhadores bancários com regime próprio estabelecido no seu ACTV, razão pela qual as expectativas relativamente à pensão de reforma só podem ser as que emanam de tal ACTV. A forma de cálculo das pensões de reforma dos trabalhadores bancários

prevista no ACTV, em especial nas Clªs 137ª e 138ª, utiliza o valor

correspondente ao nível salarial e, dentro de cada nível o valor de cálculo é o mesmo (sem prejuízo de variações em função dos anos de serviço de cada trabalhador), sendo que os complementos da retribuição base não contam para nenhum trabalhador.

No sentido exposto podem ver-se, com mais detalhes e entre outros, o Ac. da Rel. do Porto de 15/1/01, disponível em www.dgsi.pt/jtrp, P. nº 0011354 e em Col., 2001, T. 1, pag. 242; Ac. da Rel. do Porto de 28/3/01, disponível em www.dgsi.pt/jtrp, P. nº 0110017; Ac. do STJ de 16/10/01, disponível em

www.dgsi.pt/jstj, P. nº 02S3897; Ac. do STJ de 6/2/02 (revista nº 3760/01); Ac. do STJ de 10/4/02 (revista nº 4427/01); Ac. do STJ de 29/5/02 (revista nº 3719/01); Ac. do STJ de 19/6/02 (revista nº 3718/01); Ac. do STJ de 16/10/02, Acs. Dout. do STA, 496, 681; Ac. do STJ de 13/11/02, disponível em

www.dgsi.pt/jstj, P. nº 01S4274 e em Col. STJ, 2002, T. 3, pag. 273; Ac. do STJ de 4/12/02, Acs. Dout. do STA, 499, 1197; Ac. da Rel. de Lisboa de 23/6/04, disponível em www.dgsi.pt/jtrl, P. nº 1690/2004-4; Ac. da Rel. de Lisboa de 13/10/04, disponível em www.dgsi.pt/jtrl, P. nº 5195/2004-4; e Ac. da Rel. de Lisboa de 26/1/05, disponível em www.dgsi.pt/jtrl, P. nº 9733/2004-4

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retribuição base e diuturnidades para o cálculo da pensão de reforma do autor.

Quanto à inconstitucionalidade por omissão legislativa, violando o disposto no art. 63º-2 da CRP (por não integração do regime especial dos bancários no sistema unificado da segurança social, cuja organização, coordenação e

subsídio compete ao Estado), não compete aos Tribunais judiciais a apreciação e verificação do não cumprimento da Constituição por omissão das medidas legislativas necessárias para tornar exequíveis as normas constitucionais, como decorre dos arts. 204º e 283º da CRP, redacção da LC nº 1/2004 de 24/7, pelo que não se conhecerá da questão.

Quanto ao art. 63º-2 da CRP, trata-se de uma norma programática pelo que não é exequível sem intervenção do legislador ordinário, o que tem acontecido através das sucessivas leis de bases da segurança social, não violando, a

manutenção do regime especial, os direitos subjectivos dos trabalhadores bancários à segurança social uma vez que mantêm o regime especial até à integração no regime unificado.

O conteúdo do direito subjectivo à segurança social que o apelante considera violado pela aplicação do ACT do sector bancário não decorre directamente da Constituição mas da legislação referente ao regime geral da Segurança Social, pelo que a desconformidade entre as normas convencionais que determinam o valor da pensão de reforma dos trabalhadores bancários e as normas daquela legislação não é geradora de inconstitucionalidade.

Quanto ao art. 63º-4 da CRP, o mesmo prevê o aproveitamento integral do tempo de serviço/trabalho prestado, mas não impõe uma pensão igual ao das remunerações registadas durante o período contributivo, não sendo de aplicar aos trabalhadores bancários o disposto no art. 55º-1 da Lei nº 17/2000, de 8/8, atenta a manutenção dos regimes especiais por força dos arts. 69º da Lei nº 28/84 de 14/8 e art. 109º da Lei nº 17/2000 de 8/8 (e mesmo no art. 123º da Lei nº 32/2002 de 20/12). Vejam-se também a propósito o Ac. do STJ de 11/5/05, disponível em http://www.dgsi.pt/jtsj, P. nº 05S581 e o Ac. do STJ de 11/10/05, disponível em http://www.dgsi.pt/jtsj, P. nº 05S1763.

Note-se ainda que nem o regime geral da segurança social prevê o

aproveitamento da totalidade do salário do trabalhador para efeitos do cálculo da pensão de reforma, como resulta do art. 33º do DL nº 329/93 de 25/9.

Quanto ao regime mais ou menos favorável do regime especial relativamente ao regime geral, trata-se de questão absolutamente nova, não suscitada

anteriormente pelo autor nos autos e que não pode agora ser conhecida, a não ser que se tratasse de questão de conhecimento oficioso por parte do Tribunal de 1ª Instância, o que não é o caso.

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pode agora vir pedir ao Tribunal da Relação que se substitua ao Tribunal do Trabalho de Lisboa para proferir decisão que o apelante deveria/poderia ter oportunamente provocado. É que os recursos para a 2ª instância visam apenas a reapreciação das decisões tomadas na 1ª instância, como aliás se retira do art. 676º do CPC.

Como esclarece Miguel Teixeira de Sousa, Estudos Sobre o Novo Processo Civil, 2ª ed., LEX, 1997, a pag. 395, "No direito português, os recursos

ordinários visam a reapreciação da decisão proferida dentro dos mesmos condicionalismos em que se encontrava o tribunal recorrido no momento do seu proferimento. Isto significa que, em regra, o tribunal não pode ser

chamado a pronunciar-se sobre matéria que não foi alegada pelas partes na instância recorrida ou sobre pedidos que nela não foram formulados. Os recursos são meios de impugnação de decisões judiciais e não meios de julgamento de questões novas.".

Quanto à violação dos arts. e 198º-1-c) e do 112º-6 da CRP, a mesma inexiste porquanto as normas transitórias das sucessivas leis de bases da segurança social que mantiveram em vigor os regimes especiais de segurança social, não criaram outras categorias de actos legislativos nem conferiram às convenções colectivas a virtualidade de poder interpretar, integrar, modificar ou revogar qualquer norma legal, pois limitaram-se a reconhecer a existência dos regimes especiais e a declarar a sua manutenção em vigor até à integração no regime geral.

E o regime especial do sector bancário não é um desenvolvimento das bases gerais do regime jurídico da segurança social, antes é um regime especial reconhecido e mantido transitoriamente pela lei de bases.

Quanto à inconstitucionalidade do regime do ACTV (Clªs 136ª a 144ª e anexos V e VI) por violação do princípio da universalidade e da igualdade, importa notar que os trabalhadores bancários não estão desprotegidos no que diz respeito à segurança social e às pensões de reforma em particular, uma vez que é mantido em vigor, transitoriamente, o regime especial convencional, o qual integra o conteúdo material do direito à segurança social que a

constituição reconhece como direito social dos cidadãos, não se mostrando deste modo violado o princípio da universalidade estabelecido nos arts. 12º e 63º-1-3 da CRP (veja-se neste sentido o Ac. do STJ de 22/6/05, disponível em http://www.dgsi.pt/ jtsj, P. nº 05S1049).

Sendo certo que a forma de determinação da pensão através do regime especial do ACTV dos Bancários é diferente da forma consagrada no regime geral, face ao alegado pelo autor na sua petição inicial e ao,

consequentemente, provado nos autos, não é possível concluir-se qual seria o regime mais benéfico. Isto por varias razões, a saber:

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a)- no regime geral, a remuneração de referência corresponde à retribuição média mensal dos 10 melhores dos últimos 15 anos enquanto que no regime especial do ACTV dos Bancários corresponde ao valor líquido da retribuição base do nível que o trabalhador tem quando passa à situação de reforma; b)- no sector bancário inexiste período de garantia e a mensalidade que o reformado recebe não pode ser inferior ao valor ilíquido da retribuição do nível mínimo do respectivo grupo (clª 137ª-2-3 e Anexo V);

c)- o valor das diuturnidades a considerar é mais elevado do que o valor das diuturnidades no activo e eu é adicionado, por inteiro ao valor da mensalidade da clª 137ª (clª 138ª-1-2);

d)- o valor resultante da aplicação da clª 137ª, na mensalidade de reforma dos trabalhadores com uma carreira bancária de 35 anos ou mais de antiguidade, é sensivelmente idêntico a 100% do valor ilíquido da retribuição que

auferiram no activo nos casos em que aqueles não tinham remunerações complementares de valor significativo (clª 137ª e Anexos V e VI);

e)- diferentes taxas de formação das pensões de reforma;

f)- bastarem 35 anos de antiguidade para o bancário ter direito à reforma completa (Anexo V);

g)- diferentes regimes de contagem de antiguidade para efeitos de reforma; h)- diferentes regimes de actualização das pensões;

i)- não sujeição dos trabalhadores bancários a qualquer quotização para a formação das suas pensões de reforma;

j)- valores das pensões nos meses subsequentes à passagem à situação de reforma.

Face a tais discrepâncias e sem matéria de facto que suporte a pretensão de desfavorecimento do autor em função do regime especial em que está inserido apenas se pode concluir que se tratam de regimes diferentes e com

diferenciação historicamente fundada em negociações colectivas ao longo de décadas, com equilíbrios alcançados com referência a um todo, correndo-se o risco de se gerar rupturas, desequilíbrios e injustiças se se procurar isolar áreas que fizeram parte de uma negociação abrangente, para se tentar ficar com o que o ACTV tem de melhor e só se rejeitar o que se apresenta como eventualmente menos bom.

Improcede também a invocada inconstitucionalidade por violação do princípio da igualdade.

Quanto à violação do art. 23º-2 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, não se mostra que a mesma tenha ocorrido na sentença recorrida pois aquele artigo refere-se à proclamação do princípio do salário igual por trabalho igual, sem qualquer tipo de discriminação, que é assunto que não foi sequer abordado, por não ter sido colocado por qualquer das partes.

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Quanto à violação da Convenção da OIT nº 11 de 1958, a mesma não existe com relação à questão em aberto nos autos (apenas existe a Recomendação nº 11 da OIT de 1921, relativa a desemprego a agricultura). Já a Convenção da OIT nº 111 de 1958, a que o autor provavelmente se queria referir é, sobre discriminação no emprego e profissão, pelo que também não se vê onde a sentença possa ter violado tal Convenção, o que, aliás, o autor também não esclarece convenientemente.

QUANTO À 2ª QUESTÃO.

Pretende ainda o autor ter havido violação do princípio da igualdade relativamente a outros colegas o autor, relativamente à inclusão de complementos de retribuição base.

Trata-se também de questão absolutamente nova, não suscitada anteriormente pelo autor nos autos e que não pode agora ser conhecida. Mais, para além de nada ter sido oportunamente alegado a esse respeito, igualmente não está provado qualquer facto que permita ao autor sustentar tal invocação.

Ora as alegações e conclusões de recurso para a 2ª instância não servem para se tentar a introdução de novos factos que oportunamente não se alegaram, nem se provaram. Não se pode estar a censurar uma sentença de 1ª instância estribando-se em factualidade que a mesma não pôde ter em conta na altura da sua elaboração, mais a mais quando a ausência de prévia alegação é imputável, precisamente, a quem agora recorre da sentença.

Indemonstrada, pois, a violação do princípio da igualdade relativamente a outros colegas o autor, relativamente à inclusão de complementos de retribuição base.

Consequentemente, também não está o desrespeito por qualquer uso

juridicamente relevante (questão esta que só, igualmente, em sede de recurso o autor suscita e que, desde logo, inviabilizaria a sua apreciação por este tribunal "ad quem").

Não merecendo a sentença censura na solução que alcançou, a apelação tem de improceder.

X- Pelo exposto, acordam os Juízes desta Relação em julgar improcedente a apelação e, em consequência, confirmar a sentença recorrida.

Custas a cargo do autor, em ambas as instâncias. Lisboa, 18 de Janeiro de 2006

Duro Mateus Cardoso Isabel Tapadinhas Natalino Bolas

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