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RUMO À ATUAÇÃO ATIVA E PARTICIPATIVA DO CONSUMIDOR

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Academic year: 2021

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RUMO À ATUAÇÃO ATIVA E PARTICIPATIVA DO CONSUMIDOR

Fausto Kozo Matsumoto Kosaka1

Curso: Direito.

Disciplina: Direito do Consumidor.

Área de Pesquisa: Consumidores e clientes. Tema Geral: Incentivo ao consumo consciente.

Resumo

Faz 21 anos da edição do Código de Defesa do Consumidor - CDC. De lá para cá puderam ser notados muitos avanços na proteção e na defesa do consumidor, individual e coletivamente considerado, em juízo e fora dele. As normas do CDC partem do pressuposto de que o consumidor é a parte vulnerável da relação de consumo. Cabe questionar: o consumidor é mero sujeito passivo titular de direitos, sem qualquer participação ativa na proteção e na defesa que lhe foram asseguradas pelo CDC? O consumidor deve ser mero espectador das atividades do Poder Público nesse campo? O consumidor deve prestar algum tipo de contribuição para a efetiva proteção e a defesa eficiente da coletividade nas relações de consumo? O consumidor tem cumprido o seu papel na sociedade de consumo?

Palavras-chave: Direito do consumidor. Responsabilidade social. Cidadania ativa.

1Procurador da República do Ministério Público Federal, ex-Procurador Federal da Advocacia-Geral da União,

professor da disciplina de Direito do Consumidor no Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL, campus Maria Auxiliadora em Americana/SP e Mestre em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP. E-mail: fausto_kosaka@yahoo.com.br. Telefone: (19) 3447-4000.

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RUMO À ATUAÇÃO ATIVA E PARTICIPATIVA DO CONSUMIDOR

Fausto Kozo Matsumoto Kosaka2

As normas de direito privado existentes antes da edição do Código de Defesa do Consumidor, moldadas sob a influência do Estado Liberal, partiam, em regra, da premissa de que as partes encontravam-se em situação de igualdade nas relações jurídicas que entabulavam entre si. Valorizava-se ao extremo a autonomia da vontade, de modo que o Estado deveria intervir o mínimo possível nas relações entre particulares. Contudo, o contexto fático e a realidade social existente ao tempo da edição daquelas normas de direito privado “comum” modificou-se substancialmente. A produção em série e em larga escala e a comercialização em massa fizeram com que aquele que detinha os meios de produção – e/ou de distribuição – (o fornecedor) ocupasse uma posição de superioridade sobre o destinatário do produto ou serviço disponível no mercado (o consumidor). Consideradas as peculiaridades da autorregulamentação do mercado (concorrência, lei da oferta e procura etc.) e as normas de intervenção estatal na economia, o fornecedor tinha o poder de definir o que produzir e vender, quanto produzir e vender, como produzir e vender, para quem produzir e vender e por quanto vender. Aos consumidores restava apenas a expectativa – muitas vezes não correspondida - de que as suas necessidades fossem atendidas, segundo as opções fixadas unilateralmente pelo produtor e/ou distribuidor dos bens e serviços.

É cediço que as normas jurídicas estabelecem regras de comportamento com vistas a possibilitar o convívio social, a pacificação de conflitos e a busca do bem comum. E o Direito – rectius, o legislador – não poderia permanecer inerte diante da constatação de que as normas de direito privado então existentes mostravam-se insuficientes para regular, com a justiça necessária, as relações jurídicas travadas entre o produtor/distribuidor dos bens e utilidades e os seus destinatários finais, face à substancial alteração do quadro fático-social acima delineada. Em outras palavras, tendo verificado que os consumidores ficavam a mercê dos fornecedores, em situação de flagrante inferioridade econômica e técnica, havia a necessidade de criação de mecanismos jurídicos aptos a tentar restabelecer o equilíbrio entre as partes.

Ainda que tardiamente, a Constituição Federal de 1988 determinou ao Estado a defesa do consumidor (art. 5º, XXXII), bem como incluiu esse objetivo entre os princípios que 2Procurador da República do Ministério Público Federal, ex-Procurador Federal da Advocacia-Geral da União,

professor da disciplina de Direito do Consumidor no Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL, campus Maria Auxiliadora em Americana/SP e Mestre em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP. E-mail: fausto_kosaka@yahoo.com.br. Telefone: (19) 3447-4000.

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devem reger a ordem econômica (art. 170, V). Diante desses mandamentos constitucionais, o progresso e o desenvolvimento econômico devem ocorrer sem o sacrifício ou a afetação negativa dos direitos dos consumidores, incumbindo ao Estado a regulamentação, a proteção e a defesa dos consumidores. Nesse contexto, o Código de Defesa do Consumidor – CDC (Lei 8.078/90) foi editado para cumprir a vontade constitucional e regular de forma específica as relações ditas de consumo, atento às suas peculiaridades e tendo como pressuposto teleológico a vulnerabilidade da parte mais frágil, o consumidor.

Felizmente o CDC, diploma legal bastante inovador no ordenamento jurídico, cuidou de forma abrangente não só da defesa do consumidor, mas também da sua proteção. Tratou de tutelar o consumidor, individual ou coletivamente considerado, nas esferas administrativa, cível, processual e penal. Trouxe importantes direitos ao consumidor e previu mecanismos processuais e extraprocessuais que facilitam e asseguram a sua proteção e defesa.

Passados 21 anos da edição do CDC, são inegáveis as conquistas alcançadas nesse campo. O aumento do leque de direitos e a facilitação dos meios para assegurá-los permitiram o fortalecimento dos órgãos públicos incumbidos da defesa e da proteção dos consumidores (PROCON, Ministério Público etc.) e o maior sucesso das demandas consumeristas levadas à Juízo. Essa realidade fez com que os fornecedores de produtos e serviços buscassem se aprimorar e agir no mercado de forma mais responsável e comprometida com os consumidores. Além das determinações legais expressas do CDC (prestação de informações claras e precisas sobre o uso dos produtos e serviços e seus eventuais riscos; garantia legal dos produtos e serviços; substituição de produtos com algum tipo de falha; etc.), os fornecedores passaram a ter uma maior preocupação na qualidade do atendimento e no grau de satisfação dos clientes, o que ensejou a criação de importantes canais de comunicação direta para o recebimento de reclamações, sugestões, elogios, críticas etc. (SAC – serviço de atendimento ao cliente), a prestação de garantia não remunerada para determinados produtos por prazo superior ao assegurado no CDC, dentre tantas outras medidas.

Mas nem tudo são flores. E mesmo as flores têm os seus espinhos.

Como afirmado, o CDC parte do pressuposto da vulnerabilidade do consumidor frente ao fornecedor. Diante da situação da superioridade deste (no aspecto técnico – sobretudo do domínio das informações – e econômico), o Poder Público é chamado frequentemente para intervir buscando equilibrar a balança. Essa era a realidade ao tempo da edição do CDC e que ainda perdura. Mas não é a realidade desejável.

O CDC também previu diversos mecanismos com o objetivo de fortalecer e educar o consumidor, individual ou coletivamente, para que as suas escolhas no mercado sejam sempre

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livres e conscientes. Nesse sentido, o CDC assegurou, por exemplo, o direito básico do consumidor à sua educação formal (nas escolas) e informal (campanhas publicitárias) (art. 6º, II); previu a possibilidade de associações civis, nos casos em que há lesão a um grande número de pessoas, promoverem as ações judiciais necessárias em benefício de toda essa coletividade (art. 82, IV); estabeleceu a criação e divulgação, pelos órgãos de defesa do consumidor, de bancos de dados públicos com as reclamações fundamentadas contra fornecedores de produtos e serviços (art. 44).

Espera-se que o consumidor passe a ser cada vez mais conhecedor dos seus direitos, para que possa exercê-los com responsabilidade, em prol do seu próprio bem e de toda a coletividade. Deseja-se que não seja mais necessário que o Poder Público seja chamado a todo o momento para intervir nas relações de consumo em defesa dos consumidores, para prevenir ou reparar lesões aos seus direitos, muitas vezes sem que os consumidores atingidos sequer tivessem conhecimento dessa violação. Dito de outra forma, almeja-se que o consumidor venha a se tornar o efetivo protagonista nas relações de consumo e faça as suas escolhas de forma consciente, bem informado e sabedor de seus direitos. Mas em um Estado que se autointitula democrático somente isto não basta. É preciso mais.

Para que tenhamos uma verdadeira democracia participativa e se caminhe para uma noção de cidadania ativa, é imprescindível a mudança de postura e mentalidade do consumidor brasileiro. Aquele que conhece – ou busca conhecer - e luta por seus direitos de consumidor não pode fazê-lo de forma egoística, safisfazendo-se tão-somente com a solução de seu problema individual. O cidadão está inserto em uma comunidade e esta comunidade em uma cidade, e assim sucessivamente. É necessário que o indivíduo, valendo-se dos mecanismos previstos pelo CDC, busque maximizar a proteção e a defesa do consumidor sob a perspectiva coletiva, partindo muitas vezes do seu caso individual. Essa mudança de atitudes muitas vezes não exige um maior esforço por parte do consumidor. Não raro bastam atitudes simples para a proteção de um número indeterminado de outros consumidores.

Ao perceber a existência de um produto com a validade vencida exposto à venda no refrigerador do supermercado, não apenas deixe de colocá-lo no carrinho; avise ao órgão público de fiscalização. Constatando uma alteração no modelo da embalagem de um produto que reduza a sua utilidade ou a possibilidade de fruição total, não se contente com mimos encaminhados pelo fornecedor em razão de sua reclamação; procure um órgão público de proteção ao consumidor (PROCON, Ministério Público etc.) e denuncie. Se observar que o contato de um determinado produto com algum tipo de substância acarreta algum tipo de risco à saúde ou à segurança, não se limite a abster-se de deixar ambos em contato um com o outro;

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avise à autoridade pública competente. Estes são apenas singelos exemplos dessa mudança de postura que se espera do consumidor.

É verdade que muitas medidas dependem de atuação do Poder Público. Cite-se, como exemplo, a maior e melhor divulgação dos bancos de dados sobre as reclamações contra fornecedores de produtos e serviços (um SPC para fornecedores, você sabia que existia?). Entretanto, o consumidor não pode ser mero espectador das atividades estatais desenvolvidas no mercado de consumo, aguardando passiva e comodamente a eventual adoção das providências pelos órgãos públicos que visem a proteção e a defesa de seus direitos. Não deve se colocar na posição de eterno “coitadinho”. É imprescindível que o consumidor reconheça o seu papel na sociedade de consumo e passe a pensar e agir de modo mais solidário, assumindo as suas responsabilidade com o próximo, para que o sistema de proteção e defesa do CDC opere da maneira mais eficaz possível. Uma boa lei não é suficiente, por si só, para resolver todos os problemas. Urge uma mudança de postura. Pequenos gestos podem fazer a diferença: evitar problemas à saúde, prejuízos econômicos e até mesmo salvar vidas. Só cabe a você.

Bibliografia consultada.

ALMEIDA, João Batista de. Manual de direito do consumidor. São Paulo: Saraiva. 2005.

GRINOVER, Ada Pellegrini; BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e; DENARI, Zelmo; et al. Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do

anteprojeto. 8ª ed. rev. ampl. atual. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

NUNES, Luis Antonio Rizzatto. Curso de direito do consumidor. 6. ed. rev. e atual. - São Paulo : Saraiva, 2011.

Referências

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