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CONFLITO TERRITORIAL NO QUILOMBO MESQUITA LOCALIZADO ENTRE CIDADE OCIDENTAL (GO) E O DISTRITO FEDERAL (DF)

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CONFLITO TERRITORIAL NO QUILOMBO MESQUITA LOCALIZADO

ENTRE CIDADE OCIDENTAL (GO) E O DISTRITO FEDERAL (DF)

VINICIUS GOMES DE AGUIAR1

Resumo: O quilombo Mesquita, localizado na fronteira entre o Distrito Federal (DF) e o município de Cidade Ocidental (GO), tem recebido as consequências da polarização da capital federal que expande para dentro do quilombo sua demanda por loteamentos habitacionais. A possibilidade de promoção de um mercado habitacional para a classe média de Brasília nos últimos tempos, tem promovido a especulação imobiliária ainda mais intensa, tanto dentro, quanto nas proximidades do Mesquita. Mas a presença de um território quilombola, que não busca uma exploração fundiária exclusivamente voltada para ganhos financeiros, tem sido considerado um bloqueio ao desenvolvimento econômico local, o que induziu a formação de um conflito territorial ambiental no território de 4.292,93 hectares ocupados por 755 famílias. Assim, o objetivo deste texto é discutir como ocorre o processo de conflito territorial ambiental no território do quilombo Mesquita.

Palavras-chave: Mesquita; Quilombo; Conflito.

Abstract: The quilombo Mesquita, located on the border between the Distrito Federal (DF) and the municipality of Cidade Ocidental (GO), has received the consequences of polarization of the federal capital that expands into the quilombo their demand for housing building. The possibility of promoting a housing for the middle-class market of Brasília in recent times, has promoted speculation even more intense, both inside, as in the vicinity of the Mesquita. But the presence of quilombola territory, which does not seek a land exploitation exclusively focused on financial gain, has been considered a lock to the local economic development, which induced the formation of a territorial conflict in the territory and environmental of 4.292,93 hectares occupied by 755 families. Thus, the objective of this text is to discuss how the process of territorial conflict in the territory and environmental of the quilombo Mesquita.

Key-words: Mesquita; Quilombo; conflict

1 – Introdução

Atualmente, as lutas das comunidades quilombolas têm representado a resistência e a defesa dos direitos: a ambientes culturalmente específicos; a proteção ambiental equânime para evitar que se dê a segregação socioterritorial e a desigualdade ambiental; de acesso aos recursos ambientais, incluindo áreas férteis e aos corpos hídricos.

Dentre os instrumentos legais que hoje fornecem amparo para as comunidades quilombolas estão: a Constituição Federal de 1988, através do artigo

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Egresso do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás. E-mail de contato: aguiar.vinicius@gmail.com

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68, que garante o acesso à terra para as comunidades quilombolas; a convenção 169 da OIT – Organização Internacional do Trabalho – que fornece aos quilombolas o direito de ser consultado caso exista uma ação que impacte a comunidade; e também a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais – PNPCT (2007). Sendo que este último instrumento legal destaca que as comunidades tradicionais, incluindo os quilombos, buscam em seus territórios, assim como seus recursos naturais, condições “para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição” (BRASIL, 2007).

Outro instrumento legal importante é o decreto presidencial nº 4.887/03, que em conjunto com a Instrução Normativa – IN – nº 57/09 do INCRA, apresenta os procedimentos de identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação de propriedade das terras ocupadas pelos quilombolas e também cria Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID – que se tratada de um documento técnico que atua na identificação dos limites das terras quilombolas, elaborado com base nas indicações da própria comunidade e em estudos técnico-científicos, incluindo os relatórios antropológicos, que deverá conter a caracterização espacial, econômica, ambiental e sociocultural da terra onde está situado o quilombo.

Assim, é possível observar que entre os aspectos identificadores de comunidades quilombolas, tanto a questão territorial, quanto a ambiental, possui significativo destaque, pois é no território que se dão as lutas, a reprodução das culturas, o resgate das memórias, além dos modelos de desenvolvimento social, institucional e do modo de produção local. Porém, com busca pela instalação de empreendimentos em territórios tradicionalmente ocupado por comunidades quilombolas, ou nas suas proximidades, impactos ambientais são gerados para as comunidades tradicionais, especialmente os ligados a fragmentação do território e a invisibilização das comunidades atingidas (LEROY e MEIRELES, 2013).

Assim, o objetivo deste artigo é apresenta uma compreensão de como o processo de especulação imobiliária produz pressões territoriais no território do quilombo Mesquita localizado na fronteira entre o município de Cidade Ocidental

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Para atender o objetivo, foram buscados marcos legais e referenciais teóricos relacionados a questão quilombola, ambiental e da dinâmica urbana, especialmente envolvendo o DF e Cidade Ocidental (GO). Ainda, houve também a utilização do

software QGIS 2.6 para a elaboração dos produtos cartográficos que

representassem cartograficamente a dinâmica e as pressões urbanas que envolvem o quilombo Mesquita.

2 – DF e Entorno

Durante a mudança da capital federal do Rio de Janeiro para o Distrito Federal, ocorria também uma alteração demográfica no Brasil que deixou de ser majoritariamente rural, para ser mais urbano.

Todo o processo de implantação de Brasília impactou demograficamente o centro-oeste brasileiro devido a atração de migrantes das mais diversas partes do país (GUIMARÃES e LEME, 2002).

Durante este momento, Brasília tinha o Estado como o principal agente de urbanização e o promotor da ocupação de suas terras, pois ele planejava, construía, financiava a ocupação e era o proprietário das terras, logo, a principal forma de se conseguir um lote urbano era via ofertas de lotes pela NOVACAP (Companhia Urbanizadora da Nova Capital).

A medida em que se dava a construção do Plano Piloto, uma periferia se formava através da cidades-satélites – atualmente Regiões Administrativas (RAs) – que era ocupada basicamente por operários migrantes trabalhadores da construção civil e funcionários públicos que não tinham acesso aos lotes do “Plano”. Esse processo gerou uma ocupação urbana polinucleada através das cidades-satélites de “Taguatinga (1958), Sobradinho (1960), Gama (1960), Guará (1966) e Ceilândia (1970)” (CAIADO, 2002). Neste contexto, espacialmente Brasília se constituiu envolvendo a parte central da cidade, o Plano Piloto de Brasília, e os outros assentamentos urbanos denominados de cidades-satélites, mesmo não sendo juridicamente entendidas como cidades (PAVIANI, 2007).

Como os postos de trabalho, principalmente voltado para a construção civil, foram reduzindo a medida que a construção do Plano Piloto avançava, os migrantes

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de menor poder aquisitivo que chegavam em Brasília foram se deslocando para áreas mais distantes do Plano Piloto (ARRAIS, 2008).

Com as limitações do Governo do Distrito Federal – GDF – em atender a demanda de casas populares, além de haver uma redução contínua do estoque fundiário e também com o avanço da especulação imobiliária nos terrenos recém incorporados a área urbana do DF, as populações de baixa renda foram “empurradas” para fora do DF, onde passaram a ocupar terrenos regularizados ou por terras invadidas (PAVIANI, 1987).

Como parte do processo de articulação entre os órgãos públicos e as

empresas do ramo imobiliário, os municípios goianos do entorno do DF passaram a ser bastante especulado desde a criação do DF, especialmente Águas lindas, Santo Antônio do Descoberto e Luziânia, sendo que este último teve um aumento da

ocupação urbana tão intenso que deu origem a três novos municípios – Novo Gama, Val Paraíso e Cidade Ocidental (PAVIANI, 2009).

3 – RA’s, Entorno Imediato e RIDE-DF

Mesmo com a composição metropolitana evidente envolvendo o DF e os municípios goianos do seu entorno, não existe uma Região Metropolitana de Brasília devido à dimensão complexa que envolve ainda mais dois estados diferentes da federação (GO e MG). Apesar disso, para esta realidade a Constituição Federal de 1988 normatiza a integração de regiões em desenvolvimento para fins administrativos, que são as RIDEs – Região Integrada de Desenvolvimento – (IPEA, 2013), envolvendo três unidades da federação, sendo que neste caso envolve o Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais, através dos municípios goianos de Abadiânia, Água Fria de Goiás, Águas Lindas de Goiás, Alexânia, Cabeceiras, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Corumbá de Goiás, Cristalina, Formosa, Luziânia, Mimoso de Goiás, Novo Gama, Padre Bernardo, Pirenópolis, Planaltina de Goiás, Santo Antônio do Descoberto, Valparaíso de Goiás e Vila Boa, além dos municípios mineiros de Unaí, Buritis e Cabeceira Grande.

Mesmo com o reconhecimento por parte do governo federal, da existência de particularidades presente nos municípios que compõem a RIDE-DF, Caiado (2005)

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entende que dentro desta região existe um outro grupo de municípios que é classificado por ela como sendo a Região do Entorno Imediato de Brasília caracterizada pelos municípios goianos limítrofes ao DF, envolvidos nos processos de ocupação de Brasília, sendo ainda que seu crescimento populacional está relacionado diretamente com a expansão urbana do DF.

Caiado (2005), ainda complementa que esses municípios absorvem a população que trabalha no centro de Brasília e que não consegue inserir no mercado habitacional da capital federal, como é o caso de Luziânia, Cidade Ocidental, Novo Gama, Valparaíso de Goiás, Santo Antônio do Descoberto, Águas Lindas de Goiás e Planaltina.

Outra importante característica dos municípios inseridos na Região do Entorno Imediato é sua relação com a dinâmica urbana do DF que, em alguns casos, acompanha o sistema viário, tornando-se vetores de expansão urbana, pois as configurações espaciais da expansão urbana de Brasília “acompanham, em várias situações, os principais eixos rodoviários, se definindo como do tipo tentacular, sobretudo no sentido centro-sul do DF e no seu Entorno Sul, no sentido de Luziânia” (ANJOS, pág. 63, 1991).

Alguns eixos rodoviários caracterizam bem as relações entre os municípios do entorno e a cidade de Brasília, como é o caso da: BR-040 que dá acesso às cidades de Luziânia, Valparaíso de Goiás e Cidade ocidental; BR-060 que liga Santo Antônio do Descoberto; BR-070 ligando o DF à Águas Lindas de Goiás; e a BR-020 que serve de acesso a Formosa. Estas rodovias constituem em uma “malha” de articulação entre o DF e os municípios goianos (ARRAIS, 2008) (Figura 1).

Saindo do Lago Sul (DF), seguindo através da DF-140 no sentido ao Jd. ABC (Cidade Ocidental-GO) está uma parte das RAs de Santa Maria e São Sebastião ocupada basicamente por condomínios horizontais de classe média. Como em empreendimentos imobiliários similar a estes, o valor da terra é bem maior que os loteamentos populares e ainda, devido a facilidade de acesso à porção central de Brasília, existe um potencial significativo para a implantação de loteamento para habitações de alto padrão também em Cidade Ocidental. Inclusive, com esse potencial, duas redes de condomínios horizontais de luxo se instalaram no município goiano, sendo cada uma com dois empreendimentos.

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Figura 01. Localização dos Municípios que compõem a RIDE.

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4 – Quilombo Mesquita – Território Especulado

O quilombo Mesquita, que está localizada em Cidade Ocidental (GO) ao Sul do Distrito Federal. De acordo com Santos (2011) este território se consolidou enquanto quilombola a partir da doação de terras para três ex-escravizadas que trabalhavam nas terras. Segundo o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) do Mesquita publicado no mês de agosto de 2011, o quilombo possui 4.292,93 ha ocupadas por 755 famílias (Figura 2).

Figura 2. Localização do Território Mesquita

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Assim que os ex-escravizados da Fazenda Mesquita conseguiram a posse da terra, eles se organizaram em terrenos, com a produção organizada baseado no trabalho familiar envolvendo desde os mais idosos até os mais jovens (SANTOS, 2011).

Atualmente, o território proposto para o quilombo Mesquita tem recebido um intenso processo de especulação imobiliária. Isso tem se dado por diversos fatores, dentre eles se destaca: a presença de um quilombo rural entre dois núcleos urbanos de Cidade Ocidental; e a comunicação viária através da rodovia DF-140/GO-521 que sai da área urbana de Cidade Ocidental, passa pelo Mesquita e dá acesso as Regiões Administrativas Brasilienses de Santa Maria e São Sebastião ocupadas basicamente por condomínios horizontais de classe média.

Como o município de Cidade Ocidental está inserido na Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE) do Distrito Federal e Entorno, existe a necessidade de o município elaborar o Plano Diretor, sendo que o último foi publicado em 2006. No zoneamento municipal presente no Plano Diretor, a área ocupada pelo quilombo Mesquita é tratada como Zona Especial de Interesse Cultural – ZEIC – quilombola, que por sua vez é destinada a mapear e identificar os elementos que compõem o Patrimônio Cultural do município, além de promover a “preservação, recuperação e valorização do Patrimônio Cultural (...) reconhecendo os valores culturais e os territórios tradicionais, em especial o quilombola de Mesquita (PREFEITURA MUNICIPAL DE CIDADE OCIDENTAL, 2006, p. 18).

Em consonância com essa diretriz, o município estipulou para a ZEIHC uma ocupação e uso do solo de baixa densidade de ocupação do solo, com o intuito de preservar a paisagem local e ainda manter os usos econômicos de pequeno porte mesclados às residências, além de não permitir a instalação de empreendimentos que podem se tornar vetores de poluição ambiental (PREFEITURA MUNIPAL DE CIDADE OCIDENTAL, 2006). Naturalmente, este é o modelo de ocupação próximo ao imaginado em uma área onde está presente um território quilombola, ou seja, uma ocupação de baixa intensidade.

Porém, com a publicação do RTID do quilombo no ano de 2011, que apresentou a dimensão do território do Mesquita, gerou o entendimento que o direito

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especialmente o baseado na especulação territorial e por consequência, induziu a formação de conflitos originados por uma questão territorial e que provocaram a deflagração de degradações ambientais dentro do Mesquita.

Isso se evidenciou pois, diferente do proposto pelo Plano Diretor Municipal de Cidade Ocidental (2006), o território Mesquita passou a receber ações que não valorizam o Patrimônio Cultural Quilombola, negam a identidade quilombola, gera degradação ambiental, além de promover a especulação imobiliária dentro do território.

Mesmo se tratando de uma comunidade certificada pela Fundação Cultural Palmares e com o RTID elaborado pelo INCRA e publicado em Diário Oficial da União, os empreendedores procuraram se organizar tanto economicamente, quanto politicamente, para que este fator não se torne um entrave para a execução de projetos.

Dentre as estratégias adotadas, uma muito presente é a flexibilização dos estudos e ações ambientais necessárias para a instalação de empreendimentos, pois em locais onde existem quilombos, além do licenciamento ambiental, outros instrumentos passam a ser exigidos como é o caso a portaria nº 419 do Ministério do Meio Ambiente que regulamenta a atuação de órgãos como a Fundação Cultural Palmares – FCP – neste processo, que em muitos casos passam a ser desconsideradas com o intuito de otimizar a instalação dos empreendimentos, aumentando a produtividade. Assim, via transferência dos danos socioambientais a aos mais despossuídos, a fragmentação do território proposto para o quilombo Mesquita passa a se desenvolver.

Isto se evidenciou no momento em que SEMARH – Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado de Goiás – licenciou o desmatamento de 84 hectares de cerrado dentro do quilombo Mesquita (Figura 3). De acordo com as lideranças do Mesquita, a supressão da vegetação nesta localidade tinha como objetivo dar condições para a instalação de condomínio horizontal. Isso levou que a intervenção do Ministério Público Federal, realizasse uma intervenção na área para impedir a realização do desmatamento.

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Apesar do insucesso das investidas do capital imobiliário dentro do quilombo, outros grupos de investidores buscaram áreas as margens do Território para a implantação de dois empreendimentos (Figura 4).

Figura 3. Área desmatada no quilombo Mesquita.

Figura 4. Localização dos condomínios nas proximidades do quilombo Mesquita.

Outro elemento de fragmentação do território é a existência de loteamentos urbanos, tanto para ocupação de padrão popular, quanto para chácaras de lazer com significativa ocupação consolidada.

Como a instalação de grandes projetos imobiliários promove alterações significativas nos contextos sociais, econômicos, territoriais, ambientais, culturais, além dos políticos e institucionais, uma vez que concentram investimentos públicos e privados em uma localidade, ocorre a desarticulação das tradicionais formas de uso e ocupação do território, alterando consideravelmente os valores estabelecidos, tanto os materiais, quanto os simbólicos, sendo que os projetos localizados nas áreas metropolitanas tendem a gerar consequências que alcançam grandes distâncias (COSTA, 2011).

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Porém, diferente dos conflitos envolvendo grandes empreendimentos como os hidroelétricos, por exemplo, onde os grupos atingidos são visivelmente identificados, o que viabiliza o desenvolvimento de estratégias de resistência, mesmo envolvendo grandes desigualdades políticas e de visibilidade, os conflitos inseridos nas áreas de fronteira de expansão do tecido urbano, especialmente em áreas metropolitanas, não são identificados de forma evidente como impactados. Pois nesse cenário, a invisibilidade dos impactados ocorre devido ser comum a ideia de que os que estão na condição de proprietários de imóveis ganham com a especulação fundiária, devido ao mercado imobiliário agir não só pelo valor de uso, mas também pelo valor de troca (COSTA, 2011).

5 – Considerações Finais

O processo de expansão urbana de Brasília esteve, na maioria das vezes, direcionado para as cidades inseridas na Região do Entorno Imediato de Brasília e acompanhando alguns eixos rodoviários. Dessa forma, com a consolidação da dinâmica migratória envolvendo cidades-satélites – RAs de hoje –, crescimento urbano “espraiado” e também a baixa oferta de lotes urbanos em Brasília – Plano Piloto –, houve a formação de um mercado habitacional nos municípios do entorno, quase sempre voltados para atender uma demanda popular.

Mas, a possibilidade de promoção de um mercado habitacional para a classe média de Brasília nos últimos tempos, tem promovido a especulação imobiliária ainda mais intenso. Assim, a presença de um território quilombola, que não busca uma exploração fundiária exclusivamente voltada para ganhos financeiros, tem sido considerado um bloqueio ao desenvolvimento econômico local.

Apesar disso o quilombo Mesquita busca se manter no território e continua a resistir aos processos disputa. As lideranças locais se organizaram em forma de uma associação onde eles conseguem se inserir nas ações políticas locais através dos conselhos municipais e estaduais, fazem parte da Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas (CONAQ) e ainda tem condições de acesso a políticas públicas destinadas aos quilombos.

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6 – Referências Bibliográficas

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CAIADO, Maria Celia Silva. 2005. “Estruturação Intra-urbana na Região do Distrito Federal e Entorno.” Revista Brasileira de Estudos da População, São Paulo, v.

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COSTA, Heloisa Soares de Moura. “Grandes projetos de infraestrutura urbana e valorização imobiliária: notas a partir da experiência recente do Vetor Norte de Belo Horizonte.” GESTA/FAFICH/UFMG, 2011.

GUIMARÃES, Eduardo Nunes, e LEME, Heládio José de Campos. 2002. “A região metropolitana de Brasília no contexto regional.” In: Migração e Ambiente nas Aglomerações Urbanas, por HOGAN, Daniel joseph (et. al.), 75-107. Campinas - SP: NEPO/Unicamp.

LEROY, Jean Pierre e MEIRELES, Jeovah. “Povos indígenas e comunidades tradicionais”: os visados territórios dos invisíveis. In: Injustiça ambinetal e saúde no Brasil: o mapa de conflitos, por PORTO, Marcelo Firpo; PACHECO, Tânia e LEROY, Jean Pierre (Org.), 115 – 131. Rio de Janeiro, Ed. FIOCRUZ, 2013.

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