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A casa e a vertigem da ordem

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Academic year: 2021

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(1)

T h ul a Ka wa sa k i Nep om u c en o

A casa e a ve rti ge m da o rde m

B el o Hor i z on t e

E sc ol a d e Bel a s Ar t es d a UF MG 2 0 0 7

(2)

T h ul a Ka wa sa k i Nep om u c en o

A casa e a ve rti ge m da o rde m

Di sser t a çã o a p r es en t a d a a o C u r so d e Mest r a d o em Ar t es d a E s c ol a d e B el a s Ar t es d a Un i v er si d a d e Fed er a l d e Mi n a s Ger a i s, com o r eq u i si t o p a r ci a l à o bt en çã o d o t í t u l o d e Me st r e em Ar t es. Ár ea d e con cen t r a çã o: Ar t e e T ecn ol og i a d a Im a g em Or i en t a d or a : Pr o fa. Dr a. Pa tr í ci a Fr an ca B el o Hor i z on t e E sc ol a d e Bel a s Ar t es d a UF MG 2 0 0 7

(3)
(4)

ag r ad ec i me ntos

À P a t r íc ia F r a nca . À Ma r ia Angél i ca M el endi e Gl ór ia F er r eir a . À Da is y T ur r er e S t ép ha n e Huc het . À Ma b e B et hônic o e Ma r ia Est her Ma ci el. À Ga br i ela , S iss i, Juju, R odr i go e M a gr el i nha . Ao Da vi, Ana P a ula , Lemi nho e meni nos. À C a r ol i na Ju nqu eir a , Mar ia C ar ol i na Ma ia , T ia go F a z it o, C a mi la Ga gl ia r di, Ma r ia na Ja qu et t i, T a yla Ma cha do, Gu i l her me Gu er r a . À S a ndr a Xi men es e Ax ia l. À T â nia Ar a új o, C l éb i o Ma dur o e Ju ju, da gr a vur a . Ao M or ga n da M ot t a . Ao R ica r do G ir undi. À C onsu el o. À Zi na e a os fu nc i oná r i os da S ecr et a r ia de P ós -gr a dua çã o da EB A.

(5)

“E st e é me u h á b i t a t ”, p e n sa Pa l o ma r, “e n ã o é u ma q u e st ã o d e ac e it á - l o o u ex c l uí - l o , po i s só n e st e me i o p o sso e x i sti r. ” Í t a l o C a l vi n o C o mo n ã o se su b me t e r a Tl ö n , à mi n u ci o sa e v a st a e v i d ê nc i a d e u m p l a ne t a o rd e n a d o ? I nú t i l re sp o n d e r q u e a re a l i d a d e t a mb é m e st á o rd e n ad a . Qu e m sa b e o e st e j a , ma s c o n f o rme l e i s d iv i n as – t ra d u zo : l e i s d e su ma n a s – q u e n u nc a p e rce b emo s c o mp l e t a me n te . Tl ö n se rá u m l a b i ri n t o , ma s u m l a b i ri n t o u rd i d o p o r h o me n s, u m l a b i ri n t o d e st i n a d o a se r de c if ra d o p e l o s h o me n s. Jor g e Lu i s B or g es

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res u mo

Est a pes qu isa t r a t a da c onst r u çã o e dos p er cu r sos de mi nha pr oduçã o a r t íst ica , f oca l iza ndo, a ssi m, u ma r ela çã o c om a a r t e qu e s e dá a t ra vés de u ma vi vênc ia da ca sa e a t ra vés do des ej o hu ma no de da r c ont a do i mens o volu me de i nf or ma ç ões qu e a ba r r ot a o mu nd o c ont emp or â neo.

Aqu i est ã o r ela c i ona da s exp er i ênc ia s na a r t e à s exp er i ênc ia s ba na is do dia -a - dia e à s t ent a t i va s de, a o or dena r , c onst r uir u m mu ndo – qu e s empr e es ca pa , qu e nu nca s e dei xa a pr eender , qu e r esu lt a s empr e i nc onc lus o, pr ol if er a nt e, ca ót i c o. Essa busca por uma or dem i na l ca n çá vel vê, exp ost os na a r t e, seus a r t if í ci os, a a r bit r ar i eda de de s eus cr it ér i os, sua s fa lha s, sua gr a ça , seu r i dí cul o.

T a nt o o t ext o qua nt o a pr odu çã o pr ocur a m s e a pr ox i ma r dessa b eir a do a bis mo – a i nda qu e dent r o do c ont ext o a pa r ent ement e r est r it o do c ot i dia no domést ic o – qu e é a mor a da da or dem.

(7)

abst r ac t

T his r es ea r c h is a bout t he c onst r uct i on a nd pa t hs of my a r t ist i c pr oduct i on. It a t t empt s t o ca pt ur e t he c onc ept of a r t fr o m exp er i enc es i n a dom est ic envir onme nt a nd t he hu ma n des ir e t o c ont r ol t he gr ea t a mou nt of i nf or ma t i on t ha t over l oa d t he c ont emp or a r y wor l d.

Exp er i enc es i n a r t a r e r ela t ed her e t o ever yda y exp er i enc es a nd t o a t t empt s of c onst r uct i on of a wor l d b y r ea r ra ngi ng it – a wor l d t ha t a l wa ys es ca p es, t ha t ca n never b e ca pt ur ed, t ha t ends u p unf i nis hed, pr ol i f er ous, c ha ot i c. T his s ea r c h f or a n u na c hi eva b l e or der s hows, exp os ed on a r t , t he a r t if ic e, t he a r bit r a r iness of it s r ul es, t he fa i lur e, t he c ha r m, t he c omi c a nd t he r i dicu l ous of it s bei ng.

T his t ext a nd t he a r t ist i c wor k a t t empt t o a p p r oa c h t he edge of a byss – even t hou gh i nsi de t he a ppa r ent r est r ict ed c ont ext of dom est i c ever yda y l if e – t ha t is wher e or der l i ves.

(8)

l ist a de i mag e ns

01. T hula Ka wa sa ki. Sem t í t ul o , 2002. Gr a fit e, pa st el ol eos o e

gua c he s/ pa p el. 22 x 32, 5 cm. Ac er vo p ess oa l da a r t ist a. . .. . .. .. . .. . . 21

02. T hula Ka wa sa ki. Des enhos/ esb oços , 200 3. Gr a fit e s/ pa p el. 15 x

10 c m. Ac er vo p ess oa l da a r t ist a. .. . .. .. . .. . .. .. .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . . 23

03. T hula Ka wa sa ki. O arqui vo ret i c ent e , 2004. T éc nica mist a

( ma deir a , pa péis, gess o, t ec i do, et c. ) . 155 x 170 x 28 cm. Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . .. .. . .. . .. .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . . 24

04. T hula Ka wa sa ki. O arqui vo ret i c ent e ( det a lhes). . . .. . .. .. . .. .. 25 05. T hula Ka wa sa ki. Se m t í t ul o , 2003. Lit ogr a vur a s/ pa p el. 42 x

29, 5 c m. Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . . .. . .. .. . .. . .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . . 33

06. T hula Ka wa sa ki. Inf i ni t i vo , 2004. Ma deir a , pot es de vi dr o,

sa ngu e, p el e, u nha s, c er â mica . 205 x 20 x 20 c m. Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . . 34

07. T hula Ka wa sa ki. Ost eol ogi a ( pars t horac i ca) , 2004. S er i gr a fia s/

pa pel. 26 x 33 c m. Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. 36

08. T hula Ka wa sa ki. Ost eol o gi a (p él vi s) , 20 04. S er i gr a fia s/ pa p el.

33 x 26 c m. Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . .. . .. . ... . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. . . 37

09. T hula Ka wa sa ki. At ra vés , 2004. M a deir a , gess o, pa p éis,

c er â mica , er va s e gr a fit e. D i mens ões va r iá veis ( Apr ox i ma da ment e 15 x 20 x 1 0cm a ma i or ca ixa e 12 x 08 x 08 cm a s menor es ). Ga l er ia S i l via C i nt r a / Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . 43

(9)

10. T hula Ka wa sa ki. At ravés ( det a l hes). . . .. . .. . .. . .. . . . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . . 43 11. T hula Ka wa sa ki. L a hora muert a , 2006. Ma deir a monocr oma da ,

vi dr o, mus go s ec o. D i mens ões va r iá veis. C ol eçã o pa r t icu la r . . . .. .. . 48

12. T hula Ka wa sa ki. O i rr ev ersí v el , 2004. Obj et o de ma deir a

monocr oma da . 120 x 60 x 60 cm. Ac er vo p es soa l da a r t ist a . . . .. .. . .. 55

13. T hula Ka wa sa ki. Os segr edos i nt o cá vei s no m ei o do di a .

I nst a la çã o na exp os i çã o c ol et i va Parado xos Brasi l 2005/ 2006 (R u mos It a ú C ult ur a l ). R i o de Ja neir o, R J : P a ço I mp er ia l, 15 de ju nho a 06 de a gost o. Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . . .. .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. 67

14. T hula Ka wa sa ki. Os segr edos i nt o cá vei s no m ei o do di a .

I nst a la çã o na ex p osi çã o c ol et i va Ent re o públ i co e o pri va do:

t ransi ções na art e cont emporân ea (R u mos It a ú C ult ur a l). F or t a l eza ,

C E: M AC C ent r o Dr a gã o do Ma r de Ar t e e C ult ur a , 01 de s et embr o a 15 de out ubr o. Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . . .. .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . . 68

15. T hula Ka wa sa ki. C art ograf i a , 2003. Lit ogr a vur a s/ pa pel e

na nqu i m s/ vi dr o. 10 x 15 c m ca da mol d ur a . Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . . 7 4

16. T hula Ka wa sa ki. O i nesgot áv el , 2003. Acr í l ica e gr a fit e s/ t ela .

18 x 24 c m. Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . .. . .. . ... . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . . 76

17. T hu la Ka wa sa ki. O i nconqui st ável I , 2003. Acr í l i ca e gr a fit e s/

t ela . 9 x 12 c m. Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . .. .. . .. . .. . . . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . . 78

18. T hula Ka wa sa ki. O i nconqui st ável I I , 2003. Acr í l i ca e gr a fit e s/

(10)

19. T hula Ka wa sa ki. C omo const rui r um j ardi m , 2004. Ma deir a ,

pot es de vi dr o, gess o, er va s s eca s, t er r a , fl or , fol ha . 120 x 108 x 35 c m. Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . .. .. . .. . .. .. . .. . .. ... . .. . .. . .. . . . .. . .. .. . .. . .. . . 93

20. T hula Ka wa sa ki. C omo const rui r um j ardi m (det a l hes). . . .. . . 93 21. S i mon E va ns. T he worl d , 20 03. T éc ni ca mi st a s/ pa pel. 162, 5 x

221 c m. F ot o: T hu la Ka wa sa ki. . . . .. . .. .. . .. . .. .. .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . . 98

22. S i mon E va ns. T he worl d ( det a l hes)…. . . .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . . 98 23. Alb er t o Ba r a ya . Herbári o de pl ant as art i f i ci ai s , 2003 -. P la nt a s

a r t ifi cia is e gr a f it e s/ pa p el. D i mens ões va r iá vei s. F ot o: T hu la Ka wa sa ki. . . . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . 104

24. Alb er t o Ba r a ya . Herbári o de pl ant as art i fi ci ai s (det a l hes) . . . . 105 25. Wa l mor C or r êa . Ga vet ei ro ent o mol ógi c o (Séri e C at al ogaçõ es) ,

2002/ 2003. T éc ni ca mist a . 140 x 140 x 40 c m. F ont e: C OR R Ê A.

N at ureza perv ersa , p. 6 e 8. . . .. . .. .. . . . .. . .. . .. .. . ... . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. 107

26. Wa l mor C or r êa . Apêndi c e X (Séri e C at al ogações) , 2003.

Acr í l ica e gr a fit e s/ t ela . 80 x 80 x 02 c m. F ont e: C OR R Ê A,

N at ureza Perv ersa , p. 43. .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . 109

27. Il ya Ka ba kov. P r oj et o pa r a T en C haract ers . Na nqu i m s/ pa p el.

40 x 29, 5 cm. F ont e: GR O YS . Il ya K abakov, p. 54. .. . .. .. . .. . .. .. . .. . . 119

28. Il ya Ka ba kov. T he man who n ev er t hre w anyt hi ng a way (fr om

T en C haract ers , 1985 -88 ). I nst a la çã o, Na t i ona l Mus eu m of C ont emp or a r y Ar t , Os l o, 199 5. C ol eçã o d o Na t i ona l Mus eu m of

(11)

C ont emp or a r y Ar t , Os l o. F ont e: GR O Y S . Il ya K abako v, p. 104. . . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. 122

29. Il ya Ka ba kov. T he man who n ev er t hre w anyt hi ng a way (fr om

T en C haract ers , 1985 -88 ). I nst a la çã o, Na t i ona l Mus eu m of C ont emp or a r y Ar t , Os l o, 199 5. C ol eçã o d o Na t i on a l Mus eu m of C ont emp or a r y Ar t , Os l o. F ont e: GR O Y S . Il ya K abako v, p. 105. . . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. 123

30. On Ka wa r a . S ubt ít ul os da s Dat e Pai t i ngs (det a l he), 1966. T ext o

di git a do ( má qu i na de escr e ver ) s/ pa p el. 2 7, 5 x 21, 5 c m. F ont e : W AT KINS . On K awara , p. 44. . . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . 128

31. Il ya Ka ba kov. T he bi g ar chi v e, 1993 . I nst a la çã o, S t ede1 i j k

Museu m, Amst er da m. D i mens ões va r iá vei s . F ont e: GR O YS . Il ya

K abakov, p. 69. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. .. . .. . .. .. . .. . . . .. . .. . ... . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. 1 30

32. T hula Ka wa sa ki. C ol e ção d e f ol has mort as (t r a ba l ho em

a nda ment o). F ol ha s, vi dr o, c or t iça . Di m ens ões va r iá veis ( ca da p ot e: 05 x 02 x 02 cm). Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . .. . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. 1 34

33. T hula Ka wa sa ki. A sal a d e espera (t r a ba lho e m a nda ment o).

Ma deir a monocr oma da , lã , f ol ha s s eca s. D i mens ões va r iá veis ( ca da ca deir a : 194 x 45 x 45 c m). Ac er vo p ess oa l da ar t ist a . .. .. . .. .. . .. . .. . 1 37

34. T hula Ka wa sa ki. Inf i ni t i vo ( det a l he). . . . .. .. . .. . .. . .. .. . .. . .. . . . .. . .. .. . 1 43 35. T hula Ka wa sa ki. Di ári os , 2006. Ma deir a e t r ês enca der na ç ões

(12)

va r iá vei s ( ca da mesa : 55 x 55 x 35 c m). Ac er vo p ess oa l da a r t ist a . . . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. .. . .. . .. ... . .. . .. . .. .. . .. . .. .. . .. . .. .. 145

(13)

s umár i o

1. int r oduçã o 13

2. a pa ssa gem ( ou u m pr oc ess o de a gl om er a ç ã o) 17

3. o c ot i dia no 41

3. 1. os ob j et os do c ot i dia no 52

3 . 2. a ca sa e a noçã o de c onju nt o 62

3 . 3. a s pla nt a s e a or de m da s c oisa s 82

4. o t r a ba lho f or a da ca sa 138

5. a i mp oss ib i l i da de da c onc lusã o 149

r ef er ênc ia s 152

(14)

1. i nt ro d uç ão

T ra ta -se, nest a p es quisa , ma is do qu e de u m a pr oduçã o a r t íst ica , de p er cur sos qu e a c onst r uír a m. T r a ta -se da s es c ol ha s, dos i nt er ess es e dos es pa nt os qu e, a o l ongo dos a nos, mol da r a m mi nha r ela çã o c om a a r t e e mi nha r ela çã o c om o mu ndo. T r a ta -se de i déia s, exp er i ênc ia s, busca s e dos i nc ont á veis el e ment os qu e sã o r el eva nt es dur a nt e t odo ess e pr oc ess o qu e p er meia a qu il o qu e fa ç o. C ompa r t i l ho a qu i u ma exist ênc ia , dent r o da qua l meu t r a ba lho é c onst r uído.

P or vez es t ent ei me a fa st a r do t ext o pa ra escr ever ma is ob j et i va ment e, s eja lá o qu e iss o s i gni fi ca . P er c eb i qu e eu ca mi nha va p ela s b eir a da s do meu t r a ba lho s em nu nca c ons egu ir a lca nçá - l o. D ep ois de r el ut â ncia s vá r ia s , por mot i vos qu e já i gnor o, r es ol vi me a pr ox i ma r da es cr it a e a ssu mir ess e lu ga r qu e é b em no mei o, no la do de dent r o. R ec onheç o essa mes ma pr ox i mi da de na r ela çã o qu e t enho c om a mi nha pr odu çã o e a c ho c oer ent e – a l ém d e soa r mu it o ma is na t ur a l – qu e s eja a ss i m a qu i t a mb ém . C om o ca mi nha r do t ext o p er c eb o qu e nã o p oder ia t er fa la do de out r o l u ga r .

No i níc i o, o t ext o s egu e u ma cr onol ogia ba mba , a o l ongo da qua l ca mi nhei pa r a fa la r de u m pr oc ess o det er mi na nt e em mi nha pr oduçã o: a exp er i ênc ia do fa z er e do p ensa r qu e s e i ni c i ou no

(15)

des enho, na gr a vur a , e s e pr ol ongou a t é a t ri di mensã o. T enho essa s dua s t éc ni ca s e a vi vênc ia de sua s esp ec if i c i da des c om o fu nda ment a is pa r a a const r uçã o de u m p ensa ment o e de u ma r ela çã o c om a a r t e qu e det er mi na m o modo c omo me movi m ent o na exp er i ênc ia t r i di mens i ona l. Os ob j et os na sc em híbr i dos, c ont a mi na dos p or ess e lu ga r de en t r ecr uza ment os, p or iss o me é fu nda ment a l fa la r do p er cur so a t r a vés do qua l el es s e t or na r a m poss í vei s.

E m s egu i da , a cr onol ogia s e dissi pa da ndo lu ga r a uma or dem gu ia da p el os i nt er ess es, u ma or de m i nt er na a o t ext o. F a lo ent ã o de qu est ões e i nt er ess es qu e sur gir a m a pa r t ir do fa z er e, t a mb ém, de el em ent os qu e mol da r a m ess e fa z er . A r ec ipr oc i da de dessa r ela çã o é ma nt i da a ssi m, nã o -l i nea r , a mbí gua , por vez es c onfus a .

N ess e mo m ent o a b or do u ma vi vênc ia do c ot i dia no e de c omo ext r a io, del e, a ma t ér ia c om a qu a l t r a ba lho. D ent r o de u ma i déia de c ot i dia no c onju ga da c om a i déia de ca sa , a bor do qu est ões r ef er ent es a os ob j et os c omu ns, a o mob i liá r i o, a o há b it o e a os di f er ent es gr a us de p er c epçã o da s c o isa s. É a o m es mo t emp o u m fa z er -a r t íst i c o qu e s e ent r ela ça com u m est a r -no- mu ndo e vi ver os dia s ness e lu ga r esp ecí f ic o qu e é a ca sa , e qu e s e t or na a i nda ma is c omp l ex o qua ndo a br iga t a nt o a s funç ões de ha bit a r , qua nt o o espa ço do a t el i er .

(16)

D ent r o a i nda da ca sa , des envol vo u ma r ef l exã o s obr e u ma i déia ur ba na de ja r di ns dom ést i c os e r ela c i ono os el e ment os veget a is disp er s os, c omo a s f ol ha s e a s f l or es qu e s e despr endem da s pla nt a s, c om qu est ões r ela c i ona da s a o s er da or de m. A pa r t ir de f ol ha s s eca s, fa l o de c ol eç ões, l ist a s, cla ss if i ca ç ões, p ois a s exp er i ênc ia s de or dem s e der a m, pa r a mi m, de ma neir a ma is cla r a , a t ra vés da c ol et a e or ga ni za çã o dess es fr a gment os da na t ur eza r est r it a do c ont ext o domést i c o. F a l o da or dem p or ela s e fa z er pr es ent e o t emp o t odo, da s ma is va r ia da s ma neir a s. P or ela s er u m des ej o e u m desa f i o c onst a nt e e p or c onst it u ir mi nha r ela çã o c om a a rt e e mi nha r ela ç ã o c om o mu ndo.

F i na l ment e, a b or do out r a qu est ã o mu it o pr es ent e e m mi nha pr oduçã o, qu e é u ma discussã o s obr e a subj et i vi da de, a i nt i mi da de, a pr iva c i da de e a r ela çã o dess es c onc ei t os c om o meu t r a ba l ho, e del e c om o out r o, c om o “ esp ect a dor ”.

Nã o pr et endo, c om a p es qu isa , just if i ca r , exp l ica r ou i nt er pr et a r meu t r a ba lho de modo a c er r á -l o ness e i nt r i nca do de pa la vr a s. Nã o pr et endo e nem p oder ia , p or qu e nã o t enho t oda s a s r esp ost a s. Escr evendo, exp onho t a mb ém a s la cu na s, ex ponho o qu e nã o diss e. D es enha ndo o t ext o, des enho t a mb ém a c ont r a -for ma da p es qu isa e

(17)

a ssumo a s i nc er t eza s, a s cont r a diç ões, a s fa l ha s, a s coisa s qu e esca pa m.

Há i nú mer a s r ef er ênc ia s l it er á r ia s p er mea ndo t odo o t ext o qu e nã o busqu ei r epr i mir ou es ca ss ea r pois r evela m a i mp or t â nc ia defi nit i va qu e a lit er a t ur a t em pa r a o meu ent endi m e nt o do mu ndo. T a nt o a l eit ur a qua nt o a escr it a a ssume m pa p éis fu n da ment a is na f or ma çã o da mi nha pr á t ica a r t íst ica e, s e essa i mp or t â ncia s e dá a ver no t ext o, é p or qu e t a mb é m é i nt r í ns eca a o meu fa z er .

No t ext o fa l o s obr e meu pr oc ess o de cr ia çã o - u m dos i nu mer á vei s pr oc ess os poss í vei s - e sobr e os i nt er ess es qu e a l i ment a m m i nha pr oduçã o, qu e a l i ment a m os i nt er ess es, qu e a l i ment a m a pr odu çã o e, a ssi m, i nf i nit a ment e. Vou t a mb ém or dena ndo p ensa ment os, desc obr i ndo, a pr endendo na medi da em qu e escr evo. T ent o del i nea r , a inda qu e mi nuscu la ment e, t endo em vist a o i nfi nit o, mi nha r ela çã o c om a s c oisa s e i nc lu o e m c oisa s o mu ndo, a inda qu e el e ext r a va s e t odos os l i mit es. E é nessa r ela çã o qu e c onst r uo meu t r a ba lho e o t ext o. A pa r t ir dela . Dent r o dela .

(18)

2. a p ass age m (o u u m p ro cesso d e ag lo me r aç ão )

O des enho e a gr a vur a des emp enha m u m pa pel fu nda ment a l no des envol vi m ent o da mi nha pr oduçã o p lá st ica , nã o som ent e enqua nt o t éc nica s , ma s , pr i nc ipa l ment e, c omo m ei o de des envol vi m ent o de u m c er t o modo de p ensa r a s ima gens. Na r ela ç ã o c om es sa s t éc ni ca s , pude, ma is qu e pr odu z ir t r a ba lhos, est a b el ec er u ma p ost ur a e u m modo de a gir c om r ela çã o à s i ma gens e des envol ver u m ol ha r p ess oa l pa r a a s coisa s.

P or ju l ga r o des enho e a gr a vur a nã o c omo u m i níc i o ma s c omo u ma ess ência – subt er r â nea ou nã o – de t u do a qu i l o qu e pr oduz o a t é hoj e, pa r ec e- me f u nda ment a l fa la r dessa exp er i ência e de c omo s e deu a pa ssa gem do b i di mens i ona l pa r a os t ra ba lhos t r i di mens i ona is qu e vi er a m a segu ir .

Mi nha exp er i ênc ia com o des enho s empr e envol veu u m gr a nde i nt i mis mo . Ao l ongo do t emp o fu i p er c eb end o qu e ess e i nt i mi s mo é det er mi na do, em gr a nde pa r t e, p ela r ela çã o ent r e o m eu c or p o e o a t o de des enha r . O modo c omo me c ol oc o dia nt e do pa p el – m e cur vo s obr e el e, c om os br a ç os à sua volt a e , por vez es, a p ont a do na r iz qua s e c hega a t ocá - l o – s empr e me su ger iu a l go de u ma escr it a í nt i ma , de s egr edo s e de c oisa s p equ ena s. D ebr uça da s obr e o pa p el,

(19)

a boca qua s e t oca a mã o e pa r ec e suss ur r ar coisa s a t r a vés da s l i nha s deit a da s em sua sup er f íc i e br a nca . O pa pel t or na -s e cú mp l ic e.

Nã o s ou mes mo da da a gest os a mp l os, nã o a br o mu it o os br a ços c o m na t ur a li da de. Essa c ont ençã o gest ua l i nt r í ns eca a o meu c or p o, a os meus movi m ent os, me su ger e det a l hes. Mes mo e m sup er f íc i es gr a ndes, t r a ba lho em pa r t es . C oisa s p equ ena s. Pr ef ir o a s mesa s a os ca va l et es. Os ca va l et es ex i gem u ma p ost ur a ma is dist endi da , i mp õem ma i or dist â ncia ent r e o c or po e o pa pel. R ea l iz ei mu it os des enhos em ca va l et es e not o, qua ndo os ob s er vo a gor a , qu e a l go é ess encia l ment e dist i nt o no r esu lt a do fi na l e qu e t em a ver c om a post ur a cor p or a l fr ent e a o t r a ba lho. Nã o só o c or po fi ca dist a nt e: dist a nc i o- m e t a mb é m da qu i l o qu e est á s end o des enha do. Afa s t o- me do pa p el e da qu i l o qu e fa ç o; meu gest o c ont i do nã o enc ont r a a poi o.

Na mesa , o pa p el na hor i z ont a l s e mpr e m e c onvi da a o t oqu e. O r ost o, os br a ç os, o p ei t o, t u do f ica ma is pr óxi mo. D ist a nc i o - me vez ou out r a , pa ra obs er va r , ma s, no mo m ent o do t r a ç o, a b r a ço o pa p el. A ma neir a p ela qua l o c ont a t o f ís i c o c om o pa p el s e est a b el ec eu det er mi nou gr a nde pa r t e d o p er cur s o qu e f i z no des enho. O t r a ço f oi s e t or na ndo ca da vez menos qu ebr a di ç o e ma is f lu i do , emb or a er r a nt e. M es mo a pr edi l eçã o p el o des enho de ob j et os p ode t er s e

(20)

da do e m pa r t e p or essa pr ox i mi da de fís i c a c om o pa p el. C a b ia mel hor em mi m debr uça r - me hor a s sobr e ob j et os qu e s obr e p ess oa s.

L embr o- m e de t er s empr e des enha do os móvei s da ca sa . Ant es , t a lvez t enha est a do a l gu ém ent r e a s c oisa s. Ma s o i nt er ess e p ela fi gur a hu ma na em s i f oi s endo subst it u í do p el o i nt er ess e p or s eus r a str os, por sua a usênc ia , p ela medi da e p ela f or ma de s eu c or p o r ef l et i da s na medi da e f or ma dos ob j et os.

D es enha r f i gur a s hu ma na s me i nt er essa va ma is p or qu est ões t éc nica s. Ma s a qu i l o qu e eu fa zia e qu e s e nt ia s er r ea l ment e a l go meu er a m os des enhos da s c oisa s da ca sa : obj et os, mobi l iá r i o, pla nt a s . Às vez es fu ndir dif er ent es el em ent os , qu e ocupa m dif er ent es es pa ç os na vi da , em u ma só i ma ge m, edit a r di ver s a s i ma gens de ca sa s em u ma s ó, c onst r u ir u m espa ço qu e a br i ga t odos os espa ç os qu e ha b it o no c ot i dia no.

O d es en h o é p en sa m en t o. Da coi sa à l i n g ua gem ex i st e u m a d i st â n ci a ir r ed u t í vel , a ser i n ven t ad a . ( . . . ) O d es en h o é c on st r u çã o, or g a n i za n o esp a ç o a i d éi a so br e a q u i l o q u e é p u r a a u sên ci a . I l u d e com seu p r od u t o g r á fi c o, l i g a d o a o g e st o, o q u e e st á el i d i d o. I n scr e ve, n o p l a n o, o t r a ço m a t ér i co d e a l g o q u e ca r ec e ser escr i t o p a r a ex i st i r . 1

1

(21)

Gua r do a l gu ns p ou c os des enhos des sa ép oca qua ndo a i nda nã o ha via u m des ej o c la r o p ela t r i di mensã o e eu a pena s des enha va os a mb i ent es e ob j et os p or qu e er a o qu e eu s ent ia s er coer ent e c omi go . Ia , a ssi m, c onst r ui ndo a os p ou c os u m r ep er t ór i o pa r t ic ula r de esc ol ha s e i ma gens. N o des enho a qu i a pr es ent a do (F IG. 1 ), a lgu ma s ca r a ct er íst ica s qu e ca r r ega r ia c omi go, a dia nt e, já est ã o pr es ent es. Al ém da pr edi l eçã o a nt er i or ment e menc i ona da pel o u ni ver s o domést i c o e o ca r á t er i nt i mi st a do des enho , a fr a gment a çã o já s e a pr es ent a va c omo u m el em ent o i mp or t a nt e. A va l or i za çã o do br a nc o do pa p el e u ma ga ma cr omá t i c a r est r it a ( qua s e s e mpr e c om a pr es ença de u m ver mel ho ma is p ont ua do) t a mb é m f or a m s endo i nc or p or a da s à mi nha pr odu çã o des de ent ã o.

(22)

Fi g u r a 1 – Th u l a Ka wa sa k i , se m t í t u l o, 2 0 0 2.

Ai nda qu e m eu pr oc ess o t odo de des enha r p ossa ser l ent o, ou nã o, a poss ib i l i da de de i m edia t a ment e dei xa r u m t r aç o s obr e o pa p el é a l g o qu e c onst it u i mi nha ma neir a de p ensa r . E há t a mb ém, em s eu pr oc ess o, u ma p oss ib i l i da de d e s ol i dã o e u ma l ib er da de qu e cr ia m u ma c ondiçã o qu e pr op i c ia o esc oa ment o de i déi a s . T a lvez p or iss o t udo s e i nic i e no pa p el.

(23)

Poi s o q u e fa z o d es en h i sta ? Ap r ox i m a d u a s m a t ér i a s; em p ur r a su a vem en t e o l á p i s p r et o e m d i re ç ã o a o p a p el . Na d a m a i s. A c o esã o d o g r a fi t e é en t ã o s ol i ci t a d a à a d esã o p el o p a p el i m a cu l a d o. O p a p el é d esp er t a d o d e seu s on o d e ca n d ur a, d esp er t a d o d e seu p e sa d el o br a n co.2

É a t r a vés dessa qua s e i nst a nt a nei da de do t r a ç o qu e a s c oisa s c omeça r a m – e a i nda c omeça m – a ex ist ir pa ra mi m. Uma nec essi da de mu it a s vez es ur gent e de i nt er vir na r ea l i da de qu e s ó s e sa t isfa z c om l i nha s fr á geis e i mpr ec isa s, u ma poeir a fi na ma s densa e escur a qu e va i s endo i nt egr a da à s fibr a s br a nca s do pa p el. Ess e mo ment o de enc ont r o e a desã o de qu e fa la Ba c hela r d é, pa r a mi m, u m a c ont ec i ment o ú ni c o, e gost o s e mpr e de des enha r c om os ol hos b em p er t o da fol ha p a r a a ssist ir a el e.

C om o dec or r er do t emp o, c omeça r a m a sur gir es qu ema s t r idi m ensi ona is nos des enhos , e o des ej o de a t uar na t r i di mensã o f oi fi ca ndo ca da vez ma is c la r o . E m di ver s os t r a ba l hos , c omec ei a t r a çar o qu e hoj e m e pa r ec em pr oj et os de ob j et os ou i nst a la ç ões . Qua ndo pa ssei a visua l i za r o des enho c om essa noçã o de pr oj et o em m ent e, c omec ei a qu er er fa z er a s c oisa s sa ír em do pa pel e ga nha r em u m c or po f or a del e.

2

(24)

A pa r t ir dess e mo ment o, mi nha r ela çã o c om o des enho f oi s endo c onst a nt em ent e t r a ns f or ma da e el e s e i mpr egnou de di m ens ões e p er sp ect i va s, a i nda qu e fr á gei s . C hegou u m pont o e m qu e eu p ouc o me pr eocupa va c om a fi na l iza çã o dos des enhos p or qu e os via , em sua gr a nde ma i or ia , c omo esb oç os de a l go qu e eu qu er ia pr odu z ir no espa ç o t r i di m ens i ona l (F I G. 2 ).

(25)

P a r ec eu - me u m ca mi nho s em volt a , um p ont o de nã o-r et or no. Nã o qu e eu vi ess e a a ba ndona r a bi di m ensã o ma s qu e da l i pa r a fr ent e, pa r a mi m, ela s empr e ca r r ega r ia ess e f or t e ca r á t er de pr oj et o, s empr e est a r ia l i ga da à uma i déia t r i di mens i ona l , p oss í vel ou nã o.

A pa ssa ge m f oi u m pr oc ess o, ma s f oi a í, a pa r t ir dess es des enhos -esb oç os, qu e ela s e deu ef et i va ment e e cu l mi nou c om a pr odu çã o d e fr a gment os qu e vir ia m a c onst it u ir o pr i mei r o dos ob j et os : O

arqui vo ret i c ent e (F I G. 3 e 4).

(26)

Fi g u r a 4 – Th u l a Ka wa sa k i , O a rq u iv o re t ic e n te ( m on t a g em d e fot og r a fi a s d o i n t er i or d a s ca i xa s ) .

Dur a nt e a pr odu çã o dess e t r a ba lho pa ss ei p or i nú mer os desa f i os pa r a me a just a r e enc ont r a r “ meu t r a ço” na t r idi mensã o. A ma deir a m e pa r ec ia pr ec isa dema is qua ndo c ompa r a da à mi nha l i nha , ent ã o busqu ei out r a s a lt er na t i va s, s em des c a r t á -la , par a qu e eu pu dess e a meni za r a s l i nha s e s ent ir a qu il o c omo u m pr ol onga ment o da s mi nha s exp er i ênc ia s a nt er i or es. N es s e t r a ba lho o des enho e m s i t a mb é m est á mu it o pr es ent e e m a c u mu la ç ões de p equ enos “ des enhos de a not a çã o” e t r a du z i do em ma t er ia is m a is sut is c omo pa p el, ba r ba nt e, l i nha , ca i xi nha s de f ósf or o e ca r t ol i na s c ob er t a s por ma ssa c or r ida e t i nt a . Qu er ia t r a ços ma is i nc er t os.

T a mb ém há , qua s e es c ondi da , a escr it a . F r a gment os de p equ enos t ext os m eus , de diá r i os , f or a m escr it os e m p a r t es nã o m u it o vis í veis ou c om a ca l i gr a fia r edu z i da . F ica qua s e c omo u m des enho qu e nã o qu is ess e di z er na da pa r a a lgu é m qu e pa ss a os ol hos desa t ent o s.

(27)

S empr e t enho des ej os de s egr edos. S ei qu e a l gu ma s p ess oa s l eva m o t emp o nec essá r i o a t é c ons egu ir em dec ifr á -l os t od os. Já vi p ess oa s t ir a ndo e c ol oca ndo os ócu l os, a p er t a ndo os ol hos, a pr ox i ma ndo os dedos. Os p equ enos fr a gment os de t ext os poét i c os nã o r evela m nenhu m gr a nde s egr edo da hu ma ni da de. . . fa la m de c oisa s i nt er na s, de c oisa s c omu ns . Escr evo mu it o s obr e mu it a s c oisa s e gua r do ca der nos e ma is ca der nos de a not a ç ões ger a is. D ess es ca der nos , r et ir ei os fr a gment os. T enho u ma r ela çã o c om a escr it a à mã o mu it o pr óx i ma da qu e t enho c om o des enho e p or iss o ela s e fa z pr es ent e em a l gu ns t r a ba lhos. D ep ois de f eit o, já dep o is de exp ost o, eu p ens ei : a gor a a cr es c ent o, à ur gênc ia de es c r ever , o gost o de ver a r ea çã o qu e u ma fr a se p equ ena e pa r cia l ment e enc ob er t a pr ovoca na s p ess oa s.

Ent r e a es cr it a e a s ma deir a s br a nca s d el i neei p equ ena s c ol eç ões , s epa r a da s em gr up os, de ob j et os e c ena s c ot i dia na s. Al gu ns ob j et os de a pr eç o p ess oa l, out r os i nvent a dos est ã o a í gua r da dos em ca ixa s qu e or a se a pr ox i ma m de c ômodos, or a de ga vet a s ou de out r a c oisa . F oi p ensa ndo na c ompa r t i ment a çã o e na or dem do c ot i dia no, a qu ela qu e em u m mo m ent o é c or r i qu eir a e i nt u it i va e e m out r o é ela b or a da e a t enc i osa , qu e est a b el ec i os módu l os.

Poi s n ã o se t r a ta d e l i g a r con seq ü ên ci a s, m a s si m d e a p r ox i m a r e i sol a r , d e a n a li sar , a ju st a r e

(28)

en ca i x ar con t eú d os c on cr et os; n a d a m ai s t at ea n t e, n a da ma i s em p ír i co ( a o m en os n a a par ên ci a ) q ue a i n st a ur a çã o d e u m a or d em en t r e a s c oi sa s; n a d a q u e ex i ja u m ol h a r m a i s a t en t o, u m a lin g u a g em ma i s fi el e m a i s b em m od u l a d a ; n a d a q u e r eq u ei r a com m a i or in si st ên ci a q u e se d ei x e c on d u z ir pel a p r ol i fer a çã o d a s q u a l i d a d es e d a s f or m a s. 3

Um i nt er ess e p ela c la ssi fi ca çã o e p ela or dem c om eça a e mer gir dess e des l oca r fís i c o dos ob j et os, de p ega r a s c oisa s c om a s mã os e mu dá - la s de lu ga r e p ensa r nessa mu da nç a , na s esc ol ha s qu e s e fa z em, nos cr it ér i os qu e s e i nvent a m. P ens o na pr ol if er a ç ã o d e qua li da des e f or ma s de qu e F ouca u lt fa la e na s i mp oss ib il i da des i ner ent es a t oda i déia de cla ss if i ca çã o. P ens o a t r a vés dessa s p equ ena s exp er i ênc ia s de or dem, essa coi sa ta mb é m e mp ír ica e t a t ea nt e qu e o des l oca r da s c oisa s c om a s mã os m e pr op or ci ona . Assu nt o qu e, hoj e e m dia , desp er t a ca da ve z ma is meu i nt er ess e e qu e t or na a a par ec er , de ma neir a s di ver sa s, em t r a ba lhos p ost er i or es , dos qua is fa la r ei ma is a dia nt e.

O fa t o de s e mpr e t er t r a ba lha do s obr e o br a nc o do pa p el t a mb ém s e r edi mens i onou e o br a nc o s e di lu iu em t oda s a s coisa s. A r egiã o s ensí vel – e m qu e a ma t ér ia dos ob j et os t oc a u ma à out r a ou t oca o a r qu e a s r odeia – subst it ui u a gor a o t r a ç o f i no no pa p el. As s ombr a s t a mb é m del i neia m espa ç os e f or ma s ma is ou menos ma nipu lá veis e

3

(29)

a c ent ua m a i déia de t r a ba l ha r nã o só o br a nc o , ma s em br a nc o e pr et o.

Hou ve – e, a ca da exp er i ênc ia , per c eb o qu e s e mpr e há – u ma c ont a mi na çã o mút ua ent r e m eu t r a ba l ho na b i di m ensã o e na t r idi m ensã o. Os obj et os na sc er a m do des en ho , i mpr egna dos de sua l i ngua gem, ma s t a mb ém c ont a mi na r a m sua or i ge m, a c ent ua ndo, na bi di mensã o, noç ões de espa ç o, de ma t ér ia , de fis ica l i da de.

P a ra a oca siã o de u ma exp os içã o , da qua l e ss e t r a ba lho fa r ia pa r t e, p ens ei em u ma f or ma de a pr es ent á -l o. Qu er ia a lgo qu e p oss ib i lit a ss e a visã o dos det a l hes e qu e u nif i ca ss e o c onju nt o, t r a nsf or ma ndo - o em u m ob j et o s ó. Nã o me i nt er essa va a s epa r a çã o dos módu l os e nem qu e el es f oss em a p oia dos em a l go qu e nã o f i z ess e pa r t e del es. Nã o m e i nt er essa va nem a i déia de qu e e l es f oss e m “ a poia dos”. Qu er ia qu e el e s s e sup or t a ssem des de o c hã o, c omo os móvei s da ca sa . F oi ent ã o qu e des enh ei e p edi a o ma r c eneir o qu e ex ec ut a sse o pr oj et o de u ma mesa c ompr i da , qu e f oi o pr i mei r o dos “ móveis ” qu e eu vir ia a fa zer .

S obr e ela , pu de disp or os c i nc o módu l os eqü i dist a nt es e el es s e sit ua m a ma is ou m enos u m met r o e c i nqü ent a de a lt ur a do c hã o. Muit a s p ess oa s s e cur va m u m p ouc o c om o r ost o qua s e dent r o da s

(30)

ca ix i nha s , devi do à a lt ur a e a os det a l hes . Gost o de ver qu e o t r a ba lho i nst a ur a um c er t o t emp o a o movi ment o da s p ess oa s, qu e p ede a ela s u ma a t ençã o l ent a , u ma cur i os i da de s em pr essa . P ens o qu e, p or u m mo m ent o ela s vêe m c oisa s p equ ena s e br a nca s, sonha m c om s egr edos, est a b el ec em r ela ç ões ent r e a s c oisa s, r eme mor a m u m a cont ec i ment o, u m lu ga r , se i nc l i na m, a ss opr a m, t oca m, fuça m. . . pa r a dep ois volt a r em a os s eus dia s de exc ess o, ba r ulho e pr essa .

Já no f i na l da ha b i l it a çã o e m des enho, i ngr ess ei na ha bi l it a çã o em gr a vur a . O pr oc ess o da gr a vur a me i nt er es sa e é, pa r a mi m, u m p ensa r l ent o s obr e a i ma ge m qu e s e pr oduz . D i f er ent e d o i medi a t is mo do des enho – fa l o da mi nha for ma de des enha r , nã o da de t oda s a s pess oa s – a gr a vur a i mp õe u m ou t r o t emp o. S ã o à s vez es mes es t r a ba lha ndo u ma mes ma i ma gem a t r a vés de t oda s a s sua s fa ses, c om a t ençã o a os det a l hes, a os pr oc edi ment os .

At é mes mo a vi vênc ia do a mbi ent e do a t el i er é di f er ent e: a s p ess oa s c om s eus a vent a is su j os, ocupa da s de sua s c oisa s, t r a nsit a ndo ent r e os equ ipa ment os c om i déia s na s mã os. Há sempr e o ba r ul ho de á gua c or r endo, c heir os dif er ent es, u ma poeir a de t odo t ip o de c oisa ,

(31)

pa péis p endur a dos nos va r a is , i ma gens s eca ndo. P or s e t r a t a r nela de mu it a s qu est ões t éc ni ca s, a cr edit o qu e a s pess oa s s e a pr oxi ma m ma is, dã o ma is op i ni ões, p er gu nt a m ma is. P ela mi nha exp er i ênc ia , p er c eb i qu e há mu it o ma is diá l ogo ent r e os a lunos a r esp eit o dos s eus t r a ba lhos no a t el i er de gr a vur a . C onver s a s ma is des pr et ens i osa s e u ma pa r t ici pa çã o ma i or na pr odu çã o u m do out r o. É, c omo di z em, u ma c ozi nha . Uma c oz i nha onde a pr endi t éc nica s, a pr endi u m modo dif er ent e de c onvi ver c om out r os a r t ist a s e onde des envol vi u m p ensa ment o e u m ol ha r ma is pa ci ent e e a t ent o em r ela çã o à s coisa s. Onde a pr endi a ent end er e a pr ec ia r o t emp o de esp er a .

C r ia -se, a l i, u ma i nt i mi da de demor a da e u m c onhec i me nt o esp ec íf i c o da s i ma gens , qu e a cr edit o s er pa r t icu la r i da de da gr a vur a . Exp er i ênc ia s c omo t r a ba l ha r c om ma t r i z es e c óp ia s, c om a i ma gem i nver t i da , t r a ba lha r a s fa ses , os fr a gment os, a s ca ma da s de c or es ou de dens i da des , ent r e mu it a s out r a s, inu m er á veis, f or a m fu nda ment a is pa r a a const r uçã o do meu modo de fa z er . Um a a t ençã o ma is esp ec ia l a o pr oc ess o, u ma p r eocupa çã o ma i or com os gest os, a i déia de u ma i ma ge m ma nua l de qu e fa la Ba c hela r d:

E ssa c on sci ên ci a d a m ã o n o t r a ba l h o r en a sce em n ós n a p ar t i ci p a çã o n o o fí ci o d o g r a va d or . Nã o se c on t em p l a a gr a vu r a ; a el a se r ea g e, el a n o s t r az i ma g e n s d e d e sp e rt a r . Nã o é s om en t e o ol h o q u e seg u e os t r a ços d a i m a g em , p oi s à i m a g em vi su a l é a sso ci a d a u m a i ma g em m an ua l e é es sa i m a gem

(32)

m an u a l q u e ver d a d ei r am en t e d esp er t a em n ós o ser a t i vo. T od a m ã o é c on sci ên ci a d e a çã o. 4

O t r a t a ment o e os cu i da dos disp ensa dos a os pa péis t a mb é m f or a m ess encia is. Na gr a vur a s e a pr ende ma is a i nd a a li da r com o pa p el e c om o br a nc o, os enca ix es e a s c ont r a -f or ma s. M i nha op çã o p el o br a nc o ( e o pr et o da s l i nha s qu e s e f or ma m e da s s ombr a s) – qu e na sc eu no des enh o – c er t a ment e s e dens if i c ou no a t el i er de gr a vur a .

D essa for ma t r a ba lha dor a de p ensa r o des enho, dest e t r a ba lho d e u ma mão obrant e ou obr ei ra , c omo di z Ba c hela r d, dur a nt e o t emp o l ent o qu e a gr a vur a ex i ge, a ma dur ec er a m mu it os pr oj et os qu e eu l eva r ia à t r idi mensã o.

A gr a vur a pôde est a b el ec er u m equ i l íbr i o. L á r eva l or iz ei o t r a ba l ho bi di mens i ona l, qu e vi nha a p ena s s e a mont oa ndo em pa st a s dest i na da s a esb oç os e p la nos . A dedi ca çã o e o t emp o qu e a gr a vur a exi ge nã o c ondi z em c om a i déia de esb oç o . Est a va cla r o pa r a mi m qu e er a pr ec is o t r a ba l ha r na gr a vur a com o p ensa ment o na gr a vur a . Qu er ia r et oma r u m t r a ba lho na b i di mensã o, r edi mens i ona do p or nova s exp er i ênc ia s, ma s qu e s e c onst it u íss e em u m t r a ba lho p or si só.

4

(33)

Dur a nt e o pr oc ess o e dep ois da c onf ecçã o de O arqui vo r et i cent e , eu ha via sent i do qu e est a va p er dendo u m pou c o o t a t o c om a bi di mensã o, p or qu e t u do o qu e fa z ia t i nha j e it o de pr oj et o pa r a u ma out r a coisa . Ent r ei na gr a vur a em m ei o a es s e pr oc ess o i ndes ejá ve l pa r a mi m, e lá pu de r eva l or iza r ou r evit a l i z a r meus c onc eit os t a nt o de des enho qua nt o da gr a vur a em si. P u de r et oma r u ma pr eocu pa çã o e dedi ca çã o ma i or à qui l o qu e fa z ia e r ec ol oca r a a t ençã o no mo ment o pr es ent e.

Uma l it ogr a vur a qu e f iz (F IG. 5) vei o a da r or i ge m a u m nov o t r a ba lho t r i di m ens i ona l i nt it ula do Inf i ni t i vo ( F IG. 6).

(34)
(35)
(36)

Ma s, di f er ent e do meu ca der no de esb oç os ca ót i c os e s olt os, a l it ogr a vur a foi r ea l iza da enqua nt o t r a ba lho em s i. Ai nda r ela c i ona da a o p ensa ment o t r i di mens i ona l, ma s c o m u ma ex ist ênc ia pr ópr ia . Ess e r et or no à bi di mensã o qu e, de c er t a for ma , a gr a vur a me pr op or c i onou f oi ext r ema m ent e sa t is fa t ór i o por qu e, c omo diss e, é o p ensa ment o na bi di m ensã o qu e c onst it u i a or ige m e m es mo u ni f ica meus ob j et os . T ive r ec ei o de qu e essa l i ga ç ã o s e des f iz ess e p or qu e r ec onheç o a i mp or t â nc ia det er mi na nt e qu e ela t em pa r a mi nha pr oduçã o.

Já ma is envol vi da c om o t r a ba l ho s obr e pa p el r ea l iz ei a sér i e d e s er i gr a fia s à qua l denomi n ei Ost eol ogi a ( de qu e a s F IG. 7 e 8 fa z em pa r t e). Acr edit o, a gor a5, qu e o fa t o de t er r ea l iza do essa s ér i e f o i u ma a fir ma çã o dess e r et or no a o t r a ba lho bi di mens i ona l .

5

Di g o “a g or a ” p oi s n o m om en t o em q u e es sa s c oi sa s a c on t eci a m , eu n ã o p u d e p er ce b ê - l a s c om a cl a r ez a com q u e a s p er ce b o a g or a . Na q u el e m om en t o es sa i d éi a d e r et or n o a in d a n ã o est a va cl a r a par a m i m , e o en v ol vi m en t o c om a s i m a g en s q u e p r od u z i a d eco r r eu n a t ur al m en t e a tr a vés d a vi v ên ci a m esm o d a gr a vu r a.

(37)
(38)
(39)

S ã o s er i gr a fia s de lu ga r es cr ia dos p or des enhos de móvei s e el e ment os de p la nt a s , a mb i ent a dos s obr e u m fu ndo c or de p el e, cu ja c ont r a -for ma r evela fr a gment os de oss os. S ão c ha pa s de r a i os - X qu e pa ssei pa r a a t ela e i mpr i mi no pa p el pa r a, sobr e el es, cr ia r a mb i ent es a da pt a dos à s for ma s da ossa t ur a .

A a pr oxi ma çã o ent r e o i nt er i or da ca sa e el e ment os do c or p o s empr e me oc or r e. C omo diss e, a f i gur a hu ma na me i nt er essa p el os s eus r a str os, sua a usênc ia , seus fr a gme nt os. I nt er essa - me a r ela çã o dela c om a s c oisa s a o r edor . E a idéia t eve or ige m t a mb ém em u ma c ol eçã o. T a lvez p or ser f i l ha de médi ca ou por me a c i dent a r com c er t a fr eqü ênc ia , pa ssei a c ol ec i ona r mi nha s di ver sa s c ha pa s de r a ios - X. T enho -a s gua r da da s des de os 14 a nos e s e mpr e me fa sc i nou ver o la do de dent r o do c or po, c om a mes ma cur i os i da de c om qu e vej o o la do de dent r o da s c oisa s.

Gua r da va -a s a pr inc íp i o à t oa – u ma c ol eçã o como mu it a s out r a s –, dep ois c om o i nt u it o de fa z er a l go a pa r t ir dela s , ma s o pr et o da s c ha pa s, a cr ueza dela s e o ma t er ia l de qu e sã o f eit a s a s a fa st a va m do meu modo de t r a ba lha r . Enc ont r ei, na s er i gr a fia , u ma ma neir a ma is sut i l de a pr es ent á - la s p or poss ib i l it a r t r a nspor a s i ma gens no pa p el de out r a for ma (pr i nc ipa l m ent e de out r a cor ) e t r a ba l ha r por ci ma .

(40)

Essa sér i e, a l ém de ma r ca r u m pr oc ess o i mp or t a nt e pa r a meu t r a ba lho, u ne i nt er ess es di ver s os e cr ia r ela ç ões ent r e el em ent os a os qua is s empr e r et or no e dos qua i s fa la r ei ma is a o l ongo do t ext o : a ca sa , a s p la nt a s, os r a str os .

F oi ness e a mb i ent e het er ogên eo qu e s e deu a cr ia çã o dos m eus t r a ba lhos t r i di mens i ona is. N ess e cr uza ment o de i nt er ess es e di mens ões, de t éc ni ca s e modos de p ensa r e ol ha r , ness e enc ont r o de lu ga r es , na l eit ur a , na es cr it a . . . Há sempr e a l go de c ont a mi na çã o, d e hibr i dis mo, de i nt er dis c ip l i na r i da de.

Os ob j et os c onst r uí do s vir ã o a c ont er , i mpr egna da em sua ma t ér ia , u ma i mag em manual , c omo menc i ona Ba c h ela r d. Nã o s ei s e essa i ma ge m é c la r a pa r a a s pess oa s c omo o é pa r a mi m. M es mo qua ndo nã o s e t r a t a de u m t r a ba l ho ess enc ia l m ent e pr oduz i do p ela s mi nha s mã os ou qu e s e enca ix e na i déia de u m fa z er d a mão obrei ra , vej o essa i ma gem ma nua l a t r a vés de u ma hist ór i a do t r a ç o i ner ent e a os ob j et os. P ens o mes mo qu e s egur a r e or dena r os p equ enos el em ent os qu e c omp õem os t r a ba lhos é u m des enha r no espa ç o, c om a s mã os.

(41)

Mi nha i ncur sã o na t r i di mensã o nã o vem d e u m p ensa ment o nem mes mo de u m c onhec i m ent o esc ult ór ic o. Ess e c onhec i m ent o c er t a ment e enr i qu ec er ia a p r odu çã o ma s nu nc a se deu a t é ent ã o. F oi, t endo c omo ba s e mi nha dup la f or ma çã o – qu e me pr op or c i onou a vi vênc ia c om dua s di f er ent es f or ma s de p e nsa r e fa z er , c om dois dif er ent es a t el i ês –, qu e c onst r uí u m t r a ba l ho qu e na sc e d ess e enc ont r o híbr i do.

O pr oc es s o t odo s e i nic i ou p el o des enho, dep ois p ela gr a vur a e dep ois s e pr ol ongou na t r i di mensã o, ma s ho j e já nã o p oss o diz er o qu e na sc e onde e, dep ois , pa r a a onde va i. C om a pr á t i ca em a mb os os espa ç os , bi di m en sã o e t r i di mensã o s e t oc a m e s e s obr ep õem, s e just a p õem, s e c ont a mi na m. Essa r ela çã o ent r e ob j et o , des enho e gr a vur a já nã o é hi er á r qu ica , ma s u ma r ela çã o de c ont a mi na çã o mút ua . S empr e há t oda s a s c oisa s em ca da u ma dela s. D est a r ela çã o, t a nt o o t r a ba lho no pa p el qua nt o os ob j et os s ã o t r a nsf or ma dos e, or a a fir ma m sua s s em el ha nça s, or a sua s pa r t icula r i da des. P ens o ness e pr oc ess o t odo. S er ia u ma pa ssa gem? V ej o u m ca mi nho qu e l eva d e u m lu ga r a out r o. P a ssa gem t a l vez s oe ma is l i mp o e menos r ea l. T a lvez s eja a gl om er a çã o.

(42)

Mi nha pr oduçã o s e dir ec i onou a o c ont ext o do c ot i dia no na m es ma ép oca em qu e vi m a mor a r soz i nha p ela pr i meir a vez, em B el o Hor iz ont e. A f or t e r ela çã o qu e est a va s endo cr ia da c om a vi da domést i ca – t udo o qu e s e vi ve na ca sa , os ob j et os, o cu i da do c onst a nt e c om ca da c oisa – ma r ca o des enho, qu e vem a ma r ca r t oda a pr oduçã o. Uma nova i déia de t emp o e de espa ç o c ot i dia nos. Uma nova i déia de lu ga r .

E é na ca sa , sã o a s c oisa s da ca sa qu e est ã o t odos os dia s disp oní vei s a os ol hos e à s i déia s. S ã o ela s qu e , or a ex ist em, or a se a pa ga m e or a a c ont ec em a o noss o r edor dia r i a ment e. Ac ho, p or t a nt o, i nevit á vel qu e s eja m ela s a me p ovoa r . T odos sa bem do gr a nde ca os ur ba no. . . el e ma is me a ssust a qu e me ocupa . I nt er essa - me m es mo o p equ eno ca os c ot i dia no e os p equ enos del ír i os da s c oisa s, da or de m, da s pa la vr a s dent r o de qua t r o pa r edes .

Nã o desc onect o u ma da out r a : gr a nde pa r t e da mi nha a t ençã o pa r a c om o la do de dent r o s e dev e à des or dem r ui dosa e host i l da s r ua s, qu e cr ia p equ ena s i l ha s de is ola ment o ur ba no. O c ot i dia no em espa ç os pr i va dos e r est r it os s e t or na ca da ve z ma is c omu m e viá vel6.

6

E m bor a eu p en se q u e a s i n fi l t r a çõe s p ú bl i ca s n os esp a ç os p r i va d os cr es ça m , p ar a d ox a l m en t e, p ar a p ossi bi l i t ar essa vi d a ma i s r ecl u sa . E , a ssi m t a m bém , a s p ar ed es q u e s ep a r a m o p ú bl i c o e o p r i va d o – p a r ed e s q u e ca r r eg a m ta m bém i d éi a s d e s eg u r a n ça ( e fet i va s ou n ã o) , d e

(43)

F oi a ssi m, me r et ir a ndo, qu e desc obr i os a bis mos men or es e ma is si l enc i os os dent r o dess e mi cr oc os mo e m qu e a ca sa se t or na nos dia s a t ua is. F oi essa ex ist ênc ia c ur i osa e c ont i da em espa ç os r est r it os e u m qu est i ona ment o s obr e a s c ondiç ões a t ua i s do c ot i dia no – c omo a pr iva c i da de fr á gi l dos a pa r t a ment os e a i nc omu nica b i l i da de – qu e ger a r a m o t r a ba l ho At ra vés (F I G. 9 e 1 0 ). Um s ent i m ent o de is ola ment o, de p equ ena s u ni da des, ca da u ma volt a da a si pr ópr ia e r odea da p or out r a s uni da des i gua l ment e is ola da s.

Fi g u r a 9 – Th u l a Ka wa sa k i , A t ra v é s , 2 0 0 4 .

i n t i m i da d e, d e c on f or t o – vã o a os p ou c o s v e n d o seu si m b ol i sm o ser t r an sf or m a d o.

(44)

Fi g u r a 1 0 – Th u la Ka wa sa k i , A t ra v é s ( vi sã o i n t er n a d a s ca i x a s) .

À r evel ia de u ma ex ist ênc ia a pá t ica e monót ona , me pr op onho ess es p equ enos des vi os. E m c er t os mo me nt os vêm a t é a s er u ma cr ít ica à s c ondiç ões de vi da na c i da de, ma s em c er t os mo m ent os sã o u ma a c eit a çã o dess e est a do de s ol i dã o ur ba na . Di go a c ei t a çã o nã o s e m c er t o p es o na c ons c i ênc ia . Ma s nã o pr et endo disfa r ça r .

D ent r o dess e novo hor iz ont e n a sc eu u m c ompr omet i ment o ma is a t ent o c om o dia -a - dia , c om t odos os dia s , na t ent a t i va de nã o m e dei xa r eng ol ir : r ea vi va r o ol ha r a nest es ia do p el o ex c ess o, ol ha r qu e já ba na l iza pr ec i os i da des. O há b it o ofusca a s coisa s e a r ot i na s e

(45)

a cha t a , os dia s f ica m p la nos, a s coisa s s e a pou ca m. Acr edit o qu e o ex er c íc i o de r ec onhec er t ens ões, de del i nea r a est r a nheza do qu e é ób vi o s eja vá l i do c omo p ot ênc ia de u m fa z er . D es l oca ment os de p er c ep çã o. Qu e s eja m p equ en os e i nt er r upt os, qu e s eja m esc or r ega di os. A i déia nã o é s er Funes, o memori oso7. Ai nda qu e s e r ec onheça o gr a u de a nest es ia do ol ha r c om r ela çã o à s c oisa s c or r iqu eir a s, iss o ja ma is p er mit ir ia u m ex is t ir s empr e a t ent o e qu e na da dei xa esca pa r , como o del e . Ma s há s empr e a l g o qu e p ode s er f eit o. G ost o da s p equ ena s r es olu ç ões e da possib i l i da de qu e a a r t e – e a me mór ia – pr op or c i ona no a gir s obr e a ma t ér ia do mu ndo de ef et ua r op er a ç ões, est a b el ec er r ela ç ões, desa t i va r e a t i va r sent i dos.

No d es en h o m ir a r é escr e v er . Um a esp é ci e d e es cr i t a an a l fa bet a , on d e a s in for m a çõ es p r évi a s, r ep er t ór i o d e a fi n i d a d es el et i va s, i m a g en s esq u eci d a s, or i g i n a m o a t o cr i a t i vo. A a t en çã o va g u ei a , p er c or r e cen a s vá r ia s, d el in ei a ca mp o s va st os, m a r ca o p on t o ver b o, c or e og r a fa d e o l h o v en d a d o o q u e é s ó t en sã o. Qu a l q u er c oi sa , sen sa ç õe s e sp a ci a i s, h or i z on t es n a scen t es, a ju n çã o d os p l a n os, o ch ã o: so fr o s ô fr eg o, cl a u d i ca n t e d a ex i st ên ci a . 8

O ps i qu ia t r a e ps i ca na list a H él i o La ua r fa la a qu i do des enho ma s é de u m c onc eit o a mp l o de des enho qu e el e f a la : c omo p ensa ment o,

7

Per son a g em d e J or g e Lu i s B or g es q u e, a p ós u m a ci d en t e, d esc o br e t er a d q u ir i d o m em ór i a e p er cep çã o i n fa l í vei s.

8

(46)

c omo c onst r uçã o, c omo ol ha r , como es cr it a . C om a exp er i ênc ia do des enho, na sc eu u m ex er cí c i o do ol ha r e da escr it a t a mb ém. O bs er vo t oda s a s c oisa s a o r edor s empr e qu e p oss o, s empr e qu e me l embr o d e exist ir ma is a t ent a , e pr eenc ho meus ca d e r nos c om des enhos de a not a ç ões. N o des enho mir a r é escr ever .

Essa a t ençã o qu e va gu eia p or t oda s a s c ois a s t em s i do u ma bus ca c onst a nt e des de qu e mer gu l hei no u ni ver s o do c ot i dia no . G ost o da i déia de c or eogr a fa r t ens ões e m e i dent if i c o c om ess e qu ê de edi t or , de edi t a r a s i ma gens do mu ndo. As p equ ena s des c ob er t a s d ent r o d os dia s : É ne c essári o est ar prese nt e, present e à i magem no mi nut o da

i magem.9 O dia -a - dia , i nsí pi do a pr i nc íp i o, qu e va i s e r evela ndo, s e dei xa ndo ent r ever p or fr est a s e vã os e t r a nspa r ênc ia s. Di la t a r a s c oisa s c omu ns, obs er va r a t ent a ment e ca da u ma dela s. Ext r a ir el e ment os do c ot i dia no e fu ndi - l os em ob j e t os p oss í veis : c it a ç ões, cir ur gia s , ediç ões .

( . . . ) se p u d éss em os r est a u r ar n a pr óp r i a obs er va çã o u m a in g en u i d a d e t ot a l , i st o é, r evi v er r ea l m en te a o bs er va çã o i n i ci a l , r ea t i va r í a m os ess e c om p l ex o d e m ed o e cu r i osi d a d e q u e a c om p a n h a t od a açã o i n i ci a l sobr e o m u n d o. Gost a r í am os d e ver e t e m os m ed o d e v er . E i s o l i mi ar sen sí vel d e t od o c on h eci m en t o. Ness e l i m i ar , o i n t er ess e on d u l a , p er t ur ba - se, v ol t a .10

9 BAC HE LA R D. A p o ét i c a d o e sp a ç o, p. 0 1 . 10 I b i d e m , p . 1 2 2.

(47)

Busc o i nst a nt es dessa obs er va çã o i nic ia l de qu e fa la Ba c hela r d. Di go i nst a nt es p or qu e nã o é p oss í vel t er o ol ha r pl eno de cur i os i da de e a ssombr o o t emp o t odo , ma s busc o, na m edi da do poss í vel, es va z ia r a s coisa s com o ol ha r par a poder ent ã o r ee scr evê-la s. P r a t ico o ex er c í c i o de evê-la nça r u m pr i meir o ol ha r sobr e a qu eevê-la c oisa . C omo s e nu nca a hou vess e vist o , c om o s e nã o s oub ess e o qu e é, ne m pa r a qu e s er ve, ne m na da . D esa pr ender mes mo. O ol ha r qu e s e espa nt a c om o a bsur do da s c oisa s ób vi a s – da s c ois a s qu e s e t or na r a m ób via s . L embr o- me c onst a nt em ent e de u ma c ur t a na r r at iva de Ít a l o C a l vi no i nt it u la da O rai o , em qu e o na r r a dor , p or u m br eve mo ment o, deixa de ent ender t u do a o s eu r edor :

Ac on t ec eu - m e u m a v ez , n um cr u za m en t o, n o mei o d a m u lt i d ã o, n o va i vém . Pa r ei , p i sq u ei os ol h os: n ã o en t en d i a n a d a. Nad a , r i g or osa m en t e n a d a : n ã o en t en d i a a r a z ã o d a s c oi sa s, d os h om en s, er a t u d o s em s en t i d o, a bsu r d o. E com e cei a r ir . Pa r a m im , o est r an h o n a q u el e m om en t o foi q u e eu n ã o t i vess e p er c e bi d o i s s o a n t es. E t i ve ss e a t é en t ã o a cei t a d o t u d o: sem á f or os, v eí cu l os, ca r t a zes, fa r d a s, m on um en t os, essa s c oi sa s t ã o a fa st a d a s d o si g n i fi ca d o d o m u n d o, com o s e h ou ve ss e u m a n eces si d a d e, u m a coer ên ci a q u e l i g a sse u m a s à s ou t r a s. E n t ã o o r i so m or r eu em m i n h a g ar g an ta , cor ei d e v er g on h a . Gest i cu l ei p a r a ch a mar a a t en çã o d o s p a ssa n t es e – Pa r em u m m om en t o! – g r i t ei – t em a l g o est r a n h o! E st á t u d o er r a d o! Fa z em os c oi sa s a bsu r d a s! E st e n ã o p od e ser o ca m i n h o c er t o! O n d e va m o s a ca ba r ?11

11 C ALVI NO. Um g e n e ra l n a b i bl i o t ec a , p . 1 6.

(48)

O na r r a dor espa nt a -s e c om o fu nci ona ment o do mu ndo a t é qu e o s ent i do da s c oisa s volt a , a os p ou c os, a l he s er na t ur a l a i nda qu e t enha r est a do u ma c er t a i nqu i et u de e a esp er a nça de out r os la ps os em qu e el e p ossa nova ment e s e apod erar de ssa sabedori a di f erent e,

encont rada e perdi da no mesmo i nst ant e12.

Uma busca p or i nst a nt es a ssi m é o qu e, t a l vez, me mova . N ess es mo ment os , em qu e a s c oisa s s e des c ola m do s eu nome, de sua fu nçã o, do s eu s ent i do usua l e t u do s e r evela est r a nho , é qu e s e p ode vis lu mbr a r a novi da de da s c oisa s. É o pont o da r ei nvençã o. P ensa nd o ness es mo m ent os r ea l i z ei u m t r a ba l ho a o qua l dei o nome

L a hora muert a13 (F IG. 11).

12

I b i d e m , p . 1 7. 13

O t í t u l o em p or t u g u ês s oa m u i t o d r a má t i co, p or i sso op t ei p el o esp a n h ol , on d e “l a h or a mu er t a” é u m a ex p r ess ã o m a i s c or r i q u eir a e q u e d en om i n a a s h or a s va g a s ou l i vr es.

(49)

Fi g u r a 1 1 – Th u la Ka wa sa k i , La h o ra m u e rt a, 2 00 6 .

P ens ei n o dia -a - dia a ut oma t i za do, qu e p er c or r emos , c omo s endo u ma poss ib i l i da de ú nica e em i nst a nt es em qu e a lgo s ecr et o, sa gr a do t a lvez, nos é r evela do. P or u m i nst a nt e s ome nt e. Na s hor a s oc i osa s , ou na s hor a s em qu e há , p or a l gu m mot i vo, u ma p equ ena fr a t ur a no dia , u ma fr est a est r a nha , p or u m mom ent o t udo pa r ec e p er der o s ent i do, a na t ur a li da d e, a a pa r ênc ia ób via e ent ã o s e qu est i ona m a s c oisa s a o r edor . C omo a c ont ec e qua ndo s e ol ha a l gu ma c oisa p or mu it o t emp o a t é ela p er der o s ent i do , por fr a ções de s egu ndo, e dep ois , volt a r a ser ób via . C omo r ep et ir pa la vr a s a t é qu e ela s s e

(50)

t r a nsfor me m nu ma s onor i da de s em l ógi ca . Re pet i r rep et i r – at é f i car

di f erent e14.

Uma ver da de fu nda ment a l c i nt i la e, c om a mes ma f u ga c i da de, esca pa . Ma s a lgo dela p er s ist e: u ma i nqu i et u de, u ma esp er a nça , u ma visã o l ongí nqua e i nst a nt â nea do mu ndo vist o de f or a . Os mom ent os em qu e nos a p oder a mos dessa sa b edor ia dif er ent e de qu e fa la C a lvi no. E dep ois , s egu i mos noss o dia c om o s e t u do f oss e ma is ou menos a mes ma c oisa , c om o mes mo bur a c o no p ei t o. M a s a l go p equ eno, ess enc ia l e ir r epa r á vel f oi a cr es c ent a do a o c ent r o dos ol hos.

No la bir i nt o de C noss o a qu est ã o nã o é s e per der . S eu ca mi nho é úni c o e qua ndo nel e s e ent r a , só s e p ode ir a o c ent r o e, do c ent r o, s ó s e pode sa ir p or onde s e ent r ou . A di fi cu l da de qu e s e a pr es ent a n o mi t ol ógic o la b ir i nt o é a pr es ença do M i not a ur o, e sua l ógica é qu e a lgo dent r o del e c omp ens e o esf or ç o. O la b ir i nt o em s i t a mb ém é s eu pr ópr i o meca nis mo de def esa , qu e pr op õe obst á cu l os ( ment a is e fís i c os) a os via ja nt es e pr ot ege s eu c ent r o.

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F oi essa f or ma de la bir i nt o qu e esc ol hi p el o s eu ca mi nho ú nic o e p ela i déia de p oder r evela r u ma c oisa qu e va l ha t odo o r is c o. P or nã o s er u m a t r a vessa r pa r a chega r a out r o l uga r ma s u m a t r a vessa r pa r a r et or na r di f er ent e. Nã o i nvent ei mi n ot a ur os. O M i not a ur o, ness e ca so, é a pr ópr ia monot onia e est r eit e za dos dia s , a angúst i a

l abi ri nt í ca15, à qua l nã o s omos i mu nes . É a i déia de u ma i nt r osp ec çã o qua s e p er i gosa , qu e osc i la ent r e a c onqu ist a e a mor t e. É a lent i dã o qu e pa r ec e i ner ent e à i déia de l a bir i nt o : N ão há sonho

l abi rí nt i co rápi do. O l abi ri nt o é um f enôme no psí qui co da vi scosi dad e. É a consci ênci a d e uma massa dol orosa que se est i ca suspi rando16. P ar a Ba chela r d, a lógi ca do la bi r int o s empr e t em a ver c om u ma c er t a subt er r a nei da de, c om a s i ma gens de est r eit eza e c om a sol i dã o. A lut a é nã o s e dei x a r sufoca r .

N el e s e ent r a por onde s e sa i, ma s a p ess oa qu e sa i nã o é ma is a mes ma . O lu ga r a o qua l s e r et or na nã o é ma is o mes mo. A i déia s empr e pr es ent e de a l gu ma des c ob er t a , i mp r esc i ndí vel, no c ent r o, ca r r ega a i déia de u ma t r a nsf or ma çã o do i ndi ví du o e, p or t a nt o, de u ma t r a ns f i gur a çã o do mu ndo a o s eu r edor . O pr ópr io ca mi nha r ef et ua em pa r t e essa t r a nsf or ma çã o. C ami nha r pressupõe que a cada

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BAC HE LA R D. A Te rra e o s d ev a n e i o s d o re p o uso , p . 1 6 2. 16

Referências

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