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O olhar da enfermagem sobre o consumo do álcool na adolescência: Uma abordagem preventiva

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UNIVERSIDADE DO MINDELO

ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

Mindelo, 2015

CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ANO LETIVO 2014/2015 – 4º ANO

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Ineida Patrícia Recheado Pires

UM OLHAR DA ENFERMAGEM SOBRE O CONSUMO

DO ÁLCOOL NA ADOLESCÊNCIA:

UMA ABORDAGEM PREVENTIVA

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UNIVERSIDADE DO MINDELO

ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

Mindelo, 2015

CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ANO LETIVO 2014/2015 – 4º ANO

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Ineida Patrícia Recheado Pires

UM OLHAR DA ENFERMAGEM SOBRE O CONSUMO

DO ÁLCOOL NA ADOLESCÊNCIA:

UMA ABORDAGEM PREVENTIVA

Trabalho apresentado à Universidade do Mindelo como parte dos requisitos para obtenção do grau de Licenciatura em Enfermagem.

Orientadora: Mestre Denise Oliveira Centeio Eu, Ineida Patrícia Recheado Pires, atesto a originalidade do trabalho

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RESUMO

O consumo do álcool tem sido mundialmente um dos principais problemas de saúde pública. Esta investigação incide sobre esta problemática e visa descrever as intervenções de enfermagem que corroboram para a prevenção do consumo na adolescência. Trata-se de uma pesquisa de abordagem quantitativa, descritiva. Fizeram parte da amostra 80 adolescentes de ambos os sexos, com idade compreendida entre os 12 e os 18 anos, sendo a média de idades 15,49 (DP= 1,765). Os dados foram recolhidos através de um questionário de auto-relato. Os resultados revelaram que o consumo teve inicio numa idade bastante precoce, alguns dos quais ainda na infância. A esmagadora maioria dos participantes que experimentou o álcool em algum momento da sua vida continua o consumo, especialmente por influência do grupo de pares. Neste estudo, o consumo entre o grupo de pares, a atitude liberal dos pais e a não fiscalização das exigências legais foram identificados como fatores de vulnerabilidade da exposição do adolescente ao álcool. De realçar também que, parte destes adolescentes são de famílias onde o consumo do álcool é uma realidade, e o envolvimento em comportamentos de riscos para a saúde, designadamente brigas, acidentes e comportamento sexual desprotegido figuram como factuais. Genericamente, das intervenções de enfermagem plausíveis para os diagnósticos levantados, com base nos resultados, sublinham-se o Aconselhamento, a Educação para a Saúde, a Prevenção e tratamento do uso do álcool e melhoria do papel parental.

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ABSTRACT

The alcohol consumption has been globally a major public health problem. This research focuses on this problematic, aiming to describe the nursing interventions that support for the prevention of consumption in adolescent. This work is a research having quantiative and descriptive approach. Eighty adolescent of both sex, aged between 12 and 18 years, with average age is 15, 49 (SD= 1,765) participated in this study. The data were collected through a self-report questionnaire. The results revealed that consumption of alcohol began at a very early age, some of which still in its infancy. The overwhelming majority of those who tried alcohol at some point in their life still consume, especially under the influence of peer group. In this study, consumption among the peer group, the liberal attitude of the parents and not supervising the legal requirements have been identified as vulnerability factors of adolescent exposure to alcohol. Also noted that these teenagers are from families where alcohol consumption is a reality, and involvement in risk behaviors to health, including fights, accidents and unprotected sexual behavior appear as factual. Generally, the nursing interventions plausible rose for the diagnosis, based on the results underline is therapy, Education for Health, Prevention and treatment of alcohol use and improving the parental role.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho especialmente aos meus pais por serem a base da minha vida e por me darem coragem e força durante este percurso, mesmo nos momentos mais difíceis, lembrei-me deles e daquilo que cresci escutando deles “A vida é feita de sacrifícios”.

À minha irmã Vanda Recheado, às minhas filhas Márcia Almeida e Helaine Lopes, ao meu companheiro Lino Monteiro e à minha amiga Nilza Almeida, pelo apoio e por estarem sempre comigo nesta caminhada.

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AGRADECIMENTOS

Agradecer é reconhecer que este trabalho, que por muitas vezes pareceu tão solitário, só se tornou possível pela força, incentivo, amizade e amor de muitos.

Infelizmente não há espaço para agradecer nominalmente a todos pela contribuição direta ou indireta, mas com certeza estão no meu coração.

Primeiramente, agradeço à Deus pela força que me concedeu para abraçar este desafio e caminhar até chegar a esta meta. À ele agradeço pelos momentos de fraqueza que transformou em força e me tornou firme para concretizar mais esse desafio da minha vida.

À Câmara Municipal da Ribeira Grande e À Fundação Caboverdiana de Ação Social Escolar, por me terem concedido a bolsa de estudo, sem a qual não teria embarcado nesta aventura. Obrigada!

Certo de que a realização deste trabalho não seria exequível, sem o auxílio e estímulo de outras pessoas, deixo aqui expresso uma enorme gratidão à Mestre Denise Oliveira Centeio, pela orientação, apoio, comentários e críticas construtivas, colaboração e acima de tudo pela disponibilidade manifestada.

Aos Diretores e subdirectores pedagógicos das Escolas Secundarias de São Vicente, e aos professores. Obrigada pela disponibilidade. a vossa colaboração permitiu que este estudo se torna-se possível.

Aos adolescentes das Escolas Secundárias muito obrigada pela participação neste estudo.

Á minha filha Márcia por ter tolerado com paciência esses anos de distância, a quem esta distância mais dóí.

À minha irmã Vanda, por ser meu verdadeiro alicerce em todos os momentos da minha existência, pelo contínuo apoio, dedicação, paciência e amor.

Ao meu companheiro pelo apoio, paciência e palavras de coragem durante este percurso.

Às minhas irmãs – na verdade, irmãs de coração, mas é como se fossem minhas irmãs – Roseane e Rosemery, por serem meu suporte emocional, pelo estímulo, apoio, coragem, disposição nos momentos de desânimo e fraqueza que tive durante toda essa aventura.

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A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos capazes de resolver os problemas causados pela forma como nos acostumamos a ver o mundo.

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ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 7

1.1. Perspetiva histórica do álcool ... 8

1.2. Álcool e alcoolismo: Definições e Conceitos ... 9

1.2.1. Álcool ... 9

1.2.2. Alcoolismo ... 10

1.2.2.1. Alcoolismo Agudo ou Embriaguez ... 11

1.2.2.2. Alcoolismo Crónico ... 12

1.4. Epidemiologia do consumo do álcool ... 13

1.5. Efeitos do álcool sobre a saúde ... 13

1.5. Determinantes do comportamento alcoólico ... 15

1.6. Adolescência ... 18

1.7. Adolescência e consumo de álcool ... 19

1.8. Políticas Nacionais de prevenção do consumo do álcool ... 21

1.9. Intervenções de Enfermagem para o consumo de álcool ... 22

1.9.1. Intervenções de Prevenção Primária... 23

1.9.2. Intervenções de Prevenção Secundária... 25

1.9.3. Intervenções de Prevenção Terciária ... 25

CAPÍTULO II – FASE METODOLÓGICA ... 26

2.1 Tipo de estudo/pesquisa ... 27

2.2. Amostra/participantes ... 27

2.3. Instrumento de Recolha de Dados ... 28

2.4. Campo Empírico ... 29

2.4.1. Caraterização das Escolas Secundarias ... 29

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CAPÍTULO III – FASE EMPÍRICA ... 34

3.1. Apresentação e interpretação de resultados ... 35

3.2. Diagnósticos e Intervenções de Enfermagem………...56

3.2.1. Diagnósticos e Intervenções de Enfermagem para os adolescentes ... 56

3.2.2. Diagnósticos e Intervenções de Enfermagem para os Pais/ Famílias ... 56

3.3. Discussão e considerações finais ... 58

Referências Bibliográficas ... 62

Apêndices………69

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Consumo do álcool ... 35

Gráfico 2. Idade do primeiro consumo ... 36

Gráfico 3. Bebida do primeiro consumo ... 37

Gráfico 4. Motivo da experimentação ... 37

Gráfico 5. Sensação do primeiro consumo ... 38

Gráfico 6. Consumo atual ... 39

Gráfico 7. Frequência de consumo ... 39

Gráfico 8. Bebida de consumo atual ... 40

Gráfico 9. Aquisição da bebida ... 41

Gráfico 10. Sensação após consumo de álcool………42

Gráfico 11. Ressaca após o consumo ... 42

Gráfico 12. Conhecimento do consumo por parte dos familiares ... 43

Gráfico 13. Atitude dos familiares face ao consumo ... 44

Gráfico 14. Companhia de consumo ... 44

Gráfico 15. Motivo do consumo ... 45

Gráfico 16. Acessibilidade ao álcool ... 46

Gráfico 17. Consequências do consumo do álcool ... 46

Gráfico 18. Consumo de grupos de pares ... 47

Gráfico 19. Consumo familiar ... 48

Gráfico 20. Familiares que consomem ... 48

Gráfico 21. Família com problema com o álcool ... 49

Gráfico 22. Bebidas consumidas pelos familiares ... 49

Gráfico 23. Conflitos familiares ... 50

Gráfico 24. Tipos de conflito ... 51

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Gráfico 26. Percepção das consequências do consumo de álcool ... 52

Gráfico 27. Percepção dos tipos de consequências ... 52

Gráfico 28. Prevenção do alcoolismo nas Escolas ... 53

Gráfico 29. Estratégias preventivas do alcoolismo nas Escolas ... 54

Gráfico 30. Prevenção do alcoolismo nas Comunidades ... 54

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

a. C antes de Cristo

AVC Acidente Vascular Cerebral

CAP’s – ad Centro de Atenção Psicossocial – álcool e drogas CCCD Comissão de Coordenação e Combate à Droga

CID Classificação Internacional de Doenças

DSM Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

IDNT Inquérito Sobre Fatores de Risco para Doenças não Transmissíveis

MAS Assembleia Mundial da Saúde

MS Ministério da Saúde

NANDA North American Nursing Diagnostic Association NIC Classificações das Intervenções de Enfermagem

NUCDC Nações Unidas Contra a Droga e o Crime

OMS Organização Mundial da Saúde

ONG Organização Não Governamental

PALOP Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa

PJ Policia Judiciaria

PN Policia Nacional

PNDS Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário

SNC Sistema Nervoso Central

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INTRODUÇÃO

A presente investigação intitulada “Um olhar da enfermagem sobre o

consumo do álcool na adolescência: uma abordagem preventiva”, surge no âmbito

da conclusão do curso de licenciatura em Enfermagem pela Universidade do Mindelo. A escolha do tema deve-se, por um lado, às oportunidades de prestar assistência à utentes etílicos durante os ensinos clínicos e, por outro, às experiências vividas no seio familiar. Durante os ensinos clínicos verificou-se que são vários os casos de utentes etílicos que procuram pelos serviços de saúde e, acometidos pelas mais diversas complicações alcoólicas. Perante o cenário ergueu-se a preocupação em desenvolver uma investigação que focaliza o consumo de álcool sob o ponto de vista da enfermagem na sua grandeza preventiva. Assim, esta investigação incide sobre a adolescência, uma vez que os estudos que debatem este problema de saúde pública têm revelado que o primeiro contacto com o álcool ocorre particularmente na adolescência.

A adolescência é um período de notórias mudanças biopsicossocial. Nesta fase, os adolescentes têm a seu cargo as tarefas de procurar a identidade e conquistar a independência. Nisto absorve atitudes, ações e costumes do meio envolvente. Essas exigências evolutivas oferecem oportunidades de auto-exploração que, por vezes, culminam em comportamentos de risco como a experimentação do álcool.

Acredita-se que nesta fase o consumo seja na sua maioria pela obtenção de uma sensação de bem-estar. Contudo, tal sensação incentiva o indivíduo a abusar do álcool constantemente, evoluindo para a dependência. Esse uso indevido acarreta consequências nocivas tanto para o organismo jovem como para o desenvolvimento cognitivo e psicossocial do adolescente, além do impacto a nível da saúde mental.

Portanto, urge ilustrar as ações/estratégias de prevenção que podem reduzir os comportamentos de riscos e o consumo precoce.

Assim, para descrever e melhor compreender o problema, definiu-se, antes de mais, a pergunta de partida: Quais são as intervenções de enfermagem na prevenção

do consumo de álcool na adolescência?

Para responder à questão norteadora, os objectivos assumem-se de suma importância, em nível operacional. Assim, os objectivos enunciados foram:

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Objectivos específicos:

Identificar as características sociodemográficas da amostra;

Conhecer os factores que incitam o consumo do álcool nos adolescentes; Descrever os efeitos do álcool sobre a saúde;

 Identificar as intervenções de enfermagem na prevenção do consumo do álcool na adolescência.

Espera-se que esta investigação proporcione conteúdo que sirva para alargar e aperfeiçoar conhecimentos tanto à comunidade estudantil como ao profissionais de saúde, e traga ferramentas valiosas para a prática preventiva do uso/abuso precoce do álcool.

O presente estudo encontra-se estruturado em três capítulos distintos. Inicialmente, apresenta-se a introdução e, a esta segue-se o Capítulo I que versa o enquadramento teórico. Este contempla uma breve perspectiva histórica do álcool, definições e conceitos relacionados com o álcool e o alcoolismo. Contempla também uma explanação sobre as especificidades da adolescência assim como o consumo de álcool na adolescência. Por fim, o capítulo aborda as intervenções de enfermagem com ênfase em estratégias preventivas do alcoolismo. O Capítulo II consagra a metodologia onde será apresentado o tipo de estudo, o perfil dos participantes, o método de recolha de dados, a descrição do campo empírico e todos os procedimentos metodológicos. O Capítulo III versa a fase empírica. Neste serão apresentados os resultados obtidos com base na análise estatística descritiva e será apresentado também os diagnósticos e intervenções de enfermagem identificados na sequência dos resultados encontrados. A seguir ao Capítulo III apresenta-se as discussões dos resultados, as considerações finais e as propostas. O trabalho apresenta também referências bibliográficas, apêndices e anexos.

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JUSTIFICATIVA

O consumo de bebidas alcoólicas tem assumido grandes proporções no mundo inteiro, e vem sendo uma das grandes preocupações da sociedade, governos, instituições governamentais e não-governamentais e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Actualmente, o seu consumo maior pelos jovens adolescentes tem chocado e preocupado a sociedade civil pelas verdadeiras tragédias que inúmeras famílias têm vivido em consequência do uso desenfreado de álcool por seus filhos. Porém, estes continuam a beber arrebatadamente, sem pensar nos riscos que correm.

Muitas vezes o seu consumo é incentivado e a sua iniciação dá-se no seio familiar. O aumento deste consumo pelos adolescentes deriva não somente pelo estilo de vida, mas também do fenómeno de socialização, por estar bem arraigado na nossa cultura.

Como referido anteriormente, a escolha do tema foi motivado pelas vivências durante os ensinos clínicos e por questões familiares.

PROBLEMÁTICA

O consumo de álcool na adolescência tem sido cada vez mais merecedor de atenção no nosso País, pela morbi-mortalidade, incapacidade e impato hostil nas várias esferas da vida social que lhe estão asociadas, não só nesta faze como em fases mais avançada do ciclo da vida. Há um conjunto de indícios que deveras apontam para um aumento de consumo de drogas lícitas e ilícitas (Nações Unidas Contra a Droga e o Crime – UNODC, 2012).

Em 2012, a UNODC, em parceria com o Ministério da Justiça de Cabo Verde, fez o primeiro inquérito Nacional sobre a prevalência de consumo de substâncias psicotrópicas na população em geral (apresentado em Maio de 2013) e os dados revelaram que o primeiro contato com o álcool ocorre na adolescência. O inquérito indica que o álcool é a substância lícita mais consumida na população geral e que apresenta uma prevalência de 63,5% ao longo da vida. O primeiro contacto com bebidas alcoólicas verificou-se entre os 7 e os 17 anos, sendo a cerveja a substância mais frequentemente consumida, depois o vinho, licor, por último, o aguardente (CCCD/Ministério da Justiça, 2013:s/p.).

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Para além do inquérito nacional sobre a prevalência de consumo de substâncias psicotrópicas na população em geral que, revelou que o consumo do álcool dá-se em idades precoces, outro inquérito que analisou o consumo de substâncias psicoactivas nas escolas secundárias de Cabo Verde, vai ao encontro do que foi dito anteriormente, revelando o álcool a substância lícita preferencialmente consumida pela população estudantil. Cerca de 45,4% já experimentou pelo menos uma bebida alcoólica, ao longo da vida, evidenciado um consumo preferencial de bebidas espirituosas e de cerveja, depois aguardente e vinho. No que diz respeito às idades de iniciação ao consumo do álcool, respectivamente cerca de 6%, 8% e 12% de alunos tiveram a primeira experiência de consumo de cerveja, de vinho e de bebidas espirituosas antes dos 10 anos de idade. No que diz respeito a comportamentos de risco, a experiência de embriaguez acontece em idade precoce (antes dos 13 anos de idade) (CCCD/Ministério da Justiça, 2013, s/p.).

Segundo a OMS (2004:s/p) cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo consomem bebidas alcoólica e que cerca de 76,3 milhões tem diagnóstico de problemas relacionados com o álcool. Numa perspetiva de saúde pública, a carga da mortalidade e morbilidade relacionada com o consumo do álcool é significativa.

O álcool foi responsável por 3,8% (2,5 milhões) de mortes no mundo em 2004, mais do que a SIDA e a Tuberculose e, está entre os três principais fatores de risco de morte prematura e incapacidades no mundo. Constitui o principal fator de risco de morte nos homens com idade compreendida entre 15/59 anos. Cerca de 6,2% de todas as mortes nos homens são atribuídas ao álcool, e 1,1% nas mulheres (OMS, 2010:s/p).

Em 2011, a OMS registou os mais altos níveis de consumo na Europa Ocidental e do Leste, na Argentina, Austrália e Nova Zelândia. Registou nesse mesmo ano níveis de consumo médio na África Austral onde a Namíbia e a África do Sul apresentaram níveis mais elevados e, os mais baixos níveis de consumo foram registados nos países do Norte da África, na África subsahariana, na região do mediterrâneo oriental, no Sul da Ásia e no Oceano Indico (OMS, 2011: s/p).

Em todo o mundo, não apenas os que consomem álcool são vítimas das consequências do uso do álcool mas também outras pessoas próximas ou da comunidade como nos casos de violência ou agressões (OMS, 2004: s/p). O álcool está ligado aos acidentes de viação mas está também fortemente associado aos acidentes domésticos, acidentes de trabalho, brigas e afogamentos (Alimi e Chenu, 2003: s/p).

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Em Cabo Verde o consumo de bebidas alcoólicas está bastante enraizado na cultura e existe um ambiente propício para a livre circulação, produção e distribuição, oferta e ingestão de bebidas alcoólicas (Ministério da Saúde, 2014). Todas as ocasiões constituem pretexto para consumo de bebidas alcoólicas, sejam momentos de alegria, ou de tristeza.

Segundo o plano preliminar de ação contra o alcoolismo aprovado pelo Ministério da Saúde, o consumo abusivo do álcool, para além de ser um fator de risco para várias doenças crónicas, acarreta, pelas consequências conhecidas, embora não suficientemente quantificada, distúrbios mentais e comportamentais, mortes violentas e incapacidades por acidentes de trânsito ou agressões, violência doméstica, absentismo e incapacidade para trabalho, abandono escolar entre outros (PNDS, 2012/2016).

Dados do inquérito sobre as Despesas Familiares em 2001/02 mostram que em Cabo Verde, as famílias reservam igual percentagem (2%) do seu orçamento quer para o consumo de bebidas alcoólicas como para as despesas de saúde e que, comparativamente com as despesas da educação, parte do orçamento familiar dedicado ás bebidas alcoólicas é mais do que o dobro.

De acordo com o Inquérito sobre Fatores de Risco para Doenças não Transmissíveis (IDNT) 2007/08 o consumo perigoso (40-60mg/dia para homens e 20-40mg/dia para mulheres) de álcool é de 6,35% entre os homens e de 2,4% nas mulheres na faixa etária dos 25 à 64 anos de idade. O consumo nocivo, com valores maiores do que 60mg/dia para homens e menor que 40mg/dia para mulheres, é de 2,9% entre homens e 0,2% nas mulheres.

Dados mais recentes do I Inquérito Nacional sobre a Prevalência de Consumo de Substâncias Psicoativas na População Geral, realizado em 2012 pela Comissão de Coordenação do Combate à Droga, em parceria com o Escritório das NUCDC, revelaram que a droga lícita mais consumida é o álcool, com 63,5% ao longo da vida.

Ainda de acordo com esse inquérito, as prevalências de consumo variam entre as ilhas/concelhos, sendo a percentagem de pessoas com experiência de consumo de bebidas alcoólicas mais elevada nas ilhas de São Vicente (84,5%), S. Antão (80,9%) e Maio (80,7%), valores claramente acima do valor nacional (63,5%). A substância mais frequentemente consumida pelos inquiridos é a cerveja (86%), seguindo-se os licores/cocktails (71%), o vinho (68%), o grogue (41%) e, por último, as bebidas espirituosas (39% dos consumidores).

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Cerca de 37% dos inquiridos tiveram o primeiro contacto com bebidas alcoólicas com idades situadas entre os 7 e 17 anos. Esta situação reflete a constatação de casos de alcoolismo, mas não contempla os casos decorrentes de ações praticadas sob o efeito de álcool de que resultam intervenções dos serviços de saúde para reparação de agravos, nomeadamente as situações de violência doméstica, acidentes de viação, lesões relacionadas, lesões sobre terceiros, acidentes de trabalho, entre outros (INPCSPP, 2012)

Ainda, em relação à Cabo Verde, o Relatório da Situação Global sobre Álcool

e Saúde (2014) aponta para uma situação social e de saúde pública muito grave. Os dados dão claros sinais de alarme que impõe respostas urgentes. O Relatório explica ainda que Cabo Verde tem um consumo médio per capita de álcool superior à média africana, a mais alta taxa de mortes associadas ao álcool entre os Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP), e a maior percentagem de perturbações mentais ligados ao consumo do álcool.

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Antes de entrar concretamente em fundamentações teóricas, julga-se importante explanar, ainda que seja de uma forma breve, uma abordagem histórica sobre o álcool e alguns conceitos relacionados com o alcoolismo.

1.1. Perspetiva histórica do álcool

A produção e o consumo do álcool são práticas muito antigas. A história da humanidade mostra que desde sempre o homem apresentou certo apetite pela bebida alcoólica devido ao seu efeito euforizante (Mello, Barrias e Breda, 2001:11).

Segundo Mello e colaboradores (2001: 11), desde os primórdios que se conhecem os efeitos patológicos causados pelo uso de bebidas alcoólicas. Elementos arqueológicos e bibliográficos permitem pensar que a utilização das bebidas alcoólicas pelo homem e o conhecimento dos seus efeitos no indivíduo remontam ao período ante Cristã. Uma das referências mais antigas diz respeito a um baixo-relevo feito, muito provavelmente, 30000 a C. Admite-se que, no período paleolítico, o ser humano tomou conhecimento, de forma acidental, das consequências da ingestão do produto fermentado a que o mel, recolhido e armazenado em vasilhas artesanais, dera origem. No período neolítico, a fabricação da cerveja já era do conhecimento do homem.

De acordo com Tovar (1995:56), também os Egípcios, Gregos e Romanos são exemplos de povos que conheceram e desenvolveram o fabrico de bebidas alcoólicas, assim como as consequências do seu uso pelo ser humano.

A partir do século XI, a destilação do vinho deu origem a bebidas mais alcoólicas generalizando na Europa tomando em França, por exemplo, extraordinário vulto com as facilidades concedidas pelo estado aos “destiladores” (Mello et al, 2001:11,).

Ademais, Pinto (2010: 40) refere que, pelos efeitos e virtudes extraordinários, o álcool era considerado como tendo origem divina, pelo que o estado de embriaguez era visto como “sagrado”, na medida em que se pensava que, por um lado, o estado de embriaguez dava azo de aliança com as divindades e, por outro, conferia imortalidade. Por tais razões, as bebidas alcoólicas eram reservadas aos sacerdotes e chefes, e a sua produção feita por ocasiões de festas religiosas (Pinto, 2010:40).

O primeiro registo de embriaguez que se tem conhecimento, acha-se na Bíblia. Esta mostra que, depois do dilúvio em que Noé principiou como lavrador e passou a

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plantar um vinhedo, começou a beber do vinho e ficou embriagado (Géneses, 9:20,21). De acordo com (Pinto,2010:41/42), até a Idade Média a produção do álcool era especialmente caseira e a sua produção fazia-se por via da fermentação de cereais. A partir do século XVI, com a introdução da técnica de destilação pelos árabes, essas bebidas ganharam maior teor do álcool e tornaram-se produtos comerciais de grande vulto e passou a ser produzido e consumido em grande escala.

No século XVIII, com a Revolução Industrial, o álcool tornou-se um produto comercial de escala mundial devido a generalização do seu consumo (Breda,1994:40).

Durante muito tempo, o álcool foi sempre como uma moeda de duas faces. A produção e comercialização do álcool rendia grandes quantidades de dinheiro para os produtores e comerciantes, sobretudo, após a revolução industrial, com a inserção de novas técnicas de destilação de cereais, fazendo com que vários países se desenvolvessem economicamente (Borges e Filho, 2004: s/p).

O álcool é utilizado como fonte propulsor de desenvolvimento económico, fonte de prazer e facilitador de desinibição social, principalmente para jovens e adolescentes em vários locais de diversões. Devido ao seu efeito desinibidor, os jovens sentem, cada vez mais, necessidade do seu consumo, progredindo de um simples consumidor casual ou social para um consumidor pesado ou dependente (Marques, 1997: s/p).

Com esta configuração histórica, mais recentemente, considerou-se que o álcool seduz algumas sociedades e condimenta as relações sociais das mais diversas camadas sociais (A PONTE, 2013:5).

1.2. Álcool e alcoolismo: Definições e Conceitos

Para uma melhor compreensão do objecto de estudo, seguidamente apresentar-se-á algumas definições e conceitos relacionados com o consumo de álcool.

1.2.1. Álcool

O termo álcool tem a sua origem na palavra árabe al-kuhul que designava colírio feito de pó de um semimetal chamado antimónio, usado particularmente em cosmética, para as mulheres pintarem as pálpebras de tom branco azulado. No século XVI, a palavra “alkol” derivada do latim dos alquimistas passou a designar não só a

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substância química, mas também toda e qualquer substância obtida por destilação (Machado, apud Martins, 2009: 4).

Entende-se por álcool a substância etanol ou álcool etílico, principal componente das bebidas alcoólicas e cuja fórmula química é CH3CH2OH. É uma substância psicotrópica produzida através de fermentação ou destilação de cereais, cujo consumo pode conduzir à dependência física ou psicológica (A PONTE, 2013:23).

O álcool das bebidas alcoólicas é uma substância incolor, com gosto ardente e aroma característico. Este é proveniente da fermentação de alguns açúcares, designadamente glucose e frutose, por ação de microorganismos chamados leveduras ou

fermentos, mais precisamente de uma enzima que estas leveduras segregam (Borges e

Filho, 2013:8).

Ades e Lejoyeux (1997:29) afirmam que o efeito do álcool sobre as endorfinas variam em função da quantidade ingerida. Assim, baixas concentrações dessa substância aumentam a retenção da morfina e estimulam a atividade opióide cerebral, enquanto concentrações mais elevadas a inibem.

Schuckit (1991:79) argumenta que o álcool é um depressor do Sistema Nervoso Central (SNC) com o potencial de alterar quase todos os sistemas corporais, interferindo com o funcionamento das membranas celulares, respiração intracelular ou processamento de energia na maioria das células do corpo, especialmente do SNC. Além disso, o mesmo autor frisa que doses excessivas de álcool são verdadeiros anestésicos.

1.2.2. Alcoolismo

A terminologia foi introduzida em 1849 pelo sueco Magnus Huss. Para o sueco, o alcoolismo refere-se à um conjunto de manifestações patológicas do sistema nervoso, nas suas esferas psíquica, sensitiva e motora (Ades e Lejoyeux, 1997:35).

Contudo, foi em 1952, com a primeira edição do Diagnostic and Statistical

Manual of Mental Disorders (DSM – I), que o alcoolismo passou a ser considerado

como patologia. Anos mais tarde, o conceito, enquanto patologia, foi abordado na VIIIª Conferência Mundial de Saúde e então introduzido, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), na Classificação Internacional das Doenças (CID - VIII) (Pinto, 2013:5).

Kaplan e Sadock (1986:462) caracterizam o alcoolismo como uma perturbação crónica de comportamento que inicia da ingestão frequente de álcool passando a

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exceder o uso moderado e dietético da sociedade, interferindo na saúde do indivíduo e no seu funcionamento físico e psíquico.

A Sociedade Americana de Toxicomania e Alcoologia (1990, apud Ades e Lejoyeux, 1997:37) refere ao alcoolismo como uma patologia primária, crónica, caracterizada pela perda de controlo devido a ingestão de álcool, pela preocupação constante com o mesmo e por um consumo persistente de álcool ao ponto de surgir efeitos negativos, por uma distorção da sua perceção e por uma negação das alcoolizações.

Segundo a OMS (apud A PONTE, 2013:1), o alcoolismo é considerado a terceira causa de morte no mundo, perdendo somente para as neoplasias e doenças cardiovasculares.

O álcool, após ser ingerido, é totalmente absorvido pelas membranas do aparelho digestivo sobretudo no estômago. Cerca de 5-15% são excretados diretamente pelos pulmões, urina e suor e o restante é metabolizado no fígado. Ao contrário do que sucede com os alimentos, o álcool é absorvido atravessando a mucosa digestiva sem sofrer prévia digestão e, dessa forma, órgãos nobres como o fígado, rins e cérebro são rapidamente afectados (Schuckit,1991:87).

1.2.2.1. Alcoolismo Agudo ou Embriaguez

Trata-se de conjunto de perturbações físicas e psíquicas apresentado pelo o indivíduo (ébrio) como resultado de uma dose excessiva de uma bebida alcoólica. O quadro de embriaguez é peculiarmente caracterizado por um estado de euforia, de desinibição e excitação, perda de controlo de palavras, acções, equilíbrio e até mesmo de consciência (Mello, 2010:18).

Refere o autor que tal quadro pode complicar-se por crises convulsivas, e por outros sintomas que agravam a situação, levando à embriaguez “patológica” que apresentam sintomas de excitação e delírio. Nisso, o autor distingue três formas de embriaguez: a primeira, designada alucinatória, caracteriza-se pela presença de alucinações visuais e auditivas e episódios de violência durante a embriaguez; a segunda – delirante – caracteriza-se pelas ideias de perseguição, megalomanias, ciúme, etc.; e a terceira – excito-motora – caracteriza-se pela excitação verbal e de movimentos,

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1.2.2.2. Alcoolismo Crónico

Alcoolismo crónico é o estado decorrente do uso habitual e repetitivo de bebidas alcoólicas, mantendo-se o organismo continuamente sob a ação de quantidades de álcool que, podendo ser em pequenas doses, somam, contudo, diariamente, uma quantidade superior àquela que o fígado pode destruir. Assim o estado de alcoolismo agudo/ embriaguez pode ocorrer no alcoolismo crónico, dependendo do nível de álcool no sangue e não da alcoolização continuada do organismo (Mello, 2001:18/19).

As perturbações, ligadas ao alcoolismo, manifestam-se sobre os vários sistemas do indivíduo, levando-o a dar entrada nos hospitais por doença, direta ou indiretamente ligada ao uso abusivo do álcool (Rozin e Zagonel, 2012:315).

Mello (2001:35) sublinha que o consumo abusivo e exagerado de álcool está altamente relacionada com as principais causas de morte no mundo, nomeadamente com as doenças cardiovasculares e oncológicas, acidentes, suicídios, cirrose hepática, etc. Acrescenta o autor que a mortalidade ligada ao álcool é óbvia na diminuição da esperança média de vida do bebedor excessivo, quando comparada com a do bebedor normal.

1.3. Dependência do alcoólica

O decurso da dependência do álcool desenvolve-se como qualquer outra dependência de substâncias psicoativas (Lemos, 2008:53).

Caçador e Antunes (2012:5) e Schuckit (1991:24), definem a dependência alcoólica como uma necessidade frequente e contínua de consumo de bebida alcoólica para obtenção de uma sensação prazerosa. O dependente é caracterizado pela falta de auto controle no que tange ao consumo.

Schuckit (1991:24) diferencia dependência física da psicológica, postulando que esta última corresponde ao uso abusivo do álcool, em que o usuário necessita de consumir para atingir um nível de relaxamento ou sentimento de bem-estar, enquanto, a dependência física caracteriza-se pela adaptação fisiológica do uso crónico dessa droga, apresentando sinais e sintomas (cf. Anexo I) quando é interrompida bruscamente ou este para de consumir ou interrompe o seu consumo. Esta dependência é promovida por dois aspetos importantes: Por um lado, a tolerância – a qual Townsend (2009: 459) explica que, o organismo precisa de doses cada vez maiores para atingir os efeitos

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desejados, ou seja o sujeito torna-se dependente dessa substância com a capacidade de suportar doses maiores, criado originalmente por uma dose menor, e por outro, a

síndrome de abstinência alcoólica que, para Schuckit (1991:25), é caracterizada por

um conjunto de sinais e sintomas que surgem quando um indivíduo ingere grandes quantidades de álcool todos os dias e de repente para de fazer o uso dessa substância.

1.4. Epidemiologia do consumo do álcool

Dados estatísticos sobre o consumo de álcool nos adolescentes a nível mundial mostram que o início do consumo é feito da passagem da infância para a adolescência e que o álcool é utilizado, pelo menos uma vez por mês, por mais de 50% dos estudantes do último ciclo nos Estados Unidos, onde 31% embriagam-se mensalmente. O consumo varia tendo em conta algumas especificidades individuais e, nisso, nos rapazes, esse consumo parece associado com uma enorme frequência à criminalidade (Caron e Rutter, 1991; Clark, Watson e Reynolds; 1995).

Nos países ocidentais, aproximadamente 50% das mulheres e 2/3 dos homens não bebem ocasionalmente. A faixa etária onde se regista maior consumo per capita é a dos 16 aos 25 anos. Porém, parece haver uma maior diminuição do consumo com a idade (Schuckit, 1998:90).

Segundo Mello e colaboradores (apud Martins 2009:23) em Portugal, mais de 60% dos jovens com idades entre 12 e 16 anos e mais de 70% acima dos 16 anos consomem bebidas alcoólicas regularmente.

Segundo os mesmos autores, o consumo do vinho tem vindo a reduzir, mas o consumo de cerveja e bebidas destiladas tem vindo a aumentar. O consumo nos homens e significativamente superior comparativamente ao consumo nas mulheres, embora nestas tem-se verificado uma tendência de aumento.

O álcool é uma das substâncias psicoativas mais precocemente consumido pela população jovem. O seu uso abusivo é quase endémico, contudo os adolescentes são aqueles mais vulneráveis (Soares, 2006:s/p).

1.5. Efeitos do álcool sobre a saúde

O alcoolismo é uma patologia que causa danos em diferentes vertentes, nomeadamente físico, psíquico e social que acarreta inúmeros problemas para o próprio

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No SNC, o álcool começa por produzir inicialmente depressão das funções superiores exercidas pelos lobos frontais, responsáveis pela manutenção dos valores e auto-perceção. Além disso, provoca efeitos maléficos sobre o juízo critico, a capacidade de tomar decisões e o tempo de reação do indivíduo. Conforme a dose, poderá chegar a uma síncope respiratória e levar à morte (Goodman, 1997:128).

Como referido anteriormente, grande parte do álcool ingerido é metabolizado no fígado. Acontece que quando este órgão é constrangido a metabolizar enormes quantidades de álcool, produz gorduras que se acumulam de tal modo que o fígado aumenta de tamanho e fica sobrepesado de gordura, ocorrendo assim, o chamando fígado gordo. Este causa a destruição de células hepáticas sadias com formação de tecido fibroso e causa a chamada Cirrose hepática, doença fatal (Murad, 1998:158).

Para Goodman (1997:129), existe um conceito popular de que o álcool “seria útil ao coração e aos vasos por causa de sua possível ação vasodilatadora”. O que de fato acontece é que, a possibilidade de aumentar os níveis de lipoproteínas de alta densidade no sangue, reduz um pouco os riscos de ataque cardíaco, nas pessoas que bebem pouco álcool. Nos bebedores habituais e nos alcoólatras, ele produz efeitos prejudiciais ao sistema cardíaco, elevando a carga de trabalho do coração e reduzindo o fluxo sanguíneo nas artérias coronárias destinado ao músculo cardíaco.

Corroborando o parecer de Goodman, Murad (1998:159) acrescenta que ao nível do miocárdio, além da diminuição do rendimento cardíaco, há também uma redução da contratilidade das fibras musculares do coração, alterando sua força e regularidade dos batimentos cardíacos, causando arritmias fatais, pressão arterial, angina, flebite e acidente vascular cerebral (Murad, 1998:159).

Ainda Goodman (1997:129) mostra que, indivíduos que bebem apresentam maior risco de neoplasia de boca, esófago, estômago, bexiga, pulmão, pâncreas intestino e próstata. Além disso, podem aparecer também pancreatite e lesão de nervos periféricos.

Murad (1998:160) frisa que “álcool ao ser metabolizado no organismo libera proximamente 7 calorias por grama”. Sendo, portanto, um produto calórico mas sem qualquer valor nutritivo, pois não possui proteínas nem vitaminas ou outros componentes vitais. Assim as pessoas que bebem apresentam um risco muito maior de sofrerem de deficiências da nutrição e de doenças correlatas, incluindo anemia, obesidade, carências de vitaminas do complexo B, niacina, tiamina, ácido fólico, potássio, zinco e magnésio.

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Face aos alcoólatras crónicos, Mello e colaboradores (2001: 53-54) expõem que, ao nível do sistema hemático, há em regra, uma diminuição de plaquetas, alterações da série branca e da coagulação do sangue.

Os mesmos expõem que o aparelho locomotor é também alvo de complicações do álcool pois, não raro, os alcoólatras crónicos relatam perturbações músculo-esquelético, nomeadamente traumatismo e atrofia óssea.

Ao exposto, Townsend (2009: 464-5659 acrescenta encefalopatia de Wernicke, psicose de Korsakoff, varizes esofágicas, e enfatiza que o consumo de álcool durante a gravidez pode resultar em uma síndrome denominada de síndrome alcoólica fetal que causa danos no desenvolvimento físico e psíquico do feto.

Por seu turno, Mello (2013: 19) aponta que o alcoolismo crónico acarreta fundamentalmente problemas do trato grastrointesntinal mormente náusea, vómitos, azia e dores abdominais. Adicionalmente, ou autor refere a impotência sexual como outra complicação do abuso crónico de álcool. Todavia, o autor realça que, além dos órgãos do corpo, a saúde mental também é afetada pelo alcoolismo crónico.

Assim, das complicações psíquicas mais frequentes do abuso crónico de álcool destacam-se o delirium tremens, demência alcoólica, dificuldade em raciocinar, comprometimento do senso moral e de responsabilidades, enfraquecimento da vontade, alteração do humor e do carácter, irritabilidade, alucinose alcoólica, ciúme patológico, perturbações ansiosas e depressivas, etc. (Mello, 2010: 27).

Na óptica de Barrias (2006:314), a ingestão desmedida de álcool expõe o indivíduo à comportamentos que aumentam a sua probabilidade de ferir e até morrer, nomeadamente condução de veículos motorizados e consequentes acidentes, mas também acidentes de trabalho e envolvimento em brigas e delinquência.

1.5. Determinantes do comportamento alcoólico

O comportamento alcoólico foi objeto de estudo de várias áreas e correntes teóricas, nomeadamente a Neurobiológica, Psicopatologia e áreas afins, porém, até agora, nenhuma delas foi capaz de explicar plenamente o fenómeno. Tal facto faz crer que o consumo abusivo de álcool tem uma etiologia multicausal (Townsend, 2009:459-60).

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Assim, sem pormenorizar teorias explicativas do consumo de álcool, alguns fatores parecem justificar o consumo de álcool. Dentre esses faotres pode-se destacar: i) fatores biológicos ou genéticos; ii) fatores psicológicos, e iii) fatores socioculturais.

i) Fatores biológicos ou genéticos

Para Townsend (2009:460), a genética tem um grande impacto no desenvolvimento de distúrbios relacionados com o álcool. Segundo o autor, os filhos de alcoólatras têm três vezes mais propensão, que as outras crianças, de se tornarem alcoólatras”.

Uma segunda hipótese biológica prende-se com a possibilidade do álcool produzir substâncias semelhantes a morfina no cérebro e que são responsáveis pela dependência de álcool (Pacheco, 2009:35).

As probabilidades de fatores genéticos envolvidos nos aspetos de dependência química são de grande importância na contemporaneidade, uma vez que as pesquisas genómicas têm apontado particularidades para o fato de funções neurobiológicas tornarem o indivíduo propenso ao uso de eventuais substâncias ilícitas (Abraão, 1999:6).

ii) Fatores Psicológicos

Em alguns casos, encontra-se ligado também à transtornos de ansiedade e timidez, em que o indivíduo usa o álcool como remédio, servindo de desinibidor. Mesmo para o bebedor moderado, o álcool proporciona, quase sempre, sensação de relaxamento e bem-estar e, tal sensação pode perfeitamente incentivar o indivíduo a abusar do álcool constantemente (Gomes, s/a: 43).

Pode-se dizer que a personalidade influencia também o uso de álcool, estando o uso abusivo de substâncias associado à personalidade anti-social. O consumo de álcool constitui forte arma, ajudando assim os indivíduos com personalidade anti-social a se inserirem na sociedade. Pessoas que apresentam baixa auto-estima ou depressão tendem a consumir de forma abusiva o álcool para se sentirem eufóricos, como também para evitar problemas e diminuir a ansiedade (Gomes, s/a: 43).

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Indivíduos ressentidos, frustrados, com sentimento de culpa, e outras experiências e sentimentos geradores de ansiedade, poderão recorrer ao uso excessivo do álcool como forma de aliviar-se deles ou na tentativa de afastar os seus fantasmas inconscientes (Townsend, 2009:461).

iii) Fatores socioculturais

Segundo Wallon O homem é um ser geneticamente social (apud Tourrette e Guidetti, 2012: 23).

Esta sua natureza faz com que procure constantemente aproximação de diferentes grupos e, viva de acordo com normas estabelecidas nos grupos em que se vai inserindo. Primeiramente na família – socialização primária e, posteriormente com outros grupos (escola, grupo de pares, etc.) – socialização secundária. É por meio da socialização em diferentes grupos sociais que se aprende as regras de conduta que são observadas pelos membros do grupo e, portanto, as formas de agir e pensar que são fundamentais para o indivíduo conviver em sociedade. É durante a socialização primária que o homem aprende as principais regras de conduta, normas, valores, posições éticas e relações pessoais e de afectividade que irá possivelmente manter ao longo da vida.

De acordo com Ramos (2004:56), a família é a primeira instituição com quem a criança tem contato e os hábitos, nomeadamente os de saúde, que adquire dependem em larga medida desse ambiente. Segundo o autor, a família é um espaço de proteção, desenvolvimento, carinho, organização estrutural, emocional e identitária, mas também é um lugar de opressão, de conflito, de desestruturação e de violência, podendo constituir ora como fator de proteção ora como fator de risco.

Explica (Ramos, 2004:177) que uma criança que se encontra inserida num meio onde existem diversos problemas como alcoolismo, tem maior possibilidade de desenvolver hábitos alcoólicos.

Por outro, é notório o consumo de álcool entre os adolescentes devido à pressão dos grupos. É nos grupos de pares que o adolescente afirma as suas diferenças geracionais e se obriga muitas vezes a grandes exigências identificativas, constituindo num fator de incentivo a novas experiências pra o consumo e outros riscos (Pinto, 2013:45).

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Sabe-se também que o comportamento alcoólico está relacionado com várias crenças, tradições, falsos conceitos e superstições. Crê-se, por exemplo, que o álcool aquece o organismo, mata a sede, dá força, facilita a digestão e funciona como um remédio” (Mello, 2013:22/26). Contudo tais crenças, não são mais do que meros mitos em torno do álcool.

Em suma, o alcoolismo é uma patologia que integra aspetos biológicos, psicológicos e sociais e, a interacção destes aspetos bem como, as decisões do comportamento do indivíduo, podem determinar o processo no qual a pessoa ficaria, gradualmente, ao longo dos anos, dependente do álcool (Townsend, 2009:461).

1.6. Adolescência

O termo adolescência advém do verbo latino “adolescere” que significa crescer para adulto (Simões, apud Caçador e Antunes, 2012:1).

A OMS (2007: s/p) e não só, conceitua a adolescência como o período de transição da infância para a idade adulta.

Segundo Outeiral (1994:46), a exactidão na definição e calendarização da adolescência, no que se refere ao ponto inicial e ponto final, é alvo de diversas discussões devido a influência de fatores genéticos, sociais, culturais e fenómenos sociológicos.

Para Sampaio (1997:s/p), foi a partir de do século XX que a adolescência tomou contornos mais esclarecidos, através das investigações realizadas, na qual tornou-se compreensível que a adolescência carateriza-tornou-se por modos peculiares de pensar, sentir e agir e com tarefas evolutivas claramente definidas: conquista da autonomia e procura da identidade.

Relativamente à autonomia, Fleming (1993:87) aclara que após o longo período de dependência e proteção, isto é, da infância, o adolescente vive um rápido crescimento que através de mudanças biológicas, fisiológicas, cognitivas e outras o prepara para a autonomia. Conforme Rozin e Zagonel (2012:314), nesta conquista, o adolescente desprende-se progressivamente dos pais e lança-se no mundo.

Porém, ao deixar para trás os papéis infantis, o adolescente preocupa-se em encontrar a sua identidade.

Acerca da identidade, Sampaio (1997:s/p) refere que o compromisso principal do adolescente é a procura de uma identidade. Para o autor, a identidade resulta da

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assimilação e rejeição das identificações suportadas ao longo da vida, assim como das interações entre o desenvolvimento pessoal e as influências sociais.

Para Fonseca (2002:67), a tarefa identitária opera pela identificação do adolescente com o seu grupo de tal modo que se veste, fala e se comporta como os outros elementos do grupo.

1.7. Adolescência e consumo de álcool

Nem sempre a procura da identidade se processa de forma suave.

De acordo com Rozin e Zagonel (2012:315) a inserção do adolescente no meio social, deixa-o exposto à situações diversas, nomeadamente ao álcool. Acerca disso, Freyssint, Dominjon e Wagner (2006) referem que o fácil acesso ao álcool e o facto de o seu consumo estar intimamente ligado à atividades prazerosas, quer festivas ou de outra natureza, confluem no contacto precoce do adolescente com o álcool.

Além do mais, como explica Fonseca (2002:67), por um lado, a autonomia alcançada possibilita uma maior auto-exploração através da experimentação de novas sensações e interessando por condutas que envolvem o risco. Por outro, a necessidade de adesão, afirmação e aceitação nos grupos de pares é tanta que procuram novas sensações no mundo que os rodeia, sendo, por isso, bastante influenciáveis pelos grupos de pares vulneráveis.

A preferência pelo consumo de álcool por adolescentes ocorre pelos efeitos da substância que, no início, é de bem-estar. Além disso, proporciona satisfação, fácil inserção no grupo e fonte de alívio para o stress familiar e escolar (Simões, 2006: 148).

Muitos adolescentes consomem bebidas alcoólicas em busca de uma sensação de desinibição, sentindo-se auto-suficiente para evitar ou resolver todos os tipos de problemas. Porém essa sensação é momentânea e substituída rapidamente por sonolência, visão turva, diminuição motora, problema em recordar o que aconteceu, problemas estomacais, vesicais e intestinas, intoxicação, etc. (Mello, apud Martins 2009:19).

Um episódio de consumo exagerado de álcool pode causar um “blackout” ou perda de memória por acontecimentos que ocorreram durante o episódio de bebida. A perda de consciência é temporária mas pode persistir durante algum tempo depois do episódio de bebida que a causou (Ziegler, Wang, Yoast, Dickinson, Mcaffree,

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Para Bellé, Sartori e Rossi (2007:120) os adolescentes mais vulneráveis que consomem álcool, têm a tendência de ter diminuição da coordenação motora e dos reflexos comprometendo a capacidade de locomoção, podendo levar a situações grave.

Nesta mesma sequência, Pechanky, Szobot e Scivoletto (2004:14) citam alguns sintomas do consumo abusivo do álcool na adolescência como: lapsos graves da memória, aprendizado e inteligência. Segundo estes autores, os danos associados ao álcool estendem-se ao longo da vida e, os seus efeitos repercutirão na neuro-química cerebral, em pior ajustamento social e no retardo do desenvolvimento de suas habilidades, já que um adolescente ainda não está estruturado em termos biológicos, sociais, pessoais e emocionais.

De salientar que os prejuízos decorrentes do uso do álcool em um adolescente são diferentes dos prejuízos evidenciados em um adulto. Os danos são maiores no organismo do adolescente uma vez que o organismo deste não tem a capacidade de metabolizar o álcool tanto quanto ao do adulto, como também as especificidades existenciais da própria etapa ou pelo amadurecimento do cérebro (Sílvia, 2010:13).

Rozin e Zagonel (2012:317), afirmam que a autopercepção do abuso do álcool, não é vista, na maioria das vezes, pelos adolescentes, como uma substância com enorme potencial de riscos à saúde, além de muitos não o entenderem como droga.

A literatura revela que a pressão dos amigos ou grupos de pares que consomem álcool, a estrutura e o ambiente familiar, a excessiva tolerância dos pais, a publicidade, a própria cultura da sociedade, o fácil acesso e baixo custo do álcool são os principais motivos por que os jovens adolescentes consome álcool (Carvalho, Lemos, Raimundo, Costa e Cardoso 2007:32).

Por conseguinte, Harnett, Herring e Kelly (2000:62), mostram suas preocupações relativamente aos padrões de consumo de álcool adotados pelos adolescentes. Segundo estes autores existem oito estilos de consumo de álcool:

i. Chilhood – quando o consumo do álcool acontece em casa com os pais, durante

uma refeição ou um momento festivo;

ii. Adolescent – ocasiões em que estão com os amigos, na ausência de familiares;

iii. Experimental – associado a maioridade e à possibilidade de frequentar

discotecas, caracteriza-se pela procura de novas experiências com o álcool, novos tipos de bebidas, novos contextos e talvez, novos amigos

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iv. Sociable – o consumidor vê o consumo como um facilitador de relações sociais

e, portanto, o consumo é moderado;

v. Recreational – onde geralmente ocorre “ mistura de bebidas”, o consumidor

desperta o gosto pela embriaguez e planeia encontros com amigos para se embriagarem;

vi. Safe – o indivíduo pretende conservar o seu bem-estar físico e social,

procurando minimizar os riscos de causar danos tanto a si como aos outros, diminuindo o consumo para manter a lucidez e eficiência mental;

vii. Therapeutic – o consumo tem por objetivo aliviar algum tipo de mal-estar ou

sintoma “ beber para esquecer, vencer timidez ou insónia”;

viii. Structural – o consumo está relacionado com outros fatores estruturantes da

vida do consumidor, “ estudo, emprego”, e o objetivo é esquecer, mesmo que seja por um curto período de tempo.

1.8. Políticas Nacionais de prevenção do consumo do álcool

O governo de Cabo Verde, consciente do consumo de álcool e do agravamento a nível mundial, tem investido esforços no combate a esse flagelo, junto com a comunidade internacional. Ciente disto a “Assembleia Mundial da Saúde (AMS), aprovou em 2010 uma resolução transferindo estratégias global para tratar do uso abusivo do álcool referindo a políticas públicas de controlo do álcool (A PONTE, 2014:4).

Do ponto de vista governamental, o Ministério da Justiça, através da Comissão de Coordenação de Combate à Droga (CCCD), o Ministério da Saúde, a Policia Nacional (PN) e a Policia Judiciaria (PJ), o Plano Preliminar de Luta Contra o Alcoolismo (2009), a Política Nacional de Saúde e outros, sobressaem-se no país como entidades de referência no combate ao álcool.

O Ministério da Saúde de Cabo Verde tem desenvolvido várias ações e políticas de combate ao álcool, nomeadamente no que tange a prevenção e diagnóstico precoce.

 Na aplicação rigorosa da lei que proíbe a venda, distribuição de bebidas alcoólicas entre menores e a publicidade das mesmas (lei nº 271/V/97);

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 Na implementação de instrumentos de eficácia comprovada, a nível da atenção primária para o diagnóstico precoce do risco de dependência;

 Na informação da sociedade sobre a gravidade do risco e sobre a necessidade e formas de combate aos efeitos nefastos resultante do consumo excessivo do álcool.

O Ministério da Saúde desenvolveu um Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário (PNDS) para os anos de 2012/2016, que visa a luta contra os efeitos nefastos resultantes do consumo abusivo do álcool. O documento, encoraja ações conjuntas intrassectoriais para uma abordagem integrada aos problemas relacionados com o uso abusivo do álcool e o alcoolismo. Cabo Verde, conhecendo a complexidade do alcoolismo, admitiu em 1998, um programa inteirado no combate à droga considerando os domínios da prevenção das toxicomanias, do tratamento, reabilitação e inserção social do toxicómano e do combate ao tráfico.

No que diz respeito às leis que regem o consumo do álcool, a lei nacional não proíbe a produção, apenas regula as condições que ela deve ocorrer, e em relação ao consumo, a legislação proíbe a venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos. (cf. Anexo II)

Do ponto de vista não-governamental, das ações e iniciativas de combate e controlo do álcool, destacam-se as Organizações Não-Governamentais (ONG) e as Organizações da Sociedade Civil que na sua pluralidade têm influência na intervenção de planos de luta conta o álcool, destacando-se a Associação Cabo-verdiana de Prevenção do Alcoolismo (Barros, 2014:49).

Neste âmbito foram definidas intervenções prioritárias no combate a esse flagelo (A PONTE, 2014:5). (cf. Anexo III)

1.9. Intervenções de Enfermagem para o consumo de álcool

Por intervenções de enfermagem entende-se quaisquer ações autónomas de acordo com os pressupostos técnicos e científicos da profissão, seguindo o percurso predito pelo diagnóstico de enfermagem com o estabelecimento de metas a serem alcançadas, de modo a atingir os objectivos de auxilio do cliente (Bulechek e McCloskey, 1985:10).

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Na perspetiva de Abreu (2008;s/p.), as intervenções de enfermagem consistem na concretização lógica de todo o processo racional e sistemático de assistência, transferindo para o campo clínico o pensamento, o planeamento e definição da estratégia terapêutica.

Para que tal aconteça é necessário que os enfermeiros tenham uma formação pessoal, teórica e prática adequada que lhe permita também intervir de forma adequada (Townsend, 2009:800).

Em casos de alcoolismo, é necessário uma abordagem multidisciplinar abrangendo diversos profissionais como psiquiatria, assistente social, psicólogo, terapeuta ocupacional e enfermeiro. O enfermeiro deve trabalhar em cooperação continuamente com essa equipa e devem assegurar a continuidade do cuidado (Townsend, 2009:800).

Mesquita, Halpern e Buccreichi (s/a:134) apontam que a enfermagem não só trabalha na reabilitação do utente alcoólico, como também deve traçar estratégias de atuação junto a população de risco visando a prevenção do abuso de álcool. O principal objetivo da prevenção, no campo dos problemas relacionados ao consumo de drogas psicotrópicas, é procurar que os membros de uma dada população não abusem de drogas e, consequentemente, não causem danos sociais relacionados a este abuso nem prejuízos que daí possam decorrer.

1.9.1. Intervenções de Prevenção Primária

Para Townsend (2009:782), a enfermagem atua na atenção primária de saúde com o intuito de traçar estratégias que visam a prevenção do alcoolismo e consequentemente a diminuição de distúrbios mentais na sociedade, definindo prevenção primária como serviços com o objetivo de reduzir a incidência do consumo do álcool na população.

Mesquita, Halpern e Buccareichi (s/a:135) apresentam uma definição mais abrangente ao explicarem que a prevenção primária são “quaisquer atos destinados a diminuir a incidência de uma doença numa população reduzindo o risco de casos novos”.

Nesta fase o enfermeiro centra-se em sinalizar os grupos em maior risco de se tornarem alcoólatras e delinear planos de ação adequados, focando-se na abordagem de

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Para complementar, Mesquita, Halpern e Buccareichi (s/a:137) afirmam que, a população-alvo da prevenção primária é, por um lado, uma pessoa que ainda não adotou hábitos de consumo, por outro, um produto cujas consequências negativas ainda não são comprovadas e, por fim, um meio ambiente mais ou menos incitativo de um consumo insalubre.

Assim, os objectivos últimos da prevenção primária incluem não só evitar/ reduzir o consumo excessivo de álcool, mas também prevenir consequências sociais. O enfermeiro dispõe de várias actividades educacionais que constituem estratégias de prevenção primária (Mesquita, Halpern e Buccareichi, s/a:137).

Townsend (2009:782) exemplifica o ensino dos efeitos biopsicossociais do álcool e outras drogas à crianças em idade escolar como tipo de serviço que o enfermeiro presta na comunidade no âmbito da prevenção primária.

Mesquita, Halpern e Buccareichi (s/a:136), referem que as informações transmitidas durante as sessões de Educação para a Saúde (EpS) chegam à cada indivíduo de forma diferente. Apesar de ter somente um objetivo, as intervenções apresentam um carácter individual, mesmo quando endereçada ao coletivo. É a pessoa que deve ser conscientizada e que aprender a fazer escolhas saudáveis e responsáveis.

Os mesmos autores (s/a:137/140) referem que a prevenção primária abarca questões individuais e sociais, tendo os seguintes objetivos:

 Promover o bem-estar individual;

 Favorecer o funcionamento harmonioso da sociedade;  Conscientização da população geral;

 Conscientização da pessoa sobre a sua forma de ser;  Adoção de atitude saudável com respeito ao álcool;  Formação de hábitos adequados;

 Identificar rapidamente as situações problemáticas;

 Reconhecer e classificar informações pertinentes ao problema;  Delimitar uma sequência de ações razoáveis;

 Melhorias do meio ambiente;  Desenvolvimento biopsicosocial.

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1.9.2. Intervenções de Prevenção Secundária

Na prevenção secundária, o enfermeiro tem a incumbência de detetar possíveis sinais e sintomas do alcoolismo na sua fase inicial e prestar tratamentos, ou encaminhamentos da pessoa para outros serviços quando a necessidade se centra fora do âmbito da enfermagem (Townsend, 2009:782, 800).

Se as intervenções de enfermagem acontecerem atempadamente, há maiores probabilidades de se evitar que a pessoa entre num estado de dependência. Assim, a prevenção secundária consiste em intervenções rápidas para evitar que um estado de dependência se estabeleça (Mesquita, Halpern e Buccareichi, s/a:140).

A deteção do alcoolismo na sua fase inicial e o respetivo encaminhamento não é função somente dos enfermeiros, mas também de outros profissionais que averiguarem essa situação (Townsend, 2009:782/783).

1.9.3. Intervenções de Prevenção Terciária

Mesquita, Halpern e Buccareichi (s/a:136) definem prevenção terciária como “quaisquer atos, destinados a diminuir a prevalência das incapacidades crónicas numa população, reduzindo ao mínimo as deficiências funcionais consecutivas a doença”, visando, portanto, a reabilitação do alcoolismo.

Assim, de acordo com Townsend (2009:783), a enfermagem na prevenção terciária foca-se na ajuda aos clientes no sentido de aprenderem ou reaprenderem comportamentos socialmente apropriados, de modo a que possam alcançar um papel satisfatório na comunidade.”

A enfermagem tem uma função extremamente importante na reintegração do indivíduo na sociedade. As intervenções devem ir no sentido de tornar o indivíduo o mais autónomo possível.

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2.1 Tipo de estudo/pesquisa

Trata-se de um desenho de investigação descritivo e uma abordagem quantitativa, baseada numa lógica de pesquisa dedutiva na base de uma filosofia de investigação positivista. Em relação ao tempo, trata-se de um estudo de carácter transversal.

Segundo Prodanov e Freitas (2013: 52), um estudo descritivo consiste em descrever as caraterísticas de determinada população ou fenómeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis.

Neste estudo, pretende-se, particularmente descrever o fenómeno do consumo do álcool entre adolescentes e, a partir dessa descrição descrever as intervenções de enfermagem na prevenção do uso do álcool.

Segundo Fortin (1999:22), a abordagem quantitativa, é um processo metódico de colheita de dados observáveis e quantificáveis. A autora frisa que este tipo de abordagem permite ter precisão e objetividade, possibilitando também a comparação, reprodução e generalização para casos semelhantes.

O raciocínio dedutivo na base do positivismo proporciona controlar e antedizer fenómenos. Este tipo de raciocínio implica que a verdade é absoluta e que os factos e os princípios existem autonomamente dos contextos históricos e social. Se uma coisa existe ela pode ser medida (Fortin, 2009:19).

Quanto ao horizonte de tempo, trata-se de um estudo transversal na medida em que os dados foram recolhidos junto dos participante deste estudo num dado momento, não havendo, portanto, período de seguimento ou acompanhamento dos adolescentes.

2.2. Amostra/participantes

A amostra é definida por um conjunto de sujeitos, a quem se recolhe os dados e deve ter as mesmas características da população de onde foi retirada (Coutinho, 2011:85).

O método de amostragem utilizado foi não probabilístico. Mais especificamente, trata-se do método de amostragem acidental ou de conveniência.

Os critérios de inclusão dos participantes no estudo foram: (i) idade compreendida entre os 12 e os 18 anos inclusive e, (ii) participação voluntária.

Referências

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