CAPÍTULO III – FASE EMPÍRICA
3.1. Apresentação e interpretação de resultados
De realçar que os dados que de seguida serão apresentados foram obtidos especialmente com base em analises estatísticas descritivas e interpretados à luz da literatura existente sobre o tema.
Consumo do álcool
Os resultados apontam que 68,75 % da amostra já consumiu álcool pelo menos uma vez.
Vários estudiosos desta matéria, entre os quais Morel, Hervé, e Fontaine (1999:51), vêm mostrando suas preocupações no que diz respeito à exposição dos adolescentes às drogas, frisando que este fenómeno inicia-se nesta fase de vida, que é por si só uma fase de vulnerabilidade.
Gráfico 1. Consumo do álcool
Fonte: Elaboração própria
Idade do primeiro consumo
Pode-se observar, através do Gráfico 2, que dos 55 que já experimentaram, 19 (23,8%) consumiram na infância e 36 (45,2%) na adolescência. A média de idade do primeiro consumo é de 12,51 anos (DP=2,631).
consumo é feito da passagem da infância para a adolescência (Caron, Rutter, 1991; Clark, Watson, Reynolds; 1995).
Gráfico 2. Idade do primeiro consumo
Fonte: Elaboração própria
Bebida do primeiro consumo
Relativamente à bebida do primeiro consumo, 38 (47,5%) consumiram ponche, 8 (10%) cerveja, 3 (3,75%) vinho, 2 (2,5%) stomperod, 2 (2,5%) cerveja e ponche, 1 (1,5%) cerveja e vinho e 1 (1,5%) ponche, vinho e stomperod.
Gráfico 3. Bebida do primeiro consumo
Fonte: Elaboração própria
Motivo da experimentação
Em relação ao motivo da experimentação, 35 (43,75%) dos adolescentes relataram ter experimentado por curiosidade, 15 (18,75%) experimentaram pela excitação de festa/convívio e 5 (6,25%) experimentaram por influência de amigos.
Canavez, Alves e Canavez (2010:61) frisam a curiosidade e a influência dos grupos de pares como os principais agentes motivadores para a experimentação inicial de qualquer substância.
Gráfico 4. Motivo da experimentação
Sensação do primeiro consumo
No que concerne à sensação do primeiro consumo, 30 dos participantes (37,5%) afirmaram ter sido normal, 11 (13,8), relataram mal-estar, 8 (10%) relataram ter tido a sensação de euforia, 4 (5%) revelaram sensação de desespero e 2 (2,5%) relataram sensação de bem-estar.
Sobre a sensação do consumo, a literatura mostra que a preferência pelo consumo de álcool por adolescentes ocorre pelos efeitos da substância que inicialmente é de bem-estar. Além disso, proporciona satisfação, fácil inserção no grupo com os amigos e fonte de alívio para o estrese em relação aos fatores familiares e escolares (Simões, 2006: 148).
Gráfico 5. Sensação do primeiro consumo
Fonte: Elaboração própria
Consumo atual
Daqueles que afirmaram ter consumido, 32 (38,75%) relataram continuar a consumir.
Teixeira (sd., p.42) frisa que os usuários ocasionais na maioria das vezes, passa dum simples consumo ocasional para um consumo frequente sem se aperceber dos riscos, tornando um vício que pode levar à dependência.
Gráfico 6. Consumo atual
Fonte: Elaboração própria
Frequência de consumo
No que diz respeito à frequência de consumo, 20 (25%) dos participantes relataram o consumo uma a duas vezes por mês, 11 (13,75%) afirmaram só nos fins-de- semana, 1 (1,5%) relatou consumo três a quatro vezes por semana.
Bebida de consumo atual
Os resultados mostram que das bebidas prediletas dos participantes que consomem actualmente, o ponche é aquela que está no topo do ranking, assumindo 36,25%, de seguida a cerveja com 22% e o aguardente a menos consumida, com 1,25%.
Gráfico 8. Bebida de consumo atual
Fonte. Elaboração própria
Aquisição da bebida
No que tange à aquisição da bebida, 13 (16,25%) dos participantes relataram adquirir bebidas na rua,10 (12,5%) relataram aquisição pela oferta, 5 (6,25%) revelaram aquisição por meio de compra e 4 (5%) relataram ter sido adquirido em casa.
Carvalho, Lemos, Raimundo, Costa e Cardoso (2007:32) já haviam frisado que os fatores que mais têm contribuído para o consumo do álcool nos adolescentes são: a publicidade, o fácil acesso e o baixo custo.
Gráfico 9. Aquisição da bebida
Fonte: Elaboração própria
Sensação após consumo de álcool
Da sensação após consumo, 8 (10%) dos participantes revelaram ter visão turva e sonolência, 8 (10%) afirmaram ter apenas sonolência, 4 (5%) relataram visão turva e problemas estomacais, 3 (3,75) só visão turva, 3 (3,75) alegaram ter visão turva e problemas em recordar o que aconteceu e 2 (2,5%) revelaram apenas problemas estomacais.
Tais sensações não são invulgares. Conforme citam Mello e colaboradores (apud Martins 2009:19), Após ingestão de álcool, inicialmente o indivíduo sente-se auto-suficiente, porém, rapidamente passa a desencadear certos desconfortos no organismo como sonolência, visão turva, diminuição motora, problema em recordar o que aconteceu, problemas estomacais, vesicais e intestinas, intoxicação e até a morte, quando consumido em doses excessivas.
Gráfico 10. Sensação após consumo de álcool
Fonte: Elaboração própria
Ressaca após o consumo
Dos inquiridos que consomem atualmente, 16 (20%) relataram ter experienciado ressaca após o consumo.
Gráfico 11. Ressaca após o consumo
Conhecimento do consumo por parte dos familiares
Constata-se que o conhecimento e desconhecimento dos familiares face ao consumo de álcool por parte dos seus adolescentes distribuiu-se de forma igualitária (20%).
Gráfico 12. Conhecimento do consumo por parte dos familiares
Fonte: Elaboração própria
Atitude dos familiares face ao consumo
Relativamente aos 16 inquiridos que afirmaram que os familiares sabem do consumo 5 (6,25%) relataram que os pais mostram-se indiferentes, 5 (6,25%) alegam que os familiares são liberais e 4 (5%) relatam que os familiares acham normal.
Acerca dessas atitudes parentais, Canavez, Alves e Canavez, (2010:62) postulam que a atitude liberal e a falta de limites por parte dos pais contribui, de forma negativa, na vida do adolescente, estimulando-o a experimentar álcool e tornando-o num potencial viciado.
Gráfico 13. Atitude dos familiares face ao consumo
Fonte: Elaboração própria
Companhia de consumo
Do Gráfico 13, constata-se que a maioria dos participantes afirmou como companhia de consumo os grupos de pares (29 - 36.25%) e 3 (3,75%) dos inquiridos tendo como companhia de consumo os familiares.
Estes resultados estão em consonância com a literatura. Pois, esta tem revelado que dentre os factores que mais contribuem para o consumo na adolescência, a pressão dos amigos ou grupos de pares tem assumido um lugar de destaque (Carvalho, Lemos, Raimundo, Costa e Cardoso 2007:32), na medida em que na busca da identidade o adolescente tenta afirmar-se no seio do grupo onde, por vezes, para o fazer, precisa de se comportar como os demais elementos do grupo.
Gráfico 14. Companhia de consumo
Motivo do consumo
O Gráfico 15 mostra que, dos participantes que ainda consomem álcool, 15 (18,75%) consomem devido à influência de amigos, 10 (12,5%) consomem por curiosidade e 3 (3,75%) relatam consumir por influência de outros familiares nomeadamente primos e tios.
O abuso de álcool tem aumentado entre os adolescentes devido a pressão dos grupos. É nos grupos de pares que o adolescente afirma as suas diferenças geracionais e se obriga muitas vezes a grandes exigências identificativas; sendo estes tão importante para o adolescente, constituindo num fator de incentivo a novas experiências para o consumo e outros riscos (Pinto, 2013:45).
Gráfico 15. Motivo do consumo
Fonte: Elaboração própria
Acessibilidade ao álcool
Vinte e dois dos participantes (27,5%) relataram que o álcool é de fácil acesso e 10 (12,5%) relataram que o álcool é de difícil acesso.
Freyssint, Dominjon e Wagner (2006) postulam que o facto do álcool estar presente em todas as atividades prazerosas, festas ou convívios de outra natureza contribui para o consumo precoce dos mais jovens. Além disso, acredita-se que a falta de fiscalização das leis também contribui para que os adolescentes tenham facilmente acesso ao consumo de bebidas alcoólicas.
Gráfico 16. Acessibilidade ao álcool
Fonte: Elaboração própria
Consequências do consumo do álcool
Os resultados revelaram que em decorrência do consumo 11 (13,8%) dos participantes que consomem álcool faltaram aulas, 6 (7,5%) envolveram-se em brigas, 5 (6,25%) relataram ter comportamentos de risco (esquecimento do preservativo ou o uso indevido), 1 (1,3%) teve acidente de trânsito.
Trindade e Correia (1999:s/p) afirmam que o consumo de álcool influencia de forma direta, a médio e a longo prazo, a diminuição do rendimento escolar, além de influenciar comportamentos de risco para a saúde, no âmbito de comportamentos sexuais de risco e de comportamentos de risco na condução de veículos motorizados.
Gráfico 17. Consequências do consumo do álcool
Fonte: Elaboração própria
Fácil acesso
Difícil acesso
Consumo de grupos de pares
O Gráfico 18 evidencia que 43 (53,75%) dos inquiridos revelaram que os amigos não consomem bebidas alcoólicas e 37 (46,25%) relataram que os amigos consomem-nas.
Gráfico 18. Consumo de grupos de pares
Fonte: Elaboração própria
Consumo familiar
A análise do consumo no seio familiar revela que, 70 (87,5%) dos participantes relataram ter familiares que consomem bebidas alcoólicas, e 10 (12,5%) dos participantes relataram não ter elementos no seio familiar que consomem álcool.
Um indivíduo que cresce num meio onde o uso de qualquer tipo de substância é comum tem possibilidades de vir a experimentar substâncias e até de se tornar viciado (Canavez, Alves e Canavez 2010:61).
Gráfico 19. Consumo familiar
Fonte: Elaboração própria
Familiares que consomem
No que toca aos familiares que consomem álcool, 80,25% revelaram que o consumo é feito pelos seus progenitores, 18,75% relataram o consumo feito pelos irmãos, 32,5% afirmaram o consome feito pelos tios, avos e primos.
Gráfico 20. Familiares que consomem
Fonte: Elaboração própria
Família com problema com o álcool
Daqueles que afirmaram o consumo na família, 49 (61,25%) relataram não terem familiares com problemas ligadas ao álcool e 22 (27,5 %) relataram problemas com o álcool.
Gráfico 21. Família com problema com o álcool
Fonte: Elaboração própria
Bebidas consumidas pelos familiares
No tocante as bebidas consumidas pelos familiares, 65% dos participantes revelaram o vinho como sendo a bebida alcoólica de eleição dos familiares, 53,75%, relataram a cerveja, 37,5% afirmaram o ponche a bebida alcoólica consumida pelos familiares, o stomperod e o aguardente a menos consumida, correspondendo à 2,5% dos participantes.
Gráfico 22. Bebidas consumidas pelos familiares
Conflitos familiares
Referente à questão de conflitos familiares, 61 (76,25%) dos participantes relataram ausência de conflitos familiares e 12 (15%) relataram conflitos familiares em decorrência do consumo do álcool.
Gráfico 23. Conflitos familiares
Fonte: Elaboração própria
Tipo de conflitos
No que diz respeito aos tipos de conflitos, dos participantes que revelaram conflitos familiares, 8 (10%) afirmaram ter havido violência verbal, 2 (2,5%) referiram violência física e 2 (2,5%) alegaram outros tipos de violência.
Pode-se dizer que, o meio familiar e social influencia o comportamento do indivíduo, uma criança que se encontra inserida num meio onde existem diversos problemas com alcoolismo, violência tanto verbal como física, abandono escolar e dificuldades económicas tem maior possibilidade de ser dependente alcoólico (Ramos, 2004:177).
Gráfico 24. Tipos de conflito
Fonte: Elaboração própria
Consumo de álcool como solução de problemas
Os resultados apontam que a maioria dos participantes está consciente que o álcool não é solução para os problemas. Contudo, 2 (2,5%) referiram o álcool como solução de problemas.
Gráfico 25. Consumo de álcool como solução de problemas
Fonte: Elaboração própria
Percepção das consequências do consumo de álcool
Relativamente à percepção das consequências do consumo do álcool, a maior parte (76 - 95%) reconhece que o abuso do álcool traz consequências à saúde e 4 (5%)
Gráfico 26. Percepção das consequências do consumo de álcool
Fonte: Elaboração própria
Percepção dos tipos consequências
Das consequências que o consumo do álcool traz à saúde, a maior parte dos participantes (34-42,5%) evidenciou consequências psicológicas, físicas, familiares, académicas e económicas; 18 (22,5%) dos inquiridos referiram consequências físicas, psicológicas, familiar e académicas; e 1 (1,25%) referiu consequências físicas, familiares e económicas.
Gráfico 27. Percepção dos tipos de consequências
Prevenção do alcoolismo nas Escolas
No que se refere à prevenção do consumo de álcool na nas escolas, 50 (62,5%) relataram, que as escolas desenvolvem atividades de prevenção do alcoolismo e outros comportamentos de risco e 30 (37,5%) afirmaram que as escolas não fazem quaisquer atividades de prevenção do alcoolismo.
Gráfico 28. Prevenção do alcoolismo nas Escolas
Fonte. Elaboração própria
Estratégias preventivas do nas Escolas
Pode se observar pelo Gráfico 31 que 31 (38,75%) dos inquiridos revelaram palestra/cartazes enquanto atividades estratégias para prevenção do alcoolismo; 16 (20%) alegaram palestra/cartazes e documentários/ filme e 1 (1,25%) palestra/cartazes e visitas de estudos a instituições contra álcool e droga.
Gráfico 29. Estratégias preventivas do alcoolismo nas Escolas
Fonte: Elaboração própria
Prevenção do consumo de álcool nas Comunidades
Cinquenta (62,5%) dos participantes relataram não terem conhecimentos de actividades de prevenção do alcoolismo nas suas comunidades e 29 (36,25%) afirmaram que fazem atividades de prevenção do álcool nas suas comunidades.
Gráfico 30. Prevenção do alcoolismo nas Comunidades
Estratégias preventivas do alcoolismo nas Comunidades
A maioria dos inquiridos (24 - 30%) relatou que fazem palestras e uso de cartazes preventivos; 3 (3,75%) afirmaram ter visto documentários/ filmes e 1 (1,25%) revelou ter feito visita de estudo as instituições de álcool e droga.
Gráfico 31. Estratégias preventivas do alcoolismo nas Comunidades