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A Insustentável Política Fiscal Brasileira

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Academic year: 2021

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A Insustentável Política Fiscal Brasileira

Independentemente de quem saia vitorioso na próxima eleição presidencial, faz-se urgente realizar uma ampla reforma na política fiscal brasileira. É completamente insustentável, do ponto de vista financeiro, manter o padrão atual, que resulta em aumento das despesas públicas muito superior ao das receitas tributárias, prejudicado tanto pelo fraco desempenho da atividade econômica quanto pelos estímulos fiscais concedidos.

Além disso, também vale a pena destacar que a “qualidade” dessas despesas continua a se deteriorar, pois estas estão cada vez mais concentradas no custeio da máquina pública e nas transferências de renda, penalizando o tão necessário investimento público em infraestrutura, e, em definitiva, as possibilidades futuras de crescimento econômico do país.

Frente a essa situação, a economia de recursos que o Fisco vinha realizando desde 1998 para amortizar parte da dívida pública (superávit primário), tem se tornado insuficiente para sequer fazer frente ao pagamento dos juros correspondentes, o que tem elevado o endividamento público, aumentando, portanto, o risco fiscal e o risco externo, ao incrementar a dependência em relação aos capitais internacionais.

Como se não bastasse, o Governo tem utilizado de forma crescente a chamada “contabilidade criativa” para melhorar artificialmente o superávit primário, atrasando pagamentos e repasses às vezes aos próprios bancos públicos, deduzindo itens de gasto de forma arbitrária e engrossando sua arrecadação com recursos extraordinários, tais como dividendos das empresas públicas previamente capitalizadas pelo Tesouro, recursos oriundos das concessões e rodadas de parcelamento de dívidas tributárias.

É essencial que a partir de 2015 se recupere a sustentabilidade da política fiscal, realizando-se efetiva contenção da expansão dos gastos públicos, principalmente nos itens não destinados ao investimento, e estabelecendo-se metas críveis de redução do endividamento do setor público (déficit nominal). Esse redirecionamento da política fiscal contribuiria para reduzir a pressão sobre a inflação e sobre a taxa de juros, auxiliando na retomada do crescimento do PIB, além de restaurar a credibilidade da política econômica, fundamental para preparar o país para o futuro de menor liquidez mundial.

Síntese Econômica

 Crédito à pessoa física manteve desaceleração em junho.

 Inflação anualizada de julho continuou elevada.

 Produção industrial recuou ainda mais em junho.

 Inadimplência bancária e do varejo apresentaram leve recuo e estagnação, em junho e julho, respectivamente.

 Despesas públicas cresceram acima das receitas no primeiro semestre do ano.

 Contas externas seguiram apresentando melhora em julho.

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Análise da Conjuntura

1. Moeda, Crédito e Inflação

Dados do Banco Central de junho mostram que o crédito à pessoa física continua apresentando desaceleração do crescimento, que em 12 meses alcançou a de 6,4%, contra 8,3% no final de 2013.

A inflação (IPCA) surpreendeu em julho, ficando praticamente estável (0,01%), enquanto no acumulado em doze meses voltou para o limite máximo de tolerância da meta anual (6,5%), após tê-lo ultrapassado em junho.

Apesar do Banco Central continuar mantendo a taxa de juros básica (SELIC) em 11,0%, reafirmando seu compromisso com a estabilidade de preços, reduziu o depósito compulsório e a exigência de capital mínimo dos bancos, com a justificativa de “moderar o excesso de contração (do crédito) e do pessimismo”.

2. Produção, Vendas e Inadimplência

De acordo com o IBGE, a indústria em junho mostrou forte recuo de 6,9% sobre o mesmo mês de 2013, influenciada em boa parte pelas perdas de dias com os jogos da Copa. A maior influência negativa no mês correspondeu à produção de veículos (36,3%), destacando-se também a contração do setor de bens de capital (21,1%), indicando provável queda nos investimentos como consequência da maior aversão ao risco que existe no momento. No acumulado do ano a produção industrial já acumula redução de 2,6%.

As vendas do varejo, segundo o IBGE, aumentaram em junho apenas 0,8% em relação ao ano passado, também em decorrência dos feriados da Copa, enquanto as do varejo amplo, que incluem veículos e material de construção, exibiram forte queda de 6,1% na mesma base de comparação, ressaltando-se o recuo das vendas de veículos (18,7%). Assim, o primeiro semestre se encerrou com aumentos de 4,2% no primeiro caso e de 0,1% no segundo, sinalizando estagnação.

Dados da ACSP/BVS, com base nas consultas efetuadas nos primeiros sete meses, apresentaram alta de 1,5% no crediário e 2,0% nas vendas à vista com cheques, refletindo a alta dos juros, a desaceleração do crédito e a queda da confiança do consumidor.

A confiança do consumidor, medida pelo Índice Nacional de Confiança (INC), calculado pelo IPSOS para a ACSP, registrou em julho elevação de 2,8% em relação ao mês anterior, porém permanecendo em patamares baixos.

A taxa de inadimplência, medida pelo Banco Central, que sinaliza o nível de atraso no crédito bancário (incluindo o crédito consignado), apresentou leve recuo em junho, alcançando a 4,3%, enquanto no caso das vendas do varejo, os atrasos no pagamento registrados em julho continuaram estáveis em 4,6%.

Finalmente, a prévia do PIB do Banco Central (IBC-BR) de junho mostrou queda tanto na comparação com junho, livre de efeitos sazonais (1,5%), como em termos do mesmo mês de 2013 (2,1%), refletindo forte impacto negativo do “Efeito Copa”. No semestre, o fraco crescimento, vis a vis os primeiros seis meses de 2013 (0,1%), aponta para uma tendência de estagnação da atividade econômica.

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Em síntese, o primeiro semestre do ano apresentou fracos resultados para a atividade econômica, com perspectivas de quase estagnação para o fim do ano, supondo-se uma “volta à normalidade” após o fim da Copa do Mundo. Com a inflação rondando o limite máximo permitido pela meta anual, apesar da manutenção da taxa SELIC em patamares elevados, do “represamento” dos preços monitorados e da valorização “forçada” do Real, a economia brasileira pode caminhar para um quadro preocupante de estagflação (estagnação econômica + inflação).

3. Finanças Públicas

Durante o mês de junho, de acordo com o Banco Central, as finanças públicas brasileiras acumularam vários recordes negativos. Por segundo mês consecutivo o Governo consolidado (União, Estados, Municípios e Estatais) apresentou excesso de despesas não financeiras em relação às receitas (déficit primário), que alcançou a R$ 2,1 bilhões.

Em termos do resultado acumulado durante o primeiro semestre do ano pelos mesmos entes públicos, o excesso de arrecadação sobre gastos sem incluir os juros da dívida (superávit primário) foi de R$ 29,4 bilhões, o que representa queda de 43,7% em relação ao mesmo período de 2013 e menos de 30% da meta anual de R$ 99 bilhões, constituindo-se no pior resultado desde que essas estatísticas fiscais são medidas.

A crescente deterioração das contas públicas tem seu “epicentro” no Governo Central (Tesouro, Banco Central, INSS), cujo crescimento dos gastos nos primeiros seis meses do ano (10,6%) continuou superando o aumento da arrecadação (7,2%), segundo dados do Tesouro Nacional.

Assim, mantem-se a mesma tendência observada nos últimos anos de excessiva expansão das despesas de “custeio da máquina pública”, com especial ênfase nas transferências de renda, frente à menor capacidade de arrecadação, causada pelo fraco desempenho da atividade econômica e pelos estímulos fiscais concedidos e ampliados.

O Governo, sem abrir mão da chamada “contabilidade criativa”, continua “apostando” no cumprimento da meta “cheia” de superávit fiscal primário anual, equivalente a 1,9% do PIB, ancorado no maior crescimento do PIB no segundo semestre e em receitas extraordinárias provenientes da concessão da frequência 4G e do novo programa de parcelamento de dívidas tributárias (Refis da Copa). Contudo é difícil que essa expectativa se cumpra, pois o Governo Central teria que mais do que triplicar os resultados obtidos de janeiro a junho, num contexto em que os dados da atividade econômica não sugerem grande recuperação para o resto do ano e a concessão às operadoras de celular enfrenta resistências do mercado e do próprio Tribunal de Contas da União.

4. Setor Externo

O Fundo Monetário Internacional (FMI), em relatório divulgado no final de julho, fez uma análise sobre as perspectivas da economia mundial, e considerou o Brasil como uma das mais frágeis economias entre os países emergentes. Além dos desequilíbrios fiscais, baixo crescimento econômico e inflação em alta, o FMI destacou a vulnerabilidade das contas externas, que correm o risco de se deteriorar mais rapidamente, caso venha a se prolongar a queda nas cotações das commodities e um aumento mais forte dos juros de

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longo prazo no mercado internacional, em decorrência da mudança da política monetária norte-americana. Esse diagnóstico, embora com a discordância do Governo, é comprovado pelos resultados apresentados pela economia brasileira nos últimos anos, especialmente no tocante ao setor externo. Em 2012, por exemplo, o saldo negativo (déficit) em transações correntes do balanço de pagamentos (exportação menos importações de bens e serviços) de US$ 54,2 bilhões foi coberto com folga pelo investimento estrangeiro direto (IED), no valor de US$ 65,2 bilhões. Já em julho deste ano, o déficit em transações correntes, acumulado nos últimos doze meses, aumentou para US$ 81,2 bilhões, e a entrada desses capitais no país, correspondente a US$ 63,3 bilhões, foi insuficiente para cobrir o saldo negativo remanescente, sendo este coberto por capitais estrangeiros aplicados em renda fixa ou ações. Nessas condições, o financiamento das contas externas brasileiras está ficando cada vez mais dependente de recursos de curto prazo, de natureza mais volátil, que podem refluir para seus países de origem diante de qualquer mudança no cenário econômico mundial. O déficit em transações correntes que era equivalente a 2,4% do PIB em 2012, passou para 3,6% em junho deste ano, resultado que, embora mantido desde agosto do ano passado, é considerado pelo FMI ¨moderadamente¨ acima do máximo nível aconselhável (2,5%).

A causa principal da deterioração das contas externas foi o fraco desempenho do comércio exterior. Depois de atingir um saldo positivo (superávit) de US$ 29,8 bilhões, em 2011, os saldos da balança comercial (exportações menos importações de mercadorias) recuaram para US$ 19,4 bilhões, em 2012, e US$ 2,6 bilhões, em 2013. Em julho, o saldo comercial foi de US$ 1,6 bilhão (exportação de US$ 23 bilhões menos importação de US$ 21,4 bilhões), mas não eliminou o déficit de US$ 916 milhões acumulados entre janeiro e julho deste ano. Neste mesmo período as exportações e as importações foram, respectivamente, 0,6% e 3,4% inferiores aos valores obtidos em 2013, calculados pelas médias diárias. O recuo das importações, decorrente do desaquecimento da economia brasileira, tem contribuído para evitar maior agravamento das contas externas, já prejudicada pela ação do Banco Central no mercado de câmbio, que tem procurado manter o Real valorizado em relação ao dólar para, na prática, conter o processo inflacionário. A apreciação da moeda brasileira também foi comentada por economistas do FMI, por desequilibrar o fluxo de mercadorias e serviços transacionados com o exterior, em detrimento da competitividade dos produtos brasileiros nos mercados interno e externo.

O Banco Central continuou com suas operações de “swaps” cambiais, que correspondem à oferta de dólares no mercado futuro de câmbio, pretendendo estendê-las até o final do ano. Em julho, apesar dessas intervenções visando impedir a alta do preço da moeda americana, a taxa cambial fechou o mês em R$ 2,27 por dólar, correspondendo a uma depreciação da moeda nacional de 3,2% no mês, mantendo praticamente a mesma paridade registrada um ano atrás (queda de 1,0%). Como os custos de produção subiram nos últimos doze meses, os produtos brasileiros ficaram mais caros em dólar, dificultando as exportações e, por outro lado, os produtos importados tornaram-se mais baratos em moeda nacional, em prejuízo da balança comercial e da produção nacional.

Ao priorizar o combate à inflação através da política cambial, o governo, como consequência, agrava o já preocupante desequilíbrio das contas externas, além de prejudicar o “anêmico” crescimento da atividade econômica.

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Indicadores de Conjuntura Selecionados:

Variação Acumulada 2014/2013 (%)

Crédito à Pessoa Física 6,4%(1) Inflação – IPCA 6,5%(1) Produção Industrial -6,9%(2) Vendas do Varejo 0,8%(2) Receitas Governo Central 7,2%(3) Despesas Governo Central 10,6%(3)

Exportações -0,6%(4)

Importações -3,4%(4)

Taxa de Câmbio -1,0%(5)

Fonte: IBGE, Banco Central, STN, MDIC/SECEX, IEGV/ACSP. (1) Variação acumulada em 12 meses.

(2) Variação junho 2014 – junho 2013.

(3) Variação janeiro-junho 2014 – janeiro-junho 2013. (4) Variação janeiro-julho 2014 – janeiro-julho 2013. (5) Variação julho 2014 – julho 2013

Referências

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