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XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas

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Academic year: 2021

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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: REFLETINDO SOBRE AS POSSIBILIDADES DE INCLUSÃO SOCIAL E DE DESENVOLVIMENTO DE

CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIAS E/OU DIFICULDADES ESCOLARES

Profº Dr. Irineu A. Tuim Viotto Filho Programa de Pós-Graduação em Educação e Departamento de Educação Física –

Faculdade de Ciências e Tecnologia / UNESP – Presidente Prudente. Profª. Dra. Rosiane de Fatima Ponce Departamento de Educação da FCT/UNESP – Presidente Prudente

RESUMO

Este texto visa apresentar um Projeto de Intervenção junto a crianças com deficiências e/ou dificuldades de aprendizagem, assim como de alguns dados decorrentes de uma pesquisa em andamento realizada com os professores dessas crianças. O objetivo central da pesquisa está em identificar possibilidades pedagógicas a serem utilizadas por professores para a construção de condições de inclusão social e de desenvolvimento dos seus estudantes na escola. Este Projeto de Intervenção é realizado por membros do GEIPEE-thc (Grupo de Estudos, Intervenção e Pesquisa em Educação e Educação Especial – Teoria Histórico-Cultural) que atuam no LAR (Laboratório de Atividades Ludo-recreativas) da FCT/UNESP-Presidente Prudente. O LAR é um espaço educativo onde são realizados processos de intervenções de caráter ludo-educativa com crianças indicadas com deficiências e/ou dificuldades de aprendizagens. Busca-se, no processo de Intervenção, a relação universidade X escola a partir da participação dos professores das crianças para, coletivamente, identificar as dificuldades escolares vividas pelas crianças na escola. Nesse sentido, a intenção do Projeto está em contribuir na formação continuada desses professores via oportunidades de apropriacão de conhecimentos e reflexões sobre novas possibilidades teorico-metodologicas de ação junto às crianças com deficiência e/ou dificuldades de aprendizagem que são praticadas e desenvolvidas no interior do LAR. Participaram do Projeto cerca de 35 crianças e 17 professores. Por ser um Projeto em implantação e andamento, evidenciamos que aqui serão apresentados dados e alguns resultados iniciais. No entanto, apontamos importantes possibilidades de ação futura para uma educação inclusiva de crianças na escola.

Palavras–chave: Escola e humanização; Trabalho educativo; Inclusão social; Formação

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INTRODUÇÃO

Este Projeto de Intervenção e Pesquisa que aqui será apresentado tem origem junto a um Grupo de estudos denominado GEIPEE-thc (Grupo de Estudos, Intervenção e Pesquisa em Educação e Educação Especial – Teoria Histórico-Cultural) que atua no

LAR (Laboratório de Atividades Ludo-Recreativas) e em escolas de educação infantil e

ensino fundamental da cidade de Presidente Prudente.

Esclarecemos que o Grupo de estudos e pesquisas – o GEIPEE-thc – é formado por acadêmicos de graduação (licenciaturas) e pós-graduação (em Educação) e coordenado por dois professores (Departamentos de Educação Física e Educação), com a finalidade de desenvolver Projetos de Intervenção e de Pesquisas em escolas públicas de Educação Infantil, de Ensino Fundamental I e Médio, tendo como principal referencial teórico-filosófico e metodológico o materialismo histórico dialético e a Teoria Histórico-Cultural de desenvolvimento humano.

O Projeto de intervenção está sendo desenvolvido ao longo dos últimos quatro anos e a pesquisa realizada junto aos professores, faz parte das atividades do Projeto. E é importante enfatizar que o LAR é um espaço de intervenção voltado, especificamente, ao trabalho com crianças de 04 a 12 anos de idade que apresentam deficiência mental moderada e/ou com dificuldades de aprendizagem escolar, sejam deficientes ou não.

Na consolidação do processo interventivo, os membros do GEIPEE-thc, que atuam no LAR, elaboram e desenvolvem com as crianças atividades de caráter ludo-educativas que, geralmente, envolvem jogos e brincadeiras coletivas. Nesse processo, dialogam com os professores das crianças atendidas no LAR, tendo em vista ampliar suas compreensões acerca do desenvolvimento da criança e de suas dificuldades de aprendizagens escolares, visando discutir com os professores sobre novas possibilidades metodológicas de intervenção e inclusão escolar.

Visão critica de deficiência e dificuldades de aprendizagem: o trabalho pedagógico do professor

Ao nos preocupar com a construção e o desenvolvimento de metodologias especiais e diferenciadas de ensino para crianças com deficiência e/ou dificuldades de aprendizagem escolar, visando uma melhor compreensão das características histórico-sociais desses indivíduos, visamos focar as suas aprendizagens e efetiva inclusão escolar e social, fato que justifica a relevância científica e o compromisso social do trabalho de intervenção em andamento.

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Desde sua fase inicial, este Projeto de intervenção e pesquisa foi estruturado a partir de uma visão crítica de homem, sociedade e educação, tendo o materialismo histórico dialético (MARX & ENGELS, 1987), a teoria Histórico-Cultural (VIGOTSKY, 2000), a Pedagogia Histórico-crítica (SAVIANI, 2000) e Teoria da Atividade (LEONTIEV, 1978) como bases teórico-filosóficas e metodológicas essenciais na consolidação de todo o processo. Ao nos aportarmos no materialismo histórico dialético para a estruturação do planejamento e atividades inerentes ao Projeto, procuramos realizar uma análise crítica da realidade social, educativa e humana dos sujeitos participantes do LAR, compreendendo-os dialeticamente em suas múltiplas determinações e condições histórico-sociais.

A teoria histórico-cultural, por sua vez, contribui para uma visão ampliada e desnaturalizante sobre o processo de desenvolvimento humano, valorizando as relações sociais e a apropriação da cultura como elementos fundamentais à humanização dos indivíduos. Na mesma direção, a Teoria da Atividade proposta por Leontiev enfatiza os seres humanos se desenvolvendo a partir de um trabalho educativo vital, construído coletiva e teleologicamente, com vistas ao desenvolvimento multilateral dos indivíduos. Na mesma direção, a Pedagogia Histórico-crítica, proposta por Saviani (2000), nos situa no sentido de pensarmos a necessidade de implementação de um trabalho educativo efetivamente humanizador, que possibilite às crianças e jovens atingir a sua segunda natureza – que é a histórico-social. Portanto, construída na escola pela via da apropriação dos conhecimentos humano-genéricos em direção a uma construção plena e multilateral da sua individualidade (DUARTE, 1993).

O trabalho do professor é essencial, pois ele atua como mediador imprescindível na construção e desenvolvimento da subjetividade dos estudantes, sobretudo quando efetiva condições educativas diferenciadas e especiais às crianças com deficiências e/ou dificuldades de aprendizagens, tendo em vista o desenvolvimento dos mesmos e a sua efetiva melhoria inclusão educacional e social.

Ao se pensar nas deficiências e dificuldades de aprendizagens vividas pelos sujeitos participantes do Projeto, procuramos compreender suas condições históricas reconhecendo a deficiência como um fenômeno social e histórico, de forma a se pensar possibilidades de intervenção ludo-pedagógica no enfrentamento da inclusão educativa e social, tendo a escola e o professor importância vital na consecução desse processo.

Historicamente as deficiências e as dificuldades de aprendizagens escolares têm sido vistas de forma naturalizada, fato que coloca sobre o sujeito, exclusivamente sobre

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ele, a responsabilidade pela sua condição humana, tanto no que se refere as suas potencialidades quanto aos seus limites de ação. No entanto, queremos implementar uma critica rigorosa a essa visão naturalizante, no sentido de reconhecer os fenômenos da deficiência e das dificuldades de aprendizagem numa perspectiva histórico-social e, por isso, passível de transformação qualitativa pela ação dos próprios homens.

Defendemos, então, ao longo da realização do Projeto a efetivação de um processo de educação inclusiva de característica histórico-social, o qual valorize a participação dos sujeitos que apresentam deficiências e/ ou dificuldades escolares. Esses sujeitos podendo contar com a orientação do professor, terão novas possibilidades de agir e viver em sociedade, conquistando uma nova condição humana.

Dada a importância do professor nesse processo, enfatizamos a necessidade de formação continuada desses profissionais na escola, tendo em vista que os mesmos precisam ser preparados para enfrentar, teórica e metodologicamente, os desafios para a construção de uma educação inclusiva. Cada professor precisa ter condições teórico-filosóficas e metodológicas de atender, de forma especial e diferenciada, as necessidades de aprendizagens das crianças com deficiências e/ou dificuldades de aprendizagem escolar.

Por uma educação lúdica, inclusiva e humanizadora

Saviani (2000) afirma que o ser humano, enquanto um sujeito social, tem condições de superar sua primeira natureza (natural e biológica) e construir sua segunda natureza (social e histórica), calcada nos processos educativos, na relação com o outro e na apropriação dos objetos culturais (materiais e simbólicos), os quais são essenciais ao seu desenvolvimento e humanização.

Portanto, na consecução dessa atividade, o professor, adequadamente preparado no exercício de sua função, terá condições de criar situações educativas especiais e diferenciadas, para que seus estudantes avancem a sua primeira natureza e conquistem, a partir da apropriacão das relações sociais educativas e objetos culturais essenciais, a sua segunda natureza, de forma a construir seus pensamentos, consciência, sentimentos e personalidade numa direção humano-genérica no interior da escola.

Reafirmando a necessidade de construção de uma natureza histórico-social para cada sujeito singular, Leontiev (1978) nos aponta que os homens criam os objetos que vão satisfazer as suas necessidades. Assim como os meios de produção desses objetos, desde o instrumento mais simples às máquinas mais complexas. É nesse processo que o

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homem supera a sua condição animal e se torna um ser humano humanizado, o que, para Saviani (2000), é conquista de sua segunda natureza – a histórico-social.

No lugar de uma compreensão positivista acerca do ser humano, a Teoria Vigotskiana propõe a sua compreensão numa perspectiva dialética, na qual são valorizadas as relações sociais, os processos educativos, a apropriação da cultura e a efetivação de atividades vitais, como condição fundamental para que cada sujeito humano tenha possibilidade de avançar de uma natureza emocional e elementar, para conquistar esferas superiores e conscientes de desenvolvimento e humanização.

Ao afirmar a importância do desenvolvimento de faculdades e funções psicológicas superiores, Vygotski (2001) enfatiza a necessidade de cada ser humano superar a sua condição animal e humanizar-se pela via da apropriacão da cultura humana. Nesse processo, a apropriacão e a construção da linguagem de significados têm função essencial.

Nesse sentido, os processos de aprendizagem e, especialmente, os escolares, são fundamentais para a efetivação dessa possibilidade de desenvolvimento e humanização. Assim, as condições objetivas e materiais de apropriacão da cultura, dos conhecimentos da ciência, das artes, da filosofia, da política, dentre outros, são elementos importantes na efetivação dessa possibilidade, pois cada ser humano nasce com o potencial para se tornar humano, mas desde que encontre as condições objetivas e concretas que lhe possibilitem esse processo de humanização.

E importante salientar que alem dos conhecimentos acima elencados, torna-se prioridade no desenvolvimento do nosso trabalho junto às crianças, dada a sua especificidade ludo-pedagógica, a apropriação dos conteúdos da cultura corporal de movimento. Sobretudo a atividade do jogo e da brincadeira, como elementos fundamentais no desenvolvimento dos sujeitos que apresentam deficiência e/ou dificuldades de aprendizagem.

Leontiev (1978) enfatiza que a atividade do brincar é a principal atividade da criança em idade escolar, uma vez que estimula e cria condições concretas para que a mesma seja sujeita de suas ações no mundo dos adultos, conquistando seu lugar e singularidade na consolidação do seu processo de desenvolvimento. Ou seja, a atividade do brincar, se orientada de forma consciente pelo professor, cria possibilidades diferenciadas de aprendizagem para a criança, a faz avançar na sua zona de desenvolvimento potencial criando condições diferenciadas de desenvolvimento.

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Considerando as idéias acima, em essencial as relações sociais e a educação escolar, enfatizando a atividade do brincar na educação das crianças, valorizamos na elaboração e no desenvolvimento das atividades de intervenção realizadas neste Projeto a atividade de compartilhar com o outro, a comunicação, a linguagem corpo-oral, dentre outras formas de expressão humana construída nas relações prático-teóricas e educativas possibilitadas pelo professor. Acreditamos que a educação escolar de crianças, desenvolvida numa perspectiva histórico-cultural, poderá, a partir da valorização da atividade do jogo lúdico e da atividade do brincar – reconhecidos como atividade vital (LEONTIEV, 1989) –, possibilitar aos sujeitos com deficiência e/ou dificuldades de aprendizagem (via ação coletiva, ativa, consciente) condições reais de desenvolvimento humano no interior da escola.

Através de jogos e brincadeiras, as crianças conhecem e se inserem como sujeitos na vida social dos adultos, compreendem e refletem sobre as regras e funções sociais que são decorrentes das relações humanas e sociais. Leontiev (1989) afirma que a atividade do jogo e da brincadeira apresenta-se como conteúdo importante do processo de aprendizagem das crianças, uma vez que se constituem como atividade principal desses sujeitos e, portanto, imprescindíveis para a consolidação de um processo de desenvolvimento saudável e adequado às suas necessidades.

Considerando essa perspectiva educativa de valorização do lúdico e do movimento, da ação coletiva do brincar e jogar com brinquedos – que são elementos e conteúdos específicos da Educação Escolar de crianças – afirma-se à possibilidade de desenvolvimento, humanização e superação da alienação na escola.

Ao enfatizarmos a categoria atividade, de forma geral, e a atividade do jogo e da brincadeira como fundamental no processo de transformação objetiva e subjetiva dos sujeitos, o Projeto valoriza uma Educação lúdica, reconhecida como práxis educativa, como ação coletiva consciente em direção a transformação do homem, da educação e da própria sociedade. Defendemos, assim, uma educação escolar inclusiva e humanizadora como um objetivo a ser conquistado, tendo em vista que os sujeitos com deficiência e/ou dificuldades de aprendizagens precisam ter oportunidades de apropriação dos objetos materiais e simbólicos construídos pela humanidade, os quais, repletos de habilidades, capacidades e cultura, dentre outras potencialidades humanas, possibilitarão o desenvolvimento multilateral de cada ser humano (VYGOTSKI, 2001).

Isso implica compreender que a humanidade construiu e continua construindo, variados objetos (materiais e simbólicos), sendo que esse legado cultural deve ser

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transmitido às novas gerações. Considerando, então, que ao se apropriar dos objetos culturais, dessas objetivações humanas, cada sujeito terá condições de se humanizar, o trabalho do professor torna-se imprescindível e fundamental na consolidação dessa humanização, uma vez que o professor se torna o responsável pela socialização de todos esses objetos dentro do processo de desenvolvimento escolar dos sujeitos aprendizes.

Afirmamos, portanto, que é na atividade que se encontra a essência genérica do homem. É na ação vital e consciente que o sujeito se constrói e determina à sua condição humana. A atividade cria o próprio homem, tendo em vista que é nela que se encontra o centro do processo de formação e desenvolvimento de cada sujeito humano.

Contudo, é importante esclarecer que na sociedade capitalista, os seres humanos se deparam com o processo de alienação – entendido como um processo social que e construído nas relações entre os seres humanos –, o qual compromete e dificulta, sobremaneira, o desenvolvimento humano numa direção humano-genérica (DUARTE, 1983).

Na consecução do Projeto, a questão da alienação é considerada e reconhecida como um impeditivo ao processo de construção de uma educação inclusiva. Assim, o professor, ao enfrentar a realidade alienada que se apresenta também na escola, deve estar devidamente preparado, conscientizado. No sentido de reconhecer esse fenômeno social – a alienação – sem se deixar abater e lutar, a partir do que tem como recurso – que são os conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade – para enfrentar e superar a questão da alienação presente na escola.

O professor, no desenvolvimento de seu trabalho, uma vez consciente da existência do fenômeno da alienação, terá condições de orientar seus estudantes numa direção critica, no sentido dos mesmos identificarem, compreenderem e pensarem coletivamente, possibilidades de superação desse fenômeno tão presente na escola e na sociedade capitalista, o qual, tem comprometido sobremaneira, o próprio avanço da sociedade e das pessoas em sociedade.

Defendemos o papel do professor como o sujeito responsável pela socialização dos objetos materiais e simbólicos da cultura humana, como sujeito que assume importância vital para que cada criança, na escola, tenha diante de si os objetos culturais fundamentais à sua humanização, condição imprescindível no processo de superação da alienação presente na sociedade capitalista.

Enfim, compreendemos que o desenvolvimento do ser humano, e de suas faculdades superiores, está intimamente relacionado às relações sociais que são

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estabelecidas na escola, pois é nesse momento que a linguagem (as linguagens) é utilizada como um meio para dominar, dirigir e orientar a ação humana. A partir de um processo de inter-relações psicológicas, corporais/motoras e sociais, a criança, sob orientação do professor, realizará a interiorização das linguagens veiculadas no plano social e construirá sua maneira de ser, pensar, sentir e existir no mundo.

Defendemos que a Educação Escolar de crianças, pela sua característica singular de lidar diretamente com os sujeitos em atividade prático-teórica, abre possibilidades importantes para se avançar em direção à superação da histórica dicotomia entre mente-corpo, teoria-prática, subjetividade-objetividade. Bem como, criar condições efetivas de superação da histórica discriminação dos sujeitos deficientes e dos sujeitos que encontram dificuldades de aprendizagem escolar. Isso porque, pela ação consciente do professor, cada criança, independente de sua condição humana, deverá ser participante ativo do processo educativo escolar.

Na consecução dessa tarefa, se faz importante trabalhar a Educação Escolar das crianças numa perspectiva crítica, respaldando-se num referencial teórico-filosófico e metodológico que ofereça subsídios para se analisar a realidade dentro de sua complexidade e multiplicidade, tendo em vista a superação das situações de alienação e exclusão presentes na sociedade e reproduzidas na escola.

Trabalhar o desenvolvimento do ser humano numa perspectiva crítica, inclusiva e humanizadora, como se defende nesse Projeto de Intervenção, é criar possibilidades concretas para superação das contradições geradas pela sociedade capitalista, as quais também se refletem e são reproduzidas no interior da própria escola.

O Projeto e a Pesquisa com Professores

Ao longo do ano letivo de 2011, participaram do Projeto realizado no LAR aproximadamente 35 crianças, na faixa etária de 04 a 12 anos. Junto aos sujeitos participantes do Projeto, encontramos diagnósticos como Déficit de Atenção e Iteratividade, Dislexia, Síndrome de Down, Autismo e outras deficiências intelectuais leves. Além disso, tivemos alguns sujeitos que apresentavam alterações variadas de comportamento na escola, os chamados “alunos-problema”, assim denominados pelos seus professores por serem irrequietos, briguentos, lentos, desatentos, apáticos ou agressivos, dentre outras manifestações que, para o professor, dificulta o seu processo de aprendizagem escolar.

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Todas as crianças participantes do Projeto recebem orientação ludo-pedagógica nas dependências do LAR, onde são realizadas atividades individuais e coletivas semanais, tendo em vista criar condições diferenciadas de aprendizagem desses sujeitos, experimentando metodologias diferenciadas de ensino, partindo da apropriacão dos jogos, brincadeiras e da construção de brinquedos. A criança participante do LAR tem a oportunidade de se expressar e construir, sob orientação do professor, possibilidades de efetivação de um processo de desenvolvimento qualitativamente diferenciado.

No que se refere à pesquisa com os professores, visando trocar informações e conhecimentos sobre as possibilidades de metodologias de ensino, apresentamos os principais dados coletados junto aos 17 (dezessete) professores que tiveram condições de participar do processo via, inicialmente, entrevista semi-estruturada.

Na referida entrevista, procuramos coletar informações sobre o desenvolvimento escolar e o comportamento da criança-estudante, a visão do professor acerca da deficiência e/ou dificuldades da criança, a visão do professor sobre uma educação de caráter inclusivo e, ainda, seus conhecimentos acerca de estratégias de ensino e recursos pedagógicos na realização de suas aulas.

Selecionamos três itens propostos na entrevista com os professores para apresentarmos sucintamente. Um primeiro item questionou se o professor, após a inserção do aluno com deficiência e/ou dificuldade em sua sala, modificou sua prática pedagógica. Os professores afirmaram que, em decorrência das necessidades de seus alunos, em sua maioria, precisaram modificar sua prática pedagógica.

Num segundo item, questionamos se o professor enfrenta dificuldades para elaborar suas aulas perante as necessidades do seu aluno. Os mesmos disseram que encontram sim muitas dificuldades para realizar modificações em suas aulas, mas que por não terem com quem conversar e se orientar, acaba por resolver sozinho quais ‘estratégias’ de ensino usar.

No terceiro item, elencados algumas possíveis dificuldades que o professor encontra para realizar modificações em sua aula, em decorrência das condições educativas que encontra na escola. Buscamos, nesse item, elencar algumas possíveis dificuldades encontradas pelos professores, sendo que nove professores indicam encontrar dificuldades de atuação por conta da falta de conhecimentos suficientes sobre a questão da deficiência e das dificuldades de aprendizagem. Já os outros oito professores afirmam que encontram dificuldades pela falta de atividades e materiais pedagógicos adequados para trabalhar com as crianças sob sua responsabilidade.

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Ainda surgiram respostas isoladas do grupo de professores entrevistados que se relacionam à questão da necessidade de implementação de um processo de formação continuo na escola, tendo em vista a sua vontade de ensinar e ajudar seus alunos. No entanto, indicam que pela sua insuficiente formação na graduação não se sentem em condições de realizar atividades efetivamente transformadoras da realidade dos seus alunos. As indicações dos professores são: a falta de conhecimentos sobre a psicologia da criança, para compreender os comportamentos ditos como “problema” dos alunos; a falta de conhecimento sobre estratégias adequadas de ensino e métodos especiais para atingir as crianças deficientes; a falta de profissionais especializados na escola para orientá-los em suas ações com seus alunos que apresentam deficiência e/ou dificuldades de aprendizagem.

Enfim, não há dúvidas de que os professores, sujeitos da pesquisa, sentem a necessidade de avançar na sua formação para atuarem com crianças com deficiências e/ou dificuldades de aprendizagem na escola. Além disso, identificam também que a escola não os respalda materialmente para o exercício de sua profissão docente, sendo premente em suas manifestações a necessidade de atender de forma adequada os seus alunos, para que possam se sentir efetivamente educadores na escola.

Afirmamos, então, a importância do trabalho educativo do professor no processo de formação e humanização das crianças na escola. Identificamos, nos dados iniciais da pesquisa, que o professor busca realizar sua ação docente de forma significativa, para se sentirem efetivamente sujeitos com condições de possibilitar o desenvolvimento e a humanização aos seus alunos. Nesse sentido, enfatizamos a necessidade de investir em sua formação continuada de professores, sobretudo, porque a maioria dos nossos professores entrevistados manifesta o desejo de atender efetivamente as necessidades de seus alunos. Para isso, esses professores enfatizam a necessidade de terem um melhor preparo teórico-metodológico para o desempenho de suas atividades educativas na escola.

Considerações Finais

Ao concluirmos a apresentação de dados do Projeto de Intervenção, que ocorreu de forma bastante sucinta, é possível afirmar e defender a importância de atividades dessa natureza para a melhoria da qualidade da educação escolar em nosso país.

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Apesar de realizarmos o Projeto nas dependências do LAR, com objetivo de estimular as crianças na construção do seu desenvolvimento humano-genérico, a integração dos membros do GEIPEE-thc com a escola e os professores das crianças nos possibilita uma compreensão ampliada das questões relacionadas ao processo de aprendizagem e de desenvolvimento das crianças participantes do Projeto. E, também, a interação com os seus professores visa a construção de novas metodologias de ensino para as crianças com deficiências e/ou dificuldades de aprendizagem, tarefa a ser efetivada ao longo do processo de intervenção e pesquisa em desenvolvimento.

Pretendemos nos próximos anos ampliar o número de sujeitos participantes do Projeto, intensificar a participação em conjunto de todos os professores das crianças, visando a efetiva construção coletiva de novas metodologias especiais e diferenciadas de ensino para crianças com deficiência e/ou dificuldades de aprendizagem escolar.

Nesse momento da pesquisa, os resultados alcançados ainda são inicias. No entanto, questões teóricas relevantes já estão sendo dialogadas entre os professores sujeitos da pesquisa e os membros do GEIPEE-thc quando vão ao espaço escolar dessas crianças. Por exemplo, a compreensão de que entendemos a criança participante do Projeto numa perspectiva histórica e cultural; a necessidade da criança ser reconhecida como síntese de muitas determinações que se constituem em relação com a história da humanidade.

Defendemos a concretização de possibilidades reais de educação humanizadora dentro dos espaços escolares. Assim, entendemos o Projeto de intervenção desenvolvido pelos membros do GEIPEE-thc no interior do LAR se ancora nessa possibilidade concreta e visa atingir sua função social e educativa, criando condições efetivas para que as crianças com deficiência e/ou dificuldades de aprendizagem, ao encontrarem condições favoráveis e efetivamente educativas que atingem as suas necessidades, consigam aprender e se desenvolver em suas potencialidades. E, nesse processo, que professores e crianças possam se constituir enquanto sujeitos sociais, ou seja, sujeitos de suas próprias vidas e capazes de assumir seu papel na construção e transformação da sociedade.

Queremos, por fim, enfatizar que se faz urgente e necessário a construção de possibilidades educativas significativas para todas as crianças de nosso país, sendo as mesmas deficientes ou não. Isso porque, compreendemos que essencialmente pela via da educação escolar e dos processos educativos humanizadores, que nos será possível

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construir coletivamente a humanidade em cada sujeito social e, nesse processo, a educação escolar e os professores são imprescindíveis na consecução desse objetivo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MARX, K. Para a crítica da economia política. In: ___. Manuscritos Econômico-

Filosóficos e outros textos escolhidos. V. 1, São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 03-25.

SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados, 2000.

VIGOTSKI, L. S. A Construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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