Mais derivadas
Notas: Rodrigo Ramos
∗1
o. sem. 2015 – Vers˜
ao 1.0
Obs: Esse ´e um texto de matem´atica, vocˆe deve acompanh´a-lo com aten¸c˜ao, com l´apis e papel, e ir fazendo as coisas que s˜ao pedidas ao longo do texto. Essa demonstra¸c˜ao que vou deixar ´e absolutamente tradicional e pode ser encontrada em qualquer dos livros de c´alculo indicados na bibliografia do curso.
Importante: Esse texto ´e de conte´udo considerado ”hard level”, demonstra¸c˜oes n˜ao s˜ao funda-mentais para dominar as aplica¸c˜oes das t´ecnicas. Essas provas eu coloquei aqui apenas para poder acelerar a aula (n˜ao ´e interessante ficar demonstrando tudo isso na lousa). Assim os detalhes deste texto s˜ao particularmente interessante para os ”rebeldes” que querem ver as coisas provadas.
De modo geral: vocˆe pode se fixar apenas nos resultados (que s˜ao regras de deriva¸c˜ao, como era a regra do tombo). Os resultados tamb´em s˜ao sempre resumidos na tabela de f´ormulas.
1
Derivada de logaritmos
Essa conta foi feita, mas eu disse ”n˜ao se des-gastem anotando a lousa que eu coloco l´a na p´agina, apenas sigam com aten¸c˜ao”. Fiz essa para chamar aten¸c˜ao ao fato de que o ”n´umero e”´e muito especial e para mostrar como as coisas correm por aqui.
y = ln x, vamos mostrar que dy dx = 1 x dy dx = ∆x→0lim ln(x + ∆x) − ln(x) ∆x = lim ∆x→0 lnx+∆xx ∆x = lim ∆x→0 1 ∆xln 1 + ∆x x = lim ∆x→0ln 1 + ∆x x 1 ∆x
Com a mudan¸ca de vari´avel (de ∆x para z):
1 z = ∆x x Ent˜ao: 1 ∆x = z x; e se ∆x → 0 ent˜ao: ∆z → ∞ Dessa maneira:
dy dx = z→∞lim ln 1 + 1 z xz = ln lim z→∞ 1 + 1 z zx1 = ln e1x = 1 xln e = 1 x Em suma: dy dx = 1 x
Se em vez de y = ln x, fosse y = logax, note que toda a demonstra¸c˜ao seria a mesma e, no final sobraria:
dy
dx = ... = 1
xlogae
2
Fun¸
c˜
oes mistas
Vamos chamar de ”fun¸c˜oes mistas”, fun¸c˜oes resultantes das misturas de fun¸c˜oes simples (retas, par´abolas, c´ubicas,... enfim, polinˆomios, com logaritmos, exponenciais...) por meio de somas, sub-tra¸c˜oes, produtos e raz˜oes, etc...
s(x) = f (x) ± g(x) (1)
p(x) = f (x) · g(x) (2)
q(x) = f (x)
g(x) (3)
(4)
Vamos usar uma forma simplificada de escrever a derivada dy dx = y
0
ou y0(x).1
A primeira mistura (soma e subtra¸c˜ao), a(x), j´a dominamos desde as primeiras aulas com deri-vadas, e j´a usamos bastante.
s0(x) = f0(x) ± g0(x)
As duas seguintes definem as regras tradicionalmente chamadas ”derivada do produto”e ”derivada do quociente”
1A nota¸c˜ao de dy
dx ´e chamada ”nota¸c˜ao de Leibniz”, a nota¸c˜ao com y
p0(x) = f0(x) · g(x) + f (x) · g0(x)
q0(x) = f
0(x) · g(x) − f (x) · g0(x)
g2(x)
A demonstra¸c˜ao de ambas tamb´em pode ser encontrada em qualquer dos livros de c´alculo suge-ridos. Deixarei as duas demonstra¸c˜oes no final deste texto.
Alguns Exemplos:
1) y = x2(x3+ x + 1) =⇒ y = f (x) · g(x) f (x) = x2 =⇒ f0(x) = 2x
g(x) = x3+ x + 1 =⇒ g0(x) = 3x2+ 1 Substituindo na derivada do produto:
dy dx = f 0 (x)g(x) + f (x)g0(x) = 2x(x3+ x + 1) + x2(3x2+ 1) 2) y = x 2+ 2x + 1 2x3 =⇒ y = f (x) g(x) f (x) = x2 + 2x + 1 ent˜ao: f0(x) = 2x + 2 g(x) = 2x3 ent˜ao g0(x) = 6x2
Substituindo na derivada da divis˜ao:
dy dx = f0(x)g(x) − f (x)g0(x) g2(x) = (2x + 2)2x 3− (x2+ 2x + 1)6x2 (2x3)2 = (2x + 2)2x 3− (x2+ 2x + 1)6x2 4x6
3
fun¸
c˜
oes compostas
Por fim a ´ultima forma de ”mistura”de fun¸c˜oes ´e a fun¸c˜ao composta. J´a hav´ıamos trabalhado a id´eia de ”colocar uma fun¸c˜ao dentro de outra”, quando com as fun¸c˜oes inversas escrevemos: f (f−1(x)) = x.
Uma fun¸c˜ao composta ´e, ent˜ao, substituir no argumento de uma fun¸c˜ao (ou seja em sua vari´avel independente) em outra fun¸c˜ao. Por exemplo: f (x) = (x + 1)2
A mesma fun¸c˜ao pode ser escrita a partir da fun¸c˜ao g(x) = x + 1, e da fun¸c˜ao h(x) = x2. Simbolicamente: f (x) = h(g(x)):
Note: h(x) = x2, portanto: h(g) = g2. Mas ent˜ao, substituindo g em termos de x: h(g(x)) = (x + 1)2, ou seja: f (x) = h(g(x)).
Ou seja, ”x est´a dentro de g, que est´a dentro de h... e isso ´e f”.
A derivada de uma fun¸c˜ao composta segue a chamada ”regra da cadeia”.
df dx = dh dg · dg dx ou f0(h(g(x))) = h0(g) · g0(x) O primeiro termo: dh dg (ou h 0
(g)): ´e a derivada da fun¸c˜ao h(g) em termos de g (isso, tratado como se fosse uma vari´avel);
O segundo termo: dg dx (oug
0
(x)) ´e a derivada da fun¸c˜ao g(x) em termos de x.
No exemplo acima: f (x) = (x + 1)2, com f (x) = h(g(x)), desde que h(g) = g2, g(x) = x + 1. Mas tanto h (uma par´abola) quanto g (uma reta) s˜ao simples de derivar. Assim: dh
dg = 2g, dg dx = 1. Substituindo: df dx = dh dg · dg dx = 2g · 1 = 2(x + 1)
Noves fora, ”dividimos a fun¸c˜ao em camadas, e vamos derivando camada por camada”.
Uma infinidade de exerc´ıcios pode ser realizada com essas regras, j´a que uma infinidade de fun¸c˜oes pode ser criada com as misturas e com a fun¸c˜ao composta. Assim, al´em de podermos criar essas fun¸c˜oes a partir das que estudamos, tamb´em, como se vˆe, podemos estudar suas varia¸c˜oes por meio de suas derivadas, por m´etodos absolutamente gerais.
Vocˆes podem encontrar diversos materiais na rede sobre o assunto, de textos, exerc´ıcios, video-aulas... O fato ´e que apenas a pr´atica conduz `a seguran¸ca.
as que eu coloquei neste texto. ´E preciso pensar de modo mais geral, pelo que n˜ao vou coloc´a-la (por tamb´em uma quest˜ao de praticidade). Aos interessados sugiro o livro do Guidorizzi indicado na bibliografia.
4
Derivada da exponencial
Um bˆonus de havermos estudado fun¸c˜oes inversas, e a derivada da fun¸c˜ao composta ´e a derivada da exponencial. Novamente usaremos o logaritmo como ferramenta:
Considere a igualdade: ln ex = x Note: ln ex = ln h, com h(x) = ex. Ent˜ao: ln ex = x d dx(ln h(x)) = d dxx d(ln h) dh dh dx = 1 1 h · h 0 (x) = 1 h0(x) = h h0(x) = ex
De modo que, se h(x) = ex, ent˜ao: dh dx = e
x.
4.1
Para uma base qualquer: y = a
xy = ax= e(ln a)x
Ent˜ao usando a regra da cadeia:
y0 = e(ln a)x· ln a
De maneira que: y = ax=⇒ dy
dx = (ln a)a
4.2
y = e
axEssa fun¸c˜ao acima ´e muito comum, mas para derivar vocˆe precisa da regra da cadeia. A resposta ´
e y0 = aeax, mas n˜ao confunda isso com ”regra do tombo”. Aqui o que temos ´e, novamente, uma fun¸c˜ao encadeada: y = eax=⇒ y = f (g(x)) f (g) = eg =⇒ f0(g) = eg g(x) = ax =⇒ g0(x) = a Ent˜ao: dy dx = df dg dg dx = eg· a = eax· a
5
Generaliza¸
c˜
ao da regra do tombo
N´os j´a sabemos que se y = xn=⇒ y0 = nxn−1
Mas isso era sempre para n sendo um n´umero inteiro. Entretanto a regra do tombo ´e mais geral que isso. Na verdade:
y = xa =⇒ y0 = axa−1
Para qualquer n´umero a. Ou seja tanto faz se positivo, negativo, fracion´ario (racional), ou irracional. Essa generaliza¸c˜ao ´e demonstrada abaixo, utilizaremos a exponencial, cuja regra j´a foi demonstrada acima, e a regra da cadeia.
y = xa = eln xa = ea ln x (5)
Agora basta derivar:
y0 = ea ln x (6) = ea ln x· (a ln x)0 (7) = ea ln x· a x (8) = xaa x (9) = axa−1 (10) (11)
6
Demonstra¸
c˜
oes – produto e divis˜
ao.
6.1
Derivada do Produto, y = f (x)g(x)
dy dx = ∆x→0lim f (x + ∆x)g(x + ∆x) − f (x)g(x) ∆xIntroduzindo dois termos: +f (x + ∆x)g(x) − f (x + ∆x)g(x) no denominador e juntando fatores comuns, o denominador fica:
f (x + ∆x)g(x + ∆x) − f (x)g(x) + f (x + ∆x)g(x) − f (x + ∆x)g(x) =
f (x + ∆x)(g(x + ∆x) − g(x)) + (f (x + ∆x) − f (x))g(x)
Com a divis˜ao por ∆x
dy dx = ∆x→0lim f (x + ∆x)g(x + ∆x) − f (x)g(x) ∆x = lim ∆x→0 f (x + ∆x)(g(x + ∆x) − g(x)) + (f (x + ∆x) − f (x))g(x) ∆x = lim ∆x→0 f (x + ∆x)(g(x + ∆x) − g(x)) ∆x + lim∆x→0 (f (x + ∆x) − f (x))g(x) ∆x = lim ∆x→0f (x + ∆x) lim∆x→0 g(x + ∆x) − g(x) ∆x + lim∆x→0 f (x + ∆x) − f (x) ∆x g(x) = f (x)g0(x) + f0(x)g(x)
6.2
Derivada da divis˜
ao, y =
f (x)
g(x)
Aqui ´e mais pr´atico interpretar em termos da fun¸c˜ao composta, e usar a regra do produto, que j´a foi demonstrada ser v´alida.
y = f (x) g(x) = f (x) · 1
g(x)
f (x) · 1 g(x) !0 = f0(x) 1 g(x)+ f (x) 1 g(x) !0 A derivada 1 g(x) !0
, pode ser obtida pela regra da cadeia.
Veja: 1
g(x) = h(g(x)), com h(g) = 1 g = g
−1
, cuidado que isso n˜ao ´e a inversa, mas sim a divis˜ao por g. A derivada dessa fun¸c˜ao de h(g) (regra da cadeia):
dh dg = −1g −2 = −1 g2 Ent˜ao: 1 g(x) !0 = dh dg dg dx = − 1 g2(x)g 0 (x)
Agora ´e s´o juntar tudo
f (x) g(x) !0 = f (x) · 1 g(x) !0 = f0(x) 1 g(x) + f (x) 1 g(x) !0 = f 0(x) g(x) + f (x) − g0(x) g2(x) ! = f 0(x) g(x) − f (x)g0(x) g2(x) = f 0(x)g(x) − f (x)g0(x) g2(x)